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capítulo quinze

A con ança na riqueza versus a


riqueza na con ança
niarsiem
snol ol LUCAS16.1-31
Lucas 16 começa (vv. 1-8) e termina (vv. 19-31) com parábolas, embora
nenhuma seja expressamente identi cada como tal. As duas parábolas co-
mecam com a mesma fórmula: "Havia um certo homem rico" (ARC), e as
duaslidamn com o tema da riqueza. A primeira mostra como a riqueza pode
serusada para o bem-estar do indivíduo, e a segunda como a riqueza pode
pavimentar o caminho para o desastre.' Entre as duas parábolas é incluída
umasérie de ditos sucintos sobre a delidade em relação ao dinheiro" (vw.
10-12, TEB) e aos senhores (v. 13), a onisciência de Deus do coração humano
(. 14,15),o signi cado duradouro da lei (vv, 16,17)e o divórcio eo novo
casamento (v. 18). Esses ditos não são especi camente sobre riqueza, em-
bora todos eles compartilhem o tema geral de delidade e lealdade. Os ditos
intervenientes não são totalmente sem conexão com as duas parábolas, pois
osversículos9-13 são anexados como interpretações da primeira parábola
(wv.1-8); e os versículos 14-18 antecipam de forma um tanto menos óbvia a
segundaparábola (vv. 19-31). Todoo material do capítulo 16, com a exceção
dosversículos 13,16-18, é único a Lucas ou a sua fonte especial. Lucas coloca
asima economia em um pacote editorial com outras lealdades primárias da
vidahumana todas de nidas pelo tema de alcance da con ança. Lucas 16
ensinaque a riqueza e as posses, como as lealdades aos senhores, cônjuges e
àTorá,têm seu lugar correto na vida e cumprem seu propósito quando são
subservientes à soberania e ao serviço de Deus.

APARÁBOLA DO ADMINISTRADOR ASTUTO (16.1-13)

A parábola conhecida como o administrador desonesto (vv. 1-8) apre-


sentaum desa o único porque ela começa com um senhor despedindo o

Schlatter,
' Likas,p.363.
O versículo13 (par. Mt 6.24); os versículos 16 e 17 (par. Mt 11.12,13; 5.18); o
Versículo18 (par. Mt 19,9; Mc 10.11,12).
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administrador por desonestidade, contudo, termina com o senhorelogiando


o administrador por um ato maior de desonestidade (v. 8; gt. adikia,"'injus
tiça"). Um conjunto desconcertante de propostas são desenvolvidaspara
explicar a parábola, algumas das quais são tão engenhosas quanto o próprio
administrador astuto.' As di culdades interpretativas se relacionam comtrês
problemas. Primeiro e mais óbvio, por que o senhor elogia oadministrador
injusto (v. 8)? Em conjunção com isso, será que é possível que oadministra-
dor, conforme argumentam alguns intérpretes modernos, não fosseumvilão,
mas um herói pelo menos um tipo inferior de herói?Segundo,otermo
grego kyrios (v. 8) podia se referir ao homem rico da parábola ou aJesus-
mas refere-se a qual dos dois? Terceiro, nesse ponto, a parábola termina ea
interpretação de Jesus (ou Lucas) começa? Cada uma dessas perguntasserá
discutida na exposiçāo a seguir.
1-9 A audiência de Jesus não é mais de fariseus (cap. 15), mas de "dis-
cípulos" (v. 1) e continuará assim ao longo do versículo 13. Não menosque
seis parábolas em Lucas começam com "um certo homem rico" (ARC),três
delas literalmente (12.16; 16.1,19) e três a rmam de forma semelhante(10.30;
14.16; 19.12). O homem rico nessa parábola nãoé relevante em simesmo,
mas só em relação ao seu papel de "mordomo` (v 1, ARC; gr. oikonomo;NVI
administrador"). Lucas mencionou o cargo de oikonomos antes em 12.42,43e
fez ali duas observações essenciais para seu entendimento aqui. Umoikonomas
podia deter as responsabilidades de um administrador, gerente ousupervisor
dos bens, assuntos e outros servos do proprietário (12.42). Ainda assim,o
oikonomos podia ser um escravo, ainda que um servo com autorizaçãopara
agir em nome de seu senhor (12.42,43).*Os leitores cuja concepção deservo,
ou escravo, é formada pela instituição da escravidão nos Estados Unidos
podem se surpreender ao car sabendo que era possível con ar ao servoou
escravo essas responsabilidades. Os servos em Israel não foram reduzidosà

Bovon, Lukas 15,1–19,27, p. 66-70, enumera cerca de 175 livros,monogra ase


artigos de estudiosos (à parte dos comnentários) em sua bibliogra a para16.19.
Igualmente notável, J. A. Bengel, cuja obra vigorosa, Gnomon of theNewTestament,
raramente devota mais de um parágrafo conciso a um versículo, mas devotaum
total sem precedentes de cinco páginas aos versículos 8 e 9 (Gnomon,2:144-49).
*Essa descrição de oikonomos vale para o terceiro evangelho, mas o uso dePauloda
mesma palavra, embora às vezes descrevendo um servO autorizado (Gl 4.2),em
outras passagens parece se referir a um administrador que era ou um cidadão0u
um homem livre (Rm 16.23). Sobre o termo, veja Str-B 2:193, 217-18; O.Michel,
oikonomos, TIVNT5:151-55.
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io absoluta de bens móveis nem à servidão praticamente similar à dos


categoria,
cava aa escravidāo
imaisque tipi cava norte-americana. Levítico 25.40 resume
arogrageral que governava a escravidão em Isracl: os servos tinham de ser
trabalhadores
tados como trai contratados e eram obrigados a prestar seis

nosdeserviço. O trtratamento dos escravos não hebraicos era mais desola-


hebraicos, mas todos os escravos israclitas tinham
dorque o dos escravos
lo de parte de seu tempo pessoal. Em Isracl, os escravos não
ontrolegarantido
nobrigados a banhar e vestir seus senhores, embora fossem obrigados a
eram
nilos demuitas outras maneiras, incluindo a preparaçāo dos alimentos. A
se
oiordiferençada escravidão
malo
norte-americana era que os escravos da região
aditerråneano séculoI-e isso inclui tanto a escravidão greco-tomana
aunto a judaica podiam cumprir funções pro ssionais na medicina,
sucaçãoe administração de negócios. Incluídos nessa última categoria,
stavamos escravos que serviam como representantes autorizados de seu
serhoradministrando seus bens, negócios, transações, propriedade e pessoal.
Arelevânciana parábola do administrador el e sensato, introduzida em
1242,43,é sinlizada pelas três repetições do detentor do cargo (oikonomos,
138) e pelas quatro repetições do próprio cargo (aikonomia, vv. 2,3,4;
ikınomein,v. 2).° A ênfase no cargo de administrador é essencial para o en-
tendimentode sua má administração, enfatizada de forma ainda mais enfática
naparábola.Em uma análise atenta, o administrador é "acusado" (v. 1; gr.
ibali) de "desperdiļçar" (v 1;gr. diakorpizein) asposses do seu senhor. Os
detalhes
não precisam ser relatados, pois o comportamento escandaloso do
Aihomaisjovem em 15.13, também caracterizado pelo diaskorpizein, transmite
ograudamá administração do administrador. O administrador, convocado

