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Copyright © 2021 by Toma Aí Um Poema


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Edição
Jéssica Iancoski

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SUMÁRIO

Rozana G. Cominal 5 Elivelson Valderez 38


Neuzi Barbarini 6 Waschgniton Ferreira 39
Isabel Furini 7 Rennan C. da Silva 40
Jojo illma 8 Eduardo Ezus 41
Raquel Lopes 9 Gustavo Anjos 42
Jaime Jr. 10 Jéssica Iancoski 43
Yasmin Amorim 11 Lucas da Costa 44
Géssica Menino 12 Viviane Cabrera 45
Clarice Dörr 13 Marian Koshiba 46
Mateus Lima Veloso 14 Abner Vinicius 47
Carla Pepe 15 Tim Soares 48
Nanda Chinaglia 16 Luciana Q. de Moraes 49
Valdeck A. de Jesus 17 Tainá Chagas 50
Sergio A. Silva 18 Gabriel Castellamare 51
Karla Fontoura 20 Rilnete Soares 52
Angela Dondoni 22 Cecy Quadros Raicik 53
Leandro E. Pereira 23 Marcos Pontal 54
Laís Chagas Facco 24 Franncis Antunes 55
sammis reachers 25 Bruno Greggio 56
Hortência Siebra 26 Mungongo Francisco 57
Saul Gomes 27 Cristina Parreira 58
Talita Bueno 28 Victor Coimbra 59
Ruan Vieira 29 Patrícia Fonseca 60
Mateus Xavier Lira 30 Luís Eduardo Faleiros 61
José Rodrigues 31 Jackeline Monteiro 62
Fernando Alves Brito 32 Ale Heidenreich 63
Alberto Arecchi 33 Kananda Nogueira 64
Adalberto Souza 34 K. S. Della Capa 65
Lara Machado 35 Nayra Menezes 66
Venâncio Grosso 36 Carina Falchi 67
Matheus Bandeira 37 Boris Rodrigues Garay 68
Edson Santana 69 Luciano Santa Brígida 100
José Manuel da Silva 70 Débora Souza França 101
Bárbara Maria 71 Cláudia Marzano 102
Mara B. Magalhães 72 Aléckson da Costa 103
Ricardo Serpa 73 Cláudio C. Monteiro 104
Julia Mascaro Alvim 74 Ziney Santos Moreira 105
Daniel Pimentel 75 Olivaldo Júnior 106
Ed Santos 76 Iolly Aires 107
Dielson Luz 77 Maria O Rocha 108
Keyane Dias 78 Shirley Lima 110
Alexandra Matos 79 Maghali Miranda 111
Marlon P. Martins 80 Luzia Rohr 112
Tamires Francisco 81 Cláudia Mota Avelino 113
Valdenia Alves 82 Fernanda Araújo 114
Evandro V. Melo 83 Leide Freitas 115
Katja Mota 84 France Marinho 116
Tiago Gonçalves 85 Elienai Pereira 117
Jeferson Ilha 86
Carolina Melo 87
Ian Pereira Silvares 88
Ian Anderson Dias 89
Lua Pinkhasovna 90
Pablo Natan de Mello 91
Jane Mara de Costa 92
Victor Hugo 93
Edmilson Miranda Jr 94
Guilherme Fischer 95
F. C.de Magalhães 96
Asor Almeida 97
Larissa Sousa de Jesus. 98
Reginaldo L. Cardoso 99
3,2,1...
Rozana Gastaldi Cominal

Após um breve jejum,


prefiro o clima de festa
que em dezembro se manifesta
a dar asas aos infortúnios
que admoestam qualquer um.

Não me refiro à felicidade consumista


onde prospera impávido o ter.
Quero presente ser
na manhã anunciada pelo bem-te-vi.
Quero a simplicidade do jardim em flor,
a visita do frenético colibri
em rasante beijo no camarão.
Não dá pra ser feliz por obrigação!

É dezembro,
Tempo de confraternizar.
Feliz natal a você e a sua família!
Contagem regressiva,
show pirotécnico no céu
e na imaginação.
É janeiro outra vez,
tempo de celebrar:
estamos vivos
e juntos saudamos 2022!

Retrospectiva 2021 5
ELE
Neuzi Barbarini

Chegou quietinho
mas trouxe consigo,
ruidosa,
a dama de preto.
Espalhou-se entre os justos
e foi, pouco a pouco,
assumindo formas:
ora o mal total
de cujo retorno,
quando há, nunca é sem marcas;
ora brisa leve
passante, tal um arrepio na pele nua;
ora indefinições,
e a espera,
e o medo,
e o faz-de-conta
de que não há.
Ocupou radicalmente seus lugares todos
de onde escreve seu testamento devastador,
indiferente aos corpos abatidos.
Não lhe cabe teorizar seu lugar no mundo,
não há propósitos em seu existir.

6 Poesia Contemporânea
A CANÇÃO DA VIDA
Isabel Furini

fico imóvel no meio do caminho


e quando à distância
observo
a dimensão dos campos arados
percebo os poucos frutos recolhidos

não obstante
voltaria a realizar a semeadura
porque a minha alma
é terra sem fechaduras
aberta aos sonhos, ao Bem e à Poesia

quantos seres se aproximaram


de minha vida
alguns com meles
e outros carregando nas mãos pedras duras
porque a vida tem amor e ódio
e luz e sombra
o silêncio da noite
e de manhã os cantos
dos canários e dos pardais.

Retrospectiva 2021 7
DIAS DE QUARENTENA.
Jojo illma

Eu que sempre fui prisioneira de mim,


me vi desesperada, sem pensar, fugi.
Sem saber para onde... aonde ir?
Viajei para o abstrato, para não mais sair.

Porém, que desespero permanecer aqui,


eu, o medo e eu, covarde! Sim.
covarde, eco inconsciente, senti...
a quem mais suportarei, senão a mim?

Faço de habitat as falsas verdades,


esbanjo amor próprio, de amor sinto saudade.
a solidão refletida no espelho, chamo de solitude.

O mundo externando as minhas vaidades,


a vida exigindo atitude e gritando (mude)
... mas eu na minha prisão faço do meu medo, virtude.

8 Poesia Contemporânea
DOZE MESES
Raquel Lopes

Final de ano
na estrada da vida
passam as promessas
que não foram cumpridas

o relógio não retrocede


e nem intercede
determinante
ponteiros céleres

o que desperta são as lembranças adormecidas


faiscantes
determinam como foram os dias

rabisco no calendário abatido


esperanças que tenho aprendido
doze meses
que passam pelos trilhos divididos.

Retrospectiva 2021 9
CICLOS
Jaime Jr.

O passado é agora
E o presente não existe!
O que se acaba de fazer
Já não é! Era!
E insistimos em repetir o ciclo.
Ah! Os ciclos!
Tão reais e tão desnecessários...
Sigamos em frente, em linha reta.
Enfrentemos o novo, o desconhecido...
De ciclo em ciclo
A gente acaba ficando tonto.

10 Poesia Contemporânea
REFLEXÕES NO ISOLAMENTO SOCIAL
Yasmin Ayana Ximenes Amorim

E se não pensasse,
Como poderia pensar,
Àquilo que sempre pensou?

E se não sonhasse,
Nunca sonharia,
O que sempre sonhou?

E se não se dedicasse,
A quem dedicaria,
O dom que Deus lhe dedicou?

E se eu me fosse,
Então jamais seria,
Quem realmente sou?

Retrospectiva 2021 11
O QUE DIZER
Géssica Menino

O que dizer, se em mim a poesia cessou.


O que dizer, se em mim a tristeza se aplacou.
O que dizer, se em mim nada restou.
O que dizer, se em mim você habitou.

O que dizer, da chave que deixaste,


O que dizer, dos cantos das sereias, pelos quais me abandonaste,
O que dizer, de ti que se afastaste,
O que dizer, do espelho que tanto lograste.

O que dizer, das terras úmidas pelas quais deixaste,


O que dizer, da saudade, que em pedra se tornaste,
O que dizer, de Afrodite que te enganaste,
O que dizer, da vida que levaste.

O que dizer, de Baco, do vinho que não negaste,


O que dizer, de Ulisses por onde navegaste,
O que dizer, de ti que entre linhas mergulhas-te,
O que dizer, da vida que abandonaste.

O que dizer, do filho que abandonou.


O que dizer, do Deus em que te afastou.
O que dizer, do pássaro que cantou.
O que dizer, se mais nada nos restou.

12 Poesia Contemporânea
AS PEDRAS
Clarice Dörr

Eternas, belas, imperturbáveis,


eis que lá estão elas:
as pedras que encontrei pelos meus caminhos.
...
De algumas desviei-me ilesa,
com outras topei-me em dores
ou, na estrada, mudaram meu rumos.
...
Já fui pedra em alguns destinos.
Vali-me delas em muitos desatinos.
Já joguei pedras, já construí pontes.
...
Ergui muros de sofrimento
e da vida afastei-me em duras penas.
Aprendi que as pedras separam juízo e sentimento.
...
E , quando o coração em pedra se converte,
não só a vida se endurece e a beleza foge
perde-se o sentido do caminho.
...
Do caminho perde-se o sentido!

Retrospectiva 2021 13
CAOS 2021
Mateus Lima Veloso

Este foi mais uma ano de perdas


Mais um ano de retrocessos
Na educação e na ciência
Menos verba e mais exclusão
Chega de filho de pião virando doutor
Esses orçamento
De mais de oitenta por cento
Fica melhor com o centrão
E continuamos perdendo vidas
Seja para a Covid ou para a violência
Afinal para que vacina, se eu posso ter fuzil?
Tanta tragédia por causa do desgoverno
Mas ano que vem isso muda
E eu volto com uma retrospectiva mais bonita.

14 Poesia Contemporânea
TRAVESSIA DE GUERREIRAS
Carla Pepe

Eram muitas
Mulheres de todos os lugares
De todas as cores
De todas as idades
De mil amores
Vieram de longe
Fazer a travessia das guerreiras
eram tempos difíceis
de mares negros
de ouvir o grito das sereias
o choro das baleias
o lamento das mulheres e sua teia
cujo sangue corre ainda nas veias
Eram tempos de ventania e maré cheia
colher as lágrimas do menino
e dar comida rala da feira
dar as mãos uma a outra
para fazer a dança da lua cheia
e quem sabe ter colheita na aldeia
e de novo ouvir o uivar da mulher lobo
que com seu povo
protege o ano novo
para um dia quem sabe entoar
o canto da luz que vem
brilhar o caminho daquelas
que jamais soltaram as mãos
Mulheres livres, bruxas,
sacerdotisas, filhas e irmãs
Guardiãs eternas da travessia
onde nascem todas as manhãs
Senhoras dos novos tempos
Do futuro artesãs
Nas suas mãos estão a ancestralidade de todo clã.
15
CINCO QUADRAS, FOI-SE O ANO!
Nanda Chinaglia

Mais um ano bateu asas


Pois lhe digo: “O que é que fica?”
Ficam sonhos e esperança
Do que vem, dignifica.

