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Formação das fronteiras latino-americanas

O quarto dispositivo trata da troca de notificações de


ratificação.
Já a Convención adicional de 1897 incluiu um dispositivo
no acordo anterior, designado como Artículo III Bis, que garante
liberdade de navegação aos barcos mercantes mexicanos, à
perpetuidade, no estreito que se abre ao sul de Cayo de Ambergris
e que dá acesso à baía de Chetumal.543
Com o objetivo de se permitir o acesso de embarcações
militares (tendo em vista que o Tratado de 1897 só o permite a
navios mercantes) à região da baía de Chetumal, ao sul do estado
de Quintana Roo, o governo mexicano construiu, ainda no início do
século XX, uma via marítima de 1,23 km de extensão, denominada
Canal de Zaragoza, localizada a norte de Boca de Bacalar Chica,
conectando Chetumal ao Mar do Caribe.
O Reino Unido foi sucedido como parte nos acordos de 1893 e
1897 por Belize quando da independência deste último, em 1981.
A fronteira marítima entre México e Belize segue pendente de
delimitação.

3.41.3 Fronteira Brasil-França (Guiana Francesa)


(terrestre e marítima)
Os limites terrestres entre Brasil e França, com relação ao
estado do Amapá e à Guiana Francesa, foram objeto de acordos
desde os tempos coloniais, tendo-se ocupado dessa fronteira
o Tratado de Utrecht de 1713, o Tratado de Badajós de 1801,
outro tratado do mesmo ano, além do Congresso de Viena, que
determinou a devolução da Guiana Francesa à França em 1817.

543 MÉXICO; REINO UNIDO DE GRAN BRETAÑA E IRLANDA. Convencion adicional. Ciudad de
México, 7 de abril DE 1897.

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Formalização das fronteiras na América Latina

Pelo Primeiro Tratado de Utrecht, em 1713, firmado entre


Portugal e França, esta declarou desistir para sempre “de qualquer
direito e pretensão que pode, ou poderá ter sobre a propriedade
das Terras chamada do Cabo do Norte, e Situadas entre o Rio das
Amazonas e o de Japoc ou de Vicente Pinsão, sem reservar, ou
reter porção alguma das ditas terras” (Artigo VIII).544
No século seguinte, entretanto, a França passou a não
reconhecer o rio Oiapoque como o seu limite com o Brasil,
reivindicando um território de cerca de 260.000 km2 ao sul daquele
rio, que havia sido ocupado por colonos franceses no passado.
Configurou-se, assim, a Questão do Amapá, ou Contestado Franco-
-Brasileiro (1894-1900), disputa territorial entre Brasil e França
quanto aos limites entre Amapá e a Guiana Francesa.
Em 1890, a França reconheceu o governo republicano
brasileiro, cuja proclamação pusera fim ao Império, sendo o segundo
país europeu a fazê-lo, “embora tivesse pretendido subordinar seu
reconhecimento à solução da questão de limites com o Brasil no
Amapá”.545 Em 1895, a França ainda tentou ocupar o Amapá, porém
suas forças foram rechaçadas pela população local.
Brasil e França firmaram, então, um Tratado de Arbitramento,
no Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1897, no qual se determinou
que a fixação das fronteiras entre o Brasil e a França, na Guiana
Francesa, seria determinada por arbitragem do governo suíço, cuja
sentença seria aceita sem apelação.
A questão foi levada ao arbitramento do Conselho Federal da
Confederação Helvética, sob a presidência de Walter Hauser (1837-
-1902). O laudo arbitral, proferido em Berna, em 1º de dezembro
de 1900, reestabeleceu a fronteira Brasil-França pelo rio Oiapoque,

544 FRANÇA; PORTUGAL, 1713. Ortografia atualizada, exceto a toponímia. V. item 2.1.12, supra.
545 GARCIA, 2005: 104.

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Formação das fronteiras latino-americanas

conforme expresso no Artigo VIII do Primeiro Tratado de Utrecht,


de 1713, dando ganho de causa ao Brasil.
Já a fronteira marítima Brasil-França é regulada pelo Tratado
de delimitação marítima entre Brasil e Guiana Francesa, firmado em
Paris a 30 de janeiro de 1981.546

3.41.4 Fronteira Brasil-Guiana (terrestre)


A formalização das linhas de fronteira atualmente em vigor
entre Brasil e República Cooperativa da Guiana remonta ao período
pré-descolonização, quando o território guianense correspondia à
antiga Guiana Inglesa ou Britânica.
Entre os então vizinhos Brasil e Grã-Bretanha configurou-se,
desde princípios do século XIX, um litígio territorial referente à posse
de territórios a oeste do rio Rupununi (ou Rupunani), na Amazônia
setentrional, área correspondente, hoje, à região fronteiriça entre o
estado brasileiro de Roraima e a República Cooperativa da Guiana.
Os limites originais haviam sido traçados em 1748 pelos
holandeses, que então controlavam a Guiana Holandesa, traçado que
viria a ser adotado pelos portugueses a partir de 1783. Ocupada a
região pelos ingleses a partir de 1810, passaram estes a defender a
ocupação da área, inicialmente com base em um relatório elaborado
pelo explorador Robert Schomburgk (1804-1865), que alegava falta de
exercício de soberania por parte do Império do Brasil. Em novembro
de 1843, os governos brasileiro e britânico apresentaram propostas
divergentes para o traçado dos limites, o que tornariam a fazer décadas
mais tarde, em 1891 (proposta inglesa) e 1897 (proposta brasileira).547

546 BRASIL; FRANÇA. Tratado de delimitação marítima entre Brasil e Guiana Francesa. Paris, 30 de janeiro
de 1981.
547 Cf. Carte des frontières entre les États Units du Brésil el la Guyane Britannique. In: BARÃO DO RIO
BRANCO. Questões de limites. II: Guiana Britânica. Ministério das Relações Exteriores. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1945.

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