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Prólogo – As divindades são realezas eróticas

impiedosas (parte 1)
Luzes distantes brilhavam na escuridão de uma passagem rochosa.
Os pontos tremeluzentes criaram longas sombras aos pés dos monstros. Cães Infernais
rosnaram enquanto farejavam o ar. O pelo branco de um grupo de Al-Mirajs ondulava enquanto
olhavam ao redor com seus rostos adoráveis, suas orelhas de coelho balançavam ao mesmo
ritmo que seus pés. As bestas estavam caçando, usando seus sentidos extraordinariamente
aguçados para farejar e ouvir, e assim localizar os invasores que eram loucos o suficiente para
entrar em seu território.
Monstros rastreavam suas presas enquanto elas serpenteavam pelos inúmeros túneis do
complexo labirinto conhecido como Dungeon.
Em algum lugar no fundo — KASHH KASHH.
Sons de escavação ecoaram pelos corredores.
"Ei... esse é realmente o local certo para a mineração?"
"Ahhh, você duvida das informações de Lili? Lili fez a pesquisa adequada, e ela sabe que os
aventureiros de classe alta trazem para casa muitas pedras desta área."
A jovem garota usava uma lâmpada portátil de pedra mágica para iluminar uma área, isso para
que o jovem garoto pudesse bater sua picareta na parede da caverna.
Welf e Lili trabalhavam em um canto escuro da Dungeon enquanto brigavam silenciosamente.
"Sir Welf, Lady Lili... ainda sem sucesso?"
"M-monstros podem estar aqui a qualquer momento... eu não sei mais quanto meus nervos
podem aguentar... "
Duas novas vozes abafadas se juntaram a conversa, vindas de Mikoto e Bell.
Todos os quatro aventureiros tiveram o cuidado de manter seus corpos abaixados e longe da
vista. O garoto de olhos vermelho-rubi e cabelos brancos e a jovem com longos cabelos negros,
amarrados em um rabo de cavalo, estavam perto de onde Welf e Lili estavam escavando a
parede da caverna. Bell e Mikoto estavam servindo como vigias. Não é preciso dizer que eles
estavam procurando por monstros.
Eles estavam em uma pequena sala semicircular, no fim de um longo e estreito corredor. Os
quatro vieram aqui na Dungeon para minerar uma pedra específica. Se um grupo de monstros
vier correndo pelo túnel ou nascer das paredes da Dungeon ao redor deles, não haveria
escapatória. Sem saber quando eles terminariam sua missão, os dois vigias suavam de nervoso
toda vez que a picareta batia no muro de pedra.
A parede que Lili e Welf estavam minerando exibia as cicatrizes de seu trabalho, enquanto
centenas de pedaços de pedra cobriam o chão ao redor deles. Até o momento eles ainda não
haviam encontrado nada, e enquanto Bell ouvia a dupla com suas brigas improdutivas, ele viu
uma picareta sobressalente aos pés de Welf. Abandonando seu posto, o menino foi, pegou a
ferramenta e começou a trabalhar.
A ferramenta em si foi feita com o mesmo material de muitas armas e armaduras usadas pelos
aventureiros. Experimentando, Bell balançou a ferramenta de metal contra a parede da caverna
algumas vezes.
Assim que ele começou, a rocha se desfez e alguns objetos cintilantes caíram no chão.
"Ah."
" " " Ah! " " "
Alguns flashes de luz chamaram a atenção deles quando alguns minérios rolaram no chão.
"N-nós conseguimos! É Sangue de Ônix! "
"Você conseguiu, Bell!"
"Como esperado, de verdade!!"
Alívio e alegria se espalharam instantaneamente por todo o grupo enquanto eles pegavam as
três pedras preciosas, as guardavam em uma pequena sacola, e rapidamente deixavam o beco
sem saída para trás.
Após saírem do beco subterrâneo para uma área muito mais ampla na Dungeon, eles finalmente
tiveram a chance de respirar.
"Conforme solicitado, coletamos mais de duas pedras Sangue de Ônix... E com isso, nossa
missão está completa, certo?"
Lili tirou um dos minerais da bolsa enquanto caminhavam pela sala. Ela examinou a superfície
negra do Ônix, dirigindo seu olhar para as faixas de luz refletidas em vermelho sangue e preto-
carvão. Welf e Mikoto, caminhando perto de sua suporte para protegê-la, trocaram sorrisos
enquanto seus olhares também foram atraídos.
"Nossa outra missão de conseguir peles de Al-Miraj também foi cumprida depois de matar
aquele grupo há um tempo atrás... "
"Sim. As duas foram feitas bem rápido... Sabe, Bell, desde que eu me juntei a vocês, itens
dropados e pedras como as de hoje parecem cair em nossos colos. Você apenas tem uma muito
boa sorte?"
"Ah-ha-ha-haa... "
Bell recebeu as duas missões de Eina antes do banquete de Apollo. O prazo estava se
aproximando rapidamente, então o grupo de quatro aventureiros viajou para o décimo terceiro
andar nos níveis intermediários da Dungeon.
Bell riu secamente do comentário de Welf. Cerca de um mês atrás, quando obteve a Habilidade
Avançada "Sorte", Eina adivinhou seu efeito —e agora suas palavras borbulhavam no fundo da
mente de Bell.
Agora que ele pensava nisso, os itens dropados pareciam aparecer em uma taxa mais alta do
que antes de subir de nível... O garoto inclinou a cabeça e murmurou para si mesmo.
"Isso está realmente bem? Não havia mais tempo para fazer as missões, mas... Há muito
trabalho a se fazer com a mudança para a nossa nova casa, mas deixamos tudo pra lá e viemos
até aqui... "
"É sempre necessário pensar no futuro, Sr. Bell. Isso não muda só porque a família ficou maior."
Após o alegre comentário de Lili, Welf se virou e sorriu.
"E tenho certeza que depois dos Jogos de Guerra e tudo mais, você queria uma chance de
testar seu poder atual, não estou certo?"
Welf falou isso quase como um irmão mais velho, deixando Bell sem palavras por um momento.
O garoto de cabelos brancos assentiu timidamente enquanto disse: "U-um pouco..." Ele não
sabia o que dizer enquanto olhava para o homem descansando uma longa espada em seu
ombro.
Eles haviam vencido as ferozes batalhas dos Jogos de Guerra, aprofundado seus laços,
adquirido novas forças e se tornado uma família no processo.
Hoje era a primeira viagem a Dungeon da renascida <Família Hestia>.
"— Todo mundo, se prepare."
Mikoto, com os olhos fixos no caminho a frente deles, deu o aviso.
Antes mesmo que ela terminasse de falar, Bell e os outros pegaram suas várias armas tão
rapidamente quanto ela, todos em guarda. Todos eles avistaram diversos pares de olhos
brilhando na escuridão e correndo em sua direção.
Welf e Bell se moveram para frente quando a primeira onda de bestas entrou na luz.
"Estou contando com você!"
"Pode deixar!"
Mais de dez bestas saltaram das fileiras de monstros, visando destruir o grupo com apenas um
enxame.
Os Cães Infernais se preparando para lançar seus ataques de fogo a distância foram os
primeiros alvos para as duas facas e a espada longa. Ataques de alta velocidade
desmembraram os corpos dos monstros, enquanto um golpe com a ferocidade de uma marreta
atingiu um monstro particularmente grande, quebrando-o em pedaços.
"Lady Lili, uma lança!"
Mikoto se posicionou atrás de Bell e Welf que já estavam lutando, com seu longo rabo de cavalo
preto flutuando atrás dela.
Sem perder tempo, Lili enfiou a mão na mochila e puxou uma pequena estaca de metal com
uma lâmina em sua extremidade. Ela jogou a arma com toda a sua força, e quando virou
horizontalmente, num piscar de olhos, ela se estendeu em uma estaca de dois metros antes de
aterrissar nas mãos de Mikoto.
Uma lança de prata dobrável. A ex-membro da <Família Takemikazuchi> empunhava a arma
com facilidade a partir do centro, enquanto cobria os flancos dos dois lutadores mais avançados.
Seus ataques rápidos e precisos espetavam os Al-Miraj um após o outro. Não demorou muito
para que uma trilha de cadáveres monstruosos fossem deixados em seu rastro.
Sem perder o ritmo, ela se moveu para interceptar as armas naturais usadas pelos monstros —
machados de pedra —e os desviou para longe de Bell e Welf.
"Bem, parece que a Lili não é mais necessária."
Parada na retaguarda, Lili olhou para seus companheiros enquanto admirava o trabalho deles.
Toda a batalha levou menos de um minuto do início ao fim.
Bell havia se tornado forte o suficiente para perfurar as fileiras inimigas, carregando o grupo
para o ataque. Ele e Welf haviam aprendido a antecipar os movimentos um do outro, seu
trabalho em equipe melhorava a cada batalha. Agora que Mikoto havia se juntado ao grupo,
eles podiam contar com apoio adicional no centro de sua formação. Como Bell podia se
concentrar apenas em atacar, seu grupo de batalha era muito mais equilibrado do que antes, e
pelo menos duas vezes mais poderoso. Com uma aventureira de classe alta e um Grande
Ferreiro fortalecendo suas fileiras avançadas e centrais, eles tinham uma grande vantagem
sobre os monstros neste nível.
"Não há nada a temer no nível treze!" Lili declarou alegremente, feliz por não ter mais um papel
a desempenhar durante as batalhas. Ela cantarolava alegremente enquanto caminhava até a
fila de cadáveres no chão para desempenhar seu papel como suporte: coletar os espólios da
batalha.
Foi quando eles ouviram algo.
Rugidos ferozes de monstros e um grito alto e profundo.
"Isso não é... um grito?"
"Eles estão se aproximando... não pode ser".
Thud thud thud thud thud thud! Bell e Mikoto foram petrificados enquanto o eco dos sons se
aproximaram pela escuridão.
E um segundo depois...
Assim como eles temiam, um grupo de aventureiros emergiu de um corredor, perseguido por
uma horda ainda maior de monstros.
"Eles estão vindo direto para Lili e todo mundo... ?!"
"Espere um segundo, essa mesma merda já não aconteceu antes?!"
O grupo de aventureiros que se aproximava estava correndo loucamente por suas vidas. Isso
é, até que eles tiveram um vislumbre do grupo de batalha de Bell. O líder deles sorriu enquanto
seus olhos vermelhos se contorceram de alegria.
"Me desculpe, me desculpe...!" Mikoto se desculpou desesperadamente em resposta ao
desabafo de Welf.
"Vocês — <Família Hestia>, não é ?! Sejam gratos, vamos compartilhar nosso carregamento
com vocês!"
"Vai pro inferno!! Como se precisássemos disso!"
"C-corram!"
Passando os monstros de um grupo para o outro — um desfile. Os gritos enfurecidos de Welf e
os gritos aterrorizados de Bell se sobrepuseram à medida que eles se aproximavam.
Bell e seu grupo de batalha deram as costas aos aventureiros que se aproximavam e os mais
de trinta monstros não muito atrás deles e correram a toda velocidade.
"Quem foi que disse que não tínhamos nada a temer neste andar?"
"Depende da hora e do local !! Gah, a Lili não conseguiu nem coletar as pedras mágicas…!"
"Lady Lili, rápido! Me dê a mochila!"
"De que lado era a saída mesmo?"
Welf reajustou a espada contra seu ombro e revelou sua frustração. Mikoto pegou a grande
mochila da Lili e rapidamente a jogou sobre seus próprios ombros. Bell se aproximou e pegou
a pequena menina Pallum, correndo o mais rápido que pôde com ela nos braços.
Os monstros aceleraram o ritmo, animados pelo cheiro de mais carne fresca na frente deles.
A renascida <Família Hestia> usou tudo o que tinha para escapar da Dungeon.
Prólogo – As divindades são realezas eróticas
impiedosas (parte 2)

Noite.

Envoltas na escuridão sob a lua crescente, inúmeras lâmpadas de pedra mágica pontilhavam a
paisagem urbana de Orario.
Em pé orgulhosamente no meio do Caminho dos Aventureiros — Sede da Guilda, o majestoso
Panteão. O barulho de metal contra metal soou do distrito industrial. O quarteirão de negócios
realmente ganhou vida, com rodadas de aplausos estrondosos saindo dos teatros e gritos
animados ecoando nos cassinos. De fato, esta cidade abençoada com os recursos colhidos na
Dungeon nunca dormia, o movimento e o alvoroço nunca terminavam.
Nesta florescente metrópole que parecia simbolizar a própria prosperidade, havia um certo
lugar.
Vozes paqueradoras vinham de dentro dos muitos pequenos edifícios que ladeavam a rua.
As vezes forte e as vezes apenas um sussurro, estas eram as vozes de homens e mulheres
consumidos pela paixão. Velas tremeluzentes iluminavam pares de sombras entrelaçadas em
muitas das janelas e paredes acima e abaixo da rua, formas trançadas nas camas.
Aqui os desejos se transformavam em dinheiro, cheios de bordéis até onde os olhos podiam
ver.
O apropriadamente chamado Distrito Noturno parecia completamente diferente do resto da
cidade. Pouco iluminado e aparentemente separado de todos os outros bairros e ruas, esse
distrito sempre foi permeado por uma misteriosa e fascinante atmosfera.
"... Aquela idiota."
Onde as pessoas satisfazem seus desejos e apetites, os bordéis.
Ela estava sentada acima de tudo, observando do andar mais alto do seu próprio palácio.
A bela mulher estava fortemente equipada com diversos acessórios, como uma coroa de ouro,
brincos, um colar ornamentado decorando seu decote e pulseiras ao redor de seus pulsos e
tornozelos.
O único pedaço de pano em seu corpo que realmente poderia ser chamado de roupa era uma
saia fina ao redor dos quadris, mantida no lugar por um cordão amarrado aos lados. Não havia
nada que escondesse seus grandes seios; apenas uma tira de pano a impedia de expor tudo
ao mundo. Sua silhueta em forma de ampulheta perfeitamente proporcional e sua pele sedosa
e morena, expostas abertamente, eram suficientes para fazer qualquer homem perder a cabeça.
Sua beleza era forte o suficiente para deixar um país de joelhos — sua divindade era
simplesmente algo a mais. Na verdade, gênero não importava quando se olhava para o seu
corpo, que poderia manter qualquer um como prisioneiro, pois exalava um doce e sedutor
aroma.
O quarto dela estava escuro, iluminado apenas pela lua crescente e pelas estrelas acima. Com
o quarto aberto para o ar noturno por todos os lados, ela tinha uma vista perfeita da torre em pé
no meio da cidade. Ela olhou para ele, como se estivesse tentando queimá-lo com pura
intensidade e aversão.
Ela estava no lugar mais alto de todo o Distrito Noturno.
No entanto, ela não estava satisfeita.
Quanto ao porquê, era por causa da torre branca que perfura o céu no centro da cidade, voando
acima como se estivesse olhando ela, rindo dela.
A mulher olhou para o andar mais alto da torre.
É aí que aquela mulher depravada estaria agora, uma Deusa da Beleza como ela — a deusa
de cabelos prateados a quem ela mais odiava.
"Por que você está aí? Por que é você e não eu quem está sentada no trono?"
Inaceitável. Absolutamente inaceitável.
Aquela mulher estava sempre olhando para ela do ponto mais alto.
Como se ela não fosse diferente da ralé quando vista de tal altura.
Sua beleza permitiu que a deusa pegasse tudo o que quisesse dentro de Orario — não, do
mundo. E ela estava esfregando na cara dela.
Essa megera deplorável. Inacreditável.
Será que todos os filhos de Gekai e os outros deuses estavam cegos?
Ignorando sua própria beleza incomparável e dando a sua atenção para aquilo?
Categoricamente inconcebível.
Amaldiçoando essa deusa com todas as fibras de seu ser, a Deusa da Beleza Ishtar se
transformou em algo muito mais assustador.
"Não fique muito cheia de si, Freya... "
Cortinas totalmente desenhadas deixavam entrar a luz do luar, iluminando o perfil de Ishtar.
A verdade irritante era que aquela deusa não tinha apenas um ranking mais alto, mas também
liderava uma família mais poderosa que a dela. Tão poderosa, que de fato, eles poderiam
impedir que outros os alcançassem.
Pois foi a beleza de Freya, junto com seus seguidores poderosos, que permitiu que aquela
mulher mantivesse seu lugar no topo.
"Keh!" Ishtar manteve os olhos fixos na Torre de Babel enquanto uma pequena risada escapou
de seus lábios.
O sorriso em seu rosto era aquele que poderia encantar qualquer um que colocasse os olhos
sobre ela — mas também escondia um lado sombrio.
Não demoraria muito agora.
Não demoraria muito tempo até que ela puxasse aquela mulher de seu lugar no topo.
Os lábios de Ishtar se curvaram em um sorriso caçoador.
"Apenas espere."
Dizendo essas palavras em voz baixa, ela se levantou do sofá em que estava sentada.
Uma tigela com frutas exóticas e um cachimbo longo e fino feito no estilo do Extremo Leste
estavam sobre uma mesa ao lado do sofá. A deusa pegou seu cachimbo antes de sair da sala.
Várias belas servas a seguiram enquanto ela descia para o centro do palácio.
Seu cabelo preto trançado balançava de um lado para o outro e parecia quase como se tons de
roxo tivessem sido colocados nele. Fumaça ondulava entre seus lábios suculentos depois de
uma tragada em seu cachimbo oriental, enquanto ela descia para o último andar, com vista para
uma grande câmara interna.
Espalhados por baixo dela estavam suas seguidoras. Ishtar colocou as mãos no corrimão e se
dirigiu às prostitutas abaixo.
"Agora, senhoras! É hora de conquistar novos clientes! Esta noite novamente, afoguem-se no
amor que preenche seus corações! "
A multidão rugiu em aprovação. Ela era composta principalmente de Amazonas, e continha uma
grande variedade de mulheres bonitas e sensuais, que iam de garotas até mulheres mais
maduras. Ishtar olhou para seus rostos fascinantes e que inspiravam luxúria, e não pôde deixar
de sorrir.
Suas palavras foram o sinal para todas as prostitutas irem para o ruas. Algumas tentavam atrair
clientes chamando os homens que passavam, enquanto outras usavam abordagens mais
diretas, como se aproximar dos homens que já conheciam seus serviços. Os homens não
tinham ideia de que estavam sendo caçados. A sede deles por prazer esvaziava suas carteiras,
os livrava de suas posses e rendia seus corações para serem devorados pelas mulheres nos
bordéis.
Como a antiga capital da antiguidade, construída sobre a decadência e imoralidade, esse lugar
agora estava vivo com a celebração do hedonismo e do prazer.
"Aisha, vamos nos mexer... Antes que todos os bonitões sejam pegos!"
"Ahh, estou bem atrás de você."
Uma mulher amazona respondeu a outra mulher de sua família. Ela andou pelas ruas do Distrito
Noturno, suas pernas longas e torneadas foram banhadas pelo luar até que ela parou e olhou
para trás.
A atmosfera nesse distrito de Orario era estranha e exótica, diferente de qualquer outro lugar
da cidade.
Os bordéis foram projetados para se parecer com os das ilhas distantes. Os pilares vermelhos
e as paredes eram brilhantes e chamativas, atraindo quem as visse. A Amazona ficou em pé
por um momento, admirando uma das moradias iluminada pelas luzes. Estreitando os olhos
para esconder sua piedade, seus longos cabelos negros tremularam atrás dela quando ela se
virou para reencontrar sua amiga.
Ela passou por uma janela em frente a um dos bordéis, onde várias prostitutas estavam
alinhadas, esperando clientes.
Muitas jovens estavam reunidas em uma câmara aberta ao público da rua, separadas apenas
por uma grade; elas ficavam a mostra enquanto chamavam os transeuntes, sorrindo, acenando
e os convidando para entrar.
"..."
Entre as prostitutas que anunciavam suas qualidades, havia uma garota sentada
silenciosamente no canto da câmara.
Ao contrário das outras mulheres ao seu redor, ela se sentou com os joelhos juntos e os lábios
fechados. Suas características fofas e flexíveis eram o suficientes para atrair a atenção de
clientes em potencial. Vestindo um kimono — que é o traje tradicional daquela nação insular —
sob um vestido tradicional vermelho, seu corpo delicado se destacava como um farol.
Ela tinha cabelos lisos e dourados com olhos verdes, bem como um rabo espesso da mesma
cor de seu cabelo.
Com orelhas compridas como as de uma raposa, a garota era absolutamente deslumbrante.
O único acessório que ela usava era um colar preto ao redor de seu pescoço, enquanto olhava
para fora da câmara que lhe servia como prisão.
Uma nuvem no céu noturno se deslocou, permitindo que a luz do luar se lançasse sobre ela.
Ela sussurrou baixinho para si mesma.
"Mais sete dias... "
Capítulo 7.1 - Navegação tranquila? (parte 1)
A cidade estava movimentada.
"... um mês?"
"Sério...?"
Os aventureiros se reuniram em torno do enorme quadro de avisos da Sede da Guilda. Eles
ficaram atordoados com um anúncio em particular.
"Aquele garoto idiota...!"
"Ei, Bete! Se apresse e me deixe ver!"
Um aventureiro de primeira classe pegou o papel do quadro de avisos, amassando-o com suas
garras apesar do pedido de seu aliado.
"Hee-hee-hee, ele é surpreendente."
E tantas outras divindades exibiam seus sorrisos deliciados e excitados quando a notícia desse
aumento de nível em particular se espalhou.
Os Jogos de Guerra ainda estão frescos na mente das pessoas, notícias sobre isso se espalham
por toda a cidade como um incêndio.
— Período de tempo: um mês.
— O aventureiro Bell Cranel alcançou o Nível 3.

