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PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO A quarta etapa é a da unido econdmica ¢ monetéria, em que os membros do bloco regional estabelecem a coordenagio de suas politicas macrocondmicas, partindo, amitide, para politicas econémicas ¢ cambiais unificadas, metas comuns de indicadores macroeconémicos, uma sé moeda eum banco central tinico, Eo atual estdgio da Unido Europeia. A quinca ¢ tiltima fase € a da unio politica, na qual os membros do bloco avangam no sen- tido de estabelecer uma coordenagao de ages no campo politico, Teoricamente, a unio politica pode levar & formacao de uma confederagio ou mesmo A unificacao dos membros do mecanismo integracionista. Na pritica. porém, observa-se que os blocos regionais j4 vém apenas aplicando alguns elementos de unio politica, como a coordenacao de politicas externas, de defesa e de seguranga, independentemente da etapa em que se encontrem. Bregalda indica ainda uma fase adicional, anterior 8 zona de livre comércio, que é a da “zona de preferéncia tariféria” (ZP), etapa incipience de integragéo, em que os Estados adotam tarifas preferenciais no comércio uns com os outros’. Quadro 1. Estagios da integracao regional ESTAGIO CARACTERISTICAS > Liberalizagao da circulagao de bens dentro do > Area/Zona de livre comércio bloco regional > Regras comuns para as importacdes oriundas “ nboadianetre de Estados de fora do bloco > Mercado comum > Livre circulagdo dos fatores de produgéo > Unido econdmica e monetéria + Politicas macroeconémicas e moeda comuns > Unido politica > Coordenacaa de agdes no campo politico 1.3 Direito da Integragio Diante do fendmeno da integracio regional, emerge 0 Direito da Integragao, novo ramo do Direito Incernacional, que visa a regular o funcionamento dos blocos regionais. Como ramo do Diteivo das Gentes, 0 Direito da Integracéo compartiha todas as caracte- risticas comuns ao Direito Internacional em geral, como a necessidade de incorporagio de suas normas ao ordenamento interno ca possibilidade de que seus preccitos nao sc apliquem quando em conflito com as normas do Direito nacional. Entretanto, como jé antecipamos, 0 Direito da Integracio no se confunde com 0 Direito Comunitério, como veremos a seguir. 2. DIREITO COMUNITARIO Iniciamos agora o exame do Direito Comunitdrio, ramo relativamente novo da Ciéncia Juridica, que ainda carece de maior esclarccimento por parte da doutrina ¢ cujo desenvolvimento deve ser acompanhado atentamente pelos interessados. Alm disso, ainda hd certa confuséo no que conceme ao real escopo do Dircito Comunitédrio, exigindo um esforco de definigao precisa das nogSes que lhe sio pertinentes. 7, BREGALDA, Gustavo. Direito internacional puibico € direita internacional privado, p. 121 1002 NOCOES DE DIREITO DA INTEGRAGAO E DE DIREITO COMUNITARIO 2.1 Conceito O Direito Comunitério é 0 ramo do Direita que regula mecanismos de integracéo regional que atingiram um estdgio de desenvolvimento mais aprofundado e que é criado nao sé pelos Estados, mas também pelos érgios do bloco regional, sendo ainda marcado pela aplicabilidade imediata dentro dos entes estatais e pela superioridade hierérquica em relagao ao Direito interno dos Estados. O aparecimento do Direito Comunititio é vinculado diretamente a integragao europeia, que criou um universo distinto dos Ambitos internos dos ences estatais ¢ do contexto internacional clissico: 0 universo comunitério, que funciona como um Estado acima dos Estados ¢ cujas insti- tuigdes operam de modo semelhante a um organismo internacional. Entretanto, ao contririo do que normalmente ocorre nas organizagoes internacionais, as érgaos comunitérios retinem ampla capacidade de fazer valer suas determinacées frente aos Estados-membros. Além disso, 0 objetivo do universo comunitirio relaciona-se com o desenvolvimento de uma associagio de Estados que, em nome de interesses comuns, abrem mio de importante parcela de sua soberania, O Direito Comunitario caracteriza-se por estar associado 4 supranacionalidade, ou seja, 4 existéncia de entidades que se encontram em posicéo de primazia frente aos Estados soberanos, pelo menos em certos aspectos, ¢ de normas que prevalecem frente as normas internas dos orde- namentos eseatais, Fa supranacionalidade modelo avangado de flexibilizagio da soberania estatal, por meio do qual os Estados delegam certas competéncias soberanas a drgios ¢ instituicées supranacionais, que contam com poderes para aplicar suas decisées sobre os entes estatais, os quais, por sua vez, obrigam-se a respeitar as determinagdes emanadas daqueles* ‘A supranacionalidade implica a existéncia de uma “espécie de soberania compartilhada” ou da chamada “governanga multinivel”, em que os Estados “delegam parcelas de suas competéncias (© aptas a conduzir estatais internas para screm exercidas por instituig6es supranacionais, que s os interesses do bloco””. ‘Acé agora, o tinico espaco onde existe a supranacionalidade ¢ a Unio Europeia, embora seja desde logo necessério ressaltar que nem todos os drgios do bloco europeu nem todo o direito da Unido Europcia sejam supranacionais. © Direito Comunicario é auténomo em relagao aos ordenamentos estatais, A autonomia é vista como forma de efetivamente vincular os Estados e limitar sua soberania em nome dos interesses da comunidade que formaram. E também uma maneira de permitir que as normas comunitirias sejam aplicadas uniformemente em todo 0 espaco comunit4rio, evitando que sejam desvirtuadas segundo a interpretagao que Lhes seja conferida por cada Estado-membro.'° 8, Para um exame datide do concelto de supranacionalidade: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza. Direito da integracdo, direito comunitério, Mercosul e Unido Europeia, p. 149-152. 9, MACHADO, Diego Pereira; DEL’OLMO, Florisbal de Souza. Direito da integracao, direito comunitério, Mercasul e Unido Europeia, p. 151, 10, Nesse sentido: BORCHARDT, Klaus-Dieter. 0 abe do direito comunitdrio, p. 94-95. 1003 PARTE Y ~ DIREITO COMUNITARID © Diteito Comunitétio pode scr dirctamente aplicado dentro dos Estados, independente- mente de qualquer processo de incorporacio adicional, como os referentes aos tratados do Direito das Gentes clissico ‘Ao contritio do Direito Internacional tradicional, o Direito Comunitdrio sempre terd pri- mazia em relacdo ao Direito Interno. O Direito Comunitdrio néo é um mero conjunto de acordos entre os Estados nem um simples apéndice das ordens juridicas nacionais."" Decerto que parte da ordem comunitéria é composta por tratados celebrados pelos entes estatais. Entretanto, o ordenamento comunitério também é formado por deliberagdes de outros érgi0s, ctiados pelos Estados, mas autnomos em relacéo a todo ¢ qualquer ente estatal. Com isso, podemos afirmar que o Direito Comunititio é um sistema criado pelos Estados, mas que se torna independente destes. E comum que o Direito Comunitdrio seja tratado como 0 ramo do Direito que regula qual- quer processo de integracio, o que nio confere com a realidade, visto que virios aspectos que caracterizam uma ordem jurfdica comunitéria, como a supranacionalidade, nao esto presentes SUL, a NAFTA ete. em outros blocos regionais, como o MER Na realidade, 0 Direito Comunitario existe — até agora — apenas na Unido Europea (UE), Gnico modelo integracionista do mundo cujo ordenamento jutidico incorpora as caracteristicas desse ramo do Direito. Dessa forma, 0 otdenamento juridico do MERCOSUL nao é, tecnica- mente, Direito Comunititio. Em todo caso, nao é incomum que 0 ordenamento que regula o MERCOSUL seja também considerado como parte do Direito Comunitério por parcela da doutrina. 1 ATENGAO: por prud€ncia, recomendamos que os candlidatos a concursos puiblicos em que éexigido conhecimento em Direito Comunitério estudem no sé a Unio Europeia, mas também o MERCO- | SUL e 0 Direito da Integraclo em geral ! 2.2 Fontes © Direito Comunitério compartilha com 0 Direito Internacional ckissico todas as suas fontes, comegando pelos tratados ¢ incluindo outras modalidades normativas, como a juris- prudéncia dos érgios comunitérios, a doutrina, os principios gerais do Direito e os principios gerais do Direito Comunitario, Entretanto, inelui ainda outras formas de manifestagao da norma juridica, emanadas dos érgéos aurénomos que também retinem competéncia para elaborar os preceitos comunitirios, Em vista dessa especificidade, a doutrina divide as fontes do ordenamento comunitério em dois tipos: Direito Comunitério Origindrio e Direito Comunitério Derivado."? © Direito Comunitario Originario abrange os tratados constitutivos da ordem comunitatia € 0 atos posteriormente firmados pelos Estados e é, portanto, fruto do esforco negociador dos 11, BORCHARDT, Klaus-Dieter. O abc do direita comunitério, p. 94 12. DELL'OLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional publico, p. 315-318. PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de aireito internacional publica, p. 159-160. 1004 NOCDES DE DIREITO DA INTEGRAGAO E DE DIREITO COMUNITARIO entes estatais que integram 0 bloco regional. Ja 0 Direito Comunitario Derivada é composto pelos atos juridicos adotados pelas instituigdes comunitarias no exercicio de suas fungSes. Compée-se, por exemplo, de regulamentos, diretivas, decisées, recomendagées, pareceres etc. Cabe destacar que o Direito Comunitirio Derivado s6 pode ser elaborado dentro do quadro estabelecido pelas normas do Direito Comunitario Originario. 2.3 Principios Como todo ramo do fendmeno juridico, 0 Dircito Comunitirio guia-se por determinados principios, Dentre as principais premissas da ordem jurfdica comunidria elencadas pela doutrina apon- tamos: a substituicao, pelo qual a norma comunitaria pode ocupar completamente o lugar do Direito interno em assuntos de exclusiva competéncia dos érgios comunititios; a coordenacio, pela qual o Dircito Comunititio influencia o desenvolvimento do Direito interno; ¢ a coexistén- cia, segundo 0 qual o Direito Comunitatio ¢ o Direito interno podem regular 0 mesmo objeto quando o tema se referir & comperéncia concorrente entre o bloco regional ¢ os Estados ou quando 0 érgao competente para legislar nao © fizer ou nio legislar a contento. Hé também outros principios, aos quais a doutrina confere destaque ainda maior ¢ que sera0, objeto de andlise mais detida a seguir. 2.3.1 Princtpio da integracio O principio da integracio, para Aguillar, é aquele segundo 0 qual “em matérias especificas, os Estados se curvam a competéncia deciséria do érgio comunitirio”.” E o preceito que permite que as politicas promovidas pelos Estados-membros de um bloco regional scjam articuladas de forma a funcionar harmonicamente, sem o que poderia haver prejutzos a outros Estados-membros do mecanismo integracionista. 2.3.2 Aplicabilidade direta (imediata) e efeito direto Borchardt define 0 princfpio da aplicabilidade direta como o preceito que implica que 0 Direito Comunitatio confére direitos ¢ cria obrigagdes nao sé para os Estados ¢ as instituigées comunititias, mas também dirctamente para os préprios cidadaos."* Para Aguilar, é“a capacidade de uma norma de direito comunicério ser aplicada em processos nacionais”. O princ{pio da aplicabilidade direva, ou imediata, refere-se, portanto, & possibilidade de que as normas comunitarias criem dircitos c obrigages para todas as pessoas naturais e juridicas dentro do bloco e sejam por estas invocadas diretamente no Ambito interno dos Estados, inclusive perante 03 respectivos Juidicisrios nacionais, sem necessidade de qualquer outro proceso adicional. Refere-se, dese modo, possibilidade de aplicac3o imediata das normas comunitérias dentro de cada Estado. Na Unido Europeia, as normas dos tratados comunitérios so diretamente apliciveis, desde que sejam formuladas sem reservas, que sejam precisas e que ndo necessivem de qualquer agio adicional dos Estados-membros ou das instituiges comunitérias para que thes seja conferida a devida eficdcia. 13, AGUILLAR, Fernando Herren. Direito econémico: do direito nacional ao direito supranacional, p. 384. 14. BORCHARDT, Klaus-Dieter. O abc do direito comunitério, p. 97. 15. AGUILLAR, Fernando Herren, Direito econémico: do direito nacional ao direito supranacional, p. 384. 1005 PARTE IY ~ DIFEITO COMUNITARIO Aguillar diferencia a aplicabilidade direta do efeito direto, afirmando que a aplicabilidade direta implicaria, na realidade, que uma norma “nao requer nenhuma medida nacional para que ‘© ato tenha forga obrigatéria no pafs-membro”"*. ‘Também o STF, em julgado sobre a aplicagio de tratado celebrado no ambito do MERCO- SUL, diferencia o efeito direro da aplicabilidade diteta. Para 0 Pret6rio Excelso, o efeito direivo refere-se a0 fato de as normas comunitérias poderem ser invocadas desde logo pelos particulates, podendo repercutir imediatamente na vida de pessoas naturais ¢ juridicas, Jé a aplicabilidade direta trata da pessibilidade de as normas comunitérias serem aplicadas no Ambito interno sem necessidade de processo de incorporagio adicional, O STE lembra, ainda, que nenhum dos dois princfpios se acha consagrado na Constituigao Federal.” ATENCAO: com isso, os tratados do MERCOSUL deverdo ser submetidos ao mesmo processo de 1 incorporagao dos demais tratados ao ordenamento interno brasileiro e, portanto, pertencem ao 1 1 Direito Internacional classico, nfo podendo suas normas ser tecnicamente classificadas como de! 1 Direito Comunitario. 