Lacan comenta, nessa passagem, sobre a diferença da prática da psicanálise em relação
a um ofício doutrinal, ou seja, um ofício que responde a uma verdade última como é o caso da religião. A prática do psicanalista, ao contrário disso, se apoia no que a sigla S (Ⱥ). Propõe que trabalhemos a partir da lógica do significante. Nesse contexto, Lacan comenta que “um significante é aquilo que representa o sujeito para outro significante” (p. 833). Com essa afirmação, podemos depreender também que um sistema de representação sempre necessita de um sistema de referência capaz de sustentar a forma como um significante específico opera dentro da cadeia junto de outros significantes. Um sistema sociossimbólico é composto, portanto, de representações cujo centro é sustentado por um norteador. Esse norteador compreende, muitas vezes, um horizonte de possibilidades que abarcam uma espécie ordem moral. Isso torna viável que o sujeito, alienado aos significantes de um Outro, possa direcionar suas ações e fazer escolhas. No processo de análise, no entanto, o sujeito é levado, a partir de sua fala em associação livre, a se esbarrar com uma dimensão fronteiriça e não simbolizável, ou seja, a um aspecto limite da experiência simbólica e provocado a lidar de forma menos sintomática com seu desamparo. Nessa direção, Lacan começa a comentar acerca da dimensão do nome próprio. O nome próprio é um significante que veicula arbitrariamente outros significantes. Ele passa a fazer sentido pela sua potência: é um indexador que não agrega qualidades aos objetos que nomeia, mas faz parte de uma operação que cria um contorno para o sujeito nomeado.