- nasc: São Paulo, 1947 - Bacharelado em História pela USP (1976), mestrado (idem, 1987), doutorado (idem, 1995), pós-doutorado na Università degli Studi di Milano (financiamento pela FAPESP, 1997-1998) - Livros publicados: Introdução à história da Revolução Russa (Eda, 1986); Um socialismo possível: a atuação de Antonio Piccarolo em S.Paulo (TAQueiros, 1989); Socialismo sociável: o PSB em tempos de guerra-fria (Ed. Unesp, 1998) - Professor de Historia Contemporânea do Depto. de História da UNESP-Assis
partido político de direita
Todo o partido é um grupo social secundário que reúne componentes de opinião política semelhante. Comporta numerosas relações primárias e informais, e tem como objetivo a gestão dos assuntos políticos/públicos através da direção da ação estatal. Não obstante deva estar integrado à ordenação jurídica do Estado, no interior do qual se localiza, pode ter como objetivo alterá-la estruturalmente. A partir dessas características descritivas genéricas se desenvolve toda uma série de diferenciações entre os partidos, os quais têm a sua história incrustada à evolução das demais instituições sociais contemporâneas. Os partidos políticos de direita, como os de esquerda, nasceram das alterações ideológicas provocadas pela Revolução Francesa. O povo, um novo sujeito político, entrava para a história, levando a uma ruptura fundamental que criou a política moderna: a soberania deveria transferir-se ao conjunto dos habitantes do país. Assim, os partidos políticos modernos nasceram em torno de um dilema fundamental: a quem deveria pertencer a soberania? Joseph de Maistre, grande teórico da direita, contestou a representação popular negando o Iluminismo e o racionalismo dos revolucionários. Dizia ele que ter a razão como fundamento da política significaria levar a sociedade ao caos e afirmava que só o monarca podia conter a soberania (1797). Tendo, portanto, nascido em oposição aos direitos do homem e do cidadão, a direita terá de alterar suas posições políticas ao longo das décadas seguintes visto que ser-lhe-ia impossível deixar de corresponder à diferentes conjunturas históricas. Porém, setores significativos das suas fileiras permanecerão sempre contrários à completa implementação daqueles direitos. Aqui se encontra o núcleo básico da manutenção do conceito de direita até a contemporaneidade. Um comentário especial merece o liberalismo, pois compondo o mesmo universo ideológico nascido com a Revolução Francesa admitiu a soberania popular, procurando, no entanto, limitar a representação a setores da população "mais capazes de exercê-la corretamente". Se a essa situação geral, une-se a interpretação de mundo advinda da filosofia idealista alemã - conceito de alienação, segundo o qual a liberdade humana significaria domínio sobre a história humana - como caminho para a emancipação humana, tem-se uma visão de conjunto do ambiente intelectual que propiciou o nascimento dos partidos de esquerda e direita na cultura ocidental. Os primeiros apoiando e os de direita opondo-se a tal correlação. No século XX, com as sociedades de massas, alguns partidos de direita passaram a admitir a política como um campo de luta para manutenção de comportamentos e tradições. Dessa forma, por exemplo, de avessa à idéia de um nacionalismo que colocava a nação como centro da soberania política, setores da direita tornar-se-ão defensores do uso do conceito de nação como comunidade orgânica consolidada pelas tradições, pela memória, pela religião. Pode-se dizer então que ao lado de movimentos de direita ultraconservadora, passou a existir uma direita que admitia a modernidade: o triunfo do capitalismo que antes apenas assustava, agora servirá também como veículo da sua afirmação. Assim, o nazifascismo e a formação dos partidos únicos de direita em vários países do mundo ocidental procuraram conciliar essa busca de segurança com a admissão de comportamentos políticos modernos. Isto é, no âmbito da organização da vida cotidiana e da incorporação de modelos igualitaristas não-democráticos, antiliberais, o nazifascismo representou a procura de uma modernização popularesca, mas exclusivista, que satisfizesse ideais de segurança da nação definida como corpo unitário. Por isso pode reunir em si, sem nunca perder o caráter de mescla heterogênea, interesses diversos de remanescentes das decadentes aristocracias européias, de setores militares incrustados nos aparelhos estatais e de novas massas de população que estavam à procura de um espaço no novo mundo capitalista. Nos anos 50, nos EUA, o macarthismo representou o modelo da direita: não apenas radicalmente contra qualquer forma de socialismo, mas também contra o liberalismo, guardando uma certa proximidade com atitudes nazifascistas na medida em que centrava sua ação no anti-semitismo e no Anti-intelectualismo. Na década de 80, com a falência da narrativa de tipo revolucionaria do marxismo, o liberalismo de direita pareceu tornar-se hegemônico em diversos centros políticos. Governos importantes como o de Regan nos EUA e Thatcher na Inglaterra muito contribuíram para reforçar princípios tradicionalmente identificados com a direita: uma espécie de darwinismo social aliado à limitação do Estado a funções “mínimas indispensáveis”. A partir de 1989, um verdadeiro corte histórico pode ser notado. Junto com a queda do muro de Berlim e as mudanças geográficas a ela relacionadas, uma verdadeira revolução cultural esteve em curso, alterando os padrões explicativos das ciências sociais: em oposição à narrativas globalizantes e a supervalorização da historia político-económica, desenvolve-se a idéia de que as sociedades só podem ser entendidas através de seus comportamentos imateriais. Apenas pela ação de fatores culturais, pelo reconhecimento de uma simbologia do poder, seria possível obter um conhecimento mais eficiente e abrangente. De forma paralela, sem que se possa estabelecer um relacionamento de causa e efeito, diversos discursos de direita ganharam força com essa nova disposição das ciências sociais. Os partidos neofascistas que sempre centraram o conteúdo de suas mensagens contra o caráter materialista da vida moderna - valendo-se de princípios simbólicos- moralistas como, por exemplo, o pertencimento a uma comunidade ético-cultural imaculável - acreditam que dispõem agora de um instrumental teórico favorável. O desenvolvimento de um nacionalismo de tipo étnico excludente em oposição a um nacionalismo de cunho igualitário, pode também constituir parte do mesmo fenômeno. Também os partidos de direita liberal podem ser favorecidos pelo mesmo processo, na medida em que as propostas de esquerda ligadas ao falido comunismo entraram em completa decadência deixando livre o caminho a “democracia do consumo”. Em diversos países, eles partem do que chamam "superação da cultura política do século XIX", e se afirmam liberais na medida em que, primeiro, declaram lutar em favor do cidadão contra o seu sufocamento pelo aparelho burocrático estatal e, depois, atribuem às pessoas enquanto indivíduos a capacidade de construir o futuro "com as próprias mãos". Definem-se, também, como sociais, pois buscam favorecer a solidariedade entre indivíduos e entre eles e o Estado. Aproveitando-se do processo de politização da vida cotidiana intensificado nas últimas décadas, esses partidos reivindicam para si uma visão pragmatista no encaminhamento das questões administrativas, pois seriam os únicos a reunir objetivos gerais genéricos a uma potencial liberdade de movimentos no nível da ação política individual. Tal disposição teórica pode, muitas vezes, funcionar como justificativa para procedimentos políticos carentes de responsabilidade diante de um plano geral de desenvolvimento das sociedades. Mas é justamente contra essa possibilidade de planejamento que o consenso tende a se estabelecer: também nos demais partidos admite- se, hoje, um conceito de democracia essencialmente caracterizado pela incerteza e o imprevisto.
BOBBIO, Norberto et alli. Dicionário de Política. Brasília, Ed.Un.de Brasília, 1986.
BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo, Editora da Unesp, 1995. HELLER, Agnes e FEHÉR, Ferenc. El péndulo de la modernidad: una lectura de la era moderna después de la caída del comunismo. Barcelona, ediciones Duverger, Os partidos... MICHELS, M. La sociologia del partito politico. (1911), Il Mulino, Bologna, 1966. RÉMOND, Réne (org). Pour une histoire politique. Paris, Édition de Seuil, 1988. SARTORI, G. Partiti e sistemi di partito. Ed. Universitaria, Firenze, 1964.