2.3.3 Primazia O Direito Comunitario tem primazia frente ao Dircito interno. Nesse sentido, sua sempre devem prevalecer quando em conflito com as normas nacionais, ao contririo do Direito Internacional clissico, dentro do qual tal primado depende das regras referentes & forma pela qual os Estados incorporam os tratados 3s respectivas ordens internas. Cabe destacar que © Direito Comuniticio prevalece sobre todas as normas, ainda que mais novas ou mais especiais, e estd acima das proprias normas constitucionais dos Estados-membros do bloco regional. Cabe destacar que a primazia do Direito Comunitario nao é automética ¢ depende, funda- mentalmente, de as normas comunitérias serem aceitas previamente pelos Estados, 0 que ocorte verso comunitério."* A partir dai, 0 primado do Dircito Comu- ir os objetivos da comunidade de Estados, quando estes se vinculam ao un nitério é natural. Do contraio, nao seria posstvel atin; O cardter de primazia do Direito Comunitirio impée também a obrigagao de os Estados cooperarem com o mecanismo integracionista. Por fim, a nogao de primazia nao exclui a comperéncia dos Estados para que decidam como aplicario 0 Direito Comuniririo, desde que cuidem de execurar suas normas, promovendo, assim, 08 objetivos do bloco regional. 2.3.4 Aplicagao uniforme e harmonizagéo © Direito Comunitério deve ser aplicado uniformemente em todos os Estados que estejam sob sua égide, ¢ os ordenamentos internos dos entes estatais devem se conformar a suas normas, sem 0 que essa aplicacao deixar de ser harménica. 16. AGUILLAR, Fernando Herren. Direito econémico: do dircito nacional 20 direito supranacional., p. 385-386, 17, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Tribunal Pleno, CR-AgR 8.279/AT. Relator: Min. Celso de Mello. Brasilia, DF, 17,jun.38, Di de 10.08.00, p.6. 18, Nesse sentido: BORCHARDT, Klaus-Dieter. 0 abc do direito comunitdrio, p. 94-95. 1006 NOGOES DE DIREITO DA INTEGRAGAO E DE DIREITO COMUNITARIO Entendemos que esse preceito pode se referir também ao principio da harmonizacao, men- cionado por Yepes Pereira, pelo qual se admite a coexisténcia do Diteito interno com 0 Direito Comunitério, desde que compativel com este". Na Unido Europeia, a aplicagéo uniforme ¢ promovida pelo instrument do renvoi préjudiciel (reenvio prejudicial), pelo qual as cortes nacionais devem submeter ao Tribunal de Justiga europeu conflitos quanto a aplicacao da legislagao comunitétia. Cabe destacar que a interpretagao das normas comunitarias deve ser feita & luz das exigéncias do Direito Comunitirio e dos objetivos da comunidade que este regula.” 2.3.5 Subsidiaviedade O principio da subsidiariedade implica que os érgaos comunitérios s6 intervirio nas Areas que nao sejam de sua competéncia exclusiva quando uma situagéo possa repercutir no plano comunitirio ou fora do Estado onde ocorra ou, ainda, quando os 6rga0s comunitarios possam agit melhor que os érgiios estatais. Quadro 2. Informagées bésicas acerca do Direito Comunitario CARACTERISTICAS FONTES PRINCIPIOS > Regula mecanismos de in- | + Direito Comunitério Origi- | ~ Integracso tegracdo que atingiram es-| nario: tratados e outros atos | Aplicabilidade direta e efeito tdgio de desenvolvimento | — celebrados pelos Estados direto mais aprofundado Direito Comunitério Deriva- | > primaria do: atos juridicos adotados pelas instituig6es comunita- ° monizagao rigs, como regulamentas, di- retivas, decisées, recomen- | > Subsidiariedade > Aplicabilidade diretaeefeito | dagdes, pareceres etc. > Substituicéo direto dentro dos Estados, 5 > Coordenacio sem os tradicionais proces- ° 50s de incorporacdo ao Di- ‘> Coexisténcia relto interno > Normas criadas no sé pelos Estados, mas também pelos 6rgaos comunitérios + Aplicaco. uniforme e har- + Superioridade — hierérquica em relacao ao Direito nacio- nal dos Estados + Associado 20 fendmeno da supranacionalidade % Autonomia em relag3o aos ordenamentos estatais, > Atualmente, existe apenas na Unido Europela 19, PEREIRA, Bruno Yepes. Curso de direito internacional publico, p. 261. 20. BORCHARDT, Kiaus-Dieter. 0 cbc do direito comunitario, p. 94. 1007 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO. 3, DIFERENGAS ENTRE O DIREITO COMUNITARIO E O DIREITO DA INTEGRAGAO O Direito Comunitirio apresenta, portanto, algumas diferengas em relago ao Direito da Integracao, que € um ramo do Direito Internacional classico. Como vimos, 0 Direito da Integragio nao se impée automaticamente sobre 0 Direito in- terno, ¢ os érgios integracionistas nao tém ascendéncia sobre os érgéos nacionais. Jé o Direito Comunitirio é sempre superior a0 Direito interno, e os érgios comunitétios tém poderes para aplicar suas decisdes ainda que contra a vontade dos Estados. © Direito Comunitério ¢, portanto, supranacional; 0 da Integragao, nao. O Direito Comunitério tem aplicagéo direta ¢ imediata no ambito interno dos Estados. © Direito da Integracdo, por sua vez, como ramo do Direito das Gentes tradicional, envolve os mesmios procedimentos de incorporacio exigidos aos tratados comuns, que incluem, por excmplo, no caso do Brasil, a promulgacao por meio de decreto presidencial. Na hicrarquia do ordenamento juridico, o Direito Comunitério ocupa posigao de primaria frente ao Direito interno. Ja as normas do Direito da Integragdo podem ou nao prevalecer diante dos preceitos da ordem juridica nacional, nos termos das normas internas que determinem a hierarquia do Direito Internacional dentro do ordenamento nacional ¢ que regulem sua aplicagao. Em vista de todo 0 exposto, podemos desde jé salientar que 0 Direito do MERCOSUL é Dircito da Integrasao, nao Direito Comunitério, e se encontra submetido &s mesmas condig6es do Direito Internacional cléssico, a0 passo que o Ginico mecanismo de integragio regional onde se encontram todas as caracteristicas do Direito Comunitério é a Unio Furopeia Quadro 3. Direito Comunitirio X Direito da Integragao DIREITO COMUNITARIO DIREITO DA INTEGRACAO + Nova modalidade do fenémeno juridico no : ; Direito Internacional classico campo internacional > 0 Direito Comunitario tem primazia frente ao | > 0 Direito da Integraco pode ou nao ter prima- Direito interno tia frente a0 Direito interno > 0 Direito Comunitario é supranacional + 0 Direito da Integrac3o nfo é supranacional + 0 Direito da Integracéo deve ser incorporado > 0 Direito Comunitério tem aplica¢ao imediata | ao Direito interno por meio dos procedimentos e efeito direto no Ambito interno empregados para a incorporac3o de qualquer tipo de norma internacional 4, QUESTOES {PGFN - 2004) Os modelos de integracdo regional que se registram, a exemplo da Unido Eurapéia, do Mercosul, do NAFTA, entre outros, passam por processos que podem se manifestar evolutivamente em zonas de livre comércio, unides aduaneiras, mercados camuns, unides econdmicas e unides to- tais, econdmicas e politicas. Em relacao 8s unides aduaneiras € correto afirmar que: a) se tratam das formas mais antigas e simples de integracao econdmica, prevendo apenas a completa eliminacao de obstdculos tariférios entre os Estados participantes. 1008 NOGOES DE DIREITO DA INTEGRAGAO E DE DIREITO COMUNITARIO b) setratam de modelos que permitem a livre circulacao de fatores e de servicos nos Estados-membros, isto é, a liberaciio de bens, capitais, servicos e pessoas, com a eliminacdo de toda forma de discrimi- ago. ©) se tratam de regimes de coopera¢3o sofisticados e bem elaborados, no qual hé a coordenagao e uni- ficacdo das economias nacionais dos Estados-membros. d) se tratam de regimes nas quais so introduzidas harmonizagdes de determinadas politicas comuns, em assuntos agricolas, ambientais ¢ industriais, com especial enfoque no campo macroecondmico. e) se tratam de regimes nos quais os Estados-membros adotam um sistema de tarifas aduaneiras co- muns frente a terceiros paises, podendo-se verificar uma tarifa exterior comum para as importagées procedentes. 2, (SENADO FEDERAL ~ ADVOGADO — 2008) Entende-se por Mercado Comum um tipo de integragao regional caracterizado por: a) eliminagSo das barreiras comerciais tarifarias e ndo-tarifarias e harmonizacao das politicas comer- ciais, socials e regulatérias dos paises membros, b) eliminagao das barreiras comerciais tarifarias e n3o-tariférias. ©) eliminaco das barreiras comerciais tarifarias e ndo-tarifarias, harmonizagdo das politicas comerciais, sociais e regulatdrias dos paises membros mais 0 estabelecimento de moeda comum. d) negaciagdes de reducées tarifdrias com o intuito de fomentar o intercambio de setores da economia entre as paises signatarios. e) ctlagdo de area livre de tributos e encargos de todas as naturezas. 3, (OAB—DF -2005.2—ADAPTADA) Julgue o seguinte item, marcando “certo” ou “errado”: Os tratados internacionais disciplinadores do MERCOSUL possuem tratamento de incor porago diferenciado das demais avengas internacionais. 4, (TRF 38 Regido - Juiz - 2011 - ADAPTADA) No MERCOSUL, hé direito comunitario, sendo as normas oriundas de drgfios comuns e dispensada a internaliza¢o, conforme as regtas de direito internacio- nal GABARITO ‘Topic espe Fundamentago picos do | eventual observacdo elucidativa oficial capitulo ‘As formas mais antigas ¢ simples de a) Doutrina 12 integragdo econdmica sdo as zonas de livre comércio item é : ») Doutrne 1a | 0 modelo doiter & 0 mercado eo mum ; O regime do Item é a unio econd- ot E 9) Doutrina 12 mica e monetéria Tal regime também & compativel com a unido econémica mas, na pra- @).Oourrina aa tica, pode estar presente em outras fases da integracto e) Dout 12 = 1009 PARTE IV ~ DIREHTO CONUNITARIO Gabarito ‘Tépicos do ne Fundamentacao Eventual observacao eluci oficial : capitulo seo ticisetive a) Doutrina 12 - b) Doutrina 42 Amera eliminacao das barreiras ca. racteriza zona de livre comércio Am iza unido abate 1 joeda comum caracteriza u econémica zy A Trata-se de zona de livre comércio d) Doutrina 12 ou, no maximo, de zona de prefe- réncia tarifaria Trata-se de zona livre de impostos, e) Doutrina 12 conceito alheio a nocao de integra: do regional Os tratados do MERCOSUL perten- cem ao Direito Internacional clas- sico, no ao Direita Comunitario. “ ce isso, im de 3 E Doutrina e jurisprudéncia 2.3.2e3 Gin ssn Se sBenenCR Os principios do efelto direto e da apli- cabilidade imediata e, portanto, ndo possuem tratamento de incorpora- so diferenciado © Direito do MERCOSUL é Direito Internacional classico, nao Direito Comunitério 2.1, 2.3.2 4 | E | Doutrina e jurisprudéncia an 1010 CAPITULO IT PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL 1, INTRODUCAO No capitulo que ora iniciamos, examinaremos brevemente alguns dos principais blocos regionais que atualmente existem no mundo. 2. MERCOSUL © Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é 0 principal mecanismo de integragio regional do qual o Brasil faz parte. Dai a imporeincia de estudi-lo, ainda que de mancira fundamental- mente introdutéria. 