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Rªiar/l Mueda
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NASCÍMENTQ DA
(WCW) Nºs
WW RECEPÇÃOCLASSCA:
ACAMPANHA PARA
PADRONIZAR 0 SOM“
................................-.....-.c
rick altman
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Há aproximadamentedez anos, os historia;
dores do cinema americano escavam cada vez
mais fundo. De um lado, Abel, Allen., Burch,
Gaudreault, Cunning e Musser redefiniram
completªmente o cinema primitivo. De outro7
uma longa tradição definida pelos tra-
balhos de Bordwell, Staiger e Thompson
estabeleceu uma descrição satisfatória
Reprodução

do estilo clássico hollywoodiano. Entre


os Clois: o vazio. Buscando compreender a
'

junção entre o chamado cinema primitivo


e aquele que chamamos de clássico, este
artigo propõe uma nova leitura sobre o
vazio dos anos 10. Para melhor delimitar
esta questão é conveniente reconhecer
que a passagem de um regime a
outro depende menos de uma revo-
lução textual ou industrial (as
duas explicações tradicionais) do
que de uma mudança na forma de
recepção de um público cada vez mais ativa-
mente manipulado pela indústria. E esse 67 de
Aparelho Edison fato, o aspecto da exploração cinematográfica que
Standard Model "A”, continua a ser o mais difícil de captar: o som no
de 1891, que somente cinema mudo.
reproduzia o som. Tocava
cilindros de 2 minutos de
duração, com corda suficiente
para 6 minutos. Soluções Industriais
.......................-.................
Cada ramo da história tradicional permanece um homogêneo:
faz a história da indústria, outro a história dos textos, um terceiro
a história da recepção dos textos. Esta história de vertentes
particulares (fílíêres) será aqui substituída por uma história de
interfaces/transições (passerelks)7 já que o efeito primordial de
uma causa industrial não é obrigatoriamente ele mesmo industrial.
Para compreender os dilemas da nascente indústria cinematof
'
gráíica, por exemplo, o historiador se vê constantemente obrigado
a tomar emprestada uma passagem/interface (passarelle), deixando
* Esse texto
foipublicado originalmente em Rem Clnemathêqne 6, de lado a organização industrial em prol dos textos, de sua
autavnne 1994, Paris, Éditions Yellow Now, pp. 987111. exploração ou recepção. Isto porque toda solução em uma área

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|_...
aquelas criadas sob a direção de Thomas outros. Nesta mesma época surge o distri-
engendra problemas em uma área vizinha.
Tomemos como exemplo a industria Ince nos anos 102. buidor independente que se encarrega
lização do cinema. Antes de 1900, o cinema Sigamos preferencialmente as inter- muito mais de fazer circular os; filmes, do
ainda é artesanal, cada produto é fabri— faces (passerelles),com sua lógica comple- que de produzi—los ou exibi—los. E assim que
cado sob medida para situações determi— tamente distinta. Ao invés de procurar os por um longo período, que corresponde em
nadas. Mas alguns compreenderam que o efeitos industriais de uma causa industrial grande parte à duração do' Trust (1907-
cinema poderia aumentar sua produção (o que supõe que a indústria evolui de 1912) e portanto à época do nllckekdeon,
numa escala que o artesão jamais conhe— forma autônoma), tentemos compreender os produtores, não cumprindo o papel de
cera. Lispirando-seno fonógrafo,o cinema os efeitos mais amplos desta industria- distribuidores nem de exibidores,'são
nos seus primórdios seguiu a lógica conser— lização. Quais são os aspectos da prática , isolados do restante do meio. Será neces-
vadora de ThomasEdison, cujas gravações cinematográfica que são desestabilizados sário aguardar a integração vertical do
sobre cilindros só podiam ser copiadas pela industrialização?Que novoequilin'io pós—guerra para alterar esta situação.
individualmente. Após a virada do século, disso resulta? Esta fragmentação da indústria, con—
e sobretudo o procedimentoprogressista de temporânea ao aumento do número de
Emile Berliner que dominará, cada disco cópias de cada filme, conduz necessaria-
servindo de matriz para a produção de um Problemas Práticos mente a uma fragmentaçãode interesses de
cada corporação do ramo. Enquanto o
número ilimitado de cópias. Uma vez
concluído, um filme pode, em princípio, ser ...............o.-.......-. produtor exibe seus próprios filmes, a
reproduzido quantas vezes se desejar, Para compreender o desequilíbrio produção supõe e sustenta um modo de
sendo que o preço de cada exemplar dimi- ocasionado pela industrialização do Cine exibição já conhecido. Ao mesmo tempo a
nui com o aumento do número de cópias. A ma, convém entender a mudança funda— exibição completa e reforça o projeto já
lóg'ca mestra desta vertente é bem conhe— mental que se opera no estatuto do exibidor posto em prática pelo produtor. Esta

