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Projeto livro

Personagens: Feallan (protagonista)

Deofol (antagonista)

Eva (romantic interest)

Pacifico (mercenário)

Petrus (mercenário)

Aldrich (rei)

Heortland (reino)
prefácio

A neve caía vagarosa no penhasco. Feallan se encontrava de joelhos, a neve


pousando em seus cabelos longos e vermelhos, difíceis de diferenciar de
suas roupas cobertas de sangue. Cada inspiração tomada por ele era um
sacrifício, devido ao ar gelado que cortava seu rosto combinado com as
fraturas em algumas de suas costelas. Em suas mãos, uma adaga. Este
pequeno instrumento de morte parece inofensivo comparado às armas que
geralmente empunhava, mas somente ela fora capaz de lhe causar tanto
dano ao longo desses anos.

“Como ele pôde fazer isso?” Feallan repetia estas palavras sem parar em sua
mente, tomado em um certo tipo de transe que não permitia que deixasse de
fitar a arma. Após uma inspirada cheia de dores e sons que um corpo
saudável não deveria fazer, um longo desvio de seu olhar, ele olha para o céu
de inverno, com intenção de que esta seja a última vez. Com a mesma adaga
que fez seu mundo cair ao seus pés, Feallan se preparou para acabar com
sua vida, apontando-a para sua traqueia. “Eva, eu sinto muito, não consegui
te proteger.” Um adeus final foi tudo que sua energia lhe permitia dizer,
enquanto lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. O sol pálido era um
dos mais belos que já havia visto, apesar de não oferecer nenhum calor ou
conforto diante a crueldade da neve, que ainda caía em seu rosto e cabelo,
de uma forma pacífica e lenta, coisas que Feallan não poderia mais sentir, ao
menos não depois do que aconteceu.

De maneira semelhante à neve, uma criatura se aproximou da beira do


penhasco, na direção dele. Não era possível distinguir quem ou o que era,
devido à neblina que cobria o lugar. Feallan tirou sua atenção do ato que iria
cometer, focado em quem poderia ser que viria o atormentar. Gradualmente,
uma imagem se formou em meio à névoa, revelando uma criatura grotesca,
que se arrastava em sua direção. Sua forma possuía traços remetentes a
humanos, mas de humano não havia nada. Tinha quase 3 metros de altura,
com braços compridos que se arrastavam no chão, deixando um rastro na
neve. Sua cabeça não passava de diversos olhos, que constantemente
mudavam sua direção, e em seu peito, em meio à sua pele semelhante a
couro, dura e lisa como borracha, havia uma grande boca, constantemente
aberta, com dentes podres à vista. Em sua mão direita, deixando um rastro
de sangue na neve, havia uma perna feminina.

A cena da criatura segurando o que restara de uma mulher foi suficiente


para tirar Feallan de seu transe. Eva continuava em sua mente, com a perna
na mão da criatura servindo como um lembrete constante de seu
sofrimento. Seus olhos agora arregalados e focados na criatura sem ao
menos piscar uma vez, ele se levantou, quase se esquecendo de seus cortes
e costelas quebradas, e segurou a adaga em suas mãos de maneira a fazê-las
sangrarem, devido à força com a qual a empunhava. A boca da criatura se
moveu da maneira a emitir algum tipo de som, enquanto se aproximava de
Feallan. Após alguns esforços, uma única palavra conseguiu ser
compreendida pelo homem ferido.

“Perse-guido...” Isto foi suficiente para que ele fosse capaz de ignorar tudo
o que estava sentindo em seu corpo. Eva desapareceu de seus pensamentos,
com a imagem da criatura e de Deafol ecoando em sua mente. Ele foi o
responsável pelo que ocorreu com Feallan, não a adaga, e muito menos ele
mesmo. Sua respiração se tornava ofegante, seus cabelos jaziam caídos por
seu rosto e seus ombros sem nenhum jeito ou beleza. Apenas com uma
armadura quebrada e uma adaga, Feallan se arremessou na direção da
criatura, completamente guiado por sua fúria. Ao mesmo tempo em que ele
obteve distância o suficiente para realizar um ataque, os muitos olhos da
criatura o fitaram todos de uma vez, e seu braço longo foi em direção ao
peito de Feallan, usando a perna da pobre mulher como um porrete, esta que
quebrou em duas partes ao arremessá-lo com o impacto.

Ele acordou após um segundo ou dois, com uma dor inimaginável em suas
costelas que, se antes estavam trincadas, se quebraram em diversos
lugares. Como ele poderia lutar contra algo assim? A força, velocidade e
tempo de reação do monstro eram sobremaneira maiores a de um humano
comum. Entretanto, Feallan levantou-se, movido por seus sentimentos,
enquanto sangue escorria do canto de sua boca, e viu a criatura mascando o
que restou da perna humana enquanto o observava. Com um dedo do pé
caindo de sua cabeça, ele removeu sua armadura, que estava atrapalhando
ao invés de ajudá-lo, e assim ficou mais leve. Talvez dessa maneira possa
reagir aos golpes da criatura a tempo, pensou.

Com mais uma investida, a criatura tentou realizar o mesmo ataque, porém
desta vez Feallan estava preparado. Desviou para baixo do braço da
criatura, utilizando a diferença de tamanho em sua vantagem, se esquivou
até chegar a centímetros de distância do monstro e enterrou a adaga em um
de seus olhos. Com um rugido de dor, o monstro agarrou Feallan por seu
torso, que por sua vez gritou de dor devido às suas costelas. Porém, nesse
ponto a dor apenas aumentava a ira de Feallan e sua vontade de matar o
monstro à sua frente. Com o braço que segurava a adaga, removeu-a do olho
da criatura e começou a esfaqueá-lo em todo o seu rosto, com selvageria e
desespero.

O monstro então soltou-o, e com suas mãos, passou a segurar seu rosto,
urrando de dor por seus olhos mutilados. Agora coberto por inteiro de
sangue e restos de olhos, Feallan correu para trás do monstro, cravando sua
adaga, agora quase cega, na pele grossa e borrachuda do monstro, fazendo
um corte longitudinal por toda a sua coluna, quase dividindo-o em dois, e
espirrando sangue por todo o seu rosto, corpo e na neve ao seu redor. Após
um último grunhido de dor, a criatura tombou na neve, que agora derretia e
se tornava fumaça com o calor do sangue e dos corpos em contato com ela.
Feallan observou a criatura, a primeira que havia matado, e então perdeu a
força e caiu ao chão, vendo apenas um homem e uma criança se aproximando
antes de perder a consciência.
Capítulo 1

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