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Bibliografia.
ISBN 978-85-7975-090-8
eISBN 978-85-7975-113-4
13-11716 CDD-333.714
Índices para catálogo sistemático:
1. Impacto ambiental : Avaliação : Economia
333.714
Importantes adições foram feitas ao Cap. 13. Suas seções foram mantidas, mas
conteúdo foi acrescentado a todas elas, como novos exemplos de mitigação,
uma comparação internacional sobre medidas compensatórias e uma
atualização sobre boas práticas em reassentamento de populações humanas,
entre outras mudanças.
De volta a São Paulo, após o doutorado, havia boa demanda para estudos de
impacto ambiental e, felizmente, pude logo começar a trabalhar no ramo.
Como meu interesse era mais voltado para a vida acadêmica, enviei um
trabalho baseado em minha tese para um simpósio organizado pelo Professor
Sérgio Médici de Eston, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
em agosto de 1989. Na sequência, veio um convite para ministrar algumas
aulas em uma nova disciplina que o Departamento de Engenharia de Minas
havia criado para os quintoanistas. Coincidentemente, abriu-se um concurso
para contratar um novo docente e, dez anos depois de me graduar na Poli,
voltei como professor e iniciei uma disciplina de pós-graduação sobre
Avaliação de Impacto Ambiental de Projetos de Mineração, em 1990.
Meu interesse por temas ambientais vinha desde a graduação – período que
também me possibilitou as primeiras experiências de convivência
multidisciplinar. Já no primeiro ano de universidade, ingressei no CEU –
Centro Excursionista Universitário –, onde estudantes de todas as áreas se
reuniam para fazer caminhadas, escaladas, mergulhos e visitar cavernas. Para
alguns adeptos do excursionismo, a atividade implicava mais que recreação e
demandava uma verdadeira interpretação da natureza. Logo notei que isso
ainda era insuficiente: os belos lugares que frequentávamos eram cada vez
mais assediados por interesses econômicos – imobiliários, turísticos,
minerários –, cujos impactos iam se evidenciando.
Nessa época, notei que a Engenharia era insuficiente para lidar com a natureza
e a sociedade, e fui buscar na Geografia um complemento indispensável. No
início dos anos 1980, depois de me formar em Engenharia de Minas e
enquanto fazia a graduação em Geografia, a avaliação de impacto ambiental
surgiu como um assunto promissor para quem quisesse se dedicar ao então
restrito campo de trabalho do planejamento e gestão ambiental.
Outra motivação para este livro viria com a aproximação de uma disciplina de
graduação, iniciada em 2006. Mais uma vez, eu teria de pensar em métodos
diferentes de ensino. Seria muito bom ter uma apostila completa, mas um livro
seria muito melhor. Os amigos já me diziam isso havia anos. Sem me
consultar, Rozely Ferreira dos Santos furtivamente entregou um exemplar de
uma versão da apostila para Shoshana Signer, que havia fundado uma editora
(a Oficina de Textos) e que se interessou pelo tema, decidindo publicá-lo. A
partir de então, não pude mais fugir da responsabilidade. Dei minha palavra
de que entregaria um texto completo, mas negociei vários meses de prazo.
Com esta breve história de meu envolvimento pessoal, quero dizer que a
avaliação de impacto ambiental é um tema fascinante, que reúne trabalho de
campo com o emprego de sofisticadas ferramentas computacionais, engloba a
conversa com o cidadão comum, a negociação privada com interesses
econômicos e o debate público. O profissional da avaliação de impacto
ambiental só terá sucesso se for capaz de dialogar com profissionais
especializados, ao mesmo tempo que cultiva a multidisciplinaridade.
Por duas vezes, a equipe da Oficina de Textos foi compreensiva com minha
demora na resolução de algumas pendências.
Finalmente, Miles Davis, John Coltrane e Charlie Haden, entre outros, deram
uma bela mãozinha quando sequer havia projeto de livro e eu apenas escrevia
minha tese de doutorado.
Sumário
CAPÍTULO UM
CONCEITOS E DEFINIÇÕES
1.1 Ambiente
1.2 Cultura e patrimônio cultural
1.3 Poluição
1.4 Degradação ambiental
1.5 Impacto ambiental
1.6 Aspecto ambiental
1.7 Processos ambientais
1.8 Avaliação de impacto ambiental
1.9 Recuperação ambiental
1.10 Síntese
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
ETAPA DE TRIAGEM
5.1 O que é impacto significativo?
5.2 Critérios e procedimentos de triagem
5.3 Estudos preliminares em algumas jurisdições selecionadas
5.4 Síntese
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
ETAPAS DO PLANEJAMENTO E DA ELABORAÇÃO DE UM ESTUDO DE IMPACTO
AMBIENTAL
CAPÍTULO OITO
IDENTIFICAÇÃO DE IMPACTOS
8.1 Formulando hipóteses
8.2 Identificação das causas: ações ou atividades humanas
8.3 Descrição das consequências: aspectos e impactos ambientais
8.4 Ferramentas
8.5 Impactos cumulativos
8.6 Coerência e integração
8.7 Síntese
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
PREVISÃO DE IMPACTOS
10.1 Planejar a previsão de impactos
10.2 Indicadores de impactos
10.3 Métodos de previsão de impactos
10.4 Incertezas e erros de previsão
10.5 Síntese
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
16.1 A ampliação da noção de direitos humanos
16.2 Os vários graus de participação pública
16.3 Objetivos da consulta pública
16.4 A consulta pública oficial
16.5 Procedimentos de consulta pública em algumas jurisdições
16.6 A consulta pública do empreendedor
16.7 A consulta aos povos indígenas
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
1
Os diversos ramos da ciência desenvolveram terminologia própria,
procurando dar às palavras um significado o mais exato possível, eliminar
ambiguidades e reduzir a margem para interpretações de significado. A gestão
ambiental, ao contrário, utiliza vários termos do vocabulário comum. Palavras
como “impacto”, “avaliação” e mesmo a própria palavra “ambiente” ou o
termo “meio ambiente” não foram cunhadas propositadamente para expressar
algum conceito preciso, mas apropriadas do vernáculo, e fazem parte do
jargão dos profissionais desse campo. Por essa razão, é preciso estabelecer,
com a maior clareza possível, o que se entende por expressões como “impacto
ambiental” e “degradação ambiental”, entre outras. Neste capítulo, serão
apresentadas definições de vários termos correntes no campo de planejamento
e gestão ambiental e empregados seguidamente neste livro. Essa revisão
conceitual tem o propósito de, em primeiro lugar, mostrar a diversidade de
acepções, mesmo entre especialistas, e, em segundo lugar, estabelecer uma
base terminológica sólida que será empregada ao longo de todo o livro.
1.1 AMBIENTE
O conceito de “ambiente”, no campo do planejamento e gestão ambiental, é
amplo, multifacetado e maleável. Amplo porque pode incluir tanto a natureza
como a sociedade. Multifacetado porque pode ser apreendido sob diferentes
perspectivas. Maleável porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser
reduzido ou ampliado de acordo com as necessidades do analista ou os
interesses dos envolvidos.
Fig. 1.1 Parque Nacional Kakadu, situado nos Territórios Setentrionais, Austrália. No
plano médio, a mina de urânio Ranger e, ao fundo, escarpa arenítica onde cultuam-se
os espíritos sagrados dos aborígenes. Uma das principais dificuldades para aprovação
deste projeto foi seu impacto sobre os valores culturais da população aborígene
Definições legais muitas vezes acabam por se revelar tautológicas ou, então,
incompletas, a ponto do termo nem mesmo ser definido em muitas leis,
deixando eventuais questionamentos para a interpretação dos tribunais. O
caráter múltiplo do conceito de ambiente não só permite diferentes
interpretações, como se reflete em uma variedade de termos correlatos ao de
meio ambiente, oriundos de distintas disciplinas e cunhados em diferentes
momentos históricos. O desenvolvimento da ciência levou a um conhecimento
cada vez mais profundo da natureza, mas também produziu uma grande
especialização não somente dos cientistas, mas também dos profissionais
formados nas universidades. Por essa razão, o campo de trabalho do
planejamento e gestão ambiental requer equipes multidisciplinares (além de
profissionais capazes de integrar as contribuições dos vários especialistas).
As contribuições especializadas aos estudos ambientais são muitas vezes
divididas em três grandes grupos, referidos como o meio físico, o meio
biótico e o meio antrópico, cada um deles agrupando o conhecimento de
diversas disciplinas afins. Uma síntese das diferentes acepções do ambiente e
de termos descritivos de diferentes elementos, compartimentos ou funções é
mostrada na Fig. 1.2.
É nítido, então, que o conceito de ambiente oscila entre dois polos – o polo
fornecedor de recursos e o polo meio de vida, duas faces de uma só realidade.
Ambiente não se define “somente como um meio a defender, a proteger, ou
mesmo a conservar intacto, mas também como potencial de recursos que
permite renovar as formas materiais e sociais do desenvolvimento” (Godard,
1980, p. 7).
Para Theys (1993), que examinou várias classificações, tipologias e
definições de ambiente, há três diferentes maneiras de conceituá-lo: uma
concepção objetiva, uma subjetiva e outra que, na falta de melhor termo, o
autor denomina de tecnocêntrica. Na concepção objetiva, ambiente é
assimilado à ideia de natureza e pode ser descrito como: uma coleção de
objetos naturais em diferentes escalas (do pontual ao global) e níveis de
organização (do organismo à biosfera), e as relações entre eles (ciclos, fluxos,
redes, cadeias tróficas). Tal concepção pode ser vista como biocêntrica, uma
vez que nenhuma espécie tem mais importância que outra, e a própria
sociedade, em certa medida, pode ser analisada à luz desses conceitos, como
o fazem disciplinas como a Ecologia Humana (Morán, 1990).
A palavra “cultura” reflete uma noção muito vasta. Em certo sentido, tudo o
que faz o ser humano é cultura. Cultura pode ser entendida como o oposto ou o
complemento da natureza. Cientistas sociais falam em cultura técnica;
administradores, em cultura organizacional. Para se discutir “impacto
cultural”, é preciso ter uma definição operativa de cultura. Bosi (1994)
sintetiza o conceito de cultura como “herança de valores e objetos
compartilhada por um grupo humano relativamente coeso”. Morin e Kern
(1993, p. 60) a definem como:
Fig. 1.3 Procissão fluvial no rio Ribeira de Iguape, Iporanga. A imagem da santa é
trazida de barco até a sede municipal, onde a população aguarda às margens do rio. Os
locais de embarque e desembarque e o percurso são lugares de memória, de cuja
integridade depende a festividade
1.3 POLUIÇÃO
Em vários países, a incorporação de temas ambientais ao debate público deu-
se anos ou décadas após o tema ter acedido à agenda internacional. No Brasil,
as primeiras leis que explicitamente visavam à proteção ambiental (ou de uma
parcela dele) tratavam principalmente de problemas relativos à poluição. Dito
de outra forma, a partir do momento em que o conceito de ambiente foi
paulatinamente assimilado à ideia de meio de vida (e, portanto, de qualidade
de vida), e não mais somente como recurso natural, os problemas então
denominados ambientais foram assimilados à noção de poluição.
Tais definições legais são coerentes com o conceito de poluição então vigente
(e que continua atual) e veiculado internacionalmente pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 1974 (OECD,
1974)1:
Foi por razões como essas, ou seja, porque inúmeras atividades humanas
causam perturbações ambientais que não se reduzem à emissão de poluentes,
que o conceito de poluição foi sendo ora substituído, ora complementado pelo
conceito mais abrangente de impacto ambiental.
Fig. 1.5 Área degradada em Sudbury, Canadá. A chuva ácida resultante das emissões
de SO2 degradou a vegetação, com consequente perda de solo e degradação das águas.
A área era originalmente coberta por florestas de coníferas, mas foi sujeita a
exploração florestal desde o final do século XIX. Ao fundo, uma chaminé de 381 m de
altura tem o objetivo de diluir e dispersar os poluentes atmosféricos
1.5 IMPACTO AMBIENTAL
A locução “impacto ambiental” é encontrada com frequência na imprensa e no
dia a dia. No sentido comum, ela é, na maioria das vezes, associada a algum
dano à natureza, como a mortandade da fauna silvestre após o vazamento de
petróleo no mar ou em um rio, quando as imagens de aves totalmente negras
devido à camada de óleo que as recobre chocam (ou “impactam”) a opinião
pública. Nesse caso, trata-se, indubitavelmente, de um impacto ambiental
derivado de uma situação indesejada, que é o vazamento de uma matéria-
prima.
Embora essa acepção faça parte da noção de impacto ambiental, ela dá conta
de apenas uma parte do conceito. Na literatura técnica, há várias definições de
impacto ambiental, quase todas elas largamente concordantes quanto a seus
elementos básicos, embora formuladas de diferentes maneiras. Alguns
exemplos são:
A definição adotada por Wathern, na linha do que havia sido proposto por
Munn (1975, p. 22) tem a interessante característica de introduzir a dimensão
dinâmica dos processos do meio ambiente como base de entendimento das
alterações ambientais denominadas impactos (Fig. 1.6). Um exemplo de
aplicação desse conceito pode ser dado com a seguinte situação: suponha uma
determinada área ocupada por uma formação vegetal, que já foi, no passado,
alterada por ação do homem, com o corte seletivo de espécies arbóreas. O
estado atual da vegetação dessa área pode ser descrito com a ajuda de
diferentes indicadores, como a biomassa por hectare, a densidade de
indivíduos arbóreos de diâmetro acima de um determinado valor ou algum
índice de diversidade de espécies. Se a vegetação foi degradada por ação
antrópica no passado, mas não sofre hoje pressões desse tipo, provavelmente
estará em processo de regeneração natural, ou seja, tenderá, dentro de um
certo período (talvez da ordem de dezenas de anos), a voltar a uma situação
próxima à original ou à de clímax. A descrição da situação atual da área por
meio do uso de algum indicador pode sugerir que ela tenha pouca importância
ecológica – por abrigar poucos indivíduos arbóreos de grande porte, por
exemplo. Mas com o passar do tempo, a área deve estar em melhores
condições do que as atuais, abrigando árvores maiores e de maior
diversidade. De acordo com o conceito de Munn e Wathern, se um
empreendimento vier a derrubar a vegetação atual, seu impacto deveria ser
avaliado não comparando a possível situação futura (área sem vegetação) com
a atual, mas comparando duas situações futuras hipotéticas: aquela sem a
presença do empreendimento proposto com a situação decorrente de sua
implantação.
Embora a Fig. 1.6 sugira que os impactos ambientais possam ser medidos com
a ajuda de indicadores, na prática se enfrentam inúmeras dificuldades, pois
nem todos os impactos significativos são passíveis de descrição adequada por
meio de indicadores ou ainda a coleta de dados para mensuração pode ser
demasiado onerosa ou demorada. Um exemplo simples de indicador de
impacto é mostrado na Fig. 1.7, que ilustra as consequências da abertura de
estradas em ambientes florestados na Amazônia (Fig 1.8) sobre comunidades
de macroinvertebrados aquáticos. O estudo, realizado por Couceiro e Fonseca
(2009) em 19 riachos, mostrou que os trechos aquáticos situados a jusante das
estradas e que recebem sedimentos decorrentes da erosão acelerada
apresentam menor riqueza (menos de metade dos grupos taxonômicos) e menor
densidade de indivíduos (cerca de 20% daquela observada em trechos não
afetados pelas estradas). Um dos grupos mais afetados foi o dos insetos
fragmentadores de folhas, que tem papel importante no repasse de nutrientes
para outros organismos aquáticos. Um efeito não mensurado é a redução da
disponibilidade de alimento para organismos terrestres que vivem às margens
dos rios, já que a maioria dos insetos aquáticos com população reduzida pela
sedimentação é terrestre na fase adulta, sendo predada por aves, morcegos e
outros.
Uma outra definição de impacto ambiental é dada pela norma ISO 14.001:
2004 (versão atualizada da primeira norma ISO 14.001, de 1996). Segundo a
tradução oficial brasileira da norma internacional2, impacto ambiental é
“qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no
todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”
(item 3.4 da norma). É interessante conhecer o conceito de impacto ambiental
adotado por essa norma porque muitas empresas e outras organizações têm
adotado sistemas de gestão ambiental nela baseados. Sob esse ponto de vista,
impacto ambiental é uma consequência de “atividades, produtos ou serviços”
de uma organização; ou seja, um processo industrial (atividade), um
agrotóxico (produto) ou o transporte de uma mercadoria (serviço ou atividade)
são causas de modificações ambientais, ou impactos. Segundo essa definição,
impacto é qualquer modificação ambiental, independentemente de sua
importância, entendimento coerente com o de muitas outras definições de
impacto ambiental. Também as leis de diversos países procuraram definir o
que entendem por impacto ambiental. Na legislação portuguesa,
Na legislação finlandesa,
(a) uma mudança on-site ou off-site que o projeto possa causar no ambiente; (b) um
efeito da mudança sobre (i) o bem-estar das pessoas, flora, fauna e ecossistemas;
(ii) patrimônio físico e cultural; (iii) uma estrutura, sítio ou outra coisa que seja de
importância histórica ou arqueológica; (c) um efeito on-site ou off-site de quaisquer
das coisas referidas no parágrafo (b) das atividades desenvolvidas para o projeto; (d)
uma mudança do projeto que o ambiente possa causar, se a mudança ou efeito
ocorrer dentro ou fora do recinto do projeto.
Na legislação de Angola,
qualquer mudança do ambiente para melhor ou para pior, especialmente com efeitos
no ar, na água, no solo e subsolo, na biodiversidade, na saúde das pessoas e no
patrimônio cultural, resultante direta ou indiretamente de atividades humanas.
Esses impactos biofísicos são positivos porque tomados com referência a uma
situação pré-projeto (Fig. 1.6) que, nos dias de hoje, quase sempre representa
algum grau de alteração ambiental resultante de ações antrópicas passadas e
presentes. Projetada para o futuro, a situação ambiental pré-projeto tenderia a
manter-se ou a piorar, levando à conclusão de que os impactos do projeto de
coleta e tratamento de esgotos ou de substituição de combustível causará
determinados impactos positivos.
Um projeto típico trará diversas alterações, algumas negativas, outras
positivas, e isso deverá ser considerado quando se prepara um estudo de
impacto ambiental, mesmo que seja devido às consequências negativas que se
elabore esse estudo.
Pode-se, então, postular que o impacto ambiental pode ser causado por uma
ação humana que implique:
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo de:
supressão de componentes do ecossistema, como a vegetação;
destruição completa de hábitats (por exemplo, aterramento de um
manguezal);
destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo,
escavações para a construção de uma rodovia ou mineração);
supressão de elementos significativos do ambiente construído;
supressão de referências físicas à memória ou lugares de memória (por
exemplo, locais sagrados, como cemitérios, pontos de encontro de
membros de uma comunidade);
supressão de elementos ou componentes valorizados do ambiente (por
exemplo, cachoeiras, cavernas, paisagens notáveis).
Aspecto ambiental pode ser entendido como o mecanismo através do qual uma
ação humana causa um impacto ambiental. Exemplos desta cadeia de relações
são dados no Quadro 1.1.
Esse exemplo ilustra que ações como remoção de vegetação nativa também
afetam outros processos, além do processo erosivo. A infiltração de água no
solo é mais um dos processos modificados pela retirada de vegetação. Nesse
caso, o processo é retardado, ou seja, ao invés de se infiltrar e alimentar os
reservatórios subterrâneos, uma proporção maior da água de chuva escoa
superficialmente, aumentando o volume de água nos rios. Estudos realizados
na Amazônia pelos autores Barbosa e Fearnside (2000) mostraram que o
escoamento superficial aumentou quase três vezes em Roraima, onde a floresta
foi substituída por pastagem, e até 30 vezes em Rondônia, em situação similar.
Neste último caso, sob cobertura vegetal, apenas 2,2% da chuva escoava
superficialmente, mas, em áreas de pasto, o escoamento subiu para 49,8%.
Além de acelerar a erosão, o aumento do escoamento superficial acarreta
maior frequência e intensidade das inundações, outro processo do meio físico
modificado por ações humanas e particularmente intenso em regiões de
urbanização intensa, onde a impermeabilização do solo é a principal causa das
frequentes inundações. O assoreamento dos cursos d’água decorrente da
aceleração da erosão é não apenas um processo físico como tem efeitos
ecológicos mensuráveis, como exemplificado na Fig. 1.7.
Fontes: (1) Barbosa e Fearnside (2000); (2) Casseti (1995); (3) Weill e Sparovek
(2008); (4) Coppedê Jr. e Boechat (2002)
Fornasari Filho et al. (1992) apresentam uma lista de processos do meio físico
que usualmente são alterados por atividades humanas, alguns dos quais são
mostrados no Quadro 1.3, com alguns processos ecológicos. Além de
completar o quadro com dezenas de outros processos físicos e ecológicos, é
possível acrescentar também processos sociais, formando, dessa maneira, uma
base para o entendimento de como as atividades humanas afetam a dinâmica
ambiental. Um processo social frequentemente induzido por obras de
engenharia e outros projetos públicos e privados é a atração de pessoas em
busca de oportunidades de trabalho, verdadeiros fluxos migratórios postos em
marcha pelo mero anúncio de um grande projeto.
Para maior clareza, neste livro, AIA será sempre referida como esse exercício
prospectivo, antecipatório, prévio e preventivo. O outro significado será
entendido como a atividade de avaliação do dano ambiental. Uma preocupa-
se com o futuro, outra, com o passado e o presente. Ambas têm um
procedimento comum, que é a comparação entre duas situações: na avaliação
do dano ambiental, busca-se fazer a comparação entre a situação atual do
ambiente e aquela que se supõe ter existido em algum momento do passado.
Na avaliação de impacto ambiental, parte-se da descrição dessa situação atual
do ambiente para fazer uma projeção de sua situação futura com e sem o
projeto em análise. É claro que, em ambos os casos, é necessário o
conhecimento da situação atual do ambiente. Denomina-se diagnóstico
ambiental a descrição das condições ambientais existentes em determinada
área no momento presente. A abrangência e a profundidade do diagnóstico
ambiental dependerá dos objetivos e do escopo dos estudos.
1.10 SÍNTESE
Definir com clareza o significado dos termos que emprega é uma obrigação do
profissional ambiental. Esse profissional está sempre em contato com leigos e
técnicos das mais diversas áreas e especialidades. A comunicação é uma
necessidade indissociável da atuação profissional na área ambiental. Por outro
lado, estabelecer uma terminologia comum é obrigatório para uma
comunicação eficaz entre autor e leitor. Ao longo deste texto, serão adotados
os seguintes conceitos:
2
A avaliação de impacto ambiental (AIA) é um instrumento de política
ambiental adotado atualmente em inúmeras jurisdições – países, regiões ou
governos locais –, assim como por organizações internacionais – como bancos
de desenvolvimento – e por entidades privadas. É reconhecida em tratados
internacionais como um mecanismo potencialmente eficaz de prevenção do
dano ambiental e de promoção do desenvolvimento sustentável. Sua
formalização ocorreu pela primeira vez nos Estados Unidos, por intermédio de
uma lei aprovada pelo Congresso em 1969. A partir de então, a AIA
disseminou-se, alcançando hoje uma difusão mundial. Atualmente, cerca de
duas centenas de países incorporaram às suas legislações nacionais provisões
requerendo a avaliação prévia dos impactos ambientais. Somando-se os
procedimentos formais seguidos pelas agências bi e multilaterais de
desenvolvimento, pode-se afirmar que a AIA é hoje universalmente
empregada.
2.1 ORIGENS
A sistematização da avaliação de impacto ambiental como atividade
obrigatória, a ser realizada antes da tomada de certas decisões que possam
acarretar consequências ambientais negativas, ocorreu nos Estados Unidos em
decorrência da lei da política nacional do meio ambiente daquele país, a
National Environmental Policy Act, usualmente referida pela sigla NEPA.
Essa lei entrou em vigor no dia 1o de janeiro de 1970, requerendo de “todas as
agências do governo federal” (artigo 102 da lei):
Por outro lado, como a NEPA somente se aplica a ações do governo federal,
diversos Estados aprovaram suas próprias leis nos anos que se seguiram à
aprovação da NEPA. Atualmente há 17 Estados com “requisitos de
planejamento ambiental similares aos da NEPA”, sendo Califórnia,
Washington e Nova York reconhecidos como os mais avançados (Welles,
1997, p. 209).
O documento traz um anexo com uma lista de projetos e programas que mais
necessitam de avaliações ambientais. Atualmente, as principais agências de
cooperação têm listas próprias e procedimentos mais sofisticados para
enquadrar os projetos de assistência de acordo com o nível de detalhe da
avaliação ambiental necessária.
(a) Apoiar ativamente a adoção formal de uma política de avaliação ambiental para
suas atividades de assistência ao desenvolvimento;
(b) Examinar a adequação dos procedimentos e práticas atuais com relação à
implementação de tal política;
(c) Desenvolver, à luz deste exame e na medida necessária, procedimentos eficazes
para um processo de avaliação ambiental considerando, na medida do necessário, o
Anexo I;
[…]
(g) Assegurar a provisão de recursos humanos e financeiros para os países em
desenvolvimento que desejem melhorar sua capacitação para realizar avaliações
ambientais, considerando no todo ou em parte as medidas do Anexo II.
Artigo 4 - Obrigações
1. Todas as Partes, levando em conta suas responsabilidades comuns mas
diferenciadas e suas prioridades de desenvolvimento, objetivos e circunstâncias
específicas, nacionais e regionais, devem:
[…]
f) levar em conta, na medida do possível, os fatores relacionados com a mudança do
clima em suas políticas e medidas sociais, econômicas e ambientais pertinentes,
bem como empregar métodos adequados, tais como avaliações de impactos,
formulados e definidos nacionalmente, com vistas a minimizar os efeitos negativos
na economia, na saúde pública e na qualidade do meio ambiente, provocados por
projetos ou medidas aplicadas pelas Partes para mitigarem as mudanças do clima ou
a ela se adaptarem; […]
URGE às Partes que incluam, quando for relevante, nas avaliações de impacto
ambiental e nas avaliações ambientais estratégicas, a consideração mais completa
possível dos efeitos de impedimento à migração […], dos efeitos transfronteiriços
às espécies migratórias e dos impactos sobre os padrões migratórios.
O esforço rendeu poucos frutos, pois até 1983 a Ceca exerceu seu poder de
exigir um relatório de impacto ambiental somente duas vezes e, em ambos os
casos, com parcos resultados. Todavia, os profissionais comprometidos com a
AIA conseguiram pôr em prática, entre 1980 e 1983, um programa de
capacitação técnica, com a assistência do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, que incluiu intercâmbios internacionais e proveu uma sólida
formação acerca dos fundamentos e dos métodos de avaliação de impactos, a
ponto de dar ao grupo “um nível de visibilidade e competência que lhe rendeu
respeito e legitimidade” (Wandesforde-Smith e Moreira, 1985, p. 235). Esse
conhecimento teria importância capital alguns anos depois, quando os estudos
de impacto ambiental foram regulamentados no âmbito da legislação federal.
Segundo esse mesmo autor, que à época era presidente dessa sociedade, a
proposta encaminhada ao Congresso tinha o seguinte teor:
Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as
futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[…]
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental, estudo prévio de impacto
ambiental, a que se dará publicidade;
A partir de então, diversas constituições estaduais e leis orgânicas municipais
também adotaram o princípio, e o Estado do Rio de Janeiro aprovou uma lei
específica sobre AIA, de número 1.356/88.
Identificar e avaliar
impactos e riscos do
Conduzir um processo de
projeto
avaliação ambiental e
Adotar a hierarquia de
social
1. Avaliação e mitigação
Estabelecer um sistema
Gestão de Riscos e Promover e melhorar o
de gestão ambiental e
Impactos desempenho ambiental e
social
Socioambientais social dos clientes
Engajar as partes
Promover e prover meios
interessadas e divulgar
para o adequado
informações relevantes
engajamento das
comunidades
Promover tratamento
justo e não Fornecer informação
2. Trabalho e discriminatório aos documentada e
condições de trabalhadores compreensível sobre os
trabalho Promover condições direitos trabalhistas
seguras e salubres de
trabalho
Implementar medidas
técnica e
economicamente viáveis
Evitar ou minimizar
para melhorar a
3. Eficiência no uso impactos adversos sobre
eficiência no consumo de
de recursos e a saúde humana e o meio
energia, água e outros
prevenção da ambiente
recursos materiais
poluição Reduzir as emissões de
Evitar, minimizar ou
gases de efeito estufa
controlar a intensidade e
fluxo de cargas
poluidoras
Evitar ou minimizar o
potencial de exposição a
Antecipar e evitar
substâncias e materiais
impactos sobre a saúde
tóxicos
4. Saúde e segurança das comunidades
Colaborar com as
da comunidade afetadas em
comunidades e governos
circunstâncias rotineiras
locais na preparação
e não rotineiras
para resposta a
emergências
Devem ser consideradas
alternativas de projeto
para evitar ou minimizar
deslocamento
involuntário
Um mecanismo de
Evitar despejos forçados reclamação consistente
Evitar ou minimizar os com o padrão de
impactos sociais e desempenho 1 deve ser
5. Aquisição de econômicos da aquisição estabelecido o mais cedo
terras e de terras possível
reassentamento Melhorar ou restaurar os Quando houver
involuntário meios e os padrões de deslocamento físico,
vida das pessoas deve ser preparado um
deslocadas plano de reassentamento;
quando houver
deslocamento
econômico, deve ser
preparado um plano de
restauração dos meios de
vida
A identificação de
impactos e riscos deve
considerar as ameaças
relevantes à
6. Conservação de biodiversidade e aos
Proteger e conservar a
biodiversidade e serviços ecossistêmicos,
biodiversidade
gestão sustentável de especialmente perda,
Manter os benefícios dos
recursos naturais fragmentação e
serviços ecossistêmicos
vivos degradação de hábitats,
espécies invasoras,
mudanças hidrológicas,
carga de nutrientes e
poluição
Assegurar pleno respeito Devem ser identificadas
aos direitos humanos, todas as comunidades
dignidade, cultura e indígenas que possam ser
modos de vida baseados afetadas pelo projeto,
7. Povos indígenas em recursos naturais dos assim como a natureza e
povos indígenas o grau dos impactos
Assegurar consulta livre, econômicos, sociais,
prévia e informada das culturais e ambientais
comunidades afetadas diretos e indiretos
Proteger o patrimônio O sistema de gestão
cultural dos impactos ambiental e social deve
8. Patrimônio cultural
adversos decorrentes das incluir procedimentos
atividades do projeto e para tratar de achados
apoiar sua preservação fortuitos, que não devem
ser afetados antes de
prévia avaliação
Fonte: IFC (2012).
