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Abel Carlevaro e Heitor Villa Lobos:

Intertextualidade no cenário violonístico da América Latina a partir de 1940

O tema objeto da presente pesquisa não apresenta uma intensa composição


bibliográfica, mas, apresenta trabalhos interessantes nos aspectos historiográficos e
musicológicos.

Amorim (2018), nos Anais do IV Simpósio Villa Lobos, apresenta em um artigo a


relação entre dois pilares do violão latino-americano. O autor traça a trajetória vivenciada por
Villa Lobos e Carlevaro, a partir de 1940, quando eles se conhecem durante a Embaixada
Artística Brasileira no Uruguai e consequências advindas relação musical vivenciada por
ambos.. Amorim (2018) busca traçar um panorama entre as vivências de Carlevaro e Villa
Lobos e em que medida este contato marcou a trajetória de ambos. Amorim (2018) busca
informações na literatura disponível sobre o assunto e se vale do livro de Alfredo
Escande(2005) sobre a biografia de Abel Carlevaro. Amorim enxerga uma importância
significativa na produção violonística desenvolvida na América Latina, a partir de 1940,
através dos primeiros contatos estabelecidos entre ambos e, posteriormente, a partir de 1943,
quando a proximidade entre eles se intensifica com a Embaixada Artística Uruguaia no Brasil.
Amorim (2018) ressalta o pioneirismo de Abel Carlevaro ao estudar e programar as peças de
Villa Lobos em seus concertos e no decorrer de sua carreira dedicou uma boa parte ao estudo
da obra do brasileiro e dedicou dois de seus quatro livros de técnica aplicada aos Estudos e
Prelúdios villalobianos. Em contrapartida Villa Lobos mostrava interesse e se dedicava a
mostrar as suas obras de violão para o violonista uruguaio, numa relação de mútuo benefício.
Conforme descreve Escande (2005) ( se por um lado o grande criador brasileiro se converteu,
a partir de 1940, e até o final da vida do músico uruguaio, em uma referência indubitável, que
contribui decisivamente para a consolidação de sua musical e sua identidade como compositor
e artista, por outro, Heitor Villa Lobos encontrara, pela primeira vez, um jovem e promissor
talento disposto a mergulhar com profundidade na descoberta e no estudo de sua desafiadora
produção para violão.).

Em uma entrevista ocorrida em São Paulo (1999) e publicada na Revista Música, feita
pelo professor Edelton Gloeden (2007), o violonista Abel Carlevaro discorre sobre a sua
carreira e apresenta a sua versão do compositor brasileiro Heitor Villa Lobos. Durante o
transcurso da entrevista percebe-se a profundidade intelectual do entrevistado e o caráter
pedagógico atribuído à sua condição de concertista e de pedagogo do instrumento executado
por ele.

Em artigo publicado em 2001, na Revista Violão Intercâmbio, Daniel Wolff que fora
aluno de Abel Carlevaro, sistematiza a importância do violonista para o violão latino
americano. Em breve artigo ele sistematiza a obra de Abel Carlevaro não só como professor
de violão mas como intérprete e compositor e discorre sobre a sua contribuição para os
aspectos técnicos do violão não apresentando uma postura dogmática sobre o assunto e
levando os seus alunos a buscarem um aprimoramento técnico baseado na auto observação e
no conhecimento dos músculos do corpo humano. Foi o criador de uma nova escola de
técnica do violão através do livro Escuela de La Guitarra (1979) onde debruçou sua atenção
sobre os aspectos da mão direita e da mão esquerda e de arpejos e ligados, além das escalas,
dispostos em quatro volumes separados e pertencentes ao mesmo livro.

No I Simpósio Nacional Villa Lobos (2015), no Rio de Janeiro, José Jarbas Pinheiro
Ruas Júnior apresentou um artigo sobre os cinco prelúdios para violão de Villa Lobos numa
análise sobre o processo de recepção dos prelúdios para Abel Carlevaro e a sua consequente
absorção e incorporação à carreira do então violonista uruguaio. O autor mostra como esses
prelúdios, de Villa Lobos, eram inicialmente dedicados a Andrès Segóvia mas, todavia, sua
primeira apresentação ao público se deu com o violonista Abel Carlevaro durante a
Embaixada Artística Uruguaia na cidade do Rio de Janeiro (1943). A partir desse momento o
violonista incorpora a obra de Villa Lobos e passa a ser um expoente de difusão das
composições destinadas ao violão feitas pelo brasileiro, expressando a sua predileção pelo
Prelúdio 3 que ele executou em quase todas as suas turnês pelo mundo.

Segundo Ruas (2015) “ em nossos dias, é praticamente consenso, no meio


violonístico, a importância e relevância da obra villalobiana para o instrumento em virtude
das possibilidades técnicas que se inauguram dele”. Consoante a isso as contribuições de
ambos os violonistas/compositores é latente tendo em vista toda concepção técnica do
instrumento construída por Carlevaro alheada a novas possibilidades surgidas na obra de Villa
Lobos.

Em artigo denominado a Embaixada Artística Brasileira, Loque Arcanjo (2020)


demonstra os diversos significados históricos atribuídos ao evento diretamente ligado ao
Estado Novo (1937-1940). O autor objetiva redimensionar o papel do compositor brasileiro
para a política externa brasileira valorizando as fontes periódicas e o que se refere à produção
musical de Villa Lobos apresentada durante os concertos realizados na Argentina.

A presente pesquisa tem como finalidade a busca da intertextualidade presente nas


obras compostas por Villa Lobos para violão (com ênfase nos cinco prelúdios) e a sua
recepção e incorporação ao cenário de atuação do violonista uruguaio Abel Carlevaro
enquanto intéprete e criador de uma nova escola técnica para o instrumento. Considerando-se
os aspectos historiográficos e musicológicos dessa interação busca a discussão com base na
pesquisa bibliográfica e historiográfica através de periódicos da época que retratem o assunto.

Dessa maneira a pesquisa tem como escopo principal mostrar o intercâmbio ocorrido
entres esses dois personagens do violão latino americano e suas eventuais implicações nas
condições técnicas de execução dos cinco prelúdios de Villa Lobos tendo em vista a sua
composição e as aplicações técnicas do instrumento com a participação efetiva de Abel
Carlevaro.

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