Sobeaescravidãoem Israel, veja Str-B 4/2:698-744; Fitzmyer, LIke (X-XXIV),


p1097-98.Catão, o Velho (234-149 a.C), descreve as obrigações e quali cações
deum administrador de fazenda desta maneria: "Ele tem de mostrar boa admi-
nistração.Os dias de festa tinham de ser observados. Ele tem de tirar as mãos
dosbensdo outro e preservar de forma diligente os seus bens. Tem de resolver
sdisputasentre os escravos. [..] Não pode fazer empréstimo para ninguém sem
1ordemdo senhor e tem de recolher os empréstimos feitos pelo senhor. Não
podeemprestara ninguém sementes, forragens, espelta, vinho ou óleo. Ele tem
deterduas ou três familias de quem empresta e para quem empresta. Tem de
prestarconta a0 senhor com frequência. [..] Não pode fazer nenhuma compra
Sem
conhecimentodo senhor nem manter algo escondido do senhor" (Cato and
IanOnAgricaihure(rad. W. Hooper e H. Ash; Cambridge: Harvard University
Iress,1934),p. 13-15; citado de Vinson, Luke, p. 520).
DOlon,Lukas 15,1--19,27, p. 75, também observa a repetiçāo enfática de oikonomos.
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a prestar conta de sua conduta, é demitido do serviço (v. 2). Aperguntad


senhor: Que é isso que estou ouvindo a seu respeito?" (. 2),aparcceem
formas variantes em Atos 14.15 (também em Gn 12,18;20.9;42.28),emcada
caso implicando a credibilidade da acusação. A intimação domestre:"Preste
contas da sua administração` (v. 2), não precisa estar restrita a "entregaros
livros contábeis"." A expressão grega, apodidonai(ton)logon,signi caemgeral,
no Novo Testamento e na literatura cristā primitiva, "prestar contas"ou
explicar algo. O senhor sabe que o administrador não temfundamento
no qual se apoiar e o demite com rapidez.
O administrador nāo se defende, mas “disse a si mesmo" (eþenenheanto,v.

3). A expressão en beantö, que ocorre perto de doze vezes emLucas,refere-se


aos monólogos interiores que levam à ação decisiva." Aqui aexpressãosigní-
ca cair na real".O administrador examina suasopçôesquemingam."Meu
senhor está me despedindo. Que farei? Para cavar não tenho força etenho
vergonha de mendigar [.]" (v. 3). O tempo presente desse ditopermiteaos
leitores/ouvintes espreitem momentancamente as refexõesdesesperadasdo
administrador.° A isso segue-se imediatamente um explosivo gnôn(v.4;forma
aorista): Já sei o que vou fazer"; ou: Acaba de me ocorrer"O otimismo
logo dissipa o desespero inicial do administrador. Ele, uma vezdespedido
pelo senhor, usará o que lhe trouxe problema para tirá-lo do problema!Ele
imagina uma estratégia de recuperaçāo para ganho próprio (v. 4) quetrapaceia
seu senhor reduzindo os valores que os devedores devem ao senhor (r.5-8).
O administrador chama cada um dos devedores e pergunta quantode-
vem. É provável que o administrador tenha uma boa ideia do quecadaum
deles deve, mas exigir que os devedores declarem o montante exatodevido
e, a seguir, falsi car a conta na presença deles, os devedores passam a ser
cúmplices na fraude, garantindo assim a obrigação deles com o administra-
dor no futuro, 2 Um devedor deve cem potes de azeite" (v6). Umpoteera
uma medida hebraica para líquidos equivalendo a 34 litros ou novegalões.

Veja Bailey,Jesusthrongh Middle Eastern Eyes,p. 335, que enfatiza demaisesseponto


em sua discussão da parábola.
8 Mateus 12.36; Atos 19.40; Romanos 14.12; Hebreus 13.17; 1Pedro 3.15; 4.5;
Josefo, Ant. 16.120; Justino, Diálogo com Trião, 116.1. Veja Str-B 2:218; BDAG, P.
600; Bovon, Lukas 15, 1–19,27, p. 76.
1.29 (D); 7.30,39; 11.38 (D); 12.17,32 (D); 15.17; 16.3; 18.4,9,11.
1° Gr. aphairetai é voz média na forma, mas ativa no sentido (BDAG, p. 154).
11 Veja Bock, Luke 9:51-24:53, p. 1329.
12Veja Bock, Lake 9:51-24:53, p. 1329; Green, Luke, p. 45.
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Cem
botes,portanto, era cerca de 900 galões de azeite, valendo mais do que
ano. "Tome a sua conta, sente-se depressae escreva cinquen-
endade um an
dena o administrador. Outro devedor deve "cem coros de trigo" (v. 7,
a Coopodia ser uma medida para líquidos (1Rs 5.25[111) ou, com mais
nčncia, uma medida hebraica para produtos secos. Essa medida, como
nrodutos secos, equivalia a 350 a 400 litros ou de dez a doze alqueires,
imadamente, 120 alqueires no versículo 7," A conta do devedor é
oluyidaem um quinto passando para oitenta coros. Essa quantia de trigo
slamaisque cinquenta potes de azeite, provavelmente somando o salário
bsárosanos. Essas medidas hebraicas, que não são convertidas para as
gotidaspadrãogrega (xsta) ou romana (sexstari), atestam a origem helbraica
issaparábola.A "conta" (gr. ta grammata) refere-se à nota promissória com
aloralteradoou título de dívida.
Naparábola, o administrador falha em cada teste na execução de seu
ago Umúnicogolpe verbal, adikia (v. 8) "desonesto, injusto, iníquo"
Sumeseu comportamento. Não é de surpreender que os leitores da parábola,
etalveztenha sido menos surpreendente para a audiência original de Lucas,
posadepravação de escravos e servos (preconceito) era bem conhecida no
mundogreco-tomano.4 O que é uma total surpresa é o fato de o "senhor
dgjaro administrador desonesto por agir astutamente" (v. 8, tradução do
ator,. O que merece elogio, perguntamos, e quemo está elogiando? Em
reaçioà segunda pergunta, alguns estudiosos concluem a parábola no ver-
stalo7, com a interpretação de Jesus começando no versículo 8. Caso isso
stejacorreto, então o "senhor" no versículo 8 (gr. kyrios) refere-se a Jesus,
erâoa0senhor na parábola. 5 No entanto, terminar a parábola no versículo

'Esesnúmerossão tirados de BDAG,p. 171, 560; Fitzmyer, Luke (X-XXIV), p.