.........-...............-.............................oo....... .........-.
Propaganda enviada o
a
à Oxford Opera House,
à“
*a
9
% Oxford, New York.
: em 191 1.

......o.-..........-...-..........................-...............-
cida: a industrialização de um domínio entre 1900 e 1910. Nos seus primórdios simbiose desaparececompletamentecom 9
artesanal é um alerta significativo para o artesanais, o cinemã não apresenta qual- divórcio entre produtor e exibidor. E
capital, conduzindo a uma luta tradicional quer distinção entre produtor, diretor, exatamentenos primórdios do nickelodeon
para diferenciar, escoar e fazer render seu câmera, montador, distribuidor e exibidoi; que uma produção reduzida, tornada lenta
produto, manter sua parcela de mercado, pois todas essas funções são exercidas por pelos notórios conflitos de direitªs e paten-
lançar novos produtos etc. Qualquer alta uma única companhia, frequentemente tes, exige a ampliação do número de cópias
de investimentos acarreta a multiplicação por'um'únic'o' indivíduo. Como Lyman de cada filme, resolvendo o problema do
de cópias de cada Eline. E em tais circuns— Howe, produtor—exibidor do velho estilo, produtor, mas criando uma situação diiicil
tâncias que surge () nickebdeon, respon— que Elma regularmente cenas locais a lim para o exibidor. Assim, em torno de 1907,
dendo à necessidade capitalista de aumenf de personalizar cada sessão de sua turnê, a imprensa testemunha cotidianamente a
tar a quantidade de exemplares de cada refletindo assim com exatidão as preo- projeção simultânea do'mesmo filme em
filme. Se os primeiros anos de cinema cupações de seu públicoª, Seguindo um diversos cinemas da mesmarua ou bait-reª.
conheceram uma rápida expansão do hábito dos primeiros tempos , Howe org-ani? Desta forma, uma solução para o
número de títulos de filmes, observaase a za um programa diferente para cada ses— produtor (multiplicaro número de cópias)
partir de 1904 um aumento sensível do são, não a partir de Elmes já montados, mas cria um problema para o em'bidor (como
número de cópias de cada títulol. de planos reorgamzáveisà vontade (alguns diferenciar seu produto quando se é Obá—'
A lógica da história das vertentes, deles filmados por sua própria equipe). Na gado a exibir os mesmos filmes que seu
progredindo sempre de forma linear, boa tradição feirante, ele “sente” seu concorrente?) E certo que, para () exibidor
demandaria que esta primeira industria? público e sabe montar seu show em função formado pelo meio feirante ou pelo teatro
lização do cinema fosse considerada como dele. E apenas mais tarde, com () michele— de variedades (o vaudevillej, o espetáculo
um início cujo prolongamento seria o deon, que surge o exibidor no sentido nunca se restringe a estar em cartaz. Como
estabelecimento de cadeias de produção próprio do termo, ou seja, aquele que exibe as dançarinas, os cães amestrados e os
cinematográfica, como, por exemplo, exclusivamente filmes produzidos por cantores cômicos, os filmes devem ser
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elas dominam o que se convencionou difícil a formulação de outras hipóteses ou
cidade, muitos exibidorescompreenderam
o interesse de oferecer um comentário ao chamar de a “indústria” (ou seja, a reações. Este sistema será generalizado
vivo de cada filme (ou ao menos dos filmes produção e a distribuição), mas não durante os anos 10.
de ficção); Retomando a fórmula do mais conseguem mais controlar a recepção A segunda estratégia adotada pe-
conhecido dos conferencistas públicos do dos filmes. la indústria produtora instaura uma
fim do século XIX, John L. Stoddard, que mudança significativa no modo de
magnetizava multidões com suas histórias interpelar os espectadores. O público
de viagens ilustradas com diapositivos, o Dominar & Recepção dos primeiros tempos é pessoalmente
conferencistacinematográficooferece uma interpelado por Howe, o ambulante,
continuidade narrativa, justamente onde
falta continuidade «as imagens. Mas como
.....o..-......
Ao ver desaparecer seu domínio sobre
ou por Blackton, o vaudevillieni
Suas preocupações são respeitadas
as outras abordagens sonoras, o conferen- os espectadores, a indústria produtora e por um artista—exibidor que sabe
cista é uma presença intermitente no obrigada a adotar várias medidas que a produzir apenas o sob—medida; ele
cinema. A maioria deles, como o grande W. longo prazo constituirão a origem do estilo nunca misturará o boxe com a Pas-
Stephen Bush, trabalha somente nas sessões e do sistema que chamamosde “clássico”. sion de Jésus no mesmo programa.
noturnas; outras salas projetam, sem Certamente, não se trata aqui de detalhar Em revanche, em torno de 1910, o
nenhuma explicação, filmes cuja. produção estas medidas, mas sim de sobrevoa—las & espectador será interpelado de forma
previa a presença desse especialista. fim de melhor compreender a topografia mais clássica, ou seja, mais generaf
E compreensível a variedade de do cinema e de sua recepção nos anos 10. lizada, por um exibidor que loca
formas de exibição criadas por essas
diversas possibilidades sonoras. Em
uma sala, a orquestra acompanha de
....................................o...-....
forma cômica o filme de ficção, mas
se abstém durante o documentário,
Reprodução

