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Curso: Mestrado Profissional Em Administração

Disciplina: Metodologia de Pesquisa Qualitativa Trimestre 2022.2


Professor: Claudio Pitassi
Aluna: Carla Chagas

Pergunta de pesquisa: Como os executivos percebem o papel das empresas na


construção da sustentabilidade?
Entrevistado: André Monteiro, Gerente de QSMS e Sustentabilidade da
Supergasbras
Data da entrevista: 13 de junho de 2022

Transcrição Entrevista

1:43 [Carla]

Agora sim! Finalmente, obrigada mais uma vez pela gentileza e paciência. Indo diretamente para as
perguntas, a primeira é “Qual é a sua percepção sobre o desafio sustentabilidade para a
humanidade. (Pergunta 1)

1:56 [André]

Para a humanidade é uma pergunta longe.

2:00 [Carla]

É, bem longe mesmo.

2:02 [Andre]

Porque, veja bem, a gente não pode considerar a sustentabilidade como uma fórmula única, né,
Carla. Porque a gente sabe que você tem é porque você tem algo sustentável, você precisa ter
socialmente, aceito ambientalmente correto e e economicamente viável. Então você precisa montar o
tripé com relação a isso. O tripé com uma ponta social, outra ambiental e outro econômico. Quando
você fala numa questão humanitária, uma questão mais ampla, você precisa inserir um outro ponto
nesse contexto aí que é uma questão de cultura, então você precisa ter algo culturalmente aceito. Ou
seja, você amplia esse tripé da sustentabilidade e coloca mais uma ponta nele que é o projeto ou
algo sustentável para a humanidade, ou para algo muito grande, você precisa incluir a questão
culturalmente aceito.

Eu vou te dar aqui um exemplo muito rápido, você pode montar uma loja McDonald's na Índia e ela
ter todo o compromisso social, ambiental, econômico, mas se você vender carne de vaca que não se
comeu aquela lá, né? Você sabe muito bem disso carne de boi, de vaca. Você não é culturalmente
aceito e você mata o seu projeto não começo. Então, é um desafio enorme porque somos culturas
completamente diferente, mas é um caminho para que você atinja um futuro melhor para todas as
nações.

3:50 [Carla]
Perfeito. E trazendo este contexto para o Brasil, como que você percebe esse desafio, trazendo
para0 contexto do Brasil? (Pergunta 1.1)

4:00 [André]
O Brasil tem uma questão que é uma questão política que ela é muito decisiva, né? Então eu vou te
dar aqui também exemplos voltando nesses pilares da sustentabilidade. Na questão social, a gente
tem um desafio enorme que é você reduzir a distância social, que é uma questão que também passa
pela política. Você tem uma questão econômica que é um desafio de um país em desenvolvimento e
você tem uma questão ambiental em que cada município tem a sua regra, cada estado tem a sua
regra e tem um ente federal que tem a sua regra. Então o país é um dos países que tem a maior
quantidade de leis ambientais do mundo. Então, se não tiver uma política pública voltada para ação
conjunta voltada para isso tudo, você deixa de ter ações sustentáveis e tem o que a gente chama
aqui no meio de “green wash”, que é apenas você fazer propaganda de algo que você vende e que
você efetivamente não tem certeza de que aquilo é uma ação sustentável. Então resumindo, você
precisa ter políticas públicas que agreguem valor e concentrem ações desse tripé social ambiental e
econômico.

5:38 [Carla] Perfeito, e quem na sua opinião é o grande responsável por garantir o desenvolvimento
sustentável? (Pergunta 2)

5:48 [André] A gente tem um nível educacional no Brasil baixo. Então a gente não consegue fazer
com que você tenha alto sabe educação, você não consegue ter ações individuais que fazem a
diferença. Você precisa ter o terceiro setor com as empresas privadas e com o governo trabalhando
em conjunto. A grande ação, o grande responsável por essa ação, continuo repetindo para você,
passa primeiramente pelo governo, então o governo deve ser o grande responsável por criar políticas
públicas para que as pessoas possam ter ações direcionadas neste sentido. Se não for isso, a
sociedade por si vai ter ação muito pequena e as empresas vão fazer aquilo que são boas para elas,
né? Entendeu? Então você precisa começar e começar de uma forma tendo política pública.

7:01 [Carla]

Dentro dessa mesma pergunta tem uma sub-pergunta, apesar do que você trouxe antes, eu tenho
que fazer: Você acredita que a iniciativa privada seria o melhor caminho para atingirmos um mundo
mais sustentável? Sim não e por que? (Pergunta 2.1)

7:26 [André]

Acredito que sim porque nela que está a fonte de produção, então quando a gente fala em fabricação
de automóveis, em decisão se você vai fazer elétrico, o motor à combustão interna,se você vai ter um
plantio de uma cana-de-açúcar mais verde ou se você vai ter... Essas decisões todas passam pelo
cunho privado, né? Quando eu falei da gente ter políticas públicas, eu digo políticas públicas de
incentivo, regulação, fiscalização. É isso que eu falo, não é que o Estado tenha que fazer. O Estado
tem que incentivar, o Estado tem criar direcionamento.

8:32 [Carla]Oi eu acho que eu travei por um segundo, acho que porque entrou e-mail na minha caixa
mas eu entendi a sua resposta. Agora, a terceira pergunta: Como o tema sustentabilidade tem sido
tratado na organização que você atua? (Pergunta 3)

8:54 [André]

Na Supergasbras e SHV, que é a nossa controladora, o assunto, está muito em pauta. Nós temos um
desafio, que é muito grande, que é reduzir a emissão de 25% de CO2 das nossas operações até
2025 e até 2050 a minha empresa quer mudar a fonte energética dela. Já mudou uma vez do carvão
para o GLP e agora quer mudar do GLP para o Bio GLP. Ou seja, para fontes de energia mais
verdes, menos poluentes etc. Em função disso a gente tem uma série de ações, como eu te falei,
coordenadas, precisa ter uma coordenação, é hoje uma coordenação global aonde a gente então,
em todo o projeto que a gente realiza, sempre há aquela pergunta: Como é que a gente poderia fazer
melhor, com menos e com mais sustentabilidade. Então há um direcionamento com relação à isso.

10:06 [Carla]

Você pode apresentar um exemplo de ação referente ao tema sustentabilidade implementado?


(Pergunta 3.1)

10:14 [André]

Posso. Nós temos uma frota de veículos leves de 600 automóveis, na força de vendas etc. A gente,
mesmo tendo um custo maior, nós optamos em todos estes automóveis, só vão andar com o
combustível etanol. É uma decisão meramente sustentável, a gente acredita que com isso a gente
ajuda o social, a gente mantém a questão ambiental, e nesse tripé social x econômico x ambiental a
gente perde um pouco no econômico mas a gente ganha nos dois outros. Então, é uma ação
sustentável.

11:01 [Carla]

Qual o impacto que essa ação trouxe? (Pergunta não listada no questionário)

11:05 [André]

O impacto é que, por exemplo, só na Super, a gente tem aí 1.4 toneladas de CO2 a menos no ano.
Só com essa ação. Uma outra ação nossa, que eu posso falar aqui rapidamente, a gente está
fazendo agora um teste de um primeiro caminhão elétrico. Esses caminhões têm uma questão de
autonomia menor etc, mas a gente está fazendo o teste e a gente acredita que esse pode ser um
grande futuro.

11:42 [Carla]

Esse do automóvel, do etanol, eu tinha visto no LinkedIn, fiquei super orgulhosa e feliz.

11:49 [André]

É, não foi fácil convencer a diretoria não, mas eles compraram depois.

11:54 [Carla]

Você vê oportunidade de avançar o tema sustentabilidade ainda mais na organização? E como?


(Pergunta 4)

12:01 [André]

Então, sim, exatamente pelo que eu falei com você, a gente precisa ter ações orquestradas e
conjuntas. Então a gente vem fazendo isso no nosso nível de empresa global. No Brasil a gente tem
uma série de ações, por exemplo, hoje 99% da energia que a gente usa hoje nas nossas bases, elas
são oriundas de fonte reciclável, ou seja, a gente compra energia do mercado, ok? E a gente paga
mais caro em função disso, mas são fontes certificadas de origem eólica, origem solar. A gente não
usa energia por exemplo movida à carvão, etc. Então, a gente vai agora incentivar as nossas
revendas com relação à placa solar, incentivo, projeto etc, e vamos direcionar a nossa força de
vendas para que converta mais clientes nossos que usam diesel, óleo combustível, lenha, para que
usem gás, logicamente que com isso a emissão nossa de monóxido, dióxido é muito menor e a gente
tem aí um planeta mais limpo. Então, nós vamos fazer ações específicas, com mais retorno ao nosso
pessoal de vendas, para que eles possam buscar essa transformação de fontes junto aos nossos
clientes ou potencial cliente.

13:45 [Carla]

Como que percebe a contribuição das empresas, de maneira geral, para a sustentabilidade?
(Pergunta 5) O que mais pode ser feito?

13:54 [André]

As empresas têm diversas iniciativas, e aí eu bato novamente nessa tecla, desculpe ser um pouco
repetitivo. Essas iniciativas se fossem conjuntas, se elas fossem de maneira que a gente pudesse
juntar a minha força, com a força da Petrobras, com a força da Subsea, se a gente pudesse ter ações
conjuntas, a onda seria muito maior. Então a gente vê iniciativas, porém elas muitas vezes não se
somam. Ou seja, como é que, vou aqui dar um exemplo, como é que na questão sustentável

eu poderia dar ajuda à Subsea e como a Subsea poderia me dar ajuda. O que que a gente poderia
fazer juntos em prol de onde a gente está, de onde a gente atua. Então essa questão de você ter
fatores conjuntos entre as empresas é algo que faz sentido e que a gente espera que no futuro
tenha, que ocorra, né. Já temos ações nesse sentido, o Brasil está criando a primeira norma
brasileira de ESG, sigla de environmental social and governance. Eu faço parte de um desses
grupos, desses fóruns, a gente está criando uma norma brasileira para que a gente tenha
direcionamento único das empresas.

15:42 [Carla]

Bacana, tinha uma subpergunta aqui sobre o que mais poderia ser feito, mas você exatamente
acabou de explicar aqui, seria a criação de uma norma.

15:51 [André]

A criação de uma norma, isso. Uma outra coisa que eu acho que poderia ser feito, a gente tem
alguns órgãos, não digo órgãos, algumas iniciativas privadas, por exemplo o CEBDS, é o Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, CEBDS. Esse é um instituto onde você
concentraria discussões, fórum técnico, ações etc. Eu acho que esses institutos poderiam ser mais
fortes, estar mais em mídia, ser mais presente junto às demais empresas para que pudesse ter uma
ação única.

16:40 [Carla] O que as empresas podem fazer para equilibrar o desenvolvimento econômico com a
sustentabilidade? (Pergunta 6)

16:54 [André]

A questão, essa ponta econômica do viés sustentabilidade na minha opinião é o mais difícil. Em
função de onde a gente atua, estou falando principalmente no Brasil né. Porque a desigualdade
econômica é muito grande, o número de desempregos é muito grande. Então, para que você tenha
uma questão ambientalmente melhor você precisa ter uma economia melhor. Hoje a opção de você
abastecer o seu carro com etanol e não abastecer com gasolina é uma questão meramente, hoje,
econômica, ela não é uma decisão ambiental. Todo mundo sabe que o etanol é muito melhor do que
você queimar gasolina etc, mas há um peso muito forte econômico neste sentido né. Se torna mais
caro você fazer e aí a decisão individual vai para a questão econômica. Quando você quer fazer uma
alimentação mais orgânica, natural, ambientalmente correta, você toma uma decisão que é
econômica né. Não vou comprar este tomate que custa cinco, eu vou comprar o tomate que custa
um, que é lotado de agrotóxicos etc. Então você precisa resolver a questão econômica, enxugar essa
distância tão grande entre as classes para que você tenha decisões ambientais melhores. Portanto a
sociedade vai percorrer o caminho ambiental na medida em que a questão econômica vai se
resolvendo.

18:45 [Carla]

Mas assim, a pergunta está mais voltada para o que a empresa pode fazer para equilibrar o
desenvolvimento econômico com a sustentabilidade. Como é que eu equilibro, eu sei que eu sou
uma empresa, que no final das contas eu preciso gerar resultado econômico, porém eu tenho a
sustentabilidade para também ser tratada. Como é que eu equilibro o desenvlvimento econômico
com a sustentabilidade? (Pergunta 6)

19:14 [André]

Essa pergunta eu vou enfatizar a questão interna né. De novo, o projeto ele só é um projeto
sustentável se ele tiver é esse viés social, ambiental e econômico. Isso é uma fórmula. Eu preciso ter
retorno financeiro, eu preciso engajar a questão ambiental e a questão social para que o diga que
esse projeto é um projeto sustentável. Então primeiro passo: a questão econômica faz parte de uma
decisão empresarial. Se eu não tiver solução econômica, se eu não tiver retorno, eu não vou à frente.
O que que a empresa pode fazer? Primeira coisa esperar um resultado menor. Porque assim Carla,
se eu coloco que para esse projeto eu quero ter 30% de retorno, eu vou ter que ter um projeto muito
mais difícil do que se eu botar 15%. Então você tem expectativa de ganhos menores ele é mais
prudente por uma questão sustentável. Uma outra coisa, a empresa pode prover distribuição de lucro
como já faz com seus funcionários, a empresa pode promover empregos locais, para que você possa
aumentar aquela sociedade. A empresa pode dar apoio para fornecedores locais, a área do petróleo,
a sua área hoje faz isso quando você tem o que se chama de conteúdo local. Ou seja, a empresa é
obrigada a comprar no país que ela opera, isso é uma decisão que aqui você ajuda a questão
econômica local. Então, tem essa questão “do portão para dentro” que é você ter explicativas
menores de resultado em função de uma questão no futuro. E “do portão para fora” é você ter um
desenvolvimento melhor de pessoas em sociedade, e a empresa está inserida nisso, a empresa
precisa participar disso.

21:50 [Carla]

Perfeito. Agora a última pergunta, qual a responsabilidade das empresas no agravamento da pobreza
e da desigualdade social? (Pergunta 7)

22:09 [André]

Quando você pergunta responsabilidade, é como se houvesse uma parcela de culpa das empresas
com relação à isso. O papel é o fomento da criação de empregos, o papel é o fomento, como eu te
falei, no desenvolvimento daquela área onde ela atua, é no fomento de você ter a preocupação
ambiental de onde você atua. Então se você vai fazer, se você vai instalar uma empresa em uma
determinada cidade, a empresa tem a responsabilidade para com aquela cidade. A gente vê que no
Brasil há uma regra, há uma disputa. Por exemplo uma indústria automotiva, há uma disputa entre
Estados de quem oferece menor ICMS para que ela atue. Então vem para São Paulo que eu vou te
dar isenção por 20 anos, vem para “não sei o que” que eu vou te dar isso. Então, isso na expectativa
daquela empresa gerar emprego, gerar recursos gerar né... A discussão não tem que ser esta. A
discussão é: o que que a sua empresa vai trazer para a minha cidade, cuja população vai ter
benefícios. Então a empresa espera do Estado. O Estado é que tem que imputar na empresa essa
responsabilidade, entendeu. Se vai acontecer essa troca, eu vou te dar ICMS, eu vou te dar o
terreno, você vai ter que me dar a garantia no papel do que você vai me dar. Então vou dar um
exemplo aqui. Recentemente instalaram uma empresa de automóveis em um Estado aqui, a tal da
Jac, e ela então começou a fazer a produção, ganhou o ICMS por 20 anos. A empresa decidiu fechar
aquele site para poder migrar a produção para outro site dela. O Estado, que ofereceu o ICMS, ficou
sem recolher o imposto, obteve lá empregabilidade por sei lá, 5,6 7 anos, só. E a empresa depois,
por uma decisão meramente econômica foi embora. Então essa troca, essa relação entre Estado e
empresa, ela deve ser contratual. Para eu poder te dar, eu quero receber. Mas tem uma coisa que é
fundamental que são os líderes. Se você não tiver o líder engajado na questão social, ambiental,
você só vai ter o viés econômico. Isso é terrível para todo mundo. Então, por mais que a gente esteja
falando de governo, a gente esteja falando de empresas, a gente esteja falando de Estado etc, a
gente fala sempre de pessoas. Então, a gente vai ter um resultado ambiental melhor quando essa
área começar a ter ensinamento, divulgação, propaganda desde a escola até a faculdade. Você
precisa ter um caminho, uma trilha de ensinamento, de troca que você possa discutir o assunto. Ou
seja, para o meu filho, que tem 15 anos, que decisão que ele toma num assunto como esse? Então,
é mais fácil a gente dizer assim: você não pode porque é proibido por lei usar o canudinho de plástico
ou é melhor ensinar a ele, que ele pode usar mas, ele vai colocar num lugar reciclável, que vai gerar
emprego no futuro, aquilo volta, uma economia circular. Então se você põe só lei e não põe
educação, o assunto não vai à frente.

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