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UNEF – UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DE FEIRA DE SANTANA

LEIDNA DA SILVA SANTOS

RESUMO DO FILME MISSISIPI EM CHAMAS

O filme se baseia numa história real. Em 1964, dois agentes do FBI são enviados
ao Estado do Mississipi para investigarem a desaparição de três ativistas (dois brancos e
um negro) do movimento pelos direitos civis. A suspeita do governo federal dos EUA é
de que a organização racista Ku-Klux-Klan tenha organizado.
Mississipi em Chamas, realizado em 1988, trata do assassinato de três ativistas
(um deles negro) e dos direitos humanos no Sul dos Estados Unidos por remanescentes
da KKK na década de sessenta. As vítimas são jovens militantes: suas mortes agitam a
imaginação do povo, e o governo federal é obrigado a intervir. O FBI é convocado para
conduzir as investigações através da pele de Willem Dafoe, auxiliado por um agente
local, personificado por Gene Hackman, que conhece bem a região. O primeiro conflito
estabelecido é o daquele velho chavão da cooperação entre dois policiais
completamente diferentes que tem de se suportar até cada um descobrir o valor do outro
e passarem a colaborar efetivamente. Dafoe é o policial certinho e acadêmico que busca
resolver tudo através da mais estrita legalidade e da utilização de aparato técnico e
científico. Hackman é o típico matuto, conhecedor da sua terra e da sua gente.
Indiferente a todo o aparato, ele vai recolhendo informações através de conversas
informais nos bares e nas ruas até que, em um salão de cabeleireiros, conhece uma
mulher que depois descobre ser esposa de um dos principais líderes racistas. O segundo
conflito fica sendo, então, o interesse amoroso entre o policial durão e charmoso e
aquela mulher submissa que tem medo de se libertar daquela vida. O conflito maior,
logicamente, é o da luta entre os policiais "bonzinhos" que defendem a Justiça contra os
malvados KKK que atacam os negros.
Apresentados os personagens, reconhecidos os conflitos, faz-se necessário o
ponto de virada, aquele que dá uma guinada geral para toda a história e a leva para o
final. Dafoe finalmente reconhece que seus métodos não levam a nada, e fica revoltado
com a surra que a mulher recebe do marido quando este desconfia de que ela está
passando informações para a polícia. Passa o bastão das investigações para Hackman
que, afinal, usa o aparato do FBI para pressionar de forma dura os bandidos e fazer com
que caiam em armadilhas não muito legais. Será que é muito difícil prever o final?
Mississipi em Chamas é um filme muito bom: a direção é forte e segura, o
roteiro é bem escrito e emocionante, os atores são espetaculares. Parker conduz muito
bem a trama e, para realçar o sadismo dos racistas, recheia o filme de cenas de
violência. O espectador chega a ter ódio dos brancos racistas. Porém, é esta a questão
que eu gostaria de ressaltar: este é um filme antirracista? E a resposta é: sim e não. Se,
por um lado, é uma contundente denúncia das atrocidades racistas, por outro a forma
como ele realiza esta denúncia é, em si mesma racista. Em primeiro lugar, a ação se
passa no começo da década de sessenta, e é interessante observar o que o filme não
mostra: o início dos grandes processos de mobilização negra que já estavam eclodindo
em todos os Estados Unidos. Os negros de Parker são uma massa amorfa e sem
personalidade, que sofre quieta, com pouquíssimas reações e sem resultado. A
investigação, portanto, é conduzida e concluída por brancos de uma entidade
governamental, o FBI, que, conforme sabemos, nunca primou exatamente pela
resolução de conflitos sociais.
Mas o que me parece mais claro é o momento de revolta do jovem policial
idealista interpretado por Dafoe. Depois de passar dias e dias observando os negros
sendo discriminados, espancados, suas igrejas sendo queimadas, enforcamentos
assinados com a tradicional cruz em chamas enterrada de ponta-cabeça no chão, ele só
percebe realmente o quanto o mundo é cruel quando uma mulher branca é espancada
pelo marido. Caem, nesse momento, as últimas ilusões do protagonista, mas também, as
expectativas do público quanto à mensagem de Parker, que substitui um racismo do tipo
"olha como o negro é inferior, devendo ser maltratado" pelo tipo paternalista que diz
"olha como uma parte dos brancos é malvada e como os negros são vítimas e, portanto,
devem ser protegidos".

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