Apesar de tanta agrura


Eis que a fé me fortalece
Busco o que há de melhor
Que me alegra e engrandece.

Muita luta e gratidão


Manifesto em cada verso
São sementes que florescem
Minha essência no Universo!

A escrita me manteve
Cá bem viva e confiante
Cada dor que me feriu
A palavra a fez brilhante!

Que o porvir me alvoreça


E a poesia, com coragem,
Enalteça cada dia
Em que nasce o EU Selvagem!

16 Poesia Contemporânea
REALIDADE PARALELA
Valdeck Almeida de Jesus

Desde o início da Pandemia de Covid19 um grupo de


escritores está preso num portal secreto.

Cada um fala uma língua diferente, mas todos compreendem a


linguagem universal.

A lua abria um buraco no céu para olhar para eles.

Lá fora, a vacina já salvou milhões de pessoas. Na janela mágica,


a literatura é a dose de reforço e o antídoto para a morte.

Retrospectiva 2021 17
AMANHECI NOVO
Sergio Augusto dos Santos Rabelo Silva

Acordei trancado, isolado, impermeável


Janeiro passou em um estalo
Sem perceber o que acontecia ao lado

Murmúrios de uma calamidade


Não tinha política que salvasse uma vida
Fevereiro foi carnaval, mal esperávamos esse final

Comecei a perder em Março


A luz se apagou na casa do Norte
Chorei e vi uma estrela me guiando por montes

Novo espaço, mesma rotina


Abril com acusações de sumiço
Deixo o café que me sugava e nutria

Maio esquentou, novas colagens se encaixando


Terapia em dia, não parecia tão trancado
Ganhei tempo enganando o cansaço

Esperando a imunidade chegar


A febre para uma agulha espetar
Junho amaciou a carne para um romance chegar

Virados na madrugada de Julho


Escutamos Velha Infância altos na bala
Durmo no peito de um namorado feito

Piadas não bem encaixadas


Ele avança com o punho para a minha cara
Em Agosto, nosso amor termina em uma entrevista

18 Poesia Contemporânea
Enlouqueço em Setembro
Tateando referências para uma tese
Entrego tudo nas mãos da fé que dará certo

A cada minuto, tudo muda


À flor da pele, mantenho o coração mudo
Existem vitórias em Outubro

Fígado refinado, corpo exaltado


Novembro foi mês de beber e cantar
O violão não parou de afinar

Dezembro chegou
Olhei para trás e sorri
De tudo que passou
Eu sempre amanheci novo

Retrospectiva 2021 19
FUGITIVO DOS CÉUS
Karla Fontoura

Doeu e deu o silêncio.


Deus escapa
_
Eu acho que Ele escapa dos altares. Acho
Ele é perigo pra quem ainda o espera no alto:

20
que eLe dói comigo. Que elE come silêncios.
debaixo ele me vê por inteiro.

21
MIGRAÇÕES
Angela Dondoni

Reconcilie-se
com os seus sonhos
O céu nunca é o mesmo
Às vezes, a lua se mostra
Durante o dia
A primavera pode
despertar mais cedo
E o vento sempre procura novas rotas

22 Poesia Contemporânea
ESTÁ NO MEIO DE NÓS
Leandro Emanuel Pereira

O vírus veio;
Está no meio de nós;
Bicho feio;
Que nos mata os avós...

O vírus não vai embora;


A economia ziguezagueia;
O que fazer agora;
Se a vacina não é panaceia?

Usemos a máscara da boca;


Porque a máscara da alma;
Esmerila a mentira;
Mas não apaga a chama...

Perante a noção de impotência;


Laivos de humildade;
Iluminam a nossa experiência;
Enquanto a solidão demonstra propriedade...

Retrospectiva 2021 23
ANO QUE VAI, ANO QUE VEM
Laís Chagas Facco

Ano
que corre rápido
veio para lavar
as mágoas passadas,
para aproximar
os que estavam distantes
para sarar
feridas trazidas anteriormente
sem causar muitas outras.

Ano que passou


como um sopro
amenizou dores,
realizou sonhos,
enquanto trouxe muitos outros.
Além disso,
nutriu esperança
de que a vida
voltasse a girar
no mesmo eixo.

Ano que se vai


causando sensações diversas
mas, acima de tudo,
gratidão por estar vivo
para acolher
o ano que vem.

24 Poesia Contemporânea
CARTA À LITERATURA
sammis reachers

Torneira quebrada
no oceano dentro
canivete de Dâmocles
que areja enquanto paira
por sobre suas vítimas
e vingadores
soco civilizatório
bêbada que urina num prostíbulo
como quem forja uma flor
estatuária de ar
corrente de aço entre os homens
alicerce de bolso, jogo de amarelinha
quiche de pus croissant de sangue
feijoada de muitas dores mudas derramadas
egografia, fútil périplo,
orgasmo múltiplo
alucinada pero pálida
imitação da realidade,
deusa assunta e terror
donde se foge
nudez ensaiada
sanatório sideral dos tuberculosos
de Qorpo e d’alma
falsa apólice, nota proemissária
invencível armada:
todo seu caminho é um descaminho

Retrospectiva 2021 25
SURPRESA
Hortência Siebra

2021. Uma bomba explodiu


Nas imediações
Da estação central
De trem,
Em Munique.

Resquício
Da 2ª guerra mundial.

O passado
Põe ovos arriscados
Sob a terra.
Não se pode prever
Quando onde
Vão explodir.

26 Poesia Contemporânea
2021: UMA ODISSEIA NO NOVABSURDO
Saul Gomes

O Novo Regime chega sorrateiro


absurdamente
entre o pandemônio e a pandemia,
e desnuda um novelho país,
onde os patriotas aderem à mentalidade uniforme e grotesca,
bravateiam o positivismo sem ciência
e deserdam a pátria que pariu os párias.

Os novos cidadãos inauguram o Novabsurdo


a Nova Ordem,
a ordem que normaliza a desordem,
a ordem que deve ser mantida a qualquer custo,
seja socando o estômago do idoso,
seja imobilizando ostensivamente a mulher grávida.

2021: uma odisseia no espaço


do absurdo
no paço da tragicomédia brasileira
farsa mundovivente
tragédia sem catarse
riso pungente,
entre os novos dentes da velha engrenagem.

2021: uma odisseia no novelho espaço


da ordem a ser mantida,
no Novabsurdo
no presente absurdamente prenhe de sombras do passado
que teimam em nos visitar.

Retrospectiva 2021 27
EUCARISTIA
Talita de Oliveira Bueno

Seu gozo é minha religião


Seu corpo, o templo em que expio meus pecados
Indigente, mindicante, me coloco a seus pés
Em busca de absolvição
Seus lábios tornam dignos os meus
Suas mãos trazem vida ao meu corpo
Seu desejo me transforma num relicário
Já não sou vazia e simples
Pois estou repleta de fé
Fé no nosso desejo
Na nossa comunhão
E quando nossos corpos se preenchem
Você me torna santa
E de joelhos aos seus pés
Recebo meu sacramento
A satisfação me torna, outra vez pura
Digna de estar em seus braços
Meu santo.

28 Poesia Contemporânea
O SOL E O GIRASSOL
Ruan Vieira

Amarelo
E tão belo,
O Girassol.

Amarelo
E tão forte,
O Sol.

Planta iluminada
Estrela que ilumina
A beleza que é dada
A você, minha menina.

Tu és meu Girassol
Tua beleza me fascina
E a luz do Sol
em ti te ilumina.

Vem pros meus braços


Que eu feito o Sol
Vou te fazer reluzir.

Você, meu Girassol


Irás iluminar a vida
E a cor da vida irá surgir.

Pela janela
Vejo a imagem mais bela:
O Sol
E o Girassol
Deixando a vida amarela.

Retrospectiva 2021 29
MANHÃ
Mateus Xavier Lira

Rente
a vista turva
nessa manhã de espectros
este pardal
a atira-se contra parede
[de meu quarto
tentarás suicídio?
Pode uma manhã
oferecer tanta tristeza aos pássaros?
Não, não tentarás
não dar-te-ei oferenda

nesta manhã pequena


pelo sonho
em tantas cabeças
vagueia a figuração do nada.

Pássaro inútil!
Passado inútil!
Manhã inútil!
Vida inútil!

Arranhastes em mim, ave pequena


dá-me a tua desilusão
e ficas tu a ver a vida
a tua vida há de acontecer.

30 Poesia Contemporânea
MESMO SEM SER AMADO, EU AMEI
José Rodrigues

Era tudo muito claro, às vezes quando a gente acordava era


transparente a falta de humor naquele rosto, sem beijo de bom
dia, muito menos perguntava como tinha sido a noite, sem deixar
passar a cena em que dormimos um pra cada lado.
Parecíamos dois desconhecidos em um reality de TV, onde me
via com a missão de ter que fazer alguém ter sentimentos por
mim, aquele semblante amargurado, de viver preso em um
relacionamento, a casa pairava num tom de tristeza profunda, já
não era como antes. Nos primeiros meses de namoro até os vizinhos
ficavam com inveja do nosso amor, que enfeitava aquele bairro
sem reciprocidade e alegria, mas foi só naqueles tempos, depois
de algum tempo, tudo voltou a ser como era antes, antigamente
não se chamávamos pelo nome, por lugares que a gente andasse,
seja público ou privado, era amor ali e amor aqui.
Doía muito ver que isso tudo havia mudado, aquele chamego,
aquele afeto, aquele carinho ser tomado por um semblante
emburrado e sem a nostalgia que me desse tanto prazer de um dia
compartilhar maravilhosas histórias, aquilo era como facadas no
peito, ter que olhar pra alguém e ao mesmo tempo pensar que todo
aquele caminho andado foi em vão, parecia que o fim já estaria por vir.
Foi num jantar de encontro que tudo começou, e foi no jantar de
casa que tudo acabou, era a vez de desabafar, de explicar o quão
transparente era a falta de reciprocidade naquela casa. Ninguém é
obrigado a criar sentimentos forçados, mas não finja sentir aquilo
que alguém está dando tudo de si por amor e por aquela pessoa, já
basta disso, o que observei esses dias é que amei mesmo sem ser
amado, isso me dava calafrios, saber que tudo que foi construído
está se acabando aqui, isso não é um adeus, muito menos um até
mais, isso é o fim de tudo, é o encerramento que me magoa muito,
saber que amei alguém sem nem sequer ter me amado, você estava
certa, de tudo eu merecia mais um pouco, abraços!

Retrospectiva 2021 31
ANTISSONHO
Fernando De Azevedo Alves Brito

Sonho acordado com outra vida.


Uma vida na qual eu não seja balaio.
Cesta lotada de coisas dos outros,
cujo propósito seja reprimido.

