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PRÓLOGO

RONDÓ DE SANGUE
Ano 1792
Zona rural transilvaniana da Romênia

ichter encarou a longa escadaria de pedra que subia à frente. Sob seus
pés, o tapete vermelho que levava até a torre mais alta de Castlevania,
o castelo amaldiçoado de Drácula.
Naquele momento, ele hesitou. Uma lufada de vento frio veio do leste e lhe tocou o
rosto, e um relâmpago cruzou o céu, momentaneamente clareando tudo e escondendo a
gigantesca lua minguante que estava parcialmente coberta pelas nuvens trevosas.
"Cheguei até aqui. Sou um Belmont! Não posso voltar agora", pensou. Respirou fundo,
e então correu escadaria acima. No meio do caminho, viu a silhueta da lindíssima torre
do relógio do castelo. Os ponteiros dourados marcavam 2h30.
No topo da escada, uma grande passagem abobadada anunciava a entrada no pináculo
da torre de menagem. O interior mostrava um ambiente precariamente iluminado por
velas em altos candelabros. O tapete acompanhava toda a escada e adentrava o salão.
Richter caminhou lentamente pela comprida sala, sem tempo de apreciar a mórbida
beleza do maior salão de jantar que já adentrara. As colunas de granito polido que
sustentavam a sala tinham quase dez metros de altura até o teto. O caçador de vampiros
cruzou o ambiente ladeando a gigantesca mesa de jantar e passou por uma grande porta
de pedra que estava aberta, dando entrada ao último reduto do castelo: a sala do trono
de Drácula.

1
A sala régia estava escura, e Richter parou, esperando que seus olhos se acostumassem à
escuridão. Lentamente, uma luz avermelhada como sangue tomou conta do ambiente e
revelou o Lorde das Trevas sentado em seu sombrio trono, fitando calmamente o
caçador. Richter segurou forte o crucifixo que carregava consigo, quase como um reflexo.
Então vociferou:
- Morra, monstro! Você não pertence a este mundo!
Drácula suspirou com tranquilidade, com o rosto apoiado sobre a mão que se escorava
no braço do trono.
- Não foi pelas minhas mãos que mais uma vez me foi concedido um corpo. Eu fui
chamado aqui por humanos que desejam me devotar tributo.
- Tributo?! - Retrucou Richter. - Você saqueia as almas dos homens e os torna seus
escravos!
Drácula exibiu um sorriso de canto de boca, levantando sutilmente o bigode grisalho.
- Talvez o mesmo possa ser dito de todas as religiões. - Balançou a taça com vinho (ou
sangue?) que segurava com a mão direita.
- Suas palavras são tão vazias quanto a sua alma! A humanidade doente precisa de
um "salvador" como você!
- O que é um homem? Uma pequena pilha miserável de segredos. - Retrucou Drácula,
impaciente, lançando sua taça de vidro ao chão. Ela se estilhaçou próxima à escadaria
que conduzia ao trono. - Mas chega de conversa! Prepare-se para morrer!
Após as palavras ferozes, o rei dos vampiros se levantou do trono e ergueu sua capa
rubra. Uma grande coluna de luz desceu do alto e fez Drácula desaparecer. Richter deu
um passo para trás e sacou o lendário chicote sagrado que tinha recebido de seus
ancestrais: o famoso Vampire Killer.
A arma era tão bela quanto mortal. Tinha um punho de prata em formato de cruz. A
manopla era de couro curtido, nada confortável, já nem era incômodo mais àquele que
o usava há tanto tempo. A correia era uma corrente feita de uma resistente liga de prata
que alcançava até três metros de distância. A ponteira era de prata, também em
formato de cruz. Ao tocar qualquer criatura da noite, ela desencadeava uma terrível
explosão de energia sagrada, purificando as trevas e levando a Morte Final à criatura.
Drácula reapareceu na frente de Richter, já com a capa erguida por sua mão direita.
Por debaixo dela, três esferas flamejantes surgiram e foram lançadas no humano.
Richter deslizou com uma rasteira por baixo do fogo, e se ergueu em um salto diante de
Drácula. No ar, desenrolou o chicote e atirou a correia ao vampiro.
2
Drácula afastou a ponteira do chicote com um tapa explosivo para o lado, evitando o
ataque, mas logo depois olhou para a palma da mão em dor. Olhou irritado para Richter.
Mais uma vez, a luz acima de Drácula brilhou, e o vampiro desapareceu.
Richter olhou para trás instintivamente, conseguindo evitar por pouco um golpe com
garras que Drácula tinha desferido pelas costas do caçador. Em um rápido momento,
Richter cobriu sua mão com a corrente do chicote, girou o corpo, saltou e desferiu um
poderoso soco de prata no queixo do vampiro. A prata queimou a pele de Drácula e fez
o vampiro de mais de dois metros de altura recuar.
Richter aproveitou o ímpeto e rapidamente lançou a correia do Vampire Killer em
direção ao coração de Drácula. O impulso foi tão grande que, ao atingir o peito do conde
com uma explosão de fogo sagrado, arremessou-o vários metros para trás. O lorde das
trevas fixou os pés no chão, deslizando até parar.
Drácula, então, urrou em fúria:
- Se assim tanto desejas, conhecerás o inferno!
Subitamente mais um relâmpago cruzou o céu e ribombou ao longe, fazendo o castelo
tremer. A luz inteira do castelo desvaneceu. O rugido de um dragão ecoou pela sala do
trono.
Quando a luz retornou, Drácula parecia uma massa disforme de músculos e escamas.
Chifres cresciam em sua cabeça. Sua aparência humana fenecia e dava lugar ao corpo de
um demônio de couro escuro. Sua metamorfose estava em progresso quando Richter
correu e subiu sobre as escadas do trono, escalou sobre o espaldar e agarrou uma das
cortinas.
Drácula, agora na forma de um terrível morcego-demônio de mais de cinco metros de
altura, procurou seu inimigo.
- Apareça, mortal! - A voz monstruosa e alterada do vampiro fez Richter gelar a
espinha. As presas do demônio eram tão longas quanto um braço humano.
O Belmont, então, pegou o frasco de vidro de água benta que carregava consigo e
arremessou com força em Drácula. O frasco explodiu e a água tocou a pele do lorde das
trevas, corroendo suas escamas. Aquilo fê-lo urrar de dor, em um rugido que faria
qualquer um tremer.
Richter, então, usou o chicote para atingir a sanefa das cortinas, rompendo parte das
argolas e sendo projetado em movimento pendular rumo ao vampiro. Drácula ainda se
contorcia em dor.

