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PARTE Ill ~ DIREIT HUMANOS Gabarito Tépicos do Fund 5 Icidativa sn 96 ‘undamentaco cenitate, | Eventual observagao ol A Declaragio de Viena consagra 8 18 | & | Declaracdo de Viena, art. 5 110 | indivisivitidade dos direitos huma- nos £ importante notar que o conceito . de discriminacéo racial néo se res- ConvencSo sobre a climinagao de ; “ 19 | ¢ | todas as formas de Discriminacso| 1.6 | tinge @ discriminagéo fundamen- meee tada unicamente na raga, mas tam: Racial, art. 1, par. 1 : j bém na cor, na origem étnica ou na origem nacional 0 direito 20 trabalho é amplamente 20 | | Facto dos Direltos Econémicos, So-| 44 | regulado no Pacto dos Direitos Eco- ciais e Culturais, ats. 6-10 P némicos, Sociais e Culturais A Carta das NagSes Unidas no sé cria a ONU, mas também atribui aos Estados que dela fazem parte e aos 6rgéos de sua estrutura o papel de velarem pela protecdo e promocio af |B | Sacedas Nosbes Unides 14 | desses direitos, estabelecendo, ain- da, que a tutela da dignidade hu- mana é tema prioritério da ordem internacional e fundamento da con- vivencla entre os povos Declaraco Universal dos Direitos c 12 = ae Humanos, art. 10 interessante notar que a Convencao 169 & pouco especifica no tocante . a0s direitos trabalhistas dos povos 23 | © | Comvencado 16940 01 arts.2021 | 1.14.2 | 7" INO nt eo com uma série de outros direitos das comunidades tradicionais 0 conceito em aprego corresponde ; 4 nogio de pessoa com deficiéncia, ° 24 | © | Convencao de Nova lorque, art. 1 iat | Eoune denote teucnae vied to Internacional | Ainda é comum que 2 Declaractio as | ¢ | Declaracdo Universal dos Direitos| | Universal dos Direitos Humanos seja Humanos chamada de "Declaracdo Universal dos Direltos do Homer” a) Pacto dos Direltos Civis e Poli os, art. 1; Pacto dos Direitos Eco- E certo que o direito a autodetermi- 26 |p | Nomicos, Sociais © Culturais, art. 1; | 1.4, 1.2e | nagdo inclula definigao do estatuto Resolucéo 2625 da AGONUe; Decla-| 114.1 | politico de um povo, mas ndo inclul racio das Nages Unidas sobre os o direito a secessdo Direltos dos Povos Indigenas, art. 46 902 SISTEMA GLOBAL DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS (ONU) Gabarito Tépicos do : Fund: A i Rel undamentacdo capitulo | Eventual observacio elucidativa Nao ha previsto na Declaracao de 1 tars tas Nagle UmNaN imunidade das comunidades indi- “ 114.1 | genas frente as autoridades dos bre os Direitos dos Povos Indigenas 5 Estados em cujos territérios se en- contrem No hd previsSo na Declaragdo de 26 indi d © | c)Dectaragdio das Nacbes Unidas so- que os Ind/genas restem isentos de 1.14.1 | cumprir obrigagBes impostas indis- bre os Direitos dos Povos Indigenas Bias 2 tintamente aos cidad&os do pais onde estejam d) Declaracao das Nagées Unidas so- bre os Direitos dos Povos indigenas, | 1.14.1 - art. 46 a} Pacto dos Direitos Civis e Politi-| | © Comité nao poderd ter mais de cos, art. 31, par. 1 ; um nacional de um mesmo estado i ‘ © processamento da comunicacio b) Pacto dos Di iti PARISON ERE 2.3.1 | depende da anuéncia prévia do Es- cos, art. 41, par. 1 tado-parte «] Pacto dos Direitos Civis e Polit], | Omandato dos membros do Comité cos, art. 32, par. 1 " 6 de quatro anos a|D - 4) Pacto dos Direitos Civis e Polit-| 55 - cos, art. 40, par. 1 ” Os integrantes do Comité exercerao suas fungées a titulo pessoal e ndo @) Pacto dos Direitos Civis e Polit-| | sero, portanto, representantes dos cos, art. 28, par. 3 Estados dos quais $80 nacionais ou que apoiaram sua candidatura a0 Comité a) Convengao Internacional contra a Tratados voltados a defender gru- Discriminacao contra as Mulherese | 1.7 __| pos especificos também podem ser doutrina tratados de direitos humanos b) Convengdo Internacional contra a Discriminago contra as Mulherese | 1.7 : Protocolo Facultativo 2 | 8B " ¢) Convenga0 Internacional contra 3 as aces drnativas so tempor Discriminago contra as Mulheres,| 1.7 | art. 4 oO de peticdes individu- d) Convenco Internacional contraa > macanismo de patigtes individu : ais é previsto pelo Protocolo, e ape- Discriminago contra as Mulherese | 1.7 nas Estados-partes deste podem Protocolo Facultativo emprega-lo 903 PARTE DIREITO HUMANS Gabarito 2 Topicos do oe al Fundamentacao. capitulo | ventual observacdo elucidativa a) Pacto dos Direitos Civis e Poli- Olineuaiienis daspreteneEee ae ticos, art. 40, e Pacto dos Direitos 231¢e Pr ‘a i relatérios por parte dos Estados é Econémicos, Sociaise Culturais, art.| 2.3.2 te previsto nos dois tratades b) Pacto dos Direitos Civis e Politicos e respectivo Protocolo Adicional e 23.1e Nao hé previsdo de um mecanismo Pacto dos Direitos Econdmicos, So- 2.3.2 do tipo nesses tratados 29 | Aa | ciaise Culturais | ¢) Protocolo Adicional ao Pacto dos Aelaboracdo de peticdes nao é pre- | Direitos Civis e Politicos e Pacto dos | 2.3.1e | vistano Pacto dos Direitos Econémi- Direitos Econdmicos, Sociais e Cul-| 2.3.2‘ cos. Outrossim, a petiggo devera ser turais elaborada pela vitima da violagdo d) Pacto dos Direitos Civis Politicos, aaie O relatério deverd ser elaborado art. 40, e Pacto dos Direitos Econé- > pelo préprio Estado a ser examina- 2.3.2 micos, Sociais e Culturais, art. 16 do i) Convengdo 169 da OMT, art.27, par] 4 a4 9 . 1 Sempre que for vidvel, dever-se-d en- sinar 8s criangas dos povos interessa- dos a ler e escrever na sua prépria lingua indigena ou na lingua mais co- Il) Convengao 169 da OIT, art. 28, mumente falada no grupo a que per 1.14.2 par. 1 tencam. Quando isso nao for viavel, 30 D a8 autoridades competentes deve- ro efetuar consultas com esses po- vos com vistas a se adotar medidas que permitam atingir esse objetivo Deve ser evitada a discriminacao Ill) Convencao 169 da OIT, arts. 20 dos individuos pertencentes as co- 114.2 e23 munidades tradicionais no universo laboral | Declaragao Universal dos Direitos . 3t | © | Humanos, art. 42 a a 32 E | Pacto dos Direitos Civis, art. 8, par.2 13 Tabipeatlea iso eentguta trate forgado Conven¢do sobre os Direitos da 1 2 8 € Crianga, arts. 32 ¢ 33 2 Para os fins da Convengao, pessoas com deficiéncia sao “aquelas que tém impedimentos de longo prazo Conven¢go Internacional sobre os de natureza fisica, mental, intelectu- 34 € | Direitos das Pessoas com Deficién- 113 al ou sensorial, os quais, em intera- cla (Convengao de Nova loraue} gio com diversas barreiras, podem obstruir sua participacio plena e efe- tiva na sociedade em igualdades de condigdes com as demais pessoas” 904 SISTEMA GLOBAL DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS (OMU) Fundamentacao Tépicos do capitulo Eventual observacao elucidativa Pacto dos Direitos Econdmicos, So- ciais e Culturais, art. 2, par. 19 14 Cada estado-parte no presente Pac- to compromete-se 2 adotar medidas, tanto por esforo préprio como pela assisténcia e cooperago internacio- nais, principalmente nos planos eco- némico e técnico, até o maximo de seus recursos disponiveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriades, o pleno exercicio dos direitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particu- lar, a adogao de medidas legislativas Pacto dos Direitas Civis e Politicos, arts. 19 20 13 direito a liberdade de expresso deve ser limitado por lei, com vistas a: assegurar 0 respeito dos direitos e da reputactio das demais pessoas; prote- ger a seguranga nacional, a ordem, a satide ou a moral pablicas; e proibir a propaganda de guerra e a apologia ao 6dio nacional, racial ou religioso, que constitua incitamento & discrimina- $80, a hostilidade ou & violéncia Convengo Internacional sobre a Eli nacao de todas as Formas de Discris nagéo contra a Mulher, art. 18, par. 42 16 Declaragdo Universal dos Humanos e doutrina 21 Resolug3o 60/251 da Assembleia Geral da ONU 2.2 © voto para a eleicdo dos mem- bros do Conselho de Direitos Hu- manos continua sendo secreto Pacto Internacional dos Direitos Econd- micos, Sociais ¢ Cultura, art_7, “0” | 14 Pacto Internacional dos Direitos Econé- micos, Sociais e Culturais, art. 7, “b", | 1.4 direito a um nivel de vide adequa- do dirige-se a todas as pessoas Gabarito oficial as | £ 36 | £ 37 | ¢ 38 | c 39 | £ ao | ¢ a |e a2 | 0 a) Convenco Internacional sobre a Eliminagao de Todas as Formas de Discriminacao Racial, art. 5, “b” 1.6 b) Convengo Internacional sobre a Eliminago de Todas as Formas de Discriminacao Racial, art. 5, “b” 16 ©) Convengiio Internacional sobre a Eliminag3o de Todas as Formas de Discriminaco Racial, art. 5, "b” 1.6 4) Convencao Internacional sobre a Eliminag3o de Todas as Formas de Discriminaco Racial, art. 5, "b” 16 905 CAPITULO IV SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS 1. OS SISTEMAS REGIONAIS DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS Os sistemas regionais de protecéo internacional dos direitos humanos sio esquemas de pro- mogio da dignidade humana que redinem apenas certos Estados, localizados em determinadas partes do mundo, objetivo dos sistemas regionais é reforcar a estrutura internacional para a protegio dos direitos humanos por meio da associago entre entes estatais que retinem maiores afinidades entre si, o que facilitaria 0 consenso ao redor de interesses comuns ¢ a aplicagio das normas quie esses mesmos Estados elaboraram, bem como fortaleceria a tutela de valores importantes apenas em algumas regides do mundo. A doutrina indica como principais artanjos regionais de protegio dos direitos humanos 0 Sistema Africano, 0 Europeu ¢ 0 Interamericano. 1.1 O sistema interamericano Dentro deste livro, examinaremos mais detidamente o sistema interamericano de direitos humanos, que se aplica aos Estados das Américas e, portanto, ao Brasil’. O sistema interamericano é administrado pela Organizagao dos Estados Americanos (OEA) © € composto por tratados voltados & promogio da dignidade humana ¢ por érgios competentes para monitorar e exigit o cumprimento desses compromissos, dentre os quais s¢ destacam a Comissao Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. 2. SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS E SEUS PRINCIPAIS TRATADOS © principal tratado do sistema interamericano a Convengio Americana de Direitos Huma- nos (“Pacto de Sao José” ou “Pacto de Sao José da Costa Rica”), de 1969, Entretanto, a formacio do arcabouco jurfdico de protesao & dignidade humana nas Américas iniciou-se em 1948, com a celebragio da Carta da OEA e a proclamagao da Declaragéo Americana dos Direitos e Deveres do Homem. 1 Para um estudo aprofundado das sistemas regionais, mormente o Europeu ¢ o Africano, ver: PIOVESAN, Flavia, Direitos humans e justica internacional, p. 63-165. 907 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANOS. 2.1 Carta da OEA e Declaracéo Americana dos Direitos e Deveres do Homem A Carta da Organizacao dos Estados Americanos (Carta da OEA) é 0 tratado que criou essa entidade, Foi firmada em 1948 (Decreto 30.544, de 14/02/1952) Embora a Carta da OFA nao consagre expressamente a promogao dos direitos humanos como. um dos objetivos principais daquele organismo internacional, estabelece que um dos prineipios que orienta a atividade da entidade é 0 de que “Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa humana, sem fazer distingio de raga, nacionalidade, credo ou sexo” (art. 3, letra “I"). Além disso, a Carta prevé a criagdo de uma “Comissao Interamericana de Direitos Humanos” (art. 106), com a fungao principal de promover 0 respeito € a defesa dos direitos humanos nas Américas e que, cabe ressaltar, viria a ser criada em 1969, pelo Pacto de Sao José. A Declaragao Americana dos Direitos ¢ Deveres do Homem foi aprovada pela Resolucio XXX, proferida na IX Conferéncia Internacional Americana, em Bogoté, em abril de 1948. Embora seja uma mera resolugao nao vinculante, a Declaragao é considetada 0 marco inicial da construgao do ema interamericano. A Declaragéo Americana divide-se em dois eapitulos: 1 — Dircitos (arts, -XXVIID; ¢ 2—De- XXDCXXVIL). A propésito, a Declaragio atribui aos deveres énfase incomum dentro. veres (arts do Direito Internacional dos Direitos Humanos, 0 que fica evidente logo em seu Preambulo, quando os Estados lembram que os individuos “devem proceder fraternalmente uns para com os e deveres. A Declaragio consagra ainda os outros” ¢ aludem a estreita correlagao entre dir expressamente outras exigéncias que, em todo caso, so compativeis com a maioria das normas internacionais de direitos humanos, como o dever de a pessoa conviver com os demais, de maneira que todos possam formar e desenvolver integralmente a sua personalidade, ¢ a obrigacdo dos pais de cuidar dos filhos menores. No tocante aos direitos, a Declaragio Americana repete, em linhas gerais, 0 contetdo da Declaras0 Universal dos Direitos Humanos. | ATENCAO: recordamos que o emprego do termo “homem” como alusivo a todos os membros da 1 espécie humana é atualmente inadequado, em vista da igualdade de género, consagrada dentro 1 1 dos préprios tratados de direitos humanos. 