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PENSAMENTO GEOGRÁFICO
autor
BRUNO DANTAS MUNIZ DE BRITO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-590-9.
O método da Geografia 15
2. Os primórdios da Geografia 29
A Geografia na Antiguidade 33
Gregos e romanos e suas contribuições para a Geografia 34
3. A Geografia moderna 51
O Descobrimento pelas grandes navegações 52
4. A Geografia contemporânea 71
Capitalismo e Geografia 72
Paradigma da Natureza 98
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
5
Nesse âmbito da relação espaço-tempo, insere-se a relação sociedade-natureza,
repleta de antagonismos, paradoxos, desarranjos e dinâmicas autônomas, capazes
de serem tidas como mediadas pela ação do homem/sociedade.
Bons estudos!
1
Geografia:
ciência, método
e objeto
Geografia: ciência, método e objeto
O estudo da Ciência Geográfica é parte fundamental do conhecimento hu-
mano sobre o espaço e suas interações entre os povos no decurso do tempo. Em
cada momento da história a construção do escopo geográfico deu-se de forma
reflexiva, isto é, por meio da permanente busca por maiores e melhores informa-
ções os estudiosos atuaram no sentido de manter a informação sobre o espaço em
constante mudança.
Cada vez mais era preciso aperfeiçoar informações, dados e técnicas, de modo
que esse conteúdo proporcionasse a constante revisão de seus paradigmas.
Isso fez com que a Geografia se subdividisse, ganhando mais especialidades e
novos ares científicos, construindo novos métodos de abordagem e pesquisa para
cada novo objeto que fosse surgindo em sua área de estudo e problematização.
Com base nisso, os objetivos deste capítulo voltam-se para as seguin-
tes abordagens:
OBJETIVOS
• Discutir os pressupostos introdutórios da ciência geográfica;
• Conhecer os principais métodos da geografia enquanto ciência;
• Analisar o objeto de conhecimento da geografia e sua diversidade.
capítulo 1 •8
Como em toda área científica, também na Geografia, esses passos são demasia-
do importantes para caracterizar a mesma como relevante campo científico. Tanto
que, dada a crescente especialização dessa área, ocorreu a divisão da Geografia em
várias subáreas, de modo que para cada uma delas foram surgindo novos escopos
científicos capazes de atender aos desafios que esse aperfeiçoamento demandava.
Considerada como uma área bastante dinâmica e fundamental para o conhe-
cimento humano, a Geografia passou a ter aderência junto a várias outras ciências,
a exemplo da história, da matemática e da biologia, dentre tantas outras, motivo
esse que permitiu com que ela passasse a adotar novos métodos e objetos do co-
nhecimento, proporcionando um alargamento ainda maior de possibilidades de
aprendizagem e especialização.
A autonomia da geografia veio já nos idos do século XIX, por meio dos traba-
lhos desenvolvidos pelos geógrafos alemães Alexander von Humboldt e Karl Ritter.
©© WIKIMEDIA.ORG
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Foi ainda responsável por lançar as bases de importantes ciências tais como a
Geologia, Climatologia e Oceanografia, voltando-se para a pesquisa em diversas
áreas e sempre munido de uma visão reconhecida como geral e imparcial.
Foi o precursor do conceito de meio ambiente geográfico, o qual estabelecia
que as características da fauna e da flora de uma determinada região apresentam-se
intimamente relacionadas com a latitude, a tipologia do relevo e condições climá-
ticas existentes. Chegou a viajar pela América do Sul, mais especificamente pela
Venezuela, adentrando no Brasil pelo Rio Amazonas antes de ser impedido pela
coroa portuguesa de continuar sua expedição no ano de 1799.
Já Karl Ritter, nascido na Prússia, é reconhecido como um dos precursores da
geografia moderna e fundador da Sociedade Geográfica de Berlim. Um dos prin-
cipais trabalhos desenvolvidos por ele foi O Princípio da Analogia ou Geografia
Geral, o qual visava a comparar diversas paisagens do planeta, destacando os ele-
mentos por meio de suas semelhanças e diferenças.
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integração entre a ideia de sociedade e o meio natural, voltando-se especificamente
para a descrição mais detalhada do meio social humano.
Ambos são exímios pesquisadores da ciência geográfica, empreenderam esfor-
ços no intuito de expandir o conhecimento acerca do espaço, o que permitiu um
maior entendimento e posterior domínio da natureza. Com o desenvolvimento
socioeconômico as relações entre natureza e sociedade também modificaram-se.
Dessa forma o objeto da geografia igualmente veio mudando.
Da pré-história, passando pela antiguidade até a idade média, a geografia foi
utilizada, quase que exclusivamente, para a confecção de mapas e roteiros, indi-
cando a localização de recursos naturais, relacionando-se umbilicalmente com a
cartografia e a astronomia. Já na Idade Moderna a Geografia buscou compreender
as explicações que dessem conta do contexto da terra e o céu (os astros), as carac-
terísticas climáticas e, ainda, as sociedades.
Na Idade Contemporânea a Geografia passa a se tornar uma ciência com au-
tonomia, inicialmente por meio das viagens de Von Humboldt e das pesquisas de
Ritter. Os trabalhos versavam sobre a Europa, Ásia setentrional e América Latina,
o que veio a contribuir para a autonomia do conhecimento geográfico, o enten-
dimento sobre os fenômenos físicos e o fortalecimento epistemológico e político
da ciência geográfica.
Outros grandes estudiosos da Geografia deram seguimento ao trabalho de
Humboldt e Ritter, voltando suas atenções também para a defesa das posições
políticas. Foram eles Ratzel e Élissée Reclus, nos idos do final do Século XIX.
O alemão Friedrich Ratzel trabalhou em estudos voltados à Geografia Política
e à Geopolítica. Foi dele a origem do termo Determinismo Geográfico, que se re-
fere ao homem como sendo produto do meio, ou seja, as condições naturais é que
determinam a vida em sociedade. Nessa ótica, o homem acabaria por ser escravo
do seu próprio espaço, estando fadado ao sucesso ou fracasso em razão do local
onde se originou.
Tendo sido fortemente influenciando pelas ideias de Charles Darwin, Ratzel
acreditava que somente aquelas civilizações mais bem adaptadas ao meio sobrevi-
veriam, estabelecendo uma mítica de que os mais fortes dominariam e subjuga-
riam os mais fracos. Essas colocações também influenciaram aquilo que, tempos
depois, veio a ser denominado por Nazismo.
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Já Jean Jacques Èlisée Reclus foi um geógrafo francês, atuou frente à luta de
classes de sua época, desenvolvendo teorias libertárias que condenavam a expansão
do processo de colonização. Seus trabalhos tinham por base o método descritivo,
voltados à defesa de uma ideologia que pregava o fim do estado moderno em
função de sua filosofia anarquista. Apesar disso, suas importantes contribuições
acadêmicas voltavam-se sobre as questões sociais como a luta de classes, a concen-
tração de renda, a luta pela terra e a expansão colonial.
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Ademais, com o advento da “Geografia Crítica” no fim do século XX e início
do século XXI, seu pensamento fora resgatado e revelou cada vez mais contribui-
ções, sobretudo no que se refere às possibilidades e rumos da Geografia, demons-
trando a atualidade de seus estudos.
Outrossim, apesar dos esforços destes e de tantos outros pensadores e aca-
dêmicos, a Geografia não foi rapidamente aceita nas universidades, uma vez que
era vista apenas como uma maneira de catalogar os recursos naturais ou huma-
nos, prestando-se a um conhecimento meramente informativo e desprovido
de reflexividade.
Vale salientar ainda que, no momento histórico em questão, o maior interesse
dos países hegemônicos consistia na catalogação de todos os recursos de outros
territórios e países conquistados, de modo a extrair o máximo de informações que
pudessem lhes garantir o acesso às riquezas encontradas.
Por isso mesmo que, por muitos anos, a Geografia era definida como a ciência
responsável por fazer a descrição da superfície da terra, de modo que a simples des-
crição do espaço geográfico era tida como ciência.
No entanto, dada a importância dessas descrições, surge um grande número
de enfoques geográficos já na primeira metade do século XX. Isso porque a ciên-
cia geográfica subdividia-se em outras três áreas: a Geografia dos Exploradores; a
Geografia vulgar e; a Geografia Científica.
A primeira delas, a Geografia dos Exploradores, buscava as informações sobre
as áreas pouco conhecidas e era o principal objeto de interesse das sociedades
exploradoras. No cinema, alguns longas de sucesso reproduziram esse perfil de
forma ficcional. Títulos com personagens como Indiana Jones e Alan Quatermain
ficaram famosos por retratar lugares inexplorados do passado e acessíveis apenas
para uma pequena parcela de exploradores interessados na busca da verdade acerca
de fatos históricos e riquezas mitológicas.
Essas peças da ficção retrataram os interesses das sociedades geográficas espa-
lhadas pelo mundo, as quais interessavam-se em desbravar o desconhecido, per-
mitindo com que muitas expedições exploratórias fossem financiadas, sobretudo
para o continente africano.
Uma produção mais recente, e que foi baseada em fatos reais, pode ser confe-
rida sob título de A cidade perdida de Z, escrita por David Grann e sob direção de
James Gray. O filme conta a história de um geógrafo inglês e sua obstinada busca
por uma cidade perdida no coração da América do Sul. Financiado pela Sociedade
Geográfica Real da Grã-Bretanha o explorador parte em busca da cidade, a qual
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estava localizada supostamente onde hoje fica o estado do Acre, no Brasil. O longa
apresenta um verdadeiro tributo ao espírito desbravador daqueles que superaram
limites em busca do aprimoramento do conhecimento científico e geográfico.
Por sua vez, a Geografia tida como vulgar, ou ainda popular, dedicava-se
apenas a detalhar nos mapas e em volumes de compêndios um numeroso rol
de acidentes geográficos, divisões políticas, dados e informações econômicas que
interessavam apenas para registro e conhecimento das pessoas. Para muitos este
tipo de informação era muito limitada frente a todo potencial disponível para
a Geografia.
Já a Geografia Científica, por seu turno, era bastante trabalhada pelas uni-
versidades, as quais buscavam sua plataforma epistemológica, doutrinária e cien-
tífica, aperfeiçoando a caracterização dos aspectos geográficos e seu conjunto de
elementos de caráter científico. Foi graças a essa última, e a incontáveis estudos
acadêmicos e cientistas que publicaram obras ao fim do século XIX e início do
século XX, que o conceito mudou e passou a ser tido como a ciência responsável
capítulo 1 • 14
por estudar a distribuição dos fenômenos físicos, biológicos e humanos por sobre
a superfície da terra.
A Geografia vista como ciência, então, salta de um paradigma meramente des-
critivo para também contemplar a explicação sobre como e porquê tal distribuição é
feita. Com base nisso, a cientificidade da geografia passa a ser assegurada e se amplia.
Motivada pela influência neopositivista (e também pelo período pós-guerra) e
por um desejo de despolitizar a geografia em busca da sua neutralidade ideológica
(enquanto ciência) que o saber geográfico ganhou plataforma de conhecimento.
Apesar disso, muito ainda precisava ser feito, tendo em vista que naquele pe-
ríodo da evolução da geografia tudo era tratado com certa homogeneidade, de
modo muito singular, como se não houvessem distinções regionais. As inquieta-
ções eram mais metodológicas do que epistemológicas, no intuito de atender aos
governos e grandes empresas, as quais almejavam rápida expansão de investimen-
tos e negócios que seriam originados do crescimento econômico.
Outrossim, a enorme pressão no meio ambiente e na sociedade (por conta
desse cenário) fez surgir uma série de reações que contribuíram para o despontar
da Geografia Crítica (ou Geografia Radical), a qual apontou para denunciar os
problemas políticos, sociais, ambientais e econômicos decorrentes desse viés.
Surge assim a Geografia Nova, a qual se contrapunha ao modelo neopositivis-
ta e matemático, até então vigente da geografia, e que buscava satisfazer os interes-
ses dos grandes países e corporações empresariais. Um dos grandes críticos nessa
época foi Yves Lacoste, o qual publicou estudos que combatiam tais paradigmas.
Nesse ínterim, considera-se que a Geografia passou por importantes transfor-
mações (assim como igualmente mudou a sociedade), estas que lhe conferiram
o status de ciência capaz de estudar as relações entre a sociedade e a natureza, de
modo a entender como os povos organizam a superfície da terra e exploram seus
recursos naturais.
O método da Geografia
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Para se ter uma melhor compreensão disso imagine que para se estudar o espa-
ço é preciso entender como ele é produzido e reproduzido por força das escolhas e
ações da sociedade e das gentes que nele habitam ou atuam. Muitas intervenções
realizadas no espaço demanda um conhecimento que pode ser encontrado em ou-
tras áreas fora da geografia. Nesse caso, é importante valer-se do escopo proposto
pela interdisciplinaridade, a qual consiste em fazer uso do conhecimento de outra
área de modo que esta possa migrar para a geografia, auxiliando no entendimento
e nas melhores orientações sobre determinado aspecto ou questão.
Podemos definir por interdisciplinaridade aquilo que pode ser comum a duas
ou mais disciplinas ou ramos do conhecimento. A partir do momento em que esse
conhecimento passa a se relacionar entre essas áreas é criada uma ponte interdis-
ciplinar e os preceitos existentes entre ambas passam a fluir e coexistir como um
elemento de entendimento.
As relações existentes entre a geografia e a história, as ciências, matemática,
antropologia, música, turismo e cultura (além de tantas outras) tornou possível a
criação de pontes interdisciplinares, as quais geraram novos saberes e passaram a
explicar os fenômenos que nos rodeiam.
Ao se relacionarem, a geografia e a história acabam por formar postulados e
entendimentos que buscam dar conta da dinâmica relacionada ao espaço e tempo,
produzindo conhecimento capaz de abordar suas nuances e dimensões. Estudos
atuam no sentido de construir linhas de espaço e tempo para variados temas rela-
cionados entre a geografia e a história, permitindo compreender de que modo a
evolução dessas categorias caminhou ao longo dos registros humanos.
Além disso, também é possível compreender de que forma o espaço se trans-
forma em razão das diversas atividades humanas ao longo do tempo. Do momen-
to em que o homem deixa de ser nômade e passa a cultivar a terra até o presente
momento tecnológico e industrial, a geografia e a história desvendam e registram
as diversas etapas nas quais esses períodos ocorreram.
Ainda em razão das ações políticas e ideológicas que dominaram o espaço em
períodos históricos distintos, também é papel do entendimento interdisciplinar
produzido entre a geografia e a ciência histórica.
Já na aproximação entre a geografia e a matemática existem vários caminhos
que foram construídos no intuito de aperfeiçoar ambos. Por meio dos estudos da
matemática, sobretudo relacionada a geografia, as contribuições vão desde o en-
tendimento de escala até o princípio da proporcionalidade dos espaços.
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Além disso, é importante ponderar que a geografia é uma ciência que também
estuda as populações, seu crescimento, expansão, ocupação do espaço e utilização
dos recursos naturais para sua sobrevivência, de modo que a matemática permite
produzir conhecimento atrelado a essas dinâmicas, buscando determinar de que
forma as mesmas ocorrem.
Entre a geografia e o turismo há uma enorme afinidade, haja vista que o espa-
ço geográfico vem se tornando o principal e maior elemento motivador dos deslo-
camentos modernos registrados por força da atividade turística em todo o mundo.