"— Ah-choo!"
Esse espirro surgiu do nada.
Quase deixo cair a caixa dos meus braços, mas consigo recuperar o equilíbrio em tempo de
pegá-la. Quando eu acho que estou fora de perigo... "AHH-CHOO!" Um espirro ainda mais forte
explode pelo meu nariz.
"O que há de errado, Bell? Pegou um resfriado?"
"Não, acho que não... "
Minha deusa, que está andando na minha frente, se vira para olhar para mim enquanto eu fungo
o nariz e pisco repetidamente.
Assim como eu, minha deusa, Lady Hestia, também tem os braços cheios de bagagem. "Alguém
deve estar falando de você, hein?" Ela diz com um sorriso. Eu faço uma careta e aceno. Isso é
apenas uma superstição boba.
"Mais importante, Bell, isso! Dê uma olhada!"
Tap,tap, tap, tap. Ela anda rapidamente. Eu sigo atrás dela pela sombra de um prédio e em
volta da esquina.
De repente, posso ver nossa nova casa, totalmente renovada e brilhando como em um sonho.
"Uau… "
"Então? O que você acha? Vivemos aqui a partir de hoje!"
Atravesso o portão da frente e coloco as caixas no jardim, antes de levar tudo para dentro. Sinto
meus olhos se arregalando, estudando todos os detalhes da mansão que brilha na luz da
manhã.
Nós fizemos algumas reformas na casa da <Família Apollo> — depois que nós meio que
assumimos o controle — e a tornamos nossa. O deus deles tinha um gosto realmente estranho
quando se trata de design, mas foi bem construído e agora parece bom como se fosse novo.
Com três andares, a estrutura de pedra tem uma espessura surpreendente. Caramba, ela
poderia se passar por um pequeno palácio.
O emblema da <Família Hestia>, um sino e uma chama, paira sobre a porta da frente.
Minhas bochechas formigam de emoção enquanto dou uma olhada para a minha deusa. Ela
sorri de volta para mim, estufando o peito com orgulho.
"Eu percorri um longo caminho desde que Hephaistos me jogou naquele porão sujo!"
Enquanto ela olha para o nosso esplêndido novo lar, minha deusa coloca o braço no rosto
enquanto derrama uma lágrima rara e viril (feminina?).
Eu forço um sorriso. Pensando bem, aquela sala embaixo da igreja era aconchegante. Morar
lá, apenas nós dois, não era tão ruim assim.
Claro que havia muitos inconvenientes, mas estou triste por ela ter sido destruída… ainda tenho
muitas boas lembranças de estar com minha deusa e os bons momentos que compartilhamos
naquele lugar.
Mas, sim…
Meus amigos e minha família cresceram.
E agora temos uma casa grande o suficiente para todos. Então, talvez esta seja um coisa boa.
Eu coço a parte de trás da minha cabeça enquanto sinto um sorriso delicado se espalhar pelo
meu rosto.
"Hestia, o trabalho foi concluído conforme solicitado."
"Ohh. Obrigado, Goibniu."
Eu ainda estou admirando a mansão quando os arquitetos responsáveis pela reforma —
membros da <Família Goibniu> — emergem de todas as direções um após o outro, preparando-
se para partir. O líder deles, Lorde Goibniu, cumprimentou Lady Hestia e ela respondeu com
classe.
Nós os contratamos para fazer a reforma. Lorde Goibniu é uma divindade da forja e arquitetura.
Sua família é única em Orario, fazendo trabalhos de construção quando solicitado. Claro, os
ferreiros e artesãos da <Família Goibniu> são bem conhecidos e têm muitos seguidores. Apesar
de não serem tão populares quanto a <Família Hephaistos>, sei que existem vários aventureiros
da classe alta que preferem seu trabalho. De fato, parece que um de seus ferreiros que fez a
pistola de pulso de Lili, que é especificamente feita para Pallums.
Faz quatro dias desde que eles começaram a trabalhar e dois dias desde a missão que nos
levou ao décimo terceiro andar do Dungeon.
Eles trabalharam rápido e fizeram um trabalho espetacular restaurando as pedras do lado de
fora da mansão. Se o exterior é assim tão bom, como é o interior?
Parece que as duas divindades terminaram de discutir os últimos detalhes do pagamento e
começaram a conversar sobre o trabalho realizado no edifício. Lorde Goibniu tem um corpo
bastante robusto, não muito diferente de um anão. Ele sacode a mão de Lady Hestia com sua
grande mão antes de sair pelo portão da frente.
Ao ver o líder se despedir, o resto de sua família sai atrás ele, carregando seus equipamentos.
"Exatamente o que eu esperava de Goibniu. Eles seguiram nossas instruções ao pé da letra."
"Ah, eles fizeram?"
"Hm-hum. Assim como todo mundo queria, eles fizeram alterações em alguns quartos e
instalaram novas instalações dentro e fora da mansão."
Eu murmuro em admiração e fico ao lado da minha deusa, olhando mais uma vez para a nossa
nova casa.
Assim que eu cuidar de todas essas caixas, tenho que dar uma volta para poder dar uma olhada
em tudo.
Capítulo 7.1 - Navegação tranquila? (parte 2)

"Ohhh...!"
Mãos e joelhos no chão, Mikoto espiou para a nova e completa banheira a vapor.
Ela estava andando pelo terceiro andar da casa reformada. Ela largou tudo para ver o quarto
que havia solicitado.
Os arquitetos usaram os chuveiros existentes e transformaram o espaço em uma grande casa
de banho. Como se tivessem lido sua mente, havia uma grande banheira de madeira feita no
estilo de sua terra natal, que poderia caber confortavelmente dez pessoas ao mesmo
tempo. Shhooo. Ela podia ouvir o som silencioso da água quente sendo derramada da torneira
acima da banheira. A fragrância fraca da madeira flutuou até Mikoto quando ela espiou dentro
da banheira, seu rosto refletido na superfície da água.
Ainda de quatro, Mikoto de repente desviou o olhar e levantou cabeça. Tudo, as paredes, teto,
piso, pilares e baldes eram feitos de madeira; o brilho dos chuveiros era adicionado ao charme
do quarto.
Tudo a lembrava de sua casa no Extremo Oriente. Ela ficou tão emocionada com a visão de
tudo, que estremeceu levemente.
Ao mesmo tempo, ela observou os finos fios de vapor subindo acima da água, um som saiu de
sua garganta fina.
"Uh-unnn...!"
Mikoto estava em conflito.
Eles estavam atualmente no processo de mudança; mesmo agora, seus companheiros estavam
carregando caixas e mais caixas para a mansão e trabalhando muito pesado. Eu não tenho
tempo para relaxar agora, seus olhos caíram na pilha de malas no chão atrás dela.
Mas... o vapor branco e os cheiros que saiam da banheira eram tão sedutores, atraindo-a como
mágica.
Ela estava suprimindo esses desejos, mas agora...
"A-apenas um banho rápido." Ela disse calmamente sua desculpa enquanto seguia para o
camarim. Colocando a cabeça no corredor principal, ela olhou para os dois lados enquanto
checava nervosamente para se certificar de que ninguém estava vindo, antes de fechar a porta
completamente.
Shwip. Desfazendo as faixas de suas roupas, o som do tecido sendo despido encheu o vestiário.

Splish. Ela enfiou levemente o dedo na água, criando ondulações na superfície.


Suas panturrilhas finas foram rápidas em seguir, e então suas coxas, antes de — splaash —
todo o corpo dela deslizou para dentro do banho de vapor.
"Ahhhhhh...!"
Um suspiro prazeroso escapou de seus lábios quando ela submergiu até os ombros.
Ela gostou do abraço quente do banho. Fechando os olhos com força, Mikoto deixou seu corpo
inteiro relaxar.
"Por favor, perdoe-me, Lorde Takemikazuchi, todo mundo...!"
Enquanto se desculpava fervorosamente, ela deixou seu rosto relaxar também. Ela foi forçada
a viver em relativa pobreza depois de vir para Orario com Takemikazuchi e seus amigos de
infância. Um banho adequado estava fora de questão e eles tiveram que se contentar com
apenas chuveiros. Não foi preciso dizer que nenhum deles se queixou ou tentou viver além de
sua capacidade... Mas agora, os desejos reprimidos que ela mantinha presos se libertaram de
uma vez só.
Memórias de sua primavera favorita, quente e ao ar livre, correram para a superfície de sua
mente.
Ela relembrou alegremente cenas antigas e paisagens de sua cidade natal, até que sua pele
estivesse tingida da mesma cor das flores de cerejeira.
Para Mikoto, não havia prazer maior neste mundo do que um banho quente.
Aliás, ainda era de manhã cedo.

"Bem, isso é o que a <Família Goibniu> preparou para mim — de maneira rápida e eficiente."
Um pequeno galpão de pedra foi construído no quintal atrás da mansão.
Welf estava parado na porta aberta, completamente inconsciente do sorriso excitado crescendo
em seu rosto.
Sua nova oficina foi construída fora da mansão, em uma parte do resto do terreno —o castelo
pessoal de um ferreiro, uma forja.
Não tinha tanto espaço quanto a oficina atribuída a ele pela <Família Hephaistos>, mas estava
tão bem equipada quanto. Prateleiras de metal estavam alinhadas nas paredes, havia lenha
empilhada para combustível e barris para esfriamento ou armazenamento. Havia até um porão.
A qualidade da construção era excelente em todos os aspectos.
Ele não podia nem reclamar do design da fina chaminé que se estendia até o topo da forja.
"Eles também são ferreiros. Claro que eles saberiam o que eu quero."
Welf olhou para seu novo espaço de trabalho com total satisfação. Ele começou a carregar a
pequena montanha de caixas que ele trouxe da <Família Hephaistos> com o entusiasmo de
uma criança em uma loja de brinquedos.
Ele mal podia esperar para fazer desta oficina seu castelo.
Seu conjunto pessoal de marretas, tesouras de metal e bigornas encontrou novos lares por toda
a oficina. As armas que ele não conseguia vender antes foram usadas como decoração para
seu porão, incluindo o refinado lingote que ele tinha comprado usando as poucas economias
que ele tinha. Então ele carregou mais armas e armaduras de vários tamanhos e formas para o
porão sem nenhum problema — graças ao seu Status aprimorado.
Por fim, com o martelo que ele recebeu da deusa Hephaistos em sua mão, ele deu um passo
para trás para admirar os frutos de seus esforços.
"É aqui... que eu começo de novo."
Uma nova família, uma nova oficina e um espírito renovado.
O jovem Grande Ferreiro olhou ao redor de sua nova oficina mais uma vez, segurando
firmemente seu martelo carmesim.

"Ignorando as áreas de armazenamento, há mais de vinte quartos extras, não incluindo os


ocultos ou subterrâneos... "
Lili estava andando dentro da mansão, um mapa apertado em suas mãos.
Ela o seguiu até um quarto e deu uma rápida olhada dentro, antes de anotar algumas coisas
sobre o interior e tudo o que estava lá antes de seguir em frente.
Quanto mais quartos ela verificava, mais perturbada ela ficava.
"Uhnn, este lugar é muito graaaande... "
A mansão, construída com pedra sólida e madeira, tinha três andares. Além disso, possuía
jardins na frente e atrás, além de uma cerca de ferro. Quando ainda era propriedade da <Família
Apollo>, mais de cem aventureiros chamavam esse lugar de lar. Mesmo se eles incluíssem sua
deusa na conta, a <Família Hestia> tinha apenas cinco membros. Essa casa não correspondia
as circunstâncias de sua família de forma alguma.
"Com apenas Lili e os outros, será impossível limpar e manter este lugar... Talvez contratar uma
empregada seria uma boa ideia?"
Ela sabia que gastar dinheiro desnecessariamente deveria ser evitado, mas esse problema
precisava ser resolvido.
Eles poderiam contratar alguém desconectado de qualquer família ou um membro não
combatente — alguém que pertencia a uma família, mas que não tinha recebido a bênção de
um deus. Diversas famílias com foco comercial em Orario contratavam membros não
combatentes para ajudar em seus empreendimentos.
Até sua própria deusa, que trabalhava em meio período para a <Família Hephaistos>, era um
ótimo exemplo desse arranjo. Claro, as pessoas contratadas dessa maneira trabalhavam em
algum lugar longe dos segredos de seus empregadores, por segurança.
Mordomos profissionais geralmente recebiam um salário alto, igual ao que os empregados da
Guilda recebiam ou o que aventureiros de classe baixa poderiam fazer na Dungeon. Sendo esse
o caso, seria mais barato contratar uma jovem mulher que foi incapaz de ocupar uma posição
na famosa indústria de pedras mágicas de Orario e já está procurando por uma vaga de
emprego... a linha de pensamento de Lili foi muito longe antes que ela parasse.
"… o Sr Bell iria olhar para ela, então essa não é uma opção."
O menino ficava vermelho a mera visão do sexo oposto, então Lili não tinha dúvidas sobre a
adição de outra jovem integrante a família. Mas se ela não pudesse confiar nem em uma
empregada mais velha, isso acabaria sendo uma demonstração de uma iminente desgraça
financeira.
Visões da garota do bar de cabelo cinza, Syr, sorrindo para ele, brilhavam na frente dos olhos
dela. Ela balançou vigorosamente a cabeça para frente e para trás para fazer esse pensamento
ir embora.
"Mas, mhnn, por outro lado... "
Ela olhou pela janela do primeiro andar para todas as flores e plantas no jardim, que precisam
de muita atenção. A mente de Lili estava ponderando com seu coração de jovem donzela sobre
a atual situação.
Cada membro da <Família Hestia> se preparou para seu novo estilo de vida a sua própria
maneira.
Capítulo 7.1 - Navegação tranquila? (parte 3)

"É como um sonho se tornando realidade... "


Enquanto continuo movendo móveis e bagagens sem parar, olho para cima maravilhado com
nossa nova casa.
As paredes reformadas do edifício refletem a luz do sol e parecem brilhar. Mesmo que eu ignore
a possibilidade de ser o produto de excitação excessiva sobre a mudança para um novo lugar,
provavelmente ainda é um pouco exagerado.
"… Seria muito bom se nossa família também crescesse, não apenas nossa casa."
Enquanto falo comigo mesmo, vislumbro Lili e os outros andando pela casa.
Um sorriso cresce no meu rosto enquanto ajusto a caixa em meus braços.
"Ei... pare com isso...!"
"Eu não queroooo... !!"
"Hmm?"
As vozes chegam aos meus ouvidos enquanto eu ando pela parede externa do edifício, indo
para o quintal de trás.
Duas garotas estão discutindo na rua que passa pela nossa nova casa.
Bem, talvez não discutindo... uma garota está com os braços em volta de duas barras da cerca
de ferro em torno de nossa propriedade, enquanto a outra garota está tentando arrancá-la,
puxando-a pela gola. A garota na frente está fazendo birra como uma criança, chorando alto,
enquanto a outra não consegue esconder sua irritação.
"Espere, eu lembro de vocês... Srta. Cassandra? Srta. Daphne?"
Elas estão exatamente como eu me lembro delas. Uma tem cabelos esvoaçantes enquanto a
outra tem um cabelo curto, suas personalidades não poderiam ser mais diferentes. Eu lutei
contra elas nos Jogos de Guerra — ambas são antigas membros da <Família Apollo>.
Eu não posso simplesmente me afastar e fingir que nunca as vi nesse momento...
"Ah... Pequeno Novato."
Depois de largar a caixa e começar a correr até elas, a Srta. Daphne é a primeira a me notar.
Ela não afrouxa a gola da camisa da Srta. Cassandra. Não demora muito para que os olhos
caracteristicamente caídos da outra garota também se virem na minha direção.
"Hum... bem... "
Eu tento perguntar a elas o que está acontecendo, mas as palavras... elas não saem.
Essa costumava ser a sua casa e me sinto culpado por tirá-la delas.
A Srta. Daphne deve ter descoberto o que está passando pela minha mente. Ela olha bem para
mim e encolhe os ombros.
"Vocês ganharam de forma justa e honesta, então você não deve deixar isso pesar em sua
consciência. Além disso, nós é que iniciamos a guerra."
Srta. Daphne está fazendo o possível para demonstrar que não há ressentimentos.
Embora eu fique feliz em ouvi-la dizer isso... ainda me sinto mal. "Sério, está tudo bem," Srta.
Daphne acrescenta enquanto força um sorriso, tentando me tranquilizar.
"Nós dois fomos pressionados a participar de qualquer maneira, então na verdade é bom que
as coisas acabaram assim. Agora temos a chance de participar de uma família liderada por
alguém um pouco menos louco do que o nosso antigo deus."
O tecido da blusa de Cassandra está se esticando novamente quando Daphne faz outra
tentativa de afastá-la das barras de ferro. Fixando seu aperto, a garota de cabelos curtos explica
o que estão fazendo.
Elas parecem estar em algum tipo de encruzilhada, tentando descobrir seu próximo passo.
Sendo aventureiras da classe alta, elas foram observadas por muitos deuses e deusas.
Infelizmente, todos os seus recrutadores tinham grandes defeitos que elas não puderam
simplesmente ignorar, então elas rejeitaram todas as ofertas.
Famílias de alto escalão não demonstraram interesse nelas e elas também não tinham interesse
em vender seus serviços como mercenárias. Então, por enquanto, elas estão tentando
encontrar um deus decente que lidera uma família comum.
Então, Daphne me explica que ela não guarda rancores, embora ela ache que todos os outros
ex-membros da <Família Apollo> pensem diferente. Ela acrescenta que, como vencedor, devo
manter minha cabeça erguida... eu acho que se ela está disposta a dizer tudo isso, então devo
parar de me preocupar.
Nós dois compartilhamos um sorriso em lados opostos das barras de ferro.
"Então, hum, o que traz vocês aqui...?"
Finalmente chegando ao ponto, Daphne suspira e puxa Cassandra mais uma vez.
Olho para a garota, seu corpo inteiro está pressionado contra as barras de ferro.
"Então, essa daqui perdeu seu travesseiro favorito."
"Travesseiro?"
"Sim. Eu continuo dizendo a ela que ela pode comprar um novo, mas... "
"E-ele é o único que funciooona. E-eu não consigo dormir sem ele… "
Esta é a primeira vez que Cassandra diz algo nessa conversa.
Chorando, falando através de soluços, ela olha por cima do ombro para a Srta. Daphne, que
está puxando sua gola.
Então, isso significa...
"Srta. Cassandra, você esqueceu seu travesseiro lá dentro?"
Nós removemos tudo o que a <Família Apollo> deixou para trás quando nos mudamos. Havia
um travesseiro assim quando estávamos limpando?
Cassandra empurrou seu rosto vermelho pelo espaço entre as barras de ferro depois de eu
fazer minha pergunta. Ela fala timidamente, escolhendo suas palavras com cuidado.
"Não me lembro, de verdade... vi que estava aqui em um sonho, então eu... "
"Um o quê?"
Sonho ...?
"Como eu já disse: pare de dizer coisas tão estúpidas!"
"Estou te implorando, por favor acredite em mimmmm!"
Daphne repreendeu Cassandra por dizer que um sonho a levou de volta para cá.
A essa altura, eu já descobri o resto. Srta. Daphne tentou impedir que a Srta. Cassandra
aparecesse na casa de outra família sem aviso prévio, pedindo as coisas com essas histórias
embaraçosas.
Ao mesmo tempo, ela não estava levando a sério o sonho da Srta. Cassandra. Então, ambas
estavam perdidas quanto ao que fazer.
Eu não acredito exatamente em sonhos de adivinhação ou clarividência, mas...
Como poderia se esperar, os olhos chorosos e suplicantes de Cassandra eram comoventes.
"Umm, nesse caso, eu vou dar uma olhada."
" " Eh? " "
Acrescento: "Pelo travesseiro", para esclarecer quando as duas garotas ficam em silêncio e
olham para mim.
Daphne parece totalmente chocada, enquanto Cassandra parece ter um olhar intrigado por trás
de suas lágrimas.
"Você... você está falando sério...? Foi um sonho, você sabe — um sonho. Você vai confiar em
uma ilusão?"
"Ilusão...? Mas você tem certeza de que está aqui, certo?"
Desvio o olhar da expressão perturbada da Srta. Daphne para fazer contato visual com a Srta.
Cassandra. Ela não diz uma palavra, apenas acena com a cabeça para cima e para baixo o
mais rápido possível. Nesse caso, não posso dizer não.
Pergunto a ela onde procurar e ela rapidamente relata seu sonho para me dar instruções.
"V-você acredita em mim...?"
Até o último momento, ela ainda fala timidamente.
Eu forço um sorriso.
"Está tudo está bem. Eu acredito em você. Farei o meu melhor para encontrá-lo."
No segundo em que as palavras saem da minha boca, a Srta. Cassandra parece ser dominada
pela emoção, me encarando com lágrimas nos olhos.
"Eu vou agora," digo enquanto recuo, suor frio escorrendo no meu rosto por causa de sua
expressão comovida. Ela está fazendo disso uma coisa maior do que realmente é. Daphne me
chama, dizendo que não preciso fazer isso, mas eu me viro e aceno para dizer a ela que está
tudo bem.
A Srta. Daphne realmente não precisa ser tão teimosa...
Se isso apareceu nos sonhos da Srta. Cassandra, então ela provavelmente apenas lembra a
localização do travesseiro, certo?
... eu realmente não quero levar a sério esse tipo de coisa, mas ela parecia tão certa disso que
pensei em refazer os passos dela em seu sonho.
Algo parece estranho... Parece que há um ponto quente nas minhas costas.
Foi apenas um momento — o Status gravado nas minhas costas de repente esquentou.
Eu alcanço o local com meu dedo, confirmando o lugar que esquentou.
"… <Sorte>?"
O calor está vindo de uma área muito próxima ao espaço reservado para as minhas Habilidades.
Pensando na forma de todos os hieróglifos gravados nas minhas costas, inclino a cabeça e me
pergunto o que está acontecendo.
Entrando pela porta da frente de nossa casa, começo a procurar o travesseiro.

"É esse?"
"— É esse mesmo!"
Não demorou muito.
Depois de encontrá-lo, corri de volta com o travesseiro nas mãos e logo que o viu, a Srta.
Cassandra deu um grito de alegria.
Entrego o item rosa claro através da cerca, e a próxima coisa que vejo é a Srta. Cassandra o
segurando com todas as suas forças. Seus olhos se fecham quando ela abraça sua amiga
perdida, tão feliz quanto ela poderia estar. Eu não posso evitar de me sentir feliz, após ver sua
reação exaltada. O travesseiro estava exatamente onde ela me disse, de alguma forma
espremido entre um pilar de suporte e uma parede.
Enquanto a Srta. Cassandra ainda está irradiando alegria, ao lado dela, a Srta. Daphne
murmura: "Ela estava certa... " em descrença.
"Hum, muito obrigada! Obrigada por acreditar em mim! Obrigada, obrigada…!!"
"N-não é grande coisa, de verdade... "
Ela continua se curvando repetidamente, agradecendo várias vezes. Outro sorriso aparece no
meu rosto por puro nervoso. Até o meu corpo está se afastando dela.
Demoro um pouco a dar a volta na cerca, para que eu possa conversar com elas sem barras
no caminho. Srta. Cassandra começa a se curvar mais uma vez, até que finalmente revela o
seu rosto que estava escondido por trás do travesseiro.
Ela suga as bochechas enquanto seus olhos me estudam.
Há um calor estranho em seu olhar, e isso está me fazendo corar.
Mantendo os olhos em mim, a Srta. Cassandra dá alguns pequenos passos para o lado de
Daphne.
Ela sussurra algo no ouvido da Srta. Daphne com o travesseiro ainda em seus braços.
"O que... sério? Você tem certeza?"
"Uh-huh... "
Surpresa está escrita por todo o rosto da Srta. Daphne, enquanto as bochechas da Srta.
Cassandra ficam rosadas e ela assente novamente.
Por que tenho a sensação de ter sido deixado de fora dessa conversa? A Srta. Daphne se
endireita e se vira para mim alguns momentos depois.
"Pequeno Novato, temos algo para tratar com você... Mais tarde."
Ela me agradece por encontrar o travesseiro da Srta. Cassandra antes de se virar. A Srta.
Cassandra me mostra outro sorriso antes se curvar uma última vez e seguir sua parceira.
As duas dobram a esquina e estão fora da minha vista antes que eu saiba o que aconteceu.
"Mais tarde…?"
O que ela quis dizer com isso?
Enfim, tenho que voltar ao trabalho. A caixa de antes ainda está parada atrás do prédio. Eu
corro de volta ao redor da cerca e a pego.
Com nossa conversa se repetindo em minha mente, trago a caixa para nossa casa.
"Ah! Bell! Faça uma pausa assim que terminar com isso!"
"Eh? Tudo bem?"
Minha deusa me chamou de um quarto no segundo andar quando eu passo pela porta.
Eu protesto, dizendo a ela que não fizemos muito progresso. Ela só sorri para mim com toda a
confiança do mundo e acena.
"Hee-hee, a festa não pode começar sem você! Dê uma olhada nisso!"
Eu ando todo o caminho através da sala até a minha deusa que está em frente a janela. Ela
está segurando um pedaço de papel.
Ela não me disse o que esperar, então eu cuidadosamente tomo o papel dela e dou uma
olhada...
"... <Família Hestia>, agora recrutando novos membros! Venham, meus filhos!"
Um convite para se juntar a nossa família, escrito na língua comum de Koine. Nosso emblema,
uma chama e um sino, está na parte superior do convite, que contém as informações sobre
como se inscrever.
E o dia para conhecer pessoalmente a deusa é... hoje.
Meus olhos saltam do papel e eu olho para ela. Ela está sorrindo de orelha a orelha.
"Há outro igual no quadro de avisos da Guilda, e eu pedi para as mulheres do meu trabalho de
meio período para colocarem um no estande! Está quase na hora de conhecer todos... Eles
devem estar do lado de fora agora mesmo!"
Ela lança seu olhar pela janela.
Eu corro e olho por mim mesmo.
"Uau...!"
Do lado de fora da cerca de ferro, em frente a nossa porta da frente...
Muitas raças de humanos e semi-humanos estão lá.
Capítulo 7.1 - Navegação tranquila? (parte 4)

"Ei, nós vamos olhar os novos recrutas em potencial. Eles estão no gramado da frente."
Mikoto estava carregando algumas caixas pequenas por um corredor quando Welf a chamou.
Ela se virou para encará-lo. Foi quando o jovem percebeu algo estranho e sorriu ironicamente.
"Você... tomou um banho tão cedo?"
"Ah, não, isso é apenas... então...!"
Uma camada de roupas folgadas, pele levemente rosada e cabelos úmidos. Ela percebeu que,
com apenas um olhar, qualquer um poderia dizer que ela acabou de sair do banho. O rosto dela
rapidamente ficou com um tom mais escuro de rosa.
Embora tenha sido apenas um banho rápido, ela se sentiu culpada por ter fugido do trabalho
que lhe foi atribuído. Seu cabelo normalmente amarrado para trás agora estava pendendo
frouxamente, fazendo ela parecer uma criança com a consciência culpada enquanto tentava se
esconder atrás das caixas que estava carregando.
Olhando para Mikoto, o sorriso anterior de Welf se intensificou.
"... eu não vou dizer nada para os outros, então venha quando puder."
"E-eu irei para lá logo depois de guardar isso!"
Agradecendo o ferreiro por sua compreensão, Mikoto podia sentir suas bochechas queimando
quando ela praticamente gritou sua resposta. Ela correu para longe, deixando Welf atrás dela.
"Eu não tenho disciplina... "
Ela murmurou para si mesma enquanto seus ouvidos ardiam.
Thump, thump, as caixas tremiam em seus braços enquanto ela corria através de um corredor
o mais rápido que podia com pequenos passos.
"Ops."
Um pequeno papel branco caiu da caixa de cima e pousou no chão perto de seus pés.
"Agora eu fiz mais isso", disse Mikoto enquanto descia a montanha de caixas, antes de se
inclinar para pegar o papel.
Ela estava prestes a colocá-lo de volta na caixa quando a qualidade do papel chamou sua
atenção. Ela o segurou contra a luz que entrava pela janela para ver o que estava escrito nele.
"O que é isso…?"