2.2 Convengéo Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de Sao José) A Convengao Americana sobre Direitos Humanos, também conhecida como “Pacto de Sao José”, foi celebrada em San José, capital da Costa Rica, cm 1969, ¢ promulgada no Brasil pelo Deereto 678, de 06/11/1992, mesmo ano em queo Estado brasileiro a ratificou. © Pacto de Sao José define pessoa como “todo ser humano” e estabelece a obrigago de os Estados garantirem os direitos consagrados em seu texto a todos os individuos que vivern sob sua gi B w jurisdi¢ao, sem distingao de qualquer espécie, inclusive de nacionalidade, o que inclui o dever estatal de adotar as disposigées de Dircito interno cabiveis ¢ de preven ; investigar e punir violagoes de 908 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEGKO DOS DIREITOS HUN ANOS direitos humanos, como ficou evidenciado no julgamento, pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, do caso Velazquez Rodriguez X Honduras’. O Pacto consagra o direito 4 vida, “em geral desde o momento da concepgao” (art. 4) e, portanto, protbe 0 aborto, pelo menos em principio. Cabe destacar, nesse ponto, que, com fulcro no Pacto de Sao José, 0 direito a vida foi quali- ficado pelo ST] como “o maior € mais importante de todos os direitos do ser humano”?. Entretanto, 0 Pacto néo proibe a pena de morte, embora vede seu restabelecimento nos Estados onde tenha sido abolida. Quando permitida, a pena de morte sé poderd ser imposta por conta de delitos mais graves, em decorréncia de sentenca transitada em julgado ¢ prolatada por tribunal competente, respeitados os principios da anterioridade ¢ irrctroatividade da lei penal. A pena de morte nao poderd ser imposta por crimes politicos, conexos ou nao a delitos comuns, a mulheres gravidas ou por ilicitos cometidos antes dos 18 anos. © condenado pode pedir anistia, indulto ou comutagio da pena, a qual néo pode ser executada antes de tais pleitos serem objeto de decisao final. ‘A Convengio estabelece regras relativas ao sistema prisional, que deve estar voltado essen- cialmente para a “teforma e a readaptaco social dos condenados”. Os presos deverdo set tratados de acordo com a dignidade que lhes é inerente, estando vedada a tortura. Deverio ser recolhidos separadamente os presos processados e os condenados, bem como os detentos adultos ¢ os jovens (att. 5). ‘As normas sobre trabalhos forcados repetem o teor do artigo 8 do Pacto dos Direitos Civis e Politicos, acrescentando apenas a vedacio do trifico de mulheres ¢ a proibi¢ao de que presos, de quem scjam exigidas atividades laborais, sejam postos & disposicéo de particulares, companhias ‘ou pessoas juridicas de carater privado (art. 6) Entre os artigos 7 € 10, 2 Convengao consagra direitos relativos a liberdade e a6 processo judicial. No artigo 7, o Pacto de Sao José proihe também a prisao por divida, exceto as detengoes “em virtude de inadimplemento de obrigagao alimentar” (art. 7). {_ ATENCAO: 0 Pacto de So José permite a priséo por 1 ira s6 admite tal forma de detenco no caso de | einescusavel de obrigacao alimenticia”. O Pacto, porém, nao permite a pristio do depositario 1 infie!, possibilidade que parte da doutrina e da jurisprudéncia ainda entendia existente até re- t t i ida de pensdo alimenticia, ao passo que a ‘adimplemento voluntar centemente, com fulcro na prépria Carta Magna (CF, art. 58, LXVIl) e no Cédigo Civil (art. 652), 2 patria (Simula Vinculante 25 e Stimula mas que foi recentemente eliminada da ordem juric 419 do ST). 2 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Velasquez Rodriguez X Honduras, Séo José, 26,jun.87. Disponivel em: . Acesso em: 04/02/2015. 3. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Tercera Sessdo, |DC 1/PA. Relator: Min. Arnaldo Esteves, Brasilia, OF, 08,jun.05, I 10.10.2005, p. 217. In verbis: “Todo homicidio doloso, independentement= da condicéo pessoal da vitima ¢/ou dda repercussao do fato no cendrio nacional ou internacional, representa grave violacdo 20 maior e mais importante de todos os direitos do ser humano, que é 0 direito a vida, previsto no art. 42, n? 1, da Convengio Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatério por forga do Decreto n? 678, de 6/11/1992" 909 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANS As garantias judiciais, que examinamos no Capitulo XV da Parte I desta obra, encontram-se consagradas entre os artigos 8 ¢ 10 ¢ incluem o direito ao julgamento dentro de um prazo razod- vel, a imparcialidade dos drgios julgadores, a igualdade das partes, a presuncao de inocéncia, a publicidade dos atos processuais, o concraditério ¢ a ampla defesa, o direito a recorrer da sentenga para juiz ou tribunal superior (dircito ao duplo grau de jurisdicao), 0 principio da legalidade ea irretroatividade da lei penal (salvo em beneficio do réu). Por fim, a vitima de erro judicidrio tem direito a indenizacao. Cabe destacar que, dentre codas essas garancias, apenas o direico a recorrer da sentenga para juiz ou tribunal superior (art. 8, par. 2°, *h”) nao encontra correspondente dentro do texto da Constituigio Federal. A respeito, o STF entendeu que tal garantia é parte da nogao de garantia do devido processo legal e “consubstancia direito que se enconura incorporado ao sistema pitrio de dircitos c garantias fundamentais’, prevalecendo sobre o artigo 594, do CPP. Entretanto, dentro desse mesmo julgado, o Pretério Excelso expressa 0 entendimento de que o direito ao duplo grau de jurisdigao ainda nao se reveste de dignidade constitucional’. No tocante & garantia do devido processo legal, 0 Pacto de Sao José foi expressamente aplicado em julgamento proferido pelo STF em 2012, em caso envolvendo réu militar, em sede de habeas corpus, quando ficou estatuido que “O diteito de audiéncia, de um lado, € © direito de presenga do réu, de outro, esteja ele preso ou nao, traduzem prerrogativas juridicas essenciais que derivam da garantia constitucional do due process of law e que asseguram, por isso mesmo, a0 acusado, 0 diteito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante 0 juizo pro- cessante, ainda que situado este em local diverso daquele da sede da Organizagao Militar a que 0 réu esteja vinculado. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Politicos/ONU (Attigo 14, n® 3, “d”). Convengao Americana de Dircitos Humanos/OEA (Artigo 8°, § 2° “d” e “f") e Decreto n° 4,307/2002 (art. 28, inciso I)*. O STF jé deixou claro que o principio da presungdo de inocéncia consagrado no artigo 7, par. 2, do Pacto de Sio José néo ¢ incompativel com “os diversos instrumentos de tutela cautelar penal postos a disposigao do Pader Piiblico”*. Nos artigos 11 @ 16 ¢ 22, 0 Pacto de Sia José tutcla, em termos muito semelhantes aos encontrados no Pacto dos Direitos Civis e Politicos, a protecio da vida privada e os direitos & liberdade religiosa, de pensamento e de consciéneia, de expressio, de reuniao € de associaga0, a0 asilo c & liberdade de circulacao. Newses temas, as peculiaridades do Pacto de Sio José incluem, por exemplo, a norma do artigo 13, reference a liberdade de expresso, que proibe a censura prévia, exceto com o objetivo exclusive 4 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Primelca Turma, HC 88.420/PR. Relator: Min, Ricardo Lewandowski. Brasfia, DF, 17 abr. 07. Dle-032. O inteiro teor do artigo 594 do CPP é: “O réu nao poderé apelar sem recolher-se a pris, ou prestar flanga, salvo se for primério e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentenca condenatéria, ou condenado por crime de que se livre soto’. 5S SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo 674. Brasilia, DF, 6 a 10 de agosto de 2012. Processo: HC 98.676/PA. Relator: Min, Celso de Mello. O tema foi novamente objeto de atencéo pelo STF no julgamento do HC 111.587/ ‘AM (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Informativo 752. Brasilia, DE 23 de junho a 12 de julho de 2014. Processo: HC 111,567/AM, Relator: Min, Celso de Mello, Julgado em 06/03/2014). 6 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 666. Brasilia, 14 4 18 dle maio de 2012, Processo: HC 112071 MIC/SP. Relator: Min, Colso de Mello, 910 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEGAO DOS DIREITOS HUMANOS de promover a “protegao moral da infancia e da adolescéncia®. Vedam-se também restrigdes & liberdade de expressio por meios indirecos, como 0 abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequéncias, equipamentos ¢ aparellos usados na difusio de informagio. O artigo 14 prevé que a pessoa atingida por informagées inexatas ou ofensivas emitidas por meios de comunicacao teré direito de resposta, pelo mesmo drgio que difundiu a informagio. Jé 0 artigo 22 protbe a expulsdo coletiva de estrangeitos, a expulsao de nacionais ou a expuls4o ou entrega de estrangeiro a qualquer Estado, inclusive o de origem, onde seu direito vida ou & liberdade pessoal esteja em risco de violacao por causa da sua raga, nacionalidade, religiao, condigio social ou de suas opiniées politicas dn: © Pacto de Sao José prevé normas de protecio da familia (arts. 17 ¢ 18), que repetem os termos do Pacto dos Direitos Civis e Politicos, e da crianga (arts. 17-19), enfatizando o direico dos menores de dezoito anos & protecao, a um prenome ¢ aos nomes de seus pais ou a0 de um destes, bem como aos mesmos direitos, independentemente de ter nascido dentro ou fora do casamento, A Convengio consagra o direito 4 nacionalidade e, mais especificamente, a nacionalidade do Estado onde a pessoa nasceu, se nao tiver direito a outra (art. 20). Quanto 20 dircito de propriedade, o Pacto de Sao José & mais especifico do que outtos instru- mentos internacionais, determinando que “Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante 0 pagamento de indenizacio justa, por motivo de utilidade publica ou de inceresse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei”. O mesmo artigo menciona ainda a necessidade de reprimir a usura ¢ toda forma de “explora¢ao do homem pelo homem” (art. 21). Os direicos politicos so regulados pelo artigo 23 e incluem, como em outros tratados, os direitos de votar, de ser votado e de exercer funcées piiblicas em condicées de igualdade, podendo a lei regular o exercicio desse direito apenas em vista de consideragdes como idade, nacionalidade, residéncia, idioma, instrugio, capacidade civil ou mental ou condenagao, por juiz competente, em processo penal. Alguns direitos consagrados no Pacto poderao ser suspensos em caso de guerra, de perigo piiblico ou de outra emergéncia que ameace a independéncia ou a seguranga do Estado (art. 27). Nao poderao, porém, ser suspensos o dieito a0 reconhecimento da personalidade juridica ¢ a0 nome, o direito a vida e & integridade pessoal, a proibigo da escravidéo e da servidao, os prinefpios da lepalidade ¢ da rettoatividade, a liberdade de consciéncia e de religiéo, a protegio da familia 0s direitos da crianga, da nacionalidade e politicos, nem as garantias indispenséveis a sua protecio. Em todo caso, nenhuma disposicio do Pacto pode ser interpretada no sentido de: permitir a qualquer Estado, grupo ou pessoa suprimir 0 gozo € 0 exercicio dos direitos ¢ liberdades nele reconhecidos ou limité-los em maior medida do que nele previsto; limitar 0 gozo € 0 exercicio de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos de acordo com as leis de qualquer dos Estados-Partes ou nos termos de outra convengao; excluir outros direitos ¢ garantias inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democratica representativa de governo; ¢ excluir ou limitar 0 efeito que possam produzir a Declaragao Americana dos Direitos e Deveres do Homem € outros atos internacionais da mesma natureza (art. 29). © Pacto de Séo José consagra ainda a chamada “cliusula federal” (art. 28), a qual determina que as normas da Convengao Americana de Direitos Humanos obrigam o Estado inteiro, inclu- sive as unidades que 0 compéem, como os Estados da federacéo e os municipios. Nesse sentido, 911 PARTE Ill DIREITO HUIMANOS devem os governos centrais tomar as providéncias necessarias para que as autoridades competentes das entidades subnacionais adotem as medidas pertinentes para o cumprimento das disposig6es do Pacto de Sio José. ATENCKO: ainda que nao conste explicitamente da maioria dos tratados, a cldusula federal orienta a aplicacéo de qualquer norma internacional, visto que o Estado é percebido como um todo nas relacdes internacionais. Nesse sentido, os compromissos internacionais de um ente estatal obrigam nao apenas o governo central, mas todas as entidades que compdem o Estado, inclusive suas unidades subnacionais (Estados da federacdo, provincias, municipios ete.), que nao podem atuar em desconformidade com as obrigagdes assumidas, no 4mbito internacion pelo respectivo governo nacional, © Pacto retoma a preocupagio com os deveres, evidente na Declaragio Americana dos Direi- tos ¢ Deveres do Homem, limitando-se, porém, a proclamar que “Toda pessoa tem deveres para coma milia, a comunidade e a humanidade” e que “Os direitos de cada pessoa sao limitados pelos direitos dos demais, pela seguranca de todos e pelas justas exigéncias do bem comum, numa sociedade democrstica” (art. 32). Por fim, o Pacto “nao tolera o esquecimento penal de violagdes aos direitos fundamentais da pessoa huma de modo sistematico, valores essenciais protegidos pela Conveng4o Americana de Dircitos Hu- manos”. Nesse sentido, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em diversos julgamentos, “proclamou a absoluta incompatibilidade, com os prineipios consagrados na Convengéo Americana de Direitos Humanos, das leis nacionais que concederam anistia, unicamente, a agentes estatais, as denominadas ‘leis de auco-anistia”™” nem legitima leis nacionais que amparam e protegem criminosos que ultrajaram, © Pacto de Sao José ocupa-se pouco dos direitos econdmicos, sociais ¢ culturais, determi- nando apenas que os Estados adorem providéncias no sentido de alcancar, progressivamente, a plena efetividade desses direitos, na medida dos recursos disponivels ¢, quando necessirio, com o auxilio da cooperacio internacional (art. 26), Entretanto, a matéria é regulada de maneiza mais detida no Protocolo Adicional a Convengao Americana sobre Direitos Humanos em Matétia de Direitos Econémicos, Sociais ¢ Culturais (Protocolo de San Salvador), de 1988 (Decreto 3.321, de 30/12/1999), que veremos a seguir. 