As pessoas deixam seus lugares de residência para viver, por um período de tempo,
em outro espaço, conferindo-lhe nova perspectiva de relação social, passando a
tê-lo como um lugar, mantendo assim numerosas relações, as quais reverberam
no espaço visitado sob diversos aspectos, sejam eles sociais, culturais, políticos,
econômicos, ambientais, simbólicos e afetivos, além de outros contextos.
Dessa forma, geografia e turismo são tidas como áreas de conhecimento sim-
bióticas, perfeitamente relacionadas entre si e capazes de explicar a conjuntura a
elas relacionadas.
O estudo das ações dos distintos povos em seus determinados espaços também
é objeto de inquietação entre a Geografia associada a Antropologia. Dessa forma,
as transformações ocorridas no espaço acabam confrontando-se com os interesses
estabelecidos entre aqueles que fazem as sociedades, levando a mudanças no espa-
ço geográfico e causando ainda conflitos, os quais acabam por tornarem-se objetos
de interesse dos estudos entre ambas ciências.
Tais transformações também caracterizam-se por serem de ordem econômica,
influenciando a formação das estruturas sociais e confluindo para outros cenários
também de ordem social.
Dessa forma, a geografia associada à economia, produz um novo campo de
conhecimento capaz de responder a esses desafios, na medida em que o espaço
transmuta-se e torna-se alvo dos interesses produtivos e econômicos da sociedade.
Sendo assim, a geografia aproxima-se desta realidade, produzindo conhecimento e
ferramentas visando seu entendimento.
A busca pelo conhecimento na geografia pode se direcionar para muitas ver-
tentes, em face dos desafios e das necessidades que venham a surgir. Assim, a
ciência geográfica relaciona-se com:
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• A MINERALOGIA: capaz de conhecer e estudar as rochas e os minerais
existentes em diversas localidades pelo mundo;
• A HIDROLOGIA: é possível conhecer as questões relacionadas aos ma-
nanciais, reservatórios e demais aspectos voltados ao controle das águas;
• A METEOROLOGIA: é possível entender as condições do tempo e do
clima, além da problemática da poluição, seus efeitos e causas em todo o mundo;
• A ASTRONOMIA: é possível buscar informações sobre as estações do ano,
para que se possa planejar (da melhor forma possível) a utilização dos recursos
disponíveis.
De acordo com o exposto até aqui nota-se que a geografia dispõe de um amplo
rol de áreas de conhecimento que podem lhes ser associadas. Tendo em vista isso,
constata-se que é numeroso o volume de objetos a serem estudados pela geografia.
Considerando o grande volume de áreas afins, também é de se presumir que ou-
tros objetos de pesquisa e de conhecimento são postos à prova quando estudados
de forma interdisciplinar.
Dito isto, é possível delinear dois grandes grupos nos quais o conhecimento
geográfico está focado: A Geografia Física e a Geografia Humana.
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Para além dessa divisão, ainda houve ampla especialização no campo de abor-
dagem da geografia, fazendo surgir também desse movimento as áreas de estudo
da geomorfologia, hidrologia, biogeografia, além da geografia econômica, políti-
ca, social, do turismo, regional urbana e ainda a geoecologia (todas como expos-
to anteriormente).
Apesar disso, pesquisadores e estudiosos da área sabem que essa fragmentação
está amplamente relacionada ao crescimento e pluralização do saber geográfico
atrelado a outros campos e ramos do olhar humano. Sobretudo porque faz-se pre-
mente compreender os fatos e fenômenos que nos rodeiam utilizando-se de fer-
ramentas e mecanismos de interpretação da realidade, os quais estão amplamente
consolidados em outros campos da reflexividade e inteligência humana.
É nesse contexto que a inteligência geográfica atual perfaz novos caminhos
do saber associando-se a outras áreas e ciências, na busca por mais informações
e especificidades.
Além disso, ainda pode-se corroborar com a ideia de que a Geografia carac-
teriza-se como uma Ciência Social, uma vez que seu olhar central volta-se para a
formação da sociedade e as formas nas quais esta instala-se no meio natural. É bas-
tante numeroso o montante de publicações, conferências e pesquisas que versam
sobre a compreensão dicotômica do mundo.
Isto é, de formas distintas, os estudos e as pesquisas ora apontam para as van-
tagens das ocupações do espaço, ora para as desvantagens e os impactos causados
em decorrência do avanço da vida humana na terra.
É imperativo que os estudos e os pesquisadores possam construir elementos de
análise e reflexão sobre as diversas formas de ocupação do espaço, haja vista que é
dessa forma que se produz conhecimento e se entende, de maneira clara, como a
ação humana é ponto focal nas transformações do nosso espaço em comum.
Os acontecimentos registrados em um local do planeta podem ter sérios danos
para todos os habitantes de outra região, motivo suficiente para se compreen-
der que o amplo cenário de vida na Terra está diretamente relacionado com a
sua modificação.
Se de um lado a ocupação do espaço se dá de forma cada vez mais rápida e
voraz (trazendo promessa de prosperidade), por outro lado a necessidade de pro-
mover a racionalidade e sustentabilidade vão se contrapor ao discurso progressista,
na medida em que os recursos naturais precisam ser utilizados de forma a não
comprometer o futuro de todos. É, sem dúvida, uma dialética que nunca deixou
(e nem abandonará) o campo de discussão da geografia.
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Destarte, constata-se que o ser humano é o sujeito e o meio ambiente é o obje-
to, ambos elos indissociáveis do pensamento geográfico. Assim, em cada território,
do mais populoso ao mais remoto lugar do planeta, o espaço apresenta um grau
maior ou menor de intervenção humana. Basta conferir, por exemplo, no mapa da
densidade demográfica disposto a seguir.
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empregadas para tanto. A mineração é um bom exemplo dessa ideologia. Do mo-
delo de garimpo movido pela força humana até o atual, gerido por maquiná-
rio pesado.
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capítulo 1 • 21
O estudo que se propõe entre a sociedade e a natureza consiste no prisma do
saber geográfico, que de diferentes formas atua no sentido de melhor proporcionar
métodos e técnicas capazes de manter o equilíbrio ambiental associado ao desen-
volvimento social.
Evidentemente que esta não é tarefa fácil, uma vez que os interesses humanos
podem entrar em conflito por serem diametralmente opostos (preservação X ex-
ploração; uso racional X consumo crescente; condomínios de luxo X periferia).
Conclui-se que a ciência geográfica vive em permanente aperfeiçoamento, da-
dos os seus constantes desafios em compreender a realidade ao nosso redor.
ATIVIDADES
01. Pesquise sobre a vida e obra de Alexander Von Humboldt, bem como suas principais
contribuições para o estudo da geografia.
02. Em que ramo da geografia a obra de Carl Ritter foi construída? Comente.
04. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Sociologia?
05. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Física?
06. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Política?
07. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Matemática?
08. 8. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Economia?
09. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e o Turismo?
10. Qual a relação que pode ser feita entre a Geografia e a Demografia?
capítulo 1 • 22
Geocinema
Após assistir ao filme “Indiana Jones e os caçadores da arca perdida” responda:
a) Em qual região do mundo se passa a história?
b) Quais povos podem ser identificados?
c) Em qual período da história transcorre o filme?
d) Você acredita que ainda exista lugares desconhecidos do homem na terra?
MULTIMÍDIA
Relação de filmes e temas para pensar a Geografia
Segue uma relação de obras do cinema que podem auxiliar em distintos debates do
pensamento geográfico.
As forças da Terra (Born of Fire, 1983, EUA, direção: Thomas Skinner e Dennis Kane)
– Sobre abalos sísmicos. Uma produção da National Geographic que explica porque certas
regiões são mais sujeitas a terremotos e erupções vulcânicas, e de como fica a paisagem
destas regiões.
O inglês, o homem que subiu a colina e desceu a montanha (The englishman who
went up a hill but came down a mountain; 1995; Grã Bretanha, direção: Christopher Monge)
– Durante o período da primeira guerra, topógrafo inglês realiza medições no País de Gales
e decepciona uma pequena comunidade por constatar que sua maior elevação, identidade
dos galeses, não será incluída no primeiro mapeamento geral da Grã Bretanha. Pode ser
utilizado para mostrar a importância dos geossímbolos. É importante para quem gosta de ver
aspectos cartográficos.
As montanhas da Lua. (Mountains of the moon; 1990, Grã Bretanha, direção: Bob
Rafelson) – Refere-se à expedição de busca às nascentes do Rio Nilo, capitaneada por
Richard F. Burton e John Hanning Speke, a serviço da Companhia das índias Ocidentais, na
segunda metade do século XIX.
capítulo 1 • 23
Sobre Colonialismo e Descolonização:
Passagem para a Índia (Passage to India; 1984, Inglaterra, direção: David Lean) – A
colonização inglesa na Índia, retratada através de uma jovem que sofreu um estupro e o
principal suspeito, um amigo indiano.
Tempos Modernos (Modern Times; 1936, EUA, direção: Charles Chaplin) – Durante a
Depressão de 30, Carlitos trabalha em uma grande indústria e se torna líder de uma greve
por acaso. Mostra as consequências da modernização, a condição desumana do trabalha-
dor, a extração da mais-valia. Uma crítica à industrialização selvagem e ao descaso com os
operários.
capítulo 1 • 24
Os chapeleiros (1983, Brasil, direção: Adrian Cooper) – Um curta metragem filmado
em Campinas (SP), sobre o sistema de produção industrial. Trata do trabalhador no interior
de um sistema opressivo.
Sobre migrações:
Vidas Secas (1963, Brasil, direção: Nelson Pereira dos Santos) – (do romance de Gra-
ciliano Ramos) Narra a história de uma família de retirantes nordestinos que foge da Seca.
Bastante fiel ao livro, mostra a caminhada sempre em busca de um local para ficar. Existe o
período de tempo bom – no qual a família permanece em uma fazenda – até a estiagem, a
ausência de inverno, quando ela se põe a caminho novamente.
Macunaíma (1969, Brasil, direção: Joaquim Pedro de Andrade) – Com base em livro
homônimo de Mário de Andrade, uma alegoria a respeito do Brasil. Um menino negro, nas-
cido em uma tribo na Amazônia, habituado a ingênuas malandragens, sai em busca de uma
medalha de sorte e, já adulto e branco, chega a São Paulo, com um comportamento de um
herói preguiçoso e sem caráter.
capítulo 1 • 25
Central do Brasil (1998, Brasil, direção: Walter Salles Jr.) – Mulher que escreve cartas
para quem não sabe na estação da Central do Brasil no Rio de Janeiro, ajuda menino a en-
contrar o pai no interior do Nordeste.
Parahyba Mulher Macho (1983, Brasil, direção: Tizuka Yamazaki) – Sobre Anayde Bei-
riz, amante do assassino do governador da Paraíba (João Pessoa), no processo que resultou
na Revolução de 30.
Getúlio Vargas (1974, Brasil, direção: Ana Carolina) – Cotidiano do Brasil entre as
décadas de 30 e 50, com fatos importantes como a participação da FEB na Itália, o suicídio
de Getúlio e outros.
Amazônia em Chamas (The Burning Season; 1994, EUA, direção: John Frankenhei-
mer) – Uma visão de Hollywood sobre fatos que marcaram a vida de Chico Mendes (1944-
88), o famoso sindicalista e ambientalista de Xapuri (AC).
Fahrenheit 451 (Fahrenheit 451;1966, Inglaterra, direção: François Truffaut) – Uma de-
claração de amor à liberdade de expressão e aos livros.
capítulo 1 • 26
Sobre a 2ª Guerra Mundial:
Esperança e glória (Hope and Glory; 1987, Inglaterra, direção: John Boorman) – A 2ª
Guerra Mundial sobre a ótica de uma criança, que vive com a família em um bairro inglês de
classe média e que sofre constantes bombardeios.
Dien Bien Phu – A última batalha da Indochina (Diên Biên Phú; 1992, França, dire-
ção: Pierre Schoendoerffer) – Em 1954, um jornalista estadunidense que vivia em Hanói há
mais de dez anos, investigou os fatos que levaram ao fim o domínio francês. Uma espécie de
Platoon francês, pois seu diretor – autor do roteiro – foi cinegrafista do exército francês na
Indochina e chegou a ser preso pelos comunistas.
Os boinas verdes (The green berets; 1968, EUA, dirigido e estrelado por John Wayne).
Favorável à intervenção estadunidense. Aliás, se os vietnamitas do filme fossem substituídos
por alemães ou japoneses, seria também um filme da 2a Guerra Mundial. Após um treina-
mento rigoroso, um pelotão de elite – os boinas-verdes – vai lutar no Vietnã.
Platoon (Platoon; 1986, EUA, direção: Oliver Stone) – Uma visão condensada da guerra
(1968/69), com base na atuação do próprio diretor, que se engajou como voluntário e, pelo
filme, se arrependeu. Mostrou, dentro da guerra, através de cartas que escrevia, as contradi-
ções de sua própria sociedade.
capítulo 1 • 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Jorge Luiz. Geografia e cinema: em busca de aproximações e do inesperado. In:
CARLOS, Ana Fani A. (org.) A geografia em sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999.
LACOSTE, Yves. Para que serve a paisagem? O que é uma bela paisagem? Boletim Paulista de
Geografia. São Paulo: AGB, n. 79, jul. 2003.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica, São Paulo: Annablume, 2005.
RODRIGUES, Auro de Jesus. Geografia: introdução à ciência geográfica, São Paulo: Avercamp,
2008.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova, São Paulo: EDUSP, 2008.
capítulo 1 • 28
2
Os primórdios da
Geografia
Os primórdios da Geografia
As concepções geográficas advindas dos povos da antiguidade serviram como
alicerce ao desenvolvimento de conceitos e concepções geográficas trabalhadas nos
dias de hoje.
Sob a perspectiva dos povos ocidentais entende-se que a antiguidade teve iní-
cio a 40 séculos antes de Cristo, tendo como referência os povos do Egito e da
Mesopotâmia. No entanto, tal colocação tem distinção ao se referir aos povos do
mediterrâneo e oriente médio, sobretudo aos chineses e hindus da Ásia oriental
e Meridional.
Já a Oceania e Américas (os quais não tiveram contato com os europeus até
meados dos séculos XVI e XVII) desenvolveram suas civilizações utilizando-se de
conhecimentos bastante rudimentares, em comparação ao que já existia.
Outrossim, o pensamento grego atuou de maneira fundamental para a cons-
trução da ciência geográfica, a exemplo deste mapa elaborado por Eratóstenes no
ano de 194 a.C. e reconstruído no século XIX.
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Apesar desses povos não dominarem a escrita, seu legado foi transmitido por
meio da comunicação oral, repassada de geração a geração, além dos desenhos em
rochas e cavernas, estes últimos amplamente estudados e visitados por pessoas de
todo mundo.
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Figura 2.2 – Sítio Arqueológico Pedra Pintada - Pacaraima - Roraima. Fonte: Acervo IPHAN,
disponível em <http://portalcanaa.com.br>. Acesso em: 25 fev. 2018.
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OBJETIVOS
• Compreender os aspectos do pensamento geográfico a partir da ótica dos povos da Anti-
guidade e da Idade Média;
• Identificar as principais contribuições desses povos para o pensamento geográfico;
• Analisar de que forma essas contribuições são utilizadas até os dias de hoje.
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A Geografia na Antiguidade
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Atravessando o estreito de Gibraltar, em direção ao Atlântico e a Grã-Bretanha,
buscavam mercadorias que, até então, eram inexistentes em sua região de origem.
Foram empreendidas muitas circunavegações a África por ordem do Faraó Nécao
II, nos idos do século VII a.C.
Também é do origem egípcia a construção de um canal que cortasse o istmo
de Suez (o qual ligaria os mares Mediterrâneo e Vermelho) com o intuito de am-
pliar o alcance da navegação até o Oceano Índico. No entanto, a ideia declinou
ao observarem que o nível do Mar Vermelho era mais elevado do que o do Mar
Mediterrâneo, o que viria a acarretar na inundação das planícies costeiras e de seus
campos cultivados.
Esta tácita informação comprova que o amplo domínio dessa tecnologia ser-
viu não só para ampliar o entendimento sobre a importância do planejamento
como também a atenção especial para os desdobramentos das decisões que reme-
tem a transformação do espaço geográfico.
A utilização desses conhecimentos, acumulados por esses povos, foram repas-
sados também a outras civilizações, a exemplo dos gregos, os quais elaboraram e
ampliaram esses saberes, permitindo assim o surgimento de novas ciências.
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Ao passo que ampliavam suas fronteiras geográficas também aperfeiçoaram
suas técnicas nas áreas da agricultura (técnicas de uso do solo), sociedade (relação
entre as classes sociais), política (poder e o povo) e o pensamento nas mais distin-
tas temáticas.
Os sistemas de montanhas, as variações nos regimes dos rios, a distribuição
das chuvas e as estações do ano (entre tantos outros) tornava-se objeto de regis-
tro e estudo pelos gregos. Destacam-se, nesse sentido, as obras de Homero, nas
quais o mesmo procurou descrever diversos cenários daquela época com riqueza
de detalhes.
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• CLIO – Em seu primeiro livro relata as causas das "Guerras Médicas", as
desavenças e conflitos que ocorreram entre bárbaros e gregos;
• EUTERPE – Já no segundo livro são relatados os acontecimentos no Egito,
sua história e geografia, a religião, reis, os animais sagrados e os costumes locais;
• TÁLIA - No terceiro livro estão reunidos fatos sobre o motivo que levou
Cambises (imperador da Pérsia) a atacar o Egito, toda trajetória até sua morte e a
entronização de Dário I;
• MELPÔMENE - No quarto livro estão registradas informações sobre Cítia,
região na Eurásia à época habitada por iranianos;
• TERPSÍCORE – Já o quinto livro relata o avanço persa sobre a Grécia;
• ERATO - No sexto livro está reunida a história de Esparta e Atenas, suas
políticas internas e a invasão persa na Macedônia;
• POLÍMNIA - No sétimo livro relata-se a invasão na Grécia, a morte de
Dário e a posse de Xerxes I assumindo o trono do império persa;
• URÂNIA - No oitavo livro registrou-se a Batalha do Cabo Artemísio, além
da ocupação a destruição de Atenas, a Batalha de Salamina e a retirada de Xerxes;
• CALIOPE - O nono e último livro conta sobre as batalhas de Plátea e Micala,
a tomada de Sesto pelos atenienses e a opinião de Ciro sobre o expansionismo.
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Os escritos mais famosos de Estrabão são compostos de relatos, descrições e
reflexões compostas por aspectos físicos, econômicos e humanos observados pelo
mesmo. Os livros I e II versão acerca de temas gerais sob os quais compreende-se
como que uma introdução ao seu pensamento geográfico, formado por discussões
de conceitos geográficos, além do confronto de fontes. Os outros fazem referência
às regiões da terra, a começar pela Ibéria e finalizando no Egito, Etiópia e na Líbia.
Os estudos sobre as áreas litorâneas e centrais da Grécia foram muito enri-
quecidos graças a utilização de mapas e seus itinerários conhecidos como périplos.
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Apesar de pouco precisos (pois não eram construídos respeitando escalas, lati-
tudes e longitudes) os périplos serviam para indicar distâncias entre pontos diver-
sos, de forma que os mesmos servissem para tomar-se como referência.
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Os gregos tinham conhecimento da existência de terras que situavam-se ao
norte, na Europa Setentrional e na Ásia, terras estas as quais eles não detinham
relações e nem dispunham de sua localização mais precisa, mas estavam certos
de que elas serviriam como reserva para uma futura exploração, caso viesse a se
tornar necessário.
Muito do conhecimento geográfico advindo dos gregos surgiu a partir das
descrições que os mesmos elaboravam sobre as áreas conhecidas ou mesmo com
base nas informações de outros escritores. Isso porque muitos deles eram apenas
compiladores de informação que advinham de outros escritores, ou ainda de in-
formações que eram repassadas por outras pessoas que detinham conhecimento
sobre lugares diferentes.
Enquanto isso, filósofos e matemáticos discutiam questões mais complexas
para época, a exemplo da dimensão da Terra, sua distribuição espacial, o volume
das águas e ocupação das populações nesse meio.
A questão sobre a forma do planeta e sua esfericidade foi apresentada por
Aristóteles aos sábios da época e amplamente aceita, pois o mesmo apresentou a
comprovação por meio da sombra redonda que a Terra formava na lua por ocasião
dos eclipses.
Já Eratóstenes elaborou diversos trabalhos sobre a Geodésia (que consiste
numa subdivisão da geofísica e que se ocupa da determinação das dimensões e
forma da Terra, além do seu campo gravitacional, a locação de pontos fixos e de
sistemas de coordenadas) partindo-se do pressuposto de que a Terra detinha uma
forma esférica e sua inclinação se baseava na medição dos raios solares projetados
em um poço, no famoso experimento que o mesmo elaborou envolvendo as cida-
des de Sienna e Alexandria. Na ocasião, Eratóstenes chegou a declarar que a esfe-
ricidade da Terra era de 42.000 quilômetros, praticamente a mesma que é aceita
atualmente e que é de pouco mais de 40.000 quilômetros.
Outro importante grego que contribuiu sobremaneira para a história do pen-
samento geográfico foi Aristóteles. A respeito da esfericidade da Terra Aristóteles
apresentou três provas que sustentavam essa teoria.
A primeira delas foi a de que toda matéria tende a concentrar-se em torno
de um centro comum; a segunda (e já apresentada anteriormente) dizia que a
sombra da terra projetada na lua durante um eclipse era circular, o que poderia ser
observado por qualquer pessoa durante esse evento; já a terceira afirmava que as
mudanças no horizonte (por ocasião do nascer e pôr do sol) além do surgimento
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das constelações durante a noite só podem ser explicadas em função da esferici-
dade da terra.
Com base nesta teoria, Aristóteles também admitia que a inclinação do pla-
neta promovia uma variação climática diferenciada em diversas partes da Terra,
considerando que deveria haver uma região muito quente, situado no Equador,
acompanhada de uma mais temperada onde ele vivia e, ainda, uma outra região
muito fria ao norte, nas proximidades do polo.
Isto posto, Aristóteles afirmava que só deveria haver vida na região temperada,
uma vez que as variações climáticas e de temperatura não seriam oportunas à ma-
nutenção da vida. Além desses assuntos, Aristóteles também estudou a respeito da
formação dos deltas, da erosão, das relações existentes entre as plantas e os animais
no meio físico, a variação do clima por meio da latitude e das estações do ano, as
diversas relações e distinções entre a raça humana e ainda a política.
Considerando que os gregos viviam numa região de intensa atividade sísmica
e vulcânica, suas preocupações eram frequentes. Tanto que outro grande pensador
grego, Platão, ficou fortemente impressionado com os eventos que levaram à ex-
plosão e destruição (mesmo que parcial) da ilha de Samotrácia.
Com base nesse acontecimento que ele imaginou a existência de um conti-
nente desaparecido após uma catástrofe dessa proporção e o qual é mundialmente
conhecido até hoje como Atlântida.
Outra importante constatação dos intelectuais gregos para o pensamento geo-
gráfico foi o fato de que entre a divisão de terra e água no planeta este último ocu-
pava lugar de destaque, de forma que a Europa, Ásia e África formaria um grande
continente no extremo norte do planeta, cercado por água e que esta era contínua.
Haviam ainda fortes discussões sobre a existência ou não de um outro conti-
nente no hemisfério sul, de forma que alguns acreditavam no necessário equilíbrio
do planeta, enquanto outros rejeitavam sua existência.
Nos idos do século II d.C. um sábio grego de Alexandria conhecido por
Ptolomeu escreveu em sua obra, Sintaxis, que a Terra seria o centro do universo,
descrevendo um sistema que ficou conhecido como planetário geocêntrico.
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a escrever em grego mesmo após o domínio de Roma, o que acabou por dificultar
a identificação de qual contribuição pode ser atribuída a cada um destes povos
após a ocupação romana.
Em razão da necessidade de controlar e desenvolver o comércio (tendo em
vista as dezenas de províncias sob seu comando) o império romano acabou por dar
maior importância a geografia descritiva ao invés da geografia matemática, a qual
foi amplamente trabalhada pelos gregos.
Os geógrafos romanos, entre eles Pompônio Mela e Plínio, passaram a traba-
lhar na descrição geográfica do vasto império, buscando indicar a localização das
áreas ricas em produtos comerciais, suas respectivas vias de acesso (sejam elas por
terra ou água), as cidades e sua importância dentro do contexto imperial e no que
tangia ao seu abastecimento e os problemas identificados nas fronteiras do império
e que comprometiam sua estabilidade.
Neste último aspecto (as cidades) a preocupação dos geógrafos romanos volta-
va-se para o crescimento da população e todos os problemas decorrentes disso, tais
como o abastecimento, comunicação e o sistema sanitário.
Foi preciso melhorar significativamente as estradas para que mercadorias, in-
formação e as legiões pudessem deslocar-se rapidamente e realizar aquilo que fosse
necessário à manutenção e sobrevivência do império.
Muitas cidades situavam-se em áreas conflagradas, isto é, locais onde a paz
não era duradoura e sempre haveriam aqueles que desafiariam a ordem romana
vigente. Essas áreas eram ocupadas tanto por partas, líbios, mongóis e germanos,
populações nativas subjugadas, quanto por outros povos que viviam para além dos
limites do império e que dedicavam-se a lutar pela expansão de seus domínios.
Com o crescimento da demanda pela população urbana, os romanos viram a
necessidade de apropriar-se cada vez mais da produção agrícola, pressionando pelo
crescimento da produtividade agrícola e das modificações sociais, originando assim
a luta entre os trabalhadores rurais e grandes proprietários de terra, os latifundiá-
rios. Essas lutas conduziram a muita ação política, sobretudo por parte dos irmãos
Tibério e Caio Graco, ambos favoráveis a uma reforma agrária e ao estabelecimento
de ações voltadas a uma política de colonização fora da península itálica.
Em razão disso, muitos historiadores e geógrafos da época procuravam realizar
seus estudos compreendendo de que forma tal situação se dava no passado. Essa
forma de buscar meios para interpretar a realidade é utilizada até os dias de hoje,
demonstrando ser um meio eficaz de compreender o passado e sua influência
no presente.
capítulo 2 • 41
Outro fato relevante para a época (e de cunho eminentemente religioso) foi
a grande expansão do cristianismo no século IV. Por oportuno registrar, a força
dos monges era tamanha que, após a queda do Império Romano do Ocidente no
século V, estes passaram a dominar a cultura europeia frente aos bárbaros e os tidos
como incultos.
Em seus mosteiros esses monges dedicavam todo seu tempo a encontrar a
“verdade” nas escrituras da Bíblia Sagrada. Tanto que tal poder e influência fize-
ram contestar uma série de verdades cientificas propaladas pelos gregos, recuando
ao tempo das velhas estórias, a exemplo da esfericidade da terra, tendo-a como se
fosse um disco plano e onde a navegação a lugares cada vez mais distantes seria
um grande risco.
Nos livros que eram reescritos pelos monges, ao lado de informações ver-
dadeiras, haviam outras numerosas informações falsas e que operavam contra a
verdade, a exemplo da descrição de monstros e outros animais pavorosos que ha-
bitavam para além das fronteiras conhecidas. Essas informações foram recebidas
com verdadeiro espanto e, por muito tempo, reduziram as chances de se ampliar
o conhecimento científico da época.
Uma obra cinematográfica que retrata bem essa realidade pode ser vista no
longa O nome da rosa, baseada no romance homônimo do escritor Humberto
Eco e lançado em 1980. A estória transcorre no ano de 1327 quando um frei rece-
be a missão do papa de investigar a ocorrência de uma série de heresias num mos-
teiro franciscano, onde o espectador pode conferir como as obras eram traduzidas
do latim paras as línguas barbaras, no intuito de preservar os originais. Apesar
disso, muitas delas passaram a ser alteradas, modificando seu sentido em nome da
manutenção da fé e do poder da igreja católica sobre os fiéis.
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e dos campos aliados a uma nova ordem, baseada em feudos, permitiu a expansão
do cristianismo, concedendo mais poderes ao Papa e massificando as tradições
culturais greco-romanas junto aos povos dominados.
Para além do Mediterrâneo, Constantinopla e seu império permaneceram por
quase mil anos até os sucessivos desmembramentos após as lutas envolvendo ára-
bes e turcos.
Em razão do período de muitas lutas travadas pelo poder houve uma redução
significativa no comércio e nas comunicações, fazendo decrescer o ritmo de refle-
xões filosóficas e, consequentemente, do pensamento geográfico.
No entanto, a construção de estados fortes fez com que as tradições culturais
gregas e latinas fossem integradas aos povos do oriente, promovendo assim uma
maior difusão cultural e expansão de novas perspectivas de conhecimento.
Destacam-se, nesse sentido, as viagens dos povos escandinavos pelos mares
setentrionais (chegando até a região hoje denominada de Islândia, Groenlândia
e América do Norte), os missionários italianos que promoveram contato com os
povos do Extremo Oriente e da Índia e, ainda, os árabes que expandiram sua for-
mação cultural e religiosa por conta do islamismo.
Estes últimos merecem destaque, já que sua lista de conquistas é bastante
numerosa e impressionante, merecendo um destaque nesse sentido. Logo após as
pregações de Maomé, a conversão dos povos da península arábica ao islamismo,
capítulo 2 • 43
as conquistas das terras do Império Bizantino na Ásia Menor e África, o domínio
das civilizações sírias e palestinas, a conquista do Marrocos e a dominação de toda
Península Ibérica chegando até o Irã e a Índia disseminaram no mundo o poder
do povo árabe.
O império ampliou e melhorou as estradas das regiões conquistas, em razão
das peregrinações que os muçulmanos precisam realizar, pelo menos uma vez na
vida, para Meca.
Em seu poder também estavam obras de grande valor intelectual, sobretu-
do das bibliotecas das cidades conquistadas, a exemplo da famosa biblioteca de
Alexandria. Muitos daqueles títulos foram traduzidos para o Árabe, a exemplo das
obras de Aristóteles e Ptolomeu (este último havia sido diretor da biblioteca de
Alexandria).
Diferentemente de outras civilizações os árabes não assimilaram as culturas
dos povos dominados, mas sim, controlavam as mesmas além de exigir pesados
tributos por conta de seu controle sobre os mesmos.
Muitas das cidades árabes dominadas à época evoluíram notavelmente nas
áreas de agricultura, irrigação e arquitetura, desenvolvendo-se também cultural-
mente. São exemplos desse escopo Sevilha, Córdoba e Granada, ambas na Espanha.
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capítulo 2 • 44
Tendo realizado viagens longas, os árabes ainda dedicaram-se a estudar as con-
dições naturais, os recursos, as instituições e os costumes dos povos por onde
os mesmos viajavam. Tudo foi registrado em diversas obras, muitas das quais de
grande importância para os pesquisadores da geografia até hoje.
Vale ainda destacar que o papel da descrição da vida cotidiana, das condições
físicas, sociais e políticas daquela época são da maior importância hoje, sobretudo
para que se possa compreender e mensurar em que situação se viviam naquela
época e como essas informações devem ser interpretadas na atualidade para que se
possa montar o panorama da vida naquele momento da história.
Os escritores árabes mais difundidos hoje, por conta dessas importantes con-
tribuições, são El Edrisi, Ibn BAtouta e Ibn Khaldun, ambos viajantes e muito
bons observadores que relataram sistematicamente todas as situações encontradas,
vivenciadas e merecedoras de registro por parte dos mesmos.
O próprio Ibn Khaldun, o mais conhecido deles, mostrou-se extremamen-
te temeroso a Alá e crente aos ensinamentos do Profeta Maomé, porém sempre
atuou de forma bastante técnica na construção e registro de suas observações, não
permitindo com que suas impressões fossem modificadas em razão de sua religião.
Apesar de sua vastidão, o Império Bizantino não se manteve firme por muito
tempo, sendo desmembrado e ficando suscetível aos ataques dos inimigos. Os
Turcos, de origem mongólica, passaram a atacar e dominar as principais cidades
e províncias orientais do império árabe, o que culminou com a destruição do
Império Bizantino e a conquista de Constantinopla no século XV.
Sendo assim, o comércio e o intercâmbio cultural que os árabes haviam man-
tido com os cristãos fora interrompido pelos turcos, que chegaram a atuar de
forma mais rígida sobre aqueles que vinham sendo conduzidos pelos árabes.
Isso acarretou numa série de problemas para os europeus e católicos, de forma
que foram organizadas diversas expedições até a Palestina com o objetivo de re-
conquistar os locais sagrados para os cristãos, sobretudo aqueles onde Jesus viveu,
pregou e estava enterrado.
Surgem as Cruzadas, enormes expedições nas quais as lutas travadas entre
cristãos e turcos buscava a conquista de lugares sagrados e a recondução das rotas
comerciais do Oriente.
Nomes como São Luís (da França) e Ricardo Coração de Leão (da Inglaterra)
foram os líderes de muitos anos de batalhas pela “Terra Santa” entre os séculos X
e XI. O termo Cruzada não era conhecido na época em que ocorreram e só foi
assim nomeado porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo e se
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distinguiam pela cruz em suas roupas. Naquela época eram chamadas de peregri-
nações ou de guerra santa pelos europeus. Contudo, no Oriente Médio, eram cha-
madas de invasões francas, em função da maioria dos cruzados serem provenientes
do Império Carolíngio e de se nominarem francos.
Enquanto isso, os povos do norte passaram por séculos sem contato com os
demais povos do Mediterrâneo, desenvolvendo exímias habilidades tanto na pesca
quanto na navegação. Foi assim que marinheiros dinamarqueses e noruegueses
singraram por mares setentrionais do Atlântico, descobrindo ilhas até chegarem
no norte da Escócia, passando pela Groenlândia e finalmente ocupando a porção
Norte do Canadá.
capítulo 2 • 46
Um desses navegadores recebeu grande destaque na história: Erick, o verme-
lho. Os conhecimentos desses navegadores não estão devidamente registrados mas
seu feito é, sem dúvida, notável, haja vista que as informações sobre viagens tran-
soceânicas, a direção e intensidade dos ventos, das correntes marítimas, do clima e
das oscilações da água do mar são elementos mais do que suficientes para destacar
a destreza dos povos do norte e seu avanço sobre o oceano.
capítulo 2 • 47
africana e desenvolveram expertise para encarar e vencer os desafios que só quem
navega no oceano podem entender.
Por conta disso, faz-se relevante salientar que o conhecimento advindo das
viagens tornou-se condição essencial para o desenvolvimento do pensamento geo-
gráfico, sem o qual não haveriam meios de se registrar e publicar as impressões,
informações e descrições presentes nos documentos gerados. Foram essas expedi-
ções que permitiram a reformulação da cartografia, produzindo novos mapas com
um maior detalhamento de rotas marítimas, istmos e costas, além de apresentar
algumas condições que poderiam ser seguras ou não à navegabilidade.
Muitos destes novos mapas ainda permitiam a identificação de montanhas,
rios, lagos, planícies e desertos, muitos deles com a presença de povos que viviam e
habitavam as regiões mapeadas e ainda pouco conhecidas pelos exploradores, per-
mitindo compreender a distribuição das populações e identificando os ecúmenos
e anecúmenos, a distribuição das terras e das águas.
Outrossim, as viagens também despertavam interesses oportunos, tais como a
profundidade e a formação do relevo submarino, a existência de fossas profundas,
sua semelhança com o relevo dos continentes e as condições criadas para ambos
em razão de fenômenos físicos e do próprio vulcanismo. Apesar disso, essas eram
impressões registradas pelos estudiosos sem que ainda houvessem condições mate-
riais e científicas para promover a comprovação.
Outra grande preocupação para os pensadores da época era com o abasteci-
mento de água para as populações, a irrigação dos campos e o transporte pelos rios,
já que não haviam condições favoráveis de deslocamento pelas estradas nem mes-
mo animais de porte necessário para empreender viagens tão duradouras. Dessa
forma, o domínio sobre os rios, enquanto recurso natural essencial, era condição
fundamental para a manutenção da vida dos povos da antiguidade e idade média.
Em decorrência das navegações oceânicas muitos pensadores e navegadores
voltaram suas preocupações para o estudo dos fenômenos das marés, sua alternân-
cia de rebaixamento e elevação do nível do mar, a direção das correntes marinhas
e as melhores condições de registro dos ventos para utilização nos deslocamentos
em alto mar.
Graças a essas observações e constatações percebeu-se que haviam diferen-
ças entre os fenômenos conhecidos em mar aberto e aqueles em mares fechados
ou isolados, identificando quais seriam as condições mais e menos favoráveis aos
navegantes em ambas as possibilidades, além de que cuidados deveriam se cercar
capítulo 2 • 48
para percorrer nessas águas. Já na idade média existem registros de que haviam
estudiosos que atribuíram a existência das marés a força de atração exercida pela
Lua, de modo que sua influência podia ser sentido no mar em função das distintas
fases do astro durante o período de um mês.
No geral, conclui-se que houve um avanço do pensamento geográfico bem
mais significativo na Idade Antiga do que na Idade Média. Isto por conta do gran-
de período de conflitos e guerras nos séculos V e VI, após a destruição do Império
Romano do Ocidente. Em função de uma certa pausa acarretada por este momen-
to histórico, houve uma retomada do pensamento geográfico graças aos esforços
dos padres Alberto Magno e Tomás de Aquino, os quais promoveram o resgate das
ideias aristotélicas e de todo conhecimento registrado em nome dos sábios gregos
Aristóteles, Ptolomeu, Estrabão e Heródoto.
Todos estes movimentos proporcionaram terreno fértil para o surgimento de
importantes condições favoráveis à chegada dos tempos modernos.
ATIVIDADES
Com base no conteúdo visto até agora elabore 05 questões discursivas sobre o Pensa-
mento Geográfico na Antiguidade e mais 05 questões objetivas sobre a evolução do Pensa-
mento Geográfico na Idade Média.
Orientações gerais para elaboração
01. As questões discursivas permitem uma resposta mais livre e pessoal do aluno;
02. Já nas questões objetivas é preciso oferecer uma série de alternativas, logo após o
enunciado, para que se eleja aquele que é a correta e que atende aos conteúdos explorados
pelo capítulo;
03. Procure construir questões que se alternem entre a marcação temporal, isto é, que não
sigam fielmente a linha do tempo proposta;
04. Se a resposta à questão precisar ser explorada em fontes extras (tais como outros livros
ou mesmo a internet) ofereça orientações de pesquisa para se chegar a resposta satisfatória.
capítulo 2 • 49
05. Para informações ainda mais específicas, e que julgar insuficientes neste material, su-
gere-se que sejam lançadas orientações de pesquisa mais aprofundadas, utilizando-se de
material clássico e que atenda as especificidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHORLEY, R. J.; HAGGETT, P. Modelos Integrados em geografia. Trad. Arnaldo V. de Medeiros. São
Paulo: Editora da USP, 1974.
CORRÊA, R. L. Carl Sauer e a Geografia Cultural. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro,
v.51, n.1, p.113-22, 1989.
FERREIRA, José Roberto Martins. História. São Paulo: FTD, 1997.
MORAES, José Geraldo. Caminho das Civilizações. São Paulo: Atual, 1994.
KIMBLE, G. H. T. A geografia na Idade Média. Trad. Márcia S. Carvalho. Londrina: Eduel, 2005.
capítulo 2 • 50
3
A Geografia
moderna
A Geografia moderna
Por volta dos séculos XIII e XIV, já no final da idade média, as relações co-
merciais surgem com força e bem mais desenvolvidas. A figura do burguês já é
vista nas cidades, fazendo frente aos senhores feudais. Os burgueses passaram a ter
Influência política junto aos reis absolutistas, recebendo cargos e títulos por meio
de uma nobreza formada por funções, a qual disputava espaço com a nobreza
advinda da Idade Média.
Com o crescimento da burguesia fortalecem-se as cidades com funções co-
merciais bastante fortes, as quais são geridas por muito dinheiro, bem mais do
que a simples propriedade de terra, o que desagradava os senhores feudais fazendo
com que servos livres passassem a ser assalariados na jovem e próspera indús-
tria manufatureira.
Dito isto, para que a burguesia enriquecesse e satisfizesse suas ambições, foi
preciso que nações se unificassem, surgindo as monarquias absolutas e com elas
grandes mercados, prioritariamente no continente europeu e depois avançando
além-mar. Ganha força a ideia de expansão das relações comerciais existentes até
então, buscando assim novas terras, novos mercados e povos com os quais essa
burguesia pudesse comercializar.
OBJETIVOS
• Compreender o avanço do pensamento geográfico em função do crescimento das rotas
comerciais e das grandes navegações;
• Enumerar os principais acontecimentos que conduziram ao desenvolvimento de novas tec-
nologias atreladas à geografia;
• Discutir como esses avanços projetaram novas perspectivas para a ciência geográfica en-
tre os séculos XV e XIX.
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e XVII. Nesta temporada as grandes navegações eram uma realidade, o descobri-
mento de novas terras (tais como a América) e a navegação pelo Oceano Pacífico
foram os principais acontecimentos que movimentaram o século XVIII.
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É nesse momento que a burguesia recebeu apoio decisivo dos Reis de seus
países, entre eles Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra, buscando o
fortalecimento da sua soberania nacional e de maiores riquezas, sejam elas obtidas
pelo comércio ou pelo sangue derramado daqueles que a usufruíam.
A famosa rota para as índias já era conhecida pelos europeus desde a antigui-
dade, pois já existia comércio feito por mar e por terra e com um moderado grau
de intensidade. Isto porque os europeus ansiavam manter relações comerciais com
as Índias, buscando especiarias como pimenta, cravo e noz por preços que permi-
tissem uma ampla comercialização desses itens para todo continente.
No entanto, o que se via de fato eram produtos que chegavam por meio de
numerosos intermediários, tornando-os muito caros e de difícil comercialização
em larga escala. Esses itens passavam pelas mãos de árabes, egípcios, genoveses e
venezianos até chegar a serem distribuídos pela Europa. Dependendo do item,
podia se levar meses até chegar, em caravanas, aos mercados de distribuição.
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Figura 3.2 – A famosa rota para as Índias.
Com a expulsão dos mouros da Península Ibérica pelos portugueses, que era
o povo de pescadores e navegantes, passou-se a realizar uma exploração cada vez
maior à costa africana, tendo como principais produtos de comercialização o ouro,
as mercadorias tropicais e os escravos. Já no século XV, estabelecido em Sagres, o
Infante Dom Henrique começou a estimular as navegações realizadas pelo Oceano
Atlântico. Dessa forma, ele reuniu um grupo de experientes navegadores e cosmó-
grafos que estudavam os registros existentes até então com intuito de planejar expe-
dições para que se chegasse diretamente às Índias, eliminando a necessidade dos in-
termediários. Foi dessa forma que os portugueses redescobriram as Ilhas da Madeira,
Canárias e Açores, navegando por toda a costa africana até o Golfo da Guiné.
Em 1486, com a descoberta do cabo das Tormentas por Bartolomeu de Gusmão,
descobriu-se uma passagem ao sul da África para o Oceano Índico, sendo o lugar
rebatizado de Cabo da Boa Esperança. Concluiu-se que contornando o continente
africano chegar-se-ia mais rápido até as Índias, o que abriu vantagem para os portu-
gueses em relação aos seus concorrentes árabes. Em 1498 o Rei de Portugal recebeu
em Calicute um grande carregamento de pimenta trazido por Vasco da Gama.
Os ganhos obtidos com essa empreitada promoveram outra expedição, dessa
vez bem maior, e sobre o comando de Pedro Álvares Cabral. A missão de Cabral
era fundar feitorias na Índia. Além disso, deveria desviar-se da rota mais comum
adentrando mais ao Oeste e descobrindo novas terras, a exemplo do Brasil que já
aparecia em alguns mapas antigos, sob a forma de ilhas no Atlântico. Desse modo,
no ano de 1500, Cabral chegava ao Brasil tomando posse da terra e seguindo de-
pois para a Índia, concluindo sua missão.
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Levantou vela no dia 3 de agosto de 1492 do porto de Palos, chegando às
Bahamas em 12 de outubro do mesmo ano, após uma série de problemas enfren-
tados nas caravelas com a tripulação.
A tão sonhada passagem do Oceano Atlântico para o Pacífico só foi descoberta no
século XVI por Fernão de Magalhães, que navegou pela borda Meridional da América
encontrou um estreito que recebeu seu nome bem ao sul e de difícil navegação.
Seguindo pelo Pacífico atravessou o oceano, porém faleceu nas Filipinas, de
modo que sua viagem de circunavegação só foi completada por seu imediato
Sebastião Elcano, em 1522, provando assim a circunferência da terra.
Mas não parou por aí, pois os europeus continuavam a procurar um conti-
nente no Oceano Pacífico, vindo a encontrar apenas ilhas que, mais tarde foram
ocupadas por franceses, holandeses, ingleses e alemães.
Também foi encontrado um continente de pequenas dimensões pelos ingle-
ses, que foi batizado de Austrália, além de numerosos e pequenas ilhas que forma-
ram os arquipélagos da Oceania.
O Almirante James Cook foi o maior estudioso e explorador do Pacífico, ten-
do navegado em várias direções e sendo acompanhado por cientistas de várias
especialidades. Explorou várias terras e águas que foram desde a linha do Equador
até as águas glaciais.
Figura 3.4 – As viagens de James Cook pelo Oceano Pacífico. Fonte: <https://www.
britannica.com/biography/James-Cook>. Acesso em: 23 de jan. 2018.
capítulo 3 • 56
Todas essas fabulosas expedições e as experiências registradas nos anais da his-
tória serviram para enriquecer a ciência geográfica, municiando-a de informações,
as mais diversas, dando conta do escopo científico que mais tarde originou as áreas
da oceanografia, climatologia, geologia, economia e antropologia.
Também foi graças a essas iniciativas que os europeus registraram e acumula-
ram conhecimentos capazes de promover a exploração econômica e a dominação
política e social há diversos povos e regiões do mundo, retirando deles produtos
e tradições culturais e reduzindo distâncias e o próprio tamanho da terra, revo-
lucionando paradigmas e permitindo com que a ciência geográfica expandisse
seus limites.
Observa-se que as viagens tiveram papel superlativo no descobrimento de no-
vos territórios, tanto que sem elas as informações passadas entre os navegadores e
pesquisadores não poderiam ser efetivamente comprovadas, ao passo que o cres-
cimento do número de viagem permitiu na construção e lógicas de mercado e de
comércio que, mais tarde, seriam fundantes para o atual paradigma do comércio,
da diplomacia, do direito, do turismo e do intercâmbio cultural tão necessário
para os povos que viriam a seguir.
Movidos pelo desejo de expansão comercial, os europeus lançaram-se ao mar
em busca de novas rotas para a Ásia Setentrional. Apesar disso, o mar Ártico apre-
sentava um desafio robusto e hostil para todos aqueles que tentavam vencê-lo.
A região Ártica era bastante conhecida por sua difícil navegabilidade, além
do que não proporcionava boas condições de habitação. Tanto que sua navega-
ção só era propícia em alguns períodos durante o verão, com o derretimento do
gelo. Todavia, o surgimento dos icebergs flutuantes era extremamente arriscados
aos navegadores.
Por volta de 1581 foram os russos que conseguiram atravessar os montes Urais
chegando até a Sibéria. O avanço continuou e os russos chegaram ao Pacífico atra-
vessando o Estreito de Bering, dominando a região hoje conhecida como Alasca.
Mais tarde, essa região foi vendida aos Estados Unidos em meados do século XIX.
Também na Ásia Central os russos dominaram vários povos nômades, am-
pliando suas fronteiras e buscando a exploração dos recursos disponíveis e neces-
sários ao seu desenvolvimento científico, contribuindo sobremaneira nas áreas da
glaciologia, geologia, hidrografia e antropologia.
capítulo 3 • 57
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MULTIMÍDIA
SUGESTÃO DE FILME: DANÇA COM LOBOS
SINOPSE: Durante a Guerra Civil, um jovem soldado (Kevin Costner) pratica um ato
ousado, é considerado herói e vai servir por sua escolha em um lugar com forte predominân-
cia do povo Sioux. Com o tempo, ele assimila os costumes dos nativos, acontecendo uma
aculturação às avessas
(Fonte: <http://www.adorocinema.com>. Acesso em 18 de nov. 2017)
TEMAS EM ANÁLISE: Povos tradicionais; Migração; Aculturação; Conquista territorial.
capítulo 3 • 58
Desenvolvimento tecnológico nos tempos modernos
capítulo 3 • 59
casa da contratação de Sevilha, a qual veio tempos depois a se tornar uma escola
para Navegadores. Naquela ocasião se estudavam as bases técnicas disponíveis até
então para a navegação de cabotagem.
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capítulo 3 • 60
estão conservados cerca de 43.000 documentos com mais de 80 milhões de pá-
ginas, além de 8.000 mapas e desenhos oriundos dos organismos metropolitanos
encarregados da administração das colónias espanholas.
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capítulo 3 • 61
Outro importante aspecto se refere às correntes marítimas, item de impor-
tante influência sobre as navegações entre os continentes, além de sua intensidade
e direção dos ventos. Nesse ínterim, os ventos alísios tinham importância ímpar,
pois por meio deles se faziam uso de sua força para impulsionar as embarcações e
vencer a calmaria que poderia assolar os navegantes.
Esses estudos, reunidos em áreas afins à geografia, permitiram com que esta se
desenvolvesse de maneira a ter a sua cientificidade reconhecida.
Graças a esses avanços e as expedições empreendidas aos polos e as regiões
equatoriais que no século XVIII concluíram que a Terra era redonda. Os estu-
dos para tanto foram conduzidos por Maupertuis e de Clairaut (ambos foram à
Lapônia) e Bouger e De la Condamine (estes para o Peru), os quais empreenderam
medições que culminaram com tal constatação.
Observou-se que o maior comprimento do grau do meridiano na região polar
foi registrado em relação ao equatorial, comprovando que há um achatamento nos
polos e uma dilatação no Equador.
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capítulo 3 • 62
Ainda se faz oportuno registrar que no mesmo período houve um grande
número de avanços nos estudos relacionados à astronomia e que contribuíram
significativamente para o conhecimento geográfico:
• A descoberta da lei da gravitação universal de autoria de Isaac Newton (há
indícios suficientes para se acreditar que a tão famosa história da descoberta de
Newton sobre a lei da gravidade, que a teve ao ver uma maçã cair em sua cabeça,
não passa de uma lenda criada com o intuito de popularizar os assuntos relaciona-
dos as descobertas científicas, de modo que todos pudessem passar a perceber seu
habitat e espaço como passíveis de serem explorados, fomentando novas descober-
tas por qualquer pessoa);
• A formulação do sistema solar heliocêntrico de Nicolau Copérnico (desmis-
tificando a ideia de que a Terra era o centro do universo) e ainda;
• A órbita dos planetas formada por um movimento de translação.
O astrônomo inglês Isaac Newton foi responsável por uma das maiores contri-
buições à Geografia, demonstrando que o movimento dos objetos na superfície da
terra (ou mesmo em outros corpos celestes) era governado pelo mesmo conjunto
de leis naturais. Isso permitiu com que ele formulasse assim o princípio da gravi-
tação universal de modo que resolveu “um grande problema que preocupava os
homens, a razão pela qual eles podiam viver sem se desprender da Terra nos mais
diversos pontos da sua superfície” (ANDRADE, 1982, p. 45).
Essas descobertas vieram para corroborar com ideias que contribuíram para o
aperfeiçoamento do pensamento geográfico, o que por sua vez também promoveu
o surgimento de várias outras ciências afins à geografia.
Chegando ao século XVII os conhecimentos geográficos estão cada vez mais
ligados a outras ciências afins, permitindo uma maior profundidade e sistematiza-
ção do conhecimento acumulado até então.
As preocupações com a estrutura da terra e com a formação de rochas, vulcões
e fenômenos catastróficos tornaram-se a principal preocupação dos geólogos. Não
obstante também debruçaram-se sobre a origem e formação do relevo terrestre.
capítulo 3 • 63
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capítulo 3 • 64
Sendo assim, o mérito de Varenius residiu no fato dele ter reunido a Geografia
Geral e a Matemática à Geografia descritiva, humanista, em uma totalidade
e de haver feito tanto a descrição como a interpretação das formas e fenôme-
nos descritos.
Já no que tange ao pensamento geográfico do século XVIII, contata-se que o
mesmo caracterizou-se pela presença marcante dos estudos cosmográficos, que é o
ramo da astronomia que se preocupa com o estudo e descrição do universo. Com
base nessa perspectiva, esses estudos cosmográficos receberam novas contribuições
epistemológicas, atendendo aos interesses de uma nova sociedade iluminada.
Essas novas cosmogonias proporcionaram a transformação do saber em ciên-
cia, e assim, os estudos e entendimentos acerca da história do planeta Terra foram
trabalhados à luz da geologia. Muitas “questões fundamentais surgem a propósito
da relação eventual entre homem, ser único enquanto espécie e múltiplo enquanto
cultura, e de suas relações com a diversidade de condições dadas pela natureza”
(GOMES, 2007, p. 70).
Com base nesses estudos cosmográficos, foram vários os “problemas de base
da cartografia, o cálculo das latitudes e, sobretudo, o das longitudes, bem como os
sistemas de projeção” (GOMES, 2007, p. 129), que acabaram por ser objeto de
atenção e pesquisa dos intelectuais daquela época.
Dessa forma, como pontua Gomes (2007, p. 129), os “fenômenos naturais
e sobretudo climáticos, ao fazer parte desta geografia, escapavam interpretações
livres, religiosas ou mágicas da tradição medieval”, já que o escopo religioso não
detinha espaço no contexto da modernidade, no momento em que a ciência cons-
truía suas bases necessárias ao livramento do paralelo eclesiástico.
Ainda nesse sentido Gomes (2007) salienta que:
[...] certos geógrafos procuraram reunir ao mesmo tempo os princípios gerais cosmográ-
ficos e as descrições regionais corográficas, baseando-se integrando assim, em uma
mesma obra, essas duas abordagens até aí distintas. É então possível afirmar que já
nessas tentativas de integração uma maneira de conceber a geografia como uma re-
lação entre a organização geral do mundo e sua imagem, de um lado, e a fisionomia
particular algumas de suas partes, de outro. (GOMES, 2007, p. 130).
Com base nisso, é preciso compreender que essas duas tradições (os princí-
pios gerais cosmográficos e as descrições regionais corográficas) sejam claramente
identificadas, fato que nos leva a pensar que a Geografia Moderna se propôs a ser
a união dessas duas tendências.
capítulo 3 • 65
Foi já nos idos do século XVIII que o polonês Nicolau Copérnico desenvolveu
a teoria heliocêntrica, afirmando naquela época que sol era o centro do universo e
os planetas giravam em torno dele, bem como os satélites orbitavam em torno dos
planetas. Foi com base nesse princípio que Copérnico contestou o sistema geo-
cêntrico de Ptolomeu, no qual se supunha que a Terra seria o centro do Universo.
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periélio afélio
Planeta
capítulo 3 • 66
A distância entre a Terra e o Sol no periélio é de aproximadamente 147,1 mi-
lhões de quilômetros. Isto ocorre uma vez por ano, por volta de quatorze dias após
o solstício de dezembro, próximo do dia 4 de janeiro.
Uma outra área que se desenvolveu bastante nesse período foi a Geologia,
como bem mencionou Andrade (1982), considerando as grandes viagens e expe-
dições até então empreendidas. O mesmo afirmou que:
Nesse sentido, outro grande pensador da geologia foi Leibnitz, o qual con-
siderou que “as rochas sedimentares, por haverem sido depositadas pelas águas
ou pelo vento, se apresentavam sob a forma de camadas” (ANDRADE, 1982, p.
45). Muitos estudiosos, após esses estudos, identificaram fósseis nas rochas sedi-
mentares a partir das expedições e pesquisas que permitiram a datação da história
da Terra.
ATIVIDADES
Com base nos aspectos expostos neste capítulo elabore o que se pede:
capítulo 3 • 67
02. Elabore uma cruzadinha com os principais temas do Pensamento Geográfico Moderno
citados neste capítulo. Utilize o modelo a seguir para construir suas referências.
Linha Horizontal
1–
...
Linha Vertical
1–
...
03. Pesquise sobre um dos principais centros urbanos citados neste capítulo e proponha
uma análise comparativa que demonstre qual era a ideologia da época em que foram citados
e sua atual estruturação social, econômica, política e cultural.
a) Madeira
a. 1 Sociedade
a. 2 Economia
a. 3 Política
a. 4 Cultura
b) Canárias
b. 1 Sociedade
b. 2 Economia
b. 3 Política
b. 4 Cultura
capítulo 3 • 68
c) Açores
c. 1 Sociedade
c. 2 Economia
c. 3 Política
c. 4 Cultura
d) Sibéria
d. 1 Sociedade
d. 2 Economia
d. 3 Política
d. 4 Cultura
e) Sevilha
e. 1 Sociedade
e. 2 Economia
e. 3 Política
e. 4 Cultura
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do
pensamento geográfico. São Paulo: Ática, 1987.
CRESPO SOLANA, A. La Casa de Contratación y la Intendencia General de la Marina en Cádiz
(1717-1730). Cádiz, 1996.
DREYER-EIMBCKE, O. O descobrimento da Terra: história e histórias da aventura cartográfica. São
Paulo: EDUSP, 1992.
GOMES, Paulo C. C. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
HARLEY, J. B. A nova história da cartografia. O Correio da Unesco, 1991.
MARTINELLI, M. Mapas da Geografia e Cartografia Temática. São Paulo: Contexto, 2003.
MARTINS, R. A. A maçã de Newton: história, lendas e tolices. In: C. C. Silva (Ed.). Estudos de história
e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006.
RAISZ, Erwin. Cartografia geral. Rio de Janeiro: Científica, 1969.
capítulo 3 • 69
capítulo 3 • 70
4
A Geografia
contemporânea
A Geografia contemporânea
A ciência geográfica desenvolveu-se de maneira muito forte entre os séculos
XVIII e XIX, graças ao avanço do sistema capitalista e das grandes navegações que
expandiram o comércio após o descobrimento de novos continentes e ilhas, via-
bilizando intercâmbio cada vez maior entre povos, cujas condições de vida eram
as mais distintas.
Um dos núcleos que detinha maior controle tecnológico na época era a
Europa, cuja civilização influenciou a dinâmica econômica e política em toda ter-
ra, viabilizando novas rotas comerciais e permitido a redução dos intermediários
nas transações entre as nações, proporcionando a queda nos preços das mercado-
rias e expandindo a oferta das mesmas.
A ampliação dessas rotas e o controle dos transportes passaram a fazer parte da
rotina dos nobres e burgueses proprietários de terras, cujos hábitos foram rapida-
mente sendo assimilados pela realeza.
A influência crescente e o enriquecimento da burguesia junto às autoridades
influenciou os governos e promoveu o estímulo ao desenvolvimento de técnicas e
pesquisas, as quais tinham por propósito ampliar a exploração dos recursos natu-
rais e racionalizar os custos, proporcionando assim maiores ganhos econômicos.
OBJETIVOS
• Compreender a importância do pensamento geográfico no mundo contemporâneo;
• Elencar os principais acontecimentos relacionados à contemporaneidade da ciên-
cia geográfica;
• Perceber a significativa contribuição da geografia para a formulação de um novo pensa-
mento científico baseado na relação espaço-tempo.
Capitalismo e Geografia
capítulo 4 • 72
à época, permitindo com isso uma ampla expansão do pensamento capitalista que
começava a dar seus primeiros passos.
Na Inglaterra do ano de 1688 a Revolução Gloriosa permitiu com que a bur-
guesia se apossasse de vultuosas fatias do poder, vindo a enfraquecer o poder do
Rei frente aos interesses daquela que seria a classe dominante. Com o fim do
absolutismo monárquico britânico, o aumento do poder do parlamento e a esta-
bilidade política e econômica surgiram as condições ideais para que a Revolução
Industrial tivesse início na Inglaterra do século XVIII, ampliando-se pela França
na primeira metade do século XIX e depois pela Europa central e ocidental.
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Figura 4.1 – Ilustração de uma reunião de intelectuais no Salão de Madame Geoffrin, 1755.
capítulo 4 • 73
Immanuel Kant foi um dos filósofos que muito beneficiou, com suas reflexões, a
área da geografia (mesmo tendo ele a convicção de que esta tinha por pressuposto,
tão somente, a descrição do espaço).
Foi professor secundário de geografia e depois na Universidade de Königsberg,
mas não chegou a publicar nenhuma obra que se pautasse no conhecimento geo-
gráfico. Kant chegou a identificar e dividir a geografia em cinco partes. São elas:
A Geografia Matemática (forma, dimensão e movimento da Terra), Geografia
Moral (os costumes e o caráter do homem em relação ao meio ambiente), Política,
Mercantil (comercial), e Teológica (a distribuição das religiões).
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capítulo 4 • 74
sentido foi que Kant apresentou duas definições da geografia. Na primeira, definiu
a geografia como a ciência da diferenciação da crosta terrestre, e na segunda, seria
a ciência responsável pela descrição das coisas em termos de espaço.
Essa segunda definição foi de grande importância para a classificação científica
da geografia dentro do pensamento kantiano devido à importância da intuição de
espaço na teoria do conhecimento de sua obra “Crítica da Razão Pura”.
Enquanto a história seria a responsável pela descrição temporal dos fenô-
menos, caberia à geografia a descrição dos dados em sua organização espacial.
Isso conferiu um status de especificidade ao método geográfico, sobretudo no
que se refere à descrição espacial, garantindo-lhe um lugar no conjunto das ciên-
cias respeitadas.
Em igual medida, Kant afirmava que o antagonismo no campo do estudo
geográfico, voltado para a geografia física e a humana, permitia tão somente a
descrição do espaço geográfico e a sua posterior apropriação pelos animais e os
seres humanos.
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Figura 4.3 – Ilustração que apresenta terras sendo invadidas e ocupadas na América Latina.
capítulo 4 • 75
publicadas com o objetivo de debater as hipóteses nas quais os intelectuais defen-
diam e debatiam tais diferenças.
Também por conta disso surgiram algumas sociedades científicas e de explo-
ração que promoveram expedições há várias regiões do planeta que ainda não
haviam sido visitadas pelos cientistas e pesquisadores da geografia.
Para cada nova descoberta identificada uma nova expedição era montada,
como pode ser conferido no longa A cidade perdida de Z, sugerido para aprecia-
ção no primeiro capítulo. Todos esses movimentos ainda serviram para fortalecer a
ideia de que haveria uma superioridade política, econômica, tecnológica e militar
dos povos europeus sobre os demais que foram invadidos, dizimados e suas terras
ocupadas em nome da expansão territorial das nações dominantes.
Essa ideologia só serviu para fortalecer o conceito do determinismo geográfi-
co, promovendo a ideia desmedida na qual as condições climáticas proporciona-
ram o desenvolvimento a alguns povos em detrimento de outros.
Diversos pensadores da época, posteriormente, publicaram trabalhos contra-
riando esses postulados, sobretudo porque muito dessa lógica partia de um con-
texto no qual o selvagem era mal e que deveria ser subjugado e dominado, pois era
fraco ante aos seus conquistadores.
Antagonicamente, admitir-se-ia que o selvagem era bom, pacífico e que o seu
papel era (por função precípua) reunir-se aos demais homens na construção de
uma sociedade una e estabelecida nos princípios religiosos divinos.
No entanto, foi Montesquieu, por sua vez, quem propôs uma ideologia distin-
ta ao afirmar que o direito divino dos reis não atendia aos interesses da sociedade,
sendo esta a responsável pela submissão de uma proposta de governo democrático,
com a qual a figura do estado se consolidaria.
Sendo assim, a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) pro-
porcionaria melhor ordenamento ao espaço geográfico e distribuição de funções
que garantiriam o pleno funcionamento da sociedade.
Vale ainda registrar que o desenvolvimento de áreas afins a geografia se deu
por conta da formação de estudos relacionados as necessidades dos homens do
comércio, dos administradores e dos recursos disponíveis para obtenção de lucro.
Desse movimento surge a estatística, a geografia política e a economia.
capítulo 4 • 76
Figura 4.4 – Os agentes econômicos baseados no espaço geográfico. Fonte: <https://
www.mindomo.com>. Acesso em: 20 jan. 2018.
capítulo 4 • 77
Isso porque a grande estrutura ideológica que fora disseminada pela raciona-
lidade das ações humanas sobre a natureza vendeu a ideia de que a exploração do
espaço geográfico proporcionaria grandes vantagens, ganhos econômicos, valori-
zação da ideologia científica para todos, de forma indistinta. Assim, os homens
empregariam todos os seus esforços existentes e disponíveis em suas mãos para
dominar a terra e a natureza, levando-a a produzir tudo que fosse de seu interesse.
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Muitas das condições proporciona-
das no início do século XX (tais como a
mudança de paradigma cultural, econô-
mico e político) permitiram a formação
de um novo pensar acerca do conheci-
mento científico, fortalecendo ideias po-
sitivistas, dentre elas aquelas defendidas
pelo filósofo francês Augusto Comte, o
qual tinha grande interesse pelo estudo
das ciências naturais.
capítulo 4 • 78
Suas principais contribuições voltavam-se para o registro das condições de
vida da população bem como seu meio de vida, permitindo um salto sem prece-
dentes no desenvolvimento da antropologia cultural.
Sem dúvida nenhuma, o maior representante desta perspectiva foi o natu-
ralista Charles Darwin, cujas aventuras a bordo do Beagle, ao redor do mundo,
registraram aquela que foi a mais notável teoria já formulada por um cientista a
respeito da evolução das espécies.
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capítulo 4 • 79
Figura 4.8 – A rota da viagem de Darwin ao redor do mundo. Fonte: <http://ead.hemocen-
tro.fmrp.usp.br>. Acesso em: 21 jan. 2018.
A viagem durou 4 anos e nove meses e seu navio tinha o nome de HMS
Beagle por conta da referência feita à raça de cães. A rota da viagem teve início na
Inglaterra em 10 de fevereiro de 1831 e contava com cerca de 20 paradas. Esteve
no Brasil (em Salvador e Rio de Janeiro), seguindo para o Uruguai, Montevidéu,
Argentina, Patagônia no Chile e Ilha Galápagos.
Na sequência, foi para o Haiti, Nova Zelândia, Austrália e África. Por fim,
retornou ao Brasil pela Bahia e regressou para a Inglaterra. No período em que es-
teve na viagem Darwin constatou que havia muita diversidade de meio ambiente,
de forma que em cada lugar haviam características próprias, tanto no que se refere
à vegetação, quanto a fauna e flora.
As ideias e pressupostos levantados por Darwin ainda serviram para funda-
mentar temas dirigidos ao sistema capitalista da época, de forma que as classes so-
ciais e seus dois níveis (ricos e pobres) seriam resultantes das condições de seleção
natural entre os próprios homens.
Isso fez com que grandes desigualdades sociais em todo o mundo se acen-
tuassem, num tipo de ideologia que remontava o ressurgimento do determinis-
mo geográfico.
A esse respeito, já no século XIX, os trabalhos desenvolvidos por Karl Marx e
Friedric Engels revolucionaram completamente a forma de enxergar a dinâmica
social e as lutas de classe entre os trabalhadores, tendo como pano de fundo o
sistema vigente, o capitalismo.
A sucessão dos modos de produção na Europa ocidental, o desenvolvimento
do materialismo histórico e dialético, a luta de classes e o socialismo são alguns
capítulo 4 • 80
dos principais temas que foram estudados por ambos e que fundamentam as dis-
cussões em absolutamente todas as áreas científicas do conhecimento humano.
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capítulo 4 • 81
Outro importante pensador contemporâneo da geografia foi Friedrich Ratzel,
que deu muita ênfase ao homem na sua formulação geográfica, enxergando este
como uma espécie animal e não como um elemento social, baseando seu pensa-
mento em boa medida nos postulados propostos por Darwin. Ratzel acreditava
que a evolução só seria possível por meio da luta entre várias espécies, de modo
que apenas o mais forte seria capaz de sobreviver a seleção natural.
Com base nisto, surgiu a sua ideia de superioridade dos europeus frente aos
povos tidos como selvagens ou Bárbaros. Destes princípios surgiram formulações
que buscavam explicar as diferenças existentes entre povos e civilizações de todo o
mundo, seja pelos seus espaços distintos seja por meio do tempo.
De outra forma, a geografia política também foi um tema bastante estudado
por Ratzel, tendo em vista que o escopo dessa teoria estava baseado na dominação
do território e sua caracterização enquanto estado. Nesse ínterim, a noção de espa-
ço e de posição política demandam maior importância, de modo que o progresso
ou sua derrocada estariam diretamente relacionados à sua capacidade de expansão.
Tal lógica justificou a realização de várias guerras e a dominação daqueles ti-
pos como fracos pelos seus dominadores, considerados mais fortes. Essa premissa
contribuiu, como exemplo, para a ocupação do exército alemão comandado por
Adolf Hitler em meados do século XX. Um dos seus discípulos, o sueco Johan
Rudolf Kjellén, chegou a cunhar a expressão Geopolítica, a qual seria vida como
balizadora entre os conhecimentos trabalhados entre os geógrafos e os generais nos
campos de batalha.
As obras Antropogeografia e Geografia Política são as principais referências
deixadas por Ratzel na sua contribuição para com o pensamento geográfico, as
quais demonstram de forma veemente o papel político e social representado pela
ciência geográfica.
Em função das dinâmicas e das mudanças dos paradigmas social, econômico,
ambiental, político e cultural, a geografia passa a ser trabalhada e pensada em ra-
zão de sua ruptura com os pensamentos e postulados até então vigentes.
A primeira diferença marcante nesse contexto se deu por conta da queda da
ideologia positivista e evolucionista, com as quais buscaram explicar todas as dife-
renças existentes na superfície terrestre, tendo como justificativa uma certa unifor-
midade em todas as partes do planeta.
Dessa forma, buscou-se explicar o espaço produtivo em razão das relações que
envolvem o homem e o seu meio, em determinadas áreas, sob certas circunstâncias
capítulo 4 • 82
e baseado nas culturas e na forma de viver, enxergar e pensar o espaço geográfico
em cada lugar da terra.
Com base nisso, surge com bastante prestígio em meados do século XX a
geografia regional. Muitos estudos foram realizados em função da compreensão de
cada uma das realidades regionais encontradas no globo, buscando compreender
suas especificidades, restrições e peculiaridades com as quais seria possível tecer
novos caminhos para a pesquisa e para o desenvolvimento da ciência geográfica.
Essa prática permite uma melhor análise das várias partes, povos e culturas
encontradas em todo mundo, permitindo a ampla utilização do método indutivo,
o qual parte da ideia do particular para o geral enquanto método científico. Dessa
forma, o positivismo passa a ser transformado em funcionalismo, o qual se propõe
a ser trabalhado por muitas áreas e ciências até então.
Dito isto, os estudos regionais mostraram-se oportunos e ganharam adeptos
já que as peculiaridades e particularidades eram devidamente registradas e respei-
tadas em sua caracterização.
Em certa medida, as influências dos geógrafos para com suas formações tra-
dicionais se sobrepunham as reais necessidades de registro das vivências e expe-
riências encontradas. Isto é, em muitas oportunidades havia uma predileção no
registro das informações físicas em detrimento das informações relacionadas às
condições sociais, culturais e econômicas da região pesquisada.
Com base nisso, os estudos regionais conduziram a uma ruptura entre a geo-
grafia geral e a geografia regional, contribuindo para uma maior especialização
entre os geógrafos e uma mais ampla estruturação de cada uma das áreas da geo-
grafia, fosse ela física ou humana, de modo que essa separação viabilizou o sur-
gimento de campos autônomos do conhecimento científico voltado a geografia,
a exemplo da Geomorfologia, Zoogeografia, Geografia da População, Geografia
Econômica, dos Transportes, do Turismo entre outras.
Tamanha foi a sua capilaridade, tanto de forma horizontal quanto vertical,
que a geografia ganhou robustez e mais adeptos, consolidando-se como uma gran-
de vertente do conhecimento interdisciplinar, capaz de conduzir a convergência
entre áreas antes incomunicáveis, e que estavam restritas ao seu insuficiente escopo
epistemológico e científico.
O cientista, na qualidade de geógrafo, sentiu a necessidade de ampliar seus
conhecimentos e de buscar em outras ciências as condições necessárias para am-
pliar a interpretação da paisagem e do espaço geográfico, no intuito de entender a
complexidade da realidade regional vislumbrada.
capítulo 4 • 83
A apresentação de novos questionamentos, a busca por novas hipóteses e pro-
posições permitiu uma nova sistemática metodológica e a construção de resultados
e teorias mais amplas e complexas, as quais serviram não somente para a geografia,
mas para todas as demais áreas com as quais a mesma se relacionava.
Certamente que não houve uma tácita aceitação da abertura da ciência geográfi-
ca a outros campos do conhecimento. Foram os estudos de Pierre George e de Paul
Claval que determinaram a importância científica e epistemológica da Geografia e
de sua abertura, fazendo com que a mesma não se resumisse a uma análise simples
no que tange ao pensamento físico do espaço, mas em todas as suas dinâmicas so-
ciais, com as quais há a produção e reprodução permanente do espaço social, do
espaço habitado e da própria sociedade enquanto agente mobilizador desse cenário.
Outrossim, em função dos desafios da burguesia e das classes dominantes, a
ciência geográfica encontrou meios para continuar a sua evolução, buscando for-
mas de desenvolvimento nas mais diversas realidades regionais, o que acabou por
conduzir a uma maior e mais acentuada fragmentação das escolas responsáveis por
alimentar e produzir o conhecimento geográfico.
Surgiram as escolas do pensamento geográfico de origem alemã, francesa, bri-
tânica e Americana. Apesar disso, não eram correntes epistemológicas completa-
mente separadas em suas proposições e métodos. Cada uma delas estava orienta-
da no atendimento dos interesses próprios de cada país aonde estavam sediadas,
buscando soluções para os problemas identificados em seu território e orientando
ações no sentido de potencializar e viabilizar o seu porte nacional, capitalista e
industrial voltado ao desenvolvimento.
Todas essas correntes e escolas tinham por pressuposto um sentimento pro-
fundamente voltado ao seu foco nacionalista, estando comprometidas com os go-
vernos com os quais travavam relações econômicas e sociais, servindo como base
de desenvolvimento tecnológico e científico.
A escola alemã voltou-se para os estudos relacionados ao entendimento da
realidade, enxergando na geografia como uma ciência do espaço, na perspectiva de
que esta ciência era, a um só tempo, da natureza e do homem.
Em outra ocasião, desta vez defendida pelo geógrafo Eduard Hahn, buscou
compreender os laços da geografia natural às voltas com a domesticação de ani-
mais e adaptação dos vegetais a agricultura. Além disso, a referida escola ainda
buscou compreender a influência das religiões sobre a produção do espaço.
Outra brilhante corrente de estudo da geografia alemã voltava-se para a im-
portância da teoria da localização, a qual se aplicava tanto a agricultura quanto a
capítulo 4 • 84
indústria, de modo que a existência de um estado ideal seria balizada em função
de um centro dinamizador, isto é, uma capital, com zonas concentradas a partir de
um centro e que se propagavam em razão de suas especificidades.
Esta teoria contribuiu para uma ou-
tra teoria da década de 1930 defendida
por Walter Christaller, que veio a ser
conhecida como a Teoria dos Lugares
Centrais. Segundo esta teoria, um lugar
central (ou um centro urbano) é respon-
sável por fornecer um conjunto de bens
e serviços a uma determinada área en-
volvente (chamada de área de influência
ou região complementar). Dessa forma,
cada um destes lugares centrais pode ser
tido como hierarquicamente relevante
Figura 4.10 – Representação da Teo-
em função da quantidade e diversidade
ria dos Lugares Centrais. Fonte: <http://
de bens e serviços que são capazes de for-
inzyniermocno.tumblr.com>. Acesso em: 22
necer à sua área de influência.
jan. 2018.
capítulo 4 • 85
Ligada ao pensamento das Universidades de Cambridge e Oxford, a escola
britânica foi bastante influenciada pela Escola Francesa da geografia. A valoriza-
ção dos estudos regionais e sua posterior preocupação com os gêneros de vida fez
com que a escola britânica da geografia buscasse compreender qual o papel das
sociedades exploradoras face à necessidade de colonização de novos territórios e
povos, buscando a compreensão sobre os problemas dessas áreas e suas principais
matrizes econômicas, de forma que essas informações proporcionassem riquezas
à coroa britânica.
É nesse momento que a geografia assume um caráter eminentemente pauta-
do na preocupação militar. A importância das comunicações e da relação entre
dominantes e dominados passou a ser o principal objeto de entendimento do
geógrafo britânico.
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capítulo 4 • 86
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Figura 4.12 – Representação de um rol de cidades satélite, ou Town and County Planning.
capítulo 4 • 87
O pensamento geográfico na Rússia recebeu grande influência da escola ale-
mã, tendo em vista a sua proximidade geográfica e as relações culturais estabeleci-
das entre ambas as nações oriundas desde os tempos de Pedro, o Grande.
Nesse sentido, a Escola Russa da geografia voltou seus estudos no desenvolvi-
mento da agricultura, do clima e dos solos, tendo em vista as rigorosas condições
climáticas que são enfrentadas pelos mesmos todos os anos, além de suas tempera-
turas glaciais que dificultam a produção de seus alimentos.
Dessa forma, a exploração dessas terras desenvolveu diversos estudos voltados
aos sistemas de erosão glacial, além dos problemas de escoamentos dos rios, os
quais congelavam durante o inverno e só retornavam ao seu estado natural no
verão. Esse regime climático proporcionou diversos estudos sobre a sua caracteri-
zação, configuração e utilização geomorfológica desse espaço no intuito de atender
aos esforços cotidianos.
Logo após a revolução bolchevique, e com um planejamento mais voltado
ao âmbito da economia e numa maior aplicação dos princípios de planejamento
econômico, muitos geógrafos foram convocados para trabalhar no planejamento e
organização das cidades russas, no desenvolvimento do seu espaço agrícola indus-
trial, focado no desenvolvimento regional.
Muitos desses estudos conduziram a uma análise da relação homem e natureza
proporcionando um interesse crescente na observação da realidade bem como na
construção de mecanismos capazes de intervir em benefício do desenvolvimento
da manutenção dos povos das regiões de maior dificuldade agrícola, industrial e
no segmento de transporte.
ATIVIDADES
Com base nos aspectos expostos neste capítulo elabore o que se pede.
capítulo 4 • 88
REFLEXÃO
Orientação de Pesquisa
2 – Quais ideias dos pensadores contemporâneos citados neste capítulo ainda orientam
ações e políticas públicas em sua cidade / região / país? Apresente-as e justifique.
3 – Faça uma busca na biografia dos pensadores apresentados neste capítulo e identifique
se os mesmos tem uma formação acadêmica em outra área além da geografia. E quais deles
não tem formação em geografia e contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento do
pensamento geográfico?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Manuel Correia de. A Geografia e a sociedade. In: SOUZA, Maria Adélia de A; Santos,
Milton; et. all., (orgs.) O novo mapa do mundo – natureza e sociedade de hoje: uma leitura geográfica.
São Paulo: Hucitec, 2002.
CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná Elias; GOMES,
Paulo César da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. 2 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Situação e Tendências da Geografia. In: Para onde vai o ensino
de Geografia? São Paulo: Contexto, 2001.
capítulo 4 • 89
REALI, Giovanni; ANTISERI, Dario. Historia da Filosofia: do Romantismo até os nossos dias. São
Paulo: Paulus, v.3, 1991. (Coleção Filosofia).
SANTOS, Milton. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.
SOUZA, Maria Adélia de A. de; SANTOS, Milton. et al. (orgs). Novo mapa do mundo
- natureza e sociedade de hoje: uma leitura geográfica. São Paulo: Hucitec, 2002.
capítulo 4 • 90
5
Geografia:
sociedade e
natureza
Geografia: sociedade e natureza
Imagine que na presente conjuntura histórica da humanidade o contexto de-
nominado como técnico-científico-informacional permeia toda relação espaço-
tempo da sociedade. Essa relação (tida como totalidade social) não pode mais
ser tida como uma Geografia eminentemente descritiva, voltada apenas para a
simples preocupação da interpretação da paisagem.
Com base nisso ainda precisamos ter como oportuna a compreensão de que
é preciso construir algumas formulações mentais, ou mesmo imaginárias, as quais
buscam explicar como o homem explora e organiza a natureza. Você pode explo-
rar, de forma imagética, a ocupação humana em áreas naturais; o crescimento da
industrialização e o surgimento de novas demandas tecnológicas, que fazem uso
de matéria-prima tradicional e que, por isso, ampliam o consumo de metais, ma-
deira, água e todas as riquezas encontradas na natureza.
Nesse âmbito da relação espaço-tempo insere-se a relação sociedade-natureza,
repleta de antagonismos, paradoxos, desarranjos e dinâmicas autônomas, capazes
de serem tidas como mediadas pela ação do homem/sociedade.
capítulo 5 • 92
OBJETIVOS
• Entender a importância da Geografia para a sociedade;
• Discutir a relevância da preservação da natureza como elemento fundamental da sobrevi-
vência humana;
• Tecer considerações a respeito das formas pelas quais o homem interage com seu meio
natural, utilizando-se dele ora de forma consumptiva ora de forma produtiva.
A conjuntura social
Como você percebe o papel assumido pelo geógrafo para com a sociedade?
Entre tantas dificuldades existentes, uma que o geógrafo atual enfrenta con-
siste em analisar, de forma pragmática e científica, os atuais modelos e proces-
sos de transformação espacial, determinados pelas inter-relações possíveis entre
capítulo 5 • 93
sociedade e natureza. Isso porque, considerando que não são processos inertes e
estáticos, são extremamente dinâmicos, complexos e velozes.
Comparativamente, as mudanças do passado (que levaram séculos para se
operacionalizar) podem vir a ser passado hoje em razão de alguns anos ou mesmo
de poucas décadas, haja vista a velocidade com que as transformações vem impe-
lindo novos meandros socioeconômicos.
É com base nisso que muitos geógrafos consideram residir exatamente nesse
aspecto as dificuldades em se estabelecer, pontualmente, quais seriam as definições
objetos da Geografia enquanto ciência. Surgem, nesse contexto, diversas divergên-
cias entre os profissionais quanto a esse objeto e mesmo a sua definição.
Em virtude desse paradigma, faz-se por oportuno compreender e discutir a
proposição de alguns aspectos, os quais possibilitem a compreensão do cenário
atual da humanidade, discutindo, por exemplo:
• Aspectos relacionados à internacionalização da economia;
• Ao crescimento da atividade turística;
• A ocupação dos espaços de maior valor imobiliário;
• Ao crescimento do fenômeno das segundas residências;
• Ao surgimento de grandes massas migratórias em todo o mundo, e ainda;
• A permanente instabilidade macroeconômica que desmobiliza e dissolve
grandes blocos econômicos que eram tidos como basilares de um novo contex-
to global.
Com base nisso você acredita que esses aspectos são iguais no mundo inteiro?
capítulo 5 • 94
[...] essas etapas são apenas cronológicas, pois as instituições e as relações existentes
no passado permanecem e atuam no presente e se projetam no futuro. Assim, a um
só tempo, a sociedade e a natureza vivem no presente também o passado, através dos
resquícios outrora dominantes, e as projeções no futuro (ANDRADE, 2002, p. 21).
capítulo 5 • 95
Mesmo sendo tão contraditório quanto ao tempo e espaço (e que tanto preo-
cupou os geógrafos do século XIX), voltou a ser um tema altamente importante
nos dias atuais. Tantas modificações que ocorrem no espaço, transformando rapi-
damente as características regionais e locais, engendram-se com grande velocidade.
São estes cenários reveladores de ações e propostas de modernização empreen-
didas de forma acelerada, com o intuito precípuo de atender a determinados gru-
pos empresarias e de interesse, os quais têm trazido problemas de difícil solução
para toda ordem social.
São impactos decorrentes da:
• Desertificação, ou mesmo salinização, de áreas de agricultura irrigada;
• Desmatamento motivado pela exploração extrativa vegetal e mineral;
• A conquista de terras para a agricultura;
• A construção de grandes cidades;
• A ocupação de espaços naturais pela atividade turística.
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capítulo 5 • 96
[...] desempenhar o seu papel de pesquisador e de estudioso, tem de estar convicto de
que está analisando um processo e não um estágio, numa relação muito complexa, em
que a sociedade modifica a natureza, destrói a natureza primitiva ou a secundária visan-
do atingir objetivos, e que a natureza destruída ou atacada tem uma grande capacidade
de reagir, de se recompor, não para voltar ao estágio primitivo, mas para dar origem a um
novo estágio, que será continuamente atacado e recomposto. (ANDRADE, 2002, p. 21).
[...] deve-se levar em conta que o geógrafo não é apenas um profissional, mas, sobre-
tudo um cidadão, e como tal deve, dentro de seus padrões sociais e morais, procurar
empregar o seu saber primordialmente na procura de soluções para a sociedade e,
secundariamente, na obtenção de seus interesses. Não achamos que a geografia deva
ser primordialmente ideológica, mas seria utópico querer retirar dela toda a participação
ideológica que foi inculcada na formação do cientista. E a atividade como cientista não
retira do geógrafo as ideias e preconceitos que ele adquiriu em sua vida e em sua for-
mação. (ANDRADE, 2002, p. 21).
Figura 5.3 – Grupo de geógrafos tem aula de campo no Parque de Sete Cidades. Fonte:
<http://www.incra.gov.br>. Acesso em: 24 jan. 2018.
capítulo 5 • 97
Muitos desses problemas sociais são objeto de pesquisa, entendimento e pro-
posição de vários profissionais, das mais diversas e simples àquelas complexas e
arrojadas profissões.
De que forma você acredita que o geógrafo pode contribuir para que outros profissio-
nais enxerguem essa problemática?
Devemos perceber que cada um desses interesses olha para os problemas pelo
seu próprio ponto de vista e perspectiva, na tentativa de dar luz ao cenário coloca-
do pelo problema com o qual estão discutindo. Nesse aspecto, o papel do geógrafo
também é de congregar esses diversos pontos de vista, na tentativa de compreen-
der aquilo que se discute e somar esforços em busca de sua solução.
Paradigma da Natureza
Você acredita que a forma como a natureza existe pode ser modificada sem prejuízo
para a sobrevivência de todos os seres vivos?
capítulo 5 • 98
Quem, na sua opinião, teria interesse em transformar o meio natural?
Isto poderia ser entendido como algo natural da espécie humana?
[...] unidade da visão geográfica - quer física, quer biológica, quer humana – e serve de
freio ao movimento de alta especialização nos vários setores da geografia física e da
geografia humana, dando origem a verdadeiras ciências independentes, dissociadas de
sua totalidade, como a Geomorfologia, a Climatologia, a Demografia, o Urbanismo etc.,
precisamos buscar a unidade do pensamento geográfico, sem que se abandone a espe-
cialização. (ANDRADE, 2002, p. 23).
capítulo 5 • 99
Eis que surge, então, a necessidade de uma maior aproximação entre a
Geografia e a História, porque para se explicar a organização atual do espaço,
externada em grande parte na paisagem, é necessário que se encare, de forma di-
nâmica, duas grandes categorias: o espaço e o tempo.
O cabedal teórico da Geografia, além de suas relações e processos intrínsecos
e extrínsecos, substituiu a dualidade homem-natureza por uma dialética da re-
lação homem-natureza, ou ainda sociedade-natureza, projetando a produção de
sistemas sociais que sobrevivem apropriando-se da natureza, em uma organização
auto gerenciada.
Por seu turno, concluímos que consiste esta uma Geografia da interação espa-
cial, uma Geografia da relação horizontal e vertical-espaço mundo/tempo mundo.
ATIVIDADES
Com base nos aspectos expostos neste capítulo elabore o que se pede:
01. Construa uma linha do tempo para o tema deste capítulo, considerando:
a) Os principais aspectos cotidianos que devem ser inseridos em sua linha do tempo.
b) Apresente as principais correntes teóricas propostas e os pensadores.
c) De que forma a relação sociedade x natureza vem evoluindo sob a ótica geográfica?
d) Observe o modelo ilustrativo.
e) Reúna todas as linhas do tempo elaboradas até aqui para formar uma só.
f) Apresente aos demais colegas e comente sobre sua produção.
capítulo 5 • 100
02. Na figura a seguir insira os principais aspectos relacionados a cada tema abordado nes-
te capítulo. Em seguida, produza uma tese (uma ideia nova) acerca dos aspectos que foram
elencados somados à sua própria percepção do tema.
SOCIEDADE NATUREZA
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Análise de dados
capítulo 5 • 101
Pesquisa desenvolvida na Unicamp revela que o Estado da Bahia vem apresentando
aumento no índice de aridez e diminuição de chuvas. Os estudos indicam que a tendência
é que a situação se agrave nos próximos 30 anos, provocando um aumento das áreas com
risco de desertificação na região. As conclusões são da tese de doutorado “Áreas de risco
de desertificação: cenários atuais e futuros, frente às mudanças climáticas”, defendida por
Camila da Silva Dourado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.
A desertificação é a degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas a
secas, como resultado das variações climáticas e ações antrópicas, ou seja, as alterações
causadas pelo ser humano no ambiente. Este fenômeno transforma terras férteis e agricultá-
veis em terras improdutivas, causa impactos ambientais como a destruição da biodiversidade,
diminuição da disponibilidade de recursos hídricos e provoca a perda física e química dos so-
los. Neste caso, a pesquisa aponta que as mesorregiões que mais expandiram as áreas com
risco de aridez são os maiores polos agrícolas baianos. “Ainda é necessária uma análise mais
aprofundada sobre a desertificação nessas áreas, mas os dados mostram que esses polos
agrícolas observados passaram a ser considerados como áreas de alto risco”, explica Camila.
O trabalho foi realizado sob orientação de Stanley Robson de Medeiros Oliveira, pes-
quisador da Embrapa Informática Agropecuária e coorientação de Ana Maria Heuminski de
Avila, pesquisadora do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas
à Agricultura). Os autores alertam para a necessidade de se adotar medidas preventivas
agora para que as previsões não se consolidem.
No cenário da produção agrícola nacional, a Bahia ocupa destaque no Nordeste bra-
sileiro como grande produtora de grãos, além de ser responsável por 12,2% do valor da
produção de frutas, ocupando o segundo lugar no ranking nacional. A cultura do algodão
no estado representa 25,4% da produção nacional, ficando atrás apenas de Mato Grosso
com 64,1% da produção, de acordo com dados da safra de 2016 divulgados pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dois principais polos agrícolas baianos
estão no oeste, em cidades como Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, por exemplo, onde
é forte a produção de algodão e grãos, principalmente a soja. Outro polo está no norte do
Estado, maior produtor de frutas da Bahia, sendo destaques as cidades entre Juazeiro (BA)
e Petrolina, em Pernambuco.
De acordo com os resultados obtidos por meio da análise de dados climáticos (chuva,
temperatura e evapotranspiração), dados edáficos, declividade do terreno, fragilidade do solo
à erosão e de vegetação (extraídos de imagens de satélite), entre os anos de 2000 e 2014,
o território baiano já apresentou uma queda do nível de precipitações (chuvas), diminuição de
áreas de cobertura vegetal nativa, e um aumento no índice de aridez e das áreas com risco
de desertificação.
capítulo 5 • 102
Para o futuro, ou seja, entre os anos de 2021 a 2050, a previsão é que o Estado enfrente
um aumento de temperatura de aproximadamente 1 °C e diminuição das precipitações, em
relação ao clima atual. As previsões também apontam um aumento nas áreas consideradas
áridas e uma expansão de terras com risco “alto” e “muito alto” de desertificação. “Essa pes-
quisa exibe o cenário futuro; então, se quisermos minimizar esses riscos, temos que tomar
decisões e atitudes agora ou será muito tarde para fazer as correções. Não podemos esperar
até 2050”, alerta Stanley Oliveira.
Segundo o orientador da pesquisa, as técnicas de mineração de dados associadas às
técnicas de sensoriamento remoto em imagens orbitais, tratam do desafio de captar padrões
e processos, e proporcionam um diagnóstico espaçotemporal da mudança na paisagem, per-
mitindo também monitorar e diagnosticar o grau de degradação de terras. Essas técnicas
facilitam a análise e a manipulação de dados em grandes áreas, com menos custo que os
métodos convencionais, permitindo uma avaliação das alterações ocorridas no meio ambien-
te, no passado, presente e com simulações do futuro.
“A depender da prática agrícola que é adotada hoje, terras produtivas serão transforma-
das em improdutivas. Não adianta utilizar práticas inadequadas que não visem à sustentabi-
lidade daquele solo e dos recursos naturais. É preciso alertar o grande e pequeno produtor
sobre formas de produção que amenizem essa situação; é uma questão de sensibilização.
São necessárias políticas públicas também para que haja incentivo às novas formas de pro-
dução e de utilização da terra e dos recursos naturais”, ressalta Camila.
Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/02/19/pesquisa-aponta
-alto-risco-de-desertificacao-na-bahia
Economia e Trabalho
Economia ambiental
Brasil tem a maior reserva mundial de nióbio, mineral misturado ao aço e usado na fabri-
cação de produtos como turbinas de avião
por Portal Brasil publicado: 10/04/2012 15h31 última modificação: 28/07/2014 16h46
capítulo 5 • 103
Extrativismo vegetal
O extrativismo vegetal é mais intenso na região Norte do País. O Pará é o estado brasi-
leiro com a maior produção de madeira em toras, segundo o IBGE.
A produção florestal ganha força com a tendência de aumento da participação da silvi-
cultura, ou seja, da manutenção, aproveitamento e uso racional das florestas ou criação de
uma área para cultivo de determinada planta, por exemplo, o eucalipto.
Atualmente, o Brasil é o grande exportador de produtos florestais e aparece como o
maior produtor e exportador de celulose de madeira de eucalipto.
Além da extração de madeira, a Região Amazônica também é responsável pela produção
nacional de castanha do Pará, látex (retirado da seringueira), babaçu entre outras sementes
e frutas tipicamente brasileiras, manufaturadas pelas indústrias alimentícia, farmacêutica e
até de combustíveis.
Essas atividades garantem a subsistência de famílias e movimentação dos merca-
dos locais.
Extrativismo mineral
O extrativismo mineral, com destaque para o ouro, ferro bauxita e cassiterita, também
concentra sua produção na região Norte, desde a década de 1960.
Com rico potencial mineral, a Amazônia tem atualmente grandes projetos de exploração
como: Carajás e Rio Trombetas no Pará (ferro e bauxita); Serra do Navio no Amapá (manga-
nês), Serra Pelada no Pará (ouro); em Porto Velho (cassiterita).
Outro local de grande potencial é o estado de Minas Gerais – o maior produtor de miné-
rio de ferro do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
O Brasil tem também a maior reserva mundial de nióbio, mineral misturado ao aço e
usado na fabricação de produtos como turbinas de avião.
O potencial hídrico do Brasil está entre os cinco maiores do mundo: o País tem 12% da
água doce superficial do planeta e condições adequadas para exploração.
A exploração de petróleo também merece destaque. A Bacia de Campos, no Rio de
Janeiro, é responsável pela maior parte da produção de petróleo nacional. Segundo maior
produtor na América do Sul, o Brasil vive em constante crescimento da produção diária de
barris de petróleo.
Já o extrativismo animal concentra-se principalmente na pesca e na aquicultura (cultivo
de animais aquáticos).
capítulo 5 • 104
Fiscalização
O Ibama é o órgão fiscalizador dos recursos naturais brasileiros. Toda empresa que rece-
ba autorização para explorar precisa obter o licenciamento, fornecido pelo órgão.
A autorização é uma obrigação legal a qualquer empreendimento ou atividade com po-
tencial poluidor ou e degradante ao meio ambiente.
No aspecto da restrição da extração vegetal, foi criada a Lei nº 4.771/65 de 15 de se-
tembro de 1965, que obriga que qualquer pessoa ou empresa que explore, utilize, transforme
ou consuma matéria prima da floresta, faça a reposição.
Isso consiste em ações que contribuam para a continuidade dos recursos naturais na
região explorada, como o plantio com espécies florestais adequadas. Além essa lei também
está em vigor Lei nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, que cuida da conservação, prote-
ção, regeneração e a utilização do Bioma da Mata Atlântica.
Para a fiscalização e administração da atividade mineral no Brasil foi criado o Departamen-
to Nacional de Produção Mineral (DPNPM), subordinado ao Ministério das Minas e Energia.
Qualquer empresa constituída sob as leis brasileiras, com sede e administração no País,
e que tenha como objeto social a exploração e o aproveitamento de recursos naturais, pode
explorar minérios em solo brasileiro.
O parágrafo primeiro do artigo 176 da Constituição Federal restringia a pesquisa e ex-
ploração de recursos minerais às empresas estrangeiras, no entanto, uma correção na Cons-
tituição permitiu que elas façam a exploração desde que constituídas sob as leis brasileiras e
que tenha sua sede e administração no Brasil.
Para explorar uma área com potencial mineral também é imprescindível que a pessoa
ou empresa autorizada a explorá-lo se comprometa a recuperar o meio ambiente degradado.
Para isso foi criado o Código de Mineração, editada pelo Decreto-Lei nº 227, de 28 de
fevereiro de 1967, que ordena, organiza e administra os recursos minerais da União, a indústria
de produção mineral e a distribuição, comércio e o consumo de produtos minerais brasileiros.
No extrativismo animal, o Ministério da Pesca e Aquicultura define os períodos de defeso,
quando fica proibida a pesca de espécies de animais aquáticos que estejam em época de
reprodução ou de crescimento.
Também fica proibida a pesca de animais de tamanho menor ao determinado para
cada espécie.
Os profissionais interessados em desenvolver áreas específicas para desenvolver a aqui-
cultura devem seguir regras estabelecidas por Instrução Normativa Interministerial (INI) nº
06/2004 e também de definições indicadas pela Ibama com relação às espécies produzidas.
Fonte: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/04/
regiao-norte-lidera-extrativismos-vegetal-e-mineral
capítulo 5 • 105
A expansão agrícola mundial e a destruição de terras naturais
Expansão agrícola mundial pode destruir 849 milhões de hectares de terras naturais
Agência da ONU alerta que mais de 849 milhões de hectares de terras naturais serão
degradados até 2050 se práticas mais sustentáveis não forem adotadas na agricultura. Amé-
rica Latina é uma das regiões sob maior risco.
Uma área quase do tamanho do Brasil de terrenos naturais corre o risco de ser degrada-
da até 2050, caso práticas sustentáveis de uso da terra não sejam adotadas e a agricultura
global continue se expandindo na proporção dos últimos anos. O alerta é do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que destaca entre as regiões mais ameaça-
das as florestas da América Latina, da Ásia e da África Subsaariana.
“O mundo nunca havia experimentado uma redução tão acentuada dos serviços e fun-
ções dos ecossistemas terrestres como nos últimos 50 anos. As florestas e zonas úmidas
estão sendo convertidas em terrenos agrícolas para alimentar a crescente população”, afirma
Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma.
A expansão das fronteiras agrícolas é causada, por um lado, pelo aumento na demanda
por alimentos e bicombustíveis, devido ao crescimento populacional, e, por outro lado, pela
degradação do solo, ocasionado pela má gestão do campo. A perda de biodiversidade e a
destruição ambiental generalizada já afetam 23% do solo mundial.
Sem uma mudança nas práticas agrícolas, mais de 849 milhões de hectares de terrenos
naturais serão degradados até 2050, aponta o relatório do Pnuma divulgado na última sexta-
feira (24/01).
“Ao reconhecer que a terra é um recurso finito, precisamos aumentar a nossa forma de
produzir, oferecer e consumir os produtos obtidos a partir dela. Nós devemos ser capazes de
definir e respeitar os limites dos quais o mundo pode funcionar com segurança para salvar
milhões de hectares até 2050”, diz Steiner.
capítulo 5 • 106
Tendência é a expansão
Atualmente a agricultura consome mais de 30% da superfície continental do planeta, e
as terras cultivadas abrangem em torno de 10% do terreno mundial. Entre 1961 e 2007, a
região de cultivo se expandiu em 11%. O relatório aponta a continuidade em ritmo acelerado
dessa tendência de expansão.
Nos últimos 50 anos, a ampliação da fronteira agrícola ocorreu à custa de florestas tro-
picais. Enquanto houve um declínio da área plantada na União Europeia, especialmente em
Itália e Espanha, Leste da Europa e América do Norte, ocorreu um aumento das terras culti-
vadas na América do Sul, principalmente em Brasil, Argentina e Paraguai, na África e na Ásia.
Desde a década de 1990, essas fronteiras estão sendo ampliadas para compensar as
terras que estão se tornando improdutivas devido a práticas agrícolas não sustentáveis. A
agência alerta que se o padrão de expansão desta década continuar, vai atingir principalmen-
te as florestas da América Latina, da Ásia e da África Subsaariana.
Alternativas sustentáveis
O relatório aponta que a área cultivada global para suprir a demanda poderia aumentar
com segurança até no máximo 1,640 milhão de hectares. Mas adverte que se as condições
atuais permanecerem, em 2050 a demanda vai ultrapassar esse espaço.
A agência sugere como medidas para aumentar a produtividade nas atuais regiões agrí-
colas melhorias na gestão do solo, o incentivo a práticas ecológicas e sociais de produção,
o monitoramento do uso da terra, investimentos na recuperação de terras degradadas e a
integração conhecimentos locais e científicos – além da redução nos subsídios de culturas
destinadas à fabricação de combustíveis.
Além dos fatores agrícolas, a agência aponta o consumo excessivo como um dos aspec-
tos que levou a essa expansão. O relatório reforça que políticas para reduzir esses níveis e
fomentar o consumo sustentável são essenciais para reverter a situação.
Se o mundo incentivar a agricultura sustentável, além de reduzir o consumo e a expansão
agrícola, cerca de 319 milhões de hectares podem ser salvos até 2050.
Matéria de Clarissa Neher, na Agência Deutsche Welle, DW, reproduzida pelo EcoDe-
bate, 29/01/2014.
Fonte: https://jornalggn.com.br/noticia/a-expansao-
agricola-mundial-e-a-destruicao-de-terras-naturais
capítulo 5 • 107
Edição do dia 01/03/2012
01/03/2012 10h47 - Atualizado em 01/03/2012 13h19
Falta de espaço multiplica construção de arranha-céus em cidades médias
Nos dois últimos anos, por exemplo, 125 projetos de prédios com mais de 15 andares
foram aprovados em Goiânia.
Grandes edifícios podem ser a solução de alguns problemas urbanos, mas também po-
dem criar outros. O arquiteto Jhon Silveira diz que a cidade precisa se planejar antes de
erguer prédios assim. “De repente, toda aquela estrutura pensada para o bairro, a questão da
mobilidade, do tráfico urbano tudo isso começa a virar bagunça, começa a criar confusões e
transtornos para a cidade”, afirmou Jhon Silveira.
Fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/03/falta-de-espaco-
multiplica-construcao-de-arranha-ceus-em-cidades-medias.html
capítulo 5 • 108
Da invasão olímpica a quartos vazios: crise e insegurança afastam turistas e
levam hotéis a bloqueio de andares
Em julho, temporada de férias, ocupação média foi de 40% no Rio. Para cada aumento
de 10% na criminalidade, a receita de empresas da atividade turística cai, em média, 1,8%,
aponta CNC.
Um ano depois de ter sido o coração dos Jogos Olímpicos, a Barra da Tijuca, na
Zona Oeste do Rio, enfrenta um outro desafio: ser um novo destino turístico da cidade e,
dessa forma, ocupar os quartos ociosos dos hotéis construídos no bairro. A crise está levando
os hotéis, muitos deles de redes internacionais, a bloquear andares, fechar quartos e reduzir
o número de funcionários e atividades para diminuir o prejuízo.
Até 2010, a Barra da Tijuca tinha 3 mil e 500 quartos de hotéis e foram construídos mais
10 mil e 500 para receber hóspedes para a Olimpíada. Além deles, quatro hotéis, no Centro e
em Botafogo, na Zona Sul, fecharam suas portas desde o ano passado. Quem trabalha com tu-
rismo relata o desespero de ver uma das crises mais profundas do estado acabar com sonhos.
"Hotéis de maior porte principalmente na área da Barra da Tijuca, que tem 500 quartos,
bloqueiam dois andares e funcionam com três. Como a ocupação está baixa, você pode fun-
cionar com dois andares, ao invés de cinco, e com isso você tem um número menor na sua
brigada de colaboradores. Você tem que fazer algumas adequações que significam cortes em
determinadas brigadas para poder ter um ponto de equilíbrio mais abaixo para sobreviver",
afirma Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Hotéis do Estado do Rio de
Janeiro (ABIH-RJ).
Ele aponta como principais fatores a crise na economia nacional, a crise política e eco-
nômica do estado do Rio e vê poucas alternativas. Segundo Cypriano, o Rio passa por um
momento delicado na área da hotelaria. Uma boa saída seria o investimento na área de lazer
desses estabelecimentos, já comum em hotéis do interior de São Paulo e de outras regiões
do Brasil, com os conhecidos resorts.
Na época da Olimpíada, a plataforma de hospedagens online Booking.com, fez um levan-
tamento com oito mil participantes em oito países que revelou que os Jogos no Rio estavam
no topo da lista de desejos dos seguidores de esportes. Na liderança estavam os brasileiros
com 49%, seguidos pelos chineses com 47% e italianos com 34%. Durante os Jogos, as
principais nacionalidades na cidade foram os brasileiros, argentinos, americanos, britânicos
e franceses. Atualmente, o Rio segue como destino preferido e atrai além dos brasileiros, os
turistas argentinos, chilenos, franceses e americanos. Esses turistas buscam, em sua maioria,
as praias e as paisagens naturais. Os hotéis são os mais procurados, sendo seguidos pelos
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albergues, apartamentos, pensões e apart-hotéis. Na virada entre 2016 e 2017, o Booking.
com constatou que 58% dos viajantes planejavam priorizar seus gastos na cidade em expe-
riências pessoais ao invés de bens materiais.
Fonte: https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/da-invasao-olimpica-a-quartos-va-
zios-crise-e-inseguranca-afastam-turistas-e-levam-hoteis-a-bloqueio-de-andares.ghtml
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