Sonho acordado com outra via.


Uma via na qual eu não seja ensaio.
Um preparo que nunca se firma,
em depósito de expectativas.

Sonho acordado com outro sonho.


Um sonho no qual eu não viva de sonho.
Um desejo profundo que não acontece,
potencial permanente que não se confirma.

32 Poesia Contemporânea
LUA DOS TRÓPICOS
Alberto Arecchi

A lua cheia dos trópicos


inundou a noite estrelada,
em uma cidade devastada
por confrontos fratricidas.
As explosões inundavam a cidade,
como fogos de artifício duma festa.
Seu peso no meu corpo, um desejo de paixão,
deusa negra de um amor
vivido no meio de uma noite.
Sinto falta da sua presença, sinto falta dos dias
da minha vida passada na África.
A mesma lua, as mesmas estrelas
me observam esta noite, do meu céu
e sugerem que elas estão
olhando para você também,
do mesmo céu.
Uma esperança secreta me diz que ali,
além do trópico, você ainda me espera
atrás de uma persiana de sândalo,
no aroma intenso do incenso.
Você vai me cumprimentar
como se eu tivesse acabado
de ir ao mercado,
poucos minutos antes.
Como um membro da família,
cujo ritmo você conhece,
o cheiro, a forma dos ombros quando vai
e o som do passo em seu retorno.

Retrospectiva 2021 33
QUARENTENA
Adalberto Souza

Noites frias
na cidade que dorme.
Insone,
passeio pela praça
à espera da primeira
floração:
azuis,
verdes,
grenás.
(muito mais viva
na lembrança cada vez mais
colorida
na memória dos sentidos.)
Igual esse cheiro
de caju doce
espalhado pela cidade
que dorme
de mim
esquecida.

34 Poesia Contemporânea
SOBRE 2021
Lara Machado de Oliveira Santos

2021 foi um ano singular


O corona vírus assustou
E levou muita gente embora
Aulas foram todas online
Todos os rostos mascarados
A curiosidade de ver o sorriso
Saudade do tempo anterior
Também teve momentos bons
É engraçado como se consegue
Achar a felicidade no meio do caos
Enquanto existe vida existe alegria
Muitos se curaram do corona
Bebês nasceram nessa época
E cada nascimento mostrou
A continuação do ciclo da vida
Imagino eles no futuro contando
O ano difícil no qual nasceram
A vacina chegou e melhorou
Agora está tudo mais calmo
Mas parece que outra variante vem
Eu não sei como vai ser agora
Só sei que sempre existe esperança
O sol continuará nascendo
A chuva continuará a cair
E cada um de nós ainda irá sorrir

Retrospectiva 2021 35
POR DENTRO DE MIM
Venâncio Grosso

Tudo vive
Em meu mar.
Tantas rochas
Que causam dor.

Insanamente,
Rejeito a paz.
Esqueça-me... te peço.
Nada mais.

Livre alma,
Nesta prisão,
Pede vida

E clama o fim.
Sonhando amar,
Eternamente.

36 Poesia Contemporânea
NÓS PRODUZIMOS
O SEU FILME DE LIBERDADE
Matheus Bandeira

Eu uma vez tive uma vida em cultura pop


Uma vida globalizada
idealizada
livre
mentiras de listras azuis

eu esqueci a minha nacionalidade


Na bíblia do homem branco
Somente os filhos de Khan podem servir
ao sonho americano

Filhos do trópico
soturnos em sua fingida desinstrução
somos a pintura do novo escravo das estrelas 50
Porém somos a força de quem mantém a roda da liberdade
os fios do capitalismo

Tudo é coeso e feliz


ou triste e calado em nossos frames
mas somos latinos
não somos traficantes
hipócritas revolucionários
Ou mesmo empregadas

somos a força que te mantém


as riqueza que vocês roubaram
somos a cultura que vocês apagam

Um dia
sabemos quem fomos
então retomaremos o Texas
E vocês vão implorar por um muro

This is America
o povo que resiste
E não os frutos preteridos da rainha
37
CANAVIAL
Elivelson Valderez

Quem bebe somos nós


Do que sobrou em um copo
Sobrou a sede de viver
De buscar o que a rotina não constrói
Parecemos a sobra da latinha de cana
Parecemos mais vivos
Mais amáveis
Mais dóceis
O que seu sistema não fez
Ele ofereceu o álcool pra esquecer.

38 Poesia Contemporânea
COVID19 A CHEGADA
Waschgniton Ferreira

Foi assim chegando lentamente.


Era algo simples que matou muita gente.
Era ocidente, agora em todos os continentes.
Trouxe o medo, horror e desespero.
Muitos ainda continuam a não acreditar.
Muitos só se deram conta quando foram afetados.

E foi assim, enchendo os hospitais.


Eram muitos para tão poucos.
O medo enlouqueceu muita gente.
O medo fez o forte se dobrar.
E foi assim, que tudo teve que parar.
Nas pistas quase carros não se via passar.
Nossos amigos e família não podia mais abraçar.

E foi, e foi e ainda continua....


Mudamos a rotina o cotidiano.
E muitos se enganaram que tudo isso mudaria com o novo ano.
Todos fomos afetados mesmo sem ter dado um abraço.
Todos ficamos sem futuro pois o amanhã é incerto.
Enquanto isso todos brigam pelo seu lado certo.

E foi de mês em mês de um ano para outro.


A vida em constante drama pela vida.
A vida se tornou uma novela de terror e intrigas.
E dessa vez todos tentam, mas não se ver saída.

Algo não visível que se tornou concreto.


E foi verão e inverno, intenso e severo.
Foi no frio e no calor, o ciclo dessa dor.
O quanto eu puder, escreverei.
O quanto viver e tiver forças lutarei.
Não com armas, mas com minhas letras, vírgulas e pontos.
E pode ter certeza que a paz ainda virá ao nosso encontro. 39
POTÊNCIAS POLÍTICAS
Rennan Cantuária da Silva

po

ti
cas
pa

ti
cas
po
tên
ci
as
po
é
ti
cas

40
UM HAIKAI
Eduardo Ezus

EU POR QUE EGO


SE ONDE CHEGO
DE MIM DESAPEGO?

41
BRASIL GRITOU
Gustavo Anjos

O Brasil gritou,
Sofreu,
Chorou.
Retrospectiva !
Famílias enlutadas,
Desabrigadas ,
Desempregadas.
Gente preocupada com o futuro incerto,
Educação de má qualidade.
O preço das coisas só aumentou,
E até quem não é brasileiro se assustou.
Retrospectiva de uma sociedade que vem sobrevivendo de caridades.
Retrospectiva de um governo:
Canalha,
Estupido,
Covarde.
- Gustavo Anjos

42 Poesia Contemporânea
POSTO QUE É MORTE
Jéssica Iancoski

enquanto o escopo
do humano
se esgota

um corpo dissidente
se debruça sobre o outro
corpo

ou seria corpa
ou corpe
ou corpallitus post mortem?

porque outros carlitus


e flavitus
nasceram em corpo de menino
e desde cedo são ensinados
a beber o seu leite
branco

com lactovacillus
vivos

Retrospectiva 2021 43
TUDO AQUI RIMA NA SUA CORRUPÇÃO
Lucas da Costa

Quando a TV vira o pai


das crianças famintas
sem ensino apertando as cintas
pais correndo contra a inflação
tudo resultado da boa ação

Reis em seus palácios


aumentando seu próprio salário
ditando regras que eles não seguem
E mesmo que os Ministros neguem

Nós podemos ver por trás


das cortinas o podre e mais

Tudo aqui rima


na sua corrupção
Voando perto em cima
dos formigueiros de destruição

Crianças e idosos
sujos, percorrendo suas capitais
olhos nervosos
buscando fila nos hospitais

Combinando seu paletó


com mais um funeral
a morte de quem anda só
pintando o seu retrato, mural
de um país perdido no fim
engolido pelo engano fatal

44 Poesia Contemporânea
SOBRE 2021
Viviane Cabrera

Revisando o ano,
Nenhum plano
Já feito
Teve um jeito
Plausível de concretizar,
Nenhum sonho foi possível sonhar.

Passando a limpo,
Nem os deuses do Olimpo
Puderam nos ajudar.
Tivemos mortes para calcular
Em centenas de milhares
Causando medo em todos os lugares.

Mas mesmo na adversidade


A vida caça jeito e liberdade
Para continuar.
A existência se refaz para perpetuar
Histórias que compõem o livro de nosso tempo
Ainda que alguns tentassem seu esfacelamento.

Retrospectiva 2021 45
SOBRAS
Marian Koshiba

Quem é você
Quando o caos silencia
A tela esgota a bateria
Teu palco é só a noite
Que aspereza denuncia?

Quem é você
Quando são avulsas
A lágrima, a dor
e a vida?

O que resta de você


Na clausura?

(Quem você deixa de ser


Quando não precisa?)

46 Poesia Contemporânea
SENHOR PENSAMENTO!
Abner Vinicius

Se os sonhos viajassem no dia do meu medo


Pra solidão e contaria meus mais profundos segredos

Se meu segredo gritasse pra minha emoção


Emoção pra mim seria as palavras de um perdão

Se a expressão do meu olhar matasse a falsidade


Dentro de mim não bradaria o silêncio de um covarde

Se eu fosse à bússola do amor na cidade do ódio


As armas iriam ao chão e as flores subiriam ao pódio

Retrospectiva 2021 47
BALADA +18
Tim Soares

Vamos beber água


Rimbaud, Bento Calaça
Vamos gozar na cara
Da estrofe puta

Na cama ou na escada
Comer Alice Alba
Lamber a densa alma
De Cai Duarte nua

Vamos de orgia
Com Leminski
Uma estranha
E Kerouac doidão

Vamos de suruba
Com Dhenova
Torquato Neto
E Wally Salomão

Vamos transar na casa


De Dante, Goethe, Adam
Vamos ficar pelados
Dentre a poesia suja

Vamos foder na sala


De Joyce, Pola, Sacha
Vamos tomar cachaça
E uma beatnik crua

48 Poesia Contemporânea
NOME-ANO
Luciana Quintão de Moraes

A vida é subreptícia
e talvez comece a vê-la novamente
bebida pelos cães, badalada pelos sinos,
entusiasmada pelo vento
sem falta de ar nos seres, mas
inquieta, sim:

germinal semente
a originar um novo Começo
como quem come
e cria, com hálito,
a fabricação de
sua própria causa

O movimento de escolhas
conjecturando outros espelhos
passa pelas nossas mãos catando feijões:
Iscas do saber
que nomeiam o novo
tempo com
escalas de atenção e risco

Músicas que não exaurem os ouvidos


tecem um deslimite
multiplicam nossos olhos e membros
E assim, monstruosamente,
renascerás em ti mesmo e dentro
de tudo_

Retrospectiva 2021 49
ESTILHAÇOS
Tainá Chagas

Construí muros de rancor


intransponíveis
entre minha patológica angústia
e seu escárnio
escancarado

mantos de salubres lágrimas


teci
para cobrir tudo que em mim desnudastes:
do amor desesperado ao desesperado
sofrer
de amor
não amado

e ainda aqui te tenho


quase tangível
devaneio que me invade
sem aviso
furacão de catastróficas proporções

(e quando você se vai


só me resta recolher
os estilhaços)

50 Poesia Contemporânea
DESCULPA
Gabriel Castellamare

Desculpa a demora. têm dias que pego no celular e só olho


para o passado. não consigo tragar as notícias do dia-a-dia nem
responder as mensagens pendentes. contratempos da vida tem
me ferido deixando cicatrizes invisíveis a olho nu. é como se nem
mesmo meus melhores soldados fossem capazes de derrotar o
peso da vida. desculpa. talvez eu precise de mais tempo para me
recuperar

Retrospectiva 2021 51
A LA EXAUSTÃO
Rilnete Soares

Fatigada
Sobre a rede planetária
que embala
olhos altruístas
- repouso a poesia
No punho emaranhado
O lápis desembaraça
O Indulto cravado
Em catástrofes

Até quando?
Varandas em desalento
Nas dobras do espaço?