enquanto no lado oposto da rua a


filha do proprietário alterna seu
repertório completo três árias de
-—

Stephen Foster — em cada filme. Na


mesma rua, as canções ilustradas são
acompanhadas por um pianista pro—
fissional que, esporadicamente, toca
sua partitura durante o filme, Mais
além, um baterista experimenta sua
nova “máquina de ruídos", com o
reforço de buzinas e apitos. Nessas
mesmas salas, na semana seguinte,
encontraremos uma trupe atrás da
tela, um filme com som sincronizado
e, para enfrentar a concorrência, um
conferencista titulado. Para o es-
pectador, toda esta variedade pode
parecer fascinante. Novidades cons-
tantes são sempre uma boa razão para
ir ao cinema, Mas pode-se acreditar
que para os produtores a história era
........-......-.. ......--.
outra. Enquanto a partir de 1908 as Observando a distância, distinguimos filmes completos, embalados, intitu-
companhias do Motion Picture Pa- quatro estratégias principais que visam a lados, não mais produzid'os para um
tents Company gozam de um “quase? retomar o controle da recepção cinema— público específico, mas para um
monopólio" de produção, a diver— tográfica.
*

consumidor médio. A imagem não


sidade de exibição exclui os produ? A primeira consiste em inscrever no mais reflete as preocupações cotidia—
tores de qualquer controle sobre o próprio texto o ponto de vista preconizado nas do espectador, mas os grandes
consumo de seus produtos. pela indústria produtora. Como bem anA conceitos partilhados por todos.
Apesar das diversas tentativas da trou Tom Cunnjng, DWÍGrifÍiihé o grande Esse novo público deverá doravante
produção que visam a assegurarelhes mestre desta técnica, que Gunning chama interessarrse pelo cinema, porque ele
uma exibição específica, os produf de “sistema do narrador", porque esta lhe mostra algo realista, verossímil,
tores A que, lembremos, não são mais abordagemsupõea presença em cada filme natural ou tocante, e não mais porque
produtores-exibidores 7 encontramrse de um narrador que seria “uma espécie de ele lhes oferece o reflexo de sua
impossibilitados de prever a recepção conferencista fílmico interiorizadom. própria especificidade. Ele não se
que seus filmes terão. Tendo decidido Para Gunning, a colocação do narrador projetará em uma imagem de sua
multiplicar o número de cópias de em imagens deu—se em três planos distintos: cidade ou de seus compatriotas, mas
cada filme, investindo fortemente na a organização do espaço pró—filmico, o sim na de uma vedete que servirá de
produção em detrimento da exibição, enquadramento e a montagem,que servem sósia tanto a uma dona de casa de
as companhias produtoras enconf a reduzir o campo das reações potenciais Albany, quanto ao operário de De-
tramAse em uma posição paradoxal. do espectador. Oferecendo & todo momento troit, a aposentada de Charleston e
Mais do que nunca, através do MPPC, uma leitura preferencial, a imagem torna ao agricultor de Iowa. Ele deixará
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44 í
)
de encontrar o reflexo de suas preo— Ela consiste em intervir diretamente as estratégias de recepção já inscritas nos
cupações na imagem de suas próprias no domínio da exibição, a fim de filmes por seus criadores. Rapidamente
atividades, para encontra-lo em influenciar e padronizar a prática seguida por diversos ou ros produtores,
histórias aparentadas a um gênero dos exibidores, sobretudo no que se entre os quais Vitagraph e Pathé, e apesar
como o western que ele aprendeu a refere a prática sonora. de uma primeira reação extremamente
aceitar, apesar de' todas as inve- positiva, a iniciativa da Edison cessou em
rossimilhanças. E assim que em al- junho de 1910. A acreditar-se nas cartas
guns anos o cinema chamado “primi— A Campanha publicadas na imprensa corporativa, tais
tivo” passará a se chamar “clás- indicações musicais não eram suficientes
sico”. para alterar as práticas de exibição, pois
A terceira estratégia tardará
Por meio de uma
para Padronizar () Som os pianistas nem sempre estavam à altura
da música sugerida. Para aumentar a
mais a firmar—se.
campanha metatextual, a indústria ............
Para enfrentar
'......- utilidade dessas propostas musicais“ deve—
se, portanto, educar os exibidores e seus
produtora procurará predispor () a variedade de exibi—
espectador a uma recepção precisa. ção, com seus efeitos nefastos (do ponto de músicos. E o que uma segunda série de
Em menos de dez anos ela passa das vista dos produtores), os produtores mone iniciativas encarrega-se de fazer a partir
conferências impressas, distribuídas taram uma verdadeira campanha para de 1910. Decepcionadoscom os resultados