10.1101;Bock, Luke 9:51-24:53, p. 1330-31; HALOT 1:496. A Str-B 2:218,
combaseemJosefo, Ant. 8.57, calcula que um coro equivale a 39 litros: cem coros,
portanto,estaria perto de 1.050 galões.
"K.Bradley,
SlavesandMasters in the Roman Empire (Oxford: University Press, 1987),
p27-35;M. Beavis, “Ancient Slavery as an Interpretative Context for the New
Testament
ServantParables, with Special Reference to the Unjust Steward (Luke
I61-8)",JBL 111/1 (1992), p. 38-43; F. Udoh, "The Tale of an Unrighteous Slave
(uke16:1-8[13)", JBL. 128/2 (2009), p. 315-24.
leaSchlatter,Likas, p. 365-66; Bultmann, The History of theSynoptic Tradition (ed.;
tNew York: Harper & Row, 1972), p. 175-76; Leaney, Luke, p. 220; Grundmann,
Lakasp. 318; Wolter, Lukasevangelium, p. 544.
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grega para "astutamente", phronimôs, só ocorre essa vez na Bíblia,embora


sua forma adjetiva caracterize o administrador el esensato[gr.
phronimod
em 12.42. Em toda literatura de sabedoria, esse mesmo adjetivoémantido
como o ideal de pessoa sensata e prudente. A "astúcia", não menosqueo
"elogio", é um louvor no versículo 8. O que é digno de elogio naastúciado
administrador? O administrador astucioso, a0 contrário dos " hos daluz"
que podem recuar em piedosa passividade em face da oposição,formaum
plano e age de acordo com ele. Quando toda esperança pareceperdida,ele
faz o que pode, mesmo que o pouco que pode fazer nãopareçamuito.Su
ação positiva o poupa da resignação e cinismo. O senhor, emcontrastecom
a parábola do homem rico que acumula riqueza sem pensar no futuro(12.16-
21), elogiao administrador, mesmo este sendo salafrário, porsua
sagacidade
em imaginar uma forma de prover para seu futuro usandoseu
recém-perdido
poder nanceiro. Ele é de fato um “ hlo] deste mundo", masémaisprudente
no planejamento do único futuro com o qual está preocupado queatipica
pessoa religiosa está em seu planejamento para seu futuro eterno comDeus"
A antiga objeção a essa interpretação é se Jesus elogiariaesseadministra-
dor. O Ocidente moderno talvez desaprove a astúcia comomanipuladoraou
enganadora, mas o mundo bíblico, como boa parte do Oriente Médioainda
hoje, frequentemente a admirava. Várias histórias do Antigo Testamento
elogiam pessoas injustas que agem com esperteza. Tamar (Gn 38),Raabe
(Js 2) e Judite (Jt 8-14) são todos elogiados por sua sagacidadeque ão é
moralmente menos dúbia que a do administrador. Abraão engana o faraóe
ca rico (Gn 12.1013.2); Rebeca engana Isaque e preserva alinhagemde
Israel (Gn 27); Jacó engana Labão e prospera (Gn 30.25-43); e osisraelitas
saqueiam os egípcios antes do êxodo (Ex 3.22). Absalão, em um complôigual
ao do administrador, consegue conquistar o coração de toda a Israclcortando
dívidas dos devedores de seu pai (2Sm 15.1-6). As respostas do próprioJesus
para as perguntas sobre sua autoridade (20.1-8), o pagamento deimpostos
a César (20.20-26) e a ressurreição (20.27-38) são manifestamente astutas
(embora não injustas). A interpretação da parábola do administradorastuto

25 O vocabulário precedente está em dívida com meu predecessor no Jamestown


College, dr. Harold Strandness (carta pessoal datada de 13 de janeiro de 1981).
Essa posição geral também é adotada por muitos estudiosos, incluindoSchweizer,
Lukas, p. 168; Matthewson, “Parable of the Unjust Steward", p. 40; Bovon,Lukas
15,1–19,27,p. 78; Klein, Lukasevangelium, p. 538.
24 O que Wolter, Lukasevangelium, p. 544, acha extremanmente improvável" é com
frequência atestado na Escritura.
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ssatradição. A cena, em termos


segueessa tradição.
modernos, é um gerente de nível
recém-despedido que lida de forma traiçocira com os devedores da
no piso principal da sede da corporação enquanto seu diretor está
empresa
h dadiretoriano andarde cima. Quando o diretor tomaconhecimento
oe aconteceu,ele diz em admirável descrença: "Tenho de dar o braço a
torcera v
avoCê, conseguiu transformar uma carta de demissão em promoção!"
Asegundametade do versículo 8 explica o clogio do senhor: "Pois os
Closdeste mundo são mais astutos no trato uns com os outros do que os
lhnsda luz'. E difcil saber com certeza quem faz esse pronunciamento.
Hlefavorece o pensamento do versículo 8a e, uma vez que Jesus só fala
ömalmenteno versículo 9, poderia vir do senhor na parábola. O versículo
,contudo,começa a interpretação da parábola, e as interpretações rara-
nentesãoincluídas nas parábolas de Jesus. A presença do termo grego boti
Docomeçodo versículo 8b sugere uma transiçāo explicativa semelhante a
IBá,
passagemem que Jesus explica a parábola do juiz injusto. A parábola,
ptconseguinte,parece terminar no versículo 8a. No meu entendimento, a
nterpretaçāo
da parábola por Jesus começa no versículo 8b, embora parece
queasvozes de Lucas, como narrador, e de Jesus estejam confundidas no
Tersículo8b, semelhante à frequente fusão das vozes do quarto evangelista
cdeJesus.
Quatrofrases nos versículos 8b-9 assinalam uma mudança essencial na
narrativa " hos deste mundo", * hos da luz", "riqueza deste mundo"
e"moradas eternas". Todas as quatro frases re etem um pano de fundo
semítico.Ocontraste entre as duas primeiras frases -eras ou éons con i-
tantes -era típico do judaísmoc do cristianismo primitivo,2 Esse contraste
éaplicadoà parábola. O administrador tratante mostra mais premeditação
(1428-32)e "habilidade para sobreviver em uma zona urbana" que os pró-
prosseguidoresde Jesus. Bengel vê no contraste entre os lhos da luz e os
hosdastrevas tanto uma defesa dos cristãos quanto uma admoestação a
des:"Os lhos da luz não se preocupam demais com as coisas deste mundo.
Nesequesito,os lhos deste mundo os superam com facilidade e recebem
daqueles
o elogio de superioridade; nem sempre os lhos da luz demonstram
intaprudência e vigilância nos assuntos espirituais (como os lhos deste
mundodemonstram em assuntos temporais". 27

*Fizmyer,Luke (X-XXIV, p. 1105.


do 12.36;1Tessalonicenses 5.5; Efésios 5.8; 1Enogue 108.11; 1QS 1.9; 2.16;
313,20;1QM 1.3,9,11,13.
"Bengel,Gromon, 2:147.
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Lucas 16.1-9 580