Escombros tecem o fio da meada


Morte e sentença bordada
Em linhas ensanguentadas
Percorrem o mundo
Sobre os ombros das dores
A burca cobre o rosto
Feito lençol que sufoca
O saco preto amortalha
O desespero transborda
(Arrastando a corrente)
Em escápula que não sustenta
A humanidade
A la exaustão

52 Poesia Contemporânea
QUANDO TUDO ISTO PASSAR…
Cecy Quadros Raicik

Quando tudo isto passar


(E algum dia terá que passar!)
Certamente a gente vai poder
Se abraçar, se beijar, se tocar…
Voltar a ser como era…
(Será mesmo?!?)
Ou então já teremos descoberto
Outras formas de transmitir o sentimento
De eternizar pequenos momentos
Valorizar a família
Viver a plenitude e alegria
De cada dia
Ser grato por ter um prato
De comida
Enquanto tantos outros estão à deriva
Entregues à própria sorte
Tentando driblar a morte…
Quando tudo passar
Seremos todos mais fortes
Saberemos dar suporte
A quem precisa
E teremos evoluído
Crescido como pessoas
Sendo F I N A L M E N T E seres humanos
Que têm empatia uns pelos outros
Talvez seja esta a lição
Que devemos apreender
para viver, e sobreviver…

Retrospectiva 2021 53
FIOS SOLTOS
Marcos Pontal

Fis que estavam na frente de um avião,


e o acidente que comoveu a todos.
Fios que estavam na frente de um caminhão,
que deveriam estar no alto do poste de luz, confirmando dados.

Fios mal colocados e sinalizados,


podem gerar acidentes.
Principalmente de desavisados,
e levando descendentes.

Um voo tem que ser bem conduzido,


sempre se informando sobre o local.
Para evitar que fios causem atrito,
se informe para não se dar mal.

Manutenções em postes tem que ser bem feito,


cortou os fios, tem que levar embora.
Se deixar, um acidente pode acontecer, tenha respeito!
Calcule a altura correta dos fios, para evitar bolas fora!

54 Poesia Contemporânea
UM ANO DE MUITAS MARCAS
E UM SÓ CORAÇÃO
Franncis Antunes

Um ano que deixará marcas:


A marca de vacina no braço,
A marca da saudade de quem não se salvou até aqui…
A marca do reencontro possível,
A marca da saudade de quem não se encontra mais aqui…
A marca das festividades reinauguradas,
A marca de quem não vai ter bolo e confetes por aqui…
A marca do sorriso visto por aí,
A marca de quem não vai sorrir de volta pra mim…
A marca das crianças nas escolas,
A marca de quem não terá pra quem contar o que aprendeu…
A marca da rotina dos lares vazios,
A marca de quem foi embora quando só queria mais uma chance pra ficar…
A marca da política suja,
A marca de quem votou por amor à pátria e perdeu o amor da sua vida…
A marca das praças com velhinhos e seus netinhos,
A marca de quem segura fotografias à procura do colo quentinho de
tantas histórias…
A marca de tantas feridas da solidão,
A marca de quem lutou contra a loucura do mundo com suas próprias
dores diárias…

Esse ano tem marcas no corpo vacinado,
Esse ano tem marcas na alma tão ferida,
Esse ano foi um ano em cada dia
E cada dia coube um ano inteiro partido entre saudades e reencontros.

Um ano que deixará marcas sobre o que faz valer a vida,
De quem aprendeu a viver o milagre de cada segundo como se fosse eterno,
Porque, na verdade, isso é a própria eternidade respirando mais ar
dentro de nós!…

Retrospectiva 2021 55
RATOS
Bruno Greggio

“...E sabia, também, que viria talvez o dia


em que, para desgraça e ensinamento
dos homens, a peste acordaria os seus
ratos e os mandaria morrer numa
cidade feliz.” — ALBERT CAMUS

Foi depois que enterramos o último, eu acho,


inauguramos nova regra, mais polida e perplexa,
este sonho eleático em que mover-se nada
é senão solar a permanência sob pés angustiados.

Foi depois, sim, depois que coalhamos com mortos sem nome
a terra ressentida, saltamos do absurdo para espirais
de silêncio e cidades de horizontes infinitos e simulados, sempre
abertas
e das quais nenhum de nós pode mais sair.

Da peste com seus ratos, de mãos sujas de outro mundo,


criamos um novo, de intocável higiene, tão puro
que fizemos invisível o vermelho e com ele o sangue.

A peste se foi. O último homem se foi. Pode brincar,


meu filho, teus piques sem pega em teu celeiro de unicórnios
e de fantasias alienígenas e de super-homens domesticados,

que esta estranha nova sina não nos legou mais nada:
nem forma nem metro – nem rima.

56 Poesia Contemporânea
VIVER DA MORTE
Mungongo Cipriano Francisco

E se a vida fosse sono!


e a morte o despertar?!

Desse profundo sono,


quereria ser tirado pela morte!

A vida é tão escura,


profunda e nebulosa!

O sono assim faz,


não sossega
pouco a pouco,
impele até lançar
la onde o sol falaria
e a luz me aceitaria!

Retrospectiva 2021 57
AMPARO
Cristina Parreira

E foi nas páginas roxas


na busca por desenfreada retrospectiva pessoal
cura de uma idade média íntima
que iniciei minha Escrita
Não me refiro à denotação
Jamais!
essa é incapaz das profundas imagens
Início sem perspectivas poéticas.
Grito é Poesia
Essa sim!
partitura das palavras bem-ditas.
bálsamo para trevas interiores.
Abrigo dos desconhecidos sinônimos desesperados.
É amparo
Busca infindável por (re) construção.

58 Poesia Contemporânea
RECEITA PARA O NOVO ANO
Victor Coimbra

Não existe receita pronta/ Para seguir a sua “verdade”/


De uma ponta à outra/ Seja o seu motivo de felicidade./
Se preciso for.../ Renuncie o que for necessário. /
Se importe com quem ficou/ Mesmo se tudo ficou ao contrário /
O tempo é um Senhor infalível/ Que nos apresenta suas faces./
Soberano e detector de corajosos/ Transformando em vencedores.../
Os que ousaram/ Lutaram/ Empunharam suas marcas.../
Com a destreza de suas atitudes./ Com a paciência de suas virtudes./
Com o aparar de arestas/ Com as conquistas de suas metas./
Orgulhe-se por nunca desistir.../ De sua caminhada.../
De ter sido você/ De ser você/ Todos os dias.../
De fazer por merecer/ O melhor.../ O seu melhor!/
De agradecer ao acordar e ao se deitar.../ Por ter tentado./
Por ser amado a e/ Por ser a esperança de alguém/ Por não querer o mal
de ninguém. /
Seja música nos ouvidos dos seus amores/ Seja a chuva que lava almas.../
Seja o alimento de quem tem fome/ Seja a poesia visceral de quem
consome/
Seja a sabedoria de quem perdeu a consciência/ A luz da escuridão da
negligência. /
A utopia .../ A Harmonia em tempos de agonia./ Seja quem você quiser/
Só não deixe de ser quem é, Você.

Retrospectiva 2021 59
ARGONAUTA DOS
ESPAÇOS INTERIORES
Patrícia Fonseca

É PRECISO, É URGENTE
RETOMAR DE ASSALTO O LEME
NAVEGAR PRA DENTRO
ABRIR-SE AO ABISMO
ENXERGAR-SE DO AVESSO
PASMEM: O CAOS DO COSMOS
[É SINCRONIZADO E DEUS
MORA NO CENTRO DE NÓS.

60
CERTEZAS
Luís Eduardo Faleiros

Essa coisa de crescer,


nos cobre com devaneios,
acreditamos nesse processo conter,
mil certezas - de mentiras -
pensamos que todo saber,
em nós já se encontra,
fechamos a porta da curiosidade,
adentramos no quarto das verdades
absolutas.

SEDADREV

A
S B
A S
D U
R

61
365 DIAS
Jackeline Monteiro

365 dias
Ganhei e perdi
Chorei e sorri
Por aqui eu vivi
Como em uma estrada
Que parecia não ter fim.

365 dias
Das doídas saudades
Das confusas perdas
Que me levou a labirintos do grito,
Grito da alma.
Do coração que sangrou
E não se recuperou.

365 dias.
Na balança, alegria!
No coração, às vezes cardiomegalia.
Conquistas inexplicáveis
Em movimentos de Zig Zag.

365 dias
Olhe ao seu redor
Você deu o seu melhor.
Se livre das pesadas bagagens
Refaça as malas
Que logo, iniciará uma nova caminhada.

62 Poesia Contemporânea
RESSIGNIFICÂNCIAS
Ale Heidenreich

Me reencontro nas palavras


Como o rio que corre seu curso.
Deparo-me com a cachoeira de
Águas mansas. Ora torrentes.
Escorrem no papel linha por linha,
Verso por verso.

Permeiam as folhas do meu


Caderno vermelho.
Respingam em palavras formando
Choro, riso ou receio.

Caem como gotas de


chuva despretensiosa.
Formando poças tímidas
Que de mãos dadas se
Movem até o córrego manso,
e de lá outra vez serei
Rio de águas renovadas.

Ale Heidenreich
Alemanha, Primavera, 17.05.2021

Retrospectiva 2021 63
NÓS
Kananda Nogueira

Talvez, a essência do sentir seja acreditar.


Precisamente,
crer.
Ter fé no incorpóreo.
Nós?
Somos corpos abstratos desenhados nas estrelas.
Despidos dos sentidos da razão,
somos pensamentos sonolentos dançando tango durante a ma-
drugada.

Sem par, sem rosa e descalços.