de suas sugestões musicais (e mesmo com
por certos estúdios com fins tanto homogeneizar a exibição e, através dela,
publicitários quanto informativos, a recepção de seus filmes. De certa forma, as partituras que acompanham as super-
trata-se aqui do inicio da integração produções e os filmes de ópera), Pathé e
...........................
Cena do filme " !rovatore,
vertical, os produtores tendo, Enalmente,
compreendido o que foi perdido por causa
Vitagraph inauguram em outubro de 1910
uma rubrica musical em sua própria
da expansão e especialização industriais revista, The Film Index. Intitulados
da Pathé, em anúncio sobretudo, e, da fragmentaçãoda indústria Playing the Pictures (“O acompanhamento
publicado no New York cinematográfica em três indústrias dístinf de filmes” / ou “Tocando Ehnes"), estes
Dramatic Mirror artigos são escritos por um certo Clyde
de 4 de Janeiro de 1911, , tas e, frequentemente, concorrentes: pro—
cuia legenda prometia: dução, distribuição e exibição. Nos pri? Martin, pianista do Teatro Dodge da peque—
“a ser lançªdo brevemente mórdios do nickelocleon, a imprensa corpo— na cidade de Keokuk, no Iowa, destinado a
com a música da ópera, rativista regurgita artigos e cartas enfati- tornarAse o grande manitou do acompaf
especialmente arraniada zando os erros dos exibidores e, sobretudo, nhamento sonoro do cinema mudo. Logo a
para corresponder cena dos músicos. Pois na época os produtores série semanal de Martin sofre a concnrA
por cena à ação". acreditavam ainda que seu único produto rência da Moving Picture World com a
se restringia às imagens. Em 1907, eles rubrica de ClarenceE.Sinn Musicfor the
vendem imagens aos distribuidores, que as Picture (“música para cinema”), que
locam aos exibidores, que em seguida as também se dedica a definir a boa prática
mostram ao público. E por isso que as do acompanhamento musical. A partir do
estimativas de filmes na época do nickelo— mês de setembro de 1911, tratarsse—á
dean são feitas quase sempre a partir das igualmente da prática correta dos efeitos
projeções mudas7 a exibição sonora do sonoros, visto que é a partir desta data que
filme sendo ainda considerada como algo Moving Picture World contrata Martin
à parte. Dez anos mais tarde, ao contrário, para uma segunda rubrica semanal7 Wor-
a indústria cinematográfica terá redeiinido king the Sound Effects (Trabalhando os
inteiramente seu papel e remanejado as efeitos sonoros e o bom uso dos efeitos
............ ..... estruturas que a sustentam. Provedora de
experiências, e não só de imagens,a indús—
sonoros"). Alguns anos mais tarde, será a
vez de o prestigiado New York Dramatic
aos pressbooks destinados a guiar tria passa a compreender a necessidade de Mirror inaugurar uma rubrica especia-
não apenas a publicidade garantida dirigir de perto a recepção de seus produ— lizada em música para EÍmes, redigida por
pelos exibidores, mas também a es— tos. A indústria produtora torna—se assim Montiville Morris Hansford.
colha e as reações do espectador a indústria do cinema, englobando as Pouco a pouco esses aru'gos definem
médio. No início, são simples resu— funções (e as principais companhias) de claramente uma série de práticas musicais
mos dos filmes a serem distribuídos; distribuição e exibição. E em 1909 que este e sonoras, algumas apresentadas como a
logo chegam os cartazes de dimen— movimento em direção à integração verti- opinião profissional de seus autores, mas
sões diversas, os artigos para jornais cal deslancha, devido não à aquisição de evidentementepredeterminadas pelo inte;
(sobre o filme, sua filmagem, as ve- outros filmes ou de salas, mas a uma simples resse geral dos produtores. Em suas linhas
detes), os spots para rádio e mesmo tentativa de normatizar a exibição. Inicial gerais, a abordagem defendida por Martin
jogos a serem patrocinados. Se, antes mente mal dirigida e carecendo de unidade, e Sinn, assim como muitos editoriais nas
de 1910, o espectador mal sabe o que esta campanha, composta por três séries de revistas corporativas do início da década,
verá no cinema, em 1920 ele não iniciativas por parte dos produtores, oferece uma dezena de pontos funda—
entrará em uma sala sem saber o que começa a atingir seus objetivos no início mentais.
deve pensar, que atores verá, quais dos anos 10. 1, Deve-se retirar o piano automático
foram seus últimos filmes, em que No mês de setembro de 1909, a revista da entrada, pois ele faz concorrência com
história está atuando agora, o que da empresa Edison, Kinetogram, começa o acompanhamento do filme, »

todos estão comentando etc. a publicar sugestões de músicas para 2. O piano não automático (seguido do
quarta estratégia refere—se
Uma acompanhar os filmes por ela produzidos. órgão) é o único instrumento capaz de
mais precisamente ao nosso tema. É evidente que a empresa busca reforçar seguir o filme convenientemente, ofere-
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cendo um acompanhamento aceitável. esconder a música, enquanto que muitos Orgulhosos de seus esforços jornalís-
3. É essencial que o filme seja acom— músicos da época anterior - fosse por ticos, mas decepcionados pela neglif
panhado do inicio ao fim por uma música inaptidão ou virtuosismo — rivalizavam gência, principalmente nas pequenas
apropriada. com o Hime. Ele preconiza o uso contínuo salas, de suas sugestões musicais ou
4. Deve—se evitar, terminantemente, da música, contrariamente à tradição do pela má aplicação das recomenda-
qualquer estilo musical demasiadopopular melodrama, em que as cenas de diálogo ções de Martin e Sinn alguns deles
(principalmente o ragtime) que possa alternam com o espetáculo acompanhado recorreram simplesmente a demons—
concorrer com a imagem. ,,
de música. Martin prefere o piano7 apesar trações em tamanho natural (ao vi;
5. A música clássica ligeira e a música de aceitar as pequenas orquestras; insiste vo). É assim que, a partir de abril de
folclórica são mais indicadas que a música em uma música subordinada ao filme, 1911, Selig Polyscope envia Clyde
popular, pois esta atrai um mau público; alertando que as orquestras sem formação Martin em missão às pequenas cida—
ademais seus efeitos perdem-se face a um cinematográficaseriam incapazes de pas- des de meio—oeste. Mudando de cida—
público que não conheça suas letras. sar rapidamente do meio de uma partitura de a cada dois dias, Martin assegura
6. Os efeitos sonoros devem ser poucos ao início da outra, como seu sistema re— o acompanhamento em dezenas de
e bem escolhidos; a continuidade sonora quer. É certo que o cinema mudo se tornará salas, sempre para uma platéia aten-
deve vir da música, e não dos efeitos. após a guerra um bom filão para as orques— ta de acompanhantes da região. E a
7. Na escolha dos ruídos deve-se evitar tras, mas antes disso foi preciso esperar a partir desses esforços que surge uma
o óbvio, como fazer soar um sino cada vez construção de cinemas maiores a partir de nova geração de sugestões musicais,
que uma vaca aparece, dando—se prefe-
rência aos efeitos que ilustrem diretamente
a narrativa“.
-...-...-......................................o.....-. ,
partir de 1908 o
A
8. Cada trecho musical deve fundir-se sistema de som sincronizado Reprodução

no trecho seguinte, de modo a criar uma Cameraphone começa a


impressão de continuidade e homoge— entrar no mercado.
neidade. Anúncio publicado em Tl Bum ui Hmm
9. Convém dissimular o máximo pos— New York Dramatic Mirror,
sível cada mudança de música.
10. Mais do que acompanhar os deta—
12 de Dezembro de 1908. VIIIBEVlllE
"um
lhes do filme, a música deve permanecer
“em contato com o herói ou atração
principal do Hime? .

Esta última noção vai ao encontro do


programa defendido por Martin e seus
colegas engajados ou influenciados pelos
produtores. Artigo após artigo7 insiste-se
na importância de que o músico, empre— nv
gado do produtor, faça uma boa leitura do , nur; Mall—«uu
maus:
um: «::-mm ... ... "Ik—nha.-
filme, interpretandofo segundo o ponto de
vista do narrador do filme, e não a luz de
sua própria experiência. A linguagem WEWHBIE NIH"
destes especialistas da música para cinema ._.. um Mx um
unw—
não é nem um pouco teórica, mas a meu—
sagem é perfeitamente clara: fundamen-
tada sobre uma leitura autorizada das
imagens do filme, a música e os ruídos
devem ser um prolongamento do trabalho
de produção. Inserindo-se entre as ªªdo-
................-..- ...-.....
bras" do Eline, () acompanhamentosonoro 1913, a melhora das sugestões musicais ao distribuidas desta vez sob a forma de
torna-se assim parte integrante da produ- longo dos anos 10 e, sobretudo, a adoção “condutores” musicais pelos edito-
ção. Seria dificil superestímar a impor dos princípios de Martin pelos compia res de música”. Ora, se a primeira
tância desta assimilação da exibição pela ladores e compositores responsáveis pelo vez que Edison, Pathé (: Vitagraph
produção para uma compreensãogeral da acompanhamentocorreto dos grandes experimentaram as sugestões musi—
história do cinema americano. sucessos de 1915 e 191613. Eniim, o sistema cais fora uma tentativa abertamente
Convém notar a que ponto esta prática defendido a partir de 1910 por Martin e ideológica para influenciar os exibi-
difere das que proliferaram antes de 1910 seus colegas estabelece um novo modelo e dores7 a partir de 1912 esta nova
(e mesmo depois, sobretudo no Oeste e nas novos critérios para acompanhamento de leva de condutores" será exigida
pequenas cidades). A abordagem preconi— filmes“. Estabelecendo uma hierarquia por estes mesmos exibidores agora
zada por Martin e seus colegas exclui todo sonora que reproduz com fidelidade a gulosos por tal alimento.
e qualquer contraponto entre som e ima— hierarquia narrativa subjacente a imagem, Pois com & homogeneização A as-
gem, opondo-sc a uma longa tradição de o novo modelo consegue padronizar'com segurada por Martin e pela campanha
acompanhamentos cômicos para cenas perfeição a exibição em torno dos valores generalizada dos produtores — chef
dramáticas. O sistema de Martin reaíirma e estruturas já privilegiadospela imagem, gam também a hegemonia e a parti-
o primado da narração, inversamente à assegurando assim uma recepção dupla? cipação voluntária dos exibidores e
tradição jocosa do vaudeville, sempre à mente guiada. sua sujeição aos produtores. No
procura do detalhe picante, Martin busca Mas os produtores não param aí. início da época do nickelodeon, o
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