"Isso não é um sonho...?"


Eu limpo minha garganta enquanto tento absorver tudo que está acontecendo.
Humanos e semi-humanos de todas as formas e tamanhos inundam nosso jardim da frente no
momento em que abrimos o portão.
Meu rosto está entorpecido. Eu examino a multidão do meu ponto de vista na varanda da frente.
"É tudo real, Bell! Todas essas crianças vieram aqui hoje para se juntar a nossa <Família>!"
A deusa dá alguns passos a frente, abrindo os braços para recepcionar os recém-chegados.
Graças aos cartazes de recrutamento, todas essas pessoas —mais de cinquenta no total —
vieram para nossa casa hoje porque queriam se juntar a <Família Hestia>.
"Nós somos o assunto da cidade depois de vencer os Jogos de Guerra, especialmente entre os
novos aventureiros, que acabaram de chegar em Orario. Lili e todos em nossa família estão no
ápice agora."
Lili está do outro lado da minha deusa, explicando a inundação de recrutas esperançosos.
As imagens que eles viram dos Jogos de Guerra através dos Espelhos Divinos espalhados por
todo Orario ainda estão frescos em suas mentes. Ver uma jovem <Família>, superada
vastamente em números, superar as probabilidades e sair vitoriosa deve ter deixado uma forte
impressão.
Viajantes e comerciantes provavelmente espalharam as nossas façanhas fora da cidade
também.
Somente quando vejo o olhar de Lili é que percebo que estou sorrindo. Eu não consigo
descrever esse sentimento de felicidade, essa alegria inspiradora.
"Isso significa que não somos mais a família bebê...! Deusa, nós conseguimos, não é?"
"Sim! Tudo começou há três meses... Um tempo tão curto, e ainda assim parece tão longo!!"
Minha deusa e eu damos as mãos, aproveitando a alegria de finalmente ser reconhecidos como
uma família legítima.
Lili parece meio desconfortável, forçando um sorriso com os olhos em nós. Mas tenho certeza
de que ela está tão feliz quanto nós, se não mais feliz.
Todas aquelas noites comendo Jyaga Maru Kun — bolinhos de batata crocante — sozinho com
a deusa na sala escondida sob a igreja, parece história antiga agora. Há tantas memórias,
coisas que nunca vão acontecer novamente — exceto os bolinhos de batata. Isso ainda está no
menu.
Estou tão feliz.
A deusa tentou recrutar pessoas por conta própria, mas ela foi rejeitada muitas vezes. Agora as
pessoas estão literalmente fazendo fila para se juntar a nossa <Família>.
Ainda de mãos dadas com minha deusa, olho para a multidão e começo a tremer.
Existem tantas raças. Humanos, é claro, mas também Elfos, Anões, meio-feras, Pallums e até
algumas pessoas de raça mista, todas em pé no nosso jardim da frente. Vários homens parecem
prontos para a Dungeon, vestidos com armaduras e carregando suas armas. Há um grupo de
garotas perto dos portões vestidas com roupas de viajante. Elas devem ter chegado a cidade
alguns dias atrás. Todo mundo está conversando animadamente entre si enquanto lançam
olhares para nós três na varanda. A atmosfera é elétrica.
O sol brilhava no céu azul, tudo tão brilhante e colorido... é difícil acreditar que isso está
acontecendo. Os sonhos estão se tornando realidade!
"Ah... Srta. Daphne! Srta. Cassandra!"
Reconheço dois rostos familiares na multidão. Eu falei com elas a cerca de meia hora atrás. O
cabelo curto da Srta. Daphne balança em volta da cabeça, enquanto seus olhos presunçosos
encontram os meus. Sinto o olhar suave da Srta. Cassandra um momento depois.
Elas fazem o seu caminho através da multidão e chegam a frente da varanda. Daphne força um
sorriso.
"Essa garota me disse que quer se juntar a sua família... "
A Srta. Daphne coloca a mão em cima da cabeça da Srta. Cassandra. Meus olhos se abrem de
surpresa.
Srta. Cassandra sorri timidamente para mim por um momento, antes de esconder seu rosto.
Sinto os músculos das minhas bochechas derreterem quando outro grande sorriso se forma em
meu rosto.
Então é isso que ela quis dizer com "mais tarde"... Elas sabiam!
Não faço ideia do por que elas escolheram nossa família ao invés de outras, mas eu estou tão
feliz que não poderia me importar menos! "Muito obrigado!" As palavras praticamente explodem
da minha boca.
E pensar que aventureiros de terceira linha e de classe alta vão se juntar a nós! Eu poderia
pular de alegria aqui e agora!
"Grande multidão."
"Ah, Welf!"
Welf sai para a varanda da frente, na mesma hora que a Srta. Daphne e a Srta. Cassandra
desaparecem de volta a massa de pessoas.
"Você está emocionado que a família está crescendo?"
"Sim! Todos vivendo juntos, será como uma grande família...! "
"Ter mais pessoas não significa apenas coisas boas, você sabe. Família maior também significa
obrigações maiores."
E ele tem ainda mais pontos, falando sobre como em um grupo grande há mais detalhes para
se descobrir, além de mais potencial para drama e competição.
Ele está falando por experiência própria, tendo pertencido a uma família muito maior, a <Família
Hephaistos>. Tem aquela aura de irmão mais velho dele, e aquele sorriso de sabe tudo. O balão
de alegria no meu peito está um pouco menor agora.
Ele está certo... Existem muitas coisas boas e ruins em uma família maior.
"Welf, relaxe, tudo bem? Vou conversar com cada um deles individualmente, e descobrir se eles
se encaixam na nossa família!"
"O que…? Você não vai deixar todo mundo entrar?"
A deusa ouviu tudo o que Welf disse e veio se juntar a conversa.
Sinceramente, estou chocado. Eu pensei que todo mundo aqui seria um membro de nossa nova
família.
"Os deuses têm seus próprios gostos e hobbies. É isso que faz cada família ser diferente. Pense
nisso, Bell. O que aconteceria se uma criança que não concorda com a nossa maneira de pensar
se unisse a nós? Haveria muitos problemas."
"Bem… "
"E não se esqueça, eu sou uma deusa. Uma rápida olhada é tudo o que preciso para determinar
a personalidade de uma criança. E eles não podem mentir para mim, podem? Eu vou afastar
qualquer um que pense que pode prejudicar nossa família."
Eu entendo o que ela está dizendo. É a coisa certa a se fazer.
A dignidade de nossa família sofreria se um novo recruta fosse um bêbado de bar ou um
criminoso violento. E eu também não tenho certeza se poderia trabalhar ao lado de alguém
assim. Claro, eu sei que Lady Hestia não tomará decisões com base na história pessoal, mas
sim na personalidade.
Tudo se resume a se a divindade pensa que você pode beneficiar a família. Nada mais importa.
Depois de ser rejeitado de família após família quando cheguei a Orario, entendo isso muito
bem.
Mas de pé aqui na frente de todas essas pessoas que querem se juntar a nós... eu não quero
afastar nenhum deles.
"... E eu não posso permitir mais ninguém como aquela suporte dentro dessas paredes.
Adicionar outra pessoa que olha para Bell com segundas intenções enviaria essa casa ao
caos..."
"Lili pode ouvi-la, Lady Hestia."
A deusa e Lili continuam falando em voz baixa, mas ainda me sinto muito mal que não possamos
aceitar todos. Eu não estou tão feliz como estava apenas um minuto atrás, mas eu
definitivamente me sinto muito mais realista. Respirando profundamente, coço a parte de trás
da minha cabeça.
"Seja como for, da maneira que Lili vê... Existem alguns semi-humanos aqui hoje, mas como o
Sr. Bell é o líder da família, somos mais atraentes para os humanos."
Ela está certa.
A deusa me escolheu para liderar, mas há outra razão também. Eu sou o único membro da
<Família Hestia> que não se uniu com uma Conversão a partir de uma outra família.
Honestamente, estou um pouco preocupado por ter recebido tanta responsabilidade, mas... é
meio embaraçoso ser chamado de líder assim.
Aparentemente, existem algumas famílias nas quais é mais fácil ingressar se você for da mesma
raça que o atual comandante do grupo. Pessoalmente, penso no líder do grupo mais como um
exemplo. Por outro lado, ver todos os humanos aqui que são inspirados a se juntar a família por
minha causa me faz sentir muito bem.
Em adição ao que Lili está dizendo, muitos dos recém-chegados decidiram se vestir como um
aventureiro. Espadas e lanças, escudos, armaduras leves e pesadas — a mistura de estilos e
armas de luta é quase esmagadora. Alguns têm o ar da disciplina de um soldado, enquanto
outros exalam a confiança de um cavaleiro. Eu já posso me ver explorando a Dungeon com
eles, contando com o apoio deles. Também existem até alguns suportes equipados com
grandes mochilas na multidão.
Eu não sei dizer se eles são membros de outras famílias que querem mudar a afiliação ou se
são aventureiros "livres" de fora da cidade. A única coisa que eu sei, no entanto, é que eles
definitivamente parecem talentosos.
"Bem, então, devemos começar as entrevistas?"
A deusa chama a multidão enquanto estou examinando os candidatos.
Olho para Lili e Welf. Eles acenam de volta e todos nós saímos da varanda, dando um passo
em direção a multidão.
A deusa olha em volta para todos os aventureiros reunidos e está prestes a anunciar o início
das entrevistas quando —
"L-LADY HESTIA!"
Um grito estridente surge do interior da casa.
Nós quatro nos viramos para o prédio enquanto Mikoto explode pela porta da frente.
"O que há de errado, Mikoto?"
"I-i-isso caiu... caiu de uma caixa...!"
A deusa não consegue esconder sua confusão. O corpo inteiro de Mikoto está tremendo, a cor
sumiu de seu rosto.
Ela levanta um pedaço de papel na nossa frente, a deusa e os recrutas gritam o mais alto que
podem:

"Um contrato de empréstimo de duzentos milhões de vals !!!!!!"

O tempo parece parado.


"Heh-HEM ?!"
Lady Hestia fica boquiaberta com o papel de alta qualidade colocado em frente ao seu rosto,
limpando a garganta.
"O quê?" Lili cambaleia para trás. "Duzentos mil?" Welf está absolutamente atordoado. Olho por
cima do ombro; todos os candidatos parecem petrificados.
Não consigo me mexer.
Cada conjunto de olhos está travado nos números no meio do papel.
Duzentos milhões —Duzentos milhões de vals.
Mesmo que meu olhar passe pelo papel várias vezes, eu não compreendo cada um desses
zeros. Logo acima do total, escrito em grandes letras vermelhas, estão as palavras Contrato de
Empréstimo. O que é pior, logo abaixo dos zeros está a assinatura de Lady Hestia, em Koine e
hieróglifos. Isso é real e não há escapatória.
Mas o golpe final é a assinatura ao lado. <Família Hephaistos>. Todo o ar sai dos meus pulmões
e eu não consigo respirar. Tudo parece distante.
Não pode ser —
A arma pendurada no meu cinto tem exatamente a mesma assinatura.
Sinto o peso da faca preta gravada com <Hφαιστος> como se de repente ela fosse de chumbo
puro.
É muito. Eu desmaio.
"Uh... uhhh — "
"Sr. Bell!"
"Isso tem que ser algum tipo de piada... "
Eu posso ver o céu azul enquanto ouço a voz de Lili. A segunda voz com certeza essa é de
Welf.
Bem na hora, um coro de suspiros soa pelo gramado da frente.
"— Cassandra, vamos embora."
"Eh... hein, Daph?"
Clomp, clomp. O chão treme quando mais de cinquenta pares de botas giram e vão embora.
O lado sombrio da <Família Hestia> que nem os membros sabiam sobre, tinha sido revelado.
Uma bomba a espreita na escuridão na forma de uma dívida.
Isso fez com que aquela cena anterior de excitação e energia pareça mentira. Todos os
candidatos se foram.
A última coisa que vejo antes que a escuridão azul me domine é a deusa, parada como uma
estátua em silêncio.
Capítulo 7.1 - Navegação tranquila? (parte 5)

"Qual é o significado disto?"


Lili pressiona por respostas.
Todos se reuniram na sala nos fundos do primeiro andar. A sala ainda está cheia com um monte
de caixas abertas e fechadas. Um espaço no centro havia sido aberto para se colocar uma mesa
e um pequeno sofá. Velas antigas iluminam a sala escura, mas elas usam pedras mágicas ao
invés de chamas para produzir luz. Estamos sentados ao redor delas, nossos rostos iluminados
nas trevas.
Eu sou o único deitado, deixando escapar um gemido lamentável ocasionalmente. Minha
cabeça ainda dói. Lili, Welf e Mikoto estão sentados em um círculo ao redor das velas enquanto
minha deusa fica no meio.
Cercada por Lili e pelos outros, Lady Hestia está com uma expressão perturbada no rosto.
O tique-taque do relógio na parede ecoa, indicando que o sol está se pondo agora.
Meio dia se passou desde o desastre no gramado da frente e agora quase não há luz entrando
pelas janelas. A noite está sobre nós.
"Ficamos atrasados com a limpeza e com os cuidados do Sr. Bell, mas por favor diga a verdade
a Lili. A verdade sobre esse contrato."
"Oh, isso apenas me envolve. Portanto, isso não afeta a família... "
"Graças a esse empréstimo 'inofensivo' que não deve afetar a família, nós não temos nenhum
membro novo. Lili acha que ele teve um grande efeito. Como nossa deusa, é sua
responsabilidade nos manter informados sobre esses assuntos."
Eu nunca ouvi a voz de Lili tão aguda antes. Ela está assumindo o papel de nossa representante.
O resto de nós fica quieto.
Mikoto foi quem se esqueceu da seleção e anunciou tudo em frente dos candidatos. Eu posso
dizer que ela se sente mal com isso, mas até ela está esperando uma explicação. Welf está
sentado de pernas cruzadas, sobrancelhas baixas e olhos firmemente travados em Lady Hestia.
A deusa olha para todos nós um de cada vez, ela está encurralada em todos os sentidos da
palavra. Finalmente, ela começa a murmurar sua história.
"A verdade é que... muitas coisas aconteceram quando pedi a Hephaistos para fazer a faca de
Bell... "
E assim começa toda a história por trás da <Faca de Hestia> — minha faca.
Primeiro, ela praticamente forçou sua amiga Hephaistos a forjá-la.
É um item único no mundo, e a deusa da Forja é provavelmente a única capaz de fazê-lo.
Portanto, é extremamente valioso.
Foi por isso que Hestia teve que pagar uma quantia tão absurda. No final, ela teve que concordar
com os termos do empréstimo de Hephaistos.
Welf, um ex-membro da <Família Hephaistos>, pressionou a parte interna do seus olhos
enquanto ouvia a deusa. "Sempre me perguntei quem o forjou, hieróglifos e tudo... Então era
ela." As palavras escapam silenciosamente da boca dele. Os olhos de Mikoto estão arregalados
com a verdade sobre o empréstimo. Por outro lado, Lili parece ter encontrado a peça que faltava
em um quebra-cabeça. Ela me conhece desde que eu era um aventureiro no fundo do poço,
alguém que carregava uma arma valiosa demais para o meu Status. "Então é por isso que... "
eu ouço ela sussurrar baixinho.
A deusa está sentada ali, nervosamente girando os polegares e esperando nossas reações.
“... Lili ouviu muitas coisas quando saiu para comprar remédios do Sr. Bell. Muitos rumores
estão sendo espalhados pela cidade por outros deuses e deusas… Dizem que a <Família
Hestia> está prestes a desmoronar sob o peso da dívida. As palavras estão viajando rápido.”
"Se isso é verdade, então... "
"Sim, a possibilidade de novos recrutas é zero."
Lili levanta o rosto e nos informa sobre o que está acontecendo na cidade. Mikoto
cautelosamente seguiu sua linha de pensamento, então Lili esclareceu. Sinto que estou prestes
a chorar.
É exatamente como era antes, quando minha deusa era rejeitada todas as vezes…
"Nosso verdadeiro problema é... a dívida de duzentos milhões de vals. Isso é loucura."
"Extremamente louco, de fato."
Há muita tensão nas vozes de Welf e Mikoto. Ambos olham para Lili.
Ela se tornou nossa contadora e tem uma melhor compreensão de nossas finanças do que
qualquer outra pessoa.
"Quase todos os nossos ganhos dos Jogos de Guerra foram gastos. Não resta quase nada em
nossas economias."
"..."
"Além disso, devido a nossa vitória e ao Sr. Bell mais uma vez ter subido de ranking, a Guilda
elevou nossa classificação de família para 'E', o que significa que devemos pagar mais
impostos. Lili espera algo em torno de um milhão de vals por ano. Por favor, se preparem."
"......"
"Em outras palavras... para pagar a dívida, precisamos gastar mais tempo do que nunca
rondando a Dungeon."
Um calafrio percorre o ar enquanto o silêncio cai sobre nós.
Estamos condenados a uma vida de pobreza se não começarmos a trabalhar duas vezes, três
vezes mais do que antes.
A deusa se levanta, incapaz de ficar parada por mais tempo. Ela olha para nosso rostos
sombrios e praticamente explode.
"N-não tenham a ideia errada! Este é o meu empréstimo; Vou pagar de volta eu mesma! Não, eu
tenho que pagar sozinha!"
Agarrando o contrato da mesa, ela bate no peito com a mão livre e grita alto o suficiente para
fazer todos nós pularmos. Lady Hestia insiste que essa dívida não tem nada a ver conosco.
"Na verdade, este contrato é uma joia bonita que mostra o quanto eu amo Bell! Não vai a lugar
nenhum!"
"Como se um contrato de devedor pudesse ser um cristal de amor."
Não sei por que Lady Hestia está se gabando de todos esses zeros, mas Lili parece longe de
estar se divertindo.
Até Welf e Mikoto estão olhando para a deusa com olhares gelados. A deusa começa a
murmurar ainda mais coisas, tentando ignorar os olhares. "É por causa da forma dela que é tão
caro... Hephaistos é uma boa amiga, então ela está sempre tentando usar uma desculpa para
me fazer trabalhar mais pesado… "
Seus rabos de cavalo tremem enquanto ela limpa o rosto, a deusa respira profundamente e diz
com muito mais força:
"O ponto é, nenhum de vocês precisa se preocupar com este empréstimo. Todos aqui sabem
que estou trabalhando em um emprego de meio período, certo? Tudo o que eu faço lá está indo
para pagar a faca. Vai demorar algumas centenas de anos, mas eu vou pagar tudo de volta."
"..."
"Sinto muito por esconder isso... mas prometo que não causará nenhum problema."
Ela acrescenta que pode ser tarde demais para novos recrutas, mas... Seus olhos parecem
realmente culpados. "Por favor, não se preocupem com isso", diz ela como um apelo final.
Nós trocamos olhares confusos, tentando descobrir como é possível ignorar algo assim.
"… Mas."
Tiro o pano úmido da testa e me sento.
Olho para a deusa do lugar onde estou.
"Você... fez um empréstimo para pegar essa faca, tudo para mim?"
"..."
Ela não responde, mas eu sei o que o silêncio dela significa.
Uma pontada de culpa corre pelo meu peito.
A <Faca de Hestia> me salvou mais vezes do que posso contar. É graças a deusa que eu tenho
sido capaz de sobreviver a tantas batalhas, tudo porque ela me deu essa faca.
Ela assumiu de bom grado esse tipo de dívida para que eu pudesse me tornar quem eu sou
hoje.
"... Por favor, não faça essa cara, Bell. Foi minha decisão... "
Vendo seu sorriso gentil, ouvindo suas palavras amáveis , não posso ficar no chão.
Ficando de pé, tiro a <Faca de Hestia> do cinto e faço contato visual com minha deusa.
"Deusa... eu quero ajudar. Vamos pagar juntos."
Seus olhos azuis tremem.
Percebo que ela está surpresa, mas eu falei sério em cada palavra.
Esta faca... É o símbolo da nossa família, nosso vínculo.
"Por favor, me deixe fazer isso."
"..."
A deusa congela quando expresso meu desejo sincero —e ela sorri.
Sua mão direita alcança a base de um de seus rabos de cavalo.
"Como sua deusa, eu ficaria em uma posição embaraçosa se eu aceitasse sua ajuda para
corrigir meus próprios erros... "
Seus dedos delicados tocam levemente o primeiro presente que eu dei a ela.
Laços de cabelo azul. Eles são decorados com uma fita azul amarrada para parecer uma flor e
pequenos sinos de prata. Eles tocam suavemente quando ela bate em um deles.
O som desaparece e a deusa sorri mais uma vez.
"Eu não me importo quanto tempo leve, pagarei o empréstimo. O que eu quero que vocês quatro
façam é... me apoiar."
Agora é a nossa vez de nossos olhos tremerem. Todo mundo, inclusive eu, está olhando para
Lady Hestia com rostos semelhantes.
Apoiá-la. Basicamente, colocar comida quente em cima da mesa, gerenciar a família, e tornar
a nossa casa um lugar feliz. Ela quer que protejamos as coisas que nos fazem sorrir, juntos.
É o que ela está dizendo.
"Eu sou uma deusa endividada... tudo bem?"
"C-claro!"
O sorriso dela é radiante, mesmo na penumbra. Eu me curvo e aceno por reflexo.
Ela é um pouco teimosa e se recusa a aceitar nossa ajuda financeira, mas ela depende de nós,
acredita em nós. Se nós cinco trabalharmos juntos e apoiarmos um ao outro, vamos encontrar
um caminho.
Olhando para aquele sorriso dela, juro para mim mesmo:
"... Se essas são as palavras de nossa deusa, não podemos ir contra elas."
"Hee-hee, isso é verdade."
"Por favor, não faça nada assim novamente."
Os outros se levantam com um sorriso de aceitação no rosto. Lili se certifica de dar um aviso
antes que o clima a domine. "Eu não vou! Eu não vou! ", responde nossa deusa enquanto ela
expressa gratidão a cada um de nós.
Então começamos a conversar sobre o que fazer a seguir, enquanto estamos em círculo acima
das velas de pedra mágica.
"Este é o estado da nossa família. Em primeiro lugar, precisamos fazer dinheiro o bastante para
viver confortavelmente e economizar o suficiente para pagar os impostos da Guilda quando
chegar a hora. Devemos evitar fazer outro empréstimo a todo custo."
"Isso significa que, a partir de agora, nós temos que fazer mais viagens a Dungeon?"
"Para aumentar nossa eficiência e desempenho em futuras caçadas, todos precisamos ficar
mais fortes, o mais rápido possível."
"Pode ser difícil... mas podemos continuar nos esforçando para recrutar novos membros...
certo?"
Depois que Lili começou a falar, Mikoto, Welf e eu adicionamos nossas opiniões.
Por fim, Welf diz que é minha responsabilidade como líder dar um fim a esta reunião familiar. É
um pouco embaraçoso, mas eu estendo minha mão no centro do círculo. Todo mundo, incluindo
nossa deusa, coloca suas mãos direitas em cima da minha. "Vamos fazer isso!" Eu digo com o
máximo de confiança que posso reunir.
Todo mundo responde junto com entusiasmo.
"Tudo certo! Agora que está resolvido, vamos encher a cara hoje e nos preparar para amanhã!"
"Como Lady Hestia pode dizer isso enquanto precisamos economizar o máximo de dinheiro
possível?! Suas habilidades financeiras são horríveis!"
"Ei, não seja tão mesquinha! Uma noite não vai fazer muita diferença!"
"Absolutamente não! Lili não pode mais confiar em Lady Hestia! Lili vai lidar com todos os
assuntos financeiros a partir de agora!"
A deusa e Lili brigam um pouco mais, mas terminamos por fazer um grande jantar hoje a noite.
Todos nós usamos nossa grande cozinha para preparar muitos pratos, usando diferentes tipos
de carne e peixe a pedido da deusa.
Quando terminamos, há bife de frango frito, vários peixes fritos, um tipo de bolinho de arroz que
é popular no Oriente chamado "Onigiri", bolinhos de batata crocante, e um pouco de vinho na
mesa.
Mikoto ri enquanto oferece continuamente frango a Lili, que mantém fazendo barulhos estranhos
enquanto os devora. Enquanto isso, Welf toma um gole do seu vinho e observa como a deusa
come um bolinho de batata após o outro. Preso entre todo esse caos, eu não como muito. Ao
invés disso, eu assisto o show se desenrolar. É tarde da noite lá fora. Os sons do riso e uma luz
quente saem através das janelas da cozinha.
Eu me lembro de comer refeições assim com meu avô. As memórias inundam minha mente, e
eu luto para segurar as lágrimas. Eu não falo com ninguém sobre isso.
"<Família>."
Conectados pelo sangue de nossa deusa, tenho certeza de que somos uma família.
É isso que o meu coração anseia, desde que perdi o homem que me criou.
Foi por isso que vim para Orario, e estou tão feliz por ter feito isso.
Estou tão feliz por conhecer essas pessoas maravilhosas. Hoje apenas reforçou isso.
Todos nós compartilhamos comida e rimos noite a dentro.

