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de faca constituíram meio necessário para a execução do delito
pretendido, sendo, por isso, absorvidas pelo crime de homicídio.
Exige-se, para caracterizar crime continuado, conexão temporal entre as condutas
praticadas para que se configure a continuidade delitiva. Deve existir, em outros termos, uma
certa periodicidade que permita observar-se um certo ritmo, uma certa uniformidade, entre as
ações sucessivas, embora não se possam fixar, a respeito, indicações precisas.
A jurisprudência tem admitido crime continuado quando entre as infrações penais não
houver decorrido período superior a 30 dias.

Além dos demais requisitos, para que seja possível reconhecer a continuidade delitiva,
deve, ainda, estar presente a conexão espacial.
A lei não estabelece parâmetros para o reconhecimento da conexão espacial, tendo a
jurisprudência do STJ admitido a continuidade delitiva quando tratarem de crimes praticados na
mesma cidade, bem como em comarcas limítrofes ou próximas.
Assim, a prática de crimes da mesma espécie em locais diversos não exclui a
continuidade. Crimes praticados em bairros diversos de uma mesma cidade, ou em cidades
próximas, podem ser entendidos como praticados em condições de lugar semelhantes.

A lei exige que a forma de execução das infrações continuadas seja semelhante,
traduzindo-se no modo, forma e os meios empregados para a prática dos delitos.
Exemplo: Empregado de um estabelecimento comercial que subtrai, diariamente, objetos
da empresa.
Por outro lado, um crime de furto qualificado pela escalada e outro furto qualificado pela
destreza, conquanto crimes da mesma espécie, inviabilizam a incidência do crime continuado, já
que empregaram modos de execução distintos.
Da mesma forma, verifica-se a diversidade da maneira de execução dos diversos delitos,
quando o agente pratica furto ora sozinho, ora em companhia de comparsas, não configurando,
pois, continuidade delitiva, mas sim a habitualidade criminosa.

Exige-se unidade de resolução, devendo o agente desejar praticar os crimes com


continuidade. Portanto, além dos requisitos objetivos, exige unidade de desígnios, isto é, uma
programação inicial, com realização sucessiva.
É o entendimento adotado pelo STJ , segundo o qual na prática dos crimes em
continuidade delitiva, exigindo-se, pois, que haja um liame entre os crimes, apto a evidenciar de
imediato terem sido esses delitos subsequentes continuação do primeiro, isto é, os crimes
parcelares devem resultar de um plano previamente elaborado pelo agente.
Com efeito, o próprio Código Penal, ao dispor que os crimes subsequentes devem ser
havidos como continuação do primeiro, sinaliza pela necessidade da ligação subjetiva entre os
diversos crimes praticados pelo agente. Não há como considerar um crime subsequente ao
primeiro sem a presença de liame ou vínculo subjetivo entre eles. Logo, deve restar demonstrado
que o agente agiu com consciência e vontade em praticar crimes da mesma espécie em
sequência, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução.

Além dos requisitos previstos no art. 71, caput, do CP, o crime continuado específico prevê
a necessidade de três requisitos, que devem ocorrer simultaneamente:
a) Contra vítimas diferentes
Admite-se nexo de causalidade entre crimes que lesam interesses jurídicos pessoais,
ainda que praticados contra vítimas diversas.
De fato, a circunstância de os delitos componentes atingirem bens jurídicos pessoais não
impede a continuação. Entretanto, cumpre observar o disposto no parágrafo único do art. 71 do
Código Penal:
Assim, admite o Código Penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais ou
roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do art.
59, caput, do CP, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja
superior à que seria imposta se o caso fosse de concurso material.
b) Com violência ou grave ameaça à pessoa
Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta
– contra a pessoa, não haverá a continuidade específica.
c) Somente em crimes dolosos
Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas
não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizado o crime continuado específico.

Tratando-se de crime continuado comum, aplica-se a pena de qualquer um dos crimes,


se idênticas, aumentada de 1/6 até 2/3.
Tratando-se de crime continuado qualificado, aplica-se a pena do crime mais grave,
aumentada de 1/6 até 2/3.
O parâmetro para o aumento da pena entre 1/6 e 2/3 deve ser proporcional ao número de
infrações praticadas. Ou seja, “em se tratando de aumento de pena referente à continuidade
delitiva, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações;
1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações”. 8
Tratando-se de crime continuado específico, previsto no art. 71, parágrafo único, do CP,
aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. Todavia, segundo o entendimento
do STF, no crime continuado qualificado, a majoração da pena não está adstrita ao número de
i

Logo, a fração de aumento de pena


no crime continuado qualificado lastreia-se nos vetores em questão, e não apenas no número de
infrações praticadas.9
Se, da aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se
somadas as penas, aplica-se a regra do concurso material benéfico (CP, art. 71, parágrafo único,
parte final).

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