A interpretação de Jesus é introduzida no versículo 9: "Eu digo",aue


é enfático no grego." “Fazei-vos amigos com o Dinheiro enganadorpars
que, uma vez desaparecido este, esses amigos vos acolham nasmoradas
eternas" (v.9, TEB). A ênfase dessa exortação está em "vos"(heantoi),que
no gregoé colocado enfaticamente no começo dasentença. Aexortaçãode
Jesus, portanto, não é sobre o dinheiro por si mesmo, mas sobre o queos
discípulos fazem como dinheiro. A palavra gregapara"recebam"
(dechethai)
é usada ao longo de Lucas para assinalar o tema da hospitalidade,incluindo
a hospitalidade divina." O “Dinheiro enganador" (sentido iteral,"dinheiro
de injustiça'") é uma expressão hebraica que ocorre em 1Enoque63.10eem
uma forma variante, riqueza da iniquidade" em Cunrā (1QS 10.19;veja
também CD 6.15)," A expressão pode se referir ao dinheiroprocuradode
forma injusta, é claro, mas não deve car restrito apenas aesseentendimen-
to. Uma característica herdada dos seres humanos é colocar a con ançano
dinheiro no dinheiro e riqueza material. Aquele que con a emalgoque
não Deus rivaliza ou substitui Deus e, portanto, é injusto"
Esse entendimento é reforçado pcla etimologia da palavra dinheiro",
que quase com certeza deriva do termo hebraico aman (da qual seorigina
a palavra amém), signi cando "con ar em"" Jesus advertira antessobre
os perigos das posses materiais para os discípulos (14.33). As "riquezasda
injastiça" (ARC; grifo do autor) lembra o "administradordesonesto"grifo do
autor) imediatamente precedente no versículo 8, sugerindo que oscristãos
fazem amizade com o dinheiro como o administrador o fez. Quem sãoos
amigos"? O elo de amigos" com "moradas eternas" (v. 9) sugereseres
divinos, talvez anjos como defensores daqueles que fazem obras demiseri-
córdia e mostram generosidade nanceira." Isso é possível, emboratalvez
seja preferível um entendimento mais inclusivo de acordo com aimagemde

28 Veja Lagrange, Lu, p. 433-34; Klein, Lukaseangelium, p. 541; Rowe,EartyNarative


Christology, p. 156.
P 2.28; 9.5,48,53; 10.8,10; 16.4; 18.17.
S0 Edwards, Hebrew Gospel, p. 319; BDF $165. Jeremias, SprachedesLukasenanglums,
p. 232, caracteriza de justiça'" como um "semitisierende Genitivverbindung"
(genitivo semítico copulativo). Sobre "dinheiro, veja o excurso em Klein, L-
kasevangelium, p. 544.
S Plummer, Luke, p. 385; Bovon, Lukas 15, 1-19,27, p. 80.
*Veja Fitzmyer, Luke (X-XXIV,p. 1109; Wolter,Lukasevangeliunm,
p. 550.
3 Por exemplo, m. Abot 4.11: Aquele que realiza um preceito consegue para si
mesmo um advogado; mas aquele que comete uma transgressão consegue para
si mesmo um acusador". Veja Grundmann, Lukas, p. 321.
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581 Lucas 16.10-13

30. em que Deus conta as obras de misericórdia feitas para a menor de


323-30
criaturascomo obras
ob feitas para cle mesmo (por exemplo, Mt 25.40,45)."
uascr
entendimento antecipa o vocabulário e pensamento do versículo 10.
Esse
ma relação com 13.23-30 é sugerida pelas expressões paralelas "vocés,
his un
nticam o mal" (13.27) e "riquezas da injustiça" (v.9, ARC). A palavra
que
regapara "moradas
"m eternas" (skēnas; grifo do autor) pode signi car ou uma
b terrenaou o tabernáculo de Deus no deserto. Os doissentidospodem
ten
eablicadosao versículo 9, dependendo de como o indivíduo lida com as
ser
igezas da injustiça" (ARC). Con ar no dinheiro atrai a pessoa para a tenda
orcna (eterna)". Essa expressão é um oximoro, pois uma tenda, como o
inheiro,não é eterna. Contudo, o dinheiro con ado a Deus leva o indivíduo
aumh"tabernáculo", pois o dinheiro terreno é usado para propósitos eternos.
Asim,os discípulos, como o administrador astuto, têm de usar seu raciocínio
eiqueza de maneiras que agradem e sirvam a Deus, pois eles, ao fazerem
iss0,serão recebidos no tabernáculo eterno de Deus, em vez de nas tendas
terrenas transitórias dos devedores, 35
10-13Å parábola do administrador astuto, Lucas anexa mais dois ditos
sobreo dinheiro, um sobre a delidade e outro sobre servir a dois senhores.
"Ouemé el no pouco, tambémé el no muito, e quem é desonesto no
pouco,também é desonesto no muito" (v. 10). Essa é uma máxima sobre
oaráter. O caráter não é determinado por algo externo a si mesmo, como
unarecompensa, mas é uma disposição única e consistente, independen-
tementede recompensa. Muitas vezes é di cil julgar a importância de um
dadoassunto. O que pode parecer importante na época pode se mostrar de
poucaimportảncia depois e vice-versa. O caráter dá atenção aos assuntos na
proporçãodo mérito deles, e não em sua recompensa potencial. O versículo
10éuma máxima abrangente que não é de surpreender que fosse lembrada
erepetidano cristianismo primitivo (2Clem 8.5,6; Ireneu, Haer. 2.56.1). Uma
midrasb
judaica sobre Exodo 3.1 cita uma máxima similar: Moisés e Davi fo-
tamfheisno pastoreamento das ovelhas, e Deus, por conseguinte, os tornou
pastoressobre seu povo.
Apalavrapara desonesto" (v. 10; gr. adikos) é da mesma raiz que a palavra
"injustiça" (ARC) nos versículos 8 e 9 (gr. adikia;, NVI "desonesto", v.
8'deste mundo", v. 9). Adikos, portanto, é uma palavra-chave que resume o

*Vejatambém Bovon, Lukas, 15,1–19,27, p. 80.


Plummer, Luke, p. 386.
*Ciadode Bock, Luke 9:51-24:53, p. 1335.
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Lucas 16.10-13 582

ensino sobre "riquezas da injustiça" (ARC) do versículo 9. "Asim, sevocés


não forem dignos de con ança em lidar com as riquezasdestemundoimpio
[gr. lit. dinheiro da injustiça'], quem con ará as verdadeirasriquezasavocés"
(v. 11). Observamos acima que o termo "dinheiro" derivadapalavra
hebraica
aman, "con ar em". Quando o versículo 11 é traduzido emhebraico,aconte
um triplo jogo de palavra com aman: "Assim, se vocés não foremdignosde
con ança Jheb. ne'amānim) em lidar com as riquezas [heb.mämonahdeste
mundo ímpio, quem con ará |heb. be'amin as verdadeirasriquezasavocis?"
Essa é uma evidência convincente de uma fonte hebraica doversículo11.0
argumento dos versículos 10-12 segue um gênero do "menor paraomaior"
que era amplamente usado na retórica da Antiguidade: se o indivíduo é el/
in el em assuntos menores, o indivíduo será el/in el nosassuntos
maiores.
A palavra grega para "verdadeiras riquezas" é um substantivo nosingulat,
"o verdadeiro [bem" (o aletbinon) que pode aludir de volta ao"eternas"no
versículo 9. Essa é a única ocorrência da palavra nessa forma emLucas,mas
ocorre nove vezes em João, sempre com referência à verdadedivinaouDeus
(por exemplo, Jo 7.28; 17.3). Se não é possível confar ao individuoasriquezas
terrenas, que estão aqui hoje e se vão amanhã, quem con aria a eseindividuo
a verdadeira riqueza eterna do reino de Deus? O versículo 12repeteamáxima
de forma um pouquinho diferente: "Se você não é digno decon ançacom
a propriedade de outra pessoa, que Ihe dará propriedade sua mesmo?" A
frase ao que é dos outros" é uma circunlocução para riquezas dainjustiça"
(ARC). As duas expressões se referem ao que nunca é do indivíduo eaoque
tem que inevitavelmente e sempre ser entregue ou perdido. A frase "o queé
de vocês", por contraste, refere-se à dádiva e herança de Deus que éeterna
e nunca pode ser perdida.
A interpretação da parábola termina no versículo 13 com um ditosobre
a impossibilidade de servir a dois senhores, ou seja, a multitarefa emassuntos
de interesse supremo. O indivíduo pode, é claro, servir a dois senhoresem
momentos diferentes ou em assuntos diferentes. Mas ao mesmo tempoe,em
especial, no mesmo assunto, não é possível servir a dois senhores aomesmo
tempo ou de forma igual. Tem de ser dada prioridade a um sobre o outro.