2.2.1 Protocolo de Séo Salvador (Protocolo adicional a4 Convengado Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econémicos, Sociais e Culturais) © Protocolo de San Salvador é 0 principal tratado do sistema interamericano para 0 trata- mento dos chamados direitos econémicos, sociais e culturais. 7 Arespeito ver: SUPREMO TRISUNAL FEDERAL. Informative 588, Brasilia, DF, 24a 28 de mato de 2010. Referéncias na jurisprudéncia da Corte Interamericana indicadas pelo Informativo em apreco: casos contra a Peru {Barrios Altos", ‘em 2001, e “Loayza Tamayo", em 1998) e contra o Chile (“Almonacid Arellano e outros’, em 2006}. 0 Informativo trata do Julgamento da ADPF 153/DF, que teve como objeto a aplicacdo da Lei 6.683/79 (Lel de Anistia brasileira], 2a qual no foi, porém, repudiada pelo STF, que empregou, dentre outros, 0 argumento de que a anistia brasileira fol “ampla, geral e irrestrita’, no unilateral, beneficiando apenas agentes estatals, raz3o pela qual nao seria, no entender do Pret6rio Excelso, ilicita a luz das normas do sistema interamericano, 912 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS © Protocolo de San Salvador parte do reconhecimento de que as diferentes dimensdes dos direitos humanos “constituem um todo indissoliivel”, e de que o ideal do ser humano livre © ‘ento do temor e da miséria sera realizado nao s6 com a concretizagao dos direitos civis e politi- cos, mas também “sc forem criadas condigées que permitam a cada pessoa gozar de seus direitos econdmicos, sociais ¢ culturais”. Nesse sentido, o Protocolo consagra diversos direitos, muitos ja reconhecidos em outros tratados, como o Pacto dos Direitos Econémicos, Sociais e Culturais. Os principios que orientam o Protocolo sio o direito dos povos americanos 20 desenvolvi- mento, A autodeterminacao e a dispor livremente de suas riquezas € recursos naturais, tudo dentro do quadro do regime demacritico representative € do respcito aos direitos humanos. Reafirma-se também o principio geral de que cabe aos Estados tomar as medidas cabiveis para a consecugao desses direitos. O Protocolo (arts. 6-8) consagra o direito ao trabalho em condiges justas ¢ favordveis, re- petindo as normas estatuidas no Pacto dos Dircitos Econémicos, Sociais e Culturais. Entreranto, © Protocolo acrescenta, dentro da obrigagio de os Estados tomarem medidas para garantir a cfe- tividade do direito ao trabalho, a exigéncia de que o poder ptiblico formule execute politicas de capacitagio ¢ de orientacao vocacional, com énfase nas necessidades das pessoas com deficiéncia e das mulheres. As condigées de trabalho previstas pelo Protocolo incluem também: jomadas laborais de menor duracéo para trabalhos petigosos, insalubres ou noturnos; a garantia do acesso & educagao aos menores de dezesseis anos que trabalham; ¢ o direito a que a promogao nos empregos organi- zados em carreiras seja decerminada apenas em vista de fatores como qualificagao, comperéncia, probidade c tempo de servigo. © Protocole define 0 dircito & seguridade social como o direito & protegio contra as con- sequéncias da velhice e da “incapacitagio”, que impossibilitem a pessoa, fisica ou mentalmente, de obter meios de sobrevivéncia digna (art. 9). Para pessoas em atividade laboral, tal direito deve incluir pelo menos o atendimento médico ¢ 0 auxilio cabivel em caso de acidente de trabalho ou de doenca profissional e, para as mulheres, licenga remunerada para a gestante. © direito & satide alude a0 “gozo do mais alto nivel de bem-estar fisico, mental e social”. Para garanti-lo, os Estados devem assegurar inicialmence 0 atendimento primétio, colocado “ao alcance de todas as pessoas e familias da comunidad”, a imunizacao, a prevengao € 0 tratamen- to das doengas endémicas, profissionais e de ourra natureza, a educagio € a atengio aos grupos mais vulnerdveis e de maior risco (art. 10). © Protocolo também tutela expressamente o direito & seguranca alimentar, que inclui uma nutrigdo adequada e a obrigacio estatal de garanti-lo pelo aperfeicoamento dos meios de produgio, abastecimento e distribuicao de alimentos, autonoma- ‘mente ou com 0 auxilio da cooperacéo internacional (art. 12). O direito a0 meio ambiente sadio, que nao é expressamente mencionado em parte signifi- cativa dos tratados do Sistema Global’, consagrado pelo Protocolo c inelui o direito a contar 8 Ehtendemos que a auséncia da mengSo ao meio ambiente na maior parte dos tratados do sistema giobal se deve 20 fato de que o tema ambiental s6 comegou efetivamente a fazer parte da agenda internacional a partit da Con feréncia de Estacolmo, em 1972, seis anos apés a assinatura dos Pactos de Direitos Humanos. Outrossim, a agenda ambiental tornour-se prioritaria para a comunidade Internacional apenas apds a realizacao da Conferéncia das Nacées Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvalvimento (Eco 92), em 1992, quando a maicria dos tratados de direitos 913 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANOS com 05 servigos ptiblicos bisicas, hem como a obrigagio de os Estados promoverem a protecdo, a preservacdo ¢ o melhoramento das condigdes ambientais (art. 11). Os preccitos relativos aos direitos & educagio ¢ & cultura (arts. 13 e 14) repetem as normas do Pacto dos Direitos Econémicos, Saciais e Culturais, acrescentando, porém, a necessidade de estabelecer programas de ensino diferenciados para as pessoas com deficiéncia (designadas como “deficientes” no texto do tratado). No campo da cultura, fica explicitamente estabelecida a obrigacao de os Estados tomarem as medidas necessdrias para a conservacao, desenvolvimento e divulgacao da ciéncia, da cultura ¢ da arte, para intensificar a cooperagdo internacional na drea ¢ para respeitar a liberdade de pesquisa cientifica ¢ de criacio. A ptotecio da familia deve ser assegurada pelo Estado ¢ inclui: @ assisténcia especial & mac por um periodo razoavel ances e depois do parto; a alimentacéo adequada as criangas; “medidas especiais de protegao dos adolescentes, a fim de assegurar 0 pleno amadurecimento de suas capa- cidades fisicas, "sea execugio de “programas especiais de formacio familiar, a fim de contribuir para a criagéo de ambiente estavel e positivo, no qual as ctiangas percebam ¢ desenvolvam os valores de compreensio, solidariedade, respeito ¢ responsabilidade” (art. 15). intelectuais ¢ morais J4as normas relativas 3s criancas resumem-se ao dircito destas a medidas de protegio por parte da familia, da sociedade e do Estado ¢ & educacao gratuita ¢ obrigatéria, pelo menos no nivel bisico, bem como ao acesso a niveis mais elevados do sistema educacional (art. 16). Incluem também o dircito de crescer sob 0 amparo € responsabilidade dos pais, salvo em circunstancias excepcionais, reconhecidas judicialmente, eo direito de a crianga de cenra idade nao ser separada de sua mae. O Protocolo traz normas especificas de protegio ao idoso, consagrando o dircito de prote- Gao especial na velhice, que inclui alimentagio e assisténcia médica especializadas, programas de trabalho especificos ¢ a formagao de organizagoes sociais destinadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas (art. 17) O Protocolo conceitua como “deficientes” todas as pessoas afetadas pela “diminuigao de suas capacidades fisicas ¢ mentais” € determina que tais individuos fazem jus a medidas especiais de protecao (art. 18), que incluirao programas de trabalho adequados as possibilidades dessas pessoas, ages de desenvolvimento urbano que levem em conta suas necessidades ¢ suporte a organizagées sociais voltadas a apoiar as pessoas com deficiéncia. Essa protegao especial abrangera também programas de auxilio as familias das pessoas com deficiéncia, para que seus membros possam conviver melhor com estas ¢ contribuir para seu bem-estar. ATENCAO: os termos “deficiente” e “portador de deficiéncia” ainda aparecem em tratados de | direitos humanos. Entretanto, a expressao adequada na atualidade para designar aqueles que antes eram chamados de “deficientes” é “pessoa com deticiéncia”. hhumanos do sistema global ja havia sido celebrada. Em todo caso, a auséncia do tema “meio ambiente” da maior parte dos tratados do Sistema Global no afasta a importancia da questo ambiental para a protegio ¢ a promoco da dignidade humana, nem tampouco exclul a noc3o de meio ambiente do rol de direitos de pessoa humana, A respeito do Direito Internacional do Meio Ambiente e de sua relagdo com a protesso dos direitos humanos, ver 0 Capitulo Kili da Parte | deste livto, 914 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS: 2.3 Outros tratados do sistema interamericano A Convengao Intcramericana para Prevenir e Punir a Tortura foi celebrada em 1985 € pro- mulgada pelo Decreto 98,386, de 09/11/1989. O conceito de tortura abrange “todo ato pelo qual sao infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos fisicos ou mentais, com fins de investigacdo criminal, como meio de intimidacdo, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim’, bem como “a aplicagéo, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vitima, ou a diminuir sua capacidade fisica ou mental, embora nao causem dor fisica ou an- gtistia psiquica” (art. 2). O conceito de tortura nao compreende, porém, os softimentos fisicos ou mentais que sejam unicamente consequéncia de medidas legais ou inerentes a clas, contanto que nio incluam atos ou métodos mencionados pela referida Conven io. Podem ser responséveis pela tortura os empregados ou funcionérios piiblicos ou, ainda, qual- quer pessoa que, atuando no excrefcio de fungao piiblica, ordene a tortura, a induza, a pratique diretamente ou, podendo impedi-la, nfo o faca (art. 3). Cabe destacar que 0 fato de a pessoa ter cometido atos de tortura a partir de ordens de superiores hierarquicos nao exime sua responsabilidade pelo ato (art. 4). A tortura no € justificavel em nenhuma circunstancia, nem mesmo no caso de estado de crise, de periculosidade do preso ou de inseguransa do estabelecimento prisional (art. 5) ‘As demais normas da Convengéo assemelham-se as da Convengao contra a Tortura celebrada. dentro do Sistema Global. Em 1990, foi celebrado 0 Protocolo Adicional & Convengao Americana sobre Direitos Humanos Referente 4 Abolicéo da Pena de Morte (Decreto 2.754, de 27/08/1998), que fundamentalmente derermina que os Estados que 0 concluiram “nao aplicaréo em seu territério a pena de morte a nenhuma pessoa submetida a sua jurisdigéo” (art. 1). O Protocolo nao permite reservas, 2 no ser por ocasio da ratificagéo ou da adesio, quando o Estado poder declarar que se reserva “o direito de aplicar a pena de morte em tempo de guerra, de acordo com o Direito Internacional, por delitos sumamente graves de carter militar” (art. 2), como fez o Brasil. Em 1994, foi firmada a Convengao Interamericana sobre Trifico Internacional de Menores (Decreto 2.740, de 20/08/1998). ‘A Convengio parte da necessidade de conferir protecio integral aos menores de dezoito anos ce nesse sentido, visa a