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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

FACULDADE MINEIRA DE DIREITO

Arthur Dutra de Almeida


Arthur Vinícius Miranda Queiroz
Eduardo Carvalho Martins de Oliveira
Lucas Henrique Nogueira Carvalho
Matheus Felipe Gomes de Oliveira
Rogério Sampaio
Ruben Paiva Ferreira

Belo Horizonte
2022

Projeto Ler no Direito do livro “Torto Arado” de Itamar Vieira Júnior


Resenha do Livro Torto Arado

Filhas de humildes trabalhadores rurais descendentes de escravos, as jovens irmãs


vão crescer entre a extenuante rotina do campo, as tradições religiosas afro-
brasileiras com suas velas, incensos e ladainhas e a absorvente vida familiar. Com o
passar dos anos, a antiga proximidade entre elas vai se desfazendo aos poucos.
Enquanto Belonísia parece satisfazer-se com o serviço na fazenda e os
encantamentos do pai, o curandeiro de corpo e espírito Zeca Chapéu Grande,
Bibiana toma consciência do estigma da servidão imposto à família e decide lutar
pelo direito à terra e pela emancipação dos trabalhadores rurais. Em uma trama
conduzida com maestria e com uma prosa melodiosa, tendo quase sempre as
mulheres como protagonistas. Torto arado é um romance belo e comovente que
conta uma história de vida e morte, de combate e redenção.

O trabalho análogo a escravidão.

Um dos grandes momentos deste romance é a representação com eloquência e


humanidade dos descendentes de escravizados africanos para os quais a Abolição
significou muito pouco, visto que ainda sobrevivem em situação análoga à
escravidão. Tudo isso traz ao romance, para além de sua trama que atravessa
vozes, gerações e temas (a memória familiar, o trauma, a exploração, o misticismo
afro-brasileiro, os laços sociais), um poderoso elemento de insubordinação social
que vibra muito tempo depois de terminada a leitura. o livro é cheio de camadas,
personagens completas e complexas, que representam os descendentes africanos
que vivem em situação de servidão, análoga à escravidão, fazendo vibrar vozes e
temas ainda pouco explorados e conhecidos pela maioria dos brasileiros.

1
A História de Sofrimento
A história não é contada de forma cronológica. São memórias, lembranças
resgatadas por Bibiana, Belonísia e Santa Rita Pescadeira, narradoras dessa
história. Unidas pelo sangue e inseparáveis após um acidente trágico, as irmãs
Bibiana e Belonísia, filhas de humildes trabalhadores rurais descendentes de
escravos, crescem em situações precárias se dividindo entre a cansativa vida no
campo, as tradições religiosas e a intensa vida familiar. Com o passar do tempo, os
interesses das duas divergem e a proximidade que parecia indissolúvel vai se
desfazendo aos poucos. Todo o misticismo que envolve a última parte do livro dando
voz a uma encantada é um importante resgate da religião, da ancestralidade e da
espiritualidade.

A Injustiça social é claramente percebida.

O livro fica muito claro que para os descendentes de escravizados africanos que a
Abolição significou muito pouco, visto que ainda sobrevivem em situação análoga à
escravidão. Tudo isso traz ao romance, para além de sua trama que atravessa
vozes, gerações e temas (a memória familiar, o trauma, a exploração, o misticismo
afro-brasileiro, os laços sociais), um poderoso elemento de insubordinação social e
revolta contra a exploração dos menos favorecidos.

Conclusão

Na segunda temática, nos ressalta do trabalho rural, principalmente dos


trabalhadores negros e com forte influência de práticas provenientes do Brasil
colonial. Os trabalhadores daquela localidade trocam seu trabalho no campo pela
moradia nas terras dos proprietários rurais, entretanto, somente é permitido a
construção de casa de barro, nada de alvenaria para não demarcar a presença das
famílias na terra. Esses trabalhadores podiam ter uma roça próximo à sua moradia,
desde que depois do tempo dedicado trabalho na terra para o dono da fazenda.
Destaca também o trabalho infantil para a fazenda, a ausência de remuneração pelo
trabalho, a obrigatoriedade de comprar mantimentos na venda do dono da fazenda,
o trabalho de domingo a domingo e a dificuldade de se aposentar.

2
Vemos claramente os traços do trabalho análogo a escravidão onde o trabalhador
são obrigados a prática do "truck system” sistema no qual o empregador mantém o
empregado em trabalho de servidão por dívidas com ele contraídas, ou seja, é a
condição de trabalho similar a de escravo, tendo em vista que o empregador obriga
seu empregado a gastar seu salário dentro da empresa ou local de trabalho,
“Que para aposentar era uma humilhação, pedir documento de imposto ou da terra para os
donos da fazenda. Os homens se amarravam para entregar alguma coisa, além de explorar o
trabalho sem pagamento dos que iam se aposentar. Às vezes chegava o dia de ir para a
Previdência e o povo não havia conseguido reunir os documentos de que precisava.”

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