Dois manuscritos unciais (B [Vaticano], século IV; L, século VI) trazem"nosa


mesmo", sugerindo assim que a verdadeira riqueza pertence ao Pai e ao Filho
(ou a Jesus e aos discípulos (Schlatter, Lukas, p. 370]). Marcião supriu o pronome
"minba mesmo", sugerindo o próprio Jesus como a fonte de verdadeirariqueza.
Tanto a maioria da tradição do manuscrito quanto o contexto do dito, noentanto,
favorecem "sua mesmo". Veja Metzger, TCGNT, p. 140.
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583
Lucas 16.10-13

sm0S semíticos no versículo 13 (também em 14.26) de ódio por um


OsextremoS semítico
cnot outro, de
eamorporOutro, de devoção por um e desprezo por outro, representam a
ncia dadecisão à mão. A palavra grega para "dedicará" (v. 13;ante-
inportir
isigni "apegar-se,
ca forjarumaligaçãoforte",e
kataphronein
signi ca
lbsorezarou tratar com desprezo".O paralelismo do versículo 13 facilita
.nemorizaçãodo dito, o que explica sua repetição em Mateus 6.24, 2Cle-
wt8.5,6e em uma mistura de ditos semelhantes no Evangelbo de Tomé 47.
Tunbém
aparecemvariações dessa ideia no mundo helenista. 8 No versículo
hodinheiroé elevado à posição divina e posto em tensão com Deus. Essa
iuNatensãoque os discípulos não podem permitir. Quando a riquezae:
OSSES
COntrolama pessoa, esta perde até mesmo a astúcia dos ilhos deste
nundo"enão podem ser contadas entre os “ilhos da luz" (r. 8)," A única
nanciradas "riquezas da injustiça" serem colocadas em seu devido lugar é
prantirque só Deus é o Senhor e Mestre e transmitir esse senhorio usando
odinheiroe a riqueza no serviço de Deus.

TRÊSDITOS EM PREPARAÇÃO PARA A PARÁBOLA DO


HOMEMRICO E DE LÁZAR0 (16.14-18)

Amudança da audiência para os fariseus no versículo 14 sugere que


Lucaspretende que o material de 16.14-31 seja entendido como uma unida-
de
temática.®O tema todo de riqueza e posses continua ao longo de Lucas
l6,mas,na última metade do capítulo, o tema é considerado em relação aos
Éitiseus,
enquanto nos versículos 1-13é dirigido aos discípulos. A presente
unidade
consistede três ditos de Jesus- - uma advertência para os fariseus (vv.
1415),a
relevância duradoura da lei (vv. 16,17) e um dito sobre o divórcio (.
18)–queservem de prefácio para a parábola do homem rico e Lázaro (vv.
19.31).Os dois últimos ditos (vv. 16-18) aparecem em contextos diferentes
cmMateuse Marcos e podem derivar de fontes distintas. Eles não osten-
tamumaconexão orgânica com a parábola, embora similaridades temáticas

"Asentençasde Pitágoras 110, uma fonte grega do século l1, diz: “É impossível
Paraa uma mesma pessoa ser um amante bem-sucedido, o corpo e Deus. Pois
quemé bem-sucedido no amor, também amna o corpo. Mas quem ama o corpo
ambémama o dinheiro. Mas quem ama o dinheiro também é necessariamente
jsto. A pessoa injusta, no entanto, é unma ofensa contra a santidade de Deus
tasleisda humanidade". Citado de HCNT, p. 227. Ditos semelhantes ocorrem
em DiaoCrisóstomo, Disc. 66.13; Sêneca, Epistolas, 18.13.
"VejaSchweizer,Lukas, p. 170.
Vejaem 15.1-32, n. 1.
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Lucas 16.14,15 584

menores com a parábola possam explicar a inclusão por Lucas dosditos na

preparação para a parábola. As similaridades incluem o amor pelodinhem


compartilhado pelos fariseus (v. 14) e o homem rico da paribola(r. 19;:
"aquilo que tem muito valor entre os homens" (v. 15) e a luxúria dohomem
rico (v. 19); “detestável aos olhos de Deus" (v. 15) e a miséria dohomemricy

no Hades (. 23); e conhecimento da lei e dos profetascompartilhadopelrs


fariseus (vv. 16,17) e os irmãos do homem rico (. 29)."
14,15 "Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo issoeZomba-
vam de Jesus'" (v. 14). Há um jogo de palavras irônico aqui, poisosfariseus
em vez de usar "a riqueza deste mundo ímpio paraganhar amigos"( 9),
"amavam o dinheiro".2 A palavra grega para "zombar", ckmykiniin,sinaliza
mais que uma atitude. Essa palavra, com o sentido de mostrardesgosto"en-
rugando o nariz", expressa o ridículo fsico (23.35; SI 2.4; 22.7;35.16;1Clem
16.16), é usada com frequência na tradição de sabedoria paradescrevera
resposta do tolo contra o sábio ou do ímpio contra o justo."A criticaexaa
dos fariseus no versículo 15, como em outras passagensnoterceiroevangelho
(10.29; 18.9-14; 20.20; também Mt 23.28), diz respeito à posturareligiosa,
e também à atenção à aparência sobre a realidade. Tanto o termo "vocis"
quanto "Deus" (v. 15) são colocados no início de suasrespectivasorações,
enfatizando a postura dos fariseus versas a percepçāo de Deus dessapostura.
Os fariseus, no entanto, são percebidos (e querem ser percebidos),"Deus
conhece o coração de vocês", diz Jesus (v. 15). A onisciência de Deus do
coração humano é um refrão constante na Escritura," aquienfatizadapelo
termo ginõskin, a palavra grega mais forte para "conhecer". Deus nãosóestá
ciente do coração humano, mas tem conhecimento intenso e íntimodele.
Jesus conclui a exposição dos fariseus com um vigoroso contrastehebraico
reminiscente dos "bem-aventurados" e "aiļs]" de 6.20-26: "Aquilo quetem
muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus" ( 15).Apalavra
grega para detestável", bdehygnma,como uma regra traduz o termohebraico
toevab no Antigo Testamento, a maldição mais forte na Bíblia hebraica,signi-
cando abominação' ou aborrecimento" #5 Plummer identi ca seusentido

Plummer, Luke, p. 390; Klein, ZLIkasevangelium,p. 551, 556.