prevenir e a reprimir 0 tr4fico internacional de criangas e adolescentes, re- gulamentando seus aspectos civis ¢ penais. Para isso, os Estados obrigam-se a instiuir mecanismos de cooperacio juridica internacional para combater o problema e assegurar a rapida restituicao da vitima a seu Estado de origem, sempre em vista de seus interesses superiores, Os procedimentos estabelecidos pela Convengio sao confidenciais (art. 6). ‘A Convengio conceitua o trifico internacional de menores de dezoito anos como “a suburagao, a transferéncia ou retengao, ou a tentativa de subtracao, transferéncia ou recengio de um menor, com propésitos ou por meios ilicitos". Tais propésitos incluem a prostituicao, a exploracao sexual aservidao, ¢ 0s “meios ilicitos” abrangem, por exemplo, o sequestro ca obtengao do consentimento da crianga ou do adolescente, de seus pais, responsaveis ou instituigées pertinentes por meio de coaséo, fraude, entrega ou recebimento de pagamentos ou beneficios indevidos, 915 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANOS Os aspectos penais do trafico sio regulados pelos artigos 7 a 11 da Convengao e incluem a garantia de que atos vinculadas a essa pratica ilfcita sejam causa de extradicao. Serdo competentes para conhecer de delitos relativos ao tréfico internacional de menores de dezoito anos 0 Estado onde ato tenha ocorrido, aquele onde a vitima se encontre ou resida habitualmente ou onde se encontre o delinquente ainda nao extraditado, ficando prevento 0 Estado cujas autoridades jurisdicionais primeiro examinarem o fato. Os aspectos civis do trafico regulam-se pelos artigos 12 a 22 da Convensao, abrangendo especialmente procedimentos de localizagao ¢ restituigao de menores de dezoito anos que se encontrem em outros Estados. A adogao internacional, a guarda e a custédia de uma crianca ou de um adolescente podetio ser anuladas quando tiverem como origem ou objetivo o trafico internacional de menores, respeitados os interesses superiores da crianga (arts. 18 ¢ 19). A Convencao Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violéncia contra a Mulher foi celebrada em Belém, em 1994 (Decreto 1.973, de 01/08/1996) A violencia conera a mulher é definida como “qualquer acio ou conduta, bascada no géncro, que cause morte, dano ou softimento fisico, sexual ou psicolégico & mulher, canto no Ambito piblico como no privado” (art, 1). A violéncia pode ocorrer dentro da unidade domeéstica ou comunidade, ¢ 0 ato violento pode também ser praticado ou tolerado pelo Estado ou por seus agentes, podendo incluir estupro, maus-tratos, abuso sexual, trifico de mulheres, prostituiggo forcada, sequestro ¢ assédio sexual no local de trabalho (art. 2). na Para combater esse problema, a Convengio reiera que a mulher ¢ titular de varios direitos, consagrados em outros tratados ¢ que abrangem, por exemplo, o direito 3 vida, ao respeito a sua integridade fisica, psiquica ¢ moral, & igualdade de protegio da lei ea um “recurso simples e répido diante dos tribunais comperentes, que a ampare contra atos que violem scus direitos” (arts. 4-6). Os Estados deveréo cumprir as obrigagécs constantes dos artigos 7 a 9 da Convengao, que compreendem a prevengao, a investigagao, a punicéo e a erradicagio da violéncia contra a mulher por meio da legislacao e de mecanismos administrativos e judiciais eicazes, bem como pela educacio. Os Estados devem também atentar para grupos de mulheres especialmente vulneraveis, como as gravidas, as idosas, as presas, as migrantes ou aquelas ein situacio s6cio-econdmica desfavordvel, O STF lembra “que a Lei Maria da Penha € fruto da Convengao de Belém do Pard, por meio da qual o Brasil se comprometeu a adotar instrumentos para punir ¢ etradicar a violéncia contra a mulher”, a violéncia doméstica ¢ familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituigao Federal, da Convencao sobre a Flimina¢ao de“Todas as Formas de Discriminago contra as Mulheres e da Convengio Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violéncia contra a Mulher’ 0 que cortesponde, aliés, 20 proprio objeto da lei, que “Cria mecanismos para coibir O STF declarou também que a Lei Maria da Penha “seria harménica com o que disposto no art. 7°, item “c”, da Convengao de Belém do Pard (“Artigo 7. Ox Estados Partes condenam todas as formas de violéncia contra a mulher e convém em adotar, por todos os meios apropria- dos e sem demora, politicas destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violéncia e a empenhar-se em: ... ¢) incorporar na sua legislacio terna normas penais, civis, administrativas e de outra 9 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. informative 657. Brasilia, DF, 5 a 9 de marco de 2012. Processos: ADI 4.424/DF e ADC 19/DF. Relator: Min. Marco Aurélio, Julgacios em 09/02/2012, 916 S/STEMA INTERAM ERICANO DE PROTECAO DDS DIREITOS HUNANOS natureza, que sejam necessarias para prevenir, punir e erradicar a violéncia contra a mulher, bem como adotar as medidas administrativas adequadas que forem aplicéveis”) ¢ com outros tratados ratificados pelo pais” ® A Convengio Interamericana para a Eliminagfo de’Todas as Formas de Discriminagéo contra as Pessoas Portadoras de Deficiéncia (Convengao da Guatemala) foi firmada em 1996 (Decreto 3.956, de 08/10/2001). i io: tei | ATENGAG: reiteramos que os termos “deficiente” e “portador de deficiéncia” ainda aparecem 1 em tratados de direitos humanos. Entretanto, a expressdo adequada na atualidade para des 1 nar aqueles que antes eram chamados de “deficientes” ¢ “pessoa com deficiéncia”. A Convengéo parte do princfpio de que as pessoas com deficiéncia tém os mesmos direitos que as outras pessoas, que “emanam da dignidade ¢ da igualdade que sia inerentes a todo ser humano”. A deficiéncia, alids, ¢ definida nesta Convengio como “uma restrigao fisica, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitéria, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida didria, causada ou agravada pelo ambiente econdmico e social” (art. 1). Para combater a discriminacdo contra as pessoas com deficiéncia, © Estado pode adotar me~ didas, que nao sio consideradas discriminarérias, que constituam “diferenciagéo ou preferéncia adotada pelo Estado-Parte para promover a integracio social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiéncia, desde que a diferenciacao ou preferéncia nao limitem em si mesmas 0 direito & igualdade dessas pessoas ¢ que estas néo sejam obrigadas a aceitar tal diferenciagéo ou preferéncia” (art. 1, par. 2, “b”). O Estado pode, ainda, adotar medidas voltadas a garantir a integragéo da pessoa com de- ficiéncia, como a eliminagao dos obsticulos nos transportes, comunicagées ¢ acessos em geral ¢ 4 promogdo da integracao 20 mercado de trabalho. Outras medidas incluirao polfticas de pre- vencao, tratamento e reabilitagio da deficiéncia campanhas educacionais voltadas a climinar 0 preconceito. No campo da cooperacao internacional, os Estados deveréo atuar em conjunto no campo da pesquisa cientifica relacionada & deficiéncia e do “desenvolvimento de meios ¢ recursos destinados a facilitar ou promover a vida independente, a auto-suficiéncia ¢ a integracio total, em condigées de igualdade, & sociedade das pessoas portadoras de deficiéncia” 3. MECANISMOS DE PROTECAO DO SISTEMA INTERAMERICANO ‘A promogio da aplicacio das normas interamericanas de direitos humanos recai diretamente na competéncia dos dois principais ézgios do sistema interamericano: a Comissio Interamericana de Dircitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, criadas pelo i'acto de Sao José (are. 33). ‘Também no sistema interamericano hé “6rgfos de tratados”, como a Comissio para a Eli- minagao de Todas as Formas de Discriminagio contra as Pessoas Portadoras de Deficiéncia e a 10 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Informative 654. Brasilia, DF, 6 a 10 de fevereiro de 2012. Proceso: ADC 19/0F. Relator: Min. Marco Aurélio. Julgado em 03/02/2022. Ver também: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo 654, Brasilia, DF, 6 a 10 de fevereiro de 2012. Processo: ADC 4.424/DF. Relator: Min. Marco Aurélio, Julgado em 09/02/2012. 917 PARTE Ill ~ DIRE|TO HUMANS Comisséo Interameticana de Mulheres, competentes para velar pelo cumprimento das convengoes espectficas quanto a tais temas. A protesao dos direitos humanos nas Américas pode interessar também a outros érgaos da OEA que nao facam parte do sistema interamericano, como a As- sembleia-Geral ¢ a Secretaria-Geral da Organizacio, que podem intervir em caso de violagées dos direitos humanos que sejam graves c/ou que envolvam aspectos de maior magnitude politica. Quadro 1. Principais érgaos do sistema interamericano > Comissao Interamericana de Direitos Humanos | > Corte Interamericana de Direitos Humanos 3.1 Comissao Interamericana de Direitos Humanos A Comissio Interamericana de Direitos Humanos é um dos érgaos da OEA dedicados & protecao dos direitos humanos nas Américas. E sediada na cidade de Washington, capital dos EUA, ¢ tom suas atividades reguladas pelo Pacto de Sao José (arts. 34-51), pelo Estatuto da Co- missio Interamericana de Direitos Humanos e pelo Regulamento da Comissao Interamericana de Direitos Humanos. A Comissio nao é drgio jurisdicional, assemelhando-se, nesse sentido, aos da ONU. Ei composta por sete membros, que “deverdio ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos”, elcitos pela Assembleia-Geral da OEA para um mandato de quatro anos, com direito a uma reeleicdo subsequente. Os membros da Comissio sio eleitos a “titulo pessoal” ¢, nesse sentido, ndo constituem representantes de qualquer Estado, nem mesmo daquele do qual s40 nacionais. Em todo caso, nao pode haver mais de um nacional do mesmo ente estatal dentro da Comissao. “érgaos de tratados” As fungoes especificas da Comissio estao delineadas no artigo 41 do Pacto de Sao José ¢ incluem: formular recomendagdes aos Estados no sentido de que adorem medidas progressivas em prol dos direitos humanos nos ambitos, legislativo e administrativo; preparar estudos ou relatérios nna matéria; solicitar aos Estados informagoes sobre as medidas que adotarem no campo dos direitos humanos; atender 4s consultas dos Estados em questées relacionadas com os direitos humanos ¢ prestar-lhes o assessoramento possivel; apresentar um relatério anual & Assembleia Geral da OBA; e atuar com respeito as petigées ¢ outras comunicagoes que é competente para examinar. ‘A Comissio poder também pedir que a Corte Interamericana de Direitos Humanos tome medidas cautelares para proteger direitos em casos de extrema gravidade ¢ urgéncia, ¢ quando se fizer necessario evitar danos irreparaveis 3s pessoas, mesmo que 0 caso de violago de norma do sistema interamericano ainda nao esteja tramitando na Corte (Pacto de Sao José, art. 64, par. 2, € Estaruto da Comissao Inveramericana de Direitos Humanos, art, 19, “c”). Poderd ainda a Comissio “por iniciativa propria ou a pedido de parte, solicitar que um Estado adote medidas cautelares. Essas medidas, tenham elas ou nao conexao com uma petigao ou caso, deverao estar relacionadas ituacdes de gravidade © urgéncia que apresentem risco de dano irrepardvel 5 pessoas ou ao objeto de uma petigaa ou caso pendente nos érgaos do Sistema Interamericano”", a 11 Asolicita¢ao de medidas cautelares por parte da Comissio é regulada pelo artigo 25 do Regulamento da Comiss30 Interamericana de Direitos Humanos, 918 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS ATENCAO: em suma, a Comissao Interamericana de Direitos Humanos podera sol de medidas cautelares 4 Corte Interamericana ou diretamente aos Estados. Dentre os casos de medidas cautelares da ComissGo Interamericana de Direitos Humanos decididas em face do Brasil encontram-se: o Caso das Pessoas Privadas de Liberdade no Presidio Central de Porto Alegre (2013); 0 Caso das Pessoas Privadas de Liberdade no Presidio de Pedr nhas (2013); o Caso das Comunidades Indigenas da Bacia do rio Xingu (“Caso de Belo Monte”) (2011); ¢ 0 Caso das Pessoas Privadas de Liberdade no Presidio Anibal Bruno (2011) . Os Estados devem submeter anualmente & Comissio cépias dos relatérios que forneceram a outros érgios da OEA sobre a implementacao dos direitos econdmicos, sociais ¢ culturais ¢ as informacées que lhes fotem solicitadas sobre o modo pelo qual seu Direito interno promove a aplicacio efetiva das normas do sistema interamericano. ‘A Comissio pode receber petigdes individuais, relativas a dentincias ou queixas de violagao do Pacto de Sio José por um Estado-parte, apresentadas por qualquer pessoa, grupo de pessoas ou entidade nao-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da OEA (art. 44). Pode também examinar comunicagées “em que um Estado-Parte alegue haver outro Estado-Parte incorrido em violagées dos direitos humanos” estabelecidos no sistema inte- ramericano, desde que ambos os Estados tenham reconhecido a competéncia da Comisséo para efetuar esse exame (art. 45). A Comissio pode ainda receber petic6es individuais referentes aos dircitos consagrados nos artigos 8, “2” (liberdade sindical), ¢ 13 (direito & cducacéo) do Protocolo Adicional & Convengao Interamericana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econdmicos, Sociais e Culturais (Protocolo de Séo Salvador — art. 19, § 6°) e na Convengio Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Brradicar a Violéncia Contra a Mulher (Convengio de Belém do Paré — art. 12). ATENCAO: a cléusula que prevé o direito de peticdo individual é obrigatéria, 20 passo que a cléu- | sula de comunicacée: erestatais é facultativa. : ‘As principais condic6es para a andlise de petigGes individuais ¢ de comunicagoes interestatais so: o esgotamento dos recursos da jurisdicao interna; que a petigao ou comunicagio tenha sido apresentada dentro do prazo de até seis meses apés 2 notificagao da decisio interna definitiva; que a matéria objeto da peti¢ao ou comunicagao nao esteja pendente de solugo em outro foro internacional”. © Pacto de So José estabelece, porém, que o requisito de esgotamento dos recursos internos nfo ve aplica quando tais recursos nao funcionarem com base nas normas do devido processo legal, quando nao se houver permitido ao interessado o uso desses recursos até o final do processo ou quando houver “demora injustificada na deciséo sobre os mencionados recursos” (art. 46, par. 2). E 12 Alista completa de medidas cautelares de Comisstio encontra—se dispontvel no tink < http://www.oas.org/es/cidh/ decisiones/cautelares.asp>, Acesso em 04/02/2015, Em espankol. Ha também uma versao em portugues, porér incompleta, Ao acessar a pagina, clicar no ano e procurar a informacdo pertinente. 