143 Federal Register 55.990, nov. 28, 1978. Um decreto de 1977 (Executive
Order 11.991) determinou que o CEQ adotasse um regulamento para
uniformizar os procedimentos de preparação e análise dos EISs. No sistema
norte-americano, os regulamentos (regulations) têm aplicação compulsória,
ao contrário das diretrizes (guidelines).
2Vários Estados americanos também adotaram legislações exigindo a
aplicação da avaliação de impacto ambiental para decisões no seu âmbito
jurisdicional, em alguns casos incidindo também sobre vários tipos de
projetos privados, como é o caso da Califórnia.
3Segundo Goodland (2000, p. 3), a categoria de “profissional ambiental” foi
então acrescida à lista oficial de especialidades, que antes enquadrava os
analistas ambientais como “outros especialistas técnicos”.
4A Agenda 21 é “um documento de normatividade reduzida, sem a
efetividade de uma declaração e muito menos de um tratado ou convenção
internacional” (Soares, 2003, p. 67).
5Várias convenções internacionais têm dispositivos de avaliação e
atualização, mediante a realização de reuniões periódicas oficiais de
representantes dos países, as conferências das partes contratantes.
6Robert Goodland fez seu doutorado sobre a ecologia do cerrado brasileiro
e foi coautor de Amazon Jungle: Green Hell to Red Desert?, publicado no
Brasil como A Selva Amazônica: do Inferno Verde ao Deserto Vermelho?, em
uma versão da qual foram suprimidas menções à atuação governamental e
seu papel na destruição da floresta amazônica. (Goodland e Irwin, 1975).
Mais tarde, esse ecólogo foi um dos primeiros profissionais da área
ambiental contratados pelo Banco Mundial quando da reformulação do
Departamento de Meio Ambiente, em 1989.
7Órgão governamental encarregado de zelar pela proteção ambiental, em
especial no que se refere ao controle da poluição. Foi criado em março de
1975 e substituído, em janeiro de 2009, pelo Instituto Estadual do Ambiente
(Inea), que também incorporou dois outros órgãos governamentais com
atribuições ambientais
QUADRO LEGAL
E
INSTITUCIONAL
DA AVALIAÇÃO
DE IMPACTO
AMBIENTAL NO
BRASIL
3
O Brasil tem hoje um complexo sistema institucional de gestão do meio
ambiente, regido por vasto aparelho legal. A legislação vigente foi criada em
diferentes momentos, sob distintos contextos sociais, políticos e econômicos.
Por essa razão, e porque toda norma legal representa um compromisso entre
interesses diversos e muitas vezes divergentes, é útil conhecer um pouco dessa
história legislativa. Embora se trate de um instrumento bastante inovador, a
AIA foi inserida em um contexto legal e institucional que a precedeu, de forma
que convém conhecer suas principais características para apreciar todo seu
alcance.
Isso não significa que inexistissem iniciativas a fim de disciplinar o uso dos
recursos naturais em território nacional. No final do século XVIII, a Coroa
portuguesa editou medidas para preservar madeiras de lei utilizadas na
construção naval, pois “as inspeções e relatórios indicam que não existia mais
madeira adequada por muitas léguas nas proximidades das vilas maiores”
(Dean, 1997, p. 152). É bem conhecido o Alvará do Rei Dom José, de 9 de
julho de 1760, que tenta conter a devastação dos mangues, empregados em
curtumes:
[…] sou servido ordenar que, da publicação desta em diante, se não cortem as
árvores dos mangues que não estiverem já descaídas, debaixo da pena de cinqüenta
mil réis, que será paga da cadeia, onde estarão os culpados por tempo de três meses,
dobrando-se as condenações e o tempo de prisão pelas reincidências […]
A derrubada das matas para dar lugar a uma agricultura incipiente era
percebida por intelectuais do final do período colonial e do Império como um
dos graves entraves ao desenvolvimento nacional (Pádua, 2002). Hoje o
processo seria descrito como a dilapidação do capital natural, sem que disso
resultasse o crescimento do capital econômico ou humano. A regulação do
acesso e do uso dos recursos naturais, dos quais o Brasil era rico, seria
essencial para colocar o País no rumo do desenvolvimento.
A regulamentação posta em prática no período getulista se deu pela
promulgação de diversos códigos, cada um estabelecendo critérios para o
aproveitamento econômico de um único recurso natural. Os principais
recursos naturais reconhecidos à época foram incluídos nesse conjunto de
leis1. Assim, os recursos hídricos, florestais, minerais e pesqueiros foram
objeto de regulamentação específica, definindo-se as modalidades e condições
de uso e apropriação por parte dos agentes econômicos. Ao mesmo tempo,
foram criadas ou reorganizadas as instituições governamentais encarregadas
de aplicar os dispositivos legais e, portanto, da gestão governamental desses
recursos.
Não é por coincidência que nesse período se promulga a primeira lei referente
à preservação do patrimônio histórico, arqueológico e artístico que, aliás,
também promove a conservação ambiental:
Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a
tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe
conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza
ou agenciados pela indústria humana.
(Art. 1º, par. 2º, Decreto-lei no 25, de 30/11/1937.)
Por outro lado, havia nessa época todo um contexto internacional que trouxe
pela primeira vez a questão ambiental para o rol das principais preocupações
da sociedade. Alguns países já haviam criado instituições governamentais
especializadas em problemas de poluição, como foi o caso dos Estados
Unidos, cuja Environmental Protection Agency (EPA) fora criada em 1970.
Dentre os eventos marcantes do período, deve-se mencionar a Conferência das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em 1972.
Foi bastante difundida a versão de que a posição da delegação brasileira
nessa conferência caracterizou-se por defender que, se a poluição era o preço
a pagar para o desenvolvimento, então o País receberia de braços abertos as
indústrias poluidoras. Porém, segundo Guimarães (1991), os representantes
oficiais argumentaram que o desenvolvimento não deveria ser sacrificado em
prol de um ambiente mais limpo e que os países mais ricos deveriam pagar
pelos esforços de despoluição.
Fig. 3.2 Vista de parte da área industrial de Cubatão, sujeita a intensa degradação
ambiental devido à instalação de várias indústrias pesadas, com destaque para a
refinaria de petróleo, construída nos anos 1950
Cabe notar que, além das iniciativas do governo federal, alguns Estados
também começaram a legislar sobre poluição. Esse foi o caso do Rio de
Janeiro, por meio do Decreto-lei nº 134/75, e de São Paulo, por meio da Lei
no 997/76. As políticas estaduais também criaram instituições, como a Feema
– Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente -, criada no Rio de
Janeiro em março de 1975 (e incorporada ao atual Instituto Estadual do
Ambiente), e a Cetesb, hoje chamada de Companhia Ambiental de São Paulo,
e criada com essa mesma sigla, mas outro nome, em julho de 1973, sucedendo
um centro de pesquisa também chamado Cetesb e fundado em 1968. Em abril
de 1975, a Cetesb incorporou as atribuições da Superintendência de
Saneamento Ambiental da Secretaria da Saúde.
Isso foi um esboço de atuação preventiva, que, nesse caso, foi malsucedida,
pois não conseguiu evitar a degradação dos mananciais. Da mesma época,
datam iniciativas de zoneamento industrial, em uma perspectiva de separação
entre uso de solo industrial e áreas residenciais. Em 27 de outubro de 1978, a
Lei Estadual de São Paulo n° 1.817 definiu diretrizes para o zoneamento e a
localização de indústrias na Região Metropolitana, visando, entre outros
objetivos, “compatibilizar o desenvolvimento industrial com a melhoria de
condições de vida da população e com a preservação do meio ambiente” (Art
1º, III).
FUNDAMENTOS SUBSTANTIVOS
O licenciamento atende às crescentes e cada vez mais complexas necessidades
de regulação dos conflitos entre agentes econômicos e entre estes e os
cidadãos, além de estabelecer regras para a apropriação dos recursos
ambientais. A fase de administração dos recursos naturais tem justamente essa
conotação, ao passo que um dos motivadores da criação da Cetesb foi a
situação de degradação da qualidade dos recursos hídricos na região
industrial paulista conhecida como ABC, onde as próprias indústrias
poluidoras já encontravam obstáculos e enfrentavam custos crescentes de
acesso à água.
Não se pode deixar de observar que esse vínculo entre o EIA e a licença foi
reforçado pela Constituição Federal de 1988:
ESTUDOS AMBIENTAIS
A definição dos estudos técnicos necessários ao licenciamento cabe ao órgão
licenciador. Todavia, nos casos de empreendimentos que tenham o potencial
de causar degradação significativa, sempre deverá ser exigido o estudo de
impacto ambiental, nos termos do dispositivo constitucional. Diversos tipos de
estudos ambientais foram criados, por diferentes instrumentos legais federais,
estaduais ou municipais, com o intuito de fornecer as informações e análises
técnicas para subsidiar o processo de licenciamento. Além do EIA e seu
respectivo Rima, encontram-se denominações como o plano e relatório de
controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental,
plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar
de risco (Quadro 3.4). O termo “estudos ambientais” foi definido pela
Resolução Conama nº 237/97 para englobar diferentes denominações:
[…] são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à
localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento,
apresentados como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,
diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e
análise preliminar de risco.
(Art. 1º, Inciso III, Resolução Conama nº 237/97.)
EAR – Estudo de
Análise de
Riscos/PGR –
Norma Técnica Para o licenciamento de
Programa de
Cetesb P 4.261, de atividades industriais
Gerenciamento de
20/8/2003 perigosas
Riscos / PAE – Plano
de Ação de
Emergência
Para o encerramento de
Dec. Estadual SP
Plano de Desativação empreendimentos sujeitos ao
47.400, de 4/12/2002
licenciamento ambiental
Observe-se que, por meio das três resoluções citadas, foram criados nada
menos que três novos tipos de estudos técnicos – Projeto Básico Ambiental,
Plano de Controle Ambiental e Relatório de Controle Ambiental –, que a
Resolução Conama nº 237/97 viria a denominar de estudos ambientais.
4
A finalidade da avaliação de impacto ambiental é considerar os impactos
ambientais antes de se tomar qualquer decisão que possa acarretar
significativa degradação da qualidade do meio ambiente. Para cumprir esse
papel, a AIA é organizada de forma a que seja realizada uma série de
atividades sequenciais, concatenadas de maneira lógica. A esse conjunto de
atividades e procedimentos se dá o nome de processo de avaliação de
impacto ambiental. Em geral, esse processo é objeto de regulamentação, que
define detalhadamente os procedimentos a serem seguidos, de acordo com os
tipos de atividades sujeitos à elaboração prévia de um estudo de impacto
ambiental, o conteúdo mínimo desse estudo e as modalidades de consulta
pública, entre outros assuntos.
Uma das grandes dificuldades práticas da AIA é fazer com que alternativas de
menor impacto sejam formuladas e analisadas comparativamente às
alternativas tradicionais. Ortolano (1997), ao estudar a resistência cultural dos
engenheiros do Corpo de Engenheiros do Exército Americano (U.S. Army
Corps of Engineers)1 às novas exigências ambientais na análise de projetos,
observou mudanças “notáveis” que se seguiram à contratação de “centenas de
especialistas ambientais” para atender aos requisitos da NEPA. O autor
constata que alguns desses profissionais, contratados fundamentalmente para
elaborar EIAs, souberam “influenciar os engenheiros responsáveis pela
elaboração de projetos”, encontrando, às vezes, soluções inovadoras.
Ortolano concluiu que as mudanças “foram extraordinárias, dada a enorme
burocracia dominada por engenheiros com uma tradição de construtores, e
seus aliados no Congresso, interessados em promover novos projetos em suas
bases políticas”.
Para concluir esta seção, o Quadro 4.1 mostra os objetivos da AIA, segundo a
Associação Internacional de Avaliação de Impactos – IAIA.
Pode-se dividir o processo de AIA em três etapas, cada uma delas agrupando
diferentes atividades: (i) a etapa inicial, (ii) a etapa de análise detalhada e
(iii) a etapa pós-aprovação, no caso da decisão ter sido favorável à
implantação do empreendimento. As etapas iniciais têm a função de
determinar se é necessário avaliar de maneira detalhada os impactos
ambientais de uma futura ação e, em caso positivo, definir o alcance e a
profundidade dos estudos necessários. Pode-se exemplificar com a legislação
ambiental brasileira, segundo a qual uma série de empreendimentos estão
sujeitos ao licenciamento ambiental, mas nem todos precisam da preparação
prévia de um estudo de impacto ambiental. Segundo o regime de
licenciamento, as atividades que utilizam recursos ambientais ou que, por
alguma razão, possam concorrer para degradar a qualidade ambiental, devem
obter previamente uma autorização governamental, sem a qual não podem ser
construídas, instaladas nem funcionar. Em alguns desses casos, quando houver
o potencial de ocorrência de impactos ambientais significativos, a autoridade
governamental exigirá a apresentação de um estudo de impacto ambientsal.
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA
O processo tem início quando uma determinada iniciativa ou projeto é
apresentado para aprovação ou análise de uma instância decisória, no âmbito
de uma organização que possua um mecanismo institucionalizado de decisão.
Essa organização pode ser uma empresa privada, um organismo financeiro,
uma agência de desenvolvimento, ou ainda um órgão governamental. Este
último é o caso mais geral e por isso será usado aqui como modelo de
referência. Normalmente, deve-se descrever a iniciativa em suas linhas gerais,
informando a localização do projeto e suas características técnicas. Muitas
iniciativas têm baixíssimo potencial de causar impactos ambientais relevantes,
enquanto outras, incontestavelmente, serão capazes de causar profundas e
duradouras modificações. A avaliação prévia dos impactos ambientais
somente será realizada para as iniciativas que tenham o potencial de causar
impactos significativos.
O grau de detalhe com que será descrita a proposta deverá ser definido pela
organização encarregada de gerir o processo de AIA. A informação
apresentada será utilizada para fins de triagem e deve ser suficiente para
embasar essa decisão. No mínimo, espera-se que contenha a localização
pretendida, a área ocupada e uma descrição das principais atividades que
serão realizadas durante a construção e o funcionamento. A descrição pode
também incluir informação sobre o consumo de recursos naturais (por
exemplo, água) ou sobre a afetação de recursos ambientais ou culturais
significativos (por exemplo, vegetação nativa).
TRIAGEM2
Trata-se de selecionar, dentre as inúmeras ações humanas, aquelas que tenham
um potencial de causar alterações ambientais significativas. Devido ao
conhecimento acumulado sobre o impacto das ações humanas, sabe-se de
muitos tipos de ações que realmente têm causado impactos significativos,
enquanto outras causam impactos irrelevantes ou têm medidas amplamente
conhecidas de controle dos impactos. Há, porém, um campo intermediário no
qual não são claras as consequências que podem advir de determinada ação,
casos em que um estudo simplificado é necessário para enquadrá-la em uma
das categorias. A triagem resulta em um enquadramento do projeto, usualmente
em uma de três categorias: (a) são necessários estudos aprofundados; (b) não
são necessários estudos aprofundados; (c) há dúvidas sobre o potencial de
causar impactos significativos ou sobre as medidas de controle. Os critérios
básicos de enquadramento costumam ser:
Listas positivas: são listas de projetos para os quais é obrigatória a
realização de um estudo detalhado;
Listas negativas: são listas de exclusão, que compreendem projetos cujos
impactos são sabidamente pouco significativos ou projetos para os quais
é conhecida a eficácia de medidas, técnicas ou gerenciais, para mitigar
os impactos negativos;
Critérios de corte: aplicados tanto para listas positivas como para listas
negativas, geralmente baseados no porte do empreendimento;
Localização do empreendimento: em áreas consideradas sensíveis,
pode-se exigir a realização de estudos completos independentemente do
porte ou do tipo de empreendimento;
Recursos ambientais potencialmente afetados: para projetos que afetem
determinados tipos de ambiente que se queira proteger (como cavernas,
áreas úmidas de importância internacional etc.).
CONSULTA PÚBLICA
Desde sua origem, na legislação americana, o processo de AIA compreende
mecanismos formais de consulta aos interessados, incluindo os diretamente
afetados pela decisão, mas não se limitando a estes. Há diferentes
procedimentos de consulta, dos quais a audiência pública é um dos mais
conhecidos. Há também diferentes momentos no processo de AIA nos quais se
pode proceder à consulta, como a etapa que leva à decisão sobre a
necessidade de realização de um estudo de impacto ambiental, a preparação
dos termos de referência ou mesmo durante a realização desse estudo. Após
sua conclusão, porém, essa consulta pode ser legalmente exigida, pois somente
nesse momento haverá o quadro mais completo possível sobre as implicações
da decisão a ser tomada.
DECISÃO
Os modelos decisórios no processo de AIA são muito variados e estão mais
ligados à tradição política de cada jurisdição que a características intrínsecas
da avaliação de impacto ambiental. Em linhas gerais, a decisão final, quando
de aplicação a decisões de licenciamento, pode caber (i) à autoridade
ambiental, (ii) à autoridade da área de tutela à qual se subordina o
empreendimento, muitas vezes chamada de órgão competente (decisões sobre
um projeto florestal, por exemplo, cabem ao ministério responsável por esse
setor), ou (iii) ao governo (por meio de um conselho de ministros ou do chefe
de governo). Há ainda o modelo de decisão colegiada, por meio de um
conselho com participação da sociedade civil – muito usado no Brasil – em
que esses colegiados são subordinados à autoridade ambiental. Três tipos de
decisão são possíveis: (i) não autorizar o empreendimento, (ii) aprová-lo
incondicionalmente, ou (iii) aprová-lo com condições. Cabe ainda retornar a
etapas anteriores, solicitando modificações ou a complementação dos estudos
apresentados.
ACOMPANHAMENTO4
Tem-se constatado, no mundo todo, várias dificuldades na correta
implementação das medidas propostas pelo estudo de impacto ambiental e
adotadas como condições vinculadas à licença ambiental do empreendimento
(de acordo com, entre outros, Sadler, 1996, e Morrison-Saunders e Arts,
2004). Por essa razão, têm sido buscados mecanismos para garantir o pleno
cumprimento de todos os compromissos assumidos pelo empreendedor e
demais intervenientes. O acompanhamento agrupa o conjunto de atividades que
se seguem à decisão de autorizar a implantação do empreendimento.
DOCUMENTAÇÃO
A complexidade do processo de AIA e suas múltiplas atividades tornam
necessária a preparação de grande número de documentos. O Quadro 4.2
fornece uma visão de conjunto da documentação, tomando por base as
exigências brasileiras de licenciamento ambiental. Dada a relativa autonomia,
no País, de cada órgão licenciador estadual ou municipal, além do federal, à
parte o termo estudo de impacto ambiental, os nomes dados a cada documento
dependerão da regulamentação em vigor em cada jurisdição. O grande número
de documentos envolvidos dá uma ideia do tempo necessário até a obtenção
de uma licença ambiental, e também permite inferir que os custos não são
desprezíveis, tanto para o empreendedor como para o agente público gestor do
processo.
cumpridas.
6 Exemplos: PBA – Projeto Básico Ambiental (setor elétrico), PCA – Plano de Controle
Ambiental (setor de mineração).
7 Exemplo: Rada — Relatório de Avaliação de Desempenho Ambiental (Minas Gerais).
Em alguns Estados, exige-se relatórios de auditoria ambiental para certas atividades.
8 No Brasil é exigido o Prad – Plano de Recuperação de Áreas Degradadas para
empreendimentos de mineração e planos de desativação para algumas categorias de
empreendimentos (segundo resoluções do Conama); no Estado de São Paulo, desde
dezembro de 2002 é exigível um plano de fechamento para certas atividades.
9 Ainda não existente no Brasil.
Esses três exemplos ilustram aquilo que foi afirmado ao início do capítulo
acerca da convergência dos sistemas de avaliação de impacto ambiental. Suas
semelhanças devem-se aos objetivos similares.
5
Todo sistema de AIA deve definir o universo de ações humanas (projetos,
planos, programas) sujeitos ao processo, ou seja, seu campo de aplicação. É
intuitivo ou de bom senso que não se vai exigir um estudo prévio de impacto
ambiental de todo projeto ou de qualquer intervenção no meio natural, mas
onde se situa o patamar a partir do qual deveria ser aplicado o processo? O
conceito-chave aqui é o de impacto significativo.
O Banco Mundial, por exemplo, classifica os projetos que lhe são submetidos
em três categorias, de acordo com seu potencial de impacto2:
Categoria A: projetos que requerem uma avaliação ambiental completa,
pois podem causar impactos adversos significativos, geralmente
irreversíveis, que ultrapassam a área do empreendimento; afetam
hábitats naturais, povos indígenas, recursos culturais tangíveis; ou
envolvem deslocamento involuntário. A avaliação ambiental para
projetos de categoria A deve examinar os impactos potenciais positivos
e negativos, compará-los com aqueles das alternativas viáveis
(incluindo a alternativa de não realizar o projeto) e recomendar medidas
para prevenir, minimizar, mitigar ou compensar os impactos adversos e
melhorar o desempenho ambiental.
Categoria B: projetos que podem causar impactos adversos sobre
populações humanas ou áreas ambientalmente importantes, geralmente
reversíveis e restritos à área do próprio empreendimento e para os quais
medidas mitigadoras podem ser estabelecidas de maneira mais rápida
que para os projetos de categoria A. O escopo da avaliação ambiental
de projetos de categoria B é menos abrangente que o de projetos de
categoria A.
Categoria C: projetos que normalmente causam impactos ambientais
mínimos ou não causam impactos adversos. Nenhuma ação de avaliação
ambiental é necessária além da triagem.
(Política Operacional OP 4.01, Avaliação Ambiental, §8, original de janeiro
de 1999, última atualização de abril de 2013.)
Por exemplo, um projeto que tenha alta demanda de água poderá representar
um impacto significativo em uma região de baixa disponibilidade hídrica, ao
passo que o mesmo projeto em uma região de água abundante possivelmente
não teria impacto significativo sobre a disponibilidade de recursos hídricos.
Por outro lado, a localização do projeto - ou seja, as características
ambientais da área - pode ser determinante para a decisão de triagem.
Considere-se um projeto de aterro sanitário para disposição de resíduos
sólidos urbanos. Se o local cogitado localizar-se em uma zona de recarga de
aquíferos (zona onde a água superficial se infiltra e alimenta o aquífero
subterrâneo), os riscos de contaminação do aquífero (potencial de impacto
sobre a qualidade das águas subterrâneas) são altos. Trata-se de um meio
vulnerável para esse tipo de atividade. Já se o mesmo projeto for implantado
em um local com substrato argiloso bem consolidado e de baixa
permeabilidade (ou seja, um meio de baixa vulnerabilidade), seu potencial de
impacto será mais baixo.
Essa é uma das razões pelas quais as legislações costumam deixar certa
margem de manobra à autoridade governamental encarregada de aplicar a
avaliação de impacto ambiental para enquadrar os projetos. É também uma
das razões que leva à adoção frequente de um outro critério prático de
triagem, o das áreas de interesse ambiental. Por exemplo, empreendimentos de
pequeno porte dentro de uma área de proteção ambiental5 são muitas vezes
sujeitos à preparação prévia de um estudo de impacto ambiental. A citada
resolução Conama contempla essa possibilidade, ao exprimir, no caso dos
empreendimentos urbanísticos, a possibilidade de ser exigido EIA para
projetos que ocuparão área inferior a 100 ha, porém situados em áreas “de
importância do ponto de vista ambiental”.
Esses ambientes especiais podem ser valorizados por sua beleza cênica, por
sua biodiversidade, por sua vulnerabilidade ambiental ou por sua importância
cultural, atributos que não raro se apresentam em conjunto (Figs. 5.5, 5.6 e
5.7). Muitas vezes, esses locais são áreas protegidas – no Brasil, são
chamadas de unidades de conservação – como parques nacionais ou áreas de
proteção ambiental, onde a legislação pode impedir a realização de
determinados empreendimentos. Outras vezes, o reconhecimento da
importância desses locais pode se dar sob outra forma de proteção legal,
como leis de zoneamento ou de ordenamento territorial.
Por outro lado, também ocorre que tais locais não gozem de proteção jurídica
suficiente, e a proposição de um projeto de alto potencial de impacto pode ser
o estopim de conflitos inconciliáveis em torno de posições antagônicas “ou
projeto ou preservação”. A região do rio Tatshenshini, na Colúmbia Britânica,
fronteira entre o Canadá e o Alasca, é um desses casos: a área não gozava de
proteção legal quando uma empresa de mineração pretendeu abrir uma mina de
cobre; a proposta deflagrou grande movimentação de entidades ambientalistas,
que acabaram vencendo a batalha. A autorização para a mina foi negada e a
área foi declarada parque provincial em junho de 19936. Ao final do ano
seguinte, já estava na lista de sítios do patrimônio mundial da Unesco7.
No Estado de São Paulo, essa sistemática foi introduzida pela Resolução SMA
42/94, regulamentação da Secretaria do Meio Ambiente que disciplinou os
procedimentos de avaliação de impacto ambiental e criou, para o caso de
projetos cujo potencial de impactos não é evidente, um documento para
avaliação inicial chamado “relatório ambiental preliminar” (RAP).
Fig. 5.10 Campo de aplicação da avaliação de impacto ambiental e sua relação com
outros instrumentos de planejamento ambiental
O papel dos instrumentos de zoneamento pode ser apreciado no estudo
comparativo de sete sistemas de AIA realizado por Wood (1995), todos eles
de países desenvolvidos. Somente dois (Reino Unido e Holanda) não usavam
avaliações ambientais iniciais ou algum tipo de estudo ambiental de menor
alcance que o EIA (estudos preliminares), justamente os únicos dois que
dispunham de “fortes sistemas de planejamento de uso do solo” (p. 128),
sistemas que permitem controlar projetos que causam impactos menos
significativos, e instituições fortes o suficiente para fazer valer as regras de
zoneamento.
Para a triagem, “o Banco faz uma análise ambiental preliminar de cada um dos
projetos propostos para determinar o grau e o tipo apropriado de avaliação
ambiental” (Política Operacional OP 4.01, Avaliação Ambiental, janeiro de
1999).
5.4 SÍNTESE
Os procedimentos e critérios usados para a triagem de ações sujeitas à
avaliação de impacto ambiental são da maior importância para se estruturar
um processo eficaz. De um lado, critérios muito inclusivos delimitam um
universo por demais vasto de tipos de propostas que podem demandar a
elaboração de um EIA, ao risco de banalização e burocratização desse
instrumento. De outro lado, exigir a elaboração de um EIA somente em
situação excepcional deixa de fora uma vasta gama de empreendimentos que
podem acarretar impactos adversos significativos. Uma solução, empregada
em vários países e organizações internacionais, é desenhar um procedimento
que dê lugar a diferentes níveis de avaliação, conforme o potencial de impacto
de cada projeto, demandando, assim, uma análise preliminar rápida.
6
A realização de um estudo ambiental, como, aliás, a de qualquer trabalho
técnico, requer planejamento. Não se começa um estudo de impacto ambiental
simplesmente coletando toda informação disponível, mas definindo
previamente os objetivos do trabalho e o que se pode chamar de sua
abrangência ou alcance. Este capítulo discute a necessidade e o papel dessa
etapa do processo de AIA, apresenta uma breve evolução histórica que levou
à sua consolidação e exemplos de requisitos legais. Um adequado
planejamento dos estudos ambientais, calcado naquilo que é realmente
relevante para a tomada de decisão, é a chave da eficácia da avaliação de
impacto ambiental.
Fuggle et al. (1992) definem scoping como “um procedimento para determinar
a extensão e a abordagem apropriada para uma avaliação ambiental”, que
inclui as seguintes tarefas:
envolvimento das autoridades relevantes e das partes interessadas;
identificação e seleção de alternativas;
identificação de questões significativas a serem examinadas no estudo
ambiental;
determinação de diretrizes específicas ou termos de referência para o
estudo ambiental.
6.2 HISTÓRICO
A necessidade de inserção de uma etapa formal de scoping no processo de
avaliação de impacto ambiental foi percebida já durante os primeiros anos de
experiência prática. Estudos excessivamente longos e detalhados, assim como,
ao contrário, estudos demasiado sucintos e lacônicos, refletiam a falta de
diretrizes para sua condução.
O princípio foi adotado por outras jurisdições, que passaram a exigir, em geral
de maneira formal, a prévia identificação e o devido tratamento das questões
relevantes nos estudos ambientais. Hoje, esse princípio faz parte da boa
prática de avaliação ambiental, recomendada em todos os manuais e obras de
referência (Unep, 1996) e nas Diretrizes Voluntárias para Avaliação de
Impacto Ambiental Inclusiva da Biodiversidade (Seção 2.4). Wood (2000)
reporta que de um total de 25 países cujos sistemas de AIA foram examinados
para o Estudo Internacional sobre a Eficácia da Avaliação de Impacto
Ambiental (Sadler, 1996), cerca de metade tinha requisitos específicos sobre
procedimentos de scoping, e apenas dois não utilizavam nenhuma forma de
scoping. Muitas das deficiências dos primeiros EIAs (e os consequentes
resultados insatisfatórios do processo de AIA) foram imputadas à falta de foco
e excessiva generalidade dos estudos. Uma revisão crítica de trinta EIAs
canadenses, conduzida por Beanlands e Duinker (1983), concluiu que “a
norma é a de tudo examinar, ainda que superficialmente, sem se importar sobre
o quão insignificante isto possa ser para o público ou para os tomadores de
decisão” (p. 29). Esses autores também apontam as incongruências de estudos
excessivamente abrangentes:
[…] a preparação de diretrizes cada vez mais longas conduz a documentos mais
volumosos. Como observado várias vezes durante as reuniões de trabalho, as minutas
das diretrizes invariavelmente crescem em tamanho à medida que circulam entre
várias agências governamentais […]. O resultado é que estudos de impacto ambiental
são agora escritos com o objetivo de atender a demandas tão diversas que uma
cobertura extensa de todas as questões precede um exame mais dirigido, porém
rigoroso, daquelas que parecem ser as mais críticas. (p. 21)
Fig. 6.1 Vista da mina de rocha fosfática de Araxá, Minas Gerais (junho de 1989),
observando-se, na porção centro-direita da foto, um bosque conhecido como Mata da
Cascatinha, cuja supressão não foi autorizada. Na porção centro-esquerda, a mina e, ao
fundo, a pilha de rocha estéril
Em outro caso, um estudo de impacto ambiental feito para uma nova fábrica de
cimento e mina de calcário no Mato Grosso do Sul2 (Centro de Tecnologia
Promon, Estudo de Avaliação de Impacto Ambiental, Fábrica de Cimento
Eldorado, Bodoquena, MS, Camargo Corrêa Industrial – S/A CCI, 2 volumes,
1988) suscitou polêmicas quanto aos impactos do empreendimento sobre as
cavernas existentes na região. Nesse estudo, o patrimônio espeleológico não
foi abordado com profundidade suficiente para concluir se haveria ou não
impacto e, caso houvesse, qual sua magnitude –enquanto isso exigiria um
levantamento de campo, a questão foi tratada apenas com base em consulta
bibliográfica.
Passadas quase três décadas desde esse EIA, um dos primeiros feitos no País,
é interessante refletir sobre o quanto se avançou no tratamento do patrimônio
espeleológico em estudos de impacto ambiental: amparada por legislação
então inexistente e institucionalizada nos organismos governamentais de meio
ambiente, a proteção das cavernas hoje necessariamente demanda
levantamentos prévios feitos por profissionais especializados objetivando
fazer um inventário de cavidades naturais - qualquer que seja seu tamanho - e
avaliar sua importância segundo atributos predefinidos. Nesse sentido, a
legislação orienta o escopo de um EIA (conforme seção 6.5).
Mas esses exemplos também ilustram o interesse de se identificar
corretamente as questões relevantes antes da preparação do estudo de impacto
ambiental, e isso independentemente da existência de exigências legais para
tanto. Dito de outra forma, mesmo que a legislação não exija a consulta
pública durante a fase de planejamento do EIA, o empreendedor tem todo o
interesse em conhecer os pontos de vista e as preocupações da comunidade
onde pretende se implantar e dos demais interessados. Na seção 16.3 é
comentado um caso em que a participação do público durante a preparação do
EIA levou a uma ampliação de escopo do estudo para além do exigido pelo
órgão ambiental.
Impactos em Lüderitz
(abastecimento de água e gestão Estudos especializados “Q”, “R”,
de resíduos, impacto sobre o “S” e “T”
porto
Impactos nacionais (rede de Chevron fará acordos com
transporte) Transnamib
CONSIDERAÇÕES LEGAIS
AÇÕES PARA TRATAR AS QUESTÕES-
QUESTÕES-CHAVE
CHAVE
Chevron compromete-se com o
Respeito a todas as exigências
respeito à legislação e considerará
legais aplicáveis e demandas de
compensação demandas razoáveis de acordo com a
descrição do projeto (capítulo 3)
RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÕES
AÇÕES PARA TRATAR AS QUESTÕES-
QUESTÕES-CHAVE
CHAVE
Prevenção de perigos à Chevron compromete-se a seguir o
navegação Código de Comunicações Marítimas
Fonte: CSIR, EIA for Exploration Drilling in Offshore Area 2.815, 1994.
Note-se que a Resolução Conama 1/86 já estabelecia que cada estudo deve ser
objeto de diretrizes específicas:
Fig. 6.3 Grande Barreira de Recifes, Austrália. Recifes de coral formam ecossistemas de
grande riqueza e diversidade biológicas. Podem ser afetados por projetos terrestres
que alterem a qualidade das águas costeiras e por empreendimentos marítimos, como
portos e perfurações para petróleo. Os recifes também estão ameaçados pelo
aquecimento global
Se um projeto pode afetar uma tal reserva, o EIA deverá buscar alternativas
que evitem ou minimizem a afetação desses solos.
Nos EUA, uma lei de 1968 - Wild and Scenic Rivers Act - protege paisagens
fluviais por seus valores paisagísticos e ecológicos, impedindo a construção
de barragens:
(…) certos rios da Nação que, com seus ambientes adjacentes, possuam destacado
valor cênico, recreativo, geológico (…), histórico, cultural (…) devam ser
preservados em condição de fluxo livre [e] protegidos para benefício e fruição da
presente e das futuras gerações.
Fig. 6.9 A observação do céu noturno tem se tornado uma possibilidade escassa para a
população urbana e começa a ser valorizada
As opiniões podem ser colhidas por diversos meios, como reuniões abertas ou
com pequenos grupos, e pesquisas de opinião, consultas por escrito ou mesmo
audiências públicas, e isso independe de obrigação legal de fazê-lo. Pelo
contrário, como visto nos exemplos apresentados neste capítulo, o proponente
do projeto deveria ter um interesse em conhecer a opinião dos interessados
antes de seguir adiante com o projeto e com os estudos ambientais. Nos casos
em que o empreendedor não tenha sensibilidade suficiente para realizar essas
consultas, cabe ao consultor explicar e explicitar suas vantagens. Deve-se
notar que nem sempre os canais formais de consulta nessa fase do processo de
avaliação de impacto ambiental são suficientes ou adequados para estabelecer
um meio eficaz de comunicação com as partes interessadas.
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
A experiência profissional dos consultores e analistas ambientais, assim como
das equipes do empreendedor e do projetista, com seu conhecimento das
características do meio afetado, do perfil da comunidade afetada, ou seu
entendimento dos processos naturais ou sociais modificados pelo projeto,
constitui outro aporte importante para calibrar o estudo de impacto ambiental e
definir seu escopo. Ao conhecimento oriundo da experiência com casos
similares ou outros projetos na mesma região, soma-se o conhecimento
registrado na literatura técnica e científica e em guias de boas práticas, que
sempre requerem interpretação especializada.
JUNTANDO AS PARTES
Um modo prático de sistematizar tanto a experiência profissional dos analistas
como as opiniões do público interessado e a interpretação dos requisitos
legais é por meio da identificação de componentes (ou elementos)
valorizados (ou relevantes) do ambiente. O conceito foi inicialmente
expresso por Beanlands e Duinker (1983) como “componentes valorizados do
ecossistema” (valued ecosystem components), isto é, os componente sou
elementos do ambiente tidos como importantes devido a suas funções
ecológicas ou porque assim são percebidos pelo público. Exemplos de
elementos relevantes do ambiente são espécies da fauna ou flora nativas de
interesse econômico ou cultural, como espécies usadas na alimentação de
subsistência ou para comercialização, ou ainda espécies medicinais. Muitas
vezes não há requisito legal para proteção de tais espécies, e elas não constam
de listas de espécies ameaçadas, mas sua importância para as populações
locais é motivo suficiente para que se estude os possíveis impactos que o
projeto poderia ter sobre elas. Um empreendimento que possa afetar o hábitat
dessas espécies – por exemplo, por meio do aterramento de um manguezal que
fornece alimento à comunidade local – deve ter seus impactos sobre os
ambientes e as espécies cuidadosamente avaliados. Da mesma forma, o EIA de
um empreendimento que afete uma feição de relevo que exerça importante
função ambiental - como a ocupação de uma várzea que provê proteção contra
inundações a jusante – também deverá dedicar atenção à perda dessas funções.
Não se pode deixar de notar, porém, que as objeções do público são muitas
vezes dessa ordem, questionando a própria justificativa ou necessidade do
projeto apresentado. Por exemplo, a ausência de um entendimento prévio
sobre a utilização dos recursos hídricos pode levar a posições antagônicas e
inconciliáveis quando é apresentado um projeto (como é nítido no caso do rio
São Francisco). Olivry (1986) estudou casos agudos de desentendimento entre
o público e os proponentes governamentais de projetos hídricos na França;
enquanto estes estavam dispostos a discutir apenas projetos específicos
(barragens), aquele questionava o conjunto de projetos e os objetivos de
utilização dos recursos hídricos, impossibilitando o diálogo e a negociação.
Fuggle (1992) considera que três questões devam ser consideradas para a
identificação e seleção de alternativas a serem estudadas em um EIA:
Como as alternativas deveriam ser identificadas?
Qual é a faixa razoável de alternativas que deveria ser considerada?
Em qual nível de detalhe deve cada alternativa ser explorada?
7
O estudo de impacto ambiental (EIA) é o documento mais importante de todo o
processo de avaliação de impacto ambiental. É com base nele que serão
tomadas as principais decisões quanto à viabilidade ambiental de um projeto,
quanto à necessidade de medidas mitigadoras ou compensatórias e quanto ao
tipo e ao alcance dessas medidas. Dado o caráter público do processo de
AIA, é também esse o documento que servirá de base para as negociações que
poderão se estabelecer entre empreendedor, governo e partes interessadas.
Ora, não há nenhuma razão para reunir “todos” os dados existentes sobre um
determinado assunto; o que interessa é reunir os dados necessários para
analisar os impactos do empreendimento, que, na maioria das vezes, não
existem e devem ser levantados. Quanto aos trabalhos de campo, tampouco
podem ser a “finalidade” dos estudos – trabalhos de campo frequentemente
são um meio de coletar previamente dados não existentes e necessários para a
análise dos impactos. Mais adiante, pode-se ler no mesmo capítulo desse
mesmo EIA: “Foram relacionadas todas as publicações de interesse, visando a
uma avaliação dos estudos existentes, lacunas de informações e proposições
para novos estudos”.
O termo “plano de trabalho” usado na Fig. 7.1 coincide com o termo usado na
regulamentação em vigor no Estado de São Paulo. No entanto, à parte questões
terminológicas (poder-se-ia empregar “proposta de trabalho”, “proposta
técnica”, “plano de execução” ou qualquer outra expressão equivalente), que
não são relevantes aqui, o que se pretende mostrar com essa figura é uma
sequência lógica e genérica de planejamento e preparação de um estudo de
impacto ambiental. Todo EIA deve ter uma fase de planejamento antes de sua
execução (como, aliás, qualquer trabalho técnico, projeto de engenharia ou
projeto de pesquisa científica), e o resultado dessa fase deve ser consolidado
em algum documento ou plano. O plano de trabalho descreve a estratégia de
execução do estudo e os métodos que nele serão empregados. Mesmo nas
jurisdições que não adotam a prática de discussão prévia de termos de
referência para estudos de impacto ambiental, esse procedimento é necessário,
no mínimo, para que a equipe ou a empresa encarregada da preparação do EIA
possa estimar seus custos ou preparar suas propostas técnica e comercial.
Portanto, independentemente de requisitos legais, o bom planejamento de um
estudo de impacto ambiental implica a preparação de um plano de trabalho. O
Quadro 7.2 mostra como se pode estruturar um plano de trabalho para um EIA.
A seguir, cada etapa da sequência de planejamento e execução de um EIA é
apresentada de forma resumida. Cada uma delas será tratada em detalhe nos
capítulos subsequentes.
Fig. 7.1 Principais etapas no planejamento e execução de um estudo de impacto
ambiental
ATIVIDADES PREPARATÓRIAS
Já foi comentado anteriormente sobre a necessidade de um reconhecimento
ambiental preliminar. Outra atividade preparatória imprescindível é a
caracterização do projeto proposto e de suas alternativas. No caso geral, a
equipe consultora é contratada para realizar um estudo ambiental para um
dado projeto, que já pode estar razoavelmente detalhado (por exemplo, na
forma de um projeto básico) ou ainda se encontrar em fase conceitual. A
projetista já pode ter estudado um certo número de alternativas, tendo
eventualmente descartado algumas.
DETERMINAÇÃO DO ESCOPO
Dois empreendimentos idênticos localizados em ambientes diferentes
resultarão em diferentes impactos ambientais. Da mesma forma, em um mesmo
local, dois projetos distintos poderão ocasionar impactos ambientais bem
diferentes; por exemplo, a monocultura de cana-de-açúcar ou de soja poderá
causar impactos mais extensos que uma mineração, a qual, por sua vez, pode
causar impactos de grande intensidade, porém concentrados em áreas restritas.
Em certos locais, uma rodovia pode causar mais impactos adversos que um
gasoduto, ou vice-versa, dependendo das interações projeto x meio que
poderão vir a se estabelecer.
Por outro lado, sabe-se que os impactos e os riscos ambientais não são
percebidos da mesma forma por pessoas ou grupos sociais diferentes. Por
exemplo, o sentimento de perda ocasionado pela inundação de um cemitério
indígena, ou de qualquer outro sítio sagrado de uma comunidade, dificilmente
poderá ser apreendido em sua plenitude por pessoas que não façam parte
daquele grupo.
Devido a essas duas razões – tanto de ordem científica como de ordem social
–, alguns impactos causados por um determinado empreendimento deverão ser
considerados como mais importantes que outros e, portanto, deverão receber
mais atenção no estudo de impacto ambiental. Além disso, por razões de
ordem prática, é impossível estudar detalhadamente todas as interações
projeto x meio. Isso equivaleria a uma abordagem exaustiva, que acaba
forçosamente redundando num estudo superficial, uma vez que todo EIA é
realizado num contexto de limitação de recursos e de tempo.
Como foi visto no Cap. 6, a definição do escopo do estudo é tanto uma etapa
do processo de AIA como uma atividade de planejamento de um estudo
ambiental. Mesmo que não exista uma formalização dessa etapa (que é
obrigatória em diversas jurisdições), é impossível conceber um estudo de
impacto ambiental que não contenha alguma forma de seleção das questões
principais – muitas vezes isso se faz de maneira implícita, mas a desvantagem
neste caso é que os critérios de seleção não são conhecidos do público, e a
equipe de analistas não tem conhecimento de suas opiniões.
ESTUDOS DE BASE
Os estudos de base têm uma posição central na sequência de etapas de um
EIA. Eles devem ser organizados de maneira a fornecer as informações
necessárias às fases seguintes do EIA, ou seja, a previsão dos impactos, a
avaliação de sua importância e a elaboração de um plano de gestão ambiental;
essas informações, por sua vez, são definidas em função das duas etapas
anteriores, a identificação preliminar dos impactos potenciais e a seleção das
questões mais relevantes.
Que interpretação dar a esses enunciados? O que significa 0,4 mg/ℓ de zinco
num rio e a destruição do hábitat de uma espécie? No primeiro caso, a
interpretação – ou avaliação de impacto – deveria discutir o significado da
concentração de metal prevista para o pior caso: Durante quantos dias do ano
ocorreria a concentração máxima? Isso representa um risco para a saúde de
uma comunidade indígena situada a jusante e que utiliza a água do rio para
diversas atividades? O metal poderá se acumular nos tecidos de determinadas
espécies de peixes? Esses peixes fazem parte da dieta alimentar da
comunidade?
É evidente que a equipe do EIA estará bem posicionada para emitir seus
próprios julgamentos de valor, uma vez que, em princípio, conhece melhor que
ninguém os possíveis impactos do projeto. Na verdade, deve fazê-lo avaliando
a importância dos impactos que identificou e previu, mas para isso é
necessário que descreva com clareza os critérios de atribuição de importância
que empregou, de modo que o EIA possa ser exposto ao escrutínio público e a
outras opiniões.
PLANO DE GESTÃO
Alguns impactos negativos poderão ser aceitáveis se houver medidas capazes
de reduzi-los. Conhecidas como medidas mitigadoras, ou seja, as ações que
visam a atenuar os efeitos negativos do empreendimento, devem ser descritas
no EIA. Na prática, a mitigação tornou-se um termo descritivo não apenas de
soluções de atenuação de impactos adversos, mas de um conjunto de medidas
que inclui alterações de projeto visando evitar impactos, ações para reduzir
esses impactos e ações para compensar os impactos que não puderem ser
evitados ou suficientemente reduzidos, nessa ordem de preferência, conhecida
como hierarquia de mitigação. Ademais, medidas para realçar os impactos
benéficos também se incluem nos planos de gestão.
7.4 SÍNTESE
O bom entendimento dos objetivos da avaliação de impacto ambiental, assim
como das possibilidades e limites desse instrumento, é essencial para que se
possa obter o máximo de sua aplicação. Um dos pontos centrais de um bom
estudo de impacto ambiental é dirigir as atividades para um certo número de
questões previamente definidas como importantes. O estudo será estruturado
em torno dessas questões mais relevantes, que orientarão as atividades de
coleta de dados, a análise dos impactos e a proposição de medidas de gestão.
A análise dos impactos é composta de três atividades distintas: a
identificação, a previsão e a avaliação, que podem ser definidas da seguinte
forma:
Identificação de impactos é a descrição das consequências esperadas de
um determinado empreendimento e dos mecanismos pelos quais se dão
as relações de causa e efeito, a partir das ações modificadoras do meio
ambiente que compõem tal empreendimento.
Previsão de impactos significa fazer hipóteses, técnica e cientificamente
fundamentadas, sobre a magnitude ou intensidade dos impactos
ambientais.
Avaliação de impactos é a atribuição de um qualificativo de importância
ou significância a esses impactos, qualificativo esse sempre referido ao
contexto socioambiental onde se insere o empreendimento.
8
A base para estruturar e organizar um estudo de impacto ambiental é a
identificação preliminar dos prováveis impactos. Ao enunciá-los, pode-se
orientar as etapas seguintes do planejamento e da preparação do EIA, ou seja,
a seleção das questões relevantes, os estudos de base, a análise dos impactos
e a proposição de medidas de gestão ambiental. Aparentemente, o resultado do
trabalho de identificação nada mais é que uma lista de impactos possíveis,
mas, na verdade, a identificação dos prováveis impactos permite que a equipe
multidisciplinar organize, de modo racional e partilhado entre seus membros,
o entendimento acerca das relações entre os vários componentes do projeto e
os elementos e processos ambientais que podem ser alterados.
Identificar prováveis impactos não é uma tarefa difícil, mas deve ser
executada com discernimento e de maneira sistemática e cuidadosa, de modo a
cobrir todas as possíveis alterações ambientais decorrentes de um
empreendimento, mesmo se for sabido de antemão que algumas dessas
alterações serão pouco significativas, ou seja, que algumas serão muito mais
importantes que outras e que, portanto, nem todas receberão igual atenção nas
etapas subsequentes do EIA.
Deve-se, aqui, ter clareza acerca dos conceitos discutidos no Cap. 1. As ações
ou atividades são as causas, enquanto os impactos são as consequências
sofridas (ou potencialmente sofridas) pelos receptores ambientais (os recursos
ambientais, os ecossistemas, os seres humanos, a paisagem, o ambiente
construído – conforme os vários termos e conceitos ali discutidos). Os
mecanismos ou os processos que ligam uma causa a uma consequência são os
aspectos ou os processos ambientais, conforme se prefira empregar um ou
outro termo (seções 1.6 e 1.7).
Para identificar os impactos ambientais, deve-se conhecer bem suas causas ou
ações tecnológicas. Por isso, é usual que, antes da identificação propriamente
dita dos impactos – ou como um passo dessa identificação – seja elaborada
uma lista das atividades que compõem o empreendimento. Tal lista deve ser o
mais detalhada possível, de maneira a mapear todas as possíveis causas de
alterações ambientais. O Quadro 8.1 é um exemplo de lista de ações
tecnológicas tipicamente realizadas em empreendimentos de mineração,
embora nem todos os empreendimentos desse tipo compreendam todas essas
atividades. Listas como essa podem ser usadas diretamente ou, o que é mais
apropriado, servirem de ponto de partida para a equipe montar sua própria
lista de ações ou atividades, adequada ao projeto que será analisado. Os
Quadros 8.2 a 8.5 apresentam listas similares, respectivamente das ações que
costumam ser realizadas durante as diferentes etapas do ciclo de vida de
barragens para fins de geração de energia elétrica e durante as etapas de
planejamento, construção e operação de rodovias, aterros de resíduos e linhas
de transmissão de energia elétrica. Naturalmente, trata-se de atividades
suscetíveis de modificar o ambiente e de originar impactos significativos.
Decapeamento da jazida
Abertura de vias subterrâneas
Drenagem da mina e áreas operacionais
Perfuração e desmonte de rocha
Carregamento e transporte de minério e estéril
Disposição de estéreis
Disposição temporária de solo vegetal
Revegetação e demais atividades de recuperação de áreas degradadas
Estocagem de minério
Britagem e classificação
Beneficiamento
Secagem dos produtos
Processamento metalúrgico ou químico
Disposição de rejeitos
Estocagem dos produtos
Expedição
Transporte
Estocagem de insumos
Disposição de resíduos sólidos
Manutenção
Aquisição de bens e serviços
FASE DE DESATIVAÇÃO
Retaludamento e implantação de sistema de drenagem
Preenchimento de escavações
Fechamento do acesso a aberturas subterrâneas e sinalização
FASE DE PLANEJAMENTO
Estudos de viabilidade técnico-econômica e de alternativas de localização
Investigações geotécnicas preliminares
Divulgação do empreendimento
Declaração de utilidade pública e anúncio de desapropriações
FASE DE IMPLANTAÇÃO: ATIVIDADES PREPARATÓRIAS
Execução das desapropriações
Pagamento de indenizações
Contratação de serviços
Contratação de mão de obra
Implantação do canteiro de obras
Deslocamento de máquinas
Aquisição de bens e insumos
Estocagem de bens e insumos
Remoção da vegetação
FASE DE IMPLANTAÇÃO: IMPLANTAÇÃO DO ATERRO
Escavações para preparação de células
Compactação do solo do fundo das células
Instalação de sistema de drenagem no fundo e nos taludes laterais
Instalação de manta impermeável no fundo e nos taludes laterais
Instalação de dutos para coleta de biogás
Implantação de sistema de drenagem de águas pluviais
Perfuração de poços de monitoramento das águas subterrâneas
Construção de guaritas, escritórios e demais instalações
Instalação de cerca
Implantação de cortina vegetal
FASE DE OPERAÇÃO
Circulação de caminhões pelas vias de acesso
Recebimento e pesagem dos caminhões
Descarga dos caminhões
Compactação do lixo
Recobrimento do lixo com terra
Coleta de chorume
Tratamento de chorume ou encaminhamento para estação de tratamento
Coleta e queima de biogás (ou aproveitamento)
Conservação e manutenção de áreas verdes
Monitoramento ambiental
FASE DE DESATIVAÇÃO
Recobrimento definitivo com solo
Plantio de gramíneas nas bermas e taludes
Monitoramento geotécnico
Monitoramento ambiental
Tratamento de chorume ou encaminhamento para estação de tratamento
Coleta e queima de biogás (ou aproveitamento)
FASE DE PLANEJAMENTO
Estudos de viabilidade técnico-econômica e de alternativas de traçado
FASE DE IMPLANTAÇÃO: ATIVIDADES PREPARATÓRIAS
Serviços de topografia
Abertura de estradas de acesso e de serviço, abertura de helipontos
Investigações geológico-geotécnicas dos locais de construção das torres
Contratação de serviços
Contratação de mão de obra
Aquisição de equipamentos e materiais
Remoção da vegetação na faixa de servidão
Abertura de praças para montagem das estruturas e lançamento dos cabos
FASE DE IMPLANTAÇÃO: CONSTRUÇÃO
Transporte das torres, cabos e demais componentes
Execução das fundações
Execução de obras de estabilização de taludes e drenagem
Montagem das estruturas metálicas
Lançamento dos cabos e instalação dos componentes
FASE DE OPERAÇÃO
Transmissão de energia
Inspeções periódicas (terrestres ou aéreas)
Manutenção preventiva e corretiva das torres e fundações
Manutenção da estrada de serviço e da faixa de servidão
FASE DE DESATIVAÇÃO
Retirada dos cabos
Desmontagem das torres
Remoção de resíduos
Reabilitação das áreas degradadas
Fig. 8.6 Construção de canal do projeto de transposição de águas da bacia do rio São
Francisco, no Nordeste do Brasil. O canal é escavado no solo e revestido de concreto,
sendo um dos impactos evidentes a barreira à fauna, não claramente listado no Quadro
8.7
Fig. 8.7 Construção de barragem no rio das Antas, Rio Grande do Sul, antes do desvio
do rio, para possibilitar a implantação da barragem propriamente dita. Nota-se a
construção de uma estrutura de concreto (vertedouro)
Fig. 8.8 Em empreendimentos industriais, a fase de operação pode causar impactos
mais significativos que a construção, como nesta indústria de fertilizantes. No caso de
emissões atmosféricas, é preciso conhecer detalhes do processo que será implantado,
como os insumos a serem processados e os combustíveis a serem utilizados
Fig. 8.10 Centro histórico de Luanco, com seu pequeno porto pesqueiro, casas com
balcões e igreja do século XVIII
Alteração do comportamento
hidrossedimentológico dos corpos
d’água
Risco de eutrofização dos novos
reservatórios
Melhoria da qualidade da água
nas bacias receptoras
Aumento da recarga fluvial dos
aquíferos
Início ou aceleração dos
processos de desertificação
Modificação do regime fluvial do
rio São Francisco
Redução da geração de energia
elétrica no rio São Francisco
Diminuição de receitas municipais
Nota: Os impactos mais relevantes estão em itálico.
Fonte: adaptado de Ecology Brasil, Agrar, JP Meio Ambiente, Rima Projeto de
Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional,
2004.
8.4 FERRAMENTAS
Induzir e/ou deduzir quais serão as consequências de uma determinada ação é
uma das primeiras tarefas do analista ambiental. Felizmente isso pode ser feito
a partir de um certo patamar, pois a equipe multidisciplinar pode contar com
conhecimento já acumulado e sistematizado, assim como buscar analogias em
casos similares.
LISTAS DE VERIFICAÇÃO
Listas de verificação (checklists) são instrumentos bastante práticos e fáceis
de usar. Há diferentes tipos de listas. Algumas arrolam os impactos mais
comuns associados a certos tipos de empreendimentos, como aquelas incluídas
no Livro de Consulta sobre Avaliação Ambiental do Banco Mundial e suas
atualizações2 e as Diretrizes de Meio Ambiente, Saúde e Segurança da IFC,
que trazem listas dos impactos ambientais mais comuns associados a uma
grande variedade de projetos. Outras listas indicam os elementos ou fatores
ambientais potencialmente afetados por determinados tipos de projetos, como
as indicadas por Fernández-Vítora (2010). Um exemplo de lista detalhada de
elementos ou fatores ambientais é apresentado no Quadro 8.9. Essa lista,
preparada quando da introdução das exigências de AIA na África do Sul
(Department of Environmental Affairs, 1992), traz nada menos que 328 itens
ou características que podem ser afetadas por um projeto ou que podem
representar alguma forma de restrição ao mesmo. O elevado número explica-
se por se tratar de uma lista genérica, não voltada para uma determinada
categoria de projetos. Naturalmente, as características listadas foram
selecionadas levando em consideração o perfil social e ambiental do País.
Para o quadro, foram selecionados alguns itens relativos a características
socioeconômicas, ao uso do solo e aos ecossistemas.
Uma das críticas mais marcantes à matriz de Leopold e suas congêneres é que
representam o meio ambiente como um conjunto de compartimentos que não se
inter-relacionam. Por exemplo, uma determinada ação pode causar impactos
sobre os componentes “avifauna”, “mastofauna” e “características físico-
químicas das águas superficiais”, mas os mecanismos como se manifestam os
impactos não são descritos. Por outro lado, a interação entre uma ação e um
compartimento ambiental não caracteriza propriamente um impacto, entendido
como alteração da qualidade ambiental.
MATRIZES
Outra das ferramentas comuns para identificação dos impactos é a matriz.
Apesar do nome sugerir um operador matemático, as matrizes de identificação
de impactos têm esse nome somente devido à sua forma. Na verdade, uma
matriz é composta de duas listas, dispostas na forma de linhas e colunas. Em
uma das listas são elencadas as principais atividades ou ações que compõem o
empreendimento analisado e na outra são apresentados os principais
componentes ou elementos do sistema ambiental, ou ainda processos
ambientais. O objetivo é identificar as interações possíveis entre os
componentes do projeto e os elementos do meio.
Fig. 8.17 Matriz de identificação de aspectos e impactos ambientais (um caso hipotético
de um projeto de mineração)
Fonte: Sánchez e Hacking (2002).
DIAGRAMAS DE INTERAÇÃO
[…] o impacto que resulta do impacto incremental da ação [em análise] quando
acrescida de outras ações passadas e presentes e de ações futuras razoavelmente
previsíveis, independentemente de qual agência (Federal ou não) ou pessoa execute
tais ações. Impactos cumulativos podem resultar de ações individualmente pequenas,
mas coletivamente significativas que ocorram em um período de tempo [Seção
1508.7].
Por sua vez, a lei canadense de avaliação ambiental de 2012, assim como
fazia sua predecessora de 1992, estabelece que a avaliação ambiental deve
considerar:
A Fig. 8.23 mostra uma sequência de passos para a AIC de um novo projeto.
Note-se que a abordagem seria diferente se o problema fosse o estudo ex post
dos impactos cumulativos de um conjunto de projetos em uma mesma região.
Ao se considerar os impactos cumulativos de um determinado projeto em
análise, começa-se pela identificação dos componentes ambientais de
interesse, uma vez que somente serão avaliados os impactos cumulativos sobre
determinados componentes, por exemplo, a qualidade do ar, a disponibilidade
hídrica e o hábitat de determinada espécie ou grupo de espécies. O
diagnóstico deve ser centrado somente nesses componentes e, acima de tudo,
deve ser sintético. De preferência, devem ser usados indicadores apropriados
para descrever o estado atual de cada componente e, na medida do possível,
seu estado em alguma data de referência no passado, para a qual estejam
disponíveis dados confiáveis. Uma projeção da situação futura sem o projeto,
dentro do limite temporal definido para o estudo, deveria ser baseada em
hipóteses sólidas e acompanhadas de algum qualificativo do grau de incerteza.
A identificação de relações de causa e efeito deve buscar “conectar” o projeto
“e outras ações na área de estudo aos CARs selecionados e seus indicadores”
(Canter e Ross, 2010, p. 263).
Fig. 8.23 Etapas de uma avaliação de efeitos cumulativos associadas ao Estudo de
Impacto Ambiental
Fonte: modificado de Canter e Ross (2010); CEQ (1997); IFC (2012); Hegmann et al.
(1999).
8.6 COERÊNCIA E INTEGRAÇÃO
Um dos desafios da prática da AIA é lograr uma integração das diversas
ferramentas e procedimentos analíticos usados para investigar os processos e
os efeitos das interações entre as ações humanas e os processos naturais e
sociais. Métodos desenvolvidos no âmbito de uma disciplina podem ser
eficazes para fornecer explicações plausíveis dentro de seu campo de
investigação, mas nem sempre se consegue estabelecer a necessária
comunicação com outros campos do conhecimento.
8.7 SÍNTESE
Para realizar uma identificação apropriada dos prováveis impactos
ambientais, há dois requisitos: (i) o entendimento do projeto proposto e suas
alternativas e (ii) um reconhecimento das principais características do
ambiente afetado. Para identificação preliminar de impactos ambientais, não é
necessário dispor de um conhecimento detalhado do ambiente potencialmente
afetado. Na verdade, são os impactos que podem advir das atividades de
planejamento, implantação, funcionamento ou desativação do projeto
analisado que nortearão o prosseguimento do estudo, ao indicar que tipo de
informação sobre o ambiente afetado será necessária para prever a magnitude
dos impactos, avaliar sua importância e propor medidas de gestão com a
finalidade de evitar, reduzir ou compensar os impactos adversos e maximizar
os benéficos.
Fig. 8.25 Esquema básico das relações entre causa e consequência para identificação
de impactos ambientais
9
Os estudos de base ocupam uma posição central na sequência de atividades de
um estudo de impacto ambiental. São eles que permitirão a obtenção das
informações necessárias à identificação e à previsão dos impactos, à sua
posterior avaliação e, finalmente, fornecerão elementos para a elaboração do
plano de gestão ambiental. Por sua vez, o tipo e a qualidade das informações
obtidas por meio dos estudos de base serão determinados em função das duas
etapas anteriores do EIA, a identificação preliminar dos impactos e sua
hierarquização (seleção das questões relevantes).
Esta definição ampla insiste no princípio de que os estudos de base não podem
ser entendidos como qualquer acumulação de informações disponíveis; antes,
devem ter um foco em “componentes e processos selecionados” que possam
ser afetados pela proposta em estudo. Logo, trata-se de coletar e organizar
informação (ou seja, compilar informação existente ou produzir nova
informação) selecionada, para atender às funções dos estudos de base dentro
do EIA.
Logo, os estudos de base não podem se limitar a uma descrição, por mais
rigorosa, completa ou detalhada que seja; seu objetivo não é apenas
possibilitar comparações multitemporais, mas também, e principalmente,
permitir que os analistas ambientais façam previsões cientificamente bem
fundamentadas sobre a provável situação futura. Ademais, em uma abordagem
dirigida (seção 7.1) os estudos de base seriam focados em componentes
valorizados do ambiente. Para Beanlands (1993b), parte das dificuldades dos
primeiros anos da prática da AIA derivava da tentativa de incluir-se quase
tudo em um EIA, resultado de termos de referência muito pobres. Daí um dos
meios para se focalizar os estudos nas questões relevantes ser utilizar o
conceito de componentes valorizados do ambiente.
Outro ponto ilustrado na Fig. 9.1 é que, quando sabemos pouco acerca das
condições ambientais de um local, qualquer aquisição de conhecimento já
representa um grande avanço no sentido de se entender melhor os impactos
potenciais do projeto. No entanto, a partir de um certo ponto, é preciso um
grande esforço de investigação para lograr avanços relativamente pequenos de
conhecimento. Como os estudos ambientais são sempre executados em um
contexto de limitação de tempo e recursos, é interessante poder identificar o
momento a partir do qual compensa pouco continuar investindo em aquisição
de dados e processamento de informações. Um exemplo dessa limitação é
dado pela Fig. 9.2, que representa uma curva hipotética de esforço amostral na
identificação de avifauna. Levantamentos de aves são relativamente comuns
em estudos ambientais, porque esse grupo faunístico é um bom indicador do
estado de conservação dos hábitats e porque as espécies são de identificação
relativamente fácil, ao contrário de outros grupos. A Fig. 9.2 mostra que, a
partir de um certo momento, o esforço adicional de levantamento
(representado pelo número de dias de campo de um especialista) não produz
aumento significativo no conhecimento (o número de espécies identificadas),
uma vez que o ornitólogo passa a ver mais exemplares das mesmas espécies,
mas poucas novas espécies, ou nenhuma. Isso ocorre porque o número de
espécies de aves em um dado local é finito, sendo teoricamente possível
identificar todas. Em um levantamento de avifauna realizado durante quatro
anos em uma unidade de conservação na região da Serra do Mar, o Parque
Estadual de Intervales, São Paulo, Vielliard e Silva (2001) identificaram um
total de 338 espécies, ao longo de 22 campanhas de dois a quatro dias de
duração, espaçadas de dois a três meses. A primeira campanha identificou
cerca de cem espécies, número que já dobrou após a segunda, mas cada
campanha adicional representou um pequeno incremento em relação à anterior.
Uma vez iniciado o EIA, ainda é possível fazer correções e ajustes, embora,
na maioria das vezes, mudanças substanciais devam ser justificadas perante o
cliente e aprovadas pelos agentes governamentais. Canter (1996, p. 117)
recomenda que a equipe do EIA deixe explícitas as razões para inclusão ou
exclusão de elementos ou fatores ambientais nos estudos de base, sugerindo
que se apliquem critérios como:
scoping: elemento selecionado para os estudos de base por resultar do
processo de seleção das questões relevantes ou constar dos termos de
referência;
trabalhos de campo: elemento incluído por ter sido verificado ou
constatado durante os trabalhos de campo;
julgamento profissional: elemento incluído em razão da apreciação da
equipe multidisciplinar;
julgamento profissional: elemento excluído por não ser um recurso que
possa ser afetado pelo empreendimento.
ÁREA DE ESTUDO
Todo planejamento de um estudo ambiental deve estabelecer de antemão a
área de estudo, ou seja, a delimitação do local que será objeto dos diferentes
levantamentos, sejam eles primários ou secundários. A área de estudo poderá
variar em função do tipo de levantamento a ser realizado, e o grau de detalhe
de um tipo de levantamento especializado poderá ser diferente de um
levantamento temático.
Não se deve confundir área de estudo com área de influência. Este último
termo designa a área geográfica que pode sofrer as consequências, diretas
ou indiretas, do empreendimento. Portanto, a área de influência somente
poderá ser conhecida depois de concluídos os estudos. Por exemplo, para
saber qual a área de influência de uma usina termelétrica quanto à alteração da
qualidade do ar, deve-se primeiro coletar informações sobre as taxas de
emissão de poluentes atmosféricos (tarefa normalmente executada na fase de
caracterização do projeto) e sobre as condições atmosféricas e de relevo da
área (tarefa realizada na fase de estudos de base), a fim de conhecer as
possíveis concentrações futuras de poluentes (conclusão que somente pode ser
obtida na etapa de previsão dos impactos). De modo semelhante, a área
afetada por um derramamento de petróleo no mar somente será conhecida após
uma modelagem que leve em conta ventos e correntes marítimas, a qual
depende de dados oceanográficos coletados ou compilados durante os estudos
de base.
CARTOGRAFIA
Mapas são essenciais para a representação da maioria das informações
produzidas ou compiladas pelos estudos de base. Ao planejar um EIA, é
necessário saber de antemão qual é a disponibilidade de bases cartográficas e
de outros meios de visualização e representação espacial, como fotografias
aéreas e imagens de satélite. O ideal é poder decidir qual a escala dos mapas
a serem apresentados no EIA durante seu planejamento (requisitos quanto à
escala mínima de representação podem ser incorporados aos termos de
referência).
Assim, embora não possa haver uma regra universal, é importante que, durante
o planejamento dos estudos de base, a escala de realização de levantamentos e
a escala de representação sejam pensadas com cuidado. Embora erros e
deficiências possam ser, direta ou indiretamente, atribuíveis a escalas
inapropriadas, não se pode descartar, como lembra Monmonier (1996), que há
várias maneiras de “mentir com mapas”.
MEIO FÍSICO
Para muitos projetos de engenharia, o meio físico é um suporte — aqui
empregado tanto no sentido de fundação como no de lugar — ou um recurso a
explotar. Por isso, muitas informações sobre o meio físico podem ser obtidas
em documentos de projeto (vazão de rios, propriedades mecânicas de solos,
por exemplo), mas nem sempre essas informações são suficientes, ou mesmo
necessárias para estudos ambientais. Por outro lado, a especialização
profissional e o avanço da ciência levaram a uma tendência de realizar
estudos nos quais predominam descrições setoriais em vez de análises
integradas. Clima, qualidade do ar, qualidade das águas superficiais,
hidrologia das águas superficiais, águas subterrâneas, contaminação dos solos,
solos sob o ponto de vista agronômico, solos sob o ponto de vista da
engenharia e outras tantas especializações existem para o estudo dos recursos
do meio físico.
Por essa razão, os estudos sobre o meio físico podem (mas não deveriam) ser
muito compartimentados, com seções descritivas estruturadas em torno de
disciplinas ou áreas do conhecimento — Geologia, Geomorfologia, Pedologia,
Hidrologia, Hidrogeologia, Meteorologia e outras —, porém, com pouca ou
nenhuma integração. Nesses casos, não é rara a apresentação de mapas
temáticos de escalas diferentes e com recortes territoriais variados, o que
deveria ser evitado a todo custo.
Essas cartas têm a função de interpretar informações do meio físico para que
determinados usuários possam melhor fundamentar suas decisões ou análises.
Exemplos de seu uso em estudos ambientais são o traçado de um duto, a fim de
evitar as porções do terreno com maior suscetibilidade a escorregamentos e
outros movimentos de massa, e o planejamento de um loteamento, para
considerar a suscetibilidade à erosão, assim como a possibilidade de indução
de escorregamentos. A Fig. 9.6 mostra um extrato de mapa geotécnico
preparado para o projeto de um duto de etanol, com sua legenda. Note-se que
esses exemplos deliberadamente sugerem o emprego dessas ferramentas para
planejar o projeto sob o ponto de vista ambiental (ou seja, influenciar
decisões de projeto, conforme seção 4.1), aplicando a hierarquia de
mitigação, e não apenas como parte da descrição do ambiente afetado.
MEIO BIÓTICO
Os estudos relacionados aos aspectos biológicos raramente podem prescindir
de trabalhos de campo. Para um estudo de médio a grande porte, pode ser
necessária uma equipe de mais de uma dezena de pessoas. Os levantamentos
de vegetação muitas vezes são feitos por uma ou duas pessoas, além de
auxiliares de campo, mas os levantamentos de fauna demandam especialistas
nos vários grupos zoológicos, usualmente ornitólogos (aves), mastozoológos
(mamíferos), herpetólogos (répteis e anfíbios) e ictiólogos (peixes), além de,
eventualmente, entomólogos (insetos) e outros especialistas. Na prática, é raro
encontrar estudos que considerem os invertebrados.
Byron (2000, p. 39) sustenta que, sem dados sobre abundância de espécies, é
“extremamente difícil avaliar a significância dos prováveis impactos sobre as
populações” e propõe que, como requisito mínimo, os estudos de base
deveriam “mapear todos os hábitats da área provável a ser afetada”, incluindo
uma avaliação da qualidade de cada hábitat, e realizar “levantamentos de
campo mais detalhados” a respeito da abundância e distribuição de espécies-
chave selecionadas. A autora sugere que a seleção das espécies que serão
estudadas com maior detalhe não seja feita pela equipe que elabora o EIA,
mas resulte de uma consulta a entidades governamentais e não governamentais,
e que sejam incluídas nos termos de referência. As espécies selecionadas
costumam estar em uma ou mais das seguintes categorias (Byron, 2000, p. 42):
(1) Espécies ameaçadas. São aquelas que constam de alguma lista oficial, em
qualquer categoria de ameaça, ou que sabidamente estejam em avaliação para
possível inclusão nessas listas.
(2) Espécies endêmicas. São aquelas que só ocorrem em determinado ambiente.
(3) Espécies características de cada hábitat. São aquelas “usualmente associadas a
um determinado hábitat”; não são necessariamente raras e avaliar sua situação
(população e distribuição) pode ajudar a medir o estado de conservação de seu
hábitat.
(4) Espécies suscetíveis à fragmentação de hábitats. Predadores situados no topo da
cadeia alimentar, vários pequenos mamíferos, espécies mutualistas, como
polinizadores e simbiontes, e outras.
O uso dos recursos naturais por parte da população local é outra questão
relevante a ser levantada durante os estudos de base. Se o projeto afetar esses
recursos, de maneira direta ou indireta, causará um impacto significativo (Fig.
9.15). Um levantamento, por meio de entrevistas, questionários ou outros
meios, das tipologias de uso dos recursos (por exemplo, usos da água, usos de
recursos faunísticos para alimentação, coleta de plantas medicinais, entre
outros) é uma das tarefas frequentes em EIAs. Krawetz (1991) comenta sobre
a utilidade de elaborar-se um “perfil de acesso a recursos”, mas não apenas os
naturais. A autora entende que é necessário conhecer como as populações
afetadas podem dispor de recursos como terra, capital, educação e
treinamento; o perfil é obtido por meio de entrevistas com homens e mulheres.
Quadro 9.6 Avaliação dos valores dos cidadãos – Citizen Values Assesment
O método de avaliação dos valores dos cidadãos (AVC) (Citizen Values
Assessment – CVA) foi criado e desenvolvido pelo ministério holandês de
Transporte, Obras Públicas e Gestão das Águas (Rijkwaterstaat). Em sete
anos de uso, já havia sido aplicado a mais de duas dezenas de projetos
públicos. O método baseia-se no pressuposto de que alterações ambientais
têm um significado particular para as pessoas afetadas, e que esse
significado pode diferir da interpretação dos profissionais envolvidos na
avaliação ambiental e social. Assim, a AVC visa à “incorporar ao EIA a
importância que as pessoas dão aos atributos ambientais”, a partir de um
nível individual de análise. São realizadas entrevistas detalhadas,
posteriormente validadas por um levantamento quantitativo de uma amostra
representativa da população. O trabalho é realizado em quatro etapas.
ETAPA 1
Estudo preparatório. Inclui definição do problema, delimitação da área de
estudo e dos grupos de cidadãos potencialmente afetados ou interessados.
Para essa finalidade podem ser realizadas entrevistas breves com lideranças
ou representantes de grupos de interesse. A etapa 1 é concluída com a
preparação de um plano de pesquisa, no qual são definidos os grupos a
serem entrevistados e os critérios para escolha individual.
ETAPA 2
Identificação de valores importantes. É o coração da AVC. Os dados são
coletados por meio de entrevistas semiestruturadas (entrevistas abertas), nas
quais o entrevistador segue um roteiro predefinido. Os entrevistados
discutem os temas e respondem com suas próprias palavras. As entrevistas
são gravadas, duram cerca de uma hora e devem ser conduzidas por
profissionais experientes. A informação assim coletada é organizada
segundo as menções aos elementos ambientais e seus respectivos
significados, que em seguida são classificados e ordenados segundo técnicas
de análise qualitativa. O resultado é um perfil preliminar que identifica as
ligações das pessoas com a área afetada pelo projeto e apresenta uma lista
de valores significativos atribuídos ao ambiente. Alguns exemplos de
valores ambientais são ambiente tranquilo, local de fácil acesso, existência
e acessibilidade de áreas de lazer. O relatório desta etapa, que já representa
uma contribuição para o diagnóstico ambiental, é enviado a todos os
entrevistados (pelo menos seu resumo), ou mesmo discutido em uma reunião
com representantes da comunidade.
ETAPA 3
Construção de um perfil de valores dos cidadãos. Um levantamento
quantitativo, usualmente feito por meio de questionários enviados pelo
correio a uma amostra aleatória da população afetada, serve para validar o
perfil preliminar e determinar a relevância de cada um dos valores,
classificando-os em uma escala de importância. Quando há diferentes
alternativas para um projeto, são usadas amostras diferentes e, se
necessário, questionários diferentes. O produto desta etapa, o perfil dos
valores dos cidadãos, inclui uma lista de valores ordenada segundo sua
importância para as pessoas da comunidade.
ETAPA 4
Determinação dos impactos das alternativas de projeto. Os valores obtidos
na etapa anterior são transformados em critérios de avaliação das
alternativas (quanto maior o valor atribuído a um elemento do ambiente,
mais importante será o impacto sobre esse elemento; assim, se o valor
essencial é ambiente tranquilo, alternativas que aumentem o ruído ou o
volume de tráfego de veículos terão alto impacto). Recomendações para
mitigação ou compensação podem resultar desta fase. “O passo crucial (…)
é como o perfil de valores dos cidadãos é transformado em critérios de
avaliação. Isso envolve escolha e julgamento profissional acerca da
informação disponível. Transparência e justificativas são essenciais. Não
deve haver nenhuma dúvida sobre como os critérios foram
operacionalizados”.
Fonte: Stolp et al. (2002).
Por fim, é oportuno lembrar que um diagnóstico ambiental que não se limite a
descrições técnicas dos componentes e processos, mas inclua uma análise e
uma síntese que facilite sua compreensão, é também um sinal de respeito e
consideração pelo leitor. Não se pode esquecer que o usuário do EIA tem
direito a uma informação clara, consistente e suficientemente decodificada.
Claro que, ao sintetizar os resultados do diagnóstico ambiental, há o risco de
uma simplificação excessiva, portanto sujeita a críticas de outros
especialistas. É, assim, um equilíbrio difícil que se busca atingir.
10
Um dos principais objetivos da avaliação de impacto ambiental é, certamente,
o de prever mudanças nos sistemas naturais e sociais decorrentes de um
projeto de desenvolvimento. Assim, todo estudo de impacto ambiental deve
apresentar um prognóstico da situação futura, no caso de realização do
empreendimento analisado. Entendido como uma descrição da situação futura
do ambiente afetado, o prognóstico deve ser fundamentado em hipóteses
plausíveis e previsões confiáveis. Na sequência de atividades de preparação
de um EIA, a previsão é a etapa que busca informar sobre a magnitude ou
intensidade dessas mudanças.
2. Determinar como fazer a previsão, tarefa que pode ser subdividida em duas,
a saber:
definir materiais e métodos de trabalho (por exemplo, o uso de um
modelo, qual modelo);
justificar as razões da escolha (por exemplo, por ser um método
aprovado pelo órgão regulador, como um modelo de dispersão de
poluentes atmosféricos, ou um método clássico e de emprego universal,
como os usados para dimensionar obras hidráulicas e que dependem de
previsões de vazão).
Quando o EIA faz distinção entre aspecto e impacto ambiental, pode-se usar
indicadores para ambas as categorias, pois geralmente é mais fácil prever ou
estimar a magnitude dos aspectos que dos impactos. O Quadro 10.2 traz uma
lista parcial de indicadores de aspectos ambientais estimados para um projeto
de pequena mineração de bauxita em uma zona rural. Os métodos empregados
para as estimativas são comentados na seção 10.3.
MODELOS MATEMÁTICOS
Modelos são representações simplificadas da realidade. Busca-se uma
aproximação do entendimento de algum fenômeno, por meio da seleção de
alguns aspectos mais relevantes, negligenciando, necessariamente, outros
aspectos tidos como menos importantes para a análise. Modelos podem ser
analógicos (como uma representação em escala reduzida de um estuário ou do
relevo), conceituais (descrição qualitativa dos componentes e das relações de
um sistema), ou matemáticos, que são representações formalizadas mediante
um conjunto de equações matemáticas que descrevem um determinado
fenômeno da natureza. Diversos processos ambientais podem ser modelados
dessa forma, principalmente fenômenos físicos e, em certa medida, processos
ecológicos.
Elaborar esses modelos é uma das tarefas dos cientistas, que assim buscam
entender melhor como funcionam os processos naturais. Vários modelos foram
desenvolvidos com o objetivo específico de auxiliar no planejamento e na
gestão ambiental, como é o caso dos modelos de dispersão de poluentes
atmosféricos, que correlacionam emissão de poluentes de uma chaminé ou de
outro tipo de fonte, como uma via de tráfego não pavimentada, com fatores
meteorológicos como intensidade e direção de ventos e insolação, prevendo
as concentrações desses poluentes em vários pontos situados em diferentes
distâncias do local de emissão.
Essa expressão também pode ser escrita como: L = 20.log (P/P0), e representa
o nível de pressão sonora em decibéis (dB).
onde: ti = intervalo de tempo para o qual o nível sonoro permanece dentro dos
limites da classe i (expresso em porcentagem do período de tempo), Li = nível
de pressão sonora correspondente ao ponto médio da classe.
Por sua vez, as Figs. 10.5 e 10.6 simulam a futura situação com o
empreendimento se constituindo em novo foco de emissão. Conhecidos os
ruídos de cada uma das fontes e sua distribuição espacial, o autor (Schrage,
2005, p. 57-60) calculou os níveis futuros em cada um dos pontos receptores,
observando os fatores que influenciam a propagação das ondas sonoras, como
presença de barreiras, a partir de um procedimento recomendado na literatura
técnica que considera diferentes fatores de atenuação dependentes da
frequência do ruído. A Fig. 10.5 mostra a previsão para a alternativa de mina
subterrânea, estudada em um EIA, e a Fig. 10.6, para a alternativa de mina a
céu aberto, na qual a distribuição de ruídos é bem diferente. Neste último
caso, a simulação considerou a presença de uma barreira física situada entre a
área industrial e o bairro situado a sudeste (zona de coloração verde ao norte
da estrada), uma medida mitigadora já incorporada à alternativa de projeto —
trata-se de uma pilha de terra resultante de terraplenagem. Esse exemplo
também ilustra o papel da AIA no planejamento do projeto (seção 4.1). Se não
houvesse preocupação com a mitigação de impactos, a pilha não seria
projetada. Dentro dessas condições, a etapa de análise dos impactos considera
o projeto já com as medidas mitigadoras previstas, o que corresponde ao
projeto submetido para aprovação (medidas mitigadoras adicionais podem
resultar do EIA ou de outras partes do processo de AIA). No caso desse
projeto, uma mina e usina de beneficiamento de nefelina-sienito no Estado do
Rio de Janeiro, a obra não foi adiante por razões de viabilidade técnica e
econômica, e o EIA não foi apresentado.
Fig. 10.5 Mapa da provável distribuição dos níveis de ruído diurno após a implantação
de uma mina subterrânea
Fig. 10.6 Mapa da provável distribuição dos níveis de ruído diurno após a implantação
de uma mina a céu aberto
Fonte: Laboratório de Controle Ambiental, Higiene e Segurança na Mineração
(Lacasemin, 2004)..
Fig. 10.7 Vista parcial da barragem e do reservatório de Nangbéto, Togo, que, como
todas as barragens, afeta o regime hídrico do rio, ao regular a vazão para garantir
produção de eletricidade, reduzindo a variação sazonal, com impactos a jusante
COMPARAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO
Outra maneira de fazer previsões de impactos é por comparação com
situações semelhantes e extrapolação para o caso em análise, levando em
conta semelhanças e diferenças entre a situação existente e aquela que é objeto
de previsão.
Diferentes enfoques podem ser utilizados para extrapolações, como (i) ensaios
em escala-piloto (efluentes industriais), (ii) ensaios in situ desenvolvidos em
condições similares (vibrações em uma pedreira) e (iii) analogia com casos
similares, mantendo-se a proporcionalidade entre ação e efeito (comparando
empreendimentos similares, porém de porte diferente). Em todos os casos, é
importante estabelecer, ainda que de modo qualitativo, os limites e a confiança
em tais previsões.
JULGAMENTO DE ESPECIALISTAS
Este método pouco formalizado de realizar previsões de impacto baseia-se na
capacidade de certos especialistas emitirem estimativas sobre a probabilidade
de ocorrência, a extensão espacial e temporal, e mesmo a magnitude de certos
impactos ambientais. As opiniões são expressas com base na experiência e
conhecimento dos cientistas e podem, eventualmente, ser formalizadas com a
ajuda de um sistema-especialista, um programa de computador que sistematiza
o conhecimento em um determinado ramo do saber e permite, supostamente, a
reprodutibilidade dos resultados.
É comum encontrar nos EIAs diferentes tipos de previsões, que podem ser
agrupadas em quatro classes: (i) previsões formais; (ii) previsões baseadas na
experiência de profissionais; (iii) extrapolações a partir de casos conhecidos;
e … (iv) puras suposições, estas infelizmente demasiado comuns. As
previsões formais, usualmente derivadas de modelos matemáticos, não são
necessariamente melhores que as previsões feitas por outros métodos. Esses
modelos devem ser validados e calibrados para as condições locais e
costumam requerer grandes quantidades de informações para produzir
resultados confiáveis. Se a calibração não for feita adequadamente e se os
dados de entrada não forem suficientes, os resultados serão pobres. Como se
diz no jargão da modelagem, garbage in, garbage out, ou seja, se entra lixo,
sai lixo. As extrapolações, evidentemente, devem ser cuidadosas, às vezes
quase todas as condições parecem semelhantes, mas uma pequena diferença
pode significar a inaplicabilidade dos resultados de um lugar em outro. As
suposições e especulações são, naturalmente, coisas a evitar, mas às vezes
elas aparecem “disfarçadas” em opiniões de experts; nesses casos, raramente
as afirmações são justificadas, simplesmente “surgem” no meio do EIA sem
conexão com o restante do texto.
Todas as previsões têm certa margem de incerteza associada. O ideal seria que
as previsões quantitativas dos EIAs viessem acompanhadas de uma estimativa
da margem de erro, o que é possível algumas vezes em que se empregue
modelagem. Um problema é que muitos usuários dos EIAs não estão
preparados para compreender a noção de incerteza e não estão familiarizados
com conceitos probabilísticos (conforme seção 12.6).
Culhane (1985) estudou uma amostra de 29 EIAs feitos nos Estados Unidos,
contendo 1.105 previsões. Destas, cerca de 24% eram quantitativas, 11%
previsões de que não haveria impacto (o que não deixa de ser uma previsão
quantitativa) e 65% previsões não quantificadas; mas as previsões eram
muitas vezes “confusamente vagas” (p. 374).
No Brasil, Prado Filho e Souza (2004) analisaram uma amostra de oito EIAs
preparados para projetos de mineração em uma região do Estado de Minas
Gerais, nos quais foi identificado um total de 256 impactos. Os autores
constataram que a “previsão” de impactos “se fez quase que exclusivamente
de maneira qualitativa, exceto para alguns impactos como a ocupação de áreas
por barragens de rejeitos, as áreas a serem desmatadas nos domínios dos
empreendimentos (…)” (p. 86), e alguns outros diretamente relacionados às
características dos projetos.