2 Green, Luke, p. 601.
Wolter, Lukasevangelium,p. 553-54.
4 Provérbios 24,12, 1Samuel 16.7; 1Reis 8.39; 1Crônicas 28.9; 2Crônicas 5.12;
1Tessalonicenses 2.4.
5 W. Foerster, bdelyssomaietc., TWNT1:598-600.
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Lucas 16.14,15
585

mo aquiloque "cheira muito mal"-mau cheiro". Seesse for


forma um jogo de palavra com ekmyktinizein (NVI “zombando'") no
l 14:os fariseus demonstram desagrado comJesus,enrugando o
Culo14:
p2sDeus demonstra seu desagrado com a grande pretensāo deles. É
pAz,mas
aa importância desse contraste: o que é natural para a huma-
hilexagerar
Jademesmo que seja nobre, pode ser detestável às narinas de Deus. Não
Eonhum indício aqui de uma centelha divina na humanidade que re ita a
lzeternadeDeus. Os caminhos de Deus estão tão distantesdas incinações
humanas
quanto os caminhos do pai estão dos caminhos de seus dois lhos
hu
611-32),Esse Deus não pode ser conhecido por intermédio da intuição
a
l nalogiahumanas, mas só na revelação de si mesmo de JesusCristo. Se
Deusnãoé conhecido em Jesus Cristo ele não é conhecido.
O rersículo 14 é a única circunstâância no Novo Testamento em que os
iiseussão explicitamente acusados de avareza, na verdade, "constante"
iantontes).Na tradição cristã posterior, a avareza é considerada um dos sete
ncadosmortais. Talvez esse pecado parecesse mais apropriado aos saduceus
(eaem20.27), que supervisionavamo templo de Jerusalém que, além de seu
popósitosagrado, funcionava como uma importante instituição nanceira
dojudaismo." Os saduceus pertenciam à aristocracia rica e, de acordo com
6rabis,“usavam copos de prata e ouro a vida tod".* Os fariseus (veja
51),de acordo com Josefo (Ant. 18.12), observavam, em contraposição,
um"padrāode vida simples, não fazendo concessões ao luxo". A principal
aracteristicadeles, mais uma vez de acordo com Josefo, não era a ganância,
a"exatidão" ou rigor" (gr. akribeia,,. W. 2.162) na interpretação da
Torá,uma característica que, aos olhos de Jesus e do cristianismo primitivo,
KSultava
na ênfase nas minúcias. Os fariseus foram acusados de "coa[r um
mosquito
e englir] um camelo" (Mt 23.24), de ter aparência enganadora-
deimpa(r o exterior do copo", mas não seu interior (Mt 23.25; Lc 11.39)
cde"caiat|" os sepulcros (Mt 23.27,28; Lc 11.44). Essa última crític:
special,forma a base da crítica de Jesus aos fariseus no versículo 15. Paulo
sferese depois à mesma faceta como "zelo [que] não se baseia no conhe-

*Lik, p. 388.
"I.W Manson,TbeSayingsofJesus (London: SCM, 1964), p. 295-301, suspeita que
ssaacusação foi originalmente dirigida aos saduceus. Marshall, Lukz p. 625,
tambémreconhece a adequabilidade da acusação aos saduceus.
LFeldman(citarndo rabi Nathan) em Josefo, Ant. (LCL, vol. 9; Cambridge: Har-
vad University Press, 1969), p. 10, n. b.
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Lucas 16.16,17 586

cimento" (Rm 10.2)." O amor pelo dinheiro aparecenoscatálogos


cristãos
primitivos de vícios (2Tm 3.2; Didaqué 3.5), a "raiz de todos osmales"(1Tm
6.10).5° A única referência aos fariseus como amantes de inheiro estásem
dúvida incluída aqui em conexão com as referências precedentesaoamora0
dinheiro injusto (vv. 9-13). Por que Lucas acusa os fariseus deavarezanão ca
logo claro. Talvez seja relevante o fato de que em Israel a riquezaeramuitas
vezes considerada como uma recompensa pela justiça (Gn 13.2;1Rs3.13;SI
112.3; Pv 10.3). Talvez no rigor com que os fariseus buscavamaretidãona
Torá pode ter sido igualada pela astúcia também àprosperidadematerial.Se
esse for o caso, os fariseus do século I não eram os únicos. Aganâncianunca
está distante da prática da religião em qualquer era. E evidente quehojeestá
presente não só no evangelho estúpido de "saúde e riqueza", mastambém
nos meios mais sutis, como a tentação de alterar a proclamaçāo doevangelho
para aumentar o apoio popular e nanceiro, ou na inveja dealgunspastores
do prestígio e remuneração nanceira de suas contrapartes pro ssionaisno
direito, medicina e negócios.
16,17 A parábola do homem rico e Lázaro seguirianaturalmenteaté
esse ponto, mas Lucas em vez disso, inclui mais dois ditosdominicais.1lOs
versículos 16 e 17 fazem a transição da riqueza e fachada religiosa para a
questão da relevância da "Lei e [dļos Profetas" em relação ao evangelh. "A
Leie os Profetas foram e cazes até João. Desse tempo em dianteestãosendo
pregadas as boas-novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar suaentrada
nele" (v. 16; tradução do autor). Esse versículo passou a ser a locomotiva
para a celebrada tese de Hans Conzelmann de que Lucas-Atos dosApósto-
los dividem a história da salvação em três estágios: as eras de Israel,Jesuse
a igreja. Conzelmann designou João Batista para a primeira dessas eras*0
versículo 16, no entanto, menciona apenas duas eras, a da "Lei e Profetas"e
a do evangelho'", que reaparecem no m do terceiro evangelho emrelação
ao Jesus ressurreto para o testemunho da Lei e dos Profetas para elemesmo

9 Str-B 4/1:334-52; também Schürer, History of JewisbPeople,2:381-414,486-87.


50
julgamento de que o dinheiro é a raiz de todos os males não é único ao
cristianismo, mas também é atestado nas fontes grecO-romanas. Veja Wolter,
Lkasevangelium, p. 553.
3Um ponto apresentado por Wolter,Lukasevangelium,p. 554.
S2 Conzelmann, TheTbeology of Saint Luke (trad. G. Buswell; New York: Harper,1960).
O esquema em três partes de Conzelmann é demonstrado nas páginas 16-17;sua
colocação de João Batista na página 161. Também G. Stanton, TheGaspelsandesus
(2nd ed.; COxford: University Press, 2002), p. 183, 211-13.
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587 Lucas 16.16,17

Messias (24.27,44)." Quanto à colocação de João Batista no escopo


Como
históriada salvação, Lucas-Atos dos Apóstolos é ambíguo. Alguns textos
scem designar João para uma era anterior (4.21;7.28; At 10.37?)e outros
parece
ascra do evangelho (1.76;3.2; At 10.37?;13.23-25).Oversiculo 16refete
ambiguidade, dependendo se é entendido que apo tote ("desde então")
CSsa
oli ouinclui João." João em Lucas-Atos dos Apóstolos, tomadocomoum
exc
nd, éuma gura essencial e transicional entre a promessa do evangelho em

Isaeleseu cumprimento em Jesus.João, portanto, não pode serdesignado


sngnaspara a era de Israel. Há mais um problema com o entendimento de
Conzelman da "Lei e os Profetas" em termos de cronologia, ou seja, uma
inocahistórica coextensiva com a história de Israel precedendo o advento

sParauma discussão e defesa do esquema de Conzelmann, veja Fitzmyer, Luke


-X),p. 181-87; para uma crítica, veja P. Mincar, "Luke's Use of the Birth Sto-
dies",em Keck e Martyn, cds., Studies in Luke-Acts, p. 111-30. Com base em 16.16
e24.27,44, parece viável uma ampla divisão de uma era de Israel e uma era do
evangelhoem Lucas-Atos dos Apóstolos, mas em nenhum momento Lucas-Atos
dos Apóstolos identi cam as três eras da história da salvação com tanta clareza
oude modo tão necessário quanto Conzelmann as identi ca, nem João é inequi-
vOCamentedesignado para a era de lsrael. A rejeição de Conzelmann de Lucas
1-2 como original ao terceiro evarngelho o faz descartar o importante testemu-
nhode João Batista na narrativa lucana da infância de Jesus. O exCurso em 2.52
argumentaque a narrativa da infância faz uma séria contribuição para a teologia
lucanae introduz temas importantes que são subsequentemente desenvolvidos
noterceiro evangelho e em Atos dos Apóstolos. Na narrativa da infância, João
1.76),junto com Jesus (1.32), pertence claramente à era inaugural da salvação, fato
con rmado em Atos 10.37,38; 13.23-25. Em relação às segunda e terceira eras de
Conzelmann,é possível tomar a repetição de Lucas da frase "completando-se os
das" (ARC; gr. en tõ syngplêrousthai tas bëmera), que ocorre apenas em 9.51 e Atos
21,com referência à ascensão de Jesus, inaugurando assim a "era da igreja" (veja
discussãoem 9.51). No entanto, é preciso tero cuidado de conceberessas eras"
emtermos exclusivos, pois importantes temas teológicos lucanos, como o Espírito
Santo,o perdão dos pecados e a promessa de salvação (entre muitos outros), são
comunsao longo da história da salvaçāo. Com relação à interpretação particular
deConzelmann de 16.16, a crítica de Minear merece consideraçāo: "Raramente
um estudioso dá tanto peso a uma interpretação tão dúbia de umna expressão
atnbuidaa Cristo tão di cil. [.] Esse versículo alcança uma posição bem singular
amente invulnerável e refratária de Conzelmann" (bid., p. 122).
"Apassagemparalela em Mateus 11.12 designa claramente João à era do evangelho.
TambémBovon, Lukas 15,1-19,27, p. 99, e Fitzmyer, Luke (X-XKIV), p 1115-16;
Schweizer,Lukas, p. 171, argumenta decididamente em favor de Joào pertencer
àera do evangelho.
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Lucas 16.16,17 588

de Jesus. Em cada um de seus nove usos em Lucas-Atos dosApóstolos,a


expressāo "Lei e os Profetas" designa um corpo de literaturajudaicasapr
da, o Antigo Testamento, e não uma época histórica(16.16,29,31;
24.27,44
At 13.15; 24.14; 26.22; 28.23).57 O esquema da história dasalvaçãodetés
partes de Conzelmann, por conseguinte, não pode serdeterminanteparı
o entendimento do versículo 16. A frase a Lei e os Profetasprofetizaram
até João' (v. 16) é mais bem entendida com o sentido de que oconteúdoa
pregação de João era um resumo da Lei e dos Profetas que, é claro,incluíam
as expectativas messiânicas. João viveu na era messiânica ou doevangelho,
com certeza, mas sua pregação representava um entendimento doAntigo
Testamento da frase.
João e os fariseus, portanto, seguem a cstrutura teológica da "Li eos
Profetas", A proclamação do “Reino de Deus" não surge comJoão,mas
com Jesus, para quem o “Reino de Deus" (veja 4.43) é o temadominantede
sua proclamação e ministério, em como de seus discipulos (9.2; 10.1). "As
boas-novas do Reino de Deus estão sendo pregadas, e todos tentamforçar
lgr. biazetai) sua entrada nele" («. 16; tradução do autor). O termobiqalai(.
16), uma forma média/passiva, signi ca “forçar a si mesmo" (voz méia)
ou "ser forçado" (voz passiva). O sentido deste mundo no versículo16é
controverso ao longo da história da igreja."3 O judaísmo rabínicoensinava
que determinados comportamentos podiam catalisar e até mesmoapressar
o advento da era messiânica. Esses comportamentos eram em geral atos
de justiça, como o arrependimento: "Se os israelitas searrependessempor
apenas um dia", disse o rabi Levi (c. 300), "seriam redimidos de imediatoe
o Filho de Davi [= Messias] viria". Não é de surpreender que tenhamsido
feitas tentativas de forçar o advento do Messias por meio do fervormilitante,
contra o que os rabis advertiam." Ainda hoje, as visões sionistasextremas
-tanto judaicas quanto cristās – de destruir o Domo daRocha,emJeru-
salém, e reconstruir o templo em seu lugar repete esse zelo mal dirigido. O
versículo 16 não apoia essa hermenêutica veemente. O termobiazetaiémais
bem entendida na voz passiva, que na voz média, pois um entendimento na

56 Ireneu, Haer. 4.4.2, também entendia que o versículo 16 signi ca uma quebra na
época entre João e Jesus: A lei originada com Moisés é terminada comJoão".
$7O uso da expressão a "Lei [ou Moisés] e os Profetas" por Lucas também é re e-
tido na literatura intertestamental (incluindo Cunrā). Veja os textos reunidos e a
discussão perceptiva em Wolter, Lukasevangelium, p. 555.
S8Códice Sinaítico () omite "e todos tentam forçar sua entrada nele".
59 Veja o material reunido em Str-B 1:599,
fl
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Lucas 16.16,17

589
imediatamente precedenteenangelizetai,
boas-novas do Reino de Deus, e todos tentam
oingtornao termo paralel,
passivatorn-
"estãosendoprgadasas
do autor). Uma traduçãona voz passivatambém
danele"(grifodo; antiga da passagem, uma das primeiras
raduçãosiríacamais
com todas as traduções parao grego debiazesthai
auncoda
com wega como um todo. Em outras palavras, “forçar"
odöcs
pataolati
fazem. O versículo 16 nãoé sobre impulsionar o
LAXenaliteraty
aspessoasfa; favor de Deus, as promessas que representam
oéalgoquea par: o fav
do
minho indivíduo
do emse trata de resoluções ou obra pretendidas para merecer o
indivio
todas aspessoas pelo
e Ésobrealgofetoparaaspessoas-
brigo,nem
ororde rsículo 16, por conseguinte, é conceitualmente paralelo à
Deus.Esobre
or redentor de Deus"obrigla" aspessoasem todo lugar
AangelhoO
ino AproclamaçãodagraçapródigadeDeus convida- não
Asgem1423:0
onttarnoreino. Aas
proclam
pessoas a entrar no reino. A proclamação do reino é
nUE?
Nem torça divina,dinfatigabilidade
a deDeus- Como
xpressâda persistênc Con-
do banquete 4.16-23) e o pai dos dois lhos (15.11-32) –-
solicitando e incitando as pess0as a entrarem no reino.
antinâo
o
jdando,
Oque pesperando,
ermaneo de a Lei e os rofetas" com o advento da era do evan-
tituídos e suplantados pelo cumprimento do evangelho?
elho?Elessão substi nossucessivosestágios,oudispensações,
conceitodesalvação desvela
históric discutidos acima, pode sugerir isso.O versículo 17, no entanto.
mantém
avalidadeda Lei na era do "evangelho" (ARA), a "promessa"
"É mais fácil os céus e a terradesapareceremdo
aerado “cumprimento'
mecairdaLei o menor traço" (cf. Mt 5.18). A oração de consagração de
slomãonaconclusão do templo em Jerusalém declarava que nem uma"
ds
promessasde Deus caria sem se cumprir (1Rs 8.56); Jesus declara que
"aem)omenor keraia" falhará. Keraia signi ca "o mnenor traço, ou seja,
Emumtraçode tinta da lei falhará. Marcião, o heresiarca do século II, que
lkntou
purgaro evangelho dos clementos e in uências judaicos substituiu
ninhas
palavras" pora lei", retendo assimJesus e dispensando Israel. Esse
cumsetoentendimento equivocado da teologia de Lucas (veja excurso em

p
Aesquisa
de I. Ramelli, Luke 16:16: The Good News of God's Kingdom Is
ncd andEveryonelsForcedinto I', /BL 127/4(2008),p.737-58,apre-
buporte de nitivo para uma tradução debiagetaina voz passıva:"Notodo da
Bbla,biazomem apenasumsentidopassivoouintenso,.. masnuncacarrega
s0entido
de ir pela força". | [Na verdade,em] em toda aliteraturagrega, com
basena minha
Pesquisacompleta em todoo TLG, biazõsigni ca "forço, cometo
iolëncia";|
biazomai signi ca "sou forçado (p. 746-47).
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Lucas 16.18 590

9.51). Lucas sobretudo na narrativa da infåncia, mas tambémnatipolo


gia Elias-Eliseu dos capítulos 79ena ênfaserecorrenteemJerusalém
em
todo o evangelho lembra os leitores que "a Lei e osProfetas"fornecem
o pretexto co contexto indispensáveis para o evangelho. Israel é a"raiz"que
sustenta, para usar a metáfora de Paulo (Rm 11.18), da qual a oliveiracresce
e que sustenta a árvore.° O contraste extravagante entre "os céus e a terra"
"menor traço" (gr. keraia) de uma letra hebraica na"ILeie osProfets'
expressa a questão na hipérbole hebraica. O surgimento doevangelhonão
sinaliza o "cair" (gr. piptein) da lei. " A “Lei e os Profetas"sãomais
duráveis
que o universo sico. Eles são a pressuposição e a promessa doevangelho,
que é o cumprimento deles.
18 Sabemos que o casamento e o divórcio eram questõescontestadas
na época de Jesus. Sabemos também que Jesus defendia um padrãodeca-
samento que, ao nosso conhecimento, nenhum rabi judeu defendia.Nãoé
de surpreender que Lucas inclua o ensino de Jesus sobre essaquestãoem
particular no versículo 18 como um exemplo da validadeduradouradalei.O
casamento é tratado ao longo do Novo Testamento (16.18; Mt 5.32;19.18;
Mc 10.11,12; 1Co 7.10,11; Ef 5.21-33; 1Pe 3.1-7), e o testemunhodoNovo
Testamento forma a base para o entendimento cristão do casamentona
igreja primitiva (Justino, 1Apol. 1.15.1-4; Herm. Man. 4.1.6).Jesusnãode-
clara sua vontade a respeito do casamento com base em Deuteronômio
24.1-4, o texto-prova aceito pelos rabis a respeito do asunto," mascombase
na criação da humanidade como homem e mulher em Gênesis 1--2. Em
outras palavras, a percepção de Jesus do casamento, expressa de formamais
completa em Marcos 10.1-12, não é fundamentada na lei mosaica, mas na
vontade de Deus conforme ordenada na criação.4 No versículo 18,Lucascita
apenas uma porção da tradição mais extensa preservada por Marcos:"Quem
se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo
adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada estarácome-
tendo adultério." Jesus, fundamentando seu ensinamento emGênesis 1--2e
referindo-se expressamente ao homem e à mulher no versículo 18, de neo

6 Para uma metáfora paulina diferente ilustrando a mesma ideia, veja a imagem de
paidagögosem Gálatas 3.24.
02 Sobre as várias maneiras em que a lei e os profetas continuam válidos, veja Bock,
Luke 9:51-24:53, p. 1355.
d Veja D. Instone-Brewer, "Deuteronomy 24:1-4 and the Origin of theJewish
Divorce Certi cate", JJS 49 (1998), p. 230-43.
4 Veja Edwards, Mark, p. 297-305.
fi
fi
fi
591
Lucas 16.18

ato Comouma relação envolvendo um homem e uma mulher, e não


vsS0asdo mesmo sexo. Deuteronômio 24.1-4 garante livremente ao
dans
pessoas
ho direito de se divorciar de sua esposa fundamentado em "alguma
homem
andecente"(TB). O sentido literal da palavra hebraica original por trás
alecente",eroth,é "nudez" ou 'exposição", que no mundo hebraico era
Gnalde desgraça" ou indecência". Os rabis se declaravam notoriamente
oneltodasvárias áreas de indecência, alguns admitiam apenas o adultério
nomotivopara o divórcio e outros admitiam praticamente tudo que desa-
ase aomarido. Todos eles, no entanto, concordavam que o divórcio era
vel.Essaescala de permissividade, sem dúvida, resultava em divórcio,
aheaindaem divórcio frequente, na Palestina do século I.
Opronunciamentoin exível do versículo 18, por conseguinte, era único
ptenpodeJesus. O versículo 18, ao contrário de Marcos, não trata da pos-
shilidade
deuma mulher se divorciar de um homem. O judaísmo considerava
mgeralqueo adultério cometido pelo homem era uma ofensa contra o pai
maridoda mulher, e não contra a própria mulher; enquanto o adultério
ametidopor uma mulher era considerado uma ofensa contra o marido da
mulher.As terceiras partes são omitidas do versículo 18, sugerindo que o
attérioéuma ofensa contra a própria mulher. O dito lucano nào condena
odiórcioperse, o que não é de surpreender em vista do ensinamento de
lsusem 14.26 e 18.29. A ênfase no versículo 18 está na verdade no novo
Csamento
queresulta em adultério. O dito preservado por Lucas concorda
oum
Paulo,o qual, de acordo com a tradição, foi o mentor de Lucas. Em
ICorintios7.10,11, Paulo declara que as pessoas casadas têm de permane-
CaSadas,
tr masse um homem ou uma mulher tiver de se divorciar, os dois
devem
permanecer solteiros ou se reconciliar com seu cônjuge original, mas
todevemsecasarde novo. Paulo introduz essa ideia acima ao declarar que
Saopiniãoé fundamentada no mandamento do "Senhor" (1 Co 7.10). O
tandamentodo Senhor no qual se fundamenta o julgamento de Paulo é,
tm
esséncia,o mesmo do versículo 18, a saber, que Jesus admitia o divórcio
m
casOs
extremos, mas que o novo casamento tinha de ser evitado." Lucas
třalo,portanto, concordam que Jesus se recusou a conceber o casamento,
ünoofaziamos rabis, fundamentado na sua possível dissolução. Para Jesus,
Onomeme a mulher, no casamento, passavam a ser "uma só carne (Gn
),0 qualsepretendia que fosse permanentee indissolúvel. A Lei e os

Soreaconcordância de Lucas e Paulo sobre esse assunto, veja M. Hengel, Saint


ar Tu
Underestinmated
Apostle (Grand Rapids: Eerdmans, 2010), p. 113.
fl

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