O sol nasce na manhã seguinte a nossa "festa" de família.


A deusa saiu cedo para ir ao trabalho, deixando nós quatro para terminar o trabalho aqui.
"Todas as caixas serão esvaziadas hoje."
Eu digo isso para mim mesmo enquanto caminho por um corredor com duas caixas em meus
braços.
Nenhum de nós terá energia para desfazer as malas após um dia trabalhando na Dungeon.
Desde que façamos juntos terminaremos isso hoje, e poderemos começar a nos concentrar em
economizar dinheiro.
"Srta. Mikoto, você tem uma visita. A Srta. Chigusa está lá fora."
"Lady Chigusa?"
Mikoto e Welf estavam progredindo no primeiro andar quando Lili os chamou.
Mikoto imediatamente soltou tudo e saiu para encontrar sua visitante.
Chigusa é membro da <Família Takemikazuchi>, assim como Mikoto até recentemente. De fato,
ambas são da mesma cidade do Extremo Oriente e provavelmente são velhas amigas.
Olho pela janela e lá está ela. Sua franja está sempre grande o suficiente para esconder os
olhos. Mas ela parece mais ansiosa do que o habitual. Braços cruzados sobre o peito, ela está
andando de um lado para o outro no gramado da frente... eu me pergunto o porquê.
Chigusa corre para encontrar Mikoto no momento em que ela aparece na varanda.
Não consigo ouvir o que elas estão dizendo, mas Mikoto parece tão surpresa com a linguagem
corporal de Chigusa quanto eu. De repente —
"— Você tem certeza ?!"
Um grito de surpresa.
"... está acontecendo algo?"
"Lili não tem ideia."
Welf e Lili vêm atrás de mim e também olham pela janela. Todos nós nos inclinamos para mais
perto da janela, tentando ouvir qualquer coisa que está sendo dita do lado de fora.
Chigusa fica do lado de fora por apenas mais alguns minutos, antes de se virar e sair correndo
pelo gramado da frente. Mikoto está voltando para dentro.
"Mikoto, algo está errado?"
"E-eh, não, nada mesmo... "
Eu arrisco uma pergunta, mas ela evita o contato visual e muda rapidamente de assunto.
"Ainda há muito o que fazer." Ela passa correndo por mim e pega a caixa mais próxima antes
de desaparecer em um corredor.
Nós três trocamos olhares, imaginando o que há de errado com a nossa amiga.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 1)
"E-eu acho que vou me deitar cedo hoje à noite."
Os pratos foram lavados e guardados.
Apenas quatro deles estavam sentados, relaxando na sala, quando Mikoto fez sua declaração.
Hestia estava ausente esta noite. A reunião da noite anterior acendeu um novo fogo dentro dela.
Esse desejo ardente de pagar o empréstimo lhe deu a motivação que ela precisava para fazer
horas extras.
Bell e os outros ignoraram o tremor da voz de Mikoto e disseram: "Boa noite", quando ela se
levantou. O relógio ainda tinha que bater oito horas quando a garota saiu da sala e fechou a
porta atrás dela.
Subindo as escadas e andando pelo corredor iluminado pela lua, Mikoto estava a caminho do
quarto no terceiro andar.
De repente, ela mudou de rumo.
Correndo de volta na outra direção sem emitir nenhum som, ela abriu uma janela do segundo
andar e saltou para o terreno atrás da mansão.
Ela se escondeu atrás de árvores e verificou se as luzes da sala de estar ainda estavam acesas
antes de sair pelo portão dos fundos.

"Esse é o nosso sinal. Nós vamos segui-la."


"Faz muito tempo desde que a Lili fez algo assim."
"Está tudo bem...?"
Enquanto isso…
Welf, Lili e Bell assistiram Mikoto passar pelo portão dos fundos de um ponto de vista diferente.
Eles esperavam que Mikoto fizesse algo assim. Depois que a menina subiu as escadas, eles
deixaram as luzes da sala acesas e se esconderam no jardim lá fora, onde podiam ver as duas
saídas. Três figuras rastejaram rapidamente e silenciosamente através da escuridão.
A garota teimosa estava obviamente tentando esconder alguma coisa. Segui-la era a única
maneira de descobrir o que.
"A Srta. Mikoto parecia excessivamente preocupada com a limpeza das janelas hoje...
exatamente como esperávamos."
"Qualquer um poderia descobrir, do jeito que ela continuava olhando furtivamente para a janela."
Welf e Lili notaram que Mikoto não era ela mesma durante o dia. A maior pista era que ela
passava muito tempo olhando para fora. Então os dois vieram com esse plano e arrastaram Bell
para ele, apesar da confusão do garoto. Eles estavam prontos para persegui-la quando Mikoto
fizesse um movimento.
A preocupação deles com a amiga não os deixava ignorar o segredo dela e seu comportamento
estranho.
"Ela é muito parecida com você."
"Hã?"
"Sr. Welf está dizendo que mentir não é o seu forte, Sr. Bell."
A garota de cabelos pretos, que sempre foi honesta, fez o seu caminho na cidade vibrante.
Ela estava muito focada em seu destino para perceber que estava sendo seguida. Seus três
perseguidores ficaram nas sombras, ficando longe o suficiente para esconder sua presença.
Eles seguiram Mikoto para longe de sua casa, na parte sul da cidade.
Não demorou muito para que eles chegassem a um distrito perto da Rua Principal Sul — o
Distrito Comercial.
Certamente estava cumprindo seu nome. A noite ainda era jovem, mas cada esquina da rua já
estava iluminada, colorida e cheia. Filas de pessoas já estavam entrando em teatros, cassinos
e bares de primeira classe. Mercadores e aventureiros de aparência rica esfregavam os ombros
com deuses enquanto andavam pela rua alinhada com edifícios enormes, procurando por
entretenimento noturno.
Mikoto viajou para o coração do Distrito Comercial antes de, de repente, disparar em uma das
ruas de trás, onde ela correu para encontrar outra figura em frente a uma loja de aparência
sombria.
"Essa é a Srta. Chigusa? Elas estão sozinhas?"
"Sim, e elas estão se movendo... Agora, onde elas estão indo?"
As duas meninas do Oriente trocaram um aceno ansioso antes de deixar a loja para trás.
Bell e os outros dois assistiram seus movimentos ao redor do canto de um muro de pedra.
Ignorando os olhares suspeitos de alguns semi-humanos, os três continuaram a seguir seus
alvos.
O espírito e os sons do Distrito Comercial desapareceram ao longe enquanto as duas garotas
avançavam por becos escuros.
"... Sem chance. Essa direção... não pode ser."
Os olhos de Welf se abriram — ele sabia onde eles terminariam se continuassem indo por esse
caminho.
Seus alvos se voltaram para o sudeste. Welf lutou para tirar as palavras de sua boca.
Um choque percorreu o cérebro de Lili quando ela também conectou os pontos.
"Hã?" Bell olhou confuso para os amigos.
"Bell, você deveria ir para casa."
"Sr. Bell, por favor, volte."
"Eh? Ehhh? Por quê? Porque agora?"
Os pedidos repentinos de seus aliados só pioraram sua confusão.
Bell olhou de um lado para o outro entre Welf e Lili várias vezes. Os dois repetiram, escolhendo
palavras mais fortes.
"Sério, me escute. Você ainda não tem idade suficiente."
"Idade suficiente? O Sr. Bell nunca deve ir lá, nunca!"
"Mas viemos até aqui... Ah, elas viraram a esquina!"
Bell tinha certeza de que poderia ser útil e cuidar de si mesmo apesar das tentativas
desesperadas de Lili e Welf de convencê-lo do contrário.
Seu breve argumento quase os fez perder seus alvos.
"Droga, Pequena L, desista, não adianta. Atrás delas!"
"Gaaah! Srta. Mikoto, por que lá de todos os lugares...?!"
Abandonando suas tentativas de convencer Bell a voltar, os três saíram correndo de seu
esconderijo. Lili parecia ser a mais frustrada, uma expressão azeda contorcendo seu rosto. Bell
estava sem palavras, mas ele continuou a busca.
Eles passaram por vários aventureiros bêbados esparramados na rua antes de finalmente
chegar ao seu destino.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 2)

"O que — que lugar é esse...?"


E então.
Os olhos de Bell se arregalaram para absorver tudo o que apareceu quando a rua de trás se
abriu diante dele.
Eles chegaram ao extremo leste do quarto distrito de Orario, adjacente à Rua Principal Sudeste.
Apesar de estar relativamente próximo ao Distrito Comercial, havia uma atmosfera muito mais
impura sobre esse lugar.
Cada lâmpada de pedra mágica anexada a edifícios e pilares projetava luz rosa. Embora não
houvesse muitos deles, cada luz iluminou vagamente um cartaz decorado com lábios vermelhos
sedutores e outras características femininas. Mulheres de todas as formas e tamanhos, usando
vestidos minúsculos ou roupas que revelavam completamente suas costas e quadris estavam
subindo e descendo pela rua.
Mais da metade dessas mulheres eram Amazonas, mas vários humanos, meio-feras e até
Palluns também andavam pela rua. Elas chamavam convidativamente os homens em todas as
direções, sorrisos brilhantes como se emitissem um desafio. Elas passavam alguns minutos
conversando com os homens antes de pegar suas mãos, ou até suas cinturas, e os guiar para
um dos muitos prédios.
A rua estava absolutamente inundada com seios deliciosos, ombros magros, e coxas sedutoras
em todas as direções. O ar estava cheio de perfume, ou talvez fosse simplesmente os aromas
naturalmente doces das senhoras enquanto trabalhavam.
"Qu-quem são essas pessoas...?"
Os dedos de Bell tremiam quando ele apontou para a rua, tristemente gaguejando.
Um despertar inevitável estava ocorrendo dentro dele.
O fato de essas mulheres eróticas serem prostitutas o abalou muito.
Ele encontrou o Distrito Noturno.
O rosto de Bell ficou vermelho quando ele começou a entender o que acontecia no Quarteirão
do Prazer e em todo o resto.
"É por isso que Lili não queria que o Sr. Bell viesse aqui!"
"Eu simplesmente não consigo me acostumar com esse cheiro..."
Bell finalmente descobriu o que aqui significava enquanto observava homens desaparecerem
um por um em diferentes estabelecimentos. Lili fez uma careta para ele quando ele ficou mais
e mais vermelho. Welf ficou atrás deles, tentando proteger o nariz com seu braço.
Então é sobre isso que eles estavam tentando me alertar...?! Bell entendeu um pouco tarde
demais.
Outra lembrança borbulhou do fundo de sua mente. "Eu te proíbo de ir para o sudeste." Até
Hestia o avisou... O olhar sério em seus olhos fizeram seu sangue gelar. Agora ele sabia o
porquê.
"Orario... tem um lugar como esse?"
"Neste distrito, todo edifício aqui e ao longo da Rua Principal fecha suas portas durante o dia.
Claro que o Sr. Bell não conheceria…"
O Quarteirão do Prazer dormia durante o dia e apenas mostrava suas verdadeiras cores à noite.
Não é preciso dizer que nenhum cidadão comum morava aqui. O distrito tinha uma sensação
solitária e desolada. Bell nunca havia se aventurado no Distrito Comercial antes de hoje à noite,
por isso não foi nenhuma surpresa que ele não soubesse sobre a natureza dos negócios deste
distrito.
O principal motivo, porém, era que as pessoas que o conheciam melhor tinham mantido em
segredo dele.
Welf deu um tapa rápido nas costas de Bell para tirá-lo de seu transe, enquanto os três
continuavam a perseguição.
"Desenhos culturais do Deserto de Kaios, arquitetura da Região de Dizara... nunca deixa de me
surpreender."
"Não se esqueça, Orario é o centro do mundo. Pessoas de todas as esferas da vida se reúnem
aqui, incluindo eles."
Edifícios projetados para parecerem coisas que os cidadãos de Orario nunca tinham visto antes
pairavam atrás de todas as prostitutas com pouca roupa. Alguns telhados foram construídos
para se parecer com os triângulos gritantes do Extremo Oriente, outras estruturas pareciam
pertencer a nômades do deserto, e ainda outras foram construídas de pedra sólida como os
castelos do norte. Era uma estratégia para incentivar tantos clientes quanto possível para voltar
e ver um estilo diferente a cada vez. Lili explicou tudo de uma vez, claramente infeliz por estar
aqui.
Diferentes tipos de bordéis de todo o mundo estavam em exibição.
Era diferente de tudo que Bell já tinha visto antes. Ele se sentiu perdido em um mundo que
continuava mudando, e ainda novas coisas apareciam onde quer que ele olhasse.
Pessoas que ele não conhecia, ruas que nunca tinha visto e uma atmosfera que ele nunca tinha
sonhado. Foi tudo muito impressionante para o garoto da fazenda de uma pequena cidade das
montanhas.
"W-Welf, você já esteve aqui antes...?"
"Quando eu estava com a <Família Hephaistos>, alguns caras me arrastaram aqui depois de
uma noite de bebida. Mas nunca usei as... instalações."
Bell tentou iniciar uma conversa para tirar sua mente do turbilhão. Welf se encolheu ao
responder. "Apenas não aconteceu", acrescentou. Um pequeno grupo de mulheres da noite se
aproximou dos três aventureiros, trazendo seus sorrisos atraentes. Uma das senhoras tentou
pegar a mão de Welf, mas ele a afastou.
Lili pulou entre outra garota e Bell, afastando-a como uma guarda costas. "Lili teve a sorte de
nunca ter posto os pés aqui até hoje." Ela lançou um olhar furioso para a prostituta que estava
se aproximando.
"Ughhh... O que a Srta. Mikoto e a Srta. Chigusa estão fazendo aqui...?"
A cabeça de Bell ainda estava girando enquanto seus olhos procuravam um lugar seguro para
olhar. Vendo Mikoto à distância, ele fez outra pergunta.
"Mulheres jovens que vêm de bom grado a este lugar... Lili tem medo de dizer isso, mas vender
seus corpos por dinheiro?"
"?!"
"Nah, essas duas não fariam isso."
Bell engasgou com a sugestão de Lili. Welf calmamente apontado para frente e disse: "Dê uma
olhada."
Mikoto e Chigusa estavam lado a lado, seus olhos examinando freneticamente a área. Seus
ombros pulavam toda vez que ouviam um barulho de algum homem pervertido ou provocações
das senhoras que trabalhavam na rua.
Foi nesse momento que um homem grande decidiu fazer uma jogada e estendeu a mão para
tocar Mikoto. "P-por favor, pare!" A menina assustada fechou seus olhos enquanto seu corpo
se movia por conta própria. O homem caiu de cara no pavimento de pedra um segundo depois.
Chigusa parecia que estava prestes a chorar. As duas pareciam bebês cervos perdidos no meio
da cidade. Lili apertou os olhos e Bell começou a suar frio, mas ambos concordaram que elas
não estavam aqui por esse motivo.
"Lili entende o ponto do Sr. Welf — garotas puras como Srta. Mikoto e a Srta. Chigusa nunca
poderia fazer uma coisa dessas... Nesse caso, por que elas estão no Quarteirão do Prazer?"
Os três se calaram ao contemplar a pergunta de Lili. Ao mesmo tempo, as duas garotas
começaram a se mover novamente. Bell, Lili e Welf as seguiram por todo caminho para a Rua
Principal.
O terceiro e quarto distritos de Orario estavam em ambos os lados da Rua Principal Sudeste.
Mikoto e Chigusa atravessaram o quarto distrito onde estavam até agora e desapareceram
rapidamente na entrada do terceiro distrito.
"Isso é ruim, nós vamos perdê-las! Movam-se!"
"Claro!"
Welf se moveu para frente do grupo porque sua altura lhe dava a melhor chance de manter seus
alvos à vista.
Aqui, as prostitutas trabalhavam em equipes para isolar áreas e orientar clientes em direção a
seus estabelecimentos. Welf abriu passagem, limpando um caminho, apesar da constante
barragem de convites e insultos. Até que por fim, eles colocaram os pés no terceiro distrito.
As luzes no terceiro distrito eram muito mais brilhantes que as ruas de mais cedo. Welf viu
Mikoto imediatamente.
Ela estava cercada por um grupo de deuses com sorrisos obscenos.
"Bem, se não é a Sombra Eterna. Que sorte encontrá-la aqui!"
"Cabelo preto, eu nunca me canso!" "Garotas do oriente são tão sexys!"
"S-se vocês nos der licença, temos um assunto importante para tratar...!"
O grupo de divindades masculinas tinha encurralado as duas meninas contra uma parede. Cada
um ofereceu mostrar a elas uma diversão enquanto impediam sua fuga.
Mikoto ficou na frente de Chigusa, protegendo-a de seus avanços. No entanto, estes eram
deuses, não mortais. Ela foi forçada a confiar em suas palavras para afastá-los.
Os próprios deuses, no entanto, estavam gostando mais de suas reações do que tentando
seriamente iniciar uma transação. Com cada comentário e sugestão mais vulgares do que os
anteriores, as divindades tiveram grande prazer em ver que formas o rosto de Mikoto fazia.
Welf e Lili suspiraram assim que perceberam o que estava acontecendo.
"Meus senhores, vocês já tiveram a sua diversão."
Welf se aproximou deles.
"Eh?" O grupo respondeu em uníssono quando se viraram para encará-lo. Mikoto e Chigusa
empalideceram como fantasmas. Lili emergiu de trás do jovem e abriu a boca para falar.
"Por que perder tempo aqui? A noite não fica curta?"
"Oh não, ela está certa! A 'Hora da diversão especial' na casa de Jessica está quase acabando!"
"Tive que fugir da minha própria <Família>. Melhor aproveitar essa noite!"
"Trouxe o dinheiro da minha <Família>!" "Oh, eu também." "Eu também." "Eu também."
" " "HA-HA-HA-HA-HA-HA !!" " " Todos eles compartilharam uma grande risada antes de
continuarem o seu caminho.
Era de conhecimento geral que algumas divindades conseguiam a maioria parte de seu
entretenimento em lugares como o Quarteirão do Prazer. A raiva de seus seguidores não era
suficiente para impedi-los de esvaziar suas contas bancárias.
A tempestade havia passado. Os aventureiros se entreolharam em um silêncio constrangedor.
"Por que vocês estão aqui...?"
Livre da barricada dos deuses, foi Mikoto quem finalmente quebrou o silêncio.
Lili suspirou novamente e deu um passo à frente.
"A Srta. Mikoto estava sendo estranha. Pode ter sido rude, mas nós seguimos você."
"Somos uma <Família> agora. Não se esconde nada dos outros, entendeu?"
Com os olhos ainda escondidos atrás da franja, Chigusa saiu de trás de Mikoto.
"Sinto muito", disse a garota magra com uma voz fraca. Os ombros dela encolheram quando
ela ofereceu um pedido de desculpas.
Welf coçou o cabelo ruivo e disse: "Que tal uma explicação?"
"… Veja, descobrimos que… alguém, de nossa cidade natal, no Oriente, foi vista aqui, e..."
Chigusa lutou para falar e olhou para Mikoto em busca de apoio.
Como a garota não era a melhor em comunicação, mesmo sob condições normais, Mikoto
assentiu e assumiu o controle.
"Lady Chigusa adquiriu esta informação de um conhecido de confiança ontem... Essa pessoa,
ela desapareceu da nossa cidade natal muitos anos atrás…"
Mikoto olhou para seus aliados se desculpando e respondeu suas perguntas em detalhes.
Lili ouviu atentamente, sussurrando: "É por isso", depois que Mikoto explicou de onde elas
tiraram as informações.
"Srta. Chigusa e Srta. Mikoto vieram até aqui para verificar a informação, certo?"
"Está correta. Esse era o nosso problema e não temos provas. Seria impróprio envolver mais
alguém neste ponto... E é esse lugar…"
Revelando o conteúdo da conversa que ocorreu no gramado esta manhã, Mikoto repetiu que
ela não queria envolver Bell e os outros.
"E aquele grandalhão? Ele é do mesmo lugar — por que vocês não perguntaram a ele?"
Assim como seu nome sugeria, Ouka também era do Oriente e o comandante da <Família
Takemikazuchi>. Um amigo de infância de Mikoto e Chigusa, eles ainda mantinham um
relacionamento próximo até hoje.
Chigusa corou e escondeu o rosto no momento em que Welf falou dele.
"E-eu não queria trazê-lo aqui... eu não quero que ele venha aqui..."
"Se me permite, Lady Chigusa não vê o Capitão Ouka apenas como um amigo... Mais como...
como homem."
O rosto de Mikoto ficou rosa quando ela divulgou um dos segredos para ajudá-los a entender.
Ambas as meninas evitaram fazer contato visual. As orelhas vermelhas e latejantes de Chigusa
se destacavam contra seus cabelos pretos.
Isso foi o suficiente para convencer Welf. Em vez de ter sua própria família envolvida, ela foi a
uma amiga estimada atualmente em outro grupo para ajudá-la a confirmar as informações
primeiro.
Lili também assentiu em concordância. Depois de ter um vislumbre do puro coração de solteira
de Chigusa, como ela poderia não entender?
"Mas como a descrição de outra pessoa pode ser tão precisa? Eles podem ter cometido um
erro..."
"Essa pessoa é membro de uma raça rara. Havia muitas características definidoras para
ignorar."
Mikoto respondeu à pergunta de Lili.
Com memórias inundando sua mente, Mikoto balançou seu rabo de cavalo preto enquanto
olhava para o chão.
"Ao contrário de nós, ela é membro da aristocracia. Não podemos acreditar na palavra de
alguém de fora que ela foi vista no Quarteirão do Prazer... Tivemos que vê-la com nossos
próprios olhos... "
Elas tiveram que lutar para superar o medo desse lugar. No entanto, elas não poderiam ficar
paradas, sabendo que essa pessoa poderia estar aqui.
Ao mesmo tempo, os ombros de Welf saltaram no momento em que ele ouviu a palavra
aristocracia.
Aristocratas — nobreza.
Lili lançou um olhar para o membro da família Crozzo. Sentindo a tensão em sua postura, ela
mudou de assunto.
"Lili entende a situação, mas isso foi imprudente. O Quarteirão do Prazer está sob o controle
direto de outra família com quem não devemos brincar. Seria melhor não fazer uma cena
enquanto procura pela sua conhecida."
As cabeças das meninas caíram com o aviso de Lili.
Elas pareciam genuinamente arrependidas por suas ações. "Por enquanto", Welf começou
antes que o silêncio se tornasse estranho, "deveríamos ir para outro lugar. Ficar no mesmo
lugar por muito tempo aqui é apenas pedir por problemas."
Lili e os outros concordaram.
Welf se virou para sair, quando de repente — ele finalmente percebeu.
"... Ei, onde está Bell?"
"Eh?"
Lili se virou e não podia acreditar em seus olhos.
O garoto de cabelos brancos não estava em lugar algum.
"Sir Bell os acompanhou? Ele não esteve por perto desde que vocês chegaram... "
"Sim, não aqui."
As palavras de Mikoto e Chigusa confirmaram o pior.
O tempo pareceu ficar mais lento à medida que todos começaram a suar frio.
Eles estavam completamente cercados pelo barulho do Quarteirão do Prazer. Eles podiam ouvir
claramente as vozes das mulheres trabalhadoras a menos de um quarteirão de distância.
Welf estava sem palavras enquanto toda a cor sumia do rosto de Lili.
— Sem chance.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 3)

"Eles se foram...?"
Estou sozinho no meio de uma rua cheia de estranhos.
Estávamos no meio da rua, mas eu ainda podia ver o cabelo vermelho de Welf. Então, do nada,
"É hora de uma diversão especial!" Eu fui arrastado por uma avalanche de homens — e agora
não consigo encontrar Welf ou Lili.
Eu lutei para voltar a um lugar que reconheço, mas tudo o que eu vejo são bordéis
desconhecidos. Eu tentei o meu melhor para segui-los... mas estou por minha conta agora.
Eu fiz uma curva errada em algum lugar?
Talvez, em vez de me mover, eu devesse ter esperado onde estava na rua para Lili e Welf me
encontrarem?
Tantos rostos, mas eu não conheço nenhum deles. Caramba, eu nem sei onde estou.
Bordéis com a fachada de pedra, luz suave de lâmpadas de pedra mágica e vozes femininas
lascivas vindas de todas as direções — convites sedutores. Graças ao meu Status, minha
audição é muito mais forte do que costumava ser, a ponto de eu ouvir claramente todos esses
gemidos e gritos vindos de dentro dos edifícios.
Estou no meio da rua, mas meus pés não se mexem. Eu imagino qual é a cor do meu rosto
agora. Todo o sangue foi drenado há muito tempo, mas minhas bochechas e ouvidos estão
queimando.
Não sei se sou covarde, tímido ou ansioso. Há muitas emoções girando na minha cabeça.
Enquanto meu rosto vai de pálido a vermelho e de volta novamente, sinto que estou à beira de
enlouquecer.
"O que temos aqui? Você está perdido, pequeno?"
"GAH!"
Meu corpo pula com a voz repentina.
Olho para cima e vejo uma mulher com uma incrível pele branca como a neve — uma das
damas da noite, uma elfa, nada menos. Ela está sorrindo docemente para mim.
O vestido dela tem o mesmo tom de branco de sua pele. Tem um grande decote pela frente,
correndo todo o caminho até o umbigo e mostrando um busto considerável. Sua beleza e aura
sedutora me fazem perder a voz.
"Eu estou bem!" Eu grito quando rompo seu feitiço e não perco tempo em fugir.
Welf, Lili, Mikoto?!
Gritando os nomes dos meus amigos na minha cabeça, eu corro para qualquer lugar que não
seja aqui.
Saio da Rua Principal e viro para um beco mais estreito. Um dos bordéis se eleva sobre mim.
Há tão pouca luz aqui que eu não posso dizer onde o edifício termina e o céu noturno começa.
Várias das janelas do bordel estão abertas. Rostos jovens estão olhando para mim. Uma
menina-fera, que não pode ser muito mais velha do que eu, se inclina para fora e me manda
um beijo. Uma nova onda de calor atinge meu rosto quando eu quase caio.
A atmosfera deste lugar está me estrangulando. Eu tenho que sair daqui, tenho que escapar.
Correndo o mais rápido que posso, eu grito e corro pelo Quarteirão do Prazer.
"Haaa-haaa-haa...!"
Tive que parar para recuperar o fôlego.
Esta não é a Dungeon, mas correr como um idiota não vai me levar a lugar nenhum da mesma
maneira. Eu tenho que parar, me concentrar.
Quem está olhando para mim...? Ah, apenas alguns caras ali na esquina. Eu devo estar um
desastre.
Coloco minhas mãos nos joelhos e respiro fundo algumas vezes. Limpando o suor do meu rosto,
dou uma olhada ao redor.
Onde estou…?
Todos esses edifícios são completamente diferentes dos anteriores.
Uma boa mudança nos bordéis de pedra, é realmente bastante brilhante aqui.
Eu entrei em algum tipo de festival? Dando uma volta pela área, com certeza parece que sim.
"... design do Extremo Oriente?"
Muitos portões vermelhos se alinham no caminho. Até o design da calçada parece estrangeiro.
Prédios de madeira com paredes brancas altamente decoradas e pilares vermelhos estão em
toda parte. Cada um deles tem três andares e são surpreendentemente coloridos. Telhas
grossas cobrem os telhados dos edifícios e os topos dos portões vermelhos. Toda essa área é
construída da mesma maneira.
Se bem me lembro... aqui é chamado de Distrito da Luz Vermelha?
Este é o mesmo estilo da terra natal de Mikoto. Eu me lembro das descrições dela e de outra
pessoa, não lembro quem, enquanto meus olhos examinam a área.
Isso mesmo... Vovô me contou sobre isso. Ele não deu muitos detalhes, mas esses designs
combinam perfeitamente com as histórias dele.
As imagens esculpidas no pavimento de pedra são muito convidativas. Vovô estava certo.
Lili disse que o Quarteirão do Prazer era uma mistura de diferentes culturas, todas no mesmo
lugar…
O Distrito da Luz Vermelha — não são apenas luzes vermelhas, é brilhante. É claro que existem
lâmpadas de pedra mágica por todo o lado, mas também existem balões com velas acesas
dentro, penduradas nos portões. Elas lançam holofotes de luz sobre os homens e mulheres que
passam por baixo. As mulheres, trabalhadoras da noite, estão vestindo algo que parece uma
túnica, mas com muito mais dobras. Um quimono... roupas tradicionais do Extremo Oriente.
Árvores chamadas <Ajura> estão plantadas em ambos os lados de um caminho largo. Estas
plantas com flores azuis crescem apenas na Dungeon, então elas devem ter sido trazidas aqui
para cima. A coisa mais incrível sobre elas é que elas estão sempre florescendo, não importa a
estação. Algumas pétalas azul-celeste estão espalhadas sobre a calçada de pedra. Se bem me
lembro, verdadeiras cerejeiras são brancas e rosas — mas elas são exatamente da mesma
forma. O Quarteirão do Prazer pode ser um caldeirão de culturas, mas não há dúvida de que
este local é destinado a ser parecido com o Extremo Oriente.
Estou ansioso, admirando as flores azuis, quando vejo algo pelo canto do meu olho.
O primeiro andar de um dos bordéis. Várias jovens mulheres vestidas com quimonos estão
alinhadas em uma sala de frente para a rua.
Com vários acessórios, elas estão chamando as pessoas na rua, tentando atrair clientes.
Parece que está funcionando. Há um grupo de cerca de seis ou sete homens do lado de fora,
seus olhos deslizando sobre cada centímetro das meninas, tentando encontrar alguém que se
adapte à sua fantasia. Um dos homens se aproxima da cerca de madeira que separa as meninas
da rua, acena para uma e depois desaparece na entrada depois de trocar uma ou duas palavras.
Eu continuo andando para frente, vendo a mistura de mulheres alinhadas atrás daquela cerca
de madeira.
Eu acidentalmente faço contato visual com a garota sentada no final da sala.
"..."
Seu cabelo dourado brilha em torno de seus olhos verdes.
Ela é uma meio-fera de algum tipo. Orelhas largas e redondas no topo de sua cabeça e um rabo
espesso da mesma cor de seu cabelo.
Com base apenas nas formas de suas orelhas e cauda, eu diria que ela é meio raposa.
— Uma Pessoa-Raposa.
Esta é a primeira vez que eu vi uma.
Eles são uma raça extremamente rara que vive principalmente no Extremo Oriente.
Mesmo entre todas as outras jovens mulheres e lindas senhoritas, a beleza dela se destaca.
Por falta de uma palavra melhor, ela é linda.
Vestida com um quimono vermelho esvoaçante, ela está sentada atrás de outra mulher. Há uma
gargantilha preta em seu pescoço... Não, acho que é um colar.
Meus pés param para que eu possa admirar aqueles incríveis olhos verdes.
Vasto como o céu noturno, eles me olham com uma pontada de inveja e desejo, um desejo de
estar do outro lado da cerca de madeira.
Seus lábios se abriram sem que ela desviasse o olhar. Um sorriso triste.
As outras mulheres ao seu redor estão rindo, brincando e cheias de energia. Mas ela é muito
diferente das outras. Não consigo tirar os olhos dela.
Suas pálpebras tremem, como se estivesse à beira das lágrimas. Mas aquele sorriso dela está
fazendo o tempo parar.
Isso durou apenas um segundo, mas eu não ficaria surpreso se estivéssemos olhando um para
o outro há quase um minuto.
"— Ora, ora, se não é Bell!"
Toque. Eu pulo de surpresa quando uma mão toca meu ombro.
Minha cabeça vira. Lá, olhando para mim, está uma divindade de cabelos e olhos laranja.
"Lorde Hermes?!"
"Ha-ha, eu pensei que era você."
Hermes dá um sorriso cheio de dentes, claramente apreciando minha reação.
Seu rosto se transforma em seu sorriso habitual, os olhos brilhando para mim logo acima do
meu. Eu nunca o vi sem a Srta. Asfi, mas ela não está aqui. Talvez Lorde Hermes esteja
sozinho?
Ele está vestido com suas roupas de viajante habituais, exceto que agora ele tem um chapéu
na cabeça e uma pequena bolsa por cima do ombro.
"Imagine, encontrá-lo aqui. Hee-hee, você cresceu tão rapidamente."
"Eh... não, não é isso. Eu tenho uma explicação perfeitamente boa...!"
"Vi você dando uma olhada na galeria. Gostou de alguma coisa?"
Lorde Hermes olha por cima da minha cabeça para a fila de garotas atrás da cerca de madeira.
Fico feliz que ele desviou o olhar porque meu rosto está queimando novamente. Ele entendeu
errado. Eu sigo sua linha de visão de volta para a galeria, mas a pessoa-raposa está escondida
atrás das pessoas que estão chegando à cerca.
Nós dois passamos alguns segundos assistindo. "Você quer algumas dicas sobre como
conseguir uma boa?" ele pergunta com um sorriso.
"N-n-não, obrigado!" Eu grito de volta para ele.
Se eu não mudar de assunto agora, quem sabe o que vai acontecer. Esquecendo sobre a
pessoa-raposa por enquanto, eu me afasto da galeria.
"Eh, hum... Então Lorde Hermes, por que você está aqui? E o que é... o que está dentro da
bolsa...?"
"Então, Bell. Perguntas invasivas são proibidas neste lugar."
Ele abaixa a aba do chapéu para esconder metade do rosto, mas ainda consigo ver aquele
sorriso cheio de dentes.
... Ele escapou da Srta. Asfi. Essa compreensão envia uma onda de suor frio pelas minhas
costas. E ele se esquivou da pergunta sobre o que está na bolsa por cima do ombro.
"Gostaria que você mantivesse o fato de eu estar aqui um segredo entre nós. Concorda?" Lorde
Hermes se inclina muito perto de mim enquanto fala.
"C-certo..." é tudo o que posso dizer em resposta.
Por outro lado... acho que ter essa conversa me acalmou um pouco.
Não há nada como o alívio de ver um rosto familiar. Graças a ele, a sensação de ser
estrangulado pela atmosfera do Quarteirão do Prazer se foi.
Agora, pergunte a ele como sair daqui.
"E pensar que o Bell que eu conheço viria ao Quarteirão do Prazer sozinho…"
Mas antes que eu possa perguntar, um sorriso perigoso que eu conheço muito bem aparece
em seu rosto enquanto ele passa o braço em volta dos meus ombros.
"Lorde Hermes?"
"Estou feliz que você tenha descoberto as maravilhas deste lugar. Claro que você também veio
aqui em segredo, eu presumo?"
"Não, eu... Lorde Hermes, isso é apenas um mal-entendido!"
Tento desesperadamente convencê-lo de que não estou aqui para participar da "diversão", mas
Lorde Hermes continua.
"Não precisa ficar envergonhado. Hestia não vai ouvir nada de mim. Aqui, um presente de
despedida."
Com todos os meus esforços em vão, Hermes abre sua bolsa e procura por algo.
Uma de suas bochechas se abre em um sorriso maligno quando ele me entrega uma pequena
garrafa.
É aproximadamente do tamanho e forma de uma peça de xadrez. Há um líquido vermelho e
grosso escorrendo por dentro.
"O que é isso?"
"Um afrodisíaco."
— O que?! Eu quase tossi um pulmão.
"Até mais, Bell! Espero que você aproveite a sua noite tanto quanto eu vou aproveitar a minha!"
"Espere, Lorde Hermes!"
"E-eu não quero isso!" Eu grito quando vou atrás dele, a garrafa do suco de amor na minha
mão.
Eu não posso ficar sozinho de novo! Será ainda pior se eu estiver carregando essa coisa! Não
tenho coragem de colocá-la no bolso, mas não posso apenas jogar fora. Alguém pode vê-la e
ter uma ideia errada! O que eu deveria fazer?
Eu sigo aquele chapéu pela multidão como se esta garrafa fosse uma bomba-relógio e ele é o
único que pode detê-la. Ele conhece o seu caminho por aqui; o chapéu entra e sai da minha
vista a cada passo. Eu ganho velocidade em uma tentativa desesperada de chegar perto.
Completamente focado em devolver a garrafa para ele, deixamos para trás o Distrito da Luz
Vermelha do Extremo Oriente e viajamos por becos mais escuros.
"— Uou!"
E quando sigo Lorde Hermes ao virar a esquina —
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 4)

Uma pessoa vem até mim de outra direção. Eu viro a esquina com tanto vigor que quase esbarro
nela.
"Cuidado."
Eu bato o pé no chão e consigo evitar a mulher, usando minha Agilidade para limitar o contato
a apenas um toque em seu ombro.
Não posso perder Lorde Hermes, mas não posso sair sem me desculpar. Eu giro e tento voltar
à perseguição o mais rápido possível.
"Desculpe por isso! Você está bem…?"
As palavras me deixam no momento em que dou uma boa olhada na mulher que quase colidiu
comigo.
A primeira coisa a cumprimentar meus olhos é um par de longas e maravilhosas pernas bem
definidas.
As curvas suaves de seus músculos vão até os quadris. Eu não acho que um mestre escultor
poderia projetar algo mais elegante e bonito do que isso.
A mulher não está usando muita roupa. Ela tem uma faixa roxa de pano em volta do peito que
de alguma forma contém seu busto grande o suficiente para rivalizar com Lady Hestia. Seus
ombros e abdômen estão completamente expostos. Quanto às pernas, elas são cobertas por
um tecido transparente que não é muito mais grosso que um véu... eu posso ver claramente as
coxas dela, junto com todas as outras características dessas pernas incríveis. É difícil para mim
acreditar, mas ela está com os pés descalços. No entanto, ela tem alguns acessórios,
especialmente ao redor do pescoço e pulsos.
Ela é mais alta que eu, pelo menos um metro e setenta.
Seu cabelo preto e desamarrado chega até os quadris. Sua pele morena pode realmente
paralisar a maioria dos homens.
Uma Amazona em roupas de dançarina — e ela está trabalhando aqui.
"... Sinto muito, mas estou com pressa. Então, bem, hum... adeus!"
De todas as mulheres que vi hoje, ela é facilmente uma das mais atraentes. Não consigo respirar
e preciso fugir.
O encanto dela é tão intimidador que não consigo articular minhas palavras. Minhas bochechas
queimam o suficiente para iniciar um incêndio, eu consigo falar mais algumas poucas palavras
sobre seguir Lorde Hermes e me viro para sair.
"Espere."
Mas antes que eu possa dar outro passo e começar a gritar novamente...
Seus dedos envolvem meu cotovelo.
"Eh?"
"Você é um rosto novo."
Ela puxa meu corpo contra o dela e envolve o outro braço em volta da minha cintura.
Estou sendo segurado — não, pressionado — contra ela. Seus olhos se fixam nos meus.
"...?!"
Ela olha bem nos meus olhos no meio da rua.
Não consigo me mexer. Cada centímetro do meu corpo parece que está pegando fogo. Os
músculos nas coxas dela empurram contra mim através das minhas calças, seu abdômen
tonificado contra a minha camisa e, em alguns lugares, somos pele contra pele. Seus lábios
úmidos estão bem na frente do meu nariz. Tenho certeza que de veria um tremendo decote se
eu olhasse para baixo.
Como meu corpo pode gerar tanto calor, mas meus braços e pernas estarem tão frios? Estou
congelando e queimando ao mesmo tempo.
"Nnn?"
Ela não parece nem um pouco constrangida. Ela tira a mão esquerda das minhas costas e
aperta minha bochecha.
Forçando minha cabeça para cima, ela olha para mim com olhos poderosos, lábios prontos para
me devorar a qualquer momento.
Aqueles olhos, parece que eles estão me comendo vivo... Ela sorri.
"Ahhh... Você tem um rosto tentador."
Ela lambe os lábios vermelhos.
Eu estremeço enquanto um calafrio percorre minha espinha.
"Você tem um nome? O meu é Aisha."
"Eh... hum, bem..."
"Que tal comprar uma noite comigo?"
Ela se inclina bem perto do meu ouvido. Eu posso sentir sua respiração quente correndo pelo
meu pescoço.
Uma mistura de medo e vergonha percorre minhas veias. Eu vou quebrar ao meio a este ritmo.
Não, isso é ruim. Como posso sair daqui?! Meus instintos finalmente entram em ação e eu
começo a lutar, mas...
— Eu não consigo fugir!
Há apenas um braço em volta da minha cintura e outro em volta do meu ombro. Mas o aperto
dela é muito forte.
Um aperto forte o suficiente para me conter depois que eu acabei de chegar ao Nível 3 — o que
significa…
Essa mulher tem a <Graça Divina> como eu?
"Se acalme", diz Aisha com uma risada confiante enquanto aperta seus braços em volta de mim.
Força física incrível e tenacidade emparelhada com uma beleza esmagadora. Ela é a
personificação física de tudo pelo qual as Amazonas são conhecidas.
"A colheita foi lamentável esta noite."
"Sinto o cheiro de sangue de um homem virgem?"
"Quem é esse, Aisha?"
Vozes atrás de mim, aparecendo uma após a outra.
Mais figuras pela esquerda e direita — mais Amazonas.
Eu arrisco um olhar nas duas direções. Assim como eu temia, mais lindas mulheres com pouca
roupa estão vindo para cá.
"Encontrei ele aqui. Tem um olhar inocente nos olhos, não tem?"
"Não vejo um homem assim há séculos."
"Fu-fu, primeira vez no Quarteirão do Prazer?"
A mulher... Aisha provavelmente saiu procurando clientes quando eu quase esbarrei nela. Eu
acho que essas outras Amazonas estão fazendo a mesma coisa. Elas me cercam antes que eu
saiba o que está acontecendo.
Sendo Amazonas, suas roupas são semelhantes às de Aisha, embora algumas estejam
vestindo ainda menos roupas do que ela. Preso no abraço de Aisha, só consigo ver sua pele
morena em todas as direções. Exaustão mental, eu sinto que vou desmaiar.
Momentos depois…
Eu vejo o ombro de uma das Amazonas pular.
"Ei, espere um minuto. Esse garoto humano... não é aquele Pequeno Novato?"
De repente, todo mundo para de se mexer. Uma brisa viaja através do beco silencioso.
"— Cabelo branco, olhos vermelhos."
"Aquele que derrotou Hyakinthos nos Jogos de Guerra...?"
"O aventureiro mais rápido a atingir o Nível três?"
Eu sei que todo mundo em Orario assistiu aos Jogos de Guerra pelos Espelhos Divinos.
Portanto, não é de se surpreender que alguém possa reconheça meu rosto... Mas ainda assim.
Eu posso ouvi-las sussurrando entre si, com todos os olhos colados na minha cabeça.
O olhar mais forte de todos está vindo de diretamente acima de mim — o de Aisha.
— A aura dela mudou.
Antes, ela parecia estar se divertindo um pouco me atormentando. Mas agora seus olhos tinham
um tipo diferente de brilho neles.
As outras também estão me olhando como um pedaço de carne fresca no espeto.
A atmosfera divertida de um momento atrás se foi... O suor está escorrendo pelo meu corpo
como uma cachoeira.
Deve ser assim que um coelho se sente quando está cercado por uma alcateia de lobas
famintas.
Mas estes não são apenas lobas. São leoas e tigresas, saliva pingando de suas presas à
mostra. Elas estão lambendo os lábios, a fome em seus olhos.
"Eeeek..." Um som lamentável escapa da minha boca, olhos arregalados.
Eu tenho que correr. Um segundo depois —
WHOOSH!! Todas elas vêm para cima de mim de uma vez.
"Já era hora de um cara forte aparecer!"
"Ei, eu vou te dar um bom momento!"
"Ignore essas fracas, venha comigo!"
Um tsunami de Amazonas toma conta de mim.
Ombros, braços, roupas, cabelo, pernas — suas mãos agarram tudo. Meu corpo contorce em
todas as direções, puxado por suas garras incessantes. Nenhuma de suas mãos está se
soltando.
"Ai, ai, aii, AI, AIIIII!"
Estou completamente impotente enquanto essas mulheres Amazonas estão perto de me rasgar
em pedaços.
Não há mais esperança de escapar. Não consigo ver nada, exceto curvas bronzeadas e flashes
ocasionais de tecido brilhante.
Minha cabeça começa a ficar confusa. Eu nem posso gritar enquanto estou enterrado nas
montanhas de músculos femininos. Até que — shloop.
Algo dá um forte puxão no meu braço estendido.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 5)

"— Encontrei este primeiro, ele é minha presa. Ninguém mais pode tê-lo."
Aisha me liberta da luta frenética das outras Amazonas e me segura firmemente contra seu
peito robusto.
"Buohhh! Buohh!" Eu luto para recuperar o fôlego com meu nariz e boca pressionados
profundamente em seu decote.
Ela está se movendo, girando como um furacão. As outras mãos me soltam, uma por uma. Eu
arrisco um olhar para cima, tentando ignorar minha situação. Os olhos de uma leoa focam em
mim, suas "presas" exibem um sorriso ameaçador.
Meu rosto está livre! Eu consigo respirar me afastando do peito dela.
"Po-por favor, me ouça! Não estou aqui para fazer nada amoroso. A única razão de eu ter vindo
por aqui foi para procurar minha amiga. Ela é da minha <Família>! Mas eu me perdi, por favor...!"
Começo a implorar para ela, depois de colocar um pouco de distância entre nós.
Mas não é o suficiente. A Amazona é muito rápida, e ela vai para trás de mim com
facilidade. Whap! Ela pega o item que ainda estava em minha mão.
"Oh, sério? Então, por que você está pronto para uma longa diversão, hein?"
A garrafa... A que foi forçada em mim por uma divindade em particular. O afrodisíaco.
Lorde Hermes…!!!!!!!!!!
Minha alma grita silenciosamente. Por alguma razão, uma imagem do deus levantando seu
chapéu e me dando um polegar para cima aparece na minha cabeça.
Não tem como ela me ouvir agora...
"Pare com a atuação. Agora, venha."
"Espere um segundo. Ei, espere!"
Ela prende meu braço em seu aperto e me puxa.
As outras leoas, tigresas e lobas formam um círculo ao nosso redor. Eu estou no meio de um
desfile de Amazonas de olhos brilhantes…!
Esta é a primeira vez desde que segui Lorde Hermes para fora do Distrito da Luz Vermelha que
eu tive a chance de dar uma olhada. Esta área parece um oásis no meio de um deserto. Os
edifícios são feitos principalmente de pedra, mas os telhados são cobertos com um estilo de
telhas secas ao sol. As laterais de alguns bordéis são decoradas com alabastro de alta
qualidade. Quanto às senhoras que trabalham por aqui, a maioria está usando algo parecido
com as roupas de dançarina de Aisha. O estilo é diferente, mas elas estão exibindo muita pele
da mesma maneira.
"Não é desse jeito! Por favor, apenas me escute!" Meus gritos e berros à beira das lágrimas não
fazem nada para convencer minha captora. Eu tive sorte antes, mas agora não consigo me
soltar.
O que é pior, posso dizer pelo cabo de guerra anterior que, pelo menos vinte pessoas do grupo
de Amazonas são de Nível 2, ou mesmo Nível 3.
Estou tão envolvido com meu próprio desespero que levo um momento para perceber que
paramos na frente de uma enorme construção.
A julgar pelo exterior e pela quantidade de damas com pouca roupa ao seu redor, este também
é um bordel — do tamanho de um palácio.
Parece que saiu de um conto de fadas ambientado em algum deserto místico. Coberto de folhas
de ouro puro, o design é tão paradisíaco que eu não me surpreenderia se o arquiteto tivesse se
baseado em uma miragem induzida por insolação.
Um emblema aparece quando Aisha me puxa para ainda mais perto da estrutura circular.
O corpo de uma mulher nua escondido por um véu... O símbolo das prostitutas.
Esta é à base de operações da família? A casa delas?
Outro puxão de Aisha e cruzamos o limiar de uma grande porta.
"Isso é... isso é um castelo...?"
O interior do palácio brilha tanto quanto o exterior.
Ele tem uma estranha semelhança com o interior da Torre de Babel, exceto que o interior está
aberto como uma rosquinha de várias camadas. Há homens em todos os níveis diferentes, de
braços dados com as parceiras escolhidas para esta noite. Casais estão desaparecendo nos
quartos a cada segundo.
Aisha me guia pelo inacreditavelmente amplo hall de entrada. Vasos de aparência cara
revestem as paredes brancas, mas meus olhos continuam sendo atraídos para o tapete
vermelho sob meus pés.
A atmosfera aqui é ainda mais sufocante que a do Quarteirão do Prazer. A mistura de cheiros
obscenos faz todos os nervos do meu corpo gritarem de ansiedade. Estou surpreso por ainda
estar consciente, e ainda mais por caminhar sozinho.
"Você realmente não sabe nada?"
Aisha olha para mim, seu prisioneiro, com uma pitada de alegria nos olhos.
"Esta é a nossa casa, <Belit Babili>."
Seu aperto permanece firme enquanto ela explica.
"Não pense que é só esse prédio. Toda essa área é nossa ilha... território de Lady Ishtar."
Lady... Ishtar?
Não conheço muitos deuses e deusas, mas já ouvi esse nome em algum lugar antes...

"Vocês, meninas, aí em embaixo. Por que vocês não estão trabalhando?"

Uma voz feminina e aguda vem de muito acima.


Eu olho para cima sem nem pensar. O que vejo me deixa sem fôlego.
É uma figura bonita que exala tentação. Vestindo quase nada, sua pele bronzeada
absolutamente radiante é quase ofuscante mesmo a essa distância. Ela decorou seu corpo com
uma tonelada de acessórios dourados, incluindo coroa, brincos, colar, pulseiras, tornozeleiras
e até algumas coisas penduradas extravagantemente em seus seios. Tudo sobre essa mulher
grita "rainha".
Seu cabelo escuro, quase arroxeado, cai até a cintura em várias tranças.
Ela está olhando para nós, um cachimbo comprido na mão esquerda.
— Uma deusa da beleza.
Eu sei imediatamente.
Quem põe os olhos nela instantaneamente fica cheio de incríveis desejos; seus encantos são
atraentes demais para resistir.
Eu já conheci uma deusa assim antes, Lady Freya, de cabelos prateados. Eu me senti
enfeitiçado no momento em que a vi. Sua beleza flutuou em mim como o perfume mais
provocador, substituindo todos os meus outros sentidos antes que eu soubesse o que estava
acontecendo.
As mulheres Amazonas dizem olá em uníssono. Eu limpo minha garganta.
"Se importam de explicar sobre esse humano?"
Seus olhos, brilhando como ametista ao longe, se prenderam em mim. Minha coluna inteira
tremeu sob sua pressão.
As outras Amazonas também parecem ter notado isso e imediatamente se movem para me
proteger da vista da divindade.
"Não olhe para ele, Lady Ishtar!"
"O que devemos fazer com alguém sob seu feitiço, hein?"
Eles estão me protegendo...?
"E você, mantenha os olhos baixos!" O aviso de Aisha me faz dizer: "Ok-okay?" e fazer
exatamente isso. As mãos das outras estão de volta, me segurando para baixo. Estou preso em
seu redemoinho de novo, mas desta vez eu posso ouvir as vozes das outras mulheres, jovens
e maduras, saindo de salas aleatórias por todo o caminho até os andares superiores.
"Fu-fu... Há mais dinheiro a ser ganho hoje à noite. É melhor que vocês não desperdicem seu
tempo sugando apenas esse."
Sua risada corta o ar enquanto as Amazonas me puxam na mesma direção. Não teria
importado, de qualquer maneira. Eu já estou caindo em pedaços.
"Tammuz", diz ela com uma voz entediada, e interrompe o contato visual. Eu arrisco um olhar
em sua direção e vejo um jovem bastante bonito seguir Lady Ishtar, afastada da grade do andar
superior.
Então é verdade... Esta é a casa da <Família Ishtar>...
Meu cabelo está uma bagunça, roupas em frangalhos, mas tenho certeza.
Eles aumentaram sua presença e eficácia na Dungeon, se tornando uma das melhores famílias
de Orario que a exploram nos últimos anos... pelo menos é o que eu ouvi.
Eu vim para um lugar realmente perigoso, de várias maneiras. Eu sou um membro de uma
família rival, nas profundezas do território inimigo. Todas as repercussões começam a correr
pela minha cabeça enquanto Aisha me leva à força mais profundamente dentro da mansão.
Passamos por várias outras mulheres, algumas usando vestidos tão transparentes que eu
posso ver através deles. Aisha as chama e eu olho diretamente para o chão. Minha captora
deve ter uma posição bem alta em sua família. Ela troca algumas palavras com as mulheres,
que felizmente estão me ignorando. Quando eu percebo, elas se foram e eu estou sendo levado
ao terceiro andar.
A escada se abre para um amplo corredor altamente decorado. Duas das amazonas correm e
abrem um par de portas duplas bem na minha frente.
Aisha me empurra para dentro.
"Uwoah?!"
De repente, liberado de seu aperto, eu sou praticamente jogado em um sofá coberto com um
lençol de veludo.
Plop! Ainda bem que é um sofá macio... Eu rapidamente me sento e dou uma olhada ao redor
da sala escura.
Existem vários desses sofás espalhados pela sala, mas quase não há ninguém neles. A única
luz vem de uma lâmpada de pedra mágica na mesa e algumas velas na parede. Há um cheiro
estranho neste lugar — perfume de alta qualidade e…
"Isso é um perfume aromático."
Aisha percebe minhas narinas dilatadas e sorri enquanto se senta no sofá em frente a mim.
O resto do grupo corre pela sala, pegando qualquer cadeira que elas podem encontrar e se
sentando em um anel ao meu redor.
Eu posso ver um homem no outro lado sala. Ele está parado em um balcão perto de uma mulher
usando um daqueles vestidos simples. Ela deve estar servindo bebidas, ou pelo menos algum
tipo de álcool, com certeza. Um bar — este quarto elegante deve ser algum tipo de área de
espera.
"Todas as salas estão em uso no momento, então vamos relaxar aqui por enquanto."
"Ou podemos começar agora, se você quiser?" ela acrescenta com o mesmo sorriso faminto.
Não tenho coragem de perguntar a ela: "Começar o que?"
"Eu vou ser a segunda." "Aisha, deixe-me prová-lo!" Todos os olhos estão em mim. Todas as
mulheres Amazonas estão sentadas, mas parece que elas estão me circulando. Minhas
primeiras impressões sobre elas estão se tornando cada vez mais reais até o momento. Eu
tremo quando dedos finos correm pelo meu pescoço por trás, fazendo meu coração pular. Eu
uso toda a coragem que tenho para tentar falar.
"Eu estou... em outra família... não é ruim para mim estar aqui, em sua casa? Então..."
"Não significa nada. Trazemos aventureiros aqui quase todas as noites."
"Alguns mais voluntariamente do que outros", acrescenta ela, não me deixando dizer mais nada.
Alguns dos outros clientes são aventureiros. Contudo, ninguém parece se importar.
Elas estão literalmente dormindo com o inimigo.
"Claro, se você quiser fazer, tudo bem para mim. Aqui, na cama, eu vou levar você em qualquer
lugar."
Baque! Ela coloca a perna na mesa entre nós. Parece mesmo que ela quer brigar.
Estou sem palavras. Elas estão completamente desarmadas e ninguém está aqui para protegê-
las. Essas mulheres com pouca roupa são muito mais perigosas do que parecem.
Elas são sedutoras, mas também guerreiras. Muitas delas eram fortes o suficiente para deixar
hematomas nos meus braços e pernas com as próprias mãos. Sou eu quem precisa de guarda-
costas, não elas.
"Berbera" — não sei onde ouvi isso, mas é um nome adequado.
Todas elas têm bênçãos de Lady Ishtar — aventureiras sedutoras...
Fazendo o possível para conter meu medo, dou uma olhada mais de perto em Aisha.
Ela é tudo o que eu imaginava que uma Amazona seria. Transbordando com confiança, ela não
mostra hesitação ou fraqueza. Ousada e bonita, ela deve ser o coração e a alma desse grupo.
Ok, é tudo ou nada.
"O que posso fazer para convencê-la... a me deixar ir para casa?"
Este lugar é um mundo completamente diferente, sem mencionar a casa de outra <Família>.
Para completar, meu corpo não para de tremer de medo.
Não consigo me acalmar, estou muito assustado. Lágrimas já estão vazando dos meus olhos,
cada fibra do meu ser está estressado ao limite.
"..."
Aisha passa os dedos pelos cabelos enquanto ouve o meu apelo.
Outra mulher caminha até o anel das Amazonas, carregando um copo com um líquido escuro
dentro. Ela deve ser algum tipo de garçonete. Se espremendo através de uma pequena abertura
no ringue, ela coloca o copo na mesa em frente de Aisha.
A Amazona se aproxima, pega o copo com o vinho de aparência cara, e o engole em dois goles.
"Nós somos as prostitutas de Lady Ishtar. O melhor bordel está à nossa disposição… Mas nós,
Amazonas, jogamos de acordo com nossas próprias regras."
Minha sequestradora ignora a pergunta e gira o copo, agora vazio, entre seus dedos.
Eu me afasto dela, mas ela apenas sorri e se inclina para frente.
"Nós nos recusamos a esperar em casa e em silêncio por um homem forte. Nós vamos e
encontramos um."
Inclino minha cabeça em confusão. Ela arqueia uma sobrancelha e se inclina mais, perto o
suficiente para sussurrar no meu ouvido.
"As Amazonas têm necessidades. Pegamos nossos homens... e os devoramos."
Resistir é inútil — essas palavras enviam outra onda de suor frio pelas minhas costas.
Amazonas.
Elas têm a reputação de serem lutadoras corpo a corpo agressivas. Existem vários clãs
diferentes por todo o mundo. Cada um domina um tipo diferente de arte marcial.
Das cinco raças de semi-humanos, elas se parecem mais com os humanos. No entanto, apesar
de sua aparência, elas são fisicamente capazes de gerar apenas filhos do sexo feminino. Elas
são únicas nesse sentido. Toda criança nascida de uma mãe Amazona é outra Amazona. Meia
Amazona não existe.
Em outras palavras, eles precisam da cooperação de um homem, qualquer homem, para
reproduzir.
Cooperação pode ser uma palavra forte. Eles tendem a sequestrar seus possíveis parceiros
antes de dar tudo de si… Há histórias sobre elas que remontam aos tempos antigos, sobre o
terror que causaram antes dos deuses e deusas virem a terra. Homens de qualquer idade,
casados ou não, vivendo longe das cidades corriam o risco de serem levados e retornarem
como uma concha vazia de seus antigos eus.
O clã de mulheres perseguia incansavelmente um homem que provocava seu interesse, como
predadoras em busca de sangue.
Esses instintos estão vivos em todas Amazonas.
E eu fui levado.
Elas não estavam pensando em pedir minha opinião desde o início.
"Acostume-se a isso."
Estou absolutamente petrificado. Aisha deu a palavra final.
O anel ao nosso redor está rindo como hienas, lambendo os lábios e sorrindo.
— Estou tão morto.
Acho que não há sangue suficiente no meu rosto para corar mais. Meu corpo inteiro estava
queimando há não muito tempo atrás, mas agora minha pele está fria.
"...?"
Estou tão distraído com o conhecimento do meu destino que não percebo que Aisha olhou para
cima e para longe de mim.
O anel seguiu o exemplo. Cada uma das Amazonas olha na mesma direção, uma mistura de
preocupação e medo em seus rostos. É nesse ponto que eu emergi do abismo do desespero e
observo que algo estranho está acontecendo.
Pés, muitos deles, correndo nessa direção.
"O que faremos, Aisha? Phryne está chegando!"
Outra Amazona abre as portas duplas e entra na sala.
Todos os olhos nesta sala imediatamente se prendem à aparência de desespero em seu rosto.
Phryne...?
Esse é um nome fofo... então, por que todo mundo está assustado?
"Venha pra cá!" "Se esconda, agora!" Aisha me puxa para fora do sofá — mas ela chega
primeiro.
BOOM! As portas voam de suas dobradiças.
As Amazonas mais próximas da porta se encolhem para se proteger. Eu estou tão surpreso
quanto todas elas.
"— Sinto um cheiro de jovem!"
As narinas se abrem e respiram fundo, ela aparece.
Uma mulher enorme, ela tem pelo menos dois metros de altura. Ela está usando uma roupa
preta que se parece vagamente com equipamento de caça. Seus braços e pernas são puro
músculo. Considerando que o resto do seu corpo parece uma pedra, seus membros minúsculos
não fazem muito sentido.
Ao mesmo tempo, sua cabeça é grande demais.
Parece que há um cogumelo preto ou algo do tipo na cabeça dela...
Espere, isso é cabelo?! Com olhos redondos e lábios muito longos, ela parece mais como um
sapo do que com um humano.
M-monstro?!
Isso foi realmente rude da minha parte. Eu acabei de conhecê-la. Mas isso é realmente
chocante.
Não sei por que, mas por alguma razão, posso ver um olhar igualmente chocado no rosto do
vovô no fundo da minha mente.
"Kee-kee-kee-kee! Então você pegou um homem para você, Aisha?"
A enorme bolha-mulher — ou melhor, a Amazona — entra na sala de espera.
Até a voz dela soa como a de um sapo coaxante. Aisha estala sua língua em irritação.
"Por que você está aqui, Phryne?"
"Um passarinho me disse que você encontrou um homenzinho delicioso. Eu tinha vê-lo com
meus próprios olhos."
"Então me mostre", diz a Amazona chamada Phryne, com um pouco mais de força.
Ela começa a andar em nossa direção. Existem sofás e mesas no caminho, mas ela não faz
nenhuma pausa. Ela passa direto por eles, nem mesmo diminuindo a velocidade.
As Amazonas estão de pé como um muro entre ela e eu, mas agora ela está perto o suficiente
para ver por cima da cabeça delas. Seus longos lábios se enrolam em um horrível sorriso.
"Bem, se não é o coelho da <Família Hestia>! Um pouco cru para o meu gosto, mas…
definitivamente meu tipo!"
Suas bochechas e queixo saliente se enrugam enquanto seus lábios se abrem ainda mais. Está
fazendo minha pele arrepiar.
"GE-GE-GE-GEGEGEH !!" Rindo de novo, seus olhos brilham como estrelas distantes.
"Dobrando aquele corpo fresco à minha vontade, bagunçando aquele rostinho fofo... Vou me
divertir hoje à noite."
— Estou tão, tão morto.
Medo inunda minhas veias. Não consigo respirar. Parando para pensar, eu tive o mesmo
sentimento com Lorde Apollo...
De pé, Aisha lidera as Amazonas para bloquear o caminho.
"Deixe-me me divertir, Aisha. Eu vou devolvê-lo."
"Quem você acha que eu sou? Eu o peguei. Ele é minha presa; pegue o seu."
Aisha não está recuando da... Srta. Phryne? Na verdade, ela parece pronta para lutar.
Não é só ela. Seu anel de seguidoras está todo em pé, músculos flexionados como se
estivessem ansiosas por uma partida.
Cada uma delas é uma Amazona na mesma família, mas eu nunca acreditaria se eu não visse
os eventos se desenrolando diante dos meus olhos.
Tenho a sensação de que algo grande está prestes a acontecer... mas estou mais preocupado
com minha própria pele. Os alarmes ainda estão tocando dentro da minha cabeça.
"Todos os homens que tive recentemente não puderam me divertir. Estou muito entediada.
Então, por que não deixa eu me satisfazer?"
"Volte para o seu covil. Não posso contar quantos homens você desperdiçou — você não vai
pegar o meu."
Elas estão separadas por cerca de cinco metros. Eu temo pela vida de alguém que fique entre
as duas poderosas Amazonas.
O tom de Aisha é duro e frio. Phryne responde da mesma forma, não se segurando.
"Então, a beleza é um pecado, agora? Não é minha culpa que nenhuma outra mulher se iguale
a mim... Lady Ishtar chega perto, mas estou fora de seu alcance."
Ela está falando sério...!
"É sua culpa que os aventureiros não chegam nem perto deste lugar. Capturar os bons leva
tempo e energia. Leia os sinais, sapo."
"Ooooo, inveja, que assustadoooor. Por acaso, sou a combinação perfeita de beleza e poder,
verme miserável."
Todas as minhas articulações estão tremendo, até os dedos dos pés, enquanto ouço as duas
Amazonas discutirem. Eu posso sentir — Phryne é poderosa.
É mais fácil dizer depois que subi de nível.
Estou começando a sentir o tamanho do "recipiente" espiritual de uma pessoa pelo seu Status.
A mais forte aqui é Phryne, esmagadoramente poderosa.
É o mesmo tipo de pressão que sinto de aventureiros de primeira classe.
Aisha e o resto das Amazonas não levam as provocações de Phryne calmamente. Os punhos
estão se cerrando, os ombros estão se flexionando, até o ar aqui parece mais pesado. As outras
pessoas na sala de espera não prestaram muita atenção à chegada da grande mulher até esse
momento. Agora eles estão tropeçando sobre si mesmos, observando a porta aberta.
Poderia ser…?
Todas elas estão olhando com tanta raiva para a oponente, que ninguém está olhando para
mim. Esta é a minha chance! Com cuidado, silenciosamente, eu começo a dar pequenos passos
para trás e escapar da multidão.
Eu tenho que fugir... Lentamente, o espaço entre nós começa a crescer.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 6)

"GaaHHH — tão inútil! Eu vou pegá-lo à força. "


Meus olhos se abrem no momento em que essas palavras chegam aos meus ouvidos. Minha
janela de oportunidade está se fechando!
"Nós somos orgulhosas Amazonas! Tomamos o homem que acharmos melhor! Não é isso,
Aisha?"
"..."
"Por que não resolver as coisas do nosso jeito... ou você está com medoooo?"
A grande mulher começa a rir como um sapo. Aisha cospe nos pés de sua oponente.
"... Vamos lá, sapo."
Com o desafio aceito, Aisha e o restante das Amazonas se viram.
Existem apenas dez passos de distância entre nós. Cada conjunto de olhos queima com
ferocidade o suficiente para cozinhar um ovo.
Os sinos de aviso se tornaram oficialmente sirenes. Eu não acho que exista uma parte seca de
pele em qualquer lugar do meu corpo. Não consegui parar de suar desde que cheguei aqui,
mas o fluxo só aumentou.
Uma delas apenas lambeu os lábios para mim.
"O primeiro a alcançá-lo fica com ele!"
Esse é o sinal.
Todas as Amazonas e eu corremos ao som do profundo berro de Phryne.
Eu giro e saio em direção ao fundo da sala.
Com os gritos de batalha das Amazonas soando atrás de mim, eu olho para uma janela e
acelero.
Tudo está em câmera lenta, todo o som leva um tempo agonizante para alcançar meus ouvidos.
Os passos, os gritos, o som dos móveis sendo esmagados. Segundos parecem horas. O céu
noturno do lado de fora da janela surge na minha frente.
Mantendo meus olhos abertos, eu me impulsiono usando o chão e atravesso o vidro da janela,
ombro primeiro.
Estou lá fora, no ar.
Uma corrida de vida e morte está agora em andamento. As Amazonas estão caçando.

Queda. O ar frio da noite na minha pele suada.


Eu ouvi o rugido dos meus instintos e pulei pela janela sem hesitação. Agora estou saindo pelo
ar.
Não há necessidade de olhar, eu sei que as Amazonas estão me seguindo. Eu podia sentir a
presença delas antes de ouvi-las no chão embaixo de mim. O que é pior, a parede quebrou.
Fragmentos de vidro e detritos de rocha estão chovendo na rua abaixo. BAQUE! Faço a minha
aterrissagem.
Eu saio correndo.
"Parado!"
Eu mal tenho tempo para respirar diante da voz de alguém zangado cortando através da noite.
Deixando <Belit Babili> para trás, faço meu caminho para o Quarteirão do Prazer.
E é assim que minha corrida mortal com mais de vinte guerreiras Amazonas está oficialmente
em andamento.
Lâmpadas de pedra mágica passam pela minha linha de visão enquanto eu corro através da
rua de trás. Homens e mulheres abraçam as paredes com seus olhos bem abertos quando nos
veem chegando. "EEEEKK!" Uma mulher salta para fora do caminho na hora certa.
"Atrás dele!" "Não deixem que ele escape!" Eu posso ouvi-las gritando, mas estou com muito
medo de dar uma olhada. Tudo o que posso fazer é continuar apertando meus braços e correr
para frente.
Porque é que isto me aconteceu?!
Foi porque eu não ouvi Lili e Welf e fui para casa mais cedo? Ou talvez seja minha culpa porque
eu me separei? Lorde Hermes também não é inocente.
Dobro uma esquina, minha cabeça ainda tentando encontrar a resposta para uma questão
impossível. Outra esquina, outra curva. Eu corro através de ruas estreitas na tentativa de
despistar minhas perseguidoras de uma vez por todas.
Eu acho que meu padrão aleatório está valendo a pena. Não consigo mais ouvir as Amazonas.
"— GE-GE-GE-GE-GE-GEH !!"
Exceto por ela.
Ela é a única que minha Agilidade de Nível 3 não pode superar.
Seu coaxar ecoa nas paredes. Uma longa sombra cai sobre mim.
Ela cresce cada vez mais na luz azul da lua. Ela está vindo de cima?!
"Uw-UWWAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!"
Uma pedra escura bate na rua bem na minha frente, enviando detritos para todos os lugares.
Conseguindo pousar de alguma forma, a mulher absolutamente monstruosa — Phryne — puxa
os punhos carnudos para fora da rua antes de se virar para me encarar.
"Você não vai fugir, coelhinho!"
Ela avança, o espaço entre nós desaparecendo em um instante. Uma mão rechonchuda vem
direto para os meus olhos.
Argh! Eu grito para mim mesmo e mal consigo me esquivar. Eu posso ouvir o vento sendo
rasgado em pedaços quando seus dedos agora estendidos passam pelo meu ouvido. Meus pés
tropeçam para trás por causa da súbita rajada de vento gerada pelo golpe.
Meus olhos se arregalam no momento em que vejo o ataque seguinte de Phryne vindo em
minha direção.
Eu mal consigo pular para o lado quando o punho dela tira um pedaço da parede do bordel atrás
de mim. O outro braço dela vem em seguida enquanto eu me cubro atrás de um barril na rua.
Desequilibrado, seu terceiro soco mal o acerta. Mas isso é suficiente para explodir o barril. Ela
está de mãos vazias, mas mesmo assim ela tem poder mais que suficiente para rasgar minha
cabeça! Não houve tempo para recuperar o fôlego.
Essa velocidade, esse poder...!
Era exatamente assim naqueles dias na muralha da cidade, durante meu treinamento intenso
com a outra garota Amazona e minha ídolo.
Eu estava certo — ela é uma aventureira de primeira classe!
Pedaços de madeira e pedra estão voando por toda parte. O suor escorre do meu corpo a cada
movimento. Ela me faz recuar cada vez mais, até que finalmente pega minha gola.
"AEEEEHH!"
"Fique quieto!"
Ela balança meu corpo em um arco completo e me bate de volta no chão.
Uma explosão de dor atravessa todos os ossos do meu corpo. Ela me solta, me fazendo cair
pela rua.
Eu me oriento e levanto a cabeça, apenas para ver Phryne vindo na minha direção.
Sua sombra negra crescendo a cada segundo, o sorriso podre em seus longos lábios são tão
horríveis que eu esqueço de respirar.
" " "Pare, sapo!" " "
As outras Amazonas chegaram. Três delas batem os pés em Phryne. A mulher maciça de dois
metros de repente desaparece da minha linha de visão.
WHAM!! Phryne bate na parede, mas ela grita: "Saiam do meu caminhooooo!"
Ela derruba todas as três Amazonas atacantes do outro lado da rua com um único movimento
do braço.
"GAAHHH!"
Finalmente respiro fundo, tossindo no processo. Mais e mais Amazonas aparecem nos telhados
dos outros bordéis, pulando para baixo e enfrentando Phryne em combate uma após a outra.
"Mantenha essa idiota ocupada!"
Eles continuam a enfrentando. Uma enxurrada de chutes e socos está impedindo a grande
mulher de recuperar seu equilíbrio.
Parece que estou assistindo a um grupo de aventureiros mantendo um monstro de ampla
categoria ocupado. Phryne grita mais uma vez enquanto as Amazonas envolvem os braços em
volta de seu pescoço, ombros e pernas.
Elas estão quebrando alianças familiares e raciais por suas presas — eu. "Hyeeee...!" Um som
lamentável escapa da minha garganta.
"Você é meu!"
"DAHH!"
Eu ainda estou sentado na rua, tentando recuperar o fôlego, quando outra Amazona cai no
chão.
Eu forço meu corpo a se levantar e corro para frente para escapar de sua armadilha.
"Ahhh, ele fugiu!"
"Eu não me importo se ele escapar. Só não deixe Phryne tê-lo!"
Agora, várias Amazonas estão atrás de mim. Elas se separaram, um grupo sobre Phryne e o
resto vindo atrás de mim. Meus pulmões estão pegando fogo, mas não há tempo para respirar.
Vários clientes do sexo masculino na rua à minha frente se voltam para outras ruas ou se
abrigam para evitar problemas enquanto corro pelo longo beco.
"— Você não vai a lugar nenhum."
"?!"
Aisha?!
Ela está me seguindo pelos telhados! Como ela pula do nada, vejo uma de suas longas pernas
se esticarem acima da cabeça.
É uma emboscada perfeita. Mesmo que eu consiga bloquear seu chute com o meu braço direito,
ele é poderoso o suficiente para me desequilibrar.
Não é bom! Eu grito comigo mesma enquanto me forço para trás para ganhar alguma distância.
Infelizmente, suas pernas longas não me deram tempo.
Outro chute já está vindo na minha direção — ele se estende como uma longa foice e pega meu
ombro.
Voando para frente, vejo seu corpo fluir como água enquanto ela se prepara para lançar outro
de seus ataques à distância, com pernas que podiam ser confundidas com espadas. Eu estou
sendo pego no meio de uma dança mortal.
Artes marciais?!
Uma perna no chão. A outra está sobre mim, descendo seu duro calcanhar primeiro. Saio do
caminho, mas ela já está no ar e girando.
Girando para baixo! As duas mãos atingem o chão enquanto as duas pernas chicoteiam pelo
ar.
Não posso prever os movimentos dela — não posso me defender!
A coragem de uma guerreira Amazona, para não mencionar os chutes afiados de suas pernas
longas, me encurralaram.
Em um momento, essas armas mortais estão sendo empurradas contra mim como espadas, no
próximo, ela está as girando como chicotes. Eu não tenho braços suficientes para bloquear tudo
— no momento em que me inclino para proteger minha cabeça e parte superior do corpo, ela
me ataca com um golpe por baixo.
"UWAH!"
Eu caio, batendo minhas costas na calçada de pedra mais uma vez.
"Você é meu."
Dor, muita dor. As estrelas na frente dos meus olhos desaparecem a tempo de eu ver Aisha
balançar uma perna sobre o meu peito e me montar.
Eu devo estar pálido como um fantasma agora. Ela se inclina, seus cabelos longos roçando no
meu rosto. Estou completamente preso. Ela molha os lábios, sorrindo como se gostasse de
infligir dor, e pega a gola da minha camisa.
"Aisha, cuidado!"
Um aviso desesperado ecoa pela noite.
Naquele exato momento, uma mulher Amazona arremessada no ar bate em Aisha.
Isso a tira do meu peito. Não acredito nos meus olhos. Essa pobre mulher ainda caindo pela
rua. Eu nem sei o nome dela.
Aisha geme ao meu lado enquanto tenta se recuperar. Eu viro minha cabeça para olhar na
direção de onde a outra mulher veio.
"SAIAM DO MEU CAMINHOOOOOOOOOOOO!"
Grande erro. Essa é uma imagem que me dará pesadelos.
Um grupo de Amazonas está alinhado, formando um muro. No entanto, Phryne rompe a barreira
agarrando duas das mulheres, uma em cada mão. O resto delas está em vários estágios de
serem pisoteadas ou lançadas em direção às paredes.
Ela está jogando mulheres como projéteis... Até minhas bochechas estão tremendo.
"Aquele maldito sapo!"
Aisha rosna dos buracos mais profundos de sua alma, os olhos fixos na monstruosidade que se
aproxima.
O que significa que ela não está olhando para mim. Essa pode ser a minha única chance.
Forçando todos os meus músculos a agir de uma só vez, eu rolo e fico de pé. Eu ouço um
frustrado "TCH!" atrás de mim, mas já estou correndo. Os passos de Aisha estão ecoando atrás
de mim, mas sou mais rápido.
Com exceção de Phryne, sou mais rápido do que qualquer uma das Amazonas daqui em termos
de velocidade pura. A diferença entre nós está aumentando. Vou despertá-la dessa vez…! Eu
grito dentro da minha cabeça, mas...
"Liscia, Eliza! Parem o garoto que acabou de entrar na Terceira Rua!"
Aisha, ainda atrás de mim, grita para a noite.
Eu superei todas as outras Amazonas, então com quem ela está falando? De repente, duas
prostitutas — uma meio-fera e uma humana — saltam de edifícios em ambos os lados.
"Yaaaaaa!"
Ainda mais damas da noite aparecem mais abaixo na rua, portas sendo abertas na esquerda e
direita. "Pare aí mesmo!" uma delas grita enquanto as outras agitam suas armas, que são
vassouras e frigideiras. O que eu faço?! Eu saio do caminho principal para um beco separado,
momentos antes de correr para uma multidão repentina.
"Por quê?!"
A voz de Aisha soa novamente no momento em que pensei ter encontrado segurança em uma
nova rota de fuga. Exatamente a mesma cena se desenrola diante dos meus olhos: mulheres
com poucas roupas inundam o beco para barrar meu caminho. Eu grito em desespero.
Novas vozes estão vindo de cima. As janelas dos bordéis são abertas, cabeças saem e gritam
umas para as outras. "Ele foi por aqui!" "Quinta rua!" "Um aventureiro de cabelo branco!"
Eu nunca poderei fugir se elas continuarem gritando onde estou! Espere um segundo, já vi
aquela elfa em um vestido branco antes! Aquela meio-fera de orelhas compridas também! Foi
ela quem me mandou um beijo mais cedo! Cada uma das mulheres que encontrei até agora
esta noite estão tentando ajudar as Amazonas ou ficar no meu caminho.
O que diabos está acontecendo?! Eu grito dentro da minha cabeça, mudando de direção de
novo. É quando que, mesmo em pânico, eu vislumbro o mesmo emblema de antes: um corpo
feminino nu escondido por um véu.
Lá está mais um do lado do bordel, outro gravado naquela porta, e por lá também. Todos esses
edifícios têm o emblema da <Família Ishtar> em algum lugar.
Não me diga...!
Uma nova onda de suor escorre pela parte de trás do meu pescoço. Eu sei o por que.
Uma rede muito larga. Os dedos de Lady Ishtar alcançam todo o Terceiro Distrito de Orario.
Todas as mulheres que trabalham aqui são membros da <Família Ishtar>, não combatentes e
outras.
"Toda essa área é a nossa ilha." Aisha mesmo me disse, mas ela estava falando sério.
É como se a casa delas fosse o castelo e todos os edifícios ao redor fossem uma cidade sob
sua proteção. Este é praticamente o quintal delas.
Estou preso em uma área completamente sob o controle da <Família Ishtar> — seu território!
"Is-isso não pode estar acontecendo...!"
A interferência das trabalhadoras ganhou tempo suficiente para que as Amazonas
recuperassem o atraso.
O que é pior, as guerreiras persistentes agora estão equipadas com armas. Minha única razão
para vir aqui foi seguir Mikoto, então é claro que eu não usava armadura. Eu tenho a <Faca de
Hestia>, mas não pode me proteger de um exército!
O único item que tenho comigo é o afrodisíaco de Lorde Hermes. Absolutamente sem utilidade!
"Ataquem as pernas dele!"
"Preparem redes e cordas!"
Flechas caem na rua aos meus pés; bumerangues assobiam pelo meu rosto. Eu mal saí do
caminho de uma rede antes que ela prendesse um barril na rua.
Isso não é mais uma corrida, é uma batalha total. As Amazonas continuam vindo, e eu não sei
quanto disso posso suportar.
"Samira, pare ele!"
"Você me deve uma, Aisha!"
Leoas famintas na caçada, lambendo os lábios.
Eu posso ver nos olhos delas — elas estão curtindo cada momento. A alegria de "devorar"
depois de uma "matança" bem-sucedida está escrita em todos os rostos.
"Vamos espremê-lo até o limite quando o pegarmos! Apertar até que ele quebre!"
"Pelo menos, deixe-me ouvi-lo gritar!"
Eu serei dominado se não conseguir fugir delas agora.
No momento em que eu perder a força e desacelerar, estará tudo acabado. Eu vou
perder algo precioso.
"GE-GE-GE-GE-GE-GEH! Não há escapatória!"
Medo, desespero, angústia, lamentação, aniquilação, deterioração, trevas.
Todas elas estão chegando, me perseguindo.
Um destino miserável, horrível e trágico me espera, se eu cair nas suas garras.
Corra.
Tudo vai acabar.
Bell Cranel terminará em suas mãos.
Corra, corra.
Incapaz de realizar meus sonhos, incapaz de expressar meus desejos mais profundos.
Toda esperança que eu tive, incluindo estar ao lado dela, será completamente destruída,
perdido para sempre.
Corra, corra, corra!
Com isso acabado, não poderei mais crescer.
Eu apenas sei.
A pessoa que sou agora— desaparecerá para sempre!!
Corra, corra, corra, corra, corra, corra, corraaaaaaaaaa!!
Eu corro com ainda mais desespero do que quando estava sendo perseguido pelo Golias.
Meus olhos estão arregalados, provavelmente injetados de sangue e com lágrimas vazando.
Meus pulmões estão em revolta.
Vislumbrando minhas perseguidoras pelo canto do olho, eu convenço meu corpo a ganhar
velocidade.
"O que há com esse cara?!"
"Ele acelerou!!"
"Desista de uma vez!"
Eu nunca soube disso antes.
Eu nunca soube que as mulheres poderiam ser tão assustadoras.
Eu sempre vi o outro gênero como um ser puro e brilhante.
Todas as mulheres ao meu redor sempre foram tão boas para mim. Elas me mimaram, e só
agora eu sei a verdade.
Isso é crescer, eu acho.
Escape, escape, escape!
Afastando-me do caminho de projéteis e correndo através das ruas, meu cabelo chicoteia para
lá e para cá a cada torção do meu corpo. Um coelho branco tentando escapar da cova das
leoas.
Se as outras trabalhadoras vão bloquear a rua, isso deixa apenas uma opção: os telhados.
Vejo uma pilha de barris e os uso como trampolim para subir em cima do bordel mais próximo.
"O garoto está indo para o Distrito da Luz Vermelha!"
Eu finalmente ganho alguma distância, com meus instintos gritando comigo para fugir. Mal
percebo a mudança de cenário no meu desespero em alta velocidade.
Os edifícios de pedra do Quarteirão do Prazer dão lugar aos telhados do Distrito da Luz
Vermelha.
Vermelho, branco e flores com pétalas azuis. Qualquer lugar é melhor do que aqui. Eu defini
meu curso.
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 7)

Thwak, thwak! Mais flechas cortam o ar atrás de mim. Muitas luzes estão piscando no nível da
rua. O Quarteirão do Prazer ainda está ocupado. Eu posso despistá-las lá!
"— GaaHHH!"
Eu pulo em direção as pessoas no quarteirão oposto, mas sinto a pressão atmosférica
ameaçadora de um bumerangue que se aproxima em arco em direção à minha cabeça.
Eu tiro minha faca por reflexo e bloqueio à arma que se aproxima, mas agora minha aceleração
está me levando em uma direção diferente.
Estou indo diretamente para o maior bordel do Distrito da Luz Vermelha, ao lado da Rua
Principal.
"EH-EKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!"
E direto pela janela do segundo andar.
Divisores de papel portáteis e dobráveis, chamados shouji, se bem me lembro, são usados
como barreiras entre os quartos — pelo menos eram até um segundo atrás. Eu voo direto
através deles, passo pela sala e entro em um corredor. A dama lá dentro ficou realmente
surpresa; meus ouvidos ainda estão zumbindo pelo grito dela. Seu parceiro masculino desmaiou
no momento em que eu passei por cima. "D-d-desculpe!" Grito por cima do ombro enquanto fico
de pé e volto a correr.
O interior deste bordel é exatamente como o exterior, decorado com um estilo oriental. Portas
de correr decoradas com folhas de ouro, chamadas fusuma, separam os quartos individuais do
corredor. Tenho certeza de que há uma festa realmente animada atrás de uma delas à minha
direita. Pilares grandes e vermelhos entram e saem de vista, enquanto eu continuo me
movendo.
Algumas pessoas colocam a cabeça para fora dos quartos para ver o que é todo esse barulho,
mas imediatamente desaparecem no momento em que me veem correndo. BATIDA! BATIDA!
BATIDA! Por esse som, parece que as Amazonas chegaram. O bordel foi envolvido no caos em
um instante.
"Isso é muito ruim...!"
Mais gritos enquanto corro por ainda mais quartos. Pedindo desculpas, não estou diminuindo a
velocidade por nada. Todos os poderosos passos das Amazonas estão fazendo uma avalanche
de som que ameaça me alcançar a qualquer momento. Ignorando as ameaças e demandas
aleatórias das guerreiras, eu as lidero em uma perseguição selvagem através do bordel.
Se a casa da <Família Ishtar> fosse digna de ser chamada de castelo, então esse lugar deve
ser chamado de um de seus bens. A parte de frente para o Distrito da Luz Vermelha não é tão
largo, mas este edifício é surpreendentemente profundo. Existem várias seções de vários
tamanhos, todos juntos. A cena fora das janelas muda drasticamente dependendo do andar em
que estou. Às vezes é uma vasta paisagem urbana, em outras é um jardim ou fonte de água.
De vez em quando eu vislumbro uma <Mosca da Dungeon> — um monstro inofensivo que gera
luz continuamente. KER-THUNK! Um pedaço de bambu montado como uma gangorra debaixo
de uma pequena cachoeira se enche de água o suficiente para se inclinar para frente. Ele atinge
uma pedra, a água flui, e ele volta à posição inicial.
Não sei se é o layout confuso deste bordel, mas a onda de passos está gradualmente
diminuindo. Havia um grande grupo logo atrás de mim alguns momentos atrás, mas agora
existem apenas duas ou três pessoas no máximo. Duvido que Aisha ou Phryne estejam entre
elas.
Ao mesmo tempo, empurrei meu corpo além do limite.
Correndo com esforço, vou até a parte mais profunda do bordel.
"Tenho que encontrar um esconderijo...!"
Ofegando, chego ao quinto andar e olho para os dois lados do corredor.
Comparado a todo o tumulto nas outras seções, é assustadoramente silencioso aqui.
"Parado!" Uma voz vem do outro lado do corredor.
Mas este é o fim. Não há mais corredor ao lado. Então eu rapidamente abro a porta deslizante
mais próxima e entro.
"Haa-haa..."
Fechando a porta atrás de mim, eu seguro meu peito e suspiro. Então, o mais silenciosamente
que posso, afasto-me da porta.
Está muito escuro aqui. Não faço ideia para que serve, mas isso não significa que não é um
bom lugar para se esconder.
Eu vou mais fundo no quarto escuro, minha mão esquerda na parede para me guiar... Espere
um minuto, há luz vindo do outro lado desse fusuma.
Dou uma rápida olhada por cima do ombro para me certificar de que não estou sendo seguido,
respiro fundo e entro.
Então…

"Eu tenho aguardado sua chegada com grande expectativa, Mestre."

Uma meio-fera está sentada de joelhos, do outro lado do fusuma.


— É ela…
Cabelo dourado longo e cintilante, com uma cauda combinando e orelhas largas no topo da
cabeça.
O quimono vermelho absolutamente lindo torna óbvio — ela é a pessoa-raposa que vi na galeria.
Não consigo tirar os olhos das orelhas de raposa em sua cabeça. Eu posso estar em choque.
Ela se inclina na posição sentada, três dedos estendidos em sua frente nos tapetes de bambu
ao estilo do Extremo Oriente. Tatami, não é? Ela lentamente levanta o rosto. Sim, não há como
confundi-la com outra pessoa.
"Estarei acompanhando-o esta noite. Por favor, dirija-se a esta humilde serva como Haruhime."
Ela me olha nos olhos e diz isso.
"… Hã?"
"Por aqui, Mestre."
Ela gesticula atrás dela sem se levantar. Aquela cauda de raposa dourada balança para frente
e para trás em cima do tatami.
Eu congelo no lugar, a boca entreaberta. Ela se levanta em um movimento rápido e silencioso,
e pega minha mão antes de me levar gentilmente para dentro.
Passamos por outro conjunto de portas de correr douradas e entramos em outra câmara...
Um futon está colocado no chão.
"...?!"
Ver os travesseiros me traz de volta aos meus sentidos.
"Algo está errado?" vem uma voz calma ao lado do meu ouvido.
"Eh, não, es-espera!" Outra centelha de desespero me atravessa, e eu tropeço nos meus
próprios pés tentando fugir.
Perdendo o equilíbrio, estendo a mão para agarrar uma parede, mas engancho meu braço em
volta do pescoço dela por acidente. Nós dois caímos no futon.
"Eaah..."
Eu não consegui me segurar a tempo e cai de costas em cima da cama fina. A parte de trás da
minha cabeça errou os travesseiros.
Eu ouço um gemido bonitinho de dor perto do meu ouvido. Meus olhos se abrem quando eu
viro a cabeça para olhá-la e abro a boca para me desculpar... seus grandes olhos verdes estão
olhando para mim. Palavras, elas não saem.
"..."
"..."
Ela está perto o suficiente para que eu possa sentir sua respiração no meu rosto.
Em cima de mim, sua mão esquerda está empurrando meu peito. Nós apenas estamos
deitados, olhando nos olhos um do outro.
As duas bochechas dela estão ficando mais vermelhas a cada momento. Nenhum de nós está
se movendo.
Uma lâmpada de pedra mágica ao lado dos travesseiros ilumina o lado direito do rosto dela. Ela
é linda, incrivelmente linda.
Ela tem o ar de uma linda jovem donzela… que por acaso tem orelhas de raposa. Ela nem está
usando maquiagem. Comparado com as mulheres vorazes e violentas que eu tive contato hoje
à noite, ela parece, eu não sei, pura.
Na verdade, acho que ela tem minha idade. A diferença entre ela e as outras é surpreendente.
"... primeira vez?"
Eu estava tão preso naqueles olhos imaculados que mal notei que seus lábios estavam se
movendo. Ela deve ter sentido a tempestade furiosa na minha cabeça, porque agora seus olhos
parecem um pouco preocupados.
"Eh?" Eu respondo, meus ombros tremendo. Ela repete com a mesma voz suave de antes.
"Esta é sua primeira vez... em um bordel?"
"Sim!"
Sua pergunta me pega completamente desprevenido. Minha voz de repente volta à vida e
explode dos meus lábios muito mais alto do que eu esperava.
Mas eu rapidamente cubro minha boca com as duas mãos.
As Amazonas vão me encontrar se eu fizer barulho...!
Ela olha para o desespero no meu rosto e inclina a cabeça. Eu acho que ela entendeu errado.
Ela calmamente limpa a garganta.
"Se-sendo esse o caso... Eu, Haruhime, assumirei a liderança..."
Os olhos dela mudaram. É como se ela tivesse decidido, mas não sabe se ela pode. Sentando,
ela começa a afrouxar suas roupas.
Meus olhos praticamente saltam de suas órbitas.
Ela desenrola a faixa grossa do cinto do quimono. Partes diferentes do tecido vermelho caem
do corpo dela.
Em pouco tempo, resta apenas uma camada fina — praticamente roupas íntimas.
"P-por favor, espere...!"
"Por favor, fique à vontade, meu Mestre. Confie… tudo para esta Haruhime."
"E-eu não sou...!"
"Tente relaxar...!"
Minha língua não consegue lidar com todas essas palavras ao mesmo tempo. Minha voz falha.
Suas coxas rosadas piscam diante dos meus olhos. Elas não são nada comparadas aos seus
seios cheios e curvilíneos. Esse quimono os escondeu incrivelmente bem. O flash de luz de um
colar preto atrai meus olhos para seu pescoço e clavículas delicadas. Meu coração está batendo
tão rápido que poderia quebrar a qualquer segundo.
Eu tento protestar novamente, mas ela parece estar em seu próprio mundo. Um olhar de
determinação domina seu rosto quando ela levanta a perna e a passa por cima de mim, assim
como Aisha fez. Não consigo me mexer.
"Eu fornecerei meus serviços a você, Mestre..."
Um tremor dispara por seus ouvidos e desce pela espinha enquanto as suas duas mãos
agarram a minha camisa.
Meu corpo se sente lamentavelmente fraco; não há como escapar. Eu tento empurrar com os
braços, arqueando as costas para jogá-la para fora, mas nada funciona.
Ela desabotoa a minha camisa — o que resta dela de qualquer maneira — expondo meu peito
à luz da lâmpada de pedra mágica logo acima da minha cabeça.
"...... Teh."
Naquele momento — a garota quase nua me prendendo congela no lugar.
ESTALO! Seu rabo e orelhas se levantam. Os olhos dela estão travados no meu peito.
"M-mestre, mestre tem uma clavícula tão bonita!"
Seus olhos reviram em sua cabeça e ela cai em cima de mim com um baque surdo.
O qu… queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee?!
Minha alma grita quando duas almofadas redondas caem no meu rosto. FMUMM! Eu não
consigo respirar!
É um caos absoluto na minha cabeça, apesar da pele macia ao redor do meu nariz e boca.
Sacudindo e mexendo meu corpo, eu tento desesperadamente sair de baixo dos seios que eu
não sabia que poderiam ser tão mortais.
"Haruhime, você está aqui?"
?!
Elas me encontraram.
Uma porta deslizante se abre com um estrondo e uma voz alta ecoa através da sala. Dois pares
de passos, mas não consigo ver nada com ela em cima de mim.
Eu esqueci completamente que as Amazonas estavam me caçando. Minha mente fica em
branco.
Não há tempo para se esconder — elas estão do lado de fora do segundo conjunto de portas.
Não posso correr, não posso me mover. Wham! Elas estão aqui!
Droga, elas estarão praticamente em cima de mim...!
"Haruhime, você viu um humano magrelo por perto..."
Eu fecho meus olhos, me preparando para o impacto. A voz das Amazonas pairando no ar.
Silêncio. Abro os olhos e vejo o que está acima.
Ela está quase nua e em cima de mim. Isso seria perfeitamente normal aqui, um par de homens
e mulheres quase nus em cima da cama.
Para ser mais preciso, uma mulher que trabalha e seu cliente.
Ainda não consigo ver nada em torno dos seios enormes na minha cara, mas isso significa que
elas também não podem me ver. Escuto o som da porta sendo aberta.
"Oh, desculpe."
"Fiquem à vontade."
As duas Amazonas fecham silenciosamente a porta e partem. Eu mal posso ouvir seus passos
quando voltam para a primeira câmara da sala.
"E pensar que Haruhime poderia prender um homem. Não sabia que ela era capaz disso."
Aquela Amazona parece estranhamente feliz quando as duas fecham a porta exterior.
Movendo um pouco minha cabeça para respirar, fico ali por um minuto antes de tentar me mover
novamente.
Guio gentilmente a garota para o lado e a coloco suavemente no futon. Por fim, eu me sento.
Dou uma olhada ao redor enquanto enxugo o suor do meu rosto vermelho com meu braço. Tudo
limpo. Lentamente, muito lentamente, olho para a garota.
Completamente inconsciente, seu rosto parece quente o suficiente para ferver água. Eu inclino
minha cabeça.
"O que diabos aconteceu…?"
Capítulo 7.2 – Corra, Cranel (parte 8)

"— M-minhas sinceras desculpas!"


A pessoa-raposa ainda corando inclina a cabeça.
Não consegui sair da sala — as Amazonas vagando ao redor são muito assustadoras, e eu não
posso simplesmente deixar uma garota inconsciente deitada lá, indefesa — então eu coloquei
as cobertas sobre ela e esperei.
Nós dois estamos completamente vestidos novamente. Ela está sentada de joelhos e se
curvando o mais profundamente possível, o rabo de raposa se curvando atrás dela.
"Para que tudo seja apenas... um grave mal-entendido...!"
"Ahh, hum, bem, fui eu quem se esgueirou aqui, então..."
Estou sentado longe dela, nos tatames e não no futon, e corando tanto quanto ela. O máximo
que posso fazer é pedir desculpas.
Trocando desculpas com alguém que nunca conheci antes, em um bordel... Bem, isso é
diferente.
"Achei estranho que meu cliente designado ainda não tivesse chegado..."
Ela finalmente levanta a cabeça. Aqueles lindos olhos verdes dela estão tremendo de vergonha.
Ela explica que esperou por um homem que não apareceu. Então, quando entrei, ela
imediatamente pensou que eu era esse cliente. E o resto é história.
... Um homem desmaiou no momento em que atravessei a janela deste bordel. Imagine o que
teria acontecido com um pobre rapaz que viu a horda de Amazonas entrar pela janela. Então
houve a perseguição pelos corredores. O cliente dela nunca teria conseguido...
Tinha que ser minha culpa. Eu faço uma careta e desvio o olhar.
"... Pode ser tarde demais para apresentações adequadas, mas eu sou Haruhime. Como eu
devo chamá-lo...?
"Ah, sim... eu sou Bell Cranel."
Finalmente, eu supero meu constrangimento e digo à garota, Haruhime, meu nome.
"Bem, Mestre Cranel... Se você não é meu cliente designado, então por que você está aqui?"
Um olhar inquisitivo toma conta de seu rosto enquanto ela fala com uma voz suave.
O fato de ela estar neste bordel significa que Haruhime é muito provavelmente um membro da
<Família Ishtar>. Se eu dissesse a ela que suas aliadas me perseguiram até aqui... Que escolha
eu tenho? Eu decido contar tudo para ela.
Certamente ela descobriu que eu sou o intruso agora. Mas ela não chamou ninguém, e está
esperando pacientemente pela minha resposta.
Acima de tudo, tenho uma sensação estranha de que posso falar com essa pessoa... Ela tem
uma aura de inocência que é completamente diferente de qualquer outra pessoa no Quarteirão
do Prazer. Eu digo a ela tudo o que aconteceu nas últimas horas, por que me tornei um fugitivo
nas profundezas do território hostil.
"Você experimentou... uma noite bastante turbulenta."
O comportamento dela não mudou mesmo depois que eu terminei de falar. De fato, ela parece
simpática.
A caçada das Amazonas acontece com tanta frequência...?
"As Amazonas perseguindo você... Entre elas havia uma chamada Aisha, por acaso?"
"Você conhece ela?"
"Sim. Lady Aisha tem sido muito gentil comigo."
Sua voz soa um pouco com desculpas, mas há um sorriso muito honesto em seus lábios.
Então é verdade — aquela Berbera Amazona tem um lado mais suave.
É um pouco difícil de acreditar, depois de ser perseguido pela cidade e servir como saco de
pancadas móvel dela.
"Eu tenho uma proposta. Quando o nosso tempo juntos chegar ao fim, irei guiá-lo para a rota
de fuga mais segura. É altamente improvável que você seja descoberto se você permanecer
escondido nesta sala até de manhã cedo."
"Eh... Você tem certeza?"
"Eu tenho. Pode ser por apenas uma noite... mas eu, Haruhime, gostaria de prestar minha ajuda
a você, Mestre Cranel."
É difícil acreditar nela; isso pode ser uma armadilha. Mas há algo no sorriso dela, algo genuíno.
Minhas bochechas começam a queimar novamente. Aquele sorriso, aqueles olhos, o ar inocente
sobre ela... ela é incrível.
"Vergonhoso como é... eu tenho um pedido para você."
"Eh?"
"Podemos... conversar até a hora marcada chegar?"
Ela desvia o olhar, as bochechas ficando rosadas. Ela deve ter reunido muita coragem para
perguntar.
Ela não deve receber muitos visitantes que não são clientes.
Ela está sorrindo para mim como o interesse amoroso do personagem principal em um conto
de fadas. Eu forço um sorriso e aceno. Como eu poderia recusar?
"Muito obrigada!" Ela sorri de orelha a orelha e se inclina no chão novamente, exceto que desta
vez o rabo de raposa dela está abanando alegremente.
Ela desliza uma das paredes de papel shouji para o lado e o luar azul enche a sala. Então ela
pega quatro travesseiros para nós dois. Nós nos sentamos e começamos a falar.
"De onde você é, Mestre Cranel?"
"Sou do norte de Orario, em um pequeno vale atrás das montanhas..."
Ainda não tenho certeza de como me sinto sobre essa coisa de "Mestre Cranel", mas deixei de
lado e respondi à pergunta.
Haruhime me pergunta sobre cada pequeno detalhe da minha cidade natal. Norte de Orario,
uma vila tão pequena que a maioria dos mapas nem se importa em imprimir seu nome... Sua
expressão muda a cada resposta, agarrando-se a cada palavra.
Existem muitos humanos lá? Que tipo de visão você teve das montanhas? E muitas outras
perguntas em que nunca pensei antes.
Ela é tão feliz ouvindo. É como conversar com uma criança realmente interessada que nunca
se aventurou além de sua própria casa.
Ela passa os dedos pelos cabelos dourados, claramente fascinada pelas minhas respostas.
Algo me diz que ela estava extremamente protegida quando era uma garotinha.
Mas por que alguém como ela estaria aqui...?
Ao mesmo tempo, não consigo descobrir como alguém tão puro acabou no Quarteirão do
Prazer.
Ela não poderia ser mais diferente de Aisha e das outras. O ar sobre ela e a aura avassaladora
deste distrito noturno são opostos. Eu sou um fugitivo, fugindo das amigas dela dentro do
território de sua <Família>, mas aqui está ela, conversando comigo como se estivéssemos em
um café ou algo assim. Haruhime claramente não pertence aqui.
"Então você veio a Orario para seguir seu sonho de se tornar um aventureiro?"
"Pode-se dizer que sim. Eu sempre quis e não tinha nenhum dinheiro na época... "
Mas não posso simplesmente perguntar a ela.
Eu seguro minha língua e espero que ela faça as perguntas.
Haruhime pisca algumas vezes e cora novamente antes de ficar em silêncio. Talvez ela tenha
percebido que estava liderando a conversa o tempo todo.
Não posso deixar de rir dela. Ela é um pouco mais velha que eu, então, vê-la ficar envergonhada
com algo tão pequeno parece estranho.
"Ok, então... de onde você é, senhorita Haruhime?"
O silêncio foi muito estranho. Eu o quebro fazendo a mesmo pergunta que ela me fez.
Ela se senta novamente, sua vergonha desaparece, e olha para o teto como se estivesse
pensando profundamente.
"Meu local de nascimento... é no Extremo Oriente."
Eu já sabia que a maioria das pessoas-raposa são de lá. A julgar pelo nome dela, eu já tinha
essa impressão.
Ela começa a pintar quadros com palavras, imagens saindo de sua memória como folhas
carregadas por um rio.
"Era um país insular montanhoso, completamente cercado por um belo oceano azul. As quatro
estações eram muito mais pronunciadas do que as daqui em Orario. Belas árvores de cerejeira
rosa cobriam a terra na primavera. As músicas dos besouros nos alegravam no verão. As
montanhas adquiriam brilhantes tons de vermelho durante os dias gelados do outono... e tudo
era coberto por grossas mantas de neve no inverno."
A nostalgia está escorrendo por seus olhos. Suas descrições estão me fazendo sentir saudades
de casa.
O olhar de Haruhime muda do teto para a lua, apenas visível entre os shouji.
Banhada pelo luar, ela se parece mais com a pintura de um artista do que com uma pessoa
real. Olhando para o rosto dela de perfil, decido perguntar a ela sobre sua família.
"Srta. Haruhime, seus pais eram pessoas de alto escalão? Aristocratas, talvez?"
"Como você adivinhou?!"
Ela quase pula do futon de surpresa.
"Só tenho esse sentimento..." murmuro enquanto coço as costas da minha cabeça. Então ela
começa a explicar.
"É como você diz, Sr. Cranel. Eu descendo de uma longa linhagem de nobres. Minha mãe nunca
esteve presente e meu pai trabalhou longas horas para o governo... fui criada por muitos criados
desde a infância."
Anos de treinamento para ser uma aristocrata, sem conhecimento do mundo exterior... Criada
em um berço de ouro, ela estava solitária em sua gaiola espaçosa, com muito poucos amigos.
O rosto de Haruhime de repente fica nublado.
"Aqueles dias chegaram a um fim abrupto há cinco anos… eu fui deserdada quando tinha onze
anos. "
"O que?!"
Isso me surpreendeu completamente.
Deserdada... Seus pais cortaram laços com ela?
"Po-por que...?"
"Em um estado de sonolência… eu comi uma oferta divina extremamente valiosa que foi
carregada por um dos convidados de meu pai."
Ela continua explicando que outro aristocrata, um Pallum, estava hospedado em sua mansão
quando ela tinha onze anos.
O aristocrata viajava para apresentar uma oferta de Bolinhos de Arroz Purificado para sua
divindade Amaterasu — e Haruhime comeu todos eles quando estava em um estado de
sonambulismo.
... O que há com isso? Uma gota de suor desce pelas minhas costas.
"Você, hum, realmente comeu?"
"Não tenho memória. No entanto, havia migalhas ao redor da minha boca quando voltei à
consciência... devo ter ficado com fome no meio da noite e meu corpo agiu por conta própria...!"
Haruhime esconde o rosto com as duas mãos, as lágrimas começando a escorrer de seus olhos.
Continuando sua história, ela diz que seu pai ficou furioso com ela depois disso e exigiu punição
severa — mas o Pallum entrou em cena e disse: "Bem, não há nada que possamos fazer sobre
isso agora." O aristocrata visitante salvou a vida de Haruhime naquele dia. Sendo nobres, suas
famílias tinham um grande orgulho e não tinha escolha a não ser protegê-lo. Então Haruhime
foi dada a esse aristocrata em troca de salvar sua vida.
A decisão foi tomada em questão de segundos. O Pallum deixou a mansão quase
imediatamente com Haruhime junta dele.
... não quero duvidar da história dela, mas esse Pallum parece extremamente suspeito.
Eu pergunto a ela, e ela diz que ele a tratou muito bem. Bem o suficiente para que ela se
apegasse a ele.
Estou imaginando um homem baixo e pomposo, envolvendo o braço no ombro da garota
chorando.
"E então, o que aconteceu depois?"
"Sniff... Sim. Eu estava no banco de trás de uma carruagem, sem ideia de onde estávamos...
quando de repente um rugido ensurdecedor veio de fora. A carruagem estava sendo atacada
por monstros...!"
Agora ela me colocou na beira do meu assento.
"Ele fugiu da horda de ogros, me abandonando em meu estado de pânico…"
"… Eh?"
"... Um bando de ladrões me resgatou no último momento. Uma vez que eles descobriram minha
virgindade, eles decidiram me vender, aqui, em Orario."
"—"
Estou atordoado.
O impacto total do que ela diz não me atinge no começo, mas não há palavras se formando na
minha boca.
Ela foi vendida... para Orario...?!
"O que você quer dizer com 'vendida para Orario'...?"
"Em termos leigos... uma garota sem-teto e sem amigos como eu é trazida para o Quarteirão
do Prazer para ser vendida como mercadoria."
Eu vejo seus lábios formarem essas palavras ao luar, cada um dos pontos se conectando da
maneira que eu estava rezando para que não o fizessem.
Os ladrões a protegeram dos monstros, mas depois a trataram como tudo o que roubaram da
carruagem. Ela ainda era muito jovem, então eles não a tocaram. Mas eles sabiam que ela, seu
corpo nu, valeria muito dinheiro para as pessoas certas um dia. E então eles a trouxeram para
Orario.
"Para uma cidade com tantos aventureiros quanto Orario, locais como o Quarteirão do Prazer
são uma necessidade insubstituível para manter a paz."
Aparentemente, aventureiros fortes têm desejos igualmente fortes…
Aqueles que se aventuram com suas vidas sempre em risco lidam com enormes quantidades
de estresse. Constantemente passando tempo na Dungeon, lutar contra a própria morte cobra
seu preço. A necessidade de aliviar o estresse e a frustração pode assumir formas violentas,
mas também pode ser aliviada legalmente e pacificamente em lugares como este.
É por isso que a Guilda faz vista grossa para este lugar. Sua existência reduz a quantidade de
brigas em bares e danos à propriedade causados por aventureiros. O Quarteirão do Prazer é
um mal necessário.
Claro, a explicação dela faz sentido. Mas o pensamento de que a Guilda está desviando o olhar
da verdade — que os seres humanos estão sendo comprados e vendidos — é absolutamente
horrível. Eu tento evitar o contato visual com Haruhime, mas não adianta.
Meus olhos seguem suas longas mechas douradas para os lindos orbes verdes no centro de
seu rosto.
Pessoas-raposa são uma raça especial entre os meio-fera, porque eles são os únicos que são
usuários mágicos de nascença.
Quando se trata de Magia, a maioria das pessoas pensa nos elfos imediatamente. No entanto,
a mágica de uma pessoa-raposa é um pouco diferente. Cada um de seus feitiços é bastante
único. Ouvi dizer que eles são chamados de feiticeiros no Extremo Oriente.
Portanto, seus "salvadores" viam seu valor — em termos de força potencial e ganho econômico
— quando a trouxeram aqui para o centro do mundo, Orario, e a venderam para este negócio.
Ela teria sido trazida para cá supostamente sob o disfarce de querer vir por conta própria, mas
ela realmente passou pelos portões como mercadoria.
Isso é terrível…
Então ela foi vendida para o maior lance. Aconteceu que Lady Ishtar estava na área e a notou.
A deusa comprou Haruhime para fazê-la parte de sua família…
Incapaz de seguir seus sonhos, ela experimentou uma tragédia após a outra.
Ela não teve escolha a não ser vir para Orario. E agora…?
Eu pensei que todas as mulheres que trabalhavam aqui eram como Aisha. Mas quantas delas
têm histórias semelhantes às de Haruhime?
É a verdade que eu gostaria de nunca saber.
E eu percebo algo ao mesmo tempo.
Eu estava completamente sem noção. Mas agora, depois de ouvir Haruhime, eu não poderei
voltar atrás.
"Umm... eu sempre quis vir para o continente, sendo de uma ilha. Então, meu desejo foi
realizado... de um certo ponto de vista."
Ela deve ter visto as engrenagens girando na minha cabeça e tentou desesperadamente me
consolar.
Mas agora, tudo o que vejo é dor naquele lindo sorriso. "Pode não ser a melhor das
circunstâncias, mas minhas novas irmãs cuidam muito bem de mim." Outra tentativa de me
convencer de que ela está bem.
Meus lábios se recusam a abrir. Eu mal posso olhar para ela.
O que diabos eu devo dizer? Sou aventureiro. Eu faço parte da razão pela qual ela está nessa
bagunça.
Quero dizer: "Vamos fugir juntos agora", mas sou um fugitivo no território da <Família Ishtar>.
As Amazonas ainda estão atrás de mim. Eu não estou em posição de ajudá-la.
Mas os olhos de Haruhime não mudaram nada. Outro silêncio constrangedor cai, e desta vez é
ela quem fala.
"Há também o fato de que... muitas histórias desta cidade chegaram ao Extremo Oriente. Orario
sempre foi atraente para mim."
Os olhos dela amolecem. Isso deve ter feito minha voz acordar, porque ela sai da minha boca:
"Você está falando sobre a <Dungeon Oratoria>?"
"Isso mesmo!"
Essa é uma coleção de histórias da Dungeon que recebi do meu avô quando eu era criança.
Era minha Bíblia quando eu crescia, <Dungeon Oratoria>.
Ele documenta detalhadamente as jornadas e ações de muitos heróis em Orario. Ouvi dizer que
não existem muitas cópias do livro original, mas eu acho que as histórias se espalharam pelo
mundo.
Haruhime acena energicamente em minha direção.
"<Dungeon Oratoria> é fascinante… Mas a história que mais me lembro foi sobre um grupo de
cavaleiros valentes de diferentes países unindo forças em busca do Santo Graal."
"Não são 'As Aventuras de Garland'? Onde a rainha estava doente e somente à água purificada
pelo Graal poderia curá-la?"
"Você conhece? E a história de um espírito preso em um lâmpada e o jovem mago...?"
"Se eu me lembro bem... 'O Mago Aladdin'?"
"Sim!"
É a primeira vez que ela parece animada.
Seus olhos brilham toda vez que eu adivinho corretamente o título da história que ela descreve.
"Não me diga — você gosta de lendas e contos de fadas?"
"Eu absolutamente as adoro! Elas eram a única maneira de eu aprender sobre o mundo exterior
quando eu ainda morava na mansão...!"
Um interesse em comum. Ela está tão feliz por ter encontrado outra pessoa com esse tipo de
hobby infantil que — FLICK! Os ouvidos de Haruhime se animam.
As histórias vêm dela, e eu estou ali, compartilhando ideias pelo caminho.
"Durandal, o Perdido." "Nossa música de Enou." "A Lenda do Santo Giorgio."… Mais e mais.
Ela conhece algumas histórias incomuns. Espere um segundo, não tenho espaço para julgar.
Duvido que qualquer uma das outras prostitutas aqui conheça alguma delas. Talvez seja a
primeira vez que ela possa falar sobre isso em anos.
Sem mencionar que a maioria das pessoas "supera" os contos de fadas em uma certa idade.
Eu ainda não sei como falar sobre o Quarteirão do Prazer com ela. Eu tenho tanta sorte que
Haruhime trouxe isso à tona. Agora podemos sorrir honestamente e rir um com o outro.
Uma parte de mim percebe que estou apenas me escondendo da verdade, mas não é todos os
dias que eu posso escapar completamente para um mundo bonito com uma companheira como
ela.
"Eu realmente admiro o cavaleiro que cantou uma música de amor à sua rainha, apesar de
ambos saberem que seus sonhos nunca poderiam se tornar realidade!"
"Eu acho que as cenas de duelo de 'Sir Laslow' são muito mais impressionante…"
"Mestre Cranel, você conhece a história da Branca de Neve?"
"Não conheço muito além das histórias dos heróis..."
Ela se inclina para perto de mim e eu reajo no meu travesseiro.
Eu posso me manter firme quando se trata de histórias heroicas, mas Haruhime sabe muito
mais do que eu, é quase intimidador.
Pela primeira vez em um tempo, ela fica em silêncio. Seu rabo grosso está balançando um
pouco mais devagar agora.
"Então, Haruhime, qual é o seu tipo favorito de história?"
"É difícil escolher... mas aquela que deixou uma impressão duradoura em mim era sobre uma
princesa que foi salva de um demônio por um jovem guerreiro sem nome... É uma das histórias
mais antigas do Extremo Oriente."
Isso significa que ela gosta de histórias em que o herói salva uma donzela em sofrimento… O
momento em que uma mão forte se estende para resgatar uma princesa do perigo.
Pode ser porque ela ficou presa em uma caixa a maior parte de sua vida. Espere, minhas
bochechas estão corando.
Esse olhar em seu rosto, é como se ela tivesse acabado de revelar a localização de um tesouro
insubstituível... Ela fecha os olhos.
"Houve um tempo em que eu queria que meu próprio herói me levasse em algum lugar distante,
como nas páginas do livro..."
Eu estava prestes a dizer algo, mas o seu sorriso suave me faz parar.
Ela está falando de quando estava no Extremo Oriente, onde nunca pisou fora da mansão de
sua família?
Ou algum tempo muito mais recente?
"... Mas esse era o sonho tolo da garota perdida nos contos de fadas. Nenhum herói jamais
procuraria alguém tão indigna quanto eu."
"Mas — mas é claro que sim!"
Assustado com a calma em sua voz, eu me ajoelho e tento negar sua afirmação.
"Nenhum herói deixaria para trás alguém como você! Não perca a esperança!"
"Um cara lamentável e ingênuo como eu pode não ser capaz de fazer nada significativo."
"Mas os heróis que eu admiro, aqueles que o vovô me contou, nunca fariam uma coisa dessas."
"Se qualquer uma dessas almas corajosas estivesse aqui, ele a resgataria deste lugar."
Eu faço um discurso apaixonado. Ela apenas me observa com aqueles lindos olhos verdes... e
sorri.
"Tenho certeza de que os heróis dos quais você fala tinham a mesmo alma gentil que você,
Mestre Cranel... No entanto, eu não sou uma rainha bonita nem uma donzela justa em perigo
iminente."
Ela pisca lentamente e diz:
"Eu sou uma prostituta."
"!!"
Meus olhos se abrem. Suas palavras eram suaves e gentis, mas cortaram através do meu
coração como a estocada de mil facas.
"Embora eu ainda seja inexperiente, dei meu corpo a muitos homens."
"—"
Isso me atingiu como uma tonelada de tijolos.
Meu cérebro estava propositadamente evitando a palavra prostituta por todo esse tempo.
Parecia um tapa na cara ouvi-la diretamente de Haruhime.
"Não era meu destino esperar como uma flor pura pelo amor verdadeiro. Na minha história, o
dinheiro teve prioridade."
Flor pura... já ouvi essas palavras antes, mas agora sei o verdadeiro significado.
E agora é seu trabalho proporcionar aos clientes uma noite dos seus sonhos, trancado em um
abraço de paixão física.
Prostitutas não são flores puras. Muito pelo contrário.
Esta menina bonita, com uma aura tão imaculada, tem estado com muitos homens…
A verdade que eu estava tentando escapar me domina. Eu posso sentir seu aperto,
estrangulando meus pulmões por dentro.
Emoções, imagens, calor — um turbilhão se enfurece na minha cabeça. Eu sinto como se
pudesse vomitar a qualquer segundo. Eu agarro meu peito e me apoio com meu braço livre,
lutando para respirar.
"Por que os heróis iriam querer salvar... alguém tão sujo quanto eu?"
Aquele sorriso inocente nunca saiu de seus lábios. É assustador no luar azul.
É o mesmo que ela usava quando a vi pela primeira vez, impressionante, e ainda sim distante.
Apesar de quão perto estamos sentados agora, há uma grande distância entre nós.
"As prostitutas são a ruína dos heróis. Certamente você já sabe disso." Essas palavras
machucam.
Ela começa a resumir, como a conclusão de um debate que ela já ganhou.
"Eu não tenho o direito de entrar no mundo dos contos de fadas e heróis desde o dia em que
soube o que havia me acontecido. Sonhos e desejos não tem sentido. Não tenho permissão
para tê-los."
"..."
"Eu sou apenas uma prostituta."
O que foi aquele olhar de saudade que eu vi no rosto dela enquanto ela olhava para fora na
parte de trás daquela câmara hoje à noite?
Ela está presa na gaiola da prostituição, mas ela aceitou? Aceitou tudo?
O colar preto em volta do pescoço dela brilha ao luar, parecendo cada vez mais como uma
algema.
"... Parece que chegou a hora."
Sentindo-me patético e absolutamente inútil, assisto Haruhime virar para a janela e olhar para
fora mais uma vez.
Eu dou uma olhada também. O Distrito da Luz Vermelha está quase parado. Mais da metade
das lâmpadas de pedra mágica e lanternas estão apagadas. O tumulto de antes parece uma
lembrança distante.
Haruhime graciosamente se levanta.
"Eu gostei muito do nosso tempo juntos esta noite... Obrigada."
Ela está me agradecendo? Por que ela está me agradecendo? O que eu disse?
Ela tira algo de um armário no canto de trás — um casaco grosso com capuz — e me entrega.
Eu distraidamente tomo de suas mãos estendidas e obedientemente a sigo para fora da sala
depois de colocá-lo sobre minha cabeça. Ela me leva para fora do bordel tão rapidamente que
não percebo que estamos do lado de fora até o ar frio atingir meu rosto.
Não há ninguém neste beco. Deixamos o Distrito da Luz Vermelha com a mesma obscuridade
que as memórias de infância que desaparecem da mente de um adulto.
Haruhime está me guiando com uma pequena lanterna de papel pendurada no fim de uma vara.
"Esta passagem está conectada à Rua Dédalo. Se você evitar a passagem principal, é
altamente improvável que sua presença seja descoberta por Aisha ou as outras Amazonas."
Ela para e se vira para mim. Muitas luzes suaves iluminam o complexo de curvas que compõem
a Rua Dédalo.
Há mais de dois meses, durante o Festival dos Monstros, a deusa e eu nos perdemos lá
tentando escapar de um monstro. E pensar que o Quarteirão do Prazer e o Distrito da Luz
Vermelha estão diretamente vinculados a esse lugar...
"Você consegue ler as placas de Ariadne?"
"S-sim ..."
"Siga-as de perto e você irá atravessar o labirinto em muito pouco tempo."
Então ela me entrega a lanterna.
Inclino minha cabeça, um pouco confuso. "Rápido agora, se apresse." Ela me manda através
do arco.
Ando um pouco antes de perceber que ela não veio comigo. Eu paro e olho por cima do ombro.
Lá está ela, ainda de pé no mesmo local. Ela sorri antes de dar uma reverência profunda.
Esse arco parece um portão entre dois mundos diferentes, e ela não pode vir para cá.
"..."
Eu sinto o olhar dela nas minhas costas enquanto saio do Quarteirão do Prazer, sozinho.

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