Fig. 10.9 Pilha de rocha geradora de ácido, devido à presença de sulfetos. Mina de
urânio de Caldas, Minas Gerais, um dos muitos locais onde o impacto não foi previsto
quando da preparação do projeto
Fig. 10.11 Evolução temporal dos teores de mercúrio nos tecidos de lúcio (Esox lucius)
(grand brochet, northern pike) após enchimento do reservatório La Grande 2, Quebec,
Canadá, de acordo com três classes de tamanho dos peixes
Fonte: Comité de la Baie James sur le Mercure, 1992. Reproduzido com autorização
Por meio de programas de monitoramento ambiental, descobriu-se que nos
reservatórios do norte do Quebec o processo regredia conforme os estoques
de mercúrio diminuíam (Verdon et al., 1991). A Fig. 10.11 mostra dados
agregados do monitoramento de mercúrio em duas espécies de peixe, uma
delas com concentrações sistematicamente acima da norma canadense para
consumo humano, de 0,5 mg/kg. Os dados mostram um rápido acréscimo do
conteúdo em mercúrio após o fechamento das comportas, em 1978, e que os
peixes de menor tamanho (mais jovens) mostram redução progressiva de
mercúrio, indicando desaceleração do processo de metilação. Verdon et al.
(1991) estudaram vários reservatórios situados no escudo canadense e
avaliaram que pode demorar entre vinte e trinta anos para a concentração de
mercúrio em peixes retornar aos níveis precedentes ao enchimento dos
reservatórios. Entretanto, uma ampla revisão bibliográfica preparada durante
os estudos ambientais de outro grande projeto hidrelétrico na região sustenta
que os dados da literatura são inconclusivos acerca da duração do fenômeno,
podendo variar entre cinco e 150 anos (Tremblay et al., 1993, p. 49).
10.5 SÍNTESE
Por meio da previsão de impactos, procura-se descrever a provável situação
futura em caso de implantação do projeto. Uma previsão de impactos ideal
deveria: (i) estimar a magnitude ou intensidade dos impactos, mediante o uso
de indicadores, quando apropriado; (ii) determinar a distribuição espacial de
cada impacto, estabelecendo sua área de influência e a variação da
intensidade do impacto dentro dessa área, utilizando escala apropriada de
mapeamento; (iii) determinar a duração ou a distribuição temporal de cada
impacto; e (iv) informar claramente as hipóteses adotadas para cada previsão
e as incertezas associadas.
Outras qualidades poderiam ser acrescidas à lista acima - como apresentar
com clareza a distribuição social dos impactos -, mas o grau de sofisticação
das previsões deve ser planejado de acordo com as necessidades, desde a fase
de scoping. Previsão de impactos é um meio, não uma finalidade. O objetivo
da AIA não é prever impactos. Seus objetivos são contribuir para o
planejamento do projeto, evitando ou reduzindo impactos adversos, e analisar
a viabilidade de um projeto.
11
A etapa de avaliação da importância dos impactos é uma das mais difíceis de
qualquer estudo de impacto ambiental. Isso se deve ao fato de que atribuir
maior ou menor grau de importância a uma alteração ambiental depende não só
de um trabalho técnico, mas também de juízo de valor. Como todo juízo de
valor, há aqui grande subjetividade. Na opinião de Beanlands e Duinker
(1983, p. 43), “a questão da significância das perturbações antropogênicas no
ambiente natural constitui o próprio coração da avaliação de impacto
ambiental. De qualquer ponto de vista — técnico, conceitual ou filosófico —,
o foco da avaliação de impacto em algum momento converge para um
julgamento da significância dos impactos previstos”.
Isso não elimina, contudo, a subjetividade inerente a todo juízo de valor: uma
das funções do EIA é justamente a de permitir que tal juízo de valor — ou
seja, essa avaliação —, seja fundamentado em estudos técnicos detalhados.
Não fosse por isso, não seria necessário realizar o estudo. Opiniões, as mais
variadas, poderiam ser emitidas por qualquer interessado e as decisões sobre
projetos de investimento voltariam a ser tomadas com base em critérios
puramente técnicos e econômicos, senão políticos. Indubitavelmente, é um
paradigma racionalista que fundamenta a avaliação de impacto ambiental, mas
a inevitabilidade da subjetividade na avaliação deve ser reconhecida.
Tais regras precisam, evidentemente, ser apuradas, e isto tem sido objeto de
debates e diferentes fórmulas de aplicação desde o início da prática da AIA.
Em primeira aproximação, seriam significativos todos os impactos que afetem
recursos ambientais ou culturais considerados importantes (Fig. 5.10). Assim,
impactos que afetem hábitats críticos (Quadro 5.5) ou recursos que gozem de
proteção legal (seção 6.5) poderiam ser considerados significativos. Mas
qualquer nível de perturbação justificaria o enquadramento como
significativo? Se um componente ambiental de alta importância for fracamente
afetado (impacto “pequeno”) por um impacto temporário, isso equivale a um
impacto significativo?
Esse autor introduz uma consideração adicional ao que foi visto até agora:
como avaliar a significância de impactos cuja ocorrência não é certa? Por
exemplo, ao se avaliar um aterro sanitário, impactos como a perda de hábitats
ou a alteração do ambiente sonoro são de ocorrência certa, mas a
contaminação das águas subterrâneas ou a perda de fauna silvestre por
atropelamento no trajeto dos caminhões de lixo até o aterro não são de
ocorrência certa. Os impactos sobre os quais se tem certeza seriam mais
significativos que os impactos incertos ou de baixa probabilidade?
Glasson et al. (1999) sugerem que os atributos para avaliação possam ser
escolhidos entre:
magnitude do impacto;
probabilidade de ocorrência do impacto;
extensão espacial e temporal;
a possibilidade de recuperação do ambiente afetado;
a importância do ambiente afetado;
o nível de preocupação pública;
repercussões políticas.
Alguns desses atributos podem ser utilizados para avaliar a importância dos
impactos, notadamente a duração, a temporalidade, a reversibilidade e a
cumulatividade. A regulamentação, porém, não fornece uma orientação acerca
do entendimento que deva ser dado a esses atributos. Uma interpretação de seu
significado pode ser a seguinte:
Expressão: este atributo descreve o caráter positivo ou negativo
(benéfico ou adverso) de cada impacto; note-se que, embora a maioria
dos impactos tenha nitidamente um caráter positivo ou negativo, alguns
impactos podem ser ao mesmo tempo positivos e negativos, ou seja,
positivos para um determinado componente ou elemento ambiental e
negativos para outro.
Origem: trata-se da causa ou fonte do impacto, direto ou indireto;
impactos diretos são aqueles que decorrem das atividades ou ações
realizadas pelo empreendedor, por empresas por ele contratadas, ou que
por eles possam ser controladas; impactos indiretos são aqueles que
decorrem de um impacto direto causado pelo projeto em análise, ou
seja, são impactos de segunda ou terceira ordem; os indiretos são mais
difusos que os diretos e se manifestam em áreas geográficas mais
abrangentes (onde os processos naturais ou sociais ou os recursos
afetados indiretamente pelo empreendimento também podem sofrer
grande influência de outros fatores).
(i) o grau pelo qual o projeto pode afetar a saúde ou a segurança pública;
(ii) características particulares do local, como proximidade a recursos históricos ou
culturais, parques, áreas de importância agrícola, áreas úmidas, rios de beleza cênica
ou áreas ecologicamente críticas;
(iii) o grau pelo qual os efeitos sobre a qualidade do ambiente humano possam ser
altamente polêmicos;
(iv) o grau pelo qual os possíveis efeitos sobre o ambiente humano são altamente
incertos ou envolvem riscos únicos ou desconhecidos;
(v) o grau pelo qual a ação pode estabelecer um precedente para ações futuras com
efeitos significativos ou representa uma decisão em princípio acerca de uma
consideração futura;
(vi) se a ação está relacionada a outras ações cujos impactos são individualmente
insignificantes, mas cumulativamente significativos;
(vii) o grau pelo qual a ação pode afetar, de forma adversa, distritos, sítios, estradas,
rodovias ou objetos tombados ou passíveis de tombamento ou pode causar perda ou
destruição de recursos científicos, culturais ou históricos significativos;
(viii) o grau pelo qual a ação pode afetar de forma adversa uma espécie ameaçada ou
seu hábitat;
(ix) se a ação ameaça violar uma lei federal, estadual ou municipal ou outros
requisitos de proteção do meio ambiente.
(CEQ Regulations, §1508.27, 20 de novembro de 1979)
COMBINAÇÃO DE ATRIBUTOS
A forma mais simples de classificar impactos consiste em (i) definir os
atributos que serão utilizados, (ii) estabelecer uma escala para cada um deles
e (iii) combiná-los mediante um conjunto de regras lógicas (o critério de
avaliação). Pode-se começar por um exemplo simples para ilustrar o método:
se os atributos escolhidos são magnitude e reversibilidade, as escalas
adotadas poderiam ser:
Magnitude: pequena, média ou grande.
Reversibilidade: reversível, irreversível.
É óbvio que outras regras podem ser adotadas, como não considerar de grande
importância todos os impactos irreversíveis, mas somente aqueles de
magnitude média ou grande; neste caso, pequenos impactos, ainda que
irreversíveis, teriam média importância. Como não há, nem pode haver, regra
universal, os autores do estudo ambiental devem especificar claramente quais
os critérios adotados. Isso permite que os leitores possam discordar dos
critérios, ou arranjá-los diferentemente. O exemplo do Quadro 11.2 é uma
combinação de atributos para avaliar a significância de impactos.
A combinação pode ser feita com qualquer número de atributos. Por exemplo,
o Quadro 11.3 mostra o esquema de combinação de atributos usado em alguns
estudos de impacto ambiental pela Hydro-Québec. Nesse exemplo, a escala
dos atributos é dada por adjetivos que denotam intensidade. Resultados
semelhantes poderiam ser obtidos usando cifras em vez de adjetivos, como
será visto a seguir. Três atributos são combinados: (1) duração do impacto,
cuja escala inclui três níveis: (i) momentânea, (ii) temporária, (iii)
permanente; (2) extensão espacial do impacto, ou área abrangida, cuja escala
também inclui três níveis: (i) pontual, (ii) local, (iii) regional; e (3) magnitude
ou intensidade do impacto, cuja escala inclui quatro níveis: (i) fraca, (ii)
média, (iii) forte, (iv) muito forte. Os resultados da combinação três a três
desses doze elementos são agrupados em três categorias de importância dos
impactos: (i) pequena, (ii) média, (iii) grande.
A escolha das escalas não deve ser desprezada. É tarefa das mais importantes
para assegurar a coerência e inteligibilidade do trabalho de avaliação. O
Quadro 11.4 mostra exemplos de definição de escalas para alguns critérios
usualmente empregados em estudos de impacto ambiental. É possível utilizar
escalas numéricas em vez de discursivas, mas ambas são escalas qualitativas e
o importante é que estabeleçam com clareza o diferencial semântico (de
significado) entre cada nível.
As escalas dos Quadros 11.2 a 11.4 são ordinais, isto é, distinguem o grau ou
intensidade de um atributo e sua hierarquia, mas não são intervalares, ou seja,
as classes não estão distribuídas em intervalos regulares e referidas a uma
origem ou zero. Muito menos são escalas proporcionais, nas quais acréscimos
em atributos correspondem a acréscimos proporcionais em valores de escala
(Pereira, 2001). Por exemplo, um impacto regional não representa o dobro de
um impacto local. É também ordinal a escala do Quadro 11.7, ainda que a
cada classe seja atribuído um número ou nível. Às escalas ordinais não se
aplicam operações aritméticas.
Uma vez escolhidas as escalas para avaliação, elas devem ser aplicadas
sistematicamente a cada impacto. Essa tarefa deve ser cuidadosa e considerar
em qual nível de resolução espacial (escala) será feita a avaliação. Por
exemplo, o impacto “alteração do ambiente sonoro”, cuja distribuição
espacial é mostrada na Fig. 10.6, não tem a mesma magnitude para todos os
receptores, logo não deveria ter a mesma significância. Antunes et al. (2001)
alertam que “impactos locais podem ser completamente absorvidos por
impactos de maior abrangência e ser negligenciados na avaliação” (p. 515).
Em outras palavras, atribuir baixa importância a um impacto “local” ou
“pontual” pode levar a conclusões errôneas sobre sua significância - assim
como a uma disjunção entre a interpretação de importância feita pela equipe
de analistas e a interpretação das comunidades locais.
Block (1999) apresenta nove atributos que podem ser usados nessa tarefa:
severidade (que equivale à magnitude);
probabilidade de um aspecto resultar em um impacto mensurável;
frequência (número de vezes que um impacto pode ocorrer por unidade
de tempo);
abrangência espacial;
possibilidade de controlar os aspectos ambientais;
enquadramento legal;
necessidade de informar sobre a ocorrência de impactos;
preocupação das partes interessadas;
duração do impacto.
Para cada atributo, a autora sugere a utilização de uma escala com cinco graus,
do mais ao menos intenso, sempre usando números de 5 a 1, respectivamente,
como mostra o exemplo do Quadro 11.6. Como exemplo de aplicação de uma
variação desse procedimento, largamente difundido no planejamento dos
sistemas de gestão ambiental, o Quadro 11.7 indica os atributos e suas
respectivas escalas, adotados por uma empresa do setor petroquímico. Para
avaliar a importância de um impacto, três atributos principais são usados: (a)
a existência de um requisito legal; (b) a demanda ou manifestação de interesse
do público (“partes interessadas”, no jargão dos SGAs) e (c) a severidade e a
probabilidade de ocorrência (ou frequência), que são combinados de acordo
com uma “matriz de risco”. A classificação final é feita em apenas duas
categorias — significativo ou não significativo. Para enquadrar um impacto
como significativo, basta aplicar qualquer um dos três critérios citados
anteriormente (combinação de atributos por regras lógicas). Esse exemplo
mostra como utilizar, de maneira rápida e simples, alguns dos atributos mais
citados na literatura.
PONDERAÇÃO DE ATRIBUTOS
Boa parte da literatura inicial sobre AIA (anos 1970 e início dos anos 1980)
ocupou-se em conceber e testar métodos para ponderar diferentes atributos em
uma avaliação da importância dos impactos. Essa literatura deu origem a
várias compilações, das quais se pode citar Bisset (1984a, 1988); Moreira
(1993b), Shoppley e Fuggle (1984) e Thompson (1990), entre várias outras.
Tal raciocínio permite múltiplas variações. O resultado pode ser dado pela
soma dos valores de cada atributo. Pode-se também decidir que um atributo,
como “exigência legal”, é mais importante que os demais, dando-lhe peso 2,
enquanto os outros têm peso 1; neste caso, a “nota” final refletirá a maior
importância desse atributo (caso de ponderação de atributos). A escala de
Block para o atributo “enquadramento legal” é um exemplo de criatividade na
montagem de critérios de avaliação, pois não se restringe às tradicionais
categorias sim ou não (Quadro 11.6).
A matriz de Leopold et al. (1971), Fig. 8.11, também foi concebida como um
método de avaliação dos impactos. Neste caso, os autores propõem que, para
cada impacto, sua magnitude e sua importância sejam descritos por meio de
números inteiros, em uma escala de 0 a 10.
ANÁLISE MULTICRITÉRIO
A análise por critérios múltiplos (ou multicritério ou, ainda, multicritérios;
aqui abreviada AMC) é um nome genérico dado a diversos instrumentos que
tencionam formalizar o processo decisório por meio de procedimentos de
agregação das preferências dos tomadores de decisão. Ferramentas desse
grupo começaram a consolidar-se no final dos anos 1960, sem relação com a
AIA, mas com o objetivo de superar as insuficiências do cálculo econômico
clássico e da pesquisa operacional.
Cada uma dessas três linhas de trabalho tem suas vantagens e inconvenientes, e
há várias maneiras de considerá-las. A seguinte crítica, resultante da análise
de um conjunto de 80 EIAs, sugere algumas características desejáveis para a
avaliação da importância dos impactos:
Em várias situações, não há como saber por que meios a equipe multidisciplinar
obteve a valoração final dos impactos, ou seja, sua significância ambiental. Também
ocorre que não se apresenta a justificativa para o uso de determinados métodos de
atribuição de pesos aos impactos, pondo em dúvida os resultados obtidos. É comum
não serem consideradas as avaliações dos próprios sujeitos sociais afetados […].
(MPF, 2004).
Críticas com teor similar podem ser encontradas em várias outras fontes.
Desconstruindo a citação acima, as características desejáveis de um
procedimento de classificação da importância dos impactos podem ser
resumidas às três seguintes: transparência, reprodutibilidade e
representatividade. A crítica aos meios pelos quais a equipe chega à
valoração indica falta de transparência. A falta de justificativa para atribuição
de pesos denota ausência de reprodutibilidade dos procedimentos. Finalmente,
a menção à falta de representatividade é explícita na última frase.
Se cada um dos enfoques de Lawrence (2007a) for examinado à luz dessas três
características, vai-se perceber que nenhum atende plenamente a todas elas:
o enfoque técnico pode ter transparência e ser reprodutível, mas
dificilmente terá representatividade (em geral, representa somente a
perspectiva e a opinião da equipe que elabora o EIA);
o enfoque colaborativo tem principalmente representatividade — e as
vantagens adicionais de contribuir para a solução de conflitos e criar
uma instância que também serve a outras etapas do processo de AIA —,
porém é pouco reprodutível — se as pessoas ou grupos envolvidos
forem outros, os resultados podem ser bem diferentes — e pode ter
baixa transparência;
o enfoque argumentativo pode ser razoavelmente transparente — mas
também pode ser difícil identificar inconsistências —, tende a ser pouco
reprodutível e pode estar em qualquer extremidade do espectro de
representatividade, haja vista que os argumentos podem ser usados
seletivamente para apoiar ou criticar um projeto e defender posições;
em contrapartida, se bem utilizado, pode suprir as desvantagens dos
outros dois enfoques.
As alternativas estudadas foram três, cada uma com duas variantes, ou seja,
detalhes de projeto que podem modificar seus impactos, e denominadas “máx”
e “mín”:
A1: ampliação e melhoria da autoestrada existente;
A2: ampliação e melhoria da autoestrada existente com a construção de
uma nova via;
A3: nova autoestrada, segundo novo traçado.
Definido este critério, cada alternativa recebeu uma nota, dada pela soma dos
pontos correspondentes (denominada Σalt.). As pontuações finais foram
ordenadas de forma crescente (Quadro 11.12), da alternativa mais favorável
para a menos favorável. Em seguida, foi calculado um fator de relação (R)
para cada alternativa, dado pela razão entre a pontuação total de cada uma
delas (Σalt.) e a pontuação da alternativa mais favorável (Σalt. mín), que é a
disposição oceânica de sedimentos não contaminados. Por fim, esse fator foi
transformado em um índice de desempenho (Id), dado pela relação 1/R, que
representa uma proporcionalidade entre as alternativas. A pontuação obtida
para uma das alternativas, a disposição em cava submersa, é mostrada no
Quadro 11.13. Note que esquemas de análises por critérios múltiplos
similares ao empregado neste último caso são, de longe, mais comuns que o
trabalho desenvolvido na Holanda por Stolp et al. (2002), que apresenta uma
discussão mais sofisticada e que reconhece os conflitos inerentes a toda
atribuição de valor, ao passo que a análise por critérios múltiplos
“tradicional” pressupõe ou tenta formar um consenso — o critério de
avaliação — que na sociedade só existe raramente.
Como pode haver discordância na alocação dos pesos, é conveniente que estes
sejam clara e explicitamente expostos no EIA. A discordância pode dar-se
entre a equipe multidisciplinar que elaborou o EIA e a equipe de análise
técnica, ou com terceiros, como ONGs e consultores de associações. Uma
situação como esta ocorreu na discussão pública de um projeto de duto de
derivados de petróleo de São Paulo a Brasília. Para avaliação ambiental do
projeto, foram feitas cartas temáticas e uma divisão da área de estudo em
células quadradas de 2,5 km de lado, na qual foram identificados os
componentes ambientais mais relevantes (Ibrahim, Bartalini e Iramina, 1995).
Foram selecionados onze temas, visto que cada um recebeu um peso entre 0 e
10. Para cada tema, foram definidas classes que designam características
ambientais que poderiam ser afetadas pelo empreendimento, às quais também
se atribuíram pesos entre 0 e 10, este último valor representando a maior
fragilidade do ambiente diante do projeto. Cada célula de 2,5 km de lado
apresentava uma única classe para cada um dos temas, o que configura uma
escala pouco detalhada de análise3. Em seguida, foi estimado o “grau de
incompatibilidade” de cada quadrícula para receber o empreendimento
proposto, dado pela somatória da multiplicação dos pesos de cada tema pelo
peso de cada classe, em cada quadrícula. Desta forma, obtém-se o melhor
traçado possível, que é dado pela sequência de quadrículas com o menor grau
de incompatibilidade.
Warner e Diab (2002) utilizaram um SIG para escolher o melhor traçado para
uma linha de transmissão na África do Sul. Foram selecionados oito temas, os
quais tiveram sua importância relativa determinada por meio de comparações
de pares, respondendo a perguntas como: quanto mais importante é um tema
(como recursos culturais) que outro? (por exemplo, uso do solo), um
procedimento “subjetivo, porém quantificado de modo transparente, tornando-
o disponível para debate e possível modificação” (p. 42). Cada tema é
dividido em fatores (ou subtemas) e cada um recebe, também, um peso. Cada
fator é, então, multiplicado por seu peso e os resultados são somados para dar
a “adequabilidade” de cada quadrícula em que é dividida a área de estudo.
Naturalmente é preciso dispor de mapas em escala adequada (neste caso,
1:10.000), de imagens aéreas (neste caso, fotos) e de dados de campo,
compilados ou produzidos durante os estudos de base.
Como no caso do poliduto, o estudo de Warner e Diab (2002) também foi feito
após a conclusão do EIA e chegou a conclusões diferentes, pois usou critérios
de avaliação distintos. Uma vantagem do uso do SIG, apontada pelos autores,
é a possibilidade de simular diversos cenários e variar os pesos, simulando a
valoração que diferentes interessados podem dar aos atributos considerados
(temas e subtemas). Uma vez ultrapassada a etapa inicial de montar as bases
de dados georreferenciadas e preparar os mapas para os vários temas, o SIG
permite simulações rápidas.
COMPARAÇÃO QUALITATIVA
O reconhecimento da inevitável subjetividade na comparação de alternativas e
de que a classificação da importância dos impactos depende de uma escala de
valores leva ao uso de procedimentos ainda mais simples e exclusivamente
qualitativos. André et al. (2003, p. 273) argumentam que a simples
apresentação da informação na forma de um quadro comparativo facilita uma
tomada de decisões e a escolha entre as alternativas; diante de um quadro
sinóptico, cada um avalia a situação utilizando seus próprios critérios ou seus
próprios pesos, como em qualquer decisão que as pessoas tomam em suas
próprias vida.
11.5 SÍNTESE
É importante que o EIA indique com clareza quais são os impactos
significativos do projeto e justifique essa conclusão. Entretanto, não há uma
fórmula universal para realizar essa tarefa. A conjugação entre a importância
do recurso ambiental ou cultural afetado e a magnitude do impacto é a
principal diretriz para atribuir significância a esse impacto.
12
Muitos dos impactos negativos considerados na avaliação de impacto
ambiental somente se manifestam em caso de funcionamento anormal do
empreendimento analisado. Por exemplo, durante a operação de um duto de
petróleo, não se espera que os cursos d’água atravessados venham a ser
poluídos com o produto transportado, e o aspecto ambiental “emissão de óleo”
normalmente não faz parte dos problemas identificados. No entanto, se o duto
se romper, o petróleo poderá contaminar o solo e os recursos hídricos
superficiais e subterrâneos, sendo pertinente identificar o aspecto ambiental
“risco de vazamento de petróleo”. De modo análogo, se a barreira
impermeável instalada na base de um aterro de resíduos sólidos apresentar
problemas, a água subterrânea poderá ser poluída, mas, se a barreira funcionar
adequadamente, não se esperam problemas com a qualidade das águas.
12.3 DEFINIÇÕES
Em análise de risco, costuma-se diferenciar os conceitos de perigo e risco.
Perigo é definido como uma situação ou condição que tem potencial de
acarretar consequências indesejáveis. O perigo é uma característica intrínseca
a uma substância (natural ou sintética), uma instalação ou um artefato — uma
refinaria de petróleo, por exemplo1.
Onda de
Agosto Machu II
Terra H = 26 m cheia ~2500 mortos2
de 1979 Gujarat, India
Galgamento
Evacuação de
Erosão do 1.872 pessoas,
extravasor danos de US$
Silver Lake de 100 milhões,
Dam, Tourist emergência, inundação de
14 de
Park Dam, Terra H = 10 m / seguida de casa de força,
maio de
Marquette, L = 500 m ruptura fechamento de
2003
Michigan, Liberação de duas minas e
EUA cerca de 900 dispensa de
mil m3 de 1.100
sedimentos trabalhadores
por semanas1,12
No México, obra ou atividade de risco é entendida como aquela “que por sua
natureza, tipo de materiais e substâncias que emprega ou gera ou pelos
processos de que se utiliza, se ocorrer um acidente ou evento não previsto,
independentemente de suas causas, põe em perigo a integridade dos
ecossistemas e da população da zona em que se localiza ou de seus
arredores”. Trata-se, portanto, de conceito mais abrangente que aquele usado
no Estado de São Paulo.
IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS
A identificação de perigos é o ponto de partida dos estudos de risco. Alguns
estudos não vão além dessa fase, passando para a preparação de um plano de
gerenciamento. Em casos que requerem análises mais sofisticadas, estimam-se
as frequências de ocorrência de certos cenários de acidentes para, em seguida,
estimar os riscos. Para identificar os perigos, é feita uma varredura da
instalação analisada para identificação de eventos iniciadores de falhas
operacionais.
Notas: (1) as hipóteses acidentais foram classificadas neste estudo em pequenos, médios e
grandes vazamentos de óleo ou derivados, utilizando o quantitativo de volumes de acordo
com a Resolução Conama 398/2008a
(2) as classes de frequência utilizadas foram: (A) extremamente remota (F < 10-4),
“conceitualmente possível, mas extremamente improvável de ocorrer durante a realização
da atividade”; (B) remota (10-4 ≤ F < 10-3), “não esperado de acontecer durante a
realização da atividade”; (C) improvável (10-3 ≤ F < 10-2), “pouco provável de ocorrer
durante a realização da atividade”; (D) provável (10-2 ≤ F < 10-1), “esperado acontecer até
uma vez durante a realização da atividade”; (E) frequente (F ≥ 10 -1), “esperado ocorrer
várias vezes durante a realização da atividade”.
(3) as classes de severidade utilizadas foram: (I) desprezível, (II) marginal, (III) crítica,
(IV) catastrófica.
(4) as combinações de frequência e severidade em uma matriz de risco resultam nas
seguintes classes de risco: (1) desprezível, (2) menor, (3) moderado, (4) sério, (5) crítico.
Fonte: Biomonitoramento e Meio Ambiente (BMA), EIA Atividade de Perfuração
Marítima no Bloco BM-J-1, Bacia do Jequitinhonha. Petrobrás, 4 volumes, 2008.
Análise de causas e consequências: utiliza-se da preparação de
diagramas de causas e consequências em uma sequência de passos: (1)
identificação dos fatores que podem causar acidentes; (2) preparação de
uma árvore de eventos; (3) detalhamento de um evento para
determinação de suas causas básicas (árvore de falhas); (4)
determinação de medidas de redução de eventos acidentais.
AVALIAÇÃO DE RISCOS
A avaliação de riscos, como a avaliação da importância de impactos, implica
juízo de valor. O conceito de risco aceitável vem sendo debatido há décadas.
Algumas pessoas são mais propensas a correr ou aceitar riscos, enquanto
outras mostram aversão a situações arriscadas. Seria possível determinar
alguma média de aceitabilidade de risco? Para o ambiente, a dificuldade é
maior, pois muitas vezes trata-se de riscos impostos e não voluntários, e a
fonte de risco é a atividade exercida por um terceiro e não pelo próprio
indivíduo.
Convenciona-se definir risco social como a quantidade anual de perda de
vidas humanas associada a determinada atividade, dada pelo produto do
número de mortes por acidente pelo número de acidentes por ano. A
formulação de tal definição pode assustar, mas na verdade trabalha-se com
cifras da ordem de 10-4 a 10-6, ou seja, uma morte a cada 10 mil anos ou a
cada milhão de anos, respectivamente, na verdade uma cifra muito menor que
aquela aceitável em certas atividades corriqueiras, como viajar de automóvel.
Também se define risco individual como a razão entre o risco social e o
número de habitantes da zona em estudo.
GESTÃO DE RISCOS
A proposição de medidas de prevenção de risco e de redução das
consequências em caso de acidentes é a última etapa da cadeia de atividades
de avaliação de risco, conforme será visto na seção 13.3. Muitas grandes
empresas têm procurado não somente integrar seus programas de gestão de
risco a outros programas ambientais, como também integrar a gestão de risco a
seus sistemas de gestão ambiental, de qualidade e de saúde e segurança do
trabalho, que adotam os mesmos princípios do chamado ciclo PDCA (seção
18.4) e são conhecidos como Sistema de Gestão Integrada (SGI). Porém,
garantir que as medidas de prevenção serão eficazes é o cerne da questão.
Uma perspectiva mais ampla é tratar todos os tipos de riscos em uma empresa
de forma integrada. Riscos financeiros, de imagem, ambientais, de segurança,
trabalhistas e tantas categorias quanto aplicáveis podem ser tratados segundo
as recomendações da norma ISO 31.000, que define processo de gestão de
riscos como “aplicação sistemática de políticas, procedimentos e práticas de
gestão para as atividades de comunicação, consulta, estabelecimento de
contexto, e na identificação, análise, avaliação, tratamento, monitoramento e
análise crítica dos riscos”. Os onze princípios adotados por essa norma
(Quadro 12.5) mostram que o objetivo da gestão de riscos é não somente a
proteção ambiental, mas a proteção da própria empresa, como ficou claro com
o acidente da Deepwater Horizon (penúltima linha do Quadro 12.1). O
princípio 3 deve ser destacado: a gestão de riscos é parte da tomada de
decisões. Segundo Eccleston (2011, p. xix), “uma das revelações que
resultaram das investigações do vazamento de óleo BP Deepwater Horizon foi
que aqueles encarregados de tomar decisões não tinham equipado a plataforma
com um segundo dispositivo de reserva que poderia cortar o fluxo de óleo de
um poço em caso de falha do blow out preventer” (Quadro 12.4).
13
Uma das funções da avaliação de impacto ambiental é servir como ferramenta
para planejar a gestão ambiental das ações e iniciativas às quais se aplica. Ao
estudar detalhadamente as principais interações entre a ação proposta e o meio
ambiente, a equipe técnica que elabora o estudo de impacto ambiental está
bem posicionada para formular recomendações que visem à redução dos
impactos adversos, realçar os impactos benéficos e traçar diretrizes de
manejo.
Como exemplo, o Quadro 13.1 traz uma lista de medidas que, frequentemente,
fazem parte dos planos de gestão ambiental apresentados em EIAs de
barragens. Essas medidas, individualmente ou agrupadas, podem constituir
programas de ação. Cada programa deve ser individualmente descrito no
próprio EIA ou em documentos posteriores, que recebem denominações
diferentes em cada jurisdição — como o Projeto Básico Ambiental (PBA) ou
o Plano de Controle Ambiental (PCA) no Brasil, mas que genericamente são
também conhecidos como Planos de Gestão Ambiental. O PBA foi
inicialmente definido como um estudo ambiental para empreendimentos do
setor elétrico (usinas hidrelétricas, termelétricas e linhas de transmissão),
introduzido pela Resolução Conama 6/87. É preparado como requisito para a
solicitação da licença de instalação; portanto, depois da aprovação do EIA. Já
o PCA foi introduzido pelas Resoluções Conama 9 e 10, ambas de 6 de
dezembro de 1990, como requisito para a solicitação de licença de instalação
de empreendimentos de mineração, e “conterá os projetos executivos de
minimização dos impactos ambientais avaliados na fase de LP [licença
prévia]” (Art. 5º de ambas resoluções). Com o passar do tempo, esses
acrônimos foram perdendo o significado inicial e passaram a designar os
documentos descritivos de ações a serem empreendidas após licença prévia.
O grau de detalhamento e o momento de apresentação de um plano de gestão
ambiental variam de acordo com a legislação de cada jurisdição. O Quadro
13.2 traz programas que fazem parte do Plano de Controle Ambiental de uma
usina hidrelétrica no Sul do País.
Quadro 13.1 Medidas típicas de um plano de gestão ambiental de uma
barragem
Cada impacto significativo deve ter sua mitigação, mas é preciso considerar
se as diferentes medidas a serem implementadas em um mesmo
empreendimento são compatíveis entre si e se a própria mitigação não poderia
ser fonte de outros impactos adversos. No caso de barreiras antirruídos em
rodovias, o objetivo de reduzir a exposição dos moradores e trabalhadores do
entorno pode resultar em impacto visual, reduzir a insolação ou induzir o
lançamento clandestino de lixo e entulho. A Fig. 13.10 mostra uma barreira em
uma rodovia na França, onde a permeabilidade visual foi considerada como
critério de projeto. Outro exemplo de medida desenvolvida para resolver um
problema singular é exibido na Fig. 13.11, que mostra o sistema de iluminação
da Ponte Vasco da Gama, de cerca de 13 km de extensão sobre o estuário do
rio Tejo, em Portugal. O ambiente atravessado pela ponte é de muita
importância para a fauna local, e um dos impactos significativos é descrito
como “perturbação e aumento da tensão dos indivíduos da avifauna”. Como
mitigação, foi projetado um sistema de iluminação de baixa dispersão, visando
reduzir a influência da poluição luminosa sobre uma zona de proteção especial
para aves.
Fig. 13.7 Vista do alto da primeira passagem superior, 17 anos depois de sua
construção, com vegetação de porte arbóreo em crescimento. Nota-se a berma, indicada
pela elipse amarela, a cerca e a rodovia ao fundo. De quase 1 m de altura, a berma
bloqueia o campo visual da maioria das espécies de mamíferos que usam a passagem,
impedindo a vista da rodovia
A quarta etapa de duplicação da rodovia elevou para seis o total de passagens superiores, às
quais foram acrescentadas uma variedade de passagens subterrâneas e passagens de peixes
nos trechos de rios perturbados pela construção da primeira pista, décadas antes.
Diferentemente do ocorrido na duplicação do primeiro trecho, quando o monitoramento
durou apenas um ano, desde a terceira etapa o monitoramento é contínuo e todas as
passagens são monitoradas por câmeras fotográficas e de vídeo. Dessa forma, o trecho da
Rodovia Transcanadense que cruza o Parque Nacional Banff transformou-se em “um dos
mais intensamente mitigados e estudados trechos de rodovia no mundo” (Ford et al., 2010).
Fig. 13.8 Cercas isolam toda a rodovia, evitando a travessia fora das passagens de
fauna. Nota-se o detalhe da malha, mais fina na porção inferior, para reduzir a
permeabilidade a pequenos mamíferos e répteis
Fig. 13.9 Passagens inferiores de diferentes formatos e dimensões foram instaladas
com intervalos de cerca de 1,5 km; nota-se a cerca à esquerda
Fontes: FEARO, Federal Environmental Assessment Review Office, Banff Highway
Project km 13 to km 17, Report of the Environmental Assessment Panel, 1982; Ford et
al. (2010); McGuire (2011).
[…]
(i) uma descrição dos cenários ou hipóteses acidentais considerados;
(ii) as ações de resposta às situações emergenciais compatíveis com os cenários
acidentais considerados, incluindo os procedimentos de avaliação da situação, a
atuação emergencial (combate a incêndios, isolamento, evacuação, contenção de
vazamentos etc.) e ações de recuperação das áreas afetadas;
(iii) a descrição dos recursos materiais e humanos disponíveis, e os programas de
treinamento e capacitação.
Fig. 13.15 Barragem de rejeitos da mina Neves Corvo, Portugal, com função de
armazenar à perpetuidade os resíduos provenientes do tratamento de minério; à
esquerda, vê-se a bacia de rejeitos, permanentemente coberta de água para prevenir a
formação de drenagem ácida; ao mesmo tempo que é uma medida mitigadora, uma
barragem de rejeitos é um componente do projeto que demanda grande atenção para o
gerenciamento de riscos
Aplica-se a espécies ou
comunidades ecológicas
ameaçadas e outros
recursos protegidos. Um
pacote de compensação
deve incluir pelo menos
90% na forma de
compensação direta
consistente com as
prioridades de Lei de Proteção
conservação do recurso Ambiental e
ambiental afetado; a Conservação da
Austrália 4
compensação pode ser Biodiversidade de 1999
feita mediante criação ou (que regula a avaliação
melhoria de hábitats ou de impacto ambiental)
redução de ameaças ao
recurso protegido.
Medidas compensatórias
indiretas incluem ações
de pesquisa científica.
Para obter benefícios no
mais curto período,
admite-se a compensação
antecipada
Intervenções em Áreas
de Preservação
Permanente (áreas
protegidas com função de Lei Federal 12.651 de 25
preservação de recursos de maio de 2012 Código
Brasil hídricos, paisagem, Florestal) e
biodiversidade e regulamentações
estabilidade geológica), estaduais correlatas
tais como margens de
rios, manguezais e áreas
de alta declividade
Supressão de vegetação
de Mata Atlântica,
quando for demonstrado
que não há alternativas
ao projeto que evitem o
desmatamento, são Lei Federal 11.428 de 22
sujeitas a compensação, de dezembro de 2006
na forma de conservação Decreto 6660 de 21 de
de área equivalente (em novembro de 2008
área de domínio privado
ou público) ou, na
impossibilidade desta, de
reposição florestal com
espécies nativas
(1) USEPA, Compensatory Mitigation for Losses of Aquatic Resources; Final Rule, 10
de abril de 2008.
(2) Canada, Department of Fisheries and Oceans, Policy for the Management of Fish
Habitat, 7 de outubro de 1986.
(3) European Commission, Managing Natura 2000 sites. The provisions of Article 6 of
the ‘Habitats’ Directive 92/43/EEC. Luxembourg, European Commission, 2000.
(4) Australian Government, Environment Protection and Biodiversity Conservation Act
1999 Environmental Offsets Policy. Canberra, Department of Sustainability,
Environment, Water, Population and Communities, Public Affairs, 2012.
(1) de projeto: valorizar os impactos benéficos por meio de ações inovadoras desde
a fase de elaboração de projeto e análise de alternativas;
(2) local: buscar oportunidades de melhoria das condições socioambientais por
meio de ações como melhoria de infraestrutura, compras locais e recuperação de
ambientes degradados;
(3) regional: procurar acumular impactos positivos, como a criação de corredores
biológicos.
É necessário que o EIA aponte ao menos uma medida de gestão para cada
impacto significativo. É conveniente mostrar, por meio de quadros ou
diagramas, uma correlação entre os impactos e as medidas propostas. Para
implementação de cada uma dessas medidas, podem ser necessárias diversas
ações concatenadas, a serem executadas de diferentes maneiras ou mediante
articulação com diferentes agentes.
14
O redator de um estudo de impacto ambiental tem à sua frente um problema
inusitado. Não está escrevendo um relatório técnico que será somente lido por
outros técnicos com formação e nível de conhecimento similar ao seu.
Tampouco está preparando um texto no estilo jornalístico, que poderia ser lido
e compreendido por qualquer pessoa medianamente educada. Os estudos de
impacto ambiental têm um pouco das duas características, e ainda outras
dificuldades a serem enfrentadas por quem os redige.
Mas o EIA e seu resumo não são os únicos meios de comunicação no processo
de avaliação de impacto ambiental. Cada etapa do processo tem suas
necessidades de comunicação. Em sua retrospectiva de 25 anos de atividade, a
Comissão Holandesa de Avaliação Ambiental, com base na experiência de
análise de cerca de 2.600 EIAs, responde à pergunta “quando uma avaliação
ambiental merece uma medalha?” apontando três qualidades: boa
comunicação, alternativas realistas e avaliação de impactos com suficiente
nível de detalhe (NCEA, 2012, p. 10). A mensagem da Comissão é clara:
GLOSSÁRIO
ANEXOS:
Termos de referência do estudo
Mapas, plantas, figuras, fotos
Estudos específicos detalhados
Leis ou trechos de leis citados
Laudos de ensaios e análises
Listas de espécies
Memórias de cálculo e anteprojetos de medidas mitigadoras
Cópias de documentos (como certidões municipais, memorandos de
entendimento, atas de reuniões, registros de audiências ou reuniões públicas
etc.)
[…] documento que integra o EIA, de suporte à participação pública, que descreve,
de forma coerente e sintética, numa linguagem e com uma apresentação acessível à
generalidade do público, as informações constantes do respectivo EIA.
(Decreto-Lei nº 69, de 3 de maio de 2000, art. 2º, alínea q).
sobre o resumo: Todo estudo de impacto ambiental deve conter um resumo que o
sintetize de modo adequado e exato. O resumo deve enfatizar as principais
conclusões, as áreas onde haja controvérsias (incluindo questões levantadas […]
pelo público) […] O resumo não deve normalmente exceder 15 páginas.
(Idem, Section 1502.12.)
[…] os rios constituintes da hidrovia […] tem [sic] características associadas a [sic]
geomorfologia apresentando em seu leito, trechos arenosos onde os depósitos de
sedimentos, representados pelos bancos de areia, são as restrições à navegação e
trechos rochosos nos quais as estruturas rochosas, representadas pelos pedrais e os
chamados travessões, é que são limitantes.
Nunca é demais lembrar que a qualidade das fotos é tão importante quanto a
qualidade do texto — não se trata somente de resolução ou nitidez (instruções
que podem ser facilmente fornecidas e seguidas para a tomada e a reprodução
de fotos digitais), mas também, e principalmente, de enquadramento, foco nos
elementos principais, contraste, iluminação e todos os demais elementos que
fazem uma boa foto. Não se espera que as fotos de um EIA tenham qualidades
artísticas memoráveis, mas “a foto é como a palavra: uma forma que
imediatamente diz algo” (Barthes, 1986, p. 74), e há de cuidar-se do que se diz
em um relatório técnico.
Esse Rima tem 140 páginas e foi impresso como uma brochura colorida com
tiragem de mil exemplares, para distribuição aos interessados e, em particular,
para a comunidade local. Apresenta a estrutura do EIA. A terminologia e o
estilo de um relatório técnico foram em parte mantidos, mas o texto é
entremeado por desenhos de personagens (um adulto e duas crianças) que vão
explorando a região e as implicações do projeto. Um capítulo essencialmente
calcado em desenhos artísticos descreve o empreendimento. Esse foi o
segundo estudo de impacto preparado para o projeto. O primeiro foi concluído
no início da década de 1990 e chegou a receber aprovação dos órgãos
estaduais do Paraná e de São Paulo, mas uma ação judicial contestou com
sucesso a competência estadual para licenciar e a análise passou para o
Ibama, que não aceitou o primeiro EIA. O projeto é controverso e ainda não
foi aprovado.
15
Os estudos de impacto ambiental são feitos normalmente dentro de um
contexto legal que estabelece requisitos a serem observados e procedimentos
a serem cumpridos. Dentro do processo de AIA, a etapa de avaliação ou
análise técnica dos estudos ambientais apresentados1 tem a função de verificar
a conformidade dos estudos apresentados com critérios preestabelecidos.
Para aplicações a decisões de licenciamento ambiental, os critérios
usualmente observados são a regulamentação em vigor na jurisdição em que
foi apresentado o estudo e os termos de referência previamente formulados.
Quando se trata de decisões de financiamento, o objetivo da análise é verificar
a conformidade com os procedimentos e requisitos adotados pela instituição
financeira (por exemplo, os Princípios do Equador). Finalmente, no âmbito
interno às empresas, uma análise de terceira parte de um estudo ambiental
poderá verificar sua conformidade com regras corporativas ou outros
requisitos adotados voluntariamente pela empresa. Ainda no âmbito interno,
uma análise de terceira parte poderá analisar um estudo ambiental antes de sua
apresentação ao órgão governamental ou ao agente financeiro.
Uma definição muito simples do que seria um bom EIA é dada por Lee (2000a,
p. 138): “é aquele que apresenta, de uma forma apropriada para os usuários,
constatações e conclusões que cubram todas as tarefas da avaliação,
empregando métodos apropriados de coleta de informação, análise e
comunicação”. Em outras palavras, um bom EIA é aquele que tem as
qualidades de todos os bons relatórios técnicos. Portanto, forma e conteúdo
deverão ser analisados.
15.1 FUNDAMENTOS
Em cada sistema de AIA, a regulamentação estabelece a quem cabe a
responsabili-dade de analisar os estudos. Na legislação brasileira cabe aos
órgãos ambientais licenciadores a análise dos estudos ambientais. Já no
contexto de uso da AIA para fundamentar decisões de financiamento, tal
análise cabe à equipe interna socioambiental dessas instituições, com
frequente emprego de consultores externos. Há ainda outros modelos, adotados
em diferentes jurisdições, como o interagency review, previsto na legislação
americana, ou as comissões independentes de avaliação, empregadas no
Canadá e na Holanda.
O nível de análise mais elementar é aquele que se preocupa com a forma dos
estudos, ou seja, o denominador comum estabelecido pela regulamentação. No
Brasil, o conteúdo mínimo dos estudos de impacto ambiental é determinado
pela Resolução Conama 1/86, mas os órgãos licenciadores podem ter seus
próprios critérios (desde que estes não contradigam ou sejam menos
restritivos que aqueles estabelecidos na norma federal). Evidentemente, um
estudo que não atenda ao conteúdo mínimo não pode ser aceito. Mais do que
isso, as decisões eventualmente tomadas com base em tal estudo (por exemplo,
a concessão de uma licença ambiental) podem ser questionadas juridicamente
e consideradas nulas.
A apreciação do conteúdo dos estudos ambientais deve ser feita com base em
certos critérios preestabelecidos, por meio dos quais se avalia a qualidade e a
adequação dos estudos apresentados. O julgamento sobre a qualidade dos
estudos normalmente é feito com base em uma comparação com aquilo que
seria esperado. De um modo geral, há duas grandes linhas de critérios de
comparação: (i) os termos de referência estabelecidos para o estudo de
impacto ambiental analisado e (ii) as boas práticas adotadas
internacionalmente.
Em todos os casos, a análise pode ser feita internamente ou por uma terceira
parte contratada para esse fim. Em geral, espera-se que os órgãos ambientais
responsáveis pelo licenciamento disponham de equipes multidisciplinares
capacitadas para realizar a análise técnica. No entanto, mesmo os organismos
mais bem aparelhados em pessoal técnico podem deparar-se com projetos
muito complexos ou com situações que fujam à experiência de sua equipe
técnica, ocasiões em que devem lançar mão de consultores especializados
para complementar a capacitação interna.
As deficiências não eram somente dos estudos ambientais, mas, antes deles,
dos projetos de engenharia, concebidos antes que exigências ambientais
tivessem se tornado explícitas. Assim, as barragens propostas para o rio Xingu
eram criticadas devido aos impactos muito significativos que teriam sobre o
ambiente natural e sobre as comunidades indígenas (Hildyard, 1989; Santos e
Andrade, 1988). Sem dúvida, há qualidades e deficiências intrínsecas a cada
estudo de impacto ambiental, e que estão sob controle da equipe
multidisciplinar que o prepara, mas se o projeto analisado for de alto impacto
ou afetar recursos muito valorizados, por melhor que seja o EIA, o projeto
será severamente criticado. Duas décadas depois, esse problema ainda
perdura. Na análise de um EIA, embora se deva diferenciar entre as
deficiências do estudo e os problemas do projeto, muitas vezes não há como
se fazer uma separação completa.
Parte dos problemas pode ser atribuída a deficiências da etapa de triagem, que
levaram à preparação de uma grande quantidade de EIAs para
empreendimentos de impacto pouco significativo ou, pior, para
empreendimentos já em operação havia anos, embora em situação irregular
perante a legislação de licenciamento ambiental. Esse problema foi claramente
diagnosticado no Estado de São Paulo para o setor de produção de areia de
construção civil, que nos primeiros anos de aplicação da AIA respondia por
mais da metade dos EIAs protocolizados na Secretaria do Meio Ambiente, em
claro descompasso com sua importância na economia estadual ou seu
potencial de causar impactos adversos. Esses empreendimentos são muito
semelhantes entre si, seus impactos se repetem e podem ser prevenidos e
corrigidos com medidas semelhantes, o que faz que a maior parte de seus
problemas ambientais possa ser resolvida com procedimentos mais simples,
mediante a aplicação de normas técnicas (conforme a discussão sobre triagem,
seção 5.2).
Libanori e Rodrigues (1993, p. 127) informam que, no período de menos de
três anos até setembro de 1991, de um total de 145 EIAs analisados pelo
Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental da Secretaria de Meio
Ambiente do Estado de São Paulo, 96 eram de pequenos empreendimentos
minerários, a maior parte dos quais de extração de areia para uso na
construção civil. A extração de areia para fins de construção civil faz parte do
rol de atividades do Art. 2º da Resolução Conama 1/86. Há um debate acerca
da aplicação dessa lista, havendo os que defendem que ela exemplifica os
tipos de empreendimentos cuja implantação está sujeita à apresentação prévia
do EIA, no sentido de que todos os que constam da lista são obrigatórios,
podendo o órgão licenciador exigir o EIA de outras atividades não constantes
da lista (Machado, 1993). Outros defendem que o caráter exemplificativo da
lista faculta ao órgão licenciador eximir da apresentação do EIA alguns tipos
de empreendimentos que constam da lista, mas de impacto pouco significativo
(Gouvêa, 1993). Esta última interpretação acabou prevalecendo no Estado de
São Paulo (Gouvêa, 1998) e foi resolvida pelo próprio Conama,
primeiramente para atividades de mineração (Resoluções 9 e 10/90) e depois
para outros tipos de atividade (Resolução 237/97 e várias outras que se
seguiram, conforme Quadro 3.5).
Embora boa parte dos observadores saliente os avanços obtidos com a lei
americana (Greenberg, 2012), nos primeiros anos de sua aplicação diversos
analistas sugeriram que os resultados alcançados estariam muito aquém do
esperado, e dentre as razões apontadas tinha grande destaque o entendimento
de que a maioria dos estudos de impacto ambiental seria de qualidade
sofrível, o que não permitiria que decisões adequadas fossem tomadas tendo
esses estudos como base. Os críticos sugeriam que os estudos deveriam ser
mais científicos, o que poderia ser alcançado por intermédio de uma revisão
pelos pares, fazendo-os passar por um processo semelhante ao de uma
publicação científica (Schlinder, 1976) ou submetendo à publicação as
pesquisas que serviriam de base a esses estudos (Loftin, 1976). No entanto,
outras opiniões fortaleciam o papel da análise feita pelos analistas dos órgãos
governamentais — e não a crítica da parte de cientistas — e o papel do
público, também interessado na qualidade dos estudos apresentados e em seu
conteúdo (Auerbach et al., 1976).
Cumulatividade e sinergismo
Aspectos desconsiderados
de impactos
Proposição de medidas que não são a
solução para a mitigação do impacto
Indicação de medidas mitigadoras pouco
detalhadas
Indicação de obrigações ou impedimentos,
técnicos e legais, como propostas de
medidas mitigadoras
Ausência de avaliação da eficiência das
medidas mitigadoras propostas
Mitigação e compensação de Deslocamento compulsório de populações:
impactos propostas iniciais de compensaçõesde
perdas baseadas em diagnósticos
inadequados
Não incorporação de propostas dos grupos
sociais afetados, na fase de formulação do
EIA
Proposição de Unidade de Conservação da
categoria de uso sustentável para a aplicação
dos recursos, em casos não previstos pela
legislação
Erros conceituais na indicação de
Programa de monitoramento e
monitoramento
acompanhamento ambiental
to
Ausência de proposição de programa de
monitoramento de impactos específicos
Rima O Rima é um documento incompleto
Emprego de linguagem inadequada à
compreensão do público
1A rigor, áreas de estudo.
Fonte: MPF (2004).
Por outro lado — mas em outro registro, o do debate ético, e não sobre a
qualidade do trabalho técnico —, há os casos de acusações de fraudes, quando
um estudo ambiental deliberadamente ocultaria informação relevante e que, se
“colocada sobre a mesa”, poderia levar a uma decisão desfavorável ao
projeto. Um dos casos de maior repercussão foi o EIA da usina hidrelétrica
Barra Grande, já em operação no rio Pelotas, divisa entre Rio Grande do Sul e
Santa Catarina. O estudo “não viu a floresta” (Prochnow, 2005), ou seja, não
mencionou a existência de um fragmento de vegetação nativa (floresta de
araucárias) de aproximadamente 300 ha na área de inundação do reservatório.
A floresta com araucárias (Fig. 15.1) constitui uma fitofisionomia outrora
abundante nos planaltos do Sul do País, mas hoje reduzida a cerca de 3% de
sua área original. Portanto, é indubitavelmente um componente ambiental
relevante (seção 6.4) cuja perda constitui impacto ambiental significativo
(seção 11.1). Ademais, o EIA tampouco mencionou a presença de uma espécie
endêmica de bromélia que ocorre exclusivamente nas áreas de corredeiras do
rio Pelotas. O caso foi à Justiça, mas o fato é que a decisão de licenciamento
poderia ter sido diferente se o diagnóstico ambiental tivesse sido mais
acurado e focado sobre questões relevantes.
Fig 15.1 Araucária (Araucaria angustifolia), espécie de conífera considerada ameaçada
no Brasil, característica de formação florestal que ocupava vastas áreas do Sul do País
Por fim, embora se tenha insistido nas deficiências dos estudos ambientais, é
óbvio que vários deles devem ter diversos méritos e que muitos podem mesmo
ser excelentes. Apontar as deficiências certamente indica caminhos para saná-
las, enquanto identificar os pontos fortes contribui para difundir as boas
práticas.
6. MITIGAÇÃO
10.1 O resumo executivo contém pelo menos uma breve descrição do projeto
e do ambiente, uma relação das principais medidas mitigadoras e uma
descrição dos impactos ambientais remanescentes ou residuais?
A EPA também avalia o projeto (ou ação) analisado no EIA. Pode haver um
EIA muito bem feito para um projeto ruim ou que cause muitos impactos
significativos. Inversamente, uma equipe incompetente pode preparar um EIA
de péssima qualidade para um projeto viável e de baixo impacto ambiental. É
verdade que se a avaliação ambiental de um projeto conclui que ele é inviável
ambientalmente, o EIA nem seria apresentado ou o projeto deveria ser
modificado até que a avaliação concluísse sua viabilidade. Na prática, isso
pode não acontecer porque alguns empreendedores são demasiado obtusos
para aceitar que a avaliação ambiental possa interferir com “seu” projeto ou
por acreditar que, mesmo ruim, o projeto possa ser aprovado, talvez pelos
benefícios econômicos que possa gerar ou pelos empregos que criar ou
mantiver. Por isso se justifica a atitude da EPA de atribuir conceitos distintos
ao EIA e ao projeto. O Quadro 15.7 mostra a classificação usada pela EPA.
Dados apresentados em
não = 0
capítulos anteriores são
Coerência sim, parcialmente = 1
usados para a análise dos
sim, integralmente = 2
impactos
Estimativas quantitativas de
não = 0
área afetada, atividades de
Quantificação sim, parcialmente = 1
projeto e indicadores de
sim, claramente = 2
impactos quando aplicável
não = 0
sim, porém aplicação ilógica
Definição prévia e aplicação = 1
Consistência de critérios de avaliação da sim, porém aplicação
importância dos impactos inconsistente = 2
sim, aplicação consistente =
3
não = 0
Análises e conclusões são sim, mas há abundância de
Objetividade imparciais e os impactos comentários tendenciosos =
relevantes são destacados 1
sim = 2
Medidas mitigadoras estão
Especificidade não = 0 sim = 1
relacionadas aos impactos
não = 0
Medidas mitigadoras são
sim, porém formulação
formuladas de modo a
imprecisa = 1
Auditabilidade permitir a verificação
sim, porém somente algumas
posterior de sua aplicação e
medidas = 2 sim, para todas
eficiência
as medidas = 3
Fonte: adaptado de Bojórquez-Tapia e García (1998); alguns termos e descritores
desse quadro são muito próximos do original, porém alguns critérios foram
renomeados e redefinidos.
15.4 OS COMENTÁRIOS DO PÚBLICO E AS CONCLUSÕES DA
ANÁLISE TÉCNICA
Se há um procedimento de participação pública, então é preciso que haja
maneiras de incluir os comentários e as opiniões do público na análise do EIA
ou em algum documento de síntese, para que sejam também levados em conta
no momento da tomada de decisão sobre a aprovação do projeto. Há
diferentes maneiras de fazê-lo, dependendo de qual é a autoridade encarregada
da análise técnica e de sua relação com o tomador de decisão.
Bom senso deveria ser exercido também nessa tarefa (Ross et al., 2006;
Sánchez, 2006). Contudo, não se deve desconsiderar a possibilidade de um
controle judicial (conforme seção 17.5), ou seja, de questionamentos na
Justiça sobre a decisão tomada, sendo importante, portanto, que as
recomendações do parecer técnico estejam adequadamente fundamentadas e
justificadas — mas isso não quer dizer que haja necessidade de fazer um longo
resumo do EIA.
16
Uma das características mais marcantes do processo de avaliação de impacto
ambiental é a importância que tem a participação do público. Tal importância
decorre das questões que estão em jogo quando se trata de projetos que
possam causar impactos significativos. Se as decisões quanto à exequibilidade
técnica e viabilidade econômica de projetos privados são unicamente da
esfera privada, o mesmo não ocorre com as decisões acerca da viabilidade
ambiental, que são necessariamente públicas. Isso decorre de razões muito
simples: os empreendimentos que têm o potencial de causar impactos
ambientais significativos usualmente afetam, degradam ou consomem recursos
ambientais que pertencem à coletividade e que dizem respeito ao bem-estar de
todos. Portanto, sua apropriação não pode ser decidida no âmbito privado. A
participação pública é essencial ao processo de AIA.
A convenção está assentada sobre três bases: (i) o acesso à informação; (ii) a
participação no processo decisório; (iii) o acesso à Justiça1, pois se considera
que não pode haver participação genuína sem informação, nem garantia de
resultados sem que esteja assegurado o direito dos cidadãos de questionarem
nos tribunais as decisões tomadas. Esses três fundamentos são os mesmos que
constam do princípio 10 da Declaração do Rio. A convenção é tida como um
novo tipo de acordo ambiental, pois associa direitos ambientais e direitos
humanos e, no fundo, trata de democracia, de transparência e de
responsabilidade governamental, tendo o meio ambiente como ponto de
partida.
Cada Parte velará, no âmbito de sua legislação nacional, para que toda pessoa que
estime que sua solicitação de informações apresentada em consonância com o
artigo 4º tenha sido ignorada, rechaçada abusivamente, em todo ou em parte, ou
insuficientemente levada em conta ou que não tenha sido tratada conforme as
disposições do presente artigo, tenha a possibilidade de apresentar um recurso
perante um órgão judicial ou ante outro órgão independente ou imparcial
estabelecido pela lei.
Não se trata disso, ou pelo menos muito raramente se trata disso. Na maioria
das vezes, a participação pública limita-se ao direito de ser informado e de
exprimir seus pontos de vista, com a expectativa de que isso influencie a
decisão a ser tomada pela autoridade competente. Os procedimentos de
participação pública, em realidade, visam colocar alguma ordem nas
discussões e estabelecer canais formais de expressão da vontade dos
cidadãos. A Fig. 16.1 expõe um diagrama com as diversas formas de
manifestação de opinião em uma democracia. À parte os processos
tradicionais de participação em uma democracia representativa, mediante
eleições, plebiscitos ou referendos, um entendimento amplo do que é a
participação pública a define como qualquer forma de expressão de pontos de
vista dos cidadãos. Tal expressão pode dar-se de forma autônoma, por meio
de manifestações públicas, passeatas, atos públicos, abaixo-assinados,
campanhas de mídia e outras ações, ou na forma de manifestação sob convite,
na qual as opiniões dos cidadãos são expostas, registradas e debatidas
segundo certas regras previamente estabelecidas.
Quando Arnstein publicou esse trabalho, ainda não havia sido iniciada nos
EUA a consulta pública dentro do processo de AIA, e a autora refere-se
fundamentalmente a processos decisórios acerca de outros assuntos de
interesse público, como o planejamento territorial e as decisões em matéria de
educação, saúde, habitação e direitos civis. Parenteau (1988) aponta o uso da
consulta pública no Canadá como forma de participação na criação e no
planejamento de parques nacionais e na elaboração de planos de
desenvolvimento regional, além da AIA.
Roberts (1995) adota uma escala com sete estágios de participação, desde a
persuasão até a “autodeterminação”, sendo a consulta colocada justamente no
meio do caminho, enquanto o “planejamento conjunto” e a “decisão
partilhada” se situam em um degrau imediatamente superior. O autor prefere
designar a relação com o público no processo de AIA com um termo
abrangente e mais neutro — envolvimento público —, que se subdivide em
consulta e participação. Consulta inclui educação, partilha de informação e
negociação, com o objetivo de tomar melhores decisões. Já participação
significa trazer o público para dentro do processo decisório. Roberts
reconhece que a principal forma de envolvimento público tem sido a consulta
e aponta que há razões pragmáticas para que uma organização busque envolver
o público em seu processo decisório, visto que o envolvimento permitiria
evitar problemas, impedir confrontos e até mesmo obter o apoio e a
colaboração dos envolvidos.
Uma audiência pública nunca é decisória. Nada se vota nem se resolve, uma
vez que a decisão cabe ao órgão licenciador. No entanto, os debates e
questionamentos ocorridos podem influenciar a decisão, até naquilo que se
refere à mitigação ou compensação de impactos adversos, assim como acerca
de compromissos que possam ser publicamente assumidos pelo empreendedor,
mesmo que não venham a constar das condições da licença ambiental.
As Figs. 16.5 e 16.6 ilustram uma reunião pública aberta promovida para
discutir um projeto de construção de uma via expressa urbana na cidade de
Perth. Uma reunião marcada durante um dia inteiro em um fim de semana, em
espaço próximo ao local do projeto, comporta exibição de vídeos, de
documentos de projeto (desenhos, ilustrações, fotos) e a presença de uma
equipe de técnicos da empresa de consultoria e de representantes do
empreendedor para conversar com o público interessado. Oponentes podem
comparecer, distribuir material e também conversar com o público.
O registro, no EIA, dos resultados da consulta pública, com uma síntese dos
pontos levantados e a indicação de como são tratados no EIA, é uma
exigência. O Quadro 16.5 mostra, a título de exemplo, como o EIA de um
projeto de expansão de uma mina de ferro em uma região ao Norte do Estado
(Pilbara) sintetiza a consulta pública.
Fig. 16.5 Técnica (esq.) conversa com cidadã durante uma sessão de consulta pública
na Austrália, que envolveu um levantamento da opinião sobre as questões mais
relevantes relacionadas ao projeto. No registro da foto, as questões de “ambiente”
sobrepujavam as demais
Este padrão da IFC requer uma ação afirmativa para tratar desigualmente os
desiguais, ou seja, aqueles desfavorecidos social ou economicamente, o que
geralmente não é previsto pelos processos governamentais de participação,
que pressupõem igualdade de todos. No caso de comunidades indígenas, há
requisitos adicionais no Padrão de Desempenho 7 – Povos Indígenas.
O artigo 6º da Convenção requer que a consulta seja “de boa fé”, conduzida
mediante “procedimentos apropriados” e por meio das “instituições
representativas” dos povos indígenas. O artigo 7º é explícito quanto ao direito
desses povos em “decidir suas próprias prioridades quanto ao processo de
desenvolvimento, na medida em que estes afetem suas vidas, crenças,
instituições e bem-estar espiritual e as terras que ocupem”. O mesmo artigo
atribui aos governos a obrigação de velar para que sejam realizados estudos
“a fim de avaliar a incidência social, espiritual e cultural e sobre o meio
ambiente” que atividades de desenvolvimento possam vir a causar, e que os
resultados desses estudos sejam considerados nas decisões. O primeiro país a
aderir à Convenção foi a Noruega, em junho de 1990. Vários países latino-
americanos são signatários; o Brasil aderiu em julho de 2002. Cada país
desenvolve procedimentos próprios para realizar a consulta.
17
Ao longo do processo de avaliação de impacto ambiental, várias decisões são
tomadas por diferentes protagonistas. Há decisões acerca das alternativas de
projeto, do alcance e profundidade dos estudos, das medidas mitigadoras e
compensatórias, das modalidades e do alcance das consultas públicas etc.
Mas a principal decisão diz respeito à aprovação do projeto em análise e às
condições para sua implementação. Assim, configura-se “uma sucessão de
decisões parciais que conduzem a uma tomada final de decisão” (André et al.,
2003, p. 158).
O CASO AMERICANO
O caso americano é sempre uma referência nos estudos sobre AIA, devido ao
pioneirismo da National Environmental Policy Act (Nepa). Segundo essa lei,
são as agências do governo federal as responsáveis pela condução do
processo de AIA e também as responsáveis pela tomada de decisão1. Estas
podem ser as próprias promotoras do projeto (principalmente obras públicas),
provedoras de fundos ou financiadoras (por exemplo, para a construção de
conjuntos habitacionais), ou podem ter atribuição de autorizar projetos
privados, em virtude de outras leis. Assim, em muitos casos, o tomador de
decisões é o próprio interessado na aprovação e execução do projeto ou
programa, característica que propicia severas críticas à lei americana, vista
como exercendo “influência limitada sobre as decisões” (Ortolano, 1997, p.
325).
Mesmo assim, a Nepa parece ter tido significativa influência sobre a maneira
como os projetos são formulados, e principalmente sobre a transparência do
processo decisório, dado o caráter público dos documentos que integram o
processo de AIA, as oportunidades de consulta e manifestação públicas, e o
controle judicial exercido pelos tribunais, com sua interpretação muito estrita
de que todos os procedimentos estabelecidos pela Nepa devam ser
rigorosamente cumpridos (Kennedy, 1984).
O CASO CANADENSE
O processo federal canadense de AIA, reformado em 2012, atribui o poder
decisório a quatro diferentes entidades, segundo o tipo de projeto: a Comissão
Canadense de Segurança Nuclear, a Agência Nacional de Energia, uma
autoridade federal que exerça poder de regulação e possa realizar audiências
públicas e a Agência Canadense de Avaliação Ambiental. Na maior parte dos
casos, a decisão é tomada no âmbito de cada “autoridade responsável”, mas
somente após cumprido todo o procedimento estabelecido pela lei e seu
regulamento e depois de observadas as provisões de consulta pública. É
interessante notar que a lei se aplica a toda a administração federal, incluindo
os ministérios com competências ambientais, como o Ministério de Parques
Nacionais e o Ministério do Meio Ambiente, cujas ações, evidentemente,
também podem ter impactos adversos significativos. A Agência Canadense de
Avaliação Ambiental (ACAA) deve ser notificada de todo procedimento
executado em observância da lei, e tem a atribuição de manter um registro
público de todas as avaliações ambientais. Naturalmente, os projetos privados
também estão sujeitos ao processo, bastando para isso que necessitem de uma
autorização federal ou demandem fundos federais.
Segundo a lei canadense, uma decisão somente pode ser tomada após o
término da avaliação ambiental (Art. 13). A decisão quanto à execução do
projeto é tomada pela autoridade responsável (Art. 37), “levando em conta a
aplicação das medidas mitigadoras”. O projeto poderá ser aprovado no
âmbito da autoridade responsável se “não for provável que cause efeitos
ambientais adversos significativos” ou mesmo “se puder causar efeitos
ambientais adversos significativos que possam ser justificados nas
circunstâncias”. Em todos os casos, a autoridade responsável deve assegurar
que as medidas mitigadoras sejam aplicadas.
O CASO HOLANDÊS
Também nos Países Baixos, a autoridade competente para tomar decisões em
matéria ambiental pode ser o proponente do projeto (caso de obras públicas),
mas uma decisão provisória é frequentemente modificada como resultado das
recomendações da Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental e da
participação do público (Wood, 1995).
A decisão pode ser tomada diretamente pelo órgão licenciador, como ocorre
com o licenciamento federal (Ibama) e em certos Estados, ou por colegiados
que contam com representantes de diferentes segmentos da sociedade civil,
além de representantes governamentais — os conselhos de meio ambiente.
Esta última modalidade é usada em alguns Estados, como São Paulo, Bahia e
Minas Gerais, e por diversos municípios.
Poucos duvidam que a decisão deva ser racional, mas raramente há acordo
sobre os princípios e critérios que devam norteá-la. Fundamenta-se em uma
racionalidade econômica ou ecológica? Deve-se privilegiar os benefícios de
curto prazo em detrimento dos custos de longo prazo? Questões de natureza
ética — como os direitos das futuras gerações — devem ser consideradas?
(Pearce, 1983).
17.4 NEGOCIAÇÃO
Se há conflito, deve haver negociação ou, pelo menos, diálogo em torno das
divergências. A negociação é uma característica inerente ao processo de AIA,
aliás, é uma das funções da AIA (Sánchez, 1995a). Há negociação entre
consultor e proponente, e entre ambos e projetista, acerca de características de
projeto, como localização e arranjo físico das instalações (layout),
alternativas de mitigação, alternativas tecnológicas, possibilidades técnicas e
custos para se evitar certos impactos e muitos outros tópicos. Tais negociações
raramente transparecem para os demais envolvidos no processo de AIA, não
são feitas na esfera pública, mas podem ter grande influência sobre a
viabilidade ambiental do empreendimento.
Gorczynski sugere que o negociador sério deve compreender bem o que pensa
seu adversário, mas na negociação formal boas maneiras imperam: “é
contraprodutivo e tolo ridicularizar seu oponente e persistir em distorcer suas
posições se ele mostrou a cortesia e o respeito de concordar em negociar com
você” (p. 15). Mas o autor, como arguto observador, jocosamente traça
caricaturas dos principais protagonistas. Como toda caricatura, as
características exacerbadas parecem ajudar a compreender melhor a
personagem: os empreendedores se acham “os verdadeiros heróis deste
mundo”, cujos esforços “criam riqueza e empregos e os incontáveis benefícios
da moderna civilização”; já os ativistas “acreditam estar imbuídos de uma
missão divina (…) e buscam perfeição e pureza e não compromisso e vitória”;
engenheiros são uma lástima em negociações “e falam uma linguagem que 99%
da raça humana não consegue entender”, usando somente um dos hemisférios
de seu cérebro, o lógico e analítico; eles e seus colegas cientistas “sentem-se
superiores ao restante dos mortais por ter um conhecimento especial que os
demais não têm”; os advogados são como “os pistoleiros de aluguel do velho
Oeste”; já os políticos “não sabem sobre o que estão falando durante 90% do
tempo”; quanto aos jornalistas, devem ser tratados “como pessoas armadas”
que podem atirar contra você; finalmente, quanto aos burocratas, deve-se
saber por que escolheram esse serviço, já que a maneira de tratá-los vai
depender de sua motivação. Na negociação direta, conhecer o perfil dos
interlocutores e saber antecipar suas jogadas é uma arte.
No mundo real, essas duas modalidades não são escolhidas antes, como se
escolhem as armas em um duelo cinematográfico. A parte mais experiente
pode tentar conduzir a negociação de um duelo sobre posições para um
diálogo sobre interesses. Assim, não responder a um posicionamento retórico
com outra declaração de efeito, identificar e declarar os pontos comuns em
vez de salientar as diferenças, buscar primeiro um acordo sobre as questões
mais fáceis, sugerir o hipotético atendimento de determinada reivindicação
para explorar opções que se seguiriam são algumas táticas que podem ser
usadas no curso de uma negociação.
NEGOCIAÇÃO ASSISTIDA
A negociação entre partes em conflito pode ser facilitada por meio da
participação de especialistas. Métodos alternativos de resolução de disputas
têm sido usados em vários casos de conflitos ambientais, porém com aparente
predominância em situações já estabelecidas, quando já ocorreram impactos
ou danos, ou quando um dano é iminente. Uma provável razão para isso
decorre do fato dos empreendimentos em fase de avaliação prévia serem,
justamente, apenas projetos de situações potenciais e não ainda concretas.
um processo no qual uma terceira parte, independente e imparcial e que não tem o
poder e a missão de impor uma decisão, ajuda as partes, geralmente o proponente de
um projeto e cidadãos que requerem uma audiência pública, a resolver suas
desavenças ou a se entenderem acerca de pontos precisos (Bape, 1994, p. 18).
1Leis
estaduais americanas podem diferir bastante da lei federal quanto às
modalidades de decisão, dentre outras diferenças.
2Vale dizer que, embora prevista em lei, a mediação não vem sendo
utilizada.
3A Comissão tem estatuto jurídico de fundação privada, mantido com
subsídios governamentais; suas atribuições são estabelecidas na Lei de
Gestão Ambiental (Ceia, 2002b).
4”Resolver depois de exame e discussão” (Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa, 1986). “Decidir após reflexão e/ou consultas”
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001).
5”A Priceon the Priceless”, The Economist, 17 ago. 1991, e Resource
Assessment Commission (1991).
6A inspiraçãoe os conceitos apresentados nesse parágrafo e nos seguintes
vêm de uma oficina sobre Effective Negotiation ministrada por Christopher
W. Moore, em setembro de 1995, em Chiang Mai, Tailândia, no âmbito do
Programa Lead (Leadership for Environment and Development).
A ETAPA DE
ACOMPANHAMENTO
NO PROCESSO
DE AVALIAÇÃO
DE IMPACTO
AMBIENTAL
18
A aprovação de um projeto pressupõe sua execução de acordo com um plano
preestabelecido, cabendo ao empreendedor observar todas as condições
impostas para evitar, reduzir ou compensar os impactos adversos e valorizar
os benéficos. Vale lembrar que essa aprovação pode ser interna, quando uma
empresa adota a avaliação de impacto ambiental independentemente de
exigências legais, ou externa, quando uma terceira parte (como o órgão
licenciador ou financiador) formalmente declara-se de acordo com o projeto
proposto e impõe suas condições.
No início dos anos 1980, um dos focos das pesquisas a respeito da eficácia da
AIA voltava-se para a qualidade e o acerto das previsões feitas nos estudos de
impacto ambiental. Trabalhos como os de Bisset (1984b), Buckley (1991a,
1991b), Culhane (1985) e Culhane et al. (1987), conforme seção 10.4,
tiveram, basicamente, como conclusão que muitas das previsões apresentadas
nos estudos não eram passíveis de verificação, seja por não serem
quantitativas, seja pela forma como eram apresentadas, com deficiências como
a falta de indicação da abrangência espacial dos impactos (área de influência)
ou a ausência de indicadores apropriados para monitorar os impactos reais.
Estudos conduzidos no Brasil sob essa óptica chegaram a conclusões similares
(Dias e Sánchez, 2001; Prado Filho e Souza, 2004).
Esses estudos, que eram chamados de “auditoria” da avaliação de impacto
ambiental, tiveram uma segunda conclusão consistente: a de que muitos
projetos realmente implantados eram significativamente diferentes daqueles
que haviam sido descritos nos estudos de impacto ambiental, uma situação
que, evidentemente, dificulta ou mesmo impede qualquer comparação entre
impactos previstos e impactos reais. As razões dessas alterações têm a ver
com o tempo transcorrido desde o planejamento do projeto e a preparação do
estudo de impacto até sua aprovação e início da construção. As modificações
também estão ligadas ao baixo grau de detalhamento dos projetos quando são
preparados os estudos de impacto ambiental; entre um projeto básico de
engenharia — o estágio em que são muitas vezes feitos os estudos ambientais
— e um projeto executivo, muitas modificações costumam ser introduzidas
(conforme o exemplo da rodovia dos Imigrantes, apresentado na seção 13.2).
Aliás, se uma das funções do estudo de impacto ambiental é fazer que as ações
humanas tenham o menor impacto adverso possível, então é de se esperar que
haja modificações entre a concepção inicial do projeto e uma versão final, na
qual os fatores ambientais foram incorporados.
Bailey et al. (1992) argumentam que a utilidade da AIA não se encontra tanto
no acerto das previsões de impacto, mas “no foco na gestão de impactos”.
Nessa linha de raciocínio, a fase de acompanhamento do processo de AIA é
apontada como uma etapa crítica para seu sucesso (Arts, 1998; Arts et al.,
2001). Talvez os mais sólidos argumentos que fundamentam tal afirmação
prendam-se ao fato de que os estudos de impacto tratam de situações ideais,
no sentido de que são projetos a serem realizados: somente quando começam a
ser implementados, esses projetos se materializam e, portanto, manifestam-se
também seus impactos. Como visto no Cap. 8, alguns impactos ocorrem
durante a fase de preparação do projeto, mas, em boa parte dos casos, os
impactos mais significativos ocorrem após o início da implantação. Há uma
incerteza inerente a muitas previsões de impactos e não são poucos os casos
de impactos que não são corretamente identificados ou previstos pelo EIA
(conforme seção 10.4), mas que podem ser corrigidos por meio de medidas
mitigadoras desenvolvidas depois da aprovação do projeto.
Não somente a prática, mas também a teoria atribuía importância menor ao que
se passava após a aprovação dos projetos. Insuficiente exploração das
ligações entre avaliação prévia e gestão ex post era vista como “uma
deficiência perceptível da literatura teórica” sobre AIA (Bailey, 1997, p.
317), mais voltada para analisar sua influência sobre o processo decisório que
leva à aprovação de uma iniciativa. As soluções passariam por uma melhor
conceituação da fase de acompanhamento (Arts, 1998) e pela aplicação de
boas práticas, como defendido por Wilson (1998), que não somente é
necessário implementar os compromissos assumidos pelos proponentes, mas
que a implementação deveria ser monitorada, relatada em documentos e
auditada para verificar sua conformidade.
A demonstração dos resultados costuma ser feita por meio de relatórios que
podem ou não ser divulgados publicamente. O conteúdo de um relatório
público é ilustrado no Quadro 18.1, que traz a estrutura de um “balanço de
atividades ambientais” anual preparado pela Hydro-Québec durante a
construção da usina hidrelétrica Sainte-Marguerite 3, situada em um afluente
da margem esquerda do rio São Lourenço. Vários exemplares do relatório-
síntese foram impressos e distribuídos para os interessados, além dos
documentos protocolizados nos organismos governamentais competentes. Esse
é o primeiro de uma série de relatórios anuais sobre a situação do
monitoramento e a implantação das medidas de gestão desse empreendimento,
cuja construção teve início em abril de 1994 e terminou em 2004. Projeto de
grande porte, é constituído de uma barragem de 410 m de altura, um
reservatório de 25.300 ha e uma usina de 884 MW de potência instalada.
O estudo de Dias e Sánchez (2001) mostrou que muitas vezes não é claro o
que deve ser acompanhado, fiscalizado ou controlado e menos ainda como
pode ser avaliado o atendimento às condicionantes de uma licença.
AUTOMONITORAMENTO
Verificar se suas atividades atendem aos requisitos legais de proteção
ambiental é uma das obrigações de toda empresa. Os custos de monitoramento
ambiental são parte dos custos operacionais de qualquer atividade econômica.
Idealmente, a empresa coleta dados sobre seu desempenho — de acordo com
um plano previamente estabelecido —, registra-os, interpreta e prepara
relatórios periódicos, que servem para comunicar os resultados interna e
externamente.
A preparação de relatórios de andamento acerca dos programas de gestão ou
relatórios conclusivos sobre a implantação de medidas mitigadoras ou
compensatórias é uma exigência costumeira em muitas licenças ambientais,
mas sua implementação não é muito simples. A escolha prévia de indicadores
quando da preparação do plano de gestão e a coleta sistemática de dados por
meio de programas de monitoramento são uma condição necessária para o
acompanhamento mediante esses relatórios. Estes são preparados pelo
empreendedor, muitas vezes com a ajuda de consultores, e, para validá-los, é
preciso submetê-los ao crivo do órgão fiscalizador ou de uma comissão
externa, pois, do contrário, podem ter baixa credibilidade. O Quadro 18.1
mostra um exemplo de relatório de atividades de acompanhamento ambiental
durante a etapa de construção de uma usina hidrelétrica. É um relatório
público sintético que apresenta os mais importantes resultados dos trabalhos
realizados durante o período; informa quais foram os vários estudos técnicos
em andamento ou concluídos e onde podem ser consultados.
INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS
Fig. 18.3 Identificação e avaliação de aspectos e impactos ambientais e ciclo PDCA, para a
melhoria da gestão do desempenho ambiental
Fig. 18.4 Canteiro de obras de construção da usina hidrelétrica San Francisco, Equador, que
conta com sistema de gestão ambiental. Note-se, na porção inferior-esquerda da foto, uma
instalação de tratamento de efluentes dos túneis em construção
ANÁLISE DE RISCOS
Conjunto de atividades de identificação, estimativa e gerenciamento de risco.
ÁREA DE ESTUDO
Área geográfica na qual são realizados os levantamentos para fins de
diagnóstico ambiental.
ÁREA DE INFLUÊNCIA
Área geográfica na qual são detectáveis os impactos de um projeto.
ASPECTO AMBIENTAL
Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode
interagir com o meio ambiente (segundo NBR ISO 14.001:2004).
AUDITORIA AMBIENTAL
Atividade sistemática, documentada, objetiva e periódica que visa analisar a
conformidade de uma atividade com critérios prescritos.
AVALIAÇÃO DE RISCO
Processo pelo qual os resultados da análise de riscos são utilizados para a
tomada de decisão.
COMPENSAÇÃO AMBIENTAL
Substituição de um bem que será perdido, alterado ou descaracterizado por
outro, entendido como equivalente ou que desempenhe função equivalente. A
compensação deve seguir a hierarquia de mitigação, sendo usada após a
aplicação de medidas para evitar e minimizar os impactos adversos.
CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO
Regra ou conjunto de regras para avaliar a importância de um impacto.
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
Qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes
ambientais, ou alteração adversa da qualidade ambiental.
DESEMPENHO AMBIENTAL
Conjunto de resultados concretos e demonstráveis de proteção ambiental.
Resultados do gerenciamento dos aspectos ambientais de uma organização
(segundo ISO 14.031:1999).
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
Descrição das condições ambientais existentes em determinada área no
momento presente. Descrição e análise da situação atual de uma área de
estudo feita por meio de levantamentos de componentes e processos do meio
ambiente físico, biótico e antrópico e de suas interações.
EFEITO AMBIENTAL
Alteração de um processo natural ou social decorrente de uma ação humana.
Entretanto, o termo também é usado, por alguns autores e em algumas
legislações, como sinônimo de impacto ambiental.
ESTUDOS DE BASE
Levantamentos acerca de alguns componentes e processos selecionados do
meio ambiente que podem ser afetados pela proposta em análise.
GESTÃO AMBIENTAL
Conjunto de medidas de ordem técnica e gerencial que visam a assegurar que
o empreendimento seja implantado, operado e desativado em conformidade
com a legislação ambiental e outras diretrizes relevantes, a fim de minimizar
os riscos ambientais e os impactos adversos, além de maximizar os efeitos
benéficos.
HÁBITAT CRÍTICO
Área de alto valor para a biodiversidade, incluindo o hábitat de espécies
ameaçadas ou criticamente ameaçadas, de espécies endêmicas ou restritas, que
suportam concentrações de importância global de espécies migratórias ou
congregatórias, ecossistemas ameaçados ou raros e áreas associadas a
processos evolutivos chave (IFC, Padrão de Desempenho 6).
HIERARQUIA DE MITIGAÇÃO
Equivale à ordem de preferência na mitigação de impactos adversos: (1)
evitar; (2) reduzir ou minimizar; (3) corrigir os impactos depois de sua
ocorrência e (4) compensar por impactos que não podem ser evitados ou
satisfatoriamente reduzidos.
IDENTIFICAÇÃO DE IMPACTOS
Descrição das consequências esperadas de um determinado projeto e dos
mecanismos pelos quais se dão as relações de causa e efeito, a partir das
ações modificadoras do meio ambiente que compõem um empreendimento ou
outra ação humana.
IMPACTO AMBIENTAL
Alteração da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos
naturais ou sociais provocada por ação humana.
IMPACTOS CUMULATIVOS
Impactos que se acumulam no tempo ou no espaço, e resultam de uma
combinação de efeitos decorrentes de uma ou diversas ações. Frequentemente,
na literatura, aparecem como efeitos cumulativos.
IMPACTOS IMEDIATOS
Aqueles que ocorrem simultaneamente à ação que os gera.
IMPACTOS INDIRETOS
Aqueles que decorrem de um impacto direto causado pelo projeto em análise,
ou seja, são impactos de segunda ou terceira ordem.
IMPACTOS IRREVERSÍVEIS
Alterações para as quais há impossibilidade ou dificuldade extrema de
retornar à condição precedente; alterações ambientais que não podem ser
corrigidas por iniciativa humana, por razões de ordem técnica, econômica ou
social.
IMPACTOS PERMANENTES
Alterações definitivas do meio ambiente ou alterações que têm duração
indefinida (um impacto permanente pode ser reversível ou irreversível).
IMPACTOS REVERSÍVEIS
Alterações do meio ambiente que podem ser corrigidas por iniciativa humana
(ações de recuperação ambiental).
IMPACTOS TEMPORÁRIOS
Aqueles que só se manifestam durante uma ou mais fases do projeto, e que
cessam quando de sua desativação; impactos que cessam quando cessa a ação
que o causou (a alteração do ambiente sonoro termina quando cessa a fonte de
ruído).
MATRIZ DE IMPACTOS
Quadro ou planilha estruturado em linhas e colunas, que pode ser apresentado
sob diferentes formatos, e que mostra correlações entre (1) as ações ou
atividades do empreendimento analisado e (2) os componentes ou elementos
ambientais, ou entre (1) as ações ou atividades do empreendimento analisado
e (3) os aspectos e/ou impactos ambientais.
MEDIDAS COMPENSATÓRIAS
Ações que visam a compensar a perda de um bem ou função que será perdido
em decorrência do projeto em análise.
MEDIDAS MITIGADORAS
Ações propostas com a finalidade de reduzir a magnitude ou a importância dos
impactos adversos.
MONITORAMENTO AMBIENTAL
Coleta sistemática e periódica de dados previamente selecionados, com o
objetivo principal de verificar o atendimento a requisitos predeterminados.
PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
Envolvimento, em um processo decisório, de indivíduos e grupos que podem
ser positiva ou negativamente afetados por um projeto ou que nele estão
interessados.
PERIGO
Condição ou situação física com potencial de acarretar consequências
indesejáveis.
POLUIÇÃO
Introdução, no meio ambiente, de qualquer forma de matéria ou energia que
possa afetar negativamente o homem ou outros organismos.
PREVISÃO DE IMPACTOS
Uso de métodos e técnicas para antecipar a magnitude ou a intensidade dos
impactos ambientais.
PROGNÓSTICO AMBIENTAL
Projeção da provável situação futura do ambiente potencialmente afetado,
caso a proposta em análise (projeto, política, plano, programa) seja
implementada; também se pode fazer um prognóstico ambiental considerando
que a proposta em análise não seja implementada.
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL
Aplicação de técnicas de manejo visando tornar um ambiente degradado apto
para um novo uso produtivo, desde que sustentável.
RISCO AMBIENTAL
Potencial de ocorrência de efeitos adversos indesejados para a saúde ou vida
humana, para o ambiente ou para bens materiais (segundo Society for Risk
Analysis).
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
Benefícios que a sociedade obtém dos ecossistemas, usualmente classificados
em quatro tipos: (i) serviços de provisão ou abastecimento, que são os
produtos que as pessoas obtêm dos ecossistemas; (ii) serviços reguladores,
que são os benefícios que as pessoas obtêm da regulação dos processos dos
ecossistemas; (iii) serviços culturais, que são os benefícios não materiais que
as pessoas obtêm dos ecossistemas e (iv) serviços de apoio, que são os
processos naturais que mantêm os outros serviços.
SUBSTÂNCIA PERIGOSA
Toda substância ou mistura que, em razão de suas propriedades químicas,
físicas ou toxicológicas, só ou em combinação com outras, represente um
perigo (Convênio OIT 174: 1993).
SUPERVISÃO AMBIENTAL
Atividade contínua realizada pelo empreendedor ou seu representante, com a
finalidade de verificar o cumprimento de exigências legais ou contratuais por
parte de empreiteiros e de quaisquer outros contratados para a implantação,
operação ou desativação de um empreendimento.
Qualquer verificação do atendimento de obrigações de natureza contratual, até
mesmo o atendimento a obrigações legais.
TERMOS DE REFERÊNCIA
Diretrizes para a preparação de um EIA. Um documento que (i) orienta a
elaboração de um EIA; (ii) define seu conteúdo, abrangência, métodos; e (iii)
estabelece sua estrutura.
APÊNDICE
RECURSOS
Como em outras especialidades, também o profissional da avaliação de
impacto ambiental necessita de contínua atualização. A experiência individual
é, sem dúvida, inestimável, mas um profissional competente não pode
prescindir da experiência coletiva acumulada para formar e consolidar sua
base de conhecimento. Este apêndice traz referências internacionais e a
indicação de alguns recursos para a boa prática da avaliação de impacto
ambiental.
Safeguard Policies
Conjunto de documentos que explicitam as políticas do Banco com
relação à proteção dos recursos ambientais e culturais em projetos
submetidos para possível financiamento; uma delas define os
procedimentos de AIA do Banco. Em 2012, o Banco anunciou o início
de um processo de consulta pública – para atualização e reforma de suas
políticas de salvaguardas – previsto para durar dois anos.
Outros documentos
O site da IFC dá acesso a diversos outros documentos de interesse, a
exemplo de:
Stakeholder Engagement: A Good Practice Handbook for Companies
Doing Business in Emerging Markets, 2007. (versão em português:
Participação dos Interessados: Manual de Melhores Práticas para Fazer
Negócios em Mercados Emergentes) O site http://commdev.org é um
repositório de informações, documentos públicos, ferramentas, estudos
de caso, guias, exemplos de melhores práticas e estudos produzidos pela
IFC e outras organizações para orientar as ações de empresas visando o
envolvimento e desenvolvimento das comunidades afetadas.
BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO -
www.iadb.org/en/topics/sustainability/sustainability.1510.html
O Banco adota Padrões de Sustentabilidade que incluem a exigência de
avaliação prévia de impactos ambientais. Dentre os documentos de interesse,
há um conjunto de diretrizes para alguns tipos de projetos emissores de gases
de efeito estufa.
SITES GOVERNAMENTAIS
A maioria das agências ambientais envolvidas com avaliação de impacto
ambiental dispõe de sites com informações sobre leis e regulamentos e casos
em andamento, com possibilidade, em algumas delas, de consultar ou baixar
estudos ambientais. Em geral, no Brasil, deve-se buscar sob “licenciamento
ambiental”. No Brasil, pode-se citar como fontes que contêm grandes volumes
de informação, incluindo EIAs:
Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis: www.ibama.gov.br
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo: www.cetesb.sp.gov.br
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (Nova
Iorque, 2007).
ÍNDICE
REMISSIVO
A
ação judicial 49, 56, 317, 345, 401, 403, 424, 432, 440, 441
acidente 42, 206, 219, 237, 356, 357, 358, 359, 360, 361, 362, 364, 365, 366, 368, 369,
371, 372, 373, 374, 375, 376, 391, 394, 395, 396, 430
acompanhamento (fase de) 193, 197, 291, 319, 418, 476, 513, 515, 516, 518, 519, 526,
527
agência
de cooperação 56
de crédito à exportação 73, 74
Agência Canadense de Avaliação Ambiental 238, 498
Agência de Proteção Ambiental (Estados Unidos) 296, 453, 497
águas subterrâneas 36, 38, 126, 148, 210, 159, 209, 259, 226, 260, 261, 262, 263, 278,
296, 307, 311, 319, 325, 356, 357, 430, 481, 41
Alemanha 51, 54, 55, 64, 74, 267, 399, 405, 448
alternativas
comparação de 171, 182, 322, 344, 348, 351, 454
formulação de 170, 172, 174, 178, 182, 496
alumínio, indústria de 486
Amazônia, Amazonas 30, 31, 38, 65, 87, 196, 268, 309, 449
ambiente urbano 44, 256, 269, 310
ambiguidade 425
análise preliminar de perigos 365, 368, 369, 370
Angola 32, 60
Antártida 56
aprendizagem 23, 104, 413, 476
aquífero 126, 142, 164, 166, 220, 230, 331, 262, 263, 265, 330, 349
área
contaminada 44, 182
de estudo 171, 186, 190, 191, 194, 238, 239, 245, 251, 252, 253, 255, 256, 270, 303,
259, 260, 263, 265, 267, 268, 269, 270, 272, 273, 276, 280, 281, 282, 286, 302,
306, 326, 350, 351, 352
degradada 28, 43, 44, 94, 182, 193, 204, 205, 206, 208, 209, 211, 223, 382, 389, 397,
427
de influência 157, 183, 190, 217, 218, 225, 253, 280, 290, 298, 302, 312, 320, 329, 366,
389, 407, 410, 449, 452, 514, 524
de preservação permanente 157, 165, 187, 257, 401
úmida 54, 109, 130, 132, 141, 142, 162, 164, 165, 192, 236, 253, 330, 331, 397, 398,
399, 530
Argentina 65, 165, 474
aspecto ambiental 31, 35, 36, 45, 356
assoreamento 37, 38, 159, 216, 225, 227, 228, 293, 357, 389
aterro
de resíduos 91, 97, 148, 175, 204, 206, 208, 210, 214, 256, 261, 356, 473, 479
sanitário 62, 104, 126, 128, 311, 324, 393
atributos ambientais 276, 348
audiência pública 110, 114, 115, 143, 414, 430, 471, 476, 478, 481, 482, 483, 484, 485,
486, 489, 507, 508
auditoria 35, 69, 112, 113, 159, 195, 314, 381, 416, 418, 452, 456, 509, 514, 516, 517,
518, 519, 526, 527, 528
ausência de impacto ambiental significativo 116, 142, 143
Austrália 20, 34, 50, 51, 52, 55, 63, 115, 118, 135, 137, 157, 162, 165, 166, 201, 255,
315, 398, 452, 473, 486, 487, 488, 504, 525, 528, 530
Autoridade de Proteção Ambiental (Austrália Ocidental) 118, 136, 165, 166, 486, 530
avaliação ambiental inicial 136, 138, 139, 140, 161
avaliação de sustentabilidade 103, 380, 538
B
Banco
Asiático de Desenvolvimento 488
Interamericano de Desenvolvimento 56, 123, 197, 406
Mundial 56, 57, 58, 59, 66, 71, 122, 123, 135, 140, 141, 156, 172, 196, 222, 278, 293,
325, 402, 403, 404, 406, 418, 479, 489
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 74
Bangladesh 60, 448
barragem
Balbina 87
Barra Grande 383, 455
Belo Monte 74, 493
Corumbá 281
de rejeitos 396
Eastmain 1 255
Grand Coulee 234
Grande Baleine 157
Irapé 316
Itaipu 27, 65, 83, 124, 125, 127, 132, 392, 393
La Grande 212, 317, 318
Malpasset 362
Nangbéto 305
Piraju 155, 176, 177, 178, 216, 231
Rosana 268
Sainte-Marguerite 3 519, 520
San Francisco 528
Santa Isabel 278
Sobradinho 58
Três Gargantas 74, 176, 280, 402
Tucuruí 58, 66, 83, 449, 453
barreira antirruído 304, 384, 388, 392, 416
Benin 163
biodiversidade 24, 31, 32, 51, 63, 73, 79, 89, 99, 106, 130, 132, 133, 134, 142, 152, 165,
192, 219, 241, 373, 307, 371, 385, 398, 73, 134
biótopos 165, 267, 268, 269
boas práticas 57, 168, 202, 393, 394, 416, 431, 445, 447, 456, 476, 515, 523
Bolívia 60, 62
Botsuana 162
C
Canadá 19, 28, 29, 50, 51, 52, 55, 74, 130, 132, 150, 157, 172, 173, 201, 208, 212, 237,
255, 307, 315, 317, 318, 324, 360, 388, 391, 393, 398, 402, 405, 444, 452, 461, 472,
478, 479, 484, 489, 494, 497, 513, 520, 524
canal 128, 136, 168, 173, 174, 176, 212, 213, 214, 216, 218, 219, 223, 246, 258, 261,
346, 347, 348, 349, 362, 377, 392, 393, 425, 439, 440, 441, 470, 487, 492, 525
carste, cárstica 38, 131, 133, 246, 261
caverna 7, 24, 34, 38, 109, 130, 131, 133, 155, 163, 165, 166, 246, 247, 248, 257, 279,
285
celulose, indústria de 65, 172, 359
cerrado 65, 66, 257, 351
Cetesb - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo 44, 84, 88, 96, 262, 299, 300, 360,
361, 364, 365, 395
céu escuro 165, 166, 167
Chile 19, 60, 62, 129, 137, 191
China 55, 59, 74, 137, 176, 280, 362, 327
Colômbia 59
Comissão
Econômica das Nações Unidas para a Europa - Unece 64, 467
Europeia 52, 150, 156, 161, 196, 447, 448, 453, 458
Holandesa de Avaliação Ambiental 420
comparação paritária 341
componentes ambientais relevantes, componentes valorizados do ambiente 34, 156, 245,
246, 253, 325, 373
comunidades afetadas 72, 73, 74, 104, 202, 238, 241, 274, 404, 406, 489, 493, 525
conflito 22, 65, 82, 88, 89, 132, 142, 221, 342, 344, 347, 377, 460, 475, 480, 481, 489,
493, 502, 503, 504, 507, 508, 509, 510, 524
conhecimento
local 162, 168, 217, 284
tradicional 284
Conselho
de Qualidade Ambiental (Estados Unidos) 48, 49, 50, 116, 143, 151, 238, 249, 282, 331,
428, 497
Estadual do Meio Ambiente - Consema (São Paulo) 114, 177, 500
Nacional do Meio Ambiente - Conama (Brasil) 59, 79, 87, 94
consulta livre, prévia e informada 73, 493
controle
administrativo 498, 509, 510
externo 424, 523
judicial 134, 135, 463, 498, 501, 509, 510
Convenção
169 da OIT 493
174 da OIT 361
da Diversidade Biológica 106, 122, 446
de Aarhus 467, 468, 469, 473, 490, 516
de Bonn 64
de Espoo 64
de Paris 24, 279
de Ramsar 63, 132, 164, 446
sobre Mudança do Clima 63, 164
coordenador, coordenação (do estudo) 179, 202, 259, 313, 430, 432, 433
Coreia 45
cultura popular 19, 23, 166, 278, 283
custos
de acompanhamento 197
de consulta e audiência pública 489
de elaboração do EIA 195
D
dados
primários 149, 190, 247, 250, 252, 265, 278, 293, 406, 461
secundários 144, 149, 170, 190, 247, 250, 252, 263, 266, 272, 278, 280, 454
Declaração
de La Palma 166
de Tlaxcala 167
do Rio 61, 62, 467
Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental - Daia (São Paulo) 115, 161, 177, 237,
350, 364, 451, 523
desenvolvimento local 310, 408, 442
deslocamento involuntário 72, 122, 224, 274, 402, 403, 405
diagrama de interação 229, 233, 234, 235
direitos
difusos 469
humanos 16, 73, 405, 466, 467, 493
drenagem ácida 316, 396
duto 33, 95, 163, 210, 256, 261, 262, 264, 310, 350, 356, 358, 360, 361, 364, 365, 385
E
eficácia 106, 108, 148, 152, 153, 193, 201, 276, 390, 391, 396, 412, 417, 418, 422, 428,
440, 452, 456, 473, 497, 503, 513, 514, 520, 521, 522
eficiência 72, 116, 134, 154, 411, 455, 456, 461, 488
elementos relevantes do ambiente, elementos valorizados do ambiente 163, 168, 246, 258,
340
Equador 528
equipe multidisciplinar 58, 69, 70, 110, 113, 186, 188, 191, 200, 202, 215, 220, 221, 249,
256, 279, 323, 341, 343, 349, 423, 429, 450
erosão 30, 31, 36, 37, 38, 40, 44, 80, 159, 259, 216, 223, 260, 262, 294, 305, 307, 349,
362, 41
Escritório de Audiências Públicas Ambientais - BAPE (Quebec) 20, 484, 485, 504, 507,
508
Espanha 51, 52, 53, 55, 63, 212, 218, 410, 448
espécies ameaçadas 142, 169, 267, 271, 272, 340, 373, 433, 530
Estados Unidos, EUA 25, 40, 48, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 58, 74, 81, 83, 115, 122, 128, 130,
137, 142, 143, 150, 151, 152, 164, 165, 175, 189, 208, 222, 223, 236, 237, 238, 270,
296, 306, 310, 311, 315, 330, 367, 397, 398, 431, 448, 452, 459, 507, 508, 509, 510,
512, 513
estudo ambiental preliminar 135, 136
estudo ambiental simplificado 114, 137
etanol, usina de 216
F
ferrovia 128, 157, 197, 255, 304, 335, 362, 391, 522, 335
Finlândia 64, 448
fragmentação, 216, 219, 224, 226, 267, 270, 277, 329, 328, 329, 385, 397, 73, 270
França 7, 51, 53, 54, 137, 165, 174, 175, 217, 261, 318, 360, 362, 390, 393, 402, 448,
452, 509, 510
fraturamento hidráulico 201, 278
funções
ambientais 241, 242
da natureza 240, 241
dos ecossistemas 241
G
gás de xisto 201, 278
geleiras 165
Grécia 53, 448
H
hábitat
crítico 132, 134, 271, 272, 323
evaluation procedure 269, 270
fragmentação de 216, 226, 267, 307, 329, 389, 397
hidrelétrica 48, 66, 83, 96, 104, 127, 139, 155, 175, 177, 216, 218, 229, 231, 252, 255,
281, 282, 283, 310, 316, 325, 363, 383, 402, 439, 449, 455, 519, 522, 528
hidrovia 149, 247, 253, 310, 431, 500
hierarquia
de mitigação 72, 178, 193, 262, 385, 400, 401, 406, 409
de valorização 409
hipermercado 310, 311
Holanda 51, 63, 74, 139, 144, 170, 201, 275, 342, 345, 346, 347, 348, 393, 397, 439, 444,
445, 453, 462, 497, 509
Hong Kong 20, 32, 51, 55, 156, 208, 269, 305, 374, 372, 327, 327, 335
I
IAIA - International Association for Impact Assessment 42, 105, 106, 475, 516
Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 70, 79,
86, 87, 91, 93, 94, 99, 113, 131, 161, 293, 439, 440, 456, 500
impacto
cumulativo 14, 136, 142, 143, 171, 231, 235, 236, 237, 238, 239, 242, 328, 329
direto 253, 274, 326, 327, 329, 346, 393, 485
distribuição espacial 290, 330, 348
distribuição temporal 290
indireto 233, 326, 327, 328, 329
irreversível 328, 330, 333
permanente 326, 328, 335
significativo 13, 30, 56, 71, 74, 92, 95, 107, 108, 109, 116, 122, 123, 125, 126, 127,
128, 132, 134, 136, 142, 143, 148, 149, 153, 204, 205, 207, 236, 246, 274, 277,
286, 316, 323, 332, 337, 352, 388, 390, 412, 416, 418, 422, 446, 459, 466, 496,
502, 508, 186
temporário 305, 323, 326, 327, 328
incerteza 14, 192, 194, 217, 228, 239, 246, 291, 298, 307, 314, 319, 320, 324, 331, 375,
381, 394, 409, 410, 457, 515, 521, 525
Indonésia 57, 60, 165, 166
Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 24, 79, 248, 280
Irlanda 448
ISO (normas)
ISO 14.001 30, 35, 45, 107, 111, 222, 229, 384, 395, 528
ISO 14.031 111, 293, 380
ISO 19.011 111, 518
ISO 26.000 112
ISO 31.000 112, 375
Itaipu 27, 65, 83, 124, 125, 127, 132, 392, 393
Itália 53, 356, 360, 362
IUCN - União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos 168, 272
J
Japão 51, 55, 165, 356, 473
justiça ambiental 330
L
licença social 476
licenciamento ambiental 12, 67, 69, 70, 78, 85, 86, 88, 89, 90, 93, 94, 95, 97, 98, 99, 105,
106, 107, 111, 112, 113, 114, 115, 124, 127, 130, 193, 211, 214, 280, 310, 357, 365,
366, 384, 401, 409, 413, 424, 444, 451, 456, 471, 480, 487, 500
linha de transmissão 128, 129, 148, 171, 175, 187, 204, 205, 207, 211, 226, 227, 256,
261, 310, 312, 351, 380, 382, 383, 384, 449
lista
de verificação 188, 220, 221, 222, 223, 368, 430, 456, 457, 458, 459
negativa 108, 116, 127, 128, 138, 140, 143
positiva 108, 112, 116, 117, 119, 127, 128, 130, 135, 138, 140, 142, 145, 468
loteamento 37, 39, 40, 91, 262, 306, 309
lugares de memória 24, 34, 246, 283
M
manguezal 27, 34, 63, 128, 129, 130, 162, 163, 169, 188, 246, 373, 398
mapa
de uso do solo 256, 298
de vulnerabilidade de aquíferos 265
geotécnico 262, 264
mata atlântica 79, 130, 134, 163, 270, 271, 277, 286, 398
Mato Grosso 132, 155, 262, 384
matriz
de identificação de impactos 227, 228, 230, 231
de Leopold 223, 225, 226, 340
de risco 336, 337, 372
mercúrio 255, 317, 318, 356, 357, 524, 525
metrô 170, 490
México 59, 129, 133, 167, 191, 360, 364, 365, 360, 460
mina, mineração
bauxita 228, 295
calcário 155, 235, 247, 250
carvão 212, 237, 405
cobre 132, 396
ferro 157, 159, 241, 255, 487
fluorita 318
rocha fosfática 153, 154
urânio 20, 316, 525, 526
Minas Gerais 38, 67, 83, 113, 148, 153, 154, 185, 269, 272, 316, 367, 408, 500
Ministério Público 87, 88, 155, 177, 248, 282, 384, 424, 446, 453, 469, 482, 493, 509,
524
Moçambique 60, 109, 137
modelagem, modelo 40, 50, 52, 53, 57, 65, 67, 83, 86, 90, 92, 107, 108, 111, 115, 154,
160, 182, 191, 192, 229, 248, 249, 250, 253, 270, 284, 285, 286, 291, 296, 297, 298,
299, 300, 301, 304, 305, 306, 307, 308, 311, 312, 313, 314, 318, 319, 320, 365, 371,
373, 386, 395, 409, 410, 414, 429, 433, 436, 444, 461, 462, 474, 486, 488, 489, 500,
501, 502, 506, 300, 523, 525
monitoramento 44, 107, 111, 112, 113, 114, 115, 127, 153, 158, 194, 195, 197, 198, 206,
208, 210, 244, 245, 251, 253, 263, 266, 291, 294, 297, 301, 302, 314, 315, 318, 320,
323, 367, 375, 381, 382, 383, 390, 391, 392, 407, 408, 410, 411, 412, 415, 416, 440,
441, 448, 455, 456, 458, 496, 498, 512, 513, 516, 517, 518, 519, 520, 521, 522, 523,
524, 525, 526, 527, 528
monumento histórico 167
multicritério (análise) 332, 341, 342
N
Namíbia 160, 169
National Environmental Policy Act - NEPA (Estados Unidos) 40, 48, 49, 50, 53, 55, 56,
104, 122, 127, 140, 142, 143, 151, 175, 236, 428, 478, 482, 497
nível de pressão sonora 285, 294, 301
Noruega 319, 493
Nova Zelândia 50, 55, 284
O
oleoduto 128, 129, 151, 356, 478
Organização das Nações Unidas - ONU 24, 63, 132, 167, 196, 293, 361, 380, 467
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco 24, 132,
166, 167, 168
Organização Internacional do Trabalho - OIT 359, 361, 493, 494
Organização Mundial da Saúde - OMS 277
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE 25, 56, 57
P
padrões de desempenho
1 avaliação e gestão de riscos e impactos socioambientais 72, 364, 489
2 trabalho e condições de trabalho 72
3 eficiência no uso de recursos e prevenção da poluição 72
4 saúde e segurança da comunidade 72, 527
5 aquisição de terras e reassentamento involuntário 72, 403, 404
6 conservação da biodiversidade e gestão sustentável de recursos naturais vivos 73, 271
7 povos indígenas 58, 73, 489, 493
8 patrimônio cultural 73
paisagem cultural 166
Panamá 213
Pará 39, 40, 275, 282
parque eólico 170, 171, 212, 486
Parque Estadual (São Paulo)
Intervales 247
Serra da Cantareira 148
Serra do Mar 247, 401, 523
Parque Nacional
Banff (Canadá) 391, 392, 393
Franklin-Gordon Wild Rivers (Austrália) 474
Itatiaia (Brasil) 81
Kakadu (Austrália) 20, 504, 525
Kruger (África do Sul) 163
Sete Quedas (Brasil) 26, 81, 124, 125, 132, 449
partes interessadas 72, 150, 160, 168, 179, 182, 201, 202, 291, 336, 338, 342, 344, 377,
381, 407, 409, 415, 416, 418, 420, 423, 466, 475, 476, 489, 490, 491, 492, 496, 514,
516, 524
passagens de fauna 388, 389, 391, 392
passagens de peixes 392
patrimônio
arqueológico 189, 215, 217, 230, 253, 280, 347, 349, 383, 409, 410
cultural 23, 24, 32, 58, 73, 110, 133, 177, 193, 219, 224, 226, 278, 279, 280, 283, 389,
401, 493
espeleológico 131, 155, 163, 215, 246, 248
geológico 279
histórico 23, 24, 79, 81, 131, 168, 170, 218, 248, 282, 283, 383
imaterial 24, 166, 278
mundial 132, 164, 166, 525
natural 28, 98, 129, 131, 166, 279, 286, 382
pedreira 207, 208, 209, 298, 308, 393, 500, 508
petróleo 29, 83, 95, 97, 128, 129, 132, 138, 141, 159, 160, 162, 169, 173, 197, 220, 221,
253, 284, 307, 350, 356, 358, 359, 361, 364, 365, 371, 373, 376, 389, 394, 395, 473,
360
plano
de atendimento a emergências 366, 394, 395
de gerenciamento de riscos 366, 394, 395
de gestão ambiental 118, 190, 193, 194, 244, 379, 380, 381, 382, 383, 385, 394, 396,
415, 416, 417, 418, 528
de reassentamento 72, 406, 407
de recuperação dos meios de subsistência 405
de trabalho 66, 109, 115, 143, 161, 177, 185, 186, 190, 250, 275
plataforma continental 94, 160, 169, 221
plebiscito 311, 470, 473, 474
poluição
da água 225, 331, 389
do ar 25, 82, 297, 357, 389
do solo 216
luminosa 166, 167, 390, 397
ponte 36, 65, 216, 272, 362, 389, 390, 392, 530
porto, terminal portuário 58, 66, 84, 95, 98, 124, 160, 162, 173, 203, 206, 215, 216, 218,
228, 229, 237, 246, 310, 346
Portugal 51, 53, 70, 130, 144, 150, 164, 165, 170, 171, 384, 390, 392, 396, 426, 439, 448
povos indígenas 58, 73, 122, 141, 142, 157, 234, 489, 493, 494
Princípios do Equador 71, 73, 74, 75, 123, 135, 444, 489, 517
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA, Unep 28, 68, 106, 136,
152, 293, 396, 456, 458, 462
programas ambientais 195, 198, 374, 411, 413, 417
Protocolo de Madrid 138
Q
qualidade ambiental 18, 26, 27, 30, 34, 35, 36, 41, 45, 62, 67, 84, 86, 88, 91, 93, 99, 106,
173, 190, 191, 194, 226, 328, 339, 340, 341, 380, 395, 399, 413, 451, 460, 512
quilombos 131
R
radiações
ionizantes 26, 252, 266, 358
Ramsar 63, 64, 132, 162, 164, 446
reassentamento 23, 58, 72, 122, 141, 142, 207, 209, 252, 274, 279, 382, 389, 402, 403,
404, 405, 406, 407
recifes de coral 142, 162, 373
recuperação de áreas degradadas 43, 44, 182, 204, 205, 206, 208, 209, 389, 427
redes de interação 220, 231, 234
Reino Unido 25, 55, 139, 170, 237, 279, 432, 448, 497, 512
Relatório Ambiental Preliminar (RAP) 95, 113, 114, 138, 143, 144, 156, 161, 182, 229,
483
represa 19, 125, 318, 403, 524
resiliência 28, 44, 125, 126, 136, 246
resolução espacial 258, 334, 335
responsabilidade social 111, 408, 487, 505
Rio+20 65
Rio-92 61
Rio de Janeiro (Estado) 25, 67, 69, 80, 81, 83, 84, 90, 91, 113, 114, 161, 164, 220, 304,
467, 481
risco
agudo 357, 358, 373, 377
conceito de 332, 374
crônico 357, 358, 373, 377
de crédito 73
de imagem 73
gerenciamento de 364, 365, 366, 367, 376, 394, 395, 396
tecnológico 357, 358, 359, 368
rodovia 34, 35, 37, 58, 65, 83, 84, 126, 128, 148, 175, 182, 189, 197, 204, 206, 215, 216,
226, 230, 255, 257, 261, 268, 269, 281, 285, 297, 298, 299, 300, 304, 309, 310, 312,
316, 329, 330, 331, 345, 359, 362, 380, 384, 385, 386, 387, 388, 390, 391, 392, 393,
394, 395, 397, 401, 402, 403, 416, 448, 452, 514, 523, 530
ruído 26, 35, 36, 98, 124, 212, 224, 225, 230, 252, 255, 265, 266, 285, 294, 295, 296,
300, 301, 302, 303, 304, 305, 313, 320, 340, 346, 357, 397, 421, 423, 432, 522, 530
S
Santa Catarina 83, 455, 523
São Paulo (Estado) 25, 66, 70, 84, 85, 90, 91, 113, 114, 115, 127, 133, 137, 140, 143, 148,
155, 161, 163, 170, 173, 176, 185, 189, 197, 231, 237, 247, 262, 268, 272, 273, 281,
283, 286, 292, 300, 346, 350, 351, 359, 364, 365, 385, 386, 387, 390, 395, 401, 439,
440, 451, 473, 479, 482, 483, 490, 500, 512, 523
São Paulo (município) 85, 88, 99, 135, 170, 293, 298, 299, 306, 339, 350, 403, 490, 500
saúde 20, 25, 26, 27, 32, 33, 34, 41, 63, 72, 84, 88, 89, 90, 124, 129, 141, 142, 158, 192,
219, 224, 231, 234, 272, 277, 278, 292, 300, 317, 324, 329, 330, 349, 356, 357, 358,
361, 363, 370, 374, 375, 408, 413, 460, 472, 524, 527
sedimentos contaminados 173
serviços ecossistêmicos 73, 402, 241
sistema
de avaliação de impacto ambiental 102, 105, 456
de gestão ambiental e social (SGAS) 72, 73, 107, 415, 525
de gestão ambiental (SGA) 107, 214, 220, 229, 344, 380, 384, 414, 415, 527, 528
de gestão integrada (SGI) 374, 413
de informação geográfica (SIG) 348
sítio arqueológico 24, 131, 216, 217, 226, 252, 258, 278, 280, 281, 282, 389, 401, 410
solo
agrícola 142, 164, 165
uso do 37, 38, 67, 84, 85, 86, 89, 92, 107, 127, 138, 139, 162, 187, 188, 202, 203, 206,
217, 222, 223, 224, 225, 236, 238, 252, 254, 255, 256, 257, 258, 298, 303, 312,
350, 351, 365, 385, 389, 390, 260
supervisão ambiental 112, 157, 158, 197, 198, 381, 517, 518, 520, 522
T
Tailândia 236, 506
Tanzânia 272
TCU - Tribunal de Contas da União 197, 413, 456, 512
termelétrica 171, 175, 206, 249, 253, 298, 300, 302, 383, 393, 440, 449, 473
termos de referência 110, 113, 119, 130, 150, 156, 157, 158, 159, 161, 163, 169, 174,
175, 179, 186, 190, 196, 237, 245, 248, 249, 256, 263, 267, 284, 286, 291, 405, 427,
430, 432, 434, 435, 444, 445, 446, 447, 453, 456, 477, 481, 489, 496, 499, 503, 509,
530
Togo 305
Tucuruí 58, 66, 83, 449, 453
túnel 177, 178, 317, 387, 388, 397, 525, 528
turismo 65, 84, 133, 138, 141, 149, 166, 247, 255, 326
U
Unesco 24, 132, 166, 167, 168
União Europeia 53, 127, 196, 238, 398
Uruguai 60, 62, 65, 191
V
variabilidade 245, 251, 307, 456
vazamento 29, 36, 107, 284, 295, 307, 311, 356, 358, 359, 360, 361, 369, 370, 371, 372,
373, 374, 375, 360
viabilidade ambiental 102, 104, 110, 115, 122, 172, 176, 182, 187, 244, 356, 409, 446,
466, 476, 500, 503
vibrações 26, 35, 224, 230, 308, 346
vulnerabilidade 125, 126, 130, 133, 138, 139, 162, 246, 259, 260, 262, 265, 277, 310,
364, 365, 454
vulnerável, vulneráveis
espécies 273, 284
grupos 202, 276, 407, 408, 475, 489
Z
Zimbábue 40
zoneamento 68, 79, 85, 86, 98, 107, 109, 119, 124, 127, 131, 138, 139, 140, 145, 162,
185, 187, 236, 268, 343, 389, 390
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