Somos mestres espadachim,


enfrentando a nós mesmos com uma faca de manteiga.
Somos o que sentimos, mas não sabemos quem somos.

Existimos?

Nas estrelas, na madrugada, no café da manhã?


Nos desenhos abstratos, nos pensamentos sonolentos e
Nas nobres batalhas existenciais?

No antes e no agora,
existimos.
emaranhado de agree e disagree.

Talvez, a essência do amor seja sentir.


Subitamente explodir.
Morrer por excesso de vida,
Excesso de poesia.

64 Poesia Contemporânea
SENHOR DONO DO PAÍS
K. S. Della Capa

O desejo de criar imbuído no de falhar


para o pertinente, o sucesso é um impostor
senhor dono do país, o impostor morreu
de que?
Ora, de tanto trabalhar
que se foi sem um tostão
e com muitos sonhos, se foi tarde.
Se fosse filho meu, eu bateria,
mas senhor, nós os filhos da pátria, apanhamos
queimamos
perdemos
empobrecemos
morremos
a lista dá volta em nossos pescoços.
Arminhas para o céu
é isso que os que se foram estão vendo, senhor?
Devem pensar que se foi para isso que morreram
não é para isso que estou vivo
acima de vivo, endividado por comer.

Retrospectiva 2021 65
RETRÔ 21
Nayra Menezes

Quando me lembro,
De tudo que nesse ano vivi,
Sinto meu coração disparar,
Por tanta coisa que tenho para dividir.

O início parecia tudo perfeito.


Mudança, alegria, esperança.
Cativando bons momentos.
Começando uma nova vida sem medo.

De repente tudo mudou.


A relação do nada acabou.
A vida deu um pausa.
A cabeça estava desarrumada.

Momentos na escuridão.
Vivendo procurando um chão.
Querendo encontrar uma luz.
Para ali me agarrar e lutar.

A escrita e o declamar,
Trouxeram para mim, um alento,
Para aquilo que chama atenção,
E enche meu coração de emoção.

Hoje me vejo outra mulher.


Novos pensamentos,
Vivendo um outro momento.
Olhando muito mais para dentro.

66 Poesia Contemporânea
SOMBRAS DE
UM PASSADO BORRADO
Carina Falchi

A luz de mais um dia pode estontear.


Um borrão alaranjado, sonho mareado
pincela encarnado, amarelo, azulado.
A ressaca das ondas, respinga, respinga, respinga, explode borrado
um colorido misturado
aurora
vem do mar habitado e revoltado,
de sangue, suor e salgado do choro a embalar.
Invade o barco, explode aerado a marola agitada
formando um raio luminoso côncavo,
dividindo o que deve ser naufrágio e a vida do outro lado.
Um Sol que nasce torto, como um escombro
deturpado em alto mar:
tem ninfa, sereia, carpa, baleia, garça, algemas, algemas, algemas...
mãos negras em súplicas, corpos a boiar!
Desgosto da natureza bruta de homens brutais – o navio negreiro:
não sei se está só cruzando ou naufragando
o navio do desespero, carrega almas no celeiro:
para uns é progresso, para outros carniceiro.
Do barco escutamos homens brancos a pregar:
- É o mar quem te acorrenta e chicoteia sem parar...
Sangra no dia em que insiste raiar
do cais a apartar,
vidas do seu lar
nauseado, nauseado,
destino dos raptados: morrer nos açoites ou no mar exilado.
Alvorada de um passado - nunca deixou de passar
sangra em mais um dia em que insiste continuar...

Retrospectiva 2021 67
PALAVRA-CHAVE
Boris Rodrigues Garay

Um dia eu tive vontade


De me arriscar num poema.
Um professor me falou:
“Escolha algumas palavras,
Aquelas que você gosta,
E ande um tempo com elas”

Convidei umas amigas,


Andei um tempo com elas,
Mas elas não se animaram.

Eu pensei em desistir
Mas veio uma palavra
E me tocou com uma chave:
“Se você quer um poema
vamos lá na minha casa...
Mas isso é só entre nós”.

68 Poesia Contemporânea
RACISMO
Edson Santana

Acompanha meu corpo diariamente,


Em todas as dimensões,
Os pressupostos que eu não estabeleci.
Iniciaram antes até do meu nascimento
Vão continuar depois da minha morte
Me oferecem vivências contínuas de descaracterização
De não-existência
Vão da morte real até a simbólica.
E no meu corpo se manifestam
Eu sou milhões.

Carrego as marcas do racismo.


Quando me ouvi como pessoa
Me perguntei se havia algo de ruim comigo
Demorei para nomear o “por quê eu sou tratado assim?”
Duvidei se era real o que se passava.
Me perdi.
Mas foi nesta caminho que também me encontrei.

Retrospectiva 2021 69
POEMIA
José Manuel da Silva

termina mais um ano de incertezas, injustiças


pobreza estarrecedora, negacionismo inacreditável, anacronia,
pandemia – distopia
obscurantismo, pós-verdade, notícias falsas e manipulação
absurdos perpetrados sob o enganoso véu auspicioso de pia,
respeitável e vetusta religiosidade
triste povo desliberto de um triste país entorpecido
fadado a idas e vindas, altos e baixos, mandos e desmandos
o de sempre, ó descaso, ode macabra
raízes fortes profundas, matrizes ancestrais fecundas
matizes unicores, desamores, temores, dores, tumores
democracia em estertores, dilapidada pelos cidadãos de bem mal
indivíduos acríticos, governantes sifilíticos, neolíticos
flores do mal, caos total – físico e emocional
vida falida, morte desassistida, saúde combalida – física e emocional
o sal da terra ácida, o fel da escória existencial que nos comanda
pouca-vergonha, descaramento, despudor – o verdadeiro horror
a inépcia flagrante do poder, as peripécias inventivas para
sobreviver
povo serviçal, autoridade e dinheiro nos controlam
desgoverno, segregação, informação parcial – a lama da moral
maus-tratos, autoritarismo desastroso, educação deficitária
pseudocordeiros assassinos blindados em sua astúcia
ninguém mais vigia os vigilantes, caro juvenal
o mundo se deteriora, o país vai igual
dois mil anos e nenhum progresso
duzentos anos e nenhum sucesso
assim, enfim, no fim
não foi bem a pandemia que o matou
foi sua existência que cansou

70 Poesia Contemporânea
SARDAS E MARIA
Bárbara Maria

Sempre ao meu despertar


A minha alma, a primeira acordar
Primeiro sinto a dor do meu corpo
Que a todo tempo e mesmo fora dele
Me causa irritações e as mais vis limitações
A minha alma, sempre a primeira
Tenta se ajustar a ele, tenta e tenta
Nem sempre consegue, as vezes eu caio e sinto o efeito depois
Só que na maioria dos dias ela acaba cedendo
E lá vamos nós, vamos de corpo e alma
Sem chorar e nem pestanejar
Apenas aceitando que não posso me juntar ao céu, com as nuvens
Mas me sinto voando com os pássaros
Não posso meditar na paz do fundo do oceano
Mas escuto os lamentos do mar
Não posso tocar o sol e nem beijar a lua
Mas sinto o beijo do mais quente ruivo e paz da gigante albina
Nada posso fazer com esse corpo que me irrita e me limita
Um vaso falso, dominador e inseguro
Porém esbelto, desenhado e calculado
A cada passo que ele dá pra longe de minha alma
Sinto ela gritar, alto alto alto, “Pare, volte!”
E nada posso fazer, não o controlo
Ele tem necessidades diferentes, precisa tomar caminhos diferentes
E não o julgo, jamais ainda que eu não o defenda
Pois maldito foi aquele que deu a ideia de me prender ao meu corpo
E maldita de mim que aceitei.

Retrospectiva 2021 71
O QUE SERÁ AGORA
Mara Beatriz Magalhães

Após 20 anos de paz


Talibã retomou o poder
Afegãs deixadas pra trás
Cenas difíceis de ver

No mundo é ruim o cenário


Crimes de ódio em cadeia
Contra africanos e asiáticos
Refugiados em navios de madeira

No Brasil mais mortes sofridas


Descaso total do governo
São milhares as vidas perdidas
Sem direito a um digno enterro

A natureza também clama


Três erupções mundo afora
Amazônia grita em chamas
O que será de nós agora?

72 Poesia Contemporânea
HORROR
Ricardo Serpa

Não há fantasmas nos meus filmes de terror.


O que me assombra são seres em desvario,
Todos em coro, como num louvor sombrio.
Deus! Jaz o seu nome, é mentira, é desamor!

Não há vampiros, lobisomens, calafrio;


Há multidões enfurecidas, e o rancor
As alimenta a por o mal a seu dispor
Onde o cinema é algum país que não desfio.

São dias tão terríveis, noites tão odiosas...


Quando isso escrevo as minhas mãos ficam nervosas,
Lembro nostálgico de tudo que era lindo.

Restam-me apenas umas lágrimas caindo,


Estalactites nas imagens cavernosas
Em dias gélidos, em noites tenebrosas.

Retrospectiva 2021 73
TARTARUGAS
Julia Mascaro Alvim

Tartarugas infundidas
Andam
Em um lodo fundo
Não mergulham toda a corcova
Ainda a dar pé
Ao partirem, enlameadas, botaram ovos sapiensais
Sarapintados em gomos fortes
Disfarçaram assim, longos outonos
Eu rapidamente mergulho minhas mãos colhendo todos eles
Com a malícia do prever
Observo muito os ovos
Parecem brigar com suas cascas grossas
As tartarugas testilhavam com seus cascos
Indicando o caminho...
Eu me farto cozinhando ovos empanados, e discordo dos seus
ninhos...

74 Poesia Contemporânea
O QUE VEM LÁ
Daniel Pimentel

Fora daqui, memória


Essa dama sem amor
Sempre tão impiedosa
E carregada de rancor

Não quero o ontem


Morto e inexistente
Mas que faz de refém
A história de tanta gente

Aparta-te daqui espectro


Liberte o povo da escravidão
Tememos o sequestro
De nossos dias pela tua mão

Retrospecção? Não
Já não quero voltar
A memória traz sequidão
Além de me assombrar

Que o sol de outrora


Cinza e escondido
Não nasça, não vingue
No amanhã e no agora.

Diante da história do mundo


Detenho meu olhar no horizonte
Vislumbro bem no seu fundo
O novo como uma fonte
De vivência singular –
Princípio de vida estelar

Retrospectiva 2021 75
O FIM DO EU NO NOSSO AMOR
Ed Santos

Eu comecei em um lar para dois,


terminei em um hotel de esquina
contando os trocados do que sobrou de nós.

A cada eu te amo,
um pouco de mim foi substituído pelo nós,
mas você não ficou.

A ruína que vi não foi da nossa relação,


mas do completo eu.

Agora mendigo o amor atormentado,


o peço como um selvagem faminto, sem modos,
arregaçando tudo que vive dentro do outro,
tentando reencontrar o eu.