13. Todas as condigtes para a apresentacio de uma peticdo individual ou comunicagao interestatal junto 8 Comisso Interamericana de Direltos Humanos esto Indicadas no artigo 46 do Pacto de Sao José. 919 PARTE III DIREITO HUMANOS nesse sentido que afirmamos que o requisite do esgotamento dos recursos internos é condicionado A disponibilizacéo, pelo Estado, de recursos eficazes ¢ acessiveis a0s individuos que a eles recorrem, sem 0 que a petigéo individual poder ser apreciada desde logo pela Comissio Interamericana. Serao inadmissiveis petigdes ou comunicacées que nao preencham os requisitos acima mencionados e/ou que sejam manifestamente infundadas ou improcedentes ow, ainda, que no retratem qualquer violacao a normas do sistema interamericano, bem como que sejam “substan- cialmente reprodugio de petigio ou comunicagéo anterior, | examinada pela Comissto ou por outro organismo internacional”. ATENCAO: 0 endosso do Estado do qual o individuo seja nacional ou onde ela/ele se encontre, ou a comprovagSo da condigao de vitima, no se incluem dentre os requisitos para a submissio de uma peti¢ao individual 4 Comissao. Caso a petigéo ou a comunicacao sejam admitidos, a Comissao solicitara do Estado envolvido nformagoes a respeito do problema ¢ estabelecer prazo para seu envio. Recebidas as informagées, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam recebidas, a Comissao verificard se subsistem os motivos da petigio ou comunicacio €, nfo sendo o caso, mandaré arquivé-las, A petigao ou comunicagio poderao também ser inadmitidos com base em informagao ou prova supervenientes (arts. 48-51) Nao havendo arquivamento, a Comissio poderd examinar o fato descrito na peticao ou comunicacao, inclusive por meio de investigagées ¢ informacées solicitadas aos Estados. Poders também trabalhar para que os envolvidos cheguem a uma solusao amistosa para o problema apresentado pela peticio ou comunicacio. O exame do caso deverd gerar um relatério, que padera conter a exposigao dos faros e a solugio alcangada ou, néo sendo este o caso, as recomendacées cabiveis. A partir desse relatério, os Estados poderao adotar as recomendasées formuladas ou submeter 0 caso 4 consideracao da Corte Interamericana de Diteitos Humanos. Alids, a propria Comisso também podera submeter 0 caso a Corte, sc entender necessitio. Se nenhuma das alternativas constantes do relatério mencionado no pardgrafo anterior vier aocorrer em trés meses, a Comissao novamente fard as recomendag6es pertinentes ¢ fixaré um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competir para remediar a situacao examinada. Ap6s esse prazo, a Comissio decidir’, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, se 0 Estado romou ow nao as medidas adequadas ¢ se publica ou nao seu relatdrio so poder submeter o caso 4 Corte independentemente de qualquer aco 1 dos Estados ou dos eventuais interessados. Cabe ressaltar, aliés, que aqueles que apresentaram 1 petigdes individuais nao poderae tomar qualquer medida para apresentar 0 caso & Corte, como 1 veremos no préximo ponto. No tocante a Comissao, o Brasil formulou reserva interpretativa, entendendo que os artigos 43 e 48, alinea “d”, do Pacto de Sao José nao incluem o diteito automdtico de visitas e inspe- 14 O artigo 43 do Pacto cispde que “Os Estados-Partes obrigam-se a proporcionar a Comisso as informages que esta Ines solictar sobre a maneira pela qual o seu direito interno assegura a aplicacao efetiva de quaisquer disposicdes desta Convenga0”. 14 0 artigo 48, “d", determina que a Comissio, a0 receber uma peticio ou comunicagao na 920 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS g6es in aco da Comissao Interamericana de Direitos Humanos, as quais dependerao da anuéncia expressa do Governo brasileiro. ATENGAO: é muito importante advertir que as decisbes da Comissio Interamericana de Direitos Humanos ou 0s acordos que esta logre alcancar entre as partes nae requerem autorizagéo ou homologacéo da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Quadro 2. Informagées gerais acerca da Comisséo Interamericana de Direitos Humanos > Orgio nao-jurisdicional, responsavel, em ter- mos genéricos, por acompanhar a aplicagao dos tratados de direitos humanos do sistema interamericano + Deve atender as consultas dos Estados em questdes relacionadas com os direitos huma- os e prestar-Ihes 0 apoio possivel +> Ecomposta por sete membros, que atuam a titulo pessoal, independentemente, por- tanto, dos Estados dos quais sdo nacionais > Deve examinar as peti¢des individuais e comu- nicagées que Ihe forem dirigidas Pode ser acionada por Estados, por érgaos da OEA ou, ainda, dentro de determinadas | -> Pode investigar dentincias de violacao dos di- condigées por individuos e determinadas | __reitos humanos instituig6es + Pode formular recomendagdes aos Esta- dos para que adotem medidas progres- sivas em prol da promog3o dos direitos humanos. > Pode também trabalhar para que os envolvidos cheguem a uma solucdo amistosa em proble- mas vinculados aos direitos humanos > Pode solicitar aos Estados informacdes so- | + Express suas concluses e recomendacoes bre as medidas que adotarem no campo | _ por meio de relatérios, que conterdo as infor- dos direitos humanos mages pertinentes 3.2 Corte Interamericana de Direitos Humanos A Corte Interamericana de Direitos Humanos é o principal érgio jurisdicional do sistema interamericano, Tem sede em Sao José, na Costa Rica, ¢ sua composi¢ao ¢ funcionamento sio regulados pelo Pacto de Sao José (arts. 52-73), pelo Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos e pelo Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos. ‘A Corte é comperente para processar ¢ julgar qualquer caso relativo 3 interpretacio e 3 aplicacio das disposigées do Pacto de Sao José, para apreciar consultas dos Estados relativas & interpretagéo das normas do sistema interamericano e para emitir pareceres a respeito da compatibilidade en- te leis internas cos tratados do sistema interamericano, fazendo aquilo que Piovesan chama de “controle de convencionalidade das leis”, A Corte exerce, portanto, competéncia contenciosa e consultiva (Pacto de Sao José, arts. 61-64). qual se alegue violagia de qualquer dos direitos consagrados nesta Convencéo, se 0 referido expediente nao for arquivade e com ¢ intulto de comprovar os fatos alegados, “procederd, com conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na peticSo ou comunicaao” e, “Se for necessério e convenient’ faré “uma investigacgo para cuja eficaz realizacto solictaré, © os Estados interessados lhe proporcionarso, todas as faclidades necessarias”. 15 PIOVESAN, Fldvia. Direitos humanos ¢ 0 direite constitucional internacional, p. 238-239. 921 PARTE Ill ~ DIREHTO HUMANOS Cabe destacar que, no exercicio de ambas as comperéncias, a Corte produz jurisprudéncia, que tem contribusido para aprofundar e clucidar questoes que envolvam a aplicacao das normas do sistema interamericano"®. ATENCAO: é muito importante destacar que nao é papel da Corte Interamericana de Direitos Humanos autorizar ou homologar decisées da Comissao Interamericana de Direitos Humanos ou acordos que se celebrem a partir de procedimentos que ocorram dentro de suas atividades. A Corre é composta por sete juizes, nacionais dos Estados-membros da OFA, eleitos a titulo pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida comperéncia em maréria de direitos humanos € que retinam os requisitos legais necessérios para 0 exercicio das mais elevadas funcoes judiciais no Estado do qual sejam nacionais ou no Estado que os propuser como can- didatos. Sao cleitos pelo voto secteto da maioria absoluta dos Estados-Partes do Pacto para um mandato de seis anos, podendo set reeleitos por uma vez para o periodo subsequente, Os juzes da Corte gorarao das mesmas prerrogativas des agentes diplomaticos ¢ nao poderao exercer qualquer fungdo que possa afecar sua independéncia ou imparcialidade. Os juizes da Corte atuam, portanto, a tftulo pessoal, nao devendo agir como representantes de qualquer Estado, Em todo caso, néo pode haver mais de um juiz nacional do mesmo ente estatal. Os juizes podem conhecer de feitos relativos a seus Estados de origem, hipétese em que © outro Estado que seja parte no proceso poder’ designar um juiz ad hoc para integrar a Corte ¢ participar do exame desse caso especifico. Se nenhum dos jufzes chamados a conhecer de um feito for da nacionalidade dos Estados partes no proceso, cada um destes poder também escolher um juiz. ad hoc, cuja indicagao deverd atender aos mesmos requisitos dos juizes permanentes, Somente os Estados-Partes do Pacto de So José ¢ a Comissio Interamericana podem sub- meter casos 4 Corte. Por outro lado, pelo menos por enquanto, somente os Estados podem ser réus perante a Corte. ATENCAO: em vista do exposto, ndo pode haver apresentagao de peticées individuals direta- mente a Corte interamericana de Direltos Humanos. Eneretanto, a Corte s6 poder conhecer de conflites a ela apresentados quando concluido © processo previsto nos artigos 48 a 50 do Pacto, que regulam 0 funcionamento da Comissio Interamericana ao receber uma peticio ou comunicacao. E nesse sentido que podemos afirmar que a Corte poder examinar um caso de violagao de normas do sistema interamericano apenas apés a apreciagao da sicuagio em aprego pela propria Comisséo Interamericana. ‘Ademais, para que a Corte conhega de um caso, os Estados envolvidos deverao também ter declarado, previamente, ¢ de maneira expressa, sua aceitagio da competéncia da Corte para julgi- -los, por meio de uma convengio especial, vilida apenas para a apreciac4o de um caso especifico, ou de uma declaragao de submissao a comperéncia obrigaréria da Corte, pela qual o Estado fica 16 Para um exame cetido da jurisprudéncia da Corte, recomendamos as seguintes obras: PIOVESAN, Fldvia Direitos humanos e 0 direito consttucional internacional, p. 237-251; PIOVESAN, Flavia. Direites humanos ¢ justo inter nacional, p.8-118; CARBONELL, José Carlos Remott. La Corte Interamericana de Derechos Humanos: estructura, funcionamiento y jurisprudéncia, , 279-433. Ver tamisém o sitio da Corte (www.corteidh.orer), na parte de “lu fisprudencia’ (chttp://www corteidh.orer/index.php/es/jursprudencia>), Aeesso ern 04/02/2015 922 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS sujeito a responder a todo e qualquer processo apresentando contra si nesse digio, independen- cemente de sua anuencia adicional, a partir do momento em que tal declaracio ¢ proferida, cudo nos termos do artigo 62 do Pacto de Sio José. © Brasil reconheceu a competéncia obrigav6ria da Corte Interamericana de Direitos Humanos por meio do Decreto 4.463, de 8/11/2002. Tal reconhecimento € valido por prazo indeerminado, mas, por outro lado, abrange apenas fatos ocorridos apés 10/12/1998, data em que a Declaragio de Reconhecimento da Competéncia Obrigatéria da Corte Interamericana de Direitos Humanos foi depositada junto a Secretaria-Geral da OEA. Por fim, o reconhecimento foi feito “sob reserva de reciprocidade”, pelo que o Brasil s6 se submete a processos na Corte se 0 outro Estado que parte no feito também tiver proferide a mesma declaracéo de submissio. O quorum para as deliberagées da Corte é de pelo menos cinco juizes. © processo deve, ainda, contar com 0 acompanhamento da Comissio Interamericana. No exercicio de sua competéncia contenciosa, ¢ no exame de assuntos de que estiver conhe- cendo a Corte poderd também romar as medidas de carder cautelar que considere pertinentes diante de casos de extrema gravidade e de urgéncia e para evitar danos irreparaveis. Entretanto, a Corte também poderd tomar medidas cautelares a respeito de assuntos de que ainda nao estiver conhecendo, hipétese em que poderi atuar a pedido da Comissao (Pacto de Sao José, art. 64, par. 2). Quando decidir que houve violagio de um dircito ou liberdade protegidos no Pacto, a Corte determinard que se assegure 20 prejudicado 0 gozo do seu direito e, quando necessirio, que este receba a reparagio devida, inclusive por meio da devida indenizacao, se necessério. A parte da sentenca que determinar indenizacio compensat6ria poderd ser executada no Estado condenado pelo proceso interno vigente para a execucao de sentengas contra o ente estatal. A sentenga da Corte deve ser fundamentada e sera definitiva ¢ inapelavel. Entretanto, em caso de divergéncia sobre o sentido ou 0 aleance da sentenga, a Corte poderé interpretila a pedido de qualquer das partes, desde que tal pleito seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificasio da decisio r sounal ti ; s 1 ATENCAO: a sentenca da Corte Interamericana é prolatads por um tribunal internacional, no por ' t uma corte estrangeira e, nesse sentido, dispensa homologagao pars fins de aplicagao no Brasil. Por fim, é importante destacar que a Corte Interamericana de Direitos Humanos, assim como a maioria dos érgios internacionais voltados & protecio da dignidade humana, nao substitui o Judicidrio nacional nem opera como corte de cassacio ou como instincia tecursal dos tribunais internos, néo podendo, portanto, reformar uma decisio de uma corte suprema de um ente estatal, por exemplo. Quando examina e julga um caso, a Corte Interamericana verifica a conformidade das acGes dos érgios estatais com as obrigagées internacionais assumidas pelo respectivo Estado na matéria’? 6, caso a decisio do Judiciério nacional nao seja compativel com as normas do sistema interame- ricano de direitos humanos, pode deverminar medidas voltadas a responsabilizar internacional 0 ente estatal pela decisao ¢ a proteger ou a reparar direito previsto de alguma forma, mas nao altera nem elimina a decisto das cortes e tribunais internos, 17 _Nesse sentido: CANCADO TRINDADE, Anténio Augusto. A interacao entre o direito internacional eo direito interno ra protecao dos direitos humanas, p, 33. In: CANGADO TRINDADE, Antonio Augusto. [editor]. incorporaczo das normes internacionais de direitos humanos no direito brasileiro. 923 PARTE Il ~ DIREITO HUMANOS Em todo caso, somos forcados a admitir que a Corte Interamericana acaba promovendo certo controle da atividade do Judiciario brasileiro e do proprio Supremo Tribunal Federal (STF), avaliando-a & luz das normas internacionais de direitos humanos. Ei certo, porém, que esse controle é evidentemente limitado, por nao poder afastar a aplicacao de uma decisao judicial interna, res- tringindo-se a indicar sua compatibilidade ou nao com as normas do sistema interamericano ¢ a obrigar o Estado a arcar com a responsabilidade por uma eyencual incongruéncia do provimento jurisdicional examinado com as obrigagdes internacionais do ente estatal em matéria de protegio dos direitos humanos. Quadro 3. Informagées gerais acerca da Corte Interamericana de Direitos Humanos + Oreo jurisdicional responsdvel, em termos genéricos, por promover a aplicagdo dos tra- | Os Estados s6 paderéo ser partes em processos tados de direitos humanos do sistema inte-} _ na Corte se aceitarem sua competéncia obriga- ramericano por meio de decisées judiciais e} — téria pareceres > E composta por sete juizes, que atuam a titulo pessoal, independentemente dos Estados dos quais 30 nacionais +> © Brasil aceita 2 competéncia obrigatéria da Corte > Pode ser acionada apenas pelos Estados e pela Comissao Interamericana de Direitos | + Asentenga ¢ obrigatoria, definitiva e inapelavel Humanos “> As sentencas que determinem indenizacdo compensatéria podergo ser executadas no pais respectivo pelo proceso interno vigente para a execugao de sentencas contra 0 Estado + Tem competéncia contenciosa (exame, processo e julgamento de feitos judiciais) e consultiva (emissao de pareceres) 3.2 Principais casos envolvendo o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos Apresentamas, a seguir, breves informagées acerca de alguns dos principais processos movidos até agora contra o Brasil na Corte Interamericana de Dircitos Humanos"’. O primeiro feito envolvendo o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos foi 0 “Caso Damiao Ximenes Lopes”, em que 0 Estado brasileito foi condenado a indenizar a familia do senhor Damio Ximenes Lopes, morto em decorréncia de maus tratos que lhe foram infligidos em estabelecimento dedicado ao tratamento de pessoas com transtornos mentais, localizado na cidade de Sobral, no Estado do Ceara. Nesse processo, foi reconhecida a responsabilidade parcial do Brasil pela violagio dos direitos vida e 3 integridade pessoal, bem como os direitos as garantias judiciais € & prote¢ao judicial, em face dos fan a obrigagao geral de respeitar e garantir esses direitos. iares de Damiao Ximenes Lopes. Foi também reconhecido que o Brasil nio cumpriu 1B Allsta de processos contra o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos encontra-se no sitio da Corte, no link (acesso em 04/02/2015). Em espanhol e, eventual- mente, em portugues. 924 SISTEMA INTERAMAERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMMANOS Em consequéncia, o Estado brasileiro foi condenado, entre outros pontos, a indenizar a familia de Damiao Ximenes Lopes, bem como a garantir a eficicia do processo judicial interno relativo ao caso € a desenvolyer um programa de formagao e capacitacao para o pessoal vinculado a0 atendimento de satide mental. O “Caso Nogueira de Carvalho” referiu-se ao assassinato do advogado Francisco Gilson Nogueira de Carvalho, ocortido no Estado do Rio Grande do Norte, e 4 “presumida falta de devida diligéncia no processo de investigacao dos fatos ¢ punigio dos responsaveis” pela morte desse individuo e 4 “falta de provisio de um recurso efetivo neste caso”. A respeito, a Corte, por conta do “limitado suporte fético” de que dispunha, concluiu que “ndo ficou demonstrado que o Estado tenha violado (...) 0s direitos as Garantias Judiciais e & Pro- tegio Judicial consagrados nos artigos 8 € 25 da Convencao Americana sobre Diteitos Humanos” O caso “Escher ¢ outros” examinou a acusacao de interceptago ¢ monitoramento ilegal das linhas telefdnicas de Arlei José Escher e de outros membros das organizacées Associagio Comu- nitéria de Trabalhadores Rurais (ADECON) e Cooperativa Agricola de Conciliagao Avante Leda. (COANA), efecuada pela Policia Militar do Estado do Parand em 1999, ea subsequente divulgacéo das conversas tclefnicas monitoradas, bem como a denegacio de justica ¢ da reparaio devida pelo Estado brasileiro. Nese litigio, a Corte declarou que 0 Brasil violow o direito & vida privada e o dircito & hon- rae & reputacao de membros da ADECON e da COANA, bem como 0 direito & liberdade de associagio e os direitos as garantias judiciais ¢ & protesio judicial, fixando a sentenga a obrigagao de 0 Estado brasileiro indenizar os prejudicados ¢ investigar os fatos que geraram as violacdes ocorridas nesse episddio. O “Caso Garibaldi” refere-se a alegada “responsabilidade do Estado decorrente do descum- primento da obrigacao de investigar e punir 0 homicidio do Senhor Sétimo Garibaldi, ocorrido em 27 de novembro de 1998, durante uma operacio extrajudicial de despejo das familias de crabalhadores sem terra”, que ocupavam uma fazenda no Parand. Ao final, a Corte reconheceu que o Brasil “violou os direitos as garantias judiciais e & proteca0 judicial” em prejuizo da familia de Sétimo Garibaldi ¢ determinou a obrigagio do Estado brasileito de indenizar seus familiares e de dar seguimento ao inquérito € eventual processo judicial voltado a apurar as responsabilidades nesse caso. Por fim, 0 processo mais recente foi o “Caso Jtilia Gomes Lund e outros”, relativo ao desa- parecimento de pessoas na Guerrilha do Arapuaia. O caso foi inicialmente examinado pela Comissao Interamericana de Direitos Humanos, € esta decidiu submeté-lo.& Corte, como “uma oportunidade importante para consolidar a ju- risprudéncia interamericana sobre as leis de anistia com relagéo aos desaparecimentos forgados € 8 execugio exttajudicial ea consequent obrigacéo dos Estados de dar a conhecer a verdade & sociedade e investigar, processar e punir graves violagées de direitos humanos”, bem como por constituir uma “possibilidade de o Tribunal afirmar a incompatibilidade da Lei de Anistia e das leis sobre sigilo de documentos com a Convengéo Americana”. O caso referia-se especialmente a responsabilidade do Estado brasileiro pela detencio anbitréria, tortura ¢ desaparecimento forgado de setenta pessoas como “resultado de operagoes do Exército brasileiro empreendidas entre 1972 e 1975 com o objetivo de erradicar a Guerrilha do Araguaia, no contexto 925 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANOS da ditadura militar do Brasil (1964 — 1985)”, bem como pelo fato de que o Estado “nao realizou uma investigaggo penal com a finalidade de julgar e punir as pessoas responsdveis” por esses fatos. Ao final, a Corte declarou que “As disposigées da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigagéo e sancéo de graves violacées de direitos humanos s4o incompativeis com a Convencéo Americana, carecem de efeitos jurfdicos ¢ nao podem seguir representando um obsticulo para a investigagio dos fatos do presente caso, nem para a identificagdo e punigao dos responséveis, ¢ campouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outtos casos de graves violagdes de direitos humanos consagtados na Convengéo Americana ocorridos no Brasil”. A Corte também declarou que o Estado brasileiro € responsavel “pelo desaparecimento forgado e, portanto, pela violagio dos ditcitos ao reconhecimento da personalidade juridica, & vida, & integridade pessoal e & liberdade pessoal” e pela violagao A liberdade de pensamemto e de expressio e do ditcito a garantias judiciais e 4 protecao judicial, bem como pela “afetacao do direito a buscar ¢ a receber informagio, bem como do diteito de conhecer a verdade sobre 0 ocorrido” Por fim, a Corte declarou que o Brasil “descumpriu a obrigagio de adequar seu direito interno 4 Convengio Americana sobre Direitos Humanos”, pelo fato de nao ter investigado os fatos ligados 4 Guerrilha do Ataguaia e por nao ter julgado e punido os responsiveis, tudo em decorréncia da Lei da Anistia (Lei 6.683, de 28/08/1979). Como resultado desse julgamento, a Corte condenou 0 Brasil a uma série de agées, dentre as quais a obrigacio de investigar os fatos ligados 3 Guerrilla do Araguaia ¢ de punir os responsé- veis, bem como de “determinar o paradeiro das vitimas desaparecidas e, se for 0 caso, identificar e entregar os restos mortais a scus familiares”. importante notar que, nesse julgamento, a Corte indicou que a proibigio do desaparecimento forcado de pessoas ¢ o correspondente dever de investigar e punir aos responsiveis so considerados normas de jus cogens, bem em consonancia com deveres findamentais de um Estado dentro do sis- tema intetameticano de direitos humanos, como o dever estatal de investigar e punir as violagdes de direitos humanos, decorrente da obrigagio basica que tem o Estado de garantir os direitos de todas as pessoas que se encontrem sob sua jurisdigao e de adotar as medidas “Iegislativas ou de outra nacureza que forem necessérias para tornar efetivos tais direitos e liberdades” (Pacto de Sio José, arts. 1 ¢ 2). Até agora, a principal consequéncia direta da sentenga do Caso Julia Lund foi a promulgagio da Lei 12.528, de 18/11/2011, que criou a “Camissao Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar ¢ esclarecer as graves violac6es de direitos humanos praticadas no perfodo fixado no art. 8° do Ato das Disposices Constitucionais Transitérias (ADCT), “a fim de efetivar o direito A meméria e & verdade histérica e promover a reconciliagao nacional”. O julgamento do caso Jilia Lund nao refletiu, porém, no julgamento da ADPF 153, por meio da qual 0 Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pleiteava a nao recepgo, 19 0 coput do artigo 8° do ADCT reza que “E concedida anistia 20s que, no periode de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgacdo da Constitui¢ao, foram atingidos, em decorréncia de motivacda exclusivamente politica, por atos de excesdo, institucionais ou complementares, aos que foram abrangidos pelo Decreto Legislativo n® 18, de 15 de dezembro de 1961, aos atingidos pelo Decreta-Lei n® 864, de 12 de setembra dle 1969, asseguradas as promacées, na inatividede, a0 cargo, emprego, posto ou graduagio a que teriam direito se estivessem em servico ativo, obedecidos os prazos de permanéncia em atividade previstos nas leis e regulamentos vigentes, respeitadas as caracteristicas e peculiaridades das carreiras dos servidores publicos civls e militares e abservados os respectivos regimes juridicos’. 926 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS pela arual ordem constitucional, do pargrafo 1° do artigo 1° da Lei 6.683/79, o qual considerava anistiados aqueles que cometeram crimes politicos oui conexos com estes, qualificando de conexos “os crimes de qualquer natureza relacionados com crimes politicos ou praticados por motivacdo politica’. No julgamento da ADPF 153, 0 STF considerou referido artigo recepcionado pela Cons- rituigo de 1988”. Até o momento, o Bras Direitos Humanos. il nao foi objeto de nenhum parecer da Corte Interamericana de Entretanto, a Corte Interamericana ji teve oportunidade de deverminar a aplicagao de medi- das de carater cautelar contra o Estado brasileiro em casos como os seguintes: Caso tilia Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia); Caso das criangas ¢ adolescentes privados de liberdade no Complexe Tatuapé da FEBEM; Caso das pessoas privadas de liberdade na Penitencidria “Dr. Scbastido Martins Silveira” em Araraquara, Sao Paulo; Caso da Unidade de Internagio Socioe- ducativa; Caso da Priséo Urso Branco; Caso do Complexo Penitencidrio do Curado; e Caso do Complexo Penitencidrio de Pedrinhas*". ‘Além dos casos acima, ¢ interessante notar que a jurisprudéncia do STF menciona alguns casos julgados na Corte Interamericana de Direitos Humanos, 0 que evidencia que o Pretério ccelso vem empregando, como fundamento adicional de suas préprias decisées, as orientagées emanadas do principal tribunal de direitos humanos do sistema inceramericano. A seguir, men- cionamos alguns desses casos, cm caréter meramente exemplificativo. Em 2011, 0 STF determinou liminarmente, em sede de habeas corpus, a suspensio de um processo movido contra civil em tribunal militar, com fandamento na nogio de que as cortes militares, em tempo de paz, deveriam julgar apenas militares, em decorréncia de atos praticados no servigo ativo das forgas armadas, indicando também que o julgamento de civis por foros mili viola 0 postulado do juiz natural. Nese caso, 0 Pretétio Excelso mencionou o julgamento do caso “Palamara Iribarne X Repti- blica do Chile”, em que a Corte Interamericana determinou que aquele Estado, dentre outras providencias, “ajustasse, om prazo razodvel, o seu ordenamento interno aos padres internacionais sobre jurisdicdo penal militar, de forma tal que, se se considerasse necessaria a existéncia (ou subsisténcia) de uma jurisdigdo penal militar, fosse esta limitada, unicamente, ao conhecimento de delitos funcionais cometidos por militares em servigo ative” 20 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 153/DF. Tribunal Pleno. Relator: Min. Eros Grau, Brasilia, OF, 29.abr.10. Die 145. Ver tambem a intagraltranscrigdo do voto do Ministro Celso de Mello no julgamento dessa ADPF, que pode ser encontrado no Informatvo S88, do STF (Brasilia, DF, 24 a 28 de maio de 2040). 21 Allsta de medidas cautelares decididas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos encontra-se no sitio da Corte, no link (acesso em 04/02/2015). Er ‘espanol e, eventualmente, em portugues. 22 Teds as informagdes acerca do caso Palamara Iribarne X Repdblica do Chile encontram-se na pégina do sitio da Corte Interamericana de Direitos Humanos referente aos cascs envolvendo 0 Chile, no enderego (acesso em 26/01/2014), dentro do qual deve ser procurado 0 link pertinente, Alt encontra-se no s6 a sentenea do caso, mas também votes especifico, proferidos por juizes que examinaram o feito, e informagées referentes a0 acompanhamento do cumprimento da sentenga. Em espanhol 23 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo 617. Brasilia, DF, 21 2 25 de fevereiro de 2011, p. 9-13. Processo: HC 106.171-MC/AM, Relator: Min, Celso de Mello, julgado em 17.12.2010. 0 caso PalaramaIribarne X Republica do Chile foinovamente mencionado em 2012, no julgamento do HC 110237-MC/PA, objeto de pubicagEo no Informative 655 do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (Brasilia, DF, 27 de Fevereiro a 3 de marco de 2012. Relator: Min, Celso de Mello) 927 PARTE Ill ~ DIREITO HUMMANOS Em caso envolvendo 0 principio da presungao de inocéncia, o STF mencionow o caso “Can- toral Benavides X Republica do Peru", dentro do qual resto consagrada a nocio segundo a qual “E contriria & presungio de inocéncia a exibic¢do de uma pessoa aos meios de comunicagio vestida com traje infamante™? Em 2013, as medidas caurelares referentes & Prisdo Urso Branco, em Rondénia, foram men- cionadas pelo Ministro Luiz. Fux como uma das razées para a transferéncia de individuo outrora recolhido Aquele estabelecimento prisional para penitencisria federal”, 4. QUADROS SINOTICOS ADICIONAIS Quadro 4, Principais tratados do sistema interamericano de Direitos Humanos ¢ alguns dos temas tutelados TRATADO. ‘TEMAS PRINCIPAIS > Proclamacao dos direitos fundamentais da pessoa sem qualquer espécie: art. 3, letra “I” earewaatvea istincdo de Declaragio Americana _| Consagraco de direitos em muito semelhantes aos direitos também dos Direitos e Deveres do | constantes de outros instrumentos internacionais: arts. |-KXVII] Homem Deveres: arts. XXIX-XXXVIII Definicdo de pessoa: art. 1, par. 22 Nao-discriminagSo: art. 1, par, 12 Dever de adotar disposigdes de direito interno: arts. Le 2 Direito 8 vida e regulamentagdo da pena de morte: art. 4 +e etels Respeito & integridade da pessoa e protecao ao individuo dentro do sistema prisional: art. 5 Convenglo Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de Séo José) Proibicao dos trabalhos forgados: art. 6 Garantias processuais: arts. 7-10 Liberdades: arts. 11-16 e 22 Protegio da familia e da crianca: Nacionalidade: art. 20 Propriedade: art. 21 Direitos politicos: art. 23 +teeeeege Suspensao de garantias: art. 27 24 Todas as informacBes acerca do caso “Cantoral Benevides X Repiiblica do Peru" encontram-se na pagina do sitto da Corte interamericana de Direitos Humanos referente aos casos contenciosos, no endereco < http:/Avww.corteidh coer /index.php/es/casos-contenciosos> (acesso em 04/02/2015), no link pertinente. Ali encontre-se nao s6.a sentenca do caso, mas tamibém a deciséo relativa as questées preliminares e informagGes referentes ao acompanhamento do cumprimento da sentenga. Em espanhol. 25 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo 627. Brasilia, DF, 16.a 20 de maio de 2011, Processo: RE 565.519/0F. Relator: Min. Celso de Mello, Julgado erm 17.12.2010. 26 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Informativo 720, Brasilia, DF, 16 a 20 de setembro de 2013, Processo: HC 115.539/ RO. Relator: Min, Lulz Fux 928 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS TRATADO ‘TEMAS PRINCIPAIS Protocolo Adicional Convengao Americana sobre Direitos Humanos ‘em Matéria de Direitos Econémicos, Sociais € Culturais (Protocole de Sao Salvador) Direito 8 autodeterminago e ao desenvolvimento: Preémbulo Direito 20 trabalho: arts. 6-8 Previdéncia social: art. 9 Satde: art. 10 Meio ambiente sadio: art. 11 Seguranga alimentar: art. 12 Educacdo e cultura: arts. 13 ¢ 14 Protego da familia, da crianca e do idoso: arts. 15-17 Protecdo das pessoas com deficiéncia: art. 18 Convencdo Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura Coneeito de tortura: art. 2 Responsabilidade pela tortura: arts. 3¢ 4 Protocolo Adicional 4 Con- vencao Americana sobre Direitos Humanos Referen- te & Aboliggo da Pena de Morte tle eles ee eesus + Proibico da pena de morte para os Estados-Partes do Protocolo: art. 1 Possibilidade de reservas relativas @ pena de morte em tempo de guerra: art. 2 Convengao Interamericana sobre Tréfico Internacional de Menores Prevencio e repressio do tréfico internacional de menores de de- zoito anos: arts. 1-6 Conceito de tréfico internacional de menores de dezoito anos e defi- nig&o de “propésitos” e “meios ilicitos”: art. 2 Regulamentagao dos aspectos civis e penais do problema: arts. 7-22 Convencao Interamerica- na para Prevenir, Punir e Erradicar a Violéncia contra a Mulher (Convencao de Belém do Para) Conceito de violéncia contra a mulher: arts. 1 e 2 Direitos das mulheres: arts. 4-6 Obrigagces estatais no tocante as mulheres: arts. 7-9 Convengo Interamericana para a Eliminacao de Todas as Formas de Discrimi- naco contra as Pessoas Portadoras de Deficiéncia (Convencao da Guatemala ++ Conceito de deficiéncia: art. 1 Possibilidade de iniciativas de acao afirmativ art. 1, par. 2, “b” Obrigagdes estatais: arts. 3-5 Humanos Quadro 5. Requisitos para o exame de petigées individuais ¢ comunicagées na Comissao Interamericana de Direitos Humanos e de processos na Corte Interamericana de Dircitos COMISSAO INTERAMERICANA DE DIREITOS CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS HUMANOS: > Esgotamento dos recursos internos + Mesmos requisitos para o exame de peticdes individuais, constantes dos artigos 48 a 50 do Pacto de Sao José 929 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANOS COMISSAO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS > Apresentacao da peticdo ou comunicacao em até seis meses apds a notificagao do esgota- mente do ultimo recurso + 0 Estado deve ter aceitado previamente a competéncia da Corte para tal, por meio de uma convengao especial ou de uma declara- 40 de submissdo 2 competéncia obrigatéria da Corte > Somente Estados e a Comissao Interamerica- nna de Direitos Humanos podem submeter um caso a apreciagio da Corte > Inexisténcia de litispendéncia internacional PeticSes individuais: apresentadas por pessoa, grupo de pessoas ou entidade ndo-governa- mental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da OEA > Comunicacdes: apresentadas por Estados. Possiveis apenas se ambos os Estados tiverem reconhecido a competéncia da Comissio para efetuar esse exame 5. QUESTOES 1. (MPT - 2008) Quanto ao sistema interamericano de proteso dos direitos humanos, analise as assertivas abaixo: |. No ambito da Organizacao dos Estados Americanos, ao contrario do que ocorre no da ONU, s6 ha um. Pacto de Direitos Humanos, que trata dos Direitos Civis e Politicos, 0 Pacto de Sao José da Costa nao havendo um pacto de direitos sociais, econdmicos e culturais. Il. O Pacto de Sac José da Costa Rica restringe a prisdo civil por dividas ao devedor de alimentos. Ill, © Pacto de Sao José da Costa Rica proibe todo tipo de trabalho forcado ou obrigatério, inclusive ao presidiario. IV. Pacto de Sao José da Costa Rica consagra o duplo grau de jurisdico ao garantir o direito de recorrer de sentenga a juiz ou tribunal. Assinale a alternativa CORRETA: a) apenas os itens Ill e IV so corretos; b) apenas os itens |e Il s80 corretos; ¢) apenas os itens |e IV so corretos; d) apenas os itens Il e IV so corretos. 2. (TRF - 42 Regio — Jui correta em relacdo 4 Convenc3o sobre vembro de 1963: — 2007 ~ ADAPTADA) Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa ireitos Humanos, de San José, da Costa Rica, de 22 de no- |._ Nao se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido, nem apli politicos nos Estados que a admitam. 4:la por delitos Il, Alei pode submeter os espetaculos a censura prévia com o objetivo exclusive de regular 0 acesso a eles, para prote¢io moral da Infancia e da adolescéncia Ill. As garantias contra a restrigao a livre manifestacao e 8 livre difusdio do pensamento dispensam auto- rizacéo estatal para o funcionamento de emissoras de radio. 930 b) dd d) SISTEMA INTERAIERICANO DE PROTEGAO DOS DIREITOS HUMANOS Aexpulsio de estrangeiros, isolada ou coletivamente, s6 se pode dar por deciséo de autoridade judi- cidria ou administrativa e nos termos de permissivo legal. Assinale a alternativa CORRETA: Esto corretas apenas as assertivas le ll; Esto corretas apenas as assertivas |e ill; Esto corretas apenas as assertivas ill e IV. Esto corretas apenas as assertivas Il, Il e IV. Julgue os itens seguintes, respondendo “certo” ou “errado”: (DPU-2007) Compéem o Sistema Interamericano de Direltos Humanos a Assembléia Geral da Orga- nizagao dos Estados Americanos, a Corte Interamericana de Direltos Humanos e a Comissdo Intera- mericana de Direitos Humanos. (DPU — 2007) A Comissao Interamericana de Direitos Humanos tem por funcdo principal a obser- vancia e defesa dos direitos humanos e, no exercicio de seu mandato, tem a atribuicdo de formular recomendagdes aos governos dos Estados-membros. (MPT - 2006 ~ ADAPTADA) O Estado brasileira no reconhece a competéncia jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos. (MPT ~ 2006 ~ ADAPTADA) Nao ¢ da competéncia da Comissio Interamericana de Direitos Huma- nos examinar as comunicagdes, encaminhadas por individuos ou entidades nao governamentals, que contenham dendincia de violago a direito consagrado pela Conven¢3o Americana, por Estado que dela seja parte. {DPU - 2004) Qualquer pessoa pode apresentar 4 Comissdo Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) petigdes que contenham deniincias ou queixas de violagdes aos direitos consagrados na Con- ven¢do Americana sobre Direitos Humanos por um Estado-Parte, desde que, esgotadas os recursos de direito interno, o pleito obtenha o endosso do Estado do qual o individuo seja nacional. (MPT—2009 ~ ADAPTADA) A Conven¢So Americana de Direitos Humanos proclama que todas as pes soas tém o dircito de assoclar-se livremente com fins ideoldgicos, religiosos, politicos, econémicos, ‘trabalhistas, socials, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza. (IRBR - 2009 — ADAPTADA) Todos os Estados- membros da Convengao Interamericana sobre Direitos Humanos esto, ipso facto, sujeitos & jurisdicao da Corte Interamericena de Direitos Humanas, com sede em Sao José, na Costa Rica. 10. (Defensorla Publica de So Paulo ~ 2006) Maria da Penha Maia Fernandez durante anos de convi- véncla matrimonial foi alvo de violéncia domestica perpetrada por seu marido, que culminou em tentativa de homicidio que a tornou paraplégica. Passadas quinze anos da agressdo, ainda nao havia decisao final de condenacao do agressor pelos tribunais nacionais e ele se encontrava em liberdade. Em caso semelhante, a medida adequada a tomar em face do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, seri denunciar 0 caso & Corte Interamericana de Direitos Humanos para que se iniciasse um processo contra o agressor de Maria da Penha; denunciar 0 caso & Comissao Interamericana de Direitos Humanos, apds 0 pleno esgotamento dos recursos da jurisdigao interna brasileira, para que se iniciasse um processo contra o Bras denunciar 0 caso 3 Comisso Interamericana de Direitos Humanos, para que se iniciasse um proceso contra 0 Brasil, ndo mais se aguardando o esgotamento dos recursos da jurisdicdo interna brasileira; 931 PARTE Ill — DIREITO HUMANOS d)_nenhuma, uma ver que o Estado Brasileiro ndo é responsavel internacionalmente pelos atos crimino- 805 de seus cidadaos, relacionados a violéncia doméstica; e) denunciar o caso 4 Corte Interamericana de Direitos Humanos para que se iniciasse um processo contra o Brasil Julgue os itens seguintes, respondendo “certo” ou “errado” 11. (MPT ~ 2009 ~ ADAPTADA) Nos termos da Conven¢aa Americana, o individuo, a Comissio Interame- ricana ¢ 0s Estados ~ partes podem submeter um caso & Corte Interamericana de Direitos Humanos. 12. {IRBr ~ 2010 - ADAPTADA) A Corte Interamericana de Direitos Humanos profere sentengas recorri- veis pelos interessados, as quais declaram eventual violac3o de direito protegido por tratado, nao lhe competindo, no caso concreto, determinar pagamento de indenizagao 3 parte lesada. 13. (Defensor Publico da Unio - 2010) Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade ndo gover- namental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organizacao dos Estados Americanos (OEA) podem apresentar 8 Comiss30 Interamericana de Direitos Humanos peticdes que contenham dentincias ou queixas de violag3o 8 Convengao Americana de Direitos Humanos por um Estado-parte. 14. (Defensor Pdblico da Uniao - 2010) Embora sem competéncia contenciosa, de carter jurisdicional, a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem competéncia consultiva, relativa a interpretacao das disposigdes da Convengao Americana e das disposicdes de tratados concernentes a protecio dos direitos humanos 15, (MPT ~ 2009 - ADAPTADA) A Convencao Americana de Direitos Humanos impde como garantia ju- dicial que: toda pessoa terd o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoavel, por um Juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuragao de qualquer acusac3o penal formulada contra ela, ou na determinacdo de seus direitos e obrigagdes de caréter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza, 16. (AGU - 2022) Em casos que envolvam a prética de tortura sistemética, a Convengdo Americana de Direitos Humanos permite 0 acesso direto do individuo & Corte interamericana de Direitos Humanos. 17. (Defensor PUblico ~ Acre ~ 2012) Assinale a opgao correta a respeito da Corte Interamericana de Direitos Humanos: a) Essa corte é integrada por sete Juizes eleitos, no se admitindo nela a participaso de juizes ad hoc; b) Areferida corte desempenha, além da fungSo jurisdicional, funcao consultiva; ¢) Das suas decisdes cabe recurso a Assembleia Geral da Organizacao dos Estados Americanos; d)_ A juriscigao dessa corte internacional abrange todos os palses do continente americano; e} © Brasil reconheceu a jurisdicdo dessa corte no mesmo ano em que ratificou a Convencao Americana de Direitos Humanos. 18. (Defensor Publica — Acre — 2012) Com referéncia Comissao Interamericana de Direitos Humanos, assinale a opsdo correta: a) Nao compete a essa comissaa 0 conhecimento de queixa ou denéncia formulada por pessoa natural, visto que apenas Estados: membros tém legitimago para agir nos termos do direito pUblico interna- ional; b) A demora injustificada na tramitag3o dos recursos internos autoriza o conhecimento de dentincia mesmo sem o prévio esgotamento daqueles; 932 SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECAO DOS DIREITOS HUMANOS ©) Asolucio amistosa das queixas recebidas por essa comissao exige homologagao da Corte Interame- ricana de Direitos Humanos; d) Essa comissée poderd conhecer queixa idéntica a outra pendente de julgamento, desde que a litis- pendéncia nfo ocorra perante a propria comissdo ou a Corte interamericana de Direitos Humanos; e] Aessa comissao cabe, mediante prévia autorizagao da Corte Interamericana de Direitos Humanos, formular recomendagées aos Estados-membros 19. (MPF ~ Procurador da Repiblica — 2012) As medidas provisdrias, no mbito da Corte Interamericana de Direitos Humanos: a) sé podem ser concedidas quando o caso esteja tramitando na Corte; b) podem ser concedidas pelo Presidente da Corte ad referendum da mesma; ©) podem ser concedidas pela Comissdo Interamericana de Direitos Humanos em antecipacao da juris- digo da Corte; d} podem ser concedidas pela Corte antes mesmo de o caso nela ter trdmite, se a Comissao Interameri- cana de Direitos Humanos assim Ihe solicitar. 20. (OAB ~ VI Exame Unificado/Duque Caxias - 2011) 0 Protocolo de San Salvador é complementar 4 Convenc&o Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitas Econémicos, Sociais e Cultu rais. Assim, o direito de petigdo ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos é estendido pelo Protocolo de San Salvador aos casos de violaclo: a) ao direlto de livre associacao sindical. b) 20 direito de vedacdo ao trabalho escravo. ©) @ proibicdo do tratico internacional de pessoas. 4d) a0 direito & moradia digna. 21. (OAB — VII Exame Unificado - 2012) Joana, funcionaria de um hospital, decide adotar um recém nas- cido. Porém seu pedido de licenga-maternidade é negado, por falta de previsdo legal. Inconformada Joana ingressa na Justica Trabalhista, onde recebe decisdes favordveis a luz dos principios constitu cionais, inclusive do Tribunal Superior do Trabalho. Porém, em dltima andlise do caso, 0 Supremo Tr bunal Federal decide pela denegacao do pedido de licenca maternidade, aperando-se o transito em julgedo da decis%o. Segundo 0 Sistema Interamericano de Direitos Humanos, qual sera @ alternativa correta: a) Como a questéo ja transitou em julgado no Poder Judicidrio do pais acusado, Joana terd sua peticao inadmitida pela falta de cumprimento do requisito previsto na Convencao Americana de Direitos Humanos. b) Como a protecto da familia ndo est garantida pelo Pacto de So José da Costa Rica, Joana terd sua peticdo inadmitida pela falta de cumprimento do requisito previsto na Convengdo Americana de Di- reitos Humanos. ©) Joana poderd ter sua peticao admitida pela Comisséo Interamericana de Direitos Humanes, que po- der continuar a analisar 0 mérito do assunto mesmo que o Brasil tenha alterado a legislacdo sobre 0 tema apés a decisio do caso de Joana pelo STF, passando a beneficiar maes adotivas, em face da impossibilidade de retroatividade de norma para atingir coisa julgada. d) Joana nao podera ter sua peticao admitida, em raztio de ser requisito indispensdvel que estivesse representada por um Estado-membro da Organiza¢do dos Estados Americanos, para apresentar a Comissao Interamericana de Direitos Humanos a petic&o que contém dentincia ou queixa de violacgo da Convengio Americana de Direitos Humanos por um outro Estado-parte do qual é nacional. 933 PARTE Ill ~ DIREITO HUMANS 22. (QAB ~ VI Exame Unificado ~ 2011) A Convencao Interamericana de Direitos Humanos dispde que toda pessoa tem direito 4 vida, que deve ser protegida por lei, e que ninguém dela poder ser privado arbitrariamente. A respeito da pena de morte, o documento afirma que: a) ¢ inadmissivel a aplicagao da pena de morte em qualquer circunstancia, jd que o direlto a vida deve ser protegido por lel desde a concep¢ao. b) nao se pode aplicar pena de morte aos delitos politicos, exceto se forem conexos a delitos comuns sujeitos a tal pena. ©) apena de morte no pode ser imposta Squele que, no momento da perpetraco do delito, for menor de dezoito anos, nem aplicada & mulher em estado gestacional J) no se admite que Estados promulguem pena de morte, exceto se ja a tiverem aplicado e a tenham abolido, hipstese em que a tal pena podera ser restabelecida. [Defensor Publico — DF - 2013) Considerando 9 disposto na Convensio Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de Sao José da Costa Rica), julgue os itens subsequentes. 23. Ao aderir a referida convengao, a Brasil reconheceu o direito automatico de visitas e inspegdes in loco da Comissao Interamericana de Direitos Humanos, observado 0 prévio aviso as autoridades governa- mentais brasileiras, 24. Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade ndo governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da OEA tem competéncia para ingressar com petigdes que contenham dentincias ou queixas de violagiio da Convencdo sobre Direitos Humanos perante a ComissSo intera- mericana de Dire'tos Humanos. [QIRBR — 2014) Julgue os itens subsequentes, marcando “certo” ou “errado”. 25. A regra do esgotamento das vias internas, ainda que comporte excegdes, configura requisito de ad- missibilidade das demandas no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, dado o cardter subsidi- rio dos tribunais internacionais de direitos humanos. 26. No continente americano, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos é composto por dois ér- ‘880s permanentes, com sede em Washington: a Comissdo Interamericana, que examina reclamacdes de individuos contra supostas violacdes aos direitos humanos, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que julga determinados casos de violages 27. (FCC - Promotor de Justica ~ Paré - 2014) Nos termos da Convencao Interamericana sobre Direitos Humanos, promulgada pelo Decreto no 678/92, séo competentes para conhecer dos assuntos rela~ cionados com 0 cumprimento dos compromissos assumidos pelos Esta ~ dos-Partes na ConvencSo: 2) O Ministério Publico perante a Corte interamericana de Direltos Humanos e a Corte Internacional de Justica, b) A Corte internacional de Justica e o Tribunal Penal Internacional, ©) O Supremo Tribunal Federal e a Corte interamericana de Direitos Humanos, reitos Humanos ea Corte Interamericana de Direitos Humanos. d) A Comissao Interamericana de ©) Os érgaos do Poder Judicigrio brasileiro. 28, (Vunesp ~ Defensor Piiblico~ MS ~ 2014) Nos termos do art. 67 da Convengo Americana de Direitos Humanos, “A sentenga da Corte Interamericana de Direitos Humanos serd definitiva e inapelavel. Em caso de divergéncia sobre o sentido ou alcance da sentenca, a Corte interpreta-la-a, a pedido de qualquer das partes, desde que 0 pedido seja apresentado dentro de: a) noventa dias a partir da data da notificagao da sentenca”. 934

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