2.1 Histérico: ALALC, ALADI e as negociagdes Argentina-Brasil ‘A integracao na América Latina parte de alguns fatores semelhantes aos encontrados na Fu- ropa. Com efeito, a maior parte dos povos latino-americanos compartilha uma heransa histérica e cultural comum e caracteristicas semelhantes. Além disso, 0 avango da democracia contribuiu para superar muitas desconfiancas histéricas e para aumentar a propenso ao didlogo ¢ a cooperacio '4o. Por fim, os povas da regiao também vém demonstrando interesse em preparar melhor ica Latina para enfrentar os desafios da realidade internacional. Um marco inicial no esforgo de integracto da América Latina foi a criagao, em 1960, da Associagio Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), que tinha o objetivo de criar uma zona de livre comércio na regio no prazo de doze anos, 0 que permitiria “a formacao de merca- dos mais abrangentes e dinamicos, que facilitariam 0 processo de substituigo das importagies".! Eneretanto, a ALALC nao atingju suas metas e, em 1980, foi sucedida pela Associagao Latino- -Americana de Integraggo (ALADI), concebida fundamentalmente com o intuito de corrigir as falhas de sua antecessora. A ALADI ainda existe e € sediada em Montevideu. £. regulada pelo Tratado de Montevideu, de 1980 (Decreto no 87.054, de 23/03/1982). Seu principal propdsito € promover o livre comércio 1. AMARALJONIOR, Alberto do. Manual do candidato: Direito Internacional, p. 261, 1011 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO na América Latina, mas sem estabelecer um prazo para a criagio de uma zona de livre comércio. Desse modo, a ALADI visa apenas a estabelecer, inicialmente, preferéncias no comércio entre os paises latino-americanos. Paralelamente, outros projetos de integragio regional iniciaram-se na regiéo, como 0 Pacto Andino, hoje Comunidade Andina de Nagdes (CAN), fundado em 1969. Tanto a ALALC como a ALADI marcam aquilo que Rubens AntOnio Machado, citado por Carlos Roberto Husek,? chama de “fase romantica” da integracio, caracterizada especialmente pela retdrica c pelas dificuldades concretas de realizar a integragio, num contexto histérico em que a maioria dos Estados latino-americanos seguia politicas nacionalistas ¢ mantinham economias pouco abertas para os mercados internacionais. Além disso, a época era marcada pela énfase das politicas externas dos Estados latino-a- mericanos nas relagGes com parceiros como os EUA e a Europa. Com efcito, a maioria dos paises da América Latina estava “de costas” uns para os outros, do que é exemplo a retérica da polftica externa venezuelana a partir do final do século XX, que passou a cnfatizar a nogio de mirar hacia ef Sur “olhar para o Sul”), fazendo com que a Venezuela superasse a fase em que os EUA cram a prioridade absoluta nas relagbes internacionais daquele pais e passasse a atribuir maior importincia a suas relagbes com paises vizinhos, como 0 Brasil. Por fim, as poucas democracias da época costumavam cultivar a ret6rica do confront e da rivalidade com 0s vizinhos, do que é prova, por exemplo, a nto instavel relagio da Argentina com 0 Brasil e com o Chile. A partir de meados dos anos 80, Argentina e Brasil comegaram a negociar medidas que visavam a promoyer 0 comércio bilateral, exatamente por meio da retirada de barteiras aos flu- ‘xos comerciais entre ambos. A iniciativa beneficiou-se, entre outros motivos, da conclusdo dos respectivos processos de redemocratizagao ¢ da reavaliacao do relacionamento bilateral, marcada pela superacio de algumas desconfiangas e hostilidades hist6ricas. Dentro desse proceso, fitma- ram-se instrumentos como a Ata de Iguacu, em 1985, 0 Programa de Integragio e Cooperacéo Econdmica Brasil-Argentina (PICAB), em 1986, ¢ 0 Tratado Bilateral de Integracao ¢ Coopera- cio Econdmica, de 1988. Por fim, em 1990 firmou-se a Ata de Buenos Aires, por meio da qual Argentina ¢ Brasil decidiram criar um mercado comum entre ambos, que deveria estar instalado até dezembro de 1994, Ao final dessas negociagées, Paraguai ¢ Uruguai juntaram-se ao esforco inicialmente condu- zido por Argentina e Brasil, decidindo criar um bloco regional chamado Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), 0 que foi feito por meio do Tratado de Assungio, de 26/03/1991 (Decreto 350, de 21/11/1991). Cabe destacar que a constituicio do MERCOSUL é pelo menos um passo no sentido de concretizar 0 compromisso brasileiro de promover a integracdo regional, estahelecido pelo para- grafo Gnico do artigo 4° da Constituicao Federal, que determina que “A Republica Federativa do Brasil buscard a integracao econdmica, politica, social e cultural dos povos da América Latina, visando 4 formagao de uma comunidade latino-americana de nagbes”. 2. HUSEK, Carlos Roberto, Curso de direita internacional puiblica, p. 149. 1012 PRINCIPAIS BLOCOS REGION AIS DE INTERESSE PARA 0 GRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL Quadro 1. MERCOSUL: histérico 1. ALALC: 1960, Projeto de integracao econémica latino-americana > 2. ALADI: 1980. Fracasso da ALALC. Preferéncias comerciais na América Latina > 3. Negociages Argentina-Brasil: década de oitenta. Celebragdo da Ata de Iguacu, do Programa de Integragdo e Cooperagdo Econémica Brasil-Argentina (PICAB) e do Tratado Bilateral de IntegracSo e@ Cooperacio Econdmica > 4, Tratado de Assungo: 1991. Criagéo do MERCOSUL 2.2 Constituigao e objetivo O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) foi criado por meio do Tratado de Assun¢ao, de 26/03/1991 (Decreto 350, de 21/11/1991). Originalmente, 0 bloco contava com a participagio de quatro Fstados: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A partir de 2012, a Venezucla também passou a integrar o MERCOSUL, com aentrada em vigor do Protocolo de Adesio da Repiblica Bolivariana da Venezuela ao MERCO- SUL, firmado pelos Presidentes dos Estados Partes do MERCOSUL e da Republica Bolivariana da Venezuela, de 2006 (Decteto 7.859, de 6.12.2012). O MERCOSUL tem cinco Estados associados: a Bolivia.’ 0 Chile, a Colémbia, 0 Equador © 0 Peru. Tais Estados, que firmaram acordos de livre comércio com o bloco, beneficiam-se de vantagens nas telagGes econémico-comerciais com os membros do MERCOSUL, com vistas & eventual criagio de zonas de livre comércio. Os Estados associados podem também participar, quando convidados, das reunides dos érgios do MERCOSUL, para tratar de temas de interesse comum, mas sem diteito a voto! | ATENCAO: nao 6 correto afirmar, portanto, que a Bolivia, o Chile, a Colombia, oEquador eo Peru 1 so membros do MERCOSUL, embora seja comum que ambos sejam qualificados como “mem- | bros associados” do bloco. : O MERCOSUL é aberto a adesdes dos demais Estados-membros da ALADI (Associagao Latino-americana de Integracio), desde que celebrem acordos de livre comércio com 0 bloco ¢ que adotem a democracia como regime politico? Q objetivo do MERCOSUL é contribuir para 0 desenvolvimento da regiao por meio da criagio de um espago econémico comum, que permita a ampliagao dos mercados nacionais, a elevacao do grau de competitividade das economias dos Estados-membros, o fortalecimento das 3. A Bolivia encontra-se em processo de adesiio 20 MERCOSUL, a qual depende da ratificaco, por parte de todos 08 Estados-membros do bloco, do Protocolo de Adeséo do Estado Plurinacional da Bolivia ao MERCOSUL, firmado em 07/12/2012. Guiana e Suriname encontram-se em processo de incluso como novos membros associados do Mercosul (© compromisso com a democracia no Mercosul é concretizado pela adesio 20 Protocolo de Ushuaia sobre Com- promisso Democrético no Mercasul, Bolivia e Chile e 3 “Declarac#o Presidencial sobre Compromisso Democratic no Mercosul”. De resto, quanto a adeso ao Mercosul, ver 0 artigo 20 do Tratado de Assun¢io. 1013 PARTE IV ~ DIRELTO COMUNITARIO. posigies dos paises do bloco nos foros internacionais, a obtengao de vantagens comerciais com ‘outros parceiros, a moderniza¢io econdmica e, em suma, a melhor inser¢ao internacional de seus integrantes. Para isso, o MERCOSUL pretende criar um mercado comum entre seus membros, incluindo, portanto, uma zona de livre comércio, uma unio aduaneira ea livre circulagio dos fatores de produgio. O MERCOSUL visa, portanto, a estabelecer um mercado comum entre seus membros, 0 qual, nos termos do Tratado de Assungao (art. 1°), abrange: a livre circulacao de bens, servigos ¢ fatores produtivos entre os paises, por meio, por exemplo, da eliminacio dos direitos alfande- girios ¢ das restrigocs nao tarifarias a circulagao de mercadorias; 0 estabelecimento de uma tarifa externa comum para os produtos vindos de paises de fora do bloco ¢ a adogéo de uma politica comercial comum em relagao a terceiros Estados ou a agrupamentos de Estados; a coordenagao de posigSes em foros econdmico-comerciais regionais e internacionais: a coordenagao de politicas macroecondmicas ¢ setoriais entre os Estados-Partes, a fim de assegurar condigées adequadas de concorréncia entre os membros do bloco; e 0 compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislagées nas areas pertinentes, para lograr o fortalecimento do processo de integracdo. Entretanto, até o momento, o MERCOSUL é apenas uma uniao aduaneira, considerada, porém, incompleta, em vista da “grande quantidade de produtos nas listas de excegies & Tarifa Externa Comum do bloco”’. © MERCOSUL devers desenvolver-se dentro do quadro da normalidade democritica e do Estado de Direito. Nesse sentido, o Estada que nao seja democratico ou cujo regime democratico seja interrompido nao podera ser membro do MERCOSUL ou poderd perder, no todo ou em parte, 08 dircitos increntes a um participante no bloce. Cabe destacar que o MERCOSUL, embora esteja evidentemente voltado para 0 campo eco- nomico, é atualmente um amplo processo integracionista, envolvendo também aspectos politicos c sociais, abrangendo, por exemplo, areas como trabalho, seguridade social, satide, educagéo migracio. © MERCOSUL ¢ um esquema intergovernamental, cujo desenvolvimento depende, poranto, dos Estados. Nesse sentido, nao ha, pelo menos por enquanto, érgios supranacionais no MER- COSUL. Ademais, a-validade das determinagées dos érgaos do bloco nos Estados e dos tratados coneluidos no ambito mercosulino depende de sua incorporagio aos respectivos ordenamentos internos. Eo que se infere da prdpria jurisprudéncia brasileira, em julgado relatado pelo Minis- tro Celso de Mello, que afirma que “A recepgio de acordos velebrados pelo Brasil no ambito do MERCOSUL esta sujeita 4 mesma disciplina constitucional que rege o processo de incorporacao, 4 ordem positiva interna brasileira, dos tratados ou convengées internacionais em geral”.” Nese sentido, portanto, o MERCOSUL nio ¢ caracterizado como um espago “comunitério”, onde eferivamente vigore uma ordem juridica comunitaria que prevalega sobre os ordenamentos juridicos internos, Tampouco € possivel afirmar que vigorem no MERCOSUL as nogées de cfeito 6. MACHADO, Diego Parelra; DEL'OLMO, Florisbal de Souza, Direito da integracao, direito comunitirio, Mercasul Unido Evropela, p. 136. Para um tratamenta mais detido do tema, ver as paginas 132 a 136 dessa obra, 7. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Tribunal Pleno. CR-AgR 8.279/AT. Relator: Min, Celso de Mello. Brasilia, DF 17,jun.98. DI de 10.08.08, p. 6. A respeito desse tema, ver também: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza, Direito da integracio, direito comunitario, Mercosul e Unido Europela, p. 94-98, 1014 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DEINTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIKO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL direto ¢ de aplicabilidade imediata,* ipicas do Direito Comunitario, exigindo-se, portanto, que as decisoes tomadas em seu ambito sejam devidamente incorporadas ao ordenamento interno dos Estados pelos mecanismos cabiveis. Por fim, ainda ndo vigora, dentro do MERCOSUL, a nogao de supranacionalidade, nem das normas mercosulinas nem de seus érgios. ‘Uma das principais caracteristicas do MERCOSUL € 0 pequeno grau de institucionalizagao. Com eftito, poucos sao os Srgéos permanentes do bloco. Entretanto, a partir do Protocolo de Ouro Preto, o MERCOSUL passou a contar com personalidade juridica de Direito Internacional prépria, Outra importante caracteristica do MERCOSUL é a de que as decisées dentro do bloco sé setéo aprovadas se houver consenso entre seus membros, devendo todos os Estados-membros estar presentes as deliberacdes do mecanismo (Protocolo de Ouro Preto, art. 37). Com isso, reiteramos a nogio de que ainda ndo existe dentro do MERCOSUL um dos aspectos mais destacados do universo comuniirio europeu: a supranacionalidade, com a possibilidade de um érggo suprana- ional ditar diretrizes a um Estado independentemente da concordincia deste. ‘As fontes do Direito do MERCOSUL sao de trés tipos: otiginarias, complementares ¢ derivadas’ As fontes originérias so aquelas relacionadas com a criagao ¢ a fixagio dos fundamentos basicos do MERCOSUL, como, por exemplo, o Tiatado de Assungio ¢ seus protocolos prin cipais, como 0 Protocolo de Ouro Preto. As fontes complementares séo aquelas celebradas “no Ambito do Tratado de Assungao ¢ de seus protocolos”,"” complementando as fontes origindrias, mas delas dependendo. Por fim, as fontes derivadas sao aquelas que emergem unilaceralmente das instituigées mercosulinas no exerc{cio de suas fungées. De acordo com o artigo 41 do Protocolo de Ouro Preto, essas fontes sto as Decisées do Conselho do Mercado Comum, as Resolugdes do Grupo Mercado Comum e as Diretrizes da Comissio de Comércio do MERCOSUL (art. 41). ‘Todas as normas constantes de tais fontes tém carater obrigatério (Protocolo de Ouro Preto, art. 42). Entretanto, nao tém efeito imediato, devendo ser incorporadas aos ordenamentos internos dos Estados pelos procedimentos cabiveis. Por fim, é importante registrar que dentro do MERCOSUL também ha recomendagoes, como aquelas emanadas do PARLASUL (Parlamento do MERCOSUL). ATENCAO: reiteramos que as normas do MERCOSUL no se beneficiam dos principios do efeito direto e da aplicabilidade imediata, tipicos do Direito Comunitério. Recordamas, por oportuno, que o MERCOSUL ndo é espaco supranacional. Quadro 2. Membros do MERCOSUL > 0 MERCOSUL encontra-se aberto & adesdo de qualquer Estado-membro da ALAD! > Membros: Argentina, Brasil, Paragual, Uruguai e Venezuela > Estados associados: Bolivia (em processo de adesao), Chile, Colombia, Equador e Peru 8. Tembém conhecido como principio da aplicabilidade direta: 9. Arespeito: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMG, Florisbal de Souza, Direito da integragBo, direito comunitario, Mercosul e Unio Europeia, p. 98-100. 10. MACHADO, Diego Pereira; DEL’OLMO, Florisbal de Souza, Direito da integracdo, direito comunitério, Mercosul Unigo Europeta, p. 98. 1015 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO 2.3 Natureza juridica © MERCOSUL nao é apenas um arranjo entre Estados: é uma pessoa juridica de Direito Internacional Piblico, com érgios permanentes, sede e capacidade para celebrar tratados, asse- melhando-se, portanto, as organizagGes internacionais. A personalidade juridica de Direito das Gentes do MERCOSUL foi-lhe atribufda pelo Protocolo de Ouro Preto (art. 34). A partir dai, 0 bloco adquiriu a capacidade de praticar os atos necessarios 4 realizacao de seus objetivos, como adquirir ou alienar bens méveis ¢ iméveis, comparecer em juizo, conservar fundos ¢ fazer transferéncias (Protocolo de Ouro Preto, art. 35) érgio competente para exercer a titularidade da personalidade juridica do MERCOSUL e negociar e firmar tratados em seu nome é o Conselho do Mercado Comum (CMC). Cabe destacar que Rerek afirma que o MERCOSUL ¢ uma organizacao internacional." Por outro lado, porém, h4 uma tendéncia em boa parte da doutrina de diferenciar os blocos regionais dos organismos internacionais. O MERCOSUL poderé celebrar acordos de sede (Protocolo de Oura Preto, art. 36). ATENCAG: recordamos, entretanto, que os érgdos do MERCOSUL ainda nao sao supranacionai | aexemplo do que acorre na Unido Europeia. 2.4 Principios A gradualidade, a flexibilidade ¢ 0 equilibrio sao principios elencados para o MERCOSUL no proprio Tratado de Assungio. © MERCOSUL esta fundado também na reciprocidade de direitos e obrigacées entre os Estados-Partes (Tratado de Assungao, art. 2). O Tratado de Assungao, o Protocolo de Ouro Preto ¢ o Protocolo Constitutivo do Parlamento do MERCOSUL enfatizam a necessidade de “uma consideragao especial para paises e regises menos desenvolvidos do MERCOSUL”, A propésito, ¢ com 0 intuito de promover 0 maior equilibrio entre os Estados-membros do MERCOSUL foi adotada, em 2005, a Decisio n° 24/05, do Conselho Mercado Comum (CMC), que aprovou o Regulamento do Fundo para a Convergéncia Estrurural e Fortalecimento Institu- cional do MERCOSUL (FOCEM), criado pela Decisio 18/05 do préprio CMC, incorporada 20 ordenamento brasileiro pelo Decreto n° 5.985, de 13/12/2006. Fundamentalmente, o FOCEM visa a financiar programas para promover a convergéncia estrutural entre os membros do MERCOSUL, a desenvolver a competitividade no bloco, a pro- mover a maior coesio social, em particular das economias menores ¢ regides menos desenvolvidas, € a apoiar o funcionamento da estrutura institucional e o processo de integragéo como um todo. 11. REZEK, Francisco. Direito internacional publica, p. 268. 1016 PRINCIPAIS BLOCOS REGION AIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL 2.5 Principais tratados O ato que criou o MERCOSUL foi o Tratado para a Constituigéo de um Mercado Co- mum encre a Republica Argentina, a Republica Federativa do Brasil, a Repiiblica do Paraguai e a Repiiblica Oriental do Uruguai, também conhecido como “Tratado de Assungao” ou “Tratado MERCOSUL”, firmado em 1991 (Decreto 350, de 21/11/1991). O Tratado de Assungéo, como afirma Fernando Herren Aguillar, é um mero acordo-quadro, que estabelece as linhas gerais de conformacio do MERCOSUL.” Nesse sentido, esse tratado estabeleceu um programa de liberalizagao do comércio no bloco, com redugio progressiva de barreiras tarifirias ¢ nao tarifarias, listas de excegées ao programa de liberalizacao, um regime geral de origem, uma Tarifa Externa Comum (TEC) para os produtos importados de paises fora do espago mercosulino ¢ a obrigagio de os membros do MERCOSUL coordenarem suas politicas macroeconémicas. Em 17/12/1991, foi firmado 0 Protocolo de Brasilia para a Solucao de Controvérsias no MERCOSUL (Decreto 922, de 10/09/1993), com o objetivo de estruturar um esquema de composigao dos lit/gios ocortidos dentro do bloco regional. Esse Protocolo foi derrogado pelo Protocolo de Olivos para a Solucao de Controversias, de 2002 (Decreto 4.982, de 09/02/2004), embora tenha continuado, apés essa data, a regular a resolugio dos conflitos cujo exame fora iniciado sob sua égide. Em 1994, foi celebrado 0 Protocolo Adicional ao Tratado de Assungao sobre a Estrutura Institucional do MERCOSUL (Protocolo de Ouro Preto — Decreto 1.901, de 19/03/1996). © Protocole de Ouro Preto foi um importante marco na histéria do bloco porque avangou na estruturacao do arcabougo institucional do MERCOSUL, conferindo-lhe personalidade jurfdica de Direito Internacional Piblico (art. 34), tendo também atualizado o Tratado de Assun¢ao. Em 1998, foi assinado 0 Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democritico no MER- COSUL, Bolivia e Chile (Decreto 4.210, de 24/04/2002), que estabeleceu que a manutencio do regime democratico € condicao para participacio no MERCOSUL ou para 0 gozo de todos os direitos inerentes aos participantes do mecanismo, O Protocolo de Ushuaia estabeleceu, portanto, a chamada “cldusula demoerdtica” do Mercosul. O MERCOSUL inclui ainda outros tratados sobre temas especfficos, dentre os quais citamos: 0 Protocolo de Cooperagio e Assisténcia Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa (Protocolo de Las Lefias), de 1992 (Decreto 2.067, de 12/11/1996): 0 Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdigao Internacional em Matéria Contratual, de 1994 (Decreto 2.095, de 17/12/1996); 0 Protocolo de Medidas Cautelares, de 1994 (Decreto 2.626, de 15/06/1997); 0 Protocale de Defesa da Concorréncia do MERCOSUL, de 1996 (Decreto 3.602, de 18/09/2000); o Acordo Multilateral de Seguridade Social do Mercado Comum do Sul ¢ seu Regulamento Ad- ministrativo, de 1997 (Acordo Multilateral de Montevideu — Decreto 5.722, de 13/03/2006); 0 Acordo sobre Arbitragem Comercial Internacional do MERCOSUL, de 1998 (Decreto 4.719, de 04/06/2003); o Acordo de Extradicao entre os Estados Partes do MERCOSUL, de 1998 (Decreto 4.975, de 30/01/2004); ¢ o Acordo de Admissao de Titulos ¢ Graus Universitarios para 12, AGUILLAR, Fernando Herren. Direito econémico: do direito nacional ao direito supranacional, p. 359. 1017 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO 0 Exercicio de Atividades Académicas nos Estados Partes do MERCOSUL, de 1999 (Decreto 5.518, de 23/08/2005). 2.6 Estrutura ¢ funcionamento. Aaandlise da estrutura do MERCOSUL parte do exame de seus trés érgios com capacidade deciséria e de natureza intergovernamental (Protocolo de Ouro Preto, art. 2): 0 Conselho do Mercado Comum, 0 Grupo Mercado Comum ea Comissao de Comércio do MERCOSUL. [ATENGAO: antecipamos que 0 MERCOSUL inclul outros éreos. Entretanto, apenas os trés men- | ' cionados acima retinem capacidade deciséria e sdo de natureza intergovernamental. 2.6.1. Canselha do Mercado Comum (CMC) © Conselho do Mercado Comum (CMC) é 0 érgio superior do MERCOSUL. Foi criado pelo Tratado de Assuncao (art. 3) ¢ é competente para a “conducio politica do processo de in- tegragao ea tomada de decisées para assegurar © cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo ‘Tratado de Assungio e para lograr a constituigio final do mercado comum” (Protocolo de Ouro Preto, art. 3)". Especificamente, as funges do CMC estio listadas no artigo 8 do Protocolo de Ouro Preto ¢ inclem: velar pelo cumprimento dos tratados do MERCOSUL: formular e executar politicas © agbes necessdrias 4 conformacio de mercado comum; negociar ¢ cclebrar tratados em nome do bloco (fungio delegivel a0 Grupo Mercado Comum); criar, modificar e extinguir érgios do MERCOSUL; exercer a titularidade da personalidade juridica do MERCOSUL; designar 0 Diretor da Secretaria Administrativa do MERCOSUL; e adotar decisSes em matéria financcira e orgamentiria O CMC € formado pelos ministros das Relagées Exteriores ¢ da Economia dos Estados- -membros do bloco. O rgio deverd rcunir-sc quantas vezes entender necessério, devendo, porém, acho dos Presidentes dos Estados-Partes, sempre sob a coordenagao dos Ministérios das RelagGes Exteriores. A presidéncia do CMC é exercida alternadamente por cada um dos Estados-membros do bloco pelo prazo de seis meses, configurando a chamada Presidéncia pro tempore", faré-lo pelo menos uma vee por semestre com a parti ‘As manifestagées do CMC sio as chamadas “Decis6es", que serdo obrigatérias para os Estados do MERCOSUL e que serio tomadas por consenso, nao havendo voto ponderado ¢ exigindo-se, nas deliberagées, a participagao de todos os Estados-membros 13, _Iniciaimente, o funcionamento do CMC era regulado pelos artigos 92 12 do Tratada de Assuncao e, posteriormente, passou a ser regulementado pelos artigos 3 a 9 do Protocolo de Ouro Preto, os queis, fundamentalmente, detalham {a fungdes do Conselho, sem alterar 0 quadro definide no Tratado de Assuncao 14, A respeito das informagdes apresentadas no presente pardgrafo, ver o Protocolo tle Ouro Preto, arts. 4-7. Cabe: destacar que 0 artigo 11 do Tratado de Assuncao determina que as reunides presidenciais no CMC deverdo ocorrer ‘20 menos uma ver par ano. No caso, prevalece, porém, a entendimento do Protocole de Ouro Preto, que é um tratado mais novo e especifico acerca do tema da estrutura institucional do bloco, 1018 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL 2.6.2, Grupo Mercado Comum (GMC) © Grupo Mercado Comum (GMC) € 0 principal érgao executive do MERCOSUL. Esti subordinado 20 CMC e também foi criado pelo Tratado de Assungio (art. 9), tendo suas fungdes, porém, reguladas com o devido detalhamento pelos artigos 10 a 15 do Protocolo de Ouro Preto’. Dente as competéncias do GMC listamos: velar pela aplicacio dos tratados do MERCOSUL; propor projetos de Decisées a0 CMC e tomar as medidas necessarias para seu cumpriment programas de trabalho voltados ao estabelecimenco do mercado comum; preparar as reuniGes do CMC; eleger o Diretor da Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM) ¢ supervisionar diretamente suas atividades; aprovar 0 orcamento ¢ a prestagao de contas anual apresentada pela Secreraria Administrativa do MERCOSUL; adotar resolugées em matéria financeira ¢ orgamentiria, ‘com base nas orientagdes emanadas do CMC; ¢ criar, modificar ou extinguir érgios expecializados, como os subgrupos de trabalho. O GMC pode também negociar ¢ celebrar tratados, desde que pot delegagio do CMC. Participam do GMC delegacées compostas por quatro membros titulares e quatro membros alternes por Estado, dentre os quais deve haver representantes dos ministérios das Relacées Exterio- res, da Economia (ou equivalentes) ¢ dos bancos centrais nacionais, que atuam sob a coordenagio dos Ministros das Relagées Exteriores. Sempre que necessério, podem participar das atividades do GMC representantes de outros érgéos do bloco ou dos governos nacionais. As deliberagées do GMC sio as chamadas “Resolugées”, que devem ser aprovadas pelo consenso dos -membros do MERCOSUL que, assim como as Decises do CMC, também serio obrigatérias. ados- 2.6.3. Comisséo de Comércio do MERCOSUL (CCM) ‘A Comisséo de Comércio do MERCOSUL (CCM) ¢ 0 érgio encarregado de cuidar da aplicagao dos instrumentos de politica comercial do bloco, tanto no tocante ao livre comércio como a unio aduaneita, bem como no que se tefere a0 comércio com terceitos paises, ao relacio- namento com organismos internacionais em matéria comercial e a politicas comuns na drea.'® A CCM é competente também para ctiar Comités Técnicos, que serio drgios de apoio e assessoria a suas atividades, com poderes para claborar estudos e emitir pareceres sobre temas comerciais do MERCOSUL. ACCM é composta de modo semelhante a do GMC, com cada Estado indicando quatro membros titulares c suplentes, sob a coordenagio dos Ministétios das Relacées Exteriores. Suas reuunides so mensais. A CCM manifestar-se-4 por meio de Diretrizes, obrigatSrias para os Esta- dos-Partes, ou Propostas, com teor de meras recomendacées. Nos termos do Protocolo de Ouro Preto, cabia também 3 CCM examinar reclamagées em sua rea de competéncia, apresentadas por suas Secties Nacionais, origindrias dos Estados Partes, ou demandas de particulares — pessoas fisicas ou juridicas. Entretanto, & luz do Protocolo de Olivos 15. _ Iniciaimente, o funcionamento do GMC também era regulado pelo Tratado de Assungfo (arts. 13-16}. Atualmente, a regulamentaco mais detalhada quanto ao funcionamento desse érgao é dada pelos artigos 10 a 15 do Protocolo de Ouro Preto. 16. A CCM éregulada pelos artigos 16 a 21 do Protocolo de Ouro Preto. 1019 PARTE IV — DIREITO COMUNITARIO (arts. 1° € 39), a CCM nao mais retine competéncia para examinar reclamag6es de particulares € de Estados-parte do MERCOSUL. 1 ATENCAQ: o CMC, 0 GMC e a CCM sao, como destaca o préprio Protocolo de Ouro Preto, orgaos | com capacidade deciséria, de natureza intergovernamental, o que ndo ¢ o caso dos demais ér- | gdos do MERCOSUL (art. 2), 0 que no significa, porém, que os érgdos mercosulinos nao inter- 1 governamentais tenham cardter supranacional,tratando-se sobretudo de unidades de cardter 1 técnico. 2.6.4, Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM) A Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM) € 0 érgio de apoio operacional do blo- co.” E competente para cuidar do arquivo do MERCOSUL, da publicacao ¢ difusdo das decisdes adotadas dencro do bloco, da organizagio das reunides de seus érgios e da informacao sobre as medidas adotadas cm cada Estado para incorporar, nos respectivos ordenamentos, as deliberacdes adotadas, bem como para editar o Boletim Oficial do MERCOSUL. ASAM é sediada em Montevideu (Uruguai) ¢ ¢ dirigida por um Diretor, elcito pelo GMC ‘em bases rotativas e designado para o CMC para um mandato de dois anos, vedada a reeleigio para o perfodo subsequente. 2.6.5. O Parlamenta do MERCOSUL (PARLASUL) O Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL) foi criado pelo Protocolo Constitutive do Parlamento do MERCOSUL, de 2005 (Decreto 6.105, de 30/04/2007)'*. © PARLASUL veio a substituir a Comissao Parlamentar Conjunta (CPC), criada pelo Pro- tocolo de Ouro Preto, que tinha como objetivo estreitar os lacos entre o bloco ¢ os parlamentos nacionais, com vistas a promover a claboracio de leis que permitissem estimular 0 processo de harmonizagao das legislagGes nacionais dos Estados mercosulinos e avangar na construgdo do mercado comum. O PARLASUL ¢ considerado érgao intergovernamental ¢ é unicameral."” E sediado em Montevideu (Uruguai). © PARLASUL é considerado 0 érgio de representagio dos interesses dos cidadaos dos Es- tados-Partes ¢ é voltado a contribuir para a qualidade e equilibrio institucional do bloco, criando um espago comum que reflita 0 pluralismo ¢ as diversidades da regio e que contribua para 0 fortalecimento da democracia, da participagio, da representatividade, da transparéncia e da legi- timidade social no desenvolvimento do processo de integracdo ¢ da elaboracao de suas normas. © Parlamento do MERCOSUL visa também a fortalecer a cooperacio inter-paslamentar, para 17. Detalhes sobre o papel da SAM encontrarr-se nos artigos 31 a 33 do Protocole de Oura Preto. 18. Para maiores informagBes e analises acerca do PARLASUL: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza Direito do integrogaa, direito comunitério, Mercosul e Unitio Europeioa, p. 83-88 19. A respeito: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza. Direito do integracdo, direito camunitério, Mercosui e Unido Eurapeia, p. 83. 1020 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL avancar nos objetivos de harmonizacao das legislagées nacionais nas Areas pertinentes ¢ agilizar a incorporagao aos ordenamentos juridicos nacionais da normativa do bloco, quando necessdria a aprovacio legislativa. Por fim, seu objetivo maior é contribuir com o fortalecimento do proceso integracionista. © funcionamento do PARLASUL ¢ regulado pelo préprio Protocolo Constitutive do Parla- mento do MERCOSUL e pelo Regulamento Interno do Parlamento do MERCOSUL © PARLASUL pauta-se de acordo com determinados principios, listados no artigo 2 de seu Protocolo Constitutive, dentre os quais s inclicm os seguintes: pluralismo; tolerancia; eransparéncia; cooperagio com os demais érgios do MERCOSUL e com os ambitos regionais de representagao cidadai respeito aos direitos humanos ¢ & democracia; promogéo do desenvolvimento sustentével €; solugio pacifica dos confitos. © PARLASUL tem os seguintes objetivos especificos, dentre outros: represencar os povos do MERCOSUL, respeitando sua pluralidade politica e ideolégica; contribuir para a promogio da democracia, da liberdade e da paz na regiao; promover o desenvolvimento sustentdvel do espago mercosulino, com justica social; garantir a participacao da sociedade civil no processo integracionista; contribuir para a consolidagao da integracio latino-americana por meio do aprofundamento ¢ da ampliagao do MERCOSUL ¢; promover a cooperagao regional e internacional (Protocolo ~ art. 3). Dentre as competéncias do PARLASUL enconttam-se (art. 4 do Protocolo ‘Constitutivo): velar pela observancia das normas do MERCOSUL e pela preservasao do regime democriti em seus membros: pedir informac6es e opiniGes por escrito aos érgios do MERCOSUL acerca de questées vinculadas ao desenvolvimento do bloco; organizar reunioes piiblicas a respeito de temas importantes para o avango da proceso de integragao regional; propor projetos de normas a0 Conselho Mercado Comum (CMC) ¢} contribuir para o desenvolvimento de mecanismos de democracia representativa e participativa no ambito mercosulino. s Inicialmente, os parlamentares integrances do PARLASUL, também conhecidos como “metcodeputados” ou “mercoparlamentares”, foram indicados pelos parlamentos nacionais dos Estados membros do bloco. Entretanto os integrantes do PARLASUL deverio ser escolhidos pelo voto direto, secreto ¢ universal em todos os paises membros do MERCOSUL. A primeira cleigao deveria ter ocorrido em 2010, mas o Brasil ainda nao realizou a cleigao para os mercodeputados nos moldes previstos. 2.6.6. Foro Consultive Econémico-Social e outros érgéos © Foro Consultivo Econdmico-Social 0 drgio de representagio dos setores econdmicos ¢ sociais, encontrando-se voltado a ampliar a participagio da sociedade civil nas decisées que se referem a0 MERCOSUL. Tem funcéo consultiva, podendo apresentar recomendagbes ao Grupo Mercado Comum (GMC). © MERCOSUL inclui ainda outros érgaos, como as Reunides de Ministros/Altas Auto- tidades, 0 Foro de Consulta ¢ Concertagio Politica, os Subgrupos de Trabalho, as Reunides 20. Pratacola de Quro Preto, arts, 28-30. 1021 PARTE I~ DIREITO CONUNITARIO Especializadas, os Comités, os Grupos ad hoc, os Grupos, a Comissio Socio-Laboral e os Comités ‘Técnicos, dentre outros. 2.7 O comércio intrabloco: linhas gerais O livre comércio no MERCOSUL implica a progressiva retirada de dircitos alfandegirios restrigdes nio tarifrias a circulagéo de mercadorias ¢ de qualquer outra medida de efeito cquiva- lente valida entre os Estados membros do bloco. Consticuem gravames av comércio intrabloco os direitos aduaneitos e medidas de efeivo equivalente, de cariter fiscal, monetério, cambial ou de qualquer natureza, que incidam sobre © intercambio comercial exterior. Nao estio compreendidos entre tais gravames taxas ¢ medidas analogas que cortespondam ao custo aproximado dos servigos prestados. O Tiatado de Assungao enfatiza que s6 poderio ser livremente intercambiados no ambito do MERCOSUL os produtos que obedegam as regras relativas a0 Regime de Origem, constante de seu Anexo II. Por outro lado, poderd produtos que gozarao de prove istas de Excegoes” 10 temporaria, constantes das chamadas “I Em matétia de impostos, axas ¢ outros gravames internos, os produtos origindtios do terri tdrio de um Estado-Parte do MERCOSUL gozarao, nos tertitérios dos outros Estados-Partes, do mesmo tratamento que se aplique ao produto nacional (Tratado de Assungao, art. 7). O Programa de Liberagio Comercial de MERCOSUL consta do Anexo I do Tratado de Assungao. Cabe destacar que néo h4 nem moeda nem banco central comum no MERCOSUL. Com isso, © comércio entre os paises do bloco sera levado a cabo com 0 emprego das moedas nor malmente utilizadas para 0 comércio exterior, havendo, porém, a possibilidade de os Estados do MERCOSUL aderirem ao Sistema de Pagamento em Maeda Local (SML), por meio do qual exportadores e importadores poderao pagar e receber pagamentos em suas moedas nacionais.”" 2.8 As negociagées e os acordos comerciais envolvende o MERCOSUL Um dos objetivos do MERCOSUL é fortalecer as economias dos paises sul-americanos ¢ tornd-las mais competitivas no mercado mundial. Com isso, o bloco tem ayancado no sentido de negociar com terceiros Estados e com outros mecanismos de integracto regional. O primeiro acordo do MERCOSUL com parceiros externos ao bloco foi 0 Acordo de Rose Garden, firmado com os EUA em 1991 (Decreto, 199, de 21/08/1991), voltado a formar a um Conselho sobre Comércio e Inyestimentos. 21. Atespelto do SML: MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza. Direito da intearacdo, direito comu nitérto, nercosul e Unido Europea, p. 132, Cabe destacar que, até o momento, apenas Argentina e Bresil aderiram 0 SML, embora jé exista uma Carta de Intencdes entre o Brasil @ 0 Uruguai, irmada em 2009, com 0 intuito de preparer 2 utlizago do SML entre os dois paises, A respeito do Sistema de Pagamento em Maeda Local, vero sitio do Banco Central do Brasil (BC8), no link < http://warw bch goulbr/SML>. Acesso em 25/01/2015, 1022 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL O mais notério tratado até o momento celebrado pelo MERCOSUL é 0 Acordo-Quadro de Cooperagéo Inter-regional entre a Comunidade Europeia ¢ os seus Estados-membros, por uma parte, 0 Mercado Comum do Sul ¢ os seus Estados-partes, de 1995 (Decteto 3.192, de 05/10/1999). O MERCOSUL também firmou acordos voltados a estreitar lagos com Estados c entidades como a AELC (Associagao Europeia de Livre Comércio, formada por Iskindia, Liechtenstein, Noruega ¢ Suica), a Africa do Sul, Cingapura, a Guiana, a India, 0 Suriname e Trinidad e Tobago. 2.9 Principais normas em matéria social. A ideia de livre circulagao de trabalha- dores no MERCOSUL Ainda que o principal foco do MERCOSUL seja, pelo menos por enquanto, de cardter eco- némico, a consolidagao do bloco evidentemente requer medidas de carter social, inclusive para permitir que as condigdes de competitividade dentro do bloco nao envolvam vantagens desicais Outrossim, como a meta do MERCOSUL € transformar-se em mercado comum, envol- vendo a livre circulagao de pessoas, devem as condigées sociais dentro do espago mercosulino ser semelhantes, de modo a evitar distorg6es nos fluxos de pessoas dentro do bloco, que deixem certas regiées com pouca mao-de-obra ¢ que levem excesso de gente a outras partes, causando problemas nos lugares que recebem mais pessoas. Por isso, o Direito do MERCOSUL também vai incluir algumas normas voltadas ao campo social. E certo que os principais documentos juridicos do MERCOSUL, como o Tratado de Assun- gio € 0 Protocolo de Ouro Preto, na contém normas de protecio do trabalhador e em matéria social como um todo. Entretanto, isso néo significa que nao haja normas relativas a esses temas em outtos diplomas juridicos celebrados dentro desse bloco regional sul-americano. Uma das principais areas sociais em que o MERCOSUL vem empreendendo esforgos ¢ © universo das relacées laborais, mormente por meio de um processo de harmonizagao de legislagoes rabalhistas, cujo marco mais recente é a Declaragéo Sociolaboral do MERCOSUL, de 1998, também conhecida como “Carta Social do MERCOSUL”, a qual estabelece as principais normas que devem guiar as relagées de trabalho no bloco, em consonancia com as regras e princ{pios consagrados nas conyencoes da Oxganizagao Internacional do ‘Trabalho (OIT).. No campo da seguridade social, foi celebrado, em 1997, 0 Acordo Multilateral de Seguridade Social do Mercado Comum do Sul ¢ seu Regulamento Administrativo (Acordo Multilateral de Montevideu — Decreto 5.722, de 13/03/2006). No Brasil, foi langado, em outubro de 2008, o Programa MERCOSUL Social e Participati- vo, coordenado pela Secretaria-Geral da Presidéncia da Reptiblica c pelo Ministério das Relagées Exteriores com o objetivo de promoyer o didlogo entre o governo brasileiro e a sociedade civil no que se refere & participagao social no bloco. Séo objetives do Programa “divulgar as iniciativas do governo relacionadas ao MERCOSUL, debater temas da integragao ¢ encaminhar sugestées da sociedade civil”. O Programa MERCO- SUL Social ¢ Participativo é formado por representantes dos ministérios que atuam no Bloco liderangas de organizagées sociais convidadas, de setores como agricultura familiar, pequenas ¢ 1023 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO. médias empresas, mulheres, meio ambiente, juventude, trabalhadores urbanos e do campo, d reitos humanos, economia solidiria, satide, educacio, coopcrativismo, cultura ¢ povos indigenas, entre outros”, Por fim, lembramos que 0 MERCOSUL pretende alcancar o estigio de mercado comum, 0 que implica a possibilidade de liberdade de circulagio de fatores de produgio dentro do bloco,, abrangendo, portanta, a livre citculagio de mao-de-obra. A previsio de livre circulacao de trabalhadores no MERCOSUL nao esté expressamente prevista no Tratado de Assuncéo, Entrecanco, infere-se a partir da meta do MERCOSUL de se tornar um mercado comum, expressa no artigo 1° do Tratado de Assungao, que reza que “Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deveré estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994, ¢ que se denominard “Mercado Comum do Sul” (MERCOSUL). Este Mercado comum implica: A livre circulacao de bens, servigos e fatores produtivos entre os paiscs, através, entre outros, da eliminagao dos direitos alfandegirios e restrig6es nao tarifirias & circulagéo de mercadorias ¢ de qualquer outra medida de efeito equivalente”, Por enquanto, ainda nao hé livre circulagao de trabalhadores no MERCOSUL nos moldes existentes na Unido Europeia, onde a miv-de-obra pode livremente se estabelecer em outro pais do bloco europen c ali fixar residéncia e buscar trabalho. Entretanto, foi firmado, em 2002, 0 Acordo sobre Residéncia para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL (Decreto n° 6.964, de 29/09/2009), que visa a facilitar a circulagéo de pessoas dentro do bloco, concedendo facilidades para que 03 nacionais dos Estados mercosulinos vivam em outtros paises do bloco, beneficio condicionado apenas & nacionalidade ¢ & posse de passaporte vilido, certidao de nascimento ¢ certidao negativa de antecedentes penais. Com esses documentos, os cidadaos dos Estados do MERCOSUL poderio requeter a concessao de visto de residéncia temporaria de até dois anos em outro pais do bloco e, antes de expirar o prazo da residéncia temporéria, poderdo requeter sua transformacio em residéncia permanente. Cabe destacar que também h4 um ato similar a0 tratado acima, no caso 0 Acordo sobre Residéncia para Nacionais dos Estados do MERCOSUL, Bolivia e Chile (Decteto n° 6.975, de 07/10/2009), que, em termos semelhantes aos do Acordo sobre Residéncia para Nacionais dos Estados Partes do MERCOSUL, estende essa possibilidade aos nacionais bolivianos e chilenos. Nesse sentido, os nacionais da Bolivia e do Chile também podero requerer 2 concessio de visto de residéncia tempordria de até dois anos em um pais do bloco e, antes de expirar 0 prazo da residéncia temporaria, poderao requerer sua transformagao para residéncia permanente. A mesma possibilidade rerio os cidadiios dos Estados integrantes do MERCOSUL na Bolivia e no Chile. Em todo caso, Diego Machado Pereira ¢ Florisbal Dell’Olmo destacam que o MERCOSUL ada nao desenvolveu um conceito de “cidadania sul-americana’, nos moldes do instituto da cidadania europeia, existente dentro da Unido Europeia, cujos cidadaos contam com uma cidadania complementar a cidadania nacional, que inclui o direito de livre circulagio e direitos politicos em todo o espago comunitdrio. Para fundamentar essa ideia, com a qual coincidimes, os autores 22, Arespeito do MERCOSUL Social e Participative: BRASIL. Secretaria-Geral de Presidéncia da Republica. Assessoria para Assuntos Intemacionais, MERCOSUL Social e Participativo. Disponivel em < http://www.secretariageral.gou.br/ aatuacao/atuacao-internacional/mercosul-social-e-participativo/mercosul-social-e-participativo-integracao-regional>. ‘Acesso em 25/01/2015. 1024 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL citam Lafayette Pozzoli, que afirma que “os tratados assinados entre os paises latino-amcricanos parecem atribuir bem poucos direitos aos cidadaos enquanto 0 aspecto econdmico ainda é 0 mais privilegiado”®, 2.10 Direitos humanos no MERCOSUL Entrou cm vigor cm 2010 0 Protocolo de Assuncao sobre Compromisso com a Promogio ¢ 2 Protegao dos Direitos Humanos do MERCOSUL, de 2005 (Decreto n° 7.225, de 01/07/2010) © Protocolo de Assungao fundamenta-se nas nogoes de que ¢ fundamental assegurar a pro- tecio, a promogéo ¢ a garantia dos dircitos humanos ¢ das liberdades fundamentais de todos as pessoas no espaco mercosulino e de que 0 goz0 efetivo de tais direitos & condigao indispensével para a consolidacio do processo de integracao regional na América do Sul. Outrossim, o Protocolo parte do compromisso com a plena vigéncia das instituigées demo- craticas no MERCOSUL, vista como condigéo in do bloco regional em aprego, ¢ da reafirmagio do vinculo de todos os integrantes do MERCOSUL com 0s principais documentos do sistema de protegao internacional dos direitos humanos e com os princfpios que 0 orientam, ispensével para a existéncia ¢ 0 desenvolvimento O Protocolo estabelece que os membros do MERCOSUL cooperardo entre si paraa promogio ¢ protecio efetiva dos direitos humanos e liberdades fundamentais, por meios dos instrumentos insticucionais estabelecidos no bloco. Fundamentalmente, 0 Protocolo estabelece um mecanismo de consultas envolvendo os Estados do MERCOSUL e um Estado-membro do bloco onde estejam ocorrendo graves e sisteméticas violag6es dos direitos humanos e liberdades fundamentais, seja em situagbes de crise institucional, seja durante a vigencia de estados de exceco previstos nos respectivos ordenamentos constitucio- nais (art. 3). Tais consultas visam a contribuir para fazer cessar a violagdo. Entretanto, quando as consultas nao gerarem efeitos, e tendo em vista a gravidade da situagio, ‘os membros do MERCOSUL onde nao estejam ocorrendo essas violagoes dos direitos humanos tomarao medidas mais drdsticas, que poderao incluir a suspensao do direito a participar do MER- COSUL ou dos direitos ¢ obrigagées emergentes do fato de o Estado integrar esse mecanismo integracionista (art. 4). ‘As medidas em aprego sero adotadas por consenso pelos Estados-Partes e comunicadas 20 ente estatal aferado, o qual nao participard do processo decisério cabivel. Essas medidas entrarao cm vigor na data em que se realize a comunicacao pertinente & Parte afetada ¢ cessarfo apenas a partir da daca da comunicacio, proferida pelo Estado onde ocorveram os problemas, de que as causas que as motivaram foram sanadas (arts. 5 ¢ 6). Destacamos que 0 Protocolo de Assungao vem reforcar a protecdo & democracia jé conferida pelo Protocolo de Ushuaia sobre Compromisso Democratico ne MERCOSUL, Bolivia ¢ Chile (Deereto 4.210, de 24/04/2002), assinado em 1998, que estabeleceu que a manutencao do regime democratico é condicio para participago no MERCOSUL ou para 0 gozo de todos os 23. MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florishal de Souza. Direito da integragio, direito comunitério, Mercosul e Unio Europeia, 0. 122. 1025 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARID direitos inerentes aos participantes do mecanismo, estabelecendo, portanto, a chamada “clusula democritica’ do Mercosul. 2.11 Solugao de controvérsias. O Protocolo de Olivos. O Tribunal Permanente de Revisao do MERCOSUL Até 2002, a composicio de conflitos dentro do MERCOSUL era objeto do Protocolo de Brasilia para a Solugao de Controvérsias do MERCOSUL, de 1991 (Decreto 922, de 10/09/1993). Entrecanto, a partir desse ano, o sistema de solugao de controyérsias no MERCOSUL passou a s no MERCOSUL (Decreto set regulada pelo Protocolo de Olives para a Solucao de Controvel 4,982, de 09/02/2004). ATENCAO: 0 Protocolo de Brasilia foi derrogado pelo Protocolo de Olivos. Nao obstante, o Pro- 1 1 1 tocolo de Olivos (arts. 50 e 55) previu que as controvérsias cujo exame foi iniciado sob o regime do Protocolo de Brasilia continuariam sendo regidas por este enquanto sua apreciagao nao esti- ' Antes do Protocolo de Olivos, uma das principais queixas relativas ao MERCOSUL residia na fragilidade de seus mecanismos de solugio de controvérsias. Com efeito, no afi de construir um bloco com estrutura flexivel, os Estados-membros do MERCOSUL nao se preocuparam, num primeiro momento, com a formagio de um esquema mais estruturado para o tratamento dos conflitos que ocorressem no tacante as normas do bloco. Entretanto, a dinamizacao das relagoes dentro do bloco tornou imperiosa a atualizacio dos meios de composicio de litigios anterior- mente previstos, sem 0 que o MERCOSUL poderia se tornar um espaco sem a seguranga juridica necessiria para 0 desenvolvimento dos negécios. Fundamentalmente, a escrutura dedicada & solugdo de controvérsias no MERCOSUL com- preende crés instancias: negociacées diplomiicas, arbitragem ¢ o Tribunal Permanente de Revisio que foi ctiado pelo Protocolo de Olivos. A primeira etapa para resolver um conflito é a das negociagGes diretas entre as partes em litigio. ‘Trata-se de meio nao jurisdicional de solugéo de conflitos, em que a solugao podera ter contornos politicos, embora deva observar as normas do MERCOSUL, ‘As negociagées iniciam-se por iniciativa dos Estados, embora entendamos que nada impega que dois entes privados, envolvides em conflito fundamentado em normas do MERCOSUL, atuem no sentido de compor o litigio de forma negociada. No caso dos Estados, as negociagées serio diretas e durario até quinze dias. Na falta de acordo, 6 facultado aos Estados recorterem a0 Grupo Mercado Comum (GMC) que buscar solucao para © caso ouvindo as partes e recorrendo, eventualmente, ao auxilio de especialistas. Neste caso, 0 procedimento duraré no maximo trinta dias e, ao final, o GMC emitird recomendagées a respeito. A segunda etapa é a dos tribunais arbitrais ad hoc, empregada apenas a partir do fracasso das negociagées ou do procedimento junto a0 GMC que acabamos de mencionar. © tribunal arbitral ad hac é constituido por ues dsbitros, dois dos quais indicados pelas partes, dentre nomes elencados na lista de arbitros disponivel na Secretaria Administrativa do MERCOSUL (SAM), © 0 terceiro, escolhido de comum acordo entre as partes no conflito, que deve ser nacional de 1026 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA 0 BRASIL: MERCOSUL, UNIRO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL rerceiro Estado e seri o presidente do foro arbitral, Na falta de designagao ou de acordo quanto a0 arbitto presidente, a indicacao caberd a SAM. A decisao do tribunal devera ser fundamentada nas normas do MERCOSUL e deverd ser proferida, por meio de laudo arbicral, em até sessenta dias, protrogiveis por mais trinta, Antes disso, a corte arbitral poderé determinar medidas de carder caurelar Por fim, o Tribunal Permanente de Revisio (TPR) ¢ o drgio jurisdicional permanente, competente para julgat, em grau de recurso, as decisGes dos tribunais arbitrais ad hoc, ou para examinar questies no decididas em negociagées diplomédticas, quando as partes desejarem Ihe submeter desde logo 0 conflito que as envolva. O Tribunal Permanence de Reviséo ¢ sediado em Assungao, embora nada impeca que esse rgao se retina, excepcionalmente, em outra cidade, O Tribunal é composte por cinco drbitros, quatro dos quais indicados por cada um dos Estados-membros do MERCOSUL por um perio- do de dois anos, renovével por no maximo dois periodos consecutivos, € 0 quinto escolhido por unanimidade por estes, por um periodo de trés anos, nao renovivel, salvo acordo em contrario dos Estados membros do bloco. O funcionamento do Tribunal Permanente de Revisao é, fundamentalmente, regulado pelos artigos 17 a 24 33 a 38 do Protocolo de Olivos, pelo Regulamento do Protocolo de Olives para a Solucao de Controvérsias no MERCOSUL, objeto da Decisao 37/03 do Conselho do Mercado Comum, ¢ pelas Regras de Procedimento para o Tribunal Permanente de Revisto do Mercosul, estabelecidas pela Decisio 30/05, do Conselho Mercado Comum.* ‘Todos os arbitros devem ser nacionais dos Estados do bloco. Deverdo ser também juristas de reconhecida comperéncia nas matérias que possam ser objeto das controvérsias ¢ ter conhecimento do conjunto normative do MERCOSUL. ATENGAO: os requisitos de qualificacdo dos 4rbitros que acabamos de apresentar valem também para os rbitros dos tribunais ad hoc, ‘A controvétsia que envolver dois Estados sera apreciada por apenas trés drbitros, dois dos quais nacionais dos Estados envolvidos e um terceiro de nacionalidade diversa, relacionado por sorteio, Entrecanto, todos os drbitros atuarao quando o feito envolver trés ou mais Estados. No caso de recursos de laudos arbitrais, 0 prazo para recorrer ao Tribunal é de até quinze dias. O recurso estard limitado a questées de Direico tratadas na conteovérsia e as interpretagées juuridicas desenvolvidas no laudo do tribunal arbitral ad hoc. Com isso, 0s laudos emitidos com base nos principios ex aequo et bono nao serio suscetiveis de recurso ao Tribunal Permanente de Revis [Apés 0 recebimento do recurso, a outra parte do litigio terd até quinze dias para apresentar contestagio, prazo apés 0 qual o Tribunal ter4 trinta dias para decidir a respeito do conflito, proferindo um laudo. As deliberag6es ¢ votagées sero confidenciais, ¢ as decisoes serao tomadas por maioria. 24. Outro documento importante 6 a CMC/DEC N®23/09, que estabelece um Procedimenta para atender casos excep- clonais de urgéncia, Destacamos também a CMC/DEC N226/05 (Controvérsias originadas nos acordos de Reunites de Ministros) e a CMIC/DEC N802/12 (Atuacdo do Mercosul em controvérsias com outros paises) 1027 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIC. De acordo com o artigo 23 do Protocolo de Olivos, as partes na contravérsia, culminado © procedimento estabelecide nos artigos 4 & 5 do Protocolo em apreco, que so as negociagées, poderao acordar expressamente submeter-se diretamente e em tinica instincia ao Tribunal Per- manente de Revisio, caso em que este teri as mesmas competéncias que um Tribunal Arbitral Ad Hoc, aplicando-se, no que corresponda, os Artigos 9, 12, 13, 14, 15 ¢ 16 do Protocolo de Olivos. Nessas condig6es, os laudos do ‘Tribunal Permanente de Revisio serio obrigatérios para os Estados partes na controvérsia a partir do recebimento da respectiva notificagao, nao estardo sujeitos a recursos de revisio e teréo, com relacio as partes, forca de coisa julgada. & importante ressaltar que, de acordo com 0 artigo 24 do Protocolo de Olivos, “O Conselho do Mercado Comum poder estabelecer procedimentos especiais para atender casos excepcionais de urgéncia que possam ocasionar danos irrepariveis 4s Partes”. Tais procedimentos foram estabe- lecidos por meio da Deciséo 23/04, do Conselho Mercado Comum (Procedimento para Atender Casos Exeepcionais de Urgéncia) Cabe destacar que, de acordo com o artigo 33 do Protocolo de Olivos, “Os Estados Partes declaram reconhecer como obigatéria, ipso facto e sem necessidade de acordo especial, a jurisdi- cio dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc que em cada caso se constituam para conhecer ¢ resolver as controvérsias a que se refere o presente Protocolo, bem como a jurisdigao do Tribunal Permanente de Revisio para conhecer e resolver as controvérsias conforme as competéncias que lhe confere 0 presente Protocolo”. Nao hé, portanto, a figura da “cliusula facultativa de jurisdigao contenciosa”, que deva ser aceita pelo Estado que seja parte em procedimento na Corte de Olivos. © julgamento do Tribunal é definitive, Entretanto, € cabivel 0 chamado “Recurso de Es- clarecimento”, com efeito suspensivo, em até 15 dias apés a notificagao do laudo, com o intuito de solicicar explicagées sobre seu teor ¢ a forma de seu cumprimento. O Tribunal tem até quinze dias para pronunciar-se acerca desse recurso. A decisio do Tribunal é obrigatoria e, salvo indicagdo contriria, deve ser cumprida em até trinta dias apds a notificagao a respeito. O descumprimento do laudo permite que o Estado be- neficiado aplique, no prazo de até um ano, medidas compensatérias temporiiias, primeiramente fo setor afetado pela controvérsia. Caso tais ages se revelem impraticaveis ou ineficazes, ¢ com viscas a obter 0 cumprimento do laudo, medidas adicionais poderio atingir outros setor e incluir 2 suspensio de concessées ou de outras obrigagdes equivalentes. O Estado vencido, se entender excessivas as medidas compensat6rias aplicadas, poderd pedir, em até quinze dias depois de sua aplicagao, que o Tribunal se pronuncie a respeito em até trinta dias. Cabe destacar que as disposig6es relativas ao cumprimento do laudo e do recurso de escla- recimento também se aplicam ao laudo do tribunal arbitral ad hoe. Em qualquer fase dos procedimentos, a parte que apresentou a controvérsia poderd desistir da reclamacio, ou as partes envolvidas no caso poderéo chegar a um acordo dando-se por con- dluido 0 confito. Assim como no caso de outras cortes internacionais, 0 Tribunal Permanente de Revisio do Mercosul também pode emitir opiniées consultivas, a partir da norma do artigo 3 do proprio Protocolo de Olivos, que estabeleceu que “O Conselho do Mercado Comum poderd estabelecer mecanismos telativos & solicitagao de opinides consultivas ao ‘Tribunal Permanente de Revisio definindo seu aleance € seus procedimentos”, Tais mecanismos foram estabelecidos por meio do 1028 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, HAFTA E UNASUL. Regulamento do Protocolo de Olivos para a Solugio de Controvérsias no MERCOSUL, objeto da Deciso 37/03 do Conselho do Mercado Comum, das Regras de Procedimento para o Tri- bunal Permanente de Revisio do Mercosul, objeto da Decisio 30/05, também do Conselho do Mercado Comum”, As opinises consultivas nao tém cardter vinculante e podem set solicitadas pelos Estados-par- tes do Mercosul, pelos Srgios decisétios do bloco (Conselho Mercado Comum, Grupo Mercado Comum ¢ Comissao de Comércio do Mercosul), pelos Tribunais Superiores dos Estados membros e pelo Parlamento do MERCOSUL. © Protocolo de Olivos (arts. 39-44) permite que os particulares formalizem uma reclamagio contra um Estado membro do MERCOSUL junto & Se¢ao Nacional do Grupo Mercado Comum (GMC) do Estado onde tenham residéncia habicual ou onde estejam sediados os scus negécios. A Seco Nacional do GMC examinaré a reclamagao ¢ manterd negociagSes com a Segio Nacional do GMC do Estado do reclamado, a fim de se buscar uma solucio para 0 caso no prazo de quinze dias ou em outro lapso temporal convencionado pelas partes, seguindo o procedimento, a partir dai, as regras dos artigos 39 a 44 do Protocolo de Olivos. Cabe destacar que a conclusio do exame da reclamagéo de um particular por parte do GMC nio impede que o Estado-membro reclame na defesa do interesse desse ente privado, observando a reclamagio os termos do Protocolo de Olives. Diego Machado Pereira e Florisbal Dell’Olmo lembram que o particular conta, ainda, com outras possibilidades de acio para solucionar as controvérsias em que se envolvam no ambito do MERCOSUL, como 0 Acordo sobre Arbitragem Comercial Internacional do MERCOSUL, de 1998 (Decreto 4.719, de 04/06/2003), 0 Protocolo de Cooperacao e Assisténcia Jurisdicional em Materia Civil, Comercial, Trabalhista ¢ Administrativa (Protocolo de Las Lerias — Decreto 4.982, de 09/02/2004) e 0 procedimento de reclamagéo particular no ambito da Comissao de Comércio do MERCOSUL, quanto aos atas por esta praticados, regulado pelo artigo 21 do Protocolo de Ouro Preto. nal Arbitral ou ao Tribunal Permanente de © Protocolo de Olivos comporta a norma do artigo 54, que determina que “A adesio a0 Tratado de Assungdo significard ipso jure a adesio ao presente Protocolo” ¢ que “A dentincia do presente Protocolo significars ipso jure a denincia do Tratado de Assungio”, vinculando, portanto, a participagao no MERCOSUL ao carter de parte no Protocolo de Olivos, 2.11.1. Arbitragem no MERCOSUL A arbitragem é um dos principais mecanismos de solucio de controvérsias disponiveis no MERCOSUL, como vimos no ponto anterior, referente a0 Protocolo de Olivos. 25. Outros documentas importantes no campo da competéncia consultiva do TPR s8o a CMC/DEC N*02/07 (Regula- mento para solicitar opinides consulcivas pelos Tribunals Superiores dos Estados-partes do Mercosul) e a CMC/DEC 'N°15/10 (Prazas para emissio de opinides consultvas).. 26. MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Florisbal de Souza. Direito da integragdo, direito comunitério, Mercosul e Unido Europeia, p. 121-122. 1029 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO A arbicragem no MERCOSUL, mormente entre particulares, também é¢ realizada sob a égide de dois outros instrumentos internacionais: 0 Acordo sobre Arbitragem Comercial Internacional do MERCOSUL, de 1998 (Decreto 4.719, de 04/06/2003) ¢ o Protocolo de Cooperagao ¢ As- sisténcia Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhisca e Administrativa (Protocolo de Las Lefias), de 1992 (Decreto 4.982, de 09/02/2004). 3. UNIAO EUROPEIA Como afirma Alberto do Amaral Jiinior, “A Europa realizou, até agora, a mais ampla e bem sucedida experiéncia de integragao™™. Com efeito, a Uniao Europeia € integragao regional da atualidade. Nesse sentido, é o tinico bloco a ter avangado no sentido de estabelecer uma unio econémica e monetaria e de firmar as bases de uma integracio ainda mais profunda, evidenciadas pelo arcabouco institucional construido, que inclui érgios supranacio- nis, pela existéncia de um ordenamento comunititio e pela for europeia’. la pela doutrina como o mais bem acabado modelo de nagio do conccito de “cidadania 3.1 Histérico Aideia de integracdo europeia vai fundamentar-se em diversos fatores, dentre os quais desta- camos nfo s6 0s interesses econdmicos, mas cambém certos valores histéricos e culturais similares, de matriz greco-romana, judaico-crista ¢ iluminisca, ¢ 0 anseio de paz, em continente cuja histéria é marcada por virios conflitos armados. Hé autores que identificam as primeiras tentativas de integragao europeia em tempos distantes, como na época do Império Romano e na Idade Média, com o Sacro Império Romano-Germanico e com o Cristianismo.* O periodo entre a | ea Il Guerra Mundial registra as primeiras propostas efetivas de integragio curopeia, que culminaram com © BENELUX, bloco formado por Bélgica, Holanda ¢ Luxemburgo em 1944, que escabeleceu uma zona de live comércio e uma unio aduaneira entre os trés Estados. Logo apés a II Guerra Mundial, em 1949, foi criado o Conselho da Europa, organizacio internacional que reunia os Estados curopeus com vistas a estreitar a cooperagao no continente ¢ evitar novos conflitos armados e que atualmente visa, especificamente, a promover a democracia ca protegio dos direitos humanos ¢ do Estado de Direito. Em 1951, por meio do Tratado de Paris, foi criada a Comunidade Europeia do Carvao e do Aco (CECA) que, com o intuito de administrar a producéo de carvéo e de aco de forma a evitar danos 3 ento combalida economia europeia, criou uma autoridade supranacional para controlar as atividades econdmicas que envolviam os dois produtos. Cabe destacar que tal autoridade (a ‘Alta Aucoridade”) tinha competéncia para obrigar os Estados a seguirem as decisées tomadas pela maioria dos membros da Comunidade, Com isso, a CECA foi, para Carlos Roberto Husek, “o 27. _Analise mais deticia desses dois instrumentos encontra-se no Capitulo VI da Parte Il da presente obra. 28, AMARAL JUNIOR, Alberto do. Manual do candidato: Direito Internacional, p. 281, 29. HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional publica, p. 134. 1030 PRINCIPALS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL asso mais significativo para a Comunidade Europeia, porque os Estados iriam abdicando de uma parte de sua sobcrania pata a instituigéo comunitaria e ctiando bases comuns de desenvolvimento para diversos setores econémicos”" Faziam parte da CECA a Alemanha, a Bélgica, a Franga, a Holanda, a Itdlia ¢ Luxemburgo. Em 1957, foi assinado o Tratado de Roma (cuja denominagio oficial foi modificada para “Tratado sobre o Funcionamento da Unido Europela”), que criou a Comunidade Econdmica Europeia (CEE), com 0 objetivo de formar um mercado comum europeu. No inicio, eam mem- bros da CEE apenas a Alemanha, a Belgica, a Franca, a Holanda, a Itélia e Luxemburgo. Criou-se também a Comunidade Europeia de Energia Atomica (CEEA ou EURATOM), ampliando a cooperagio para a drca nuclear, visando seu emprego para fins pacificos. A partir da década de 60, as instituigdes europeias comegaram a unificar-se sobre a bandeira da CEE, e foi criada a Comissio Europeia, mais alta autoridade do bloco curopeu. Em 1986, 0 Ato Unico promoveu a primeira mudanca importante dos tratados do bloco integracionista europeu ¢ lancou as bases para a futura unio econdmica e moneriria. Tal pro- cesso culminou com a criagéo da Unido Europeia (UE), por meio do Tratado da Unido Europeia (Tratado de Maastricht), firmado em 1992 e que entrou em vigor a partir de 1993, tendo sido alterado pelo Tratado de Amsterdam, em 1997, ¢ pelo Tratado de Nice, de 2001. Em 01 de dezembro de 2009, entrou em vigor o Tratado de Lisboa, que aparece como alternativa A rejeicao do projeto de Constituigao Europeia e que veio a atualizar os principais tratados da Unido Europeia, sem substitui-los, razao pela qual é também chamado de “Tratado Reformador” © Tratado de Lisboa abarca, portanto, o Tratado da Unido Europeia (otiginariamente Tiatado de Maastricht, de 1992) e o Tratado sobre o Funcionamento da Uniao Europeia (originariamente conhecido como “Tratado Institutivo da Comunidade Buropeia’, de 1957)" Quadro 3. Unido Europeia: histérico (em ordem cronoldgica) > 1, BENELUX: 1944. Integraco entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo > 2, Conselho da Europa: 1949, Cooperagdo na Europa e prevencao de novos conflitos armados > 3, CECA: 1951, Orgdos supranaci +> 4, Tratado de Roma: 1957, Criagéo da Comunidade Econémica Europeia ais administram a produgdo de carvao e de aco +5. Ato Unico Europeu: 1986, Bases da unio econdmica e monetaria + 6, Tratado de Maastricht: 1992. Criagao da Unido Europela + 7. Tratado de Amsterdam (1997) e Tratado de Nice (2004): atualizac3o dos tratados europeus ante- Flores + 8. Tratado de Lisboa (2009): Tratado Reformador 30, _HUSEK, Carlos Roberto, Curso de direito internacional pdblico, p. 135-136. 31. _ Versio consolidada do Tratado de Lisboa, em lingua portuguesa, para baivar no formato PDF, encontra-se dentro da pagina acessivel pelo link chttp://bookshop.europa.eu/is-bin/INTERSHOP.enfinity/WFS/EU-Bookshop-Site/ pt_PT/-/EUR/ViewPublication-Start?PublicationKey=QC3209190>. Acesso em 13/01/2015. Inclui o Tratedo da Unido Europeia (Tratado de Maastricht), 0 Tratado sobre o Funcionamento da Unio Europeia (Tratado de Roma) @, também, a Carta dos Dircitos Fundamentals da Unido Europeia 1031 PARTE IV ~ DIREITO COMUNITARIO 3.2 Composigio ‘Atualmente, a Unio Europeia tem vinte e sete Estados-membros, os quais, a partir do Tratado de Lisboa, passam a contar claramente com a possihilidade de se retirar da Unido, o que antes nao era reconhecido explicitamente por nenhum outro compromisso internacional. 3.3 Estrutura institucional Sio seis os principais érgaos da Uniao Europeia (UE): o Conselho Europeu, o Conselho (cambém conhecido como “Conselho da Unido Europeia” ou ““Conselho de Ministros”), 0 Par- lamento Europeu, a Comissao Europeia, o Tribunal de Justica da Uniao Europeia (“Tribunal de Justica”) e o Tribunal de Contas. O Consclho Europeu € 0 érgio de ciipula da UE, competente para definir os principais obje- tivos da Unido e as grandes metas e diretrizes do bloco, nao exercendo, porém, fungéo legislativa. O Conselho Europeu € composto pelos Chefes de Estado e de Governo e pelos ministros das Relagoes Exteriores dos Estados-membros, pelo Presidence da Comissao Europeia e, quando pettinente, pelos ministros da Economia ¢ das Finangas. Deve reunir-se duas vezes por semestre, em carater ordinério, por convocagao de scu Presidente, podendo haver reuniées extraordinarias sempre que necessirio, Salvo disposigao em contrario, constante de tratados, 0 Conselho Europeu pronuncia-se por consenso. © Conselho Europeu ¢ liderado pelo Presidente do Conselho Europeu, cargo criado pelo Tratado de Lisboa, devendo seu tivular ser eleito pelo proprio Conselho Europeu para um mandato de dois anos e meio, renoviivel. O Presidente do Conselho Europeu é competente pata conduzir os trabalhos desse érgao € assegurar sua preparagao e continuidade, facilitar a coesio e 0 consenso no ambito do Conselho Europeu ¢ apresentar ao Parlamento Europeu um relatério apés cada uma de suas reuniées, E também encarregado da representagio externa da Unido nas matézias do ambito da politica externa e de seguranga comum. A propésito, o Tratado de Lisboa criou também 0 cargo de Alco Representante para os Negécios Estrangeiros ¢ a Politica de Seguranca, encarregado de promover os interesses ¢ valores comuns aos Estados-membros do bloco europeu em sua relacdo com outras partes do mundo. O titular do cargo é igualmente Vice-Presidente da Comissio Europeia ¢ preside o Conselho dos Negécios Estrangeiros. ATENGAO: é muito importante nao confundir o Conselho Europeu, érgio da Unido Europeia, | com o Conselho da Europa, organismo internacional fundado em 1949 com o objetivo m: 1 promover a democracia ¢ a protecdo dos direitos humanos e do Estado de Direito no continente | europeu. Conta 0 Conselho da Europa com quarenta e sete Estadios-membrose ésediadoemEs- 1 trasburgo (Fran¢a). Foi dentro de seu Ambito que foi colebrada a Convencao Europeia de Direitos | 1 de Humanos, e a Corte Europeia de Direitos Humanos é um érgdo de sua estrutura. © Conselho da Unio Europeia (Conselho de Ministros), que a partir do Tratado de Lisboa também passou a ser designado simplesmente como “Conselho” é 0 érgio competente para defi- nic-as principais politicas da instituicao, porém com escopo menor do que o Conselho Europeu. Dentre suas incumbéncias estéo a coordenagio das politicas monetarias internas ¢ a participacio no processo legislative comunitério. E composto por um representante de cada Estado-Membro 1032 PRINCIPAIS BLOCOS REGIOWAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: NERCOSUL, UNIAD EUROPEIA, NAFTA E UNASUL 20 nivel ministerial, com poderes para vincular o Governo do respectivo Estado-Membro e exercer 0 direito de voto. Cabe destacar que tais auroridades sio representantes dos Estados, indicados por estes e, nesse sentido, o Conselho da Unido Europcia ¢ considerado um foro de representagio dos interesses estatais, nao dos cidadaos europeus. © Conselho de Ministros é presidido rotativamente, por um perfodo de seis meses, por um Estado que, durante esse periodo, preside 2 Unio Europeia, Retine-se periodicamente a pedido de seu presidente, da Comissao Europcia ou de algum de seus membros, em Bruxelas ou em Lu- xemburgo. As deliberaces dentro de seu Ambito sfo tomadas por maioria, salvo previsto diversa. © Parlamento Europeu ¢ sediado em Estrasburgo (Franca). Nos termos do Tratado de Lisboa, deve ser composto por, no maximo, 751 (setecentos e cinquenta e um) deputados, af incluido seu Presidente, cleitos por sufrigio universal pelos cidaddos dos Estados-membros da UE para um mandato de cinco anos, © numero de deputados por Estado é proporcional a suas respectivas populagdes. Cabe ressaltar que os parlamentares reptesentam as populagSes, € nao os Estados. Para o exercicio de suas fungées, os chamados “eurodeputados” gozam de imunidade parlamentar. © Parlamento tem fangées legislativas, podendo participar da claboragéo de normas co- munitétias, manifestar-se previamente sobre propostas da Comissio Europeia ¢ do Conselho de Ministros e sobre a conclusio de atos internacionais pela UE. © Parlamento Europeu retine também fungées de controle sobre, por exemplo, as fiungoes da Comissio Europeia e do Conselho Europeu. Ainda no campo do controle, o Parlamento tem poderes para ouvir membros da Comissio Furopeia ¢ do Conselho Europeu ¢ para apreciar 0 relat6rio geral de atividades apresentado periodicamente pela Comissio. Ademais, pode aprovar a partir de proposta de pelo menos um décimo dos deputados e pelo voto favorivel de dois tergos de seus membros, mogao de censura aos membros da Comissio, o que levaria a demissio coletiva dos comissiondtios. Por fim, & também competente para aprovar 0 orgamento da Unio, elaborado pelo Conselho, ¢ para controlar sua aplicagao. A propésito do Parlamento Enropeu, 0 Tratado de Lisboa criou um mecanismo de parti- cipagio direta da sociedade europeia na comada de decisées dentro do bloco, permitindo que tum grupo de pelo menos um milhao de cidadaos da Uniéo Europeia, nacionais de um nfimero significativo de Estados-Membros, solicite diretamente & Comissio Europeia que apresente uma proposta sobre uma macéria relativa & qual os cidadios europeus entendam que seja necessério um ato legislativo comunitério. A Comissio Europeia, sediada em Bruxelas, € um érgio executivo que visa a defender os interesses comunitérios. Pretende, assim, garantir o bom funcionamento do mercado comum e garantir o cumptimento dos trarados celebrados e das decis6es proferidas dentro dos érgios do bloco. £ ainda competente para administrar fundos ¢ programas comunitérios, executar as pol ticas da UE e propor ao Conselho de Ministros e a0 Conselho Europeu as medidas que entenda necessirias para o desenvolvimento das atividades do bloco. Por fim, é a representance da UF nas relagdes com os Estados-membros do bloco e cuida das negociacées com outras organizacoes internacionais. ‘A Comissio Europeia é dirigida por um Presidente, escolhido pelos Estados-membros da Uniio 1 por por unanimidade, com aprovagio do Parlamento Europeu, e formada por mais trinta comissérios, funciondrios da estrutura comunitdria que, nesse sentido, devem atuar com independéncia em q Ps 1033 PARTE IY ~ DIREITO COMUNITARIO relacéo aos Estados dos quais séo nacionais, dos quais nao podem receber instrucées. As deliberacées dentro da Comisséo sio tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros. O Tribunal de Contas é encarregado de controlar a execugdo orcamentaria da UE. Tem sede em Luxemburgo e é composto por quinze membros, cam mandatos de seis anos, renovaveis por igual periodo. Os membros do ‘Tribunal devem atuar com independéncia em relacio a seus Estados de origem, ndo podendo agir segundo instrugées destes, ¢ sav inamoviveis, néo podendo ser removidos de suas fung6es antes do fim do mandato. O Tribunal deve também informar ao Parlamento ¢ ao Conselho de Ministros sobre a legilidade das despesas feitas pelos érgaos da cstrutura da UE e prepatar relatério anual sobre a movimentagao financcira dentro do bloco, que é encaminhado aos érgios comunititios. Pode, por fim, elaborar parecetes sobre questoes que Ihe sejam pertinentes, O Tribunal de Justiga da Unido Europeia (Tribunal de Justica) é 6rgao jurisdicional petma- nente, encarregado da aplicagao e interpretagao das normas do Direito Comunitétio europeu em qualquer matéria, com vistas a conferir-lhes certa uniformidade em sua interpretagio aplicacio nos Estados? O Tribunal de Justica da Uniao Furopeia é orgio de siltima instncia e, a exemplo das cortes internas, suas decisocs sao obrigatérias. E também o “principal 6rgio jurisdicional supranacional do sistema judicial de solugao de controvérsias da UE”. Tribunal é composto por um juiz de cada Fstado que integra a UE Os magistrados co- munitérios devem atuar de mancira independence em relaggo aos Estados de origem ¢ devem ser imparciais. So nomeados para mandatos de seis anos, renovveis pot igual perfodo. Gozam, ainda, de imunidadc de jurisdigao no cocante a atos realizados no exercicio de suas fungées, a qual perdura mesmo apés seu término, O Tribunal de Justica é também composto por oito advogados-ger com a funcao de assistir a esse érgdo jurisdicional, cabendo-lhes especificamente “apresentar, publicamente, com imparcialidade c independéncia, conclusoes fundamentadas sobre as causas que, nos termos do Estatuto do Tribunal de Justica da Unido Europeia, exijam sua intervencao”™, is, Podem tecorrer ao Tribunal de Justica os Estados-membros, 0 Conselho de Ministros, a Comissio Europeia e as demais instituigdes europeias, bem como os particulates, pessoas naturais ou juridicas.» Tribunal de Justica possui competéncia contenciosa ¢ consultiva, emitindo, portanto, decisdes judiciais na forma de sentengas (“acérdaos”) e decisdes interlocutérias, por um kado, ¢ pareceres, por outro, Essas devises € os pareceres, a0 lado das conclusées das advogados gerais, sio as fontes da jurisprudéncia comunitéria 32, 0 Tribunal de Justiga da Unio Europela & regido pelos artigos 251 a 281 do Tratado sobre o Funcionamento da Unido Europeie, bem coma pelo Protocols Relative ao Estatuto do Tribunal de Justica da Unido Europeia e pelo Regulamento de Proceso do Tribunal de Justica da Unido Europea, 33. A respeito; MACHADO, Diego Pereira; DEL'OLMO, Floristal de Souza, Direito da integracio, dlreito comunitério, ‘Mercosul e Unio Europeia, p. 159. 34. MACHADO, Diego Pereira; DELOLMO, Florishal de Souza. Direlto da integracéa, dircito comunitdrio, Mercosul Unido Europeia, p. 158. 35. _Arespeito, Diego Pereira Machado ¢ Florisbal de Souza Del’ Olmo afirmam que “Vigora no tribunal comunitério uma ampla acessibilidede jurisdicional”. MACHADO, Diego Perelra; DEL'DLMO, Florisbal de Souza, Direito de integracéo, direito comunitéria, Mercosul e Unige Europeis, . 159. 1034 PRINCIPAIS BLOCOS REGIONAIS DE INTERESSE PARA O BRASIL: MERCOSUL, UNIAO EUROPEIA, NAFTA E UNASUL O Tribunal de Justica conta com ampla competéncia, regulada entee os artigos 262 a 273 ¢ 275 do Tratado sobre o Funcionamento da Uniao Europeia. Entretanto, nao conta com com- peténcia no tocante as disposicées relativas 3 politica externa ¢ de seguranga comum, nem no que diz respcito aos atos adoptados com base nessas disposig6es. © Tribunal de Justica da Uniso Europeia tampouco é competente para fiscalizar a validade ou a proporcionalidade de operages efetuadas pelos servicos de policia ou por outros servicos responsaveis pela aplicagao da lei num Estado-Membro, nem para decidir sobre o exercicio das responsabilidades que incumbem aos Estados-Membros em matéria de manutengio da ordem publica e de garantia da seguranca interna. Por outro lado, 0 Tribunal de Justica nfo pode se manifestar sobre questées de interesse exclusivo de um Estado-membro, embora possa atuar quando os Estados violem tratados da UE. Por fim, o Tribunal nao é considerado uma inscincia recursal das cortes nacionais, ainda que estas decidam contrariamente ao Direito Comunitirio, embora possa ser, obviamente, acionada pelos nana ser acio~ prejudicados pelo descumprimento de uma norma comunitéria, Pode, ainda, oT nado pelos drgios judiciais de maneira prejudicial, por mcio do instituto do “reenvio prejudicial”, O “teenvio prejudicial” insticuto peculiar do Direito Comunitério, por meio do qual 0 “Tribunal de Justica procura uniformizar a interpretacao ¢ aplicacio das normas comunitérias pelas cortes nacionais. Mais precisamente, o reenvio prejudicial refere-se 4 comperéncia do Tribunal de Justica para decidir, a titulo prejudicial, acerca da interpretacao dos tratados e sobre a validade a interpretagdo dos atos adotados pelas instituigées érgios ou organismos da UE. Sempre que uma questo desta natureza seja suscitada perante qualquer 6rgao jurisdicional de um dos Estados-Membros, esse érgio pode, se considerar que uma deciséo sobre essa questio & necessétia ao julgamento da causa, pedir 20 Tribunal que sobre ela se pronuncie, Entretanto, sempre que uma questio desta natureza seja suscitada em proceso pendente perante um 6r- gio jurisdicional nacional cujas decis6es néo sejam susceptiveis de recurso judicial previsto no direita interno, esse drgio é obrigado a submeter a quest4o ao Tribunal. Cabe destacar que, se uma questo desta natureza for suscitada em processo pendente perante um érgio jurisdicional nacional relativamente a uma pessoa que se encontre detida, o Tribunal pronunciar-se-d com @ maior brevidade posstvel.. Uma deciséo tomada em sede de reenvio prejudicial ¢ vinculante “nao sé para a jurisdigao nacional que tenha estado na origem do processo de reenvio prejudicial, mas, ainda, para rodas as jurisdig6es nacionais dos Estados-Membros",” tendo, ainda, efeito de coisa julgada. No caso de «um processo de reenvio prejudicial acerca da validade de um ato europeu, “se este for declarado invilido, também 0 sero todos os outros atos jd adotados que nele se baseiem, As instituigées europcias competentes deverio, entio, adotar um novo ato para ultrapassar a situagia”™ 36. Arespeito do reenvio prejudicial, vero artigo 267 do Tratado sobre o Funcionamento da Unio Eurspeia. 37. Texto interessante acerca do instituto em apreco encontra-se no texto “Reenvio prejudicial’, parte do portal EUR-Lex — acesso a0 alireito da Unido Europela. Disponivel em . Acesso em 13/01/2015. 38, UNIO EUROPEIA. EUR- Lex ~ acesso ao direito de Unido Europeia. Reenvio prejudicial. Disponivel em . Acesso em 13/01/2015 Trata-se de mesmo texto mencionade na neta de rodapé anterior. 1035

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