3
O Belmont, então, enquanto se aproximava de Drácula, fez um movimento circular
pegando impulso com o Vampire Killer e atingiu o vampiro em cheio com a ponteira de
prata sagrada. Dessa vez a explosão foi tão forte que o Drácula-monstro foi jogado para
trás como um boneco de palha, atingindo um gigantesco pilar de granito. Rachou.
Drácula, tomado pela fúria, grita palavras místicas em uma língua oculta, evocando
as forças do Planeta Saturno. A sala inteira escureceu e deu lugar a uma espiral de
energia das trevas no meio da escuridão, mostrando a Richter Belmont que eles agora
estavam em outra dimensão. Uma dimensão de caos e morte.
Quando Richter voltou o olhar para onde Drácula estava, assustou-se: o monstro não
estava mais lá.
Ele não conseguiu perceber quando o demônio, surgindo magicamente pelas suas costas,
desferiu um ataque em arco com as garras, rasgando com profundidade a pele do tórax
do caçador de vampiros e espalhando sangue para todo lado.
Richter gritou em resposta à dor lancinante. A dimensão do caos pareceu sugar todo o
sangue jorrado do humano.
Drácula caminhou em passos pesados em direção ao seu algoz. Richter, então, procurou
pelo peito ensanguentado o crucifixo de ouro que carregava em seu pescoço. Quando o
encontrou, apertou-o na mão e evocou o Poder da Luz. Uma chuva de água benta
magicamente começou a ser jorrada sobre Drácula, e uma explosão de luz solar tomou a
dimensão do caos. Drácula gritou em aversão. A luz era intensa e queimava a pele do
monstro, e a água benta só corroía mais seu couro.
Drácula, tomado pela cauterização constante de seu corpo, começou a jorrar fogo pela
boca em todas as direções, sem saber se estava ou não atingindo o Belmont.
Richter viu uma gigantesca onda de fogo viajando em sua direção e se abaixou em uma
rasteira em direção ao monstro, sentindo uma parte de seu corpo queimar levemente.
No final do deslizamento, Richter lançou um salto em chute no peito de Drácula,
fazendo-o se afastar para trás. E, enquanto a luz divina ainda brilhava, lançou com
todo o seu espírito um último golpe com o Vampire Killer em direção ao coração de
Drácula.
O impacto causou uma terrível explosão. A pele de Drácula começou a entrar em
erupção, e várias explosões menores começaram a fustigar seu corpo por dentro.
- Não! Não pode ser! - E lançou um grito final enquanto era engolido pela dimensão
das trevas e enquanto a sala lentamente voltou à aparência anterior.

4
Fez-se silêncio. Até os trovões pararam, e as nuvens se abriram exibindo a lua inteira.
Richter ainda tremia, e respirava com dificuldade.
Finalmente tinha conseguido! Mostrou-se verdadeiramente um digno herdeiro do
legado dos Belmont! Então sorriu com dificuldade, pensando que tinha conseguido
evitar a devastação da terra e a dominação do mundo pelas trevas.
Ele ainda estava arfando de cansaço, com o corpo completamente coberto de ferimentos,
sangue e suor, quando viu uma estranha luz esverdeada, tal fogo-fátuo, brilhando no
canto do salão coberto de sombra.

runo ore yes

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