76 Poesia Contemporânea
NÃO DEMORA
Dielson Luz

Ainda enclausurados – era nossa situação


Sonhávamos com o dia da libertação
Máscara no rosto, nas mãos, álcool em gel
Distanciamento social, situação cruel

Abraços eram impossíveis – use o cotovelo


Onde quer que fôssemos a regra era “zelo”
A saudade dos amigos era quase insuportável
Ficar longe deles sempre foi inimaginável

Os estabelecimentos subiram suas portas


Mesmo com meio milhão de pessoas mortas
O medo imperava nos corações dos sensíveis
Outros davam os dias como irreversíveis

Hoje há um vislumbre da volta do “normal”


Todo mundo vacinado, terceira dose final
A esperança volta, rostos se iluminam com sorriso
Porém, todo cuidado é pouco – ainda é preciso

Vai chegar o dia – e eu sei que não demora


Em que a aglomeração seguirá noite afora
E famílias unidas nunca mais serão separadas
Que seja assim, todos juntos – pessoas amadas!

Retrospectiva 2021 77
MUITO
Keyane Dias

É tudo muito
e já não quero dar ouvidos.
É no hiato
do presente
que me perco
displicente
no cansaço dos sentidos.

É tudo muito
e ser muito é vão castigo.
É no miúdo
de ser gente
onde encontro
minha nascente
pra crescer além do umbigo.

78 Poesia Contemporânea
SOBRE(VIVER) DESDIZENDO
Alexandra Matos

Desdizer é o duro martírio de calar o que deveria ser falado


Prender-se a muros ilusórios, invisíveis, notórios
Despotencializar o poder de quem diz
Não ultrapassar as barreiras sociais
Pensá-las sempre como intransponíveis
É, simplesmente, desdizer

Dizer é a rebeldia, arrebentada pelo horror


Encarar o medo e destruir conceitos
Sofrer as penalidades intrínsecas a quem diz
É uma passagem muito cara
Mas, pode ser a porta de entrada
A descoberta de alguns dos segredos do “eu”

Paz desdizendo não pode ser paz


Felicidade desdizendo é ilusão
Sentir desdizendo é mentir para si mesmo
E, ainda assim, existir desdizendo?!
Oh! Isso é impossível!!
Pois eu? Eu?!
Ah! Eu prefiro desexistir a existir desdizendo.

Retrospectiva 2021 79
ALGO DENTRO SEMPRE FICA
Marlon Procopio Martins
Tantos rostos que não vi,
Abraços tantos que imaginei,
E dentro de mim um sentimento
De que nunca haverá outra vez.
Tantas partidas
Não passaram despercebidas,
Algo dentro em mim sempre fica
Para querer o novo,
Degolar o velho porco
E ser feliz, talvez.

80
PEQUENA DOSE DE UTOPIA
Tamires Francisco

Criar um mundo
paralelo onde
tudo aquilo
que é belo
proteja os pés
de pisarem
em solo
infértil.

81
QUESTÃO DE LEI
Valdenia Alves

Existe um acento
que não me agrada assentar:
é o chapéu de abas flexionadas
que a Gramática me força a usar.

“Mas ele não é meu!”


grito em desespero,
“Nem no cartório está!”

“Isto não importa.”


replica meu carrasco Português,
“Ele vive onde eu disser,
pois de suas letras sou Rei.”

82 Poesia Contemporânea
CONVÉM RECORDAR... E ESPERAR
Evandro Valentim de Melo

Tantos assuntos a demandar estardalhaço


Questões importantes, essenciais à lida
Urgências que clamam maior espaço
Para lembrar aos brasileiros de memória desprovida

Apesar de há tempo na mídia, pandemia não é tema arcaico


É preciso criticar a demora na compra da imprescindível vacina
O equívoco de misturar religião ao Estado constitucionalmente
laico
Chamar doença tão grave de ‘gripezinha’ resultou em carnificina

Mau exemplo a desprezar ato tão simples de proteção


Custava usar máscara em público e servir de espelho?
Melhor é posar fazendo arminha com a mão
Pra ser aplaudido por seu cada vez menor grupelho

E o que dizer das vidas e reservas indígenas desprezadas


Do acinte que é destinar bilhões a um fundo eleitoral
Dos rios de mercúrio e das florestas incendiadas
De o quanto a omissão estatal é desrespeitosa e imoral

Inspiração inesgotável à criação de ‘meme’


Da boca nem um pio diante do estratosférico preço da gasolina
Definitivamente não serve para do Brasil conduzir o leme
Mas, vejam só, vocifera em defesa da hidroxicloroquina

Voz ativa na difamação à urna eletrônica


Gabinete do ódio em propagação à boataria
Não sabe lidar com a imprensa antagônica
Cerca-se de seguranças que distribuem pancadaria

Boa mesmo será a retrospectiva de 2022, o próximo ano


Será muito, muito melhor o clima no Brasil
Povo na rua a comemorar o fim de um governo insano
Fogos de artifício, alegria para o mal que se esvaiu!

Retrospectiva 2021 83
ODE FRIA AO SOFÁ AMARELO
Katja Mota

durante um tempo
tive ciúmes.
não de corpos atravessados
ou atravancados,
ciúmes de um quê de todas as pessoas.
dos sorrisos que te roubaram
exibindo a nudez de seus dentes
irregulares.
das voltas que seus pés davam
e tocavam um solo de redemoinhos
balançado os braços
do vento que produzia
ao movimentar o ar,
aquele que te tocava inteira,
na curva de um tempo de aindas.
e rangi os dentes pelo brilho dos seus olhos
à luz de uma vela.
do banco do trem
da porta do ônibus
do elevador
do trinco da janela
do sofá amarelo,
aquele que suportou seu peso
seu choro,
seu gozo.
Senti a falta de todo um eu
que não estava lá.

84 Poesia Contemporânea
KRONOS
Tiago Gonçalves

Olhe para ti e me reconhecerás.


Quando o sol terminou de me cercar,
ouvi os sussurros de tuas intenções.
Desde então, fiz-me ação e aragem;
naveguei, destemido,
o mar revolto de tuas emoções.
Dei-te doces beijos
com gosto daquilo que te é inefável.
Conforme cresciam-te as unhas
e alongavam-te os cabelos,
incensei os delírios mais perversos.

Ao te traírem, esclareci;
ao te ferirem, curei;
ao te injustiçarem, rasguei.

Carreguei os que, aqui,


já colheram as mangas sumarentas.

Sei que amedronta teu ser


o absurdo de minha essência - passar…
Não precisas olhar por sobre os ombros
para verdes onde estavas;
basta te plantares
em minha letargia do hoje,
e deixares que as borboletas brancas
desvelem onde estás.

Pega teu patuá,


transborda o peito: vamos recomeçar!

Retrospectiva 2021 85
EM TRANSE
Jeferson Ilha

Você se compreende?
Você sabe de onde vem?
Qual é a sua história?
De que classe ou raiz você pertence?
Se você sabe de tudo isso,
Por que ainda deixa-se subjugar?
Ou você gosta de ser
O que outro queira que você seja?
Se isso não está claro para você
É porque você emergiu tão profundamente
Na manipulação que te aprisiona
Que não percebe que está preso a ela.
Isso faz com que você não saiba o que faz,
O que pensa ou o que você realmente é.
No entanto, acordar desse transe,
Só depende de você.

86 Poesia Contemporânea
PRA VIVER O AGORA
Carolina Melo

acalma seu coração


e tente viver o agora
a vida passa correndo
e mata todas as horas

difícil pedir
pra não acelerar o passo
mas para chegar no horizonte
não existe atalho

e se achar que existe


cuidado
é delírio
e o destino
fracasso

como andar para a frente


sem amarrar o cadarço?
tropeçando nos laços
que ainda nem apertou
deixando a história em pedaços
pelos caminhos cruzados
que a vida te apresentou

para partir ou ficar


só existe o meio
é melhor aproveitar
cada momento

Retrospectiva 2021 87
SEM TÍTULO #80
Ian Pereira Silvares

Fotografo ao léu
Nunca paro pra pensar em enquadramentos ou técnicas
A cada olhar, um possível clique
A cada passo, uma pose ridícula
A cada abraço, conforto
A cada encontro, comemoração ou despedida,
uma foto em nome da futura nostalgia

88 Poesia Contemporânea
DOIS MIL E VINTE E UM
Ian Anderson Gomes Dias

esse ano
me senti sozinho travando lutas microscópicas conta monarcas invisíveis
cujas coroas proteicas tiveram seus segredos revelados pelos homens e
mulheres de jaleco.
tive saudades e passei vontades,
foi um ano definitivamente tantálico.
houveram dias
em que eu daria tudo que eu tenho
e um pouco mais só para ouvir uma voz amiga.
em outros, só queria
um segundo que fosse de silêncio para poder escutar algum sussurro
que eu sutilmente tentava pescar da minha mente esfrangalhada.
tudo que era vidro e cristal se quebrou.
e, sob eles, encontrei a rocha calcária que secretamente sustentava-me a vida.
escrevi coisas com as quais eu nunca sonharia fosse esse um outro ano
qualquer.
esqueci e perdi e descobri que na vida há outros muitos et ceteras.
mas tudo bem, porque quando nada vai bem, tudo vai bem e ninguém é do
bem.
bem? bem doido. insano.
nada de maluco beleza, estou/sou só maluco normal mesmo.
dançando desajeitadamente
entre rosas e covas e bombas atômicas
nós aguentamos até o último segundo.
a quem jurava que o mundo acabaria esse ano, sinto muito.
mas, afinal, tudo depois de 2012 já é lucro.
acima de tudo, vivi, e existi, e, por sorte,
tive nem que seja um pingo de esperança.
agora basta deixar que continue a dança.

Retrospectiva 2021 89
ELEGIA MENSAL
Lua Pinkhasovna

Soprou nossa fronte, o corrupto janeiro, voou altivo jogando as


estruturas para longe permitindo o seu acesso ao meu peito e logo
teve sua página destacada do calendário que anunciava fevereiro
O mês do carnaval não sorriu, abriu em prosa para quem se atreveu,
mas a mudez para a maioria imperou enquanto nós aproveitamos a
folia a sós no mar policromo que só a nossos olhos dava cor
Março se impôs manso, nos enlaçou num abraço amistoso
estreitando nossos corpos num nó de células costuradas
formando uma só pele
Abril nos confundiu no delírio febril de uma distopia perfeita,
resumiu-nos em uma criatura amorfa, disforme, tosca que só se
transforma aquele que ama
Maio teve sol todos os dias, mas seus raios não penetraram nossa
derme, com os rostos virados um para o outro feito reflexo, olhou-
nos restrito apenas de soslaio
Em junho a temperatura arrefeceu, as chuvas chegaram, o
rosto tornou-se inchado a cada manhã insone, não havia tecido
suficiente para abrandar o frio, os poemas não passavam de
rascunhos descartados
Julho nem chegou, amassou-se raivosamente como embrulho
diante dos olhos enevoados, obscurecidos pela desilusão
Agosto foi o mês de mais tormentas, tudo estava translúcido e a
previsão do tempo trazia péssimas notícias sobre os próximos meses
Em setembro, empurrávamos os dias no nosso antecipado dezembro
No outubro primaveril redescobri que eu existia por mim sendo
singular antes de ser dual
Novembro foi o mais chuvoso dos últimos decênios, o mundo
despencou em represas, cada parte alagou quando percebi que
estava sozinha dentro do sentimento
Dezembro não marcava apenas o último mês do ano, mas
também, os últimos acordes do nosso cântico traduzidos no
ponto final da minha elegia mensal.

90 Poesia Contemporânea
ASSINTOMÁTICO
Pablo Natan de Mello

Estou afundando
Submerso entre as pedras
Minha alma se fragmenta
Se quebra enquanto eu observo
Pedaço por pedaço
Secos ao chão.
A cada olhar eu me perco
Desnorteado entre os pensamentos
Fingindo que está tudo bem
Enquanto vou perdendo a força
Desacelerando a cada batida.
A vontade de viver,
Meus ensinamentos,
Minha história,
Tudo está indo por água abaixo
Eu estou afundando
Afundando entre a escuridão.

Retrospectiva 2021 91
NA CIDADE ENLADEIRADA
HÁ VIDA VIOLADA
Jane Mara de Araujo Costa

Da fome,
Da criança abusada,
Da mulher espancada...
A vida é enladeirada!

Pretos lábios,
Lagrimas e sorrisos no rosto.
Gente brava!
Brava gente!

Que acorda com bravura


Mas não tem reconhecimento de classe.
Que acorda fragilizada
Por ter a existência violada.

A fome é imediata,
A subjetividade pisoteada
A vida sobe, a vida desce.
Nesse sobe e desce, nesse desce e sobe,
A direita subiu, a esquerda desceu.

Lá se vem Maria, lá se vem José,


E vem João, e vem Josefa, e vem Pedro
Manso? Não, Amâncio!
Maria José, José Maria, Josefa Maria, Maria Josefa.
E choras...

92 Poesia Contemporânea
NOVO (RE)CICLO.
Victor Hugo

Que o próximo ano seja repleto de paz.


Meu coração pede aprendizado com erros passados.
Desenvolvendo força, sabedoria e maturidade.
Afinal, aprendemos caindo.
Machucando.
Às vezes, o impacto gera marcas profundas, que nos fortalecem.
Perdoa - (se)!
Reconhecer as falhas é crescer.
Desenvolver.
O imperfeito perfeito são erros serem acertos.
Precisamos olhar para dentro de nós.

O amor é um dom que se multiplica,


ao amar - se e ser amado.
Arte de aprender e ensinar com paciência e afeto.
Ah, quase esqueci o principal!
Humildade e honestidade não podem faltar no novo ciclo.
Por mais que esse ano foi difícil, evoluímos muito.

Estamos construindo um futuro melhor.


Com muita luta, esperança e resistência.
Que possamos não perder a capacidade de nos colocarmos no
lugar do outro, a empatia.
Refletir olhando internamente as feridas que nos fizeram crescer.

Que a inocência infantil nos espalhe paz, amor e respeito.


Cuidando para colher bons frutos na nova colheita.
Esteja aberto à reconstrução constante do Ser.
Sentimentos ruins transformam-se em cinzas de afetos,
desenvolvimentos e aprendizados.
Desejo um mundo mais pacífico.
De guerra, eu digo chega!
Que o próximo ciclo seja leve, divertido e feliz.
Morre-se um ciclo. 93
Renascendo um novo.
TALVEZ TRÊS MARIAS
Edmilson Miranda Jr

Brilhando me lembram você


De quando me via ao lado
Calados
Querendo palavra, sentido e pra quê
Lembrando de ser

Graças à sorte das brilhantes aladas


Azuis me levam a ti
Pra com você ter mais de mim

94 Poesia Contemporânea
COVID AO RISO
Guilherme Fischer

na garganta
que a palavra não grita
a frase raspa
o verso é ferpa
é farpa é asma
rasgo calado
contido abafado
no tapariso
da máscaramordaça

mas
quando com vida raiar o dia
em que o covid covarde
estará na cova
da pós pandemia
covinhas nas bochechas
correrão livres
nas vielas nos becos favelas
e não haverá quem as pare

os rios de risos sinceros


serão convites pra fora
das casas das cercas
portões cadeados
porões da existência
bem dentro de nós

e criança seremos
criando cirandas
criança seremos
serenas crianças

Retrospectiva 2021 95
SONETO DE “SOFRÊNCIA”
(OU DE LUTO)
F. Cristianne de Magalhães

Cavei uma cova profunda,


nela, sepultei o amor.
Trago a face moribunda,
onde se esconde o rubor.

Estes dias de penumbra,


preenchidos com sofrência,
me empurram pra esta tumba
onde se vive de ausência.

De supetão, me obrigaram
a apenas me arrastar
nesta vida tolerável.

Sequer me ensinaram
que morte é se acostumar
a uma ferida incurável.

96 Poesia Contemporânea
O ANO DO VERBO ESPERANÇAR
Asor Almeida

Uma extensão do ano anterior


Impactado por lutas, perdas e glórias
2021 foi repleto de tristeza e de dor
Mas também de conquistas e de vitórias.

Marcado por incertezas e desafios


Pela luta entre a ciência e a negação
A vida como um equilibrista num fio
Ganhou alento com a vacinação.

No caos provocado pela pandemia


Vimos o meio ambiente agonizar
Vencemos a tormenta com empatia
A democracia foi preciso sustentar.

Ano que apostamos no virtual


De vidas ceifadas e muita comoção
As minorias com perdas sem igual
Nas olimpíadas, o Brasil campeão.

Foi o ano do verbo esperançar


De buscar a paz na turbulência
De motivação para voos alçar
Forjados na fé e na resiliência.

Retrospectiva 2021 97
ANO 21.
Larissa Sousa Silva de Jesus.

Vi o tempo passar,
A noite chegar,
A alma apanhar,
A boca secar,
O vento soprar,
O corpo paralisar...
O peito apertar,
O sol arruinar,
A mão compartilhar,
O coração apreciar,
O doar,
O amar,
O confiar,
O esperar,
O zelar.

98 Poesia Contemporânea
RETRÔ
PERSPECTIVA
2.021
Reginaldo Luiz Cardoso

03... MORTOS
Em um futuro distante
Em um futuro recente
Aquele foi o ano da peste
57... MORTOS
Aquele foi o pior ano de nós mesmos
965... MORTOS
acabrunhados, encasulados, indiferentes, exauridos, acovardados
3839... MORTOS
aquele foi o ano que a nossa humanidade ruiu
82357... MORTOS
pressentimentos, procedimentos, procrastinações
31do12de2021
619.249 MORTOS

nem jazz nem blues


só um miúdo e patético chorinho segue o cortejo dos mortos
dos mortos-vivos
alguém assobia em pretérito imperfeito...
619.ooooo.................... (clic)

Retrospectiva 2021 99
SALDO POSITIVO
Luciano Santa Brígida

Levo um susto no aplicativo


Ao ver bem grande em vermelho
Meu saldo em negativo

A dor secou a conta


Dor de luto e no joelho
Que minha sanidade afronta

Não consigo moratória


Não por esse aparelho
Só me resta a vitória

Vencerei sem fugir


É meu auto-conselho
O coração não irá falir

Aceito a dor e contemplo


Com alegria em parelho
O sentir de cada momento

Apesar de todo o anseio


Termino o ano de bolso cheio

100 Poesia Contemporânea


NOVO ANO
Débora Magalhães de Souza França

Anoiteço homem
E nada é mais solitário.
Caminho entre multidões
Como quem desbrava abismos.

A lua que a pouco se escondia


De minha face, agora reflete
O homem que sou.
Adormeço entre cacos.

Meu rosto comum


Invade a terra,
Aborrece imortais.

Só. Caminho convicto entre cômodos, como se fosse a última


hora da noite.

Explodem em alegria os vizinhos


Alheios a minha solidão.
Receptivos a uma nova tentativa de realidade ou de mudança.

É meia-noite.

Retrospectiva 2021 101


MICROPOLÍTICA DO COTIDIANO
Cláudia Marzano

em cena
um território partilhado
ganham visibilidade
os intrincados fios
que nos unem
pactos subterrâneos
camadas de não ditos
emergem sem aviso
tempestade de ilusões
sobre nós mesmos
só a proximidade
é capaz de tanto
desmoronamos.

102 Poesia Contemporânea


HOMEM DAS ESTRELAS
Aléckson da Costa

No espaço sideral, campo estelar


No fantástico céu dos astros
No espaço de um verso, imerso
Em poeira cósmica
No mastro do universo espelhado
Reflexo divino, sonho de menino
Pequeno ponto brilhante na areia negra

Ouvindo o fim das vozes no rádio


Os quatro ciclos que findam o horizonte
Ao longe, eis o homem das estrelas
Sempre lá

Ele diz que deixem dançar as crianças


Ele diz que há esperança
E que a terra é um ponto pálido azul
E que, sob uma perspectiva cósmica
Todos os seres são preciosos vazios vivos
E que, sob a perspectiva dele
Todos os seres são, também, imprecisos
Como esse mesmo homem que vos fala e some
Nas estrelas, nos espaços e em cada infinito nítido
Do horizonte estático dos astros movediços

Retrospectiva 2021 103


QUÃO BONITO É O NOSSO AMOR
Cláudio Corrêa Monteiro

Ao cair da noite
A lua aparece tão bela
E nas batidas do meu coração
Eu descubro que eu te amo muito
E no exato momento
Que as nossas almas se unem
Eu descubro que você é um anjo
Que veio para me consolar

E quão bonito é o nosso amor


É a mais pura verdade
Nós guerreiros do amor
E vamos lutar Poe essa causa
E quão bonito é o nosso amor
O nosso amor é eterno
Os laços do amor vão nos unir para sempre
E ninguém vai desatá-los

Você me fez lembrar um anjo


Apenas contigo serei fiel
O meu coração pertence a ti
A minha vida está em suas mãos
Há uma rima e razão
Em nosso lindo amor
Você me conquistou com um lindo sorriso
Que fez o meu coração bater mais forte

104 Poesia Contemporânea


BARCOS NA TORMENTA
Ziney Santos Moreira

Singrar o mar do tempo


de dois mil e vinte e um
não foi uma tarefa fácil.
Houve medo, apreensão,
esperança, desilusão,
separação, partida, saudade.
Barcos diversos estiveram
atravessando as mesmas águas.
Não importava o tamanho
e nem o luxo das embarcações.
Todas niveladas pela régua
da famosa pandemia.
Atravessar a tormenta
só mesmo com a habilidade
e dedicação dos heróis de branco.
A energia vinha da força das vacinas
e das medidas científicas.
Continuamos a navegar
mesmo sem saber o que nos espera
em novos portos.
Talvez variantes do vírus ou não.
Mas o que queremos é voltar
a abraçar e a beijar com segurança.
Quem sabe logo logo possamos
apreciar novos sorriso
igual ao raiar das lindas manhãs.

Retrospectiva 2021 105


2021 – UMA ODISSEIA NA TERRA
Olivaldo Júnior

Ou segunda, ou a terceira
da vacina (a que nos salva),
vacinar, ou não os “anjos”,
bem de leve a mão na calva,
tão careca, em desenganos,
quer tocar a estrela-d’alva!...

Nessa Terra, em odisseia,


já não sei quem foi mocinho,
mas sei quem é imortal,
na ABL fez seu “ninho”:
Fernanda e Gilberto Gil,
outras artes no escaninho.

Nem Stanley Kubrick viu


a que ponto chegaria
a humanidade em 2000,
com tanta dor e agonia,
máscaras sem Carnaval,
escassez no dia a dia.

Queria ter coisas boas


pra lembrar e pôr em versos,
mas nem tudo foi só flores;
no Governo dos Inversos,
versifico a vida em dores,
osso exposto aos universos!

106 Poesia Contemporânea


HECATOMBE
Iolly Aires

assisti à defesa da morte


à certeza da morte, à incerteza da vida
ao festim da morte.
tilintar das taças, gargalhadas e música
com suas consciências necrófilas
eles aplaudiam a nossa morte
na sua máquina de moer gente
imagens turvas rodearam-me
entre as vozes, ainda podia distinguir
o som de choro por toda parte
ninguém mais parece ouvir
meneei a cabeça, mas o som persistia
feito eco do que a esperança se tornou com o tempo
embora não possa enxugar todas as lágrimas
posso me dedicar às palavras doces
a trazer gentileza
como ao segurar sua mão
enquanto permanecemos de pé
até submergirmos nestas lágrimas.

Retrospectiva 2021 107


RETROSPECTVIDA
Maria das Graças O Rocha

Retrospecvida
Hora da retrospectiva
Primeiro gratidão a Deus e a ciência.
Muito de nós vencemos o COVID.
Prece para os que se foram.
Reflexão! O que poderia ter sido feito?
ou que poderia ser evitado?
desarmamento.
Violência mata!
queimadas,
enchentes
pode e deve ser evitadas.
Educação é fundamental!
Educar para a valorização à vida,
Educar pra cuidar da natureza,
educar para à reflexão,
educar para a política.
A fome retornou à década de 70,
um retrocesso social.
As pessoas que produzem Arte,
sofrem perseguição.
A religião ficou mais separatista.
O homem está míope, cego
ou finge que não ver.
Retrospecvida...
A vida pede passagem,
ela não sobrevive a penas das promessas
da virada de ano.
A retrospectiva é de alegrias e dores.
Dores pelas enchentes,
pelos ossos servidos como alimento,
pelo salário ínfimo de fome,

108 Poesia Contemporânea


garantido constitucionalmente,
pelos viadutos dormitórios...
Sorrisos, pela esperança trazida pela fé,
pela ciência em suas descobertas,
vacinas, aula online, pela solidariedade,
pelo fazer diferença.
Pelo sol que nasce,
pela esperança em dias melhores...

Retrospectiva 2021 109


RESTROSPECTIVAS
Shirley Lima

Um dia, as flores murcham


O sol, vai dando lugar as estrelas.
Na retrospectiva das horas, os raios solares
reaparecem.
As horas, retornam.
O tempo não para.
O tempo, recria o próprio tempo.
São as retrospectivas das nossas lembranças.
Somos compostos por retrospectivas dos nossos caminhos e
mudanças.
São as nossas ideias que recriam em nós, esperanças.
É, a pulsação das horas.
Quais as maiores e melhores retrospectivas da vida?
Precisamos, regar bem os nossos afetos e caminhos.
Dessa forma, não teremos retrospectivas, isolados ou sozinhos.
É o tempo ...
Compomos o templo da vida.
Regamos as flores.
Flores que murcham
Flores que desabrocham, feito ideias.
São ideias, momentos e estrelas
que irradiam de forma divina.
Somos complexos, somos inspirações de composições e rimas.
Na contagem regressiva para um ano novo, nesse horário, o astro
rei, terá dado lugar às estrelas.
Novos dias renascerão, dentro das nossas metas e perspectivas.
Assim, vivenciaremos
novos ciclos, novas retrospectivas.

110 Poesia Contemporânea


LUZ
Maghali Miranda

Aqui e Agora nós somos Irmãos.


Nossas crianças nem sabem ainda mas esperam pela nossa lucidez,
confiam-se à nossa compaixão.
Nós simplesmente caminhamos...
A nossa jornada nos impressiona o tanto quanto basta para nos tirar da cama
e nos fazer buscar um pedacinho só de pão
ou até mesmo aquele dos outros.
Estar Aqui, irmanados, que pena,
nos atravessa a mente, sem reflexão.
Ignoramos, por vontade ou preguiça, e continuamos enredados em
conflitos fúteis solucionáveis,
nem sempre resolvemos fazer o salto de qualidade e girar a roda da evolução.
Nesse Agora nos falta, não o tempo,
esse delírio embriagante da realidade subjetiva,
mas arregalar os olhos da mente da alma
e ver, nos irmãos, os nossos meninos que brincam de futuro,
entender que eles são, exatamente como nós mesmos,
seus... fraternos… aprendizes.
E no entanto, nesse Presente de escolhas insensatas,
estamos todos no mesmo ponto de partida e distantes,
muito, mas muito menos irmanados de quanto poderia bastar. Que pena.
A luz magnífica que é neles,
muito além das aparências das nossas meras e rasas convicções, também
nos vibra dentro,
nos anima e vivifica para o eterno, a todos, indistintamente,
e divina e perfeita, pacífica e mansa, confortante e meiga, paciente e
respeitosa,
espera…
dando espaço às nossas liberdades
reflete a plenitude da bondade e do amor, infinitos,
desde Sempre, nosso Pai.

Retrospectiva 2021 111


QUARENTENA NOTURNA
Luzia Rohr

De tanto pensar
acabo pensando
que pensar é verbo passado.
E pensa quem quer
querendo o que quiser
na alma do sujeito cansado.
Que na fadiga de olhar o futuro
já olha o presente amargado.

112 Poesia Contemporânea


AUTISMO
Cláudia Daniela Mota Avelino

A vida é diferente vista pelos olhos de um autista.


Nada passa despercebido, até os menores detalhes ficam notáveis
Alguns objetos obsoletos e sem valia, se tornam coloridos e cheios de vida.
Aprendemos a vê com outros olhos o mundo, quando vivemos com um
[autista.
Paciência e amor, são sentimentos indispensáveis que ao longo do
tempo aprendemos a valorizar. Pois vamos descobrindo que o TEA é
uma forma diferente de viver e amar.

TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Retrospectiva 2021 113


FERNANDA ARAÚJO
Fernanda Araújo

Do fim ao recomeço
não me resta apreço
pelo ano que se foi e o que está por vir
ainda que tentasse
há uma lápide
entre muitos de nós por aqui.

A “gripezinha” que soterrou um país


trouxe a miséria
sua velha amiga
para ocupar o lugar dos que já não estão mais aqui.

Saúdo o ano novo com mínima alegria e


da falsa esperança que esta data contagia
só espero uma dose de infinita harmonia.

114 Poesia Contemporânea


DEZEMBRO 2021
Leide Freitas

Solidão
Focinheira
Nariz ardendo
Nada é natural
Nada é mais como antes.
Tenho alergias respiratórias
E meu pequeno nariz sofre
Com a restrição constante.
Álcool gel nas mãos e pulsos
E a vida diária é massacrante.
Ainda tem muita gente doente.
Gente com sequelas do Covid-19
E cuja saúde ainda fragilizada
Se sobressai na dores múltiplas
Das articulações e do corpo.
Dores na alma de parentais perdas,
Alguma solidão e tristezas.
Tudo que desejo é saúde
Para todos os brasileiros
Para todos os povos do mundo.
Vacinação para todos.
Imunização em escala mundial.
O privilégio de jogar a máscara fora
E respirar profundamente o ar
Sem vírus ou qualquer contaminação.
Esse é o sonho vívido do presente,
E consequentemente também do futuro.

Retrospectiva 2021 115


PESSOA NOVA
France Marinho

Há algum tempo eu não desejo Feliz Ano Novo por


compreender que o ano é uma sucessão nasceres e
morreres do sol: o novo deve ficar por nossa conta.
E exatamente por isso, por essa renovação que deve ser íntima, eu
desejo Feliz Pessoa Nova! E porque não dizer Feliz Coragem Nova?
Para ser novo é preciso coragem e um pouco de audácia.
Coragem para despir-se de tudo aquilo que já não te cabe, ficar
nu diante do espelho para reconhecer os erros e acertos que por
ventura cometeu.
Desejo-te coragem para ser feliz de forma subversiva afrontando
a lógica daqueles que vivem à espreita para se alimentarem de
nossas tristezas.
Desejo-te amor! Aquele que resiste, insiste e luta. Que continua
vivo depois de tantas ondas que quebram com nossa vontade.
Desejo-te o neologismo para a recriação da palavra-verbo ‘novo’ e
dessa forma conjugá-la à nossa moda.
Eu “novo”
Tu “novas”
Por consequência, a cada conjugação, nós mudamos para melhor.
Seja corajoso, impetuoso, subversivo.
E se não puder ser tudo isso, seja somente feliz, porque a felicidade
em si já é um ato de rebeldia.

116 Poesia Contemporânea


O ÚLTIMO POEMA DO ANO
Elienai Pereira

Existe o momento...
Certo?
Chegaria e chegou;
Na última noite,
O último poema
Do ano
(Linda)
Sonhei com o teu abraço.
Foi meio sem jeito,
Meio torto,
Mas pude senti-la.

Acredite!
Acreditei
Que seria o único
Momento,
Mas acabei por sonhar
Novamente
E as ondas do mar
Encontravam-se em fúria
Na nossa ilha
(que era única).

Deitei
Sobre as suas pernas
Contei
Sobre as frivolidades
Da vida
Ah, o seu sorriso...
Iluminava o barco
Um sentimento
Sem sentido
Sim! O usávamos,
Ousávamos
À fugir.

Retrospectiva 2021 117


Conheça o Toma Aí Um Poema

Podcast de declamação e leitura de poesia diária, produzida


em língua portuguesa, com aproximadamente 1 minuto, nas
áreas: Cânone Lusófono, abrangendo Brasil, Portugal e países
do continente africano; Poesia Contemporânea; Novos Autores;
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Jéssica Iancoski

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