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Curso de Extensão: O Espaço Agrário no Mundo e no Brasil

Unidade II: Modernização do campo

Ao pararmos para refletir de onde vêm os alimentos que consumimos,


seja no café da manhã, no almoço, no lanche e até mesmo na janta, podemos
perceber a importância que a produção agropecuária tem em nossas vidas. A
produção em grandes quantidades e de inúmeros produtos industrializados
derivados da produção agrícola vem com a modernização do campo.

Você já imaginou, por exemplo, que é possível acabar com as pragas de


uma lavoura usando apenas o choque elétrico?

Na reportagem do site G1 (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-


sul/campo-elavoura/noticia/2013/12/maquina-destroi-pragas-de-lavouras-com-
choques-eletricos-nors.html), os agricultores de Santo Cristo, no noroeste do
Rio Grande do Sul, já utilizam uma máquina que elimina a praga a partir de
choques elétricos. Isso significa que será reduzido o uso de agrotóxicos na
produção.

Figura 1: Máquina agrícola. Disponível em:


http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Belarus_2422.jpg

Essa máquina faz parte de um processo histórico da agropecuária


mundial. Nesse processo, o uso de tecnologias vem sendo incorporado nas
atividades do campo e gerando diversas formas de produção, de trabalho e de
espacialização do que chamamos de rural. Diante disso, pode-se afirmar que
no rural é possível ver atualmente diversas características que tempos atrás
eram apenas típicas do urbano, como a presença de indústrias. Ainda: o
campo possui outros potenciais e atividades que vão além da agricultura e da
pecuária.

Voltando à notícia da máquina que destrói as pragas com choque


elétrico, pergunta-se: qual o efeito dessa máquina sobre o ambiente? Quais os
aspectos positivos de seu uso?

Para quem serve essa máquina? Por que substituir o uso dos
agrotóxicos? Esse tipo de máquina e de agrotóxicos são características
originadas do campo?

Todas essas perguntas são respondidas quando analisamos o processo


de modernização que o espaço rural sofreu desde o advento da Revolução
Verde e continua sofrendo até os dias atuais, pois a introdução das novas
tecnologias no campo foi acompanhada pela instalação das indústrias e de
novas relações de produção e trabalho.

Para ilustrar melhor essas novas relações, fica de exemplo uma história
que de certo modo acontece em muitas fazendas do Brasil.

Em um determinado dia chega à fazenda um engenheiro e orienta o


trabalhador rural a como usar as novas ferramentas trazidas para ampliar a
produção. Ele também orienta a não usar mais os instrumentos “velhos” e
utilizar apenas as sementes e “remédios” que ele trouxe. Ele diz que todos os
produtos são regulamentados pelas normas do governo, pelos órgãos
internacionais e financiados pelo principal banco privado do país.

Na história, você pode perceber diferentes relações que marcam a


atuação do sistema econômico capitalista em sua fase atual no espaço agrário.
Nessa fase, temos o processo de modernização do campo, por meio da
mecanização e da industrialização; consequentemente, temos o
desenvolvimento do agronegócio e da pluriatividade no campo.

Todos esses pontos afetam o espaço agrário, inclusive o brasileiro, e


fazem parte da chamada Questão agrária.

SAIBA MAIS: Aspectos de diferenciação entre agrossistemas

A ideia é que possamos diferenciar o mosaico rural quanto à intensidade


do uso da terra, à finalidade, à técnica e à gestão da mão de obra. Não
esqueça que esses grupos devem ser entendidos em conjunto.
Inicialmente, devemos observar se o uso da terra ocorre de forma
intensiva ou extensiva, ou seja, se no primeiro tipo há maior produtividade por
hectare a partir da utilização de insumos – maquinários, fertilizantes,
defensivos – ou se a atividade depende mais de mão de obra e apresenta
reduzida mecanização, no caso do segundo tipo.

Em seguida, tratamos de verificar o direcionamento da produção


agropecuária. De fato, nos dias atuais, é cada vez mais raro identificarmos
agrossistemas essencialmente voltados para a subsistência. Mas, de qualquer
forma, se o objetivo principal for o abastecimento doméstico e, de forma
secundária, há a comercialização de excedentes, podemos ainda manter essa
distinção. Se o objetivo primeiro da produção é a integração com mercados,
nesse caso há clara orientação comercial, categoria hoje predominante.

Quanto à natureza das técnicas utilizadas, acrescentamos à tipologia


proposta dos agrossistemas as adjetivações tradicional e moderno. Essa
diferenciação precisa, mais especificamente, aqueles sistemas agrários que
alteraram suas bases originais de produção – caracterizados inicialmente pelo
emprego de grande quantidade de mão de obra e relativa baixa produtividade –
e passaram a recepcionar as inovações da chamada Revolução Verde, um
pacote de “soluções” – plantadeiras, colheitadeiras, pulverizadores, fertilizantes
e defensivos químicos – empregado para o setor agropecuário a partir da
década de 1950.

Ainda que a produtividade, de fato, tenha aumentado de lá para cá,


veremos nas próximas Unidades os nocivos impactos socioambientais
causados por essa aparente cartilha de boas maneiras para o setor
agropecuário.

A última distinção destaca a forma de organização da mão de obra no


agrossistema. Nesse caso, é importante, inicialmente, saber se a administração
ocorre em regime de propriedade ou de compartilhamento de uso comum.
Então destacamos a tipologia patronal e familiar para agrossistemas em regime
de propriedade. Na primeira predomina o assalariamento da mão de obra,
desvinculada da família do administrador ou do proprietário, a exemplo das
chamadas empresas agrícolas. Na segunda, prevalece a participação dos
membros da família, podendo em alguns casos haver também contratações
complementares. No caso do uso comunal das terras, destacamos a
agropecuária em base camponesa, como o kibutz israelense, os faxinais do sul
do Brasil e o Mir russo.

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