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Família escrava no Brasil:

uma incursão pela historiografia brasileira do século XXI

José Flávio Motta

Professor Titular da FEA/USP

Palavras-chave:

família escrava no Brasil; historiografia da escravidão brasileira;


demografia da escravidão no Brasil; economia da escravidão no Brasil;
história do Brasil colônia e império

VIII Simpósio Nacional de História da População, realizado aos 16 e 17 de outubro de 2019


Evento organizado pelo Grupo de Trabalho População e História da
Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP)
1

Família escrava no Brasil:


uma incursão pela historiografia brasileira do século XXI

José Flávio Motta1

Introdução

A família escrava e a estrutura da posse de cativos foram os dois temas


contemplados em minha tese de doutorado. Intitulada Corpos escravos,
vontades livres, essa tese foi defendida há três décadas, em 1990, no
Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP).2 Embora a atenção
estivesse centrada no estudo de uma específica localidade valeparaibana
paulista, Bananal, no decurso dos três decênios iniciais do Oitocentos, dediquei
um capítulo daquele trabalho a uma análise acerca do evolver vivenciado pela
historiografia no que respeita ao tema da família escrava.
Essa análise foi minha primeira incursão no acompanhamento das
distintas maneiras como os estudiosos, ao longo do tempo, vinham tratando esse
apaixonante tema componente da historiografia da escravidão, e o capítulo em
questão foi publicado na forma de artigo, antes ainda da defesa da tese (cf.
MOTTA, 1988).
Voltei a escrever sobre o assunto na virada do milênio, e procedi a uma
atualização de minha abordagem anterior da historiografia produzida acerca da
família escrava no Brasil. Tal retomada tornou-se parte de uma coletânea,
organizada pela saudosa professora Eni de Mesquita Samara, precipuamente
dedicada a estudos sobre a historiografia brasileira (cf. MOTTA, 2002).
Prazerosamente, assumo aqui a tarefa de realizar um novo esforço de
atualização daquele mesmo tópico.3 Afinal, o tempo é inclemente e vários lustros

1Professor Titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e


Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP). E-mail: jflaviom@usp.br.
2 E, anos mais tarde, publicada na forma de livro (cf. MOTTA, 1999).
3Este texto foi elaborado para apresentação no VIII Simpósio Nacional de História da População,
realizado aos 16 e 17 de outubro de 2019 na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),
evento organizado pelo Grupo de Trabalho População e História da Associação Brasileira de
Estudos Populacionais (ABEP). Embora, por motivo de saúde, não me tenha sido possível
2

se passaram desde a minha participação na aludida coletânea da Profa. Eni


Samara. Pensando nos leitores não necessariamente inteirados dos caminhos
trilhados pela historiografia sobre a família escrava no decorrer do século
passado, em especial em seu último quarto, forneço um brevíssimo resumo, na
seção seguinte deste artigo, calcado em boa medida nos dois trabalhos
anteriores aos quais me referi.
Em seguida a essa sucinta reconstituição dos avanços verificados no
Novecentos, passo ao meu objetivo principal, qual seja, direcionar o olhar para
a produção historiográfica sobre a família escrava trazida à luz no século XXI.
Nessa terceira seção do presente texto, começo fazendo os leitores cientes dos
procedimentos adotados com o intuito de lidar com a incontornável
impossibilidade de ser exaustivo ao tratar da dita produção. E, explicitados os
recortes privilegiados, procedo à análise dos estudos selecionados, um conjunto
formado por algumas dezenas de dissertações de mestrado e teses de
doutorado.
Na quarta seção do artigo, de “considerações finais”, retomo os principais
resultados da análise realizada. Considerado o artigo em sua totalidade, espero
conseguir transmitir aos eventuais leitores ao menos parte do prazer que sua
elaboração me proporcionou.

Família escrava e historiografia brasileira:


resumindo as incursões novecentistas

Uma ilustração interessante do movimento vivenciado no século XX pela


historiografia produzida no Brasil acerca da família escrava é a fornecida por
Jacob Gorender, conforme a citação a seguir, extraída de ensaio por ele
publicado exatamente no último ano do século passado:

Historiadores eminentes afirmaram que a escravidão impedia a formação de


famílias entre os cativos, dando à afirmação ênfase excessiva, às vezes
quase absoluta. Não foram raras as alusões a uma suposta propensão

comparecer ao Simpósio, minha apresentação fez parte da Mesa Redonda “O potencial de


reinterpretação da Demografia Histórica para a história da população”, sendo lida pela Profa.
Dra. Maísa Faleiros da Cunha, a quem agradeço muitíssimo. Da dita Mesa Redonda participaram
os estimados colegas Profa. Dra. Ana Sílvia Volpi Scott e Prof. Dr. Carlos de Almeida Prado
Bacellar, também apresentando trabalhos, e o Prof. Dr. Sergio Odilon Nadalin, abrilhantando a
seção na função de debatedor.
3

natural dos negros à promiscuidade sexual, como se observa em Gilberto


Freire. Pesquisas recentes permitem um enfoque diferente da questão.
Conforme o demonstraram Iraci del Nero da Costa, Robert Slenes, Manolo
Florentino e José Roberto Góes, José Flávio Motta e outros historiadores,
os escravos conseguiram constituir famílias e formar redes de parentesco
com razoável grau de estabilidade. Desfazendo o mito da propensão à
promiscuidade sexual, os fatos provam que os escravos, sempre que
encontrassem condições favoráveis, preferiam formar famílias. Como é
compreensível, esta organização familial sofria influência da herança
africana, o que nem sempre pôde ser entendido corretamente por
observadores europeus. (GORENDER, 2000, p. 46)

Para quem integrou aquele esforço das “pesquisas recentes”


mencionadas por Gorender, fartamente fundamentadas em evidências
empíricas extraídas de sólido embasamento documental e consubstanciadas em
inúmeros estudos o mais das vezes de natureza monográfica, as palavras
transcritas têm sabor especial. Afinal, quem as escreveu foi o mesmo Gorender
que, dez anos antes, publicara o volume intitulado A escravidão reabilitada (cf.
GORENDER, 1990), no qual procurara em grande medida desqualificar aquelas
evidências, entendendo que as análises delas decorrentes teriam por
consequência, ao fim e ao cabo, justificar o efetivo “desaparecimento da
escravidão”.
Tais pesquisas, bem como as críticas a elas tecidas por Gorender, não se
ativeram, como sabido, ao tema das famílias escravas. Todavia, no capítulo do
livro de 1990 em que esse tema é tratado, é sintomática a maneira como o autor,
por exemplo, descartou as evidências que compuseram uma das primeiras
aproximações das “pesquisas recentes” às relações familiares estabelecidas
entre os cativos. Tais evidências referiam-se ao estado conjugal de muitos
escravos, conforme expresso nas fontes manuscritas conhecidas como listas
nominativas de habitantes, e o alvo da crítica foi um artigo escrito em coautoria
por Iraci Del Nero da Costa, Robert Slenes e Stuart Schwartz intitulado A família
escrava em Lorena (1801).4 Vale a pena transcrever a objeção de Gorender:

Entre os 329 homens adultos, 28,3% eram casados ou viúvos. Entre as 235
mulheres adultas, 40,7% entravam na mesma categoria. Na soma de ambos
os sexos – 33,4%. Assim, os escravos adultos unidos por laços matrimoniais
atingiam um terço do total. (...) Todavia, se um terço é significativo,

4 Publicado na revista Estudos Econômicos (cf. COSTA, SLENES & SCHWARTZ, 1987).
4

obviamente dois terços são duas vezes mais significativos. Se dois terços
da população adulta estavam excluídos do segmento de pessoas casadas
e condenados à solidão, então só cabe concluir que a escravidão foi
predominantemente adversa ao consórcio familial. (GORENDER, 1990, p.
51)

Percebe-se que, no livro de 1990, era mais difícil para Gorender aceitar
uma presença de maior relevância das relações familiares entre os escravos,
posição que se mostrou nitidamente mais flexibilizada no ensaio de 2000. Afinal,
o artigo criticado, de Costa, Slenes & Schwartz, evidenciou, sim, o resultado
expressivo da participação de casados ou viúvos na população escrava, mas
indicou nitidamente, outrossim, que a importância das relações familiares ia além
desse resultado:

Deles [dos dados-JFM] depreende-se, de pronto, o significativo peso relativo


de casados ou viúvos sobre o total de cativos, porquanto pouco mais de um
quinto deles (20,7%) vivia uma das duas condições conjugais apontadas. O
conjunto integrado pelos filhos legítimos solteiros – que coabitavam junto a
seus pais e/ou mães – representava pouco menos do que a quinta parte da
população escrava (exatamente 18,1%). Isto significa que mais de um terço
dos cativos (38,8%) compunha-se de pais e filhos em vivência conjunta e
sob as condições do matrimônio e da legitimidade.
Computando-se as mães solteiras e seus filhos (5,3% e 8,9%
respectivamente) verifica-se que mais da metade (53%) da massa escrava
compreendia pais, mães e filhos coabitantes; observe-se, correlatamente, o
alto porcentual de filhos (legítimos ou naturais) a viverem com pelo menos
um de seus pais: 27,0%. Estes valores falam por si e definem um quadro até
há pouco ignorado da escravidão no Brasil. (COSTA, SLENES &
SCHWARTZ, 1987, p. 249-250)

Desnecessário observar, ademais, que esse porcentual de 53% poderia


ser tomado como um piso, pois não podemos descartar a possibilidade de ao
menos alguns dos companheiros dessas mães solteiras estarem também
presentes, compondo uniões consensuais, eventualmente estáveis, impossíveis
de serem captadas com base na fonte documental que embasou o artigo
referido.
Foi, de fato, relativamente rápida a mudança do enfoque da historiografia
brasileira sobre o tema em tela. Datam da década de 1970 os inícios do
estabelecimento desse novo olhar confrontando, às vezes de maneira ainda
tímida, o entendimento até então dominante, segundo o qual a existência mesma
5

de famílias escravas era posta em dúvida.5 Robert Slenes, por exemplo, em sua
tese de doutorado de 1976, sugeriu que a família escrava monogâmica e estável
teria se apresentado como uma instituição plenamente viável, pelo menos na
região Centro-Sul do Brasil, em especial nas áreas dedicadas à produção de
açúcar e de café. E essa viabilidade decorria do fato de as famílias escravas
cumprirem expectativas positivas seja da perspectiva dos cativos, seja da ótica
dos senhores. Nas palavras de Slenes, a família escrava

(...) provavelmente ajudou muitos cativos a conservar sua identidade e a


lidar eficazmente com as pressões psicológicas da escravidão. Porém, ao
mesmo tempo, ela forneceu aos proprietários das plantations um poderoso
instrumento de controle social. (SLENES, 1976, p. 414, tradução minha)

Ao longo do último quartel do século XX foi produzida uma profusão de


estudos trazendo evidências que comprovaram à saciedade esse novo olhar
contemplado pelos pesquisadores no que respeita ao estabelecimento e à
manutenção de relações familiares entre os escravos. Dessa forma, como
escrevi em inícios do novo milênio:

Vale dizer, esses trabalhos mais recentes patenteiam que não se trata mais
de discutir acerca da existência ou não das aludidas relações familiares
entre os cativos. Muito embora uma posição de persistente ceticismo ainda
se mantenha bastante viva na historiografia corrente, boa parte dos
estudiosos da escravidão brasileira tomam referida existência como um
dado. Procuram, agora, aprofundar cada vez mais a análise das
características apresentadas pela família cativa, sua estabilidade possível,
seus vínculos com a atividade econômica encetada e com o tamanho dos
planteis de escravos. Sobretudo, estuda-se a questão da natureza mesma
dessa instituição familiar e o papel a ela reservado no período escravista
brasileiro. (MOTTA, 2002, p. 251-252)

A questão ressaltada ao fim dessa citação referia-se a uma interessante


controvérsia estabelecida em fins do século passado. De um lado, havia a
sugestão, avançada por Manolo Florentino e José Roberto Góes no livro A paz
das senzalas (cf. FLORENTINO & GÓES, 1997), de que a presença das relações
familiares detinha grande responsabilidade na manutenção daquela paz; em
outras palavras, tais relações eram elementos estruturais cuja existência era

5Para um breve acompanhamento da mudança correlata verificada na historiografia norte-


americana, ver MOTTA (1988, p. 121-139).
6

crucial para o entendimento da própria reprodução no tempo da sociedade


escravista brasileira.
De outro lado, colocava-se a crítica a essa sugestão, crítica esta
encontrada em trabalhos de Robert Slenes (cf. SLENES, 1998 e 2011). Em que
pese seja um dos autores que mais contribuiu para a sedimentação da noção de
relevância da família escrava, em especial na construção e transmissão de
elementos culturais em meio à sociedade escravista, Slenes identificou na
sugestão de Florentino & Góes o resultado de um claro movimento pendular,
uma por assim dizer deletéria passagem dos oito aos oitenta, que descrevi da
seguinte maneira:

(...) atribuir à dita família [escrava] o status de condição estrutural para a


manutenção no tempo daquela sociedade seria um equívoco. Mais ainda,
seria um equívoco da mesma natureza daquele presente na historiografia
tradicional, para a qual a inexistência da família escrava aparecia como
condição inerente à dominação característica do cativeiro. (MOTTA, 2002,
p. 251)

É fácil perceber que uma discussão como essa atestava, cabalmente, o


quanto a historiografia brasileira havia avançado em seu tratamento do tema da
família escrava naquele breve intervalo temporal de aproximadamente um quarto
de século. Na abertura do novo milênio, de maneira inequívoca, se não todos,
ao menos uma grande parte dos pesquisadores viram-se obrigados “(...) no
mínimo à qualificação dos estereótipos de promiscuidade por tanto tempo e por
tantos atribuídos aos escravos negros neste país” (MOTTA, 2002, p. 244).

Família escrava e historiografia brasileira:


o século XXI

Sobre a seleção dos estudos para análise

As alterações verificadas na historiografia brasileira no que respeita ao


entendimento da família escrava, sumariadas na seção anterior deste artigo,
foram acompanhadas por um movimento de multiplicação de estudos dedicados
ao tema. Esse movimento, já evidente nos lustros derradeiros do Novecentos,
em nada arrefeceu nas duas décadas iniciais do século XXI. Assim sendo, fez-
7

se necessário, de pronto, abandonar qualquer pretensão de um tratamento


exaustivo dessa recente produção historiográfica sobre a família escrava.
Entre as questões para cujas respostas pretendo contribuir aqui, as
principais são as seguintes: por quem e por meio de quais vínculos institucionais
essa produção tem sido realizada? Quais os tópicos de pesquisa, novos ou
velhos, que têm sido contemplados a respeito do assunto? A seleção de
trabalhos deveria, pois, auxiliar-me no esboço de respostas a essas questões.
Mas seria conveniente evitar, é claro, que minhas próprias preferências e
idiossincrasias exercessem alguma influência prejudicial na escolha dos estudos
que seriam considerados. Com vistas a contornar os meus vieses, decidi lançar
mão de uma dentre as ferramentas disponíveis de busca na internet, e optei pelo
Google. A expressão que utilizei para nortear a busca foi uma só e nada
sofisticada: “ família escrava + pdf ”.
Devo confessar que não levei avante nenhuma tentativa de aprofundar
meus conhecimentos sobre as características dos algoritmos utilizados pelo
buscador escolhido. Sei apenas que o Google tem um software responsável pela
ação de indexação de páginas ao buscador, bem como pela atualização dessas
páginas indexadas. Nesse universo, a partir dos termos de busca, é fornecida
uma SERP (search engine result page), ou várias delas, contendo cada SERP
dez resultados; cada um desses resultados aparece resumido num snippet
(fragmento), entre cujos elementos figura o link que nos remete à página
indicada.
Dessa forma, se a busca efetuada pelo Google contém seus próprios
vieses, eles não foram por mim identificados nem, por conseguinte, corrigidos.
De outra parte, restringi-me aos resultados apresentados nas primeiras vinte
páginas da pesquisa realizada pelo buscador a partir da expressão de busca que
lhe forneci. Evidentemente, uma vez que a atividade de levantamento dessa
produção durou vários dias e a pesquisa do Google é dinâmica, a seleção de
trabalhos foi sendo atualizada ao longo do levantamento.
Na escolha de quais dentre essas duas centenas de resultados seriam
objeto de minha análise neste artigo, um primeiro critério óbvio foi a data, uma
vez que meu foco é a produção historiográfica sobre a família escrava tornada
disponível a partir de 2001. Decidi, adicionalmente, deixar de lado diversos tipos
de resultados trazidos pelo Google, independentemente de sua frequência
8

relativa. O conjunto que mais me custou descartar foi o integrado por dezenas
de artigos publicados em periódicos científicos. Eventualmente, eles poderão vir
a ser objeto precípuo de outro artigo, com objetivos similares e complementares
aos aqui perseguidos.
Convém mencionar dois outros tipos de resultados que optei por não
incorporar. Um deles foi composto por textos apresentados em eventos
científicos variados (Seminários, Congressos, Simpósios, Encontros etc.); o
outro foi formado por monografias de conclusão de cursos de graduação. A
própria existência e frequência desses resultados por mim descartados atestam
a intensidade daquele movimento de multiplicação de estudos sobre família
escrava ao qual me referi. A decisão de não os computar em minha análise
obedeceu, antes do mais, à necessidade de dimensionar adequadamente este
artigo, seja em termos de sua extensão, seja em termos do tempo que poderia
ser alocado à sua feitura.6
Feitos esses descartes, a “matéria-prima” para este artigo restringiu-se
aos resultados levantados pelo buscador atinentes a pesquisas defendidas na
forma de dissertações de mestrado e de teses de doutorado. Decerto, alguns,
eventualmente muitos, dos artigos publicados em revistas, que optei por deixar
de lado, foram decorrentes de dissertações e teses defendidas ou em
andamento; da mesma forma, alguns, eventualmente muitos, daqueles textos
apresentados em eventos e daquelas monografias, que igualmente optei por
deixar de lado, poderão se tornar, futuramente, dissertações ou teses. Todos
poderão, repito, quem sabe, ser objeto de mais uma incursão na historiografia a
ser realizada no futuro.
De imediato, é pertinente explicitar a seguinte pergunta: os resultados
fornecidos pelo Google, reduzidos pela seleção apenas das dissertações de
mestrado e das teses de doutorado, são úteis para sugerir respostas às questões
enunciadas no início desta subseção do artigo? Entendo que sim, e essa
utilidade poderá ser avaliada pelo leitor com fundamento na análise realizada na
próxima subseção. Adianto-me um pouco, afirmando que a diversidade
evidenciada no conjunto dos trabalhos indicados pelo buscador, por exemplo em

6 Além desses três tipos explicitados, decidi também não trazer para a análise os menos
frequentes resultados referentes a resenhas publicadas, alguns capítulos de livros e trabalhos
para discussão.
9

termos das instituições às quais os autores daquelas dissertações e teses se


vinculam, mostrou-se como um traço bastante saudável, corroborando meu
entendimento.
Também de imediato, contudo, é preciso reconhecer que as dissertações
e teses que apareceram nos snippets das SERPs são apenas uma amostra do
conjunto de dissertações e teses defendidas desde 2001 e dedicadas precípua
ou indiretamente ao tema das famílias escravas. Dito de outro modo, o Google
deixou muita coisa de fora!7 Darei aqui apenas dois entre muitos exemplos
possíveis. O primeiro, de uma orientanda minha, Heloísa Maria Teixeira, que
teve seu mestrado listado nos resultados do Google, mas não seu doutorado. O
segundo exemplo, o doutorado de Isabel Cristina Ferreira dos Reis, pesquisa
orientada por Robert Slenes e igualmente não elencada pelo Google.
No caso de Heloísa, a família escrava era o tema por excelência do
Mestrado, intitulado Reprodução e famílias escravas em Mariana, 1850-1888 (cf.
TEIXEIRA, 2001). Fiquei satisfeito pelo Google tê-lo listado. Mas seu doutorado,
A não-infância: crianças como mão de obra em Mariana (1850-1900), trouxe
desdobramentos interessantes, num estudo sobre as crianças no Oitocentos que
levou em conta os infantes provenientes de famílias escravas, mas não apenas
eles, ampliando seus horizontes (cf. TEIXEIRA, 2007). Desnecessário frisar que
esse alargamento temático é ele mesmo ilustração importante para a indicação
dos caminhos trilhados pela historiografia vinculada ao tema da família escrava.
Convém observar que ambos os trabalhos dessa minha orientanda fazem parte
da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo
(USP), e o snippet fornecido pelo Google e atinente ao Mestrado indicava
exatamente o link para essa biblioteca.
No caso de Isabel, ainda que seu mestrado tenha sido publicado na forma
de livro na abertura do Novecentos (cf. REIS, 2001), a defesa ocorreu no século
passado. Assim, a dissertação não obedeceria de qualquer modo ao meu
primeiro critério de seleção. No entanto, o desdobramento da pesquisa de Isabel,
manifesto no Doutorado que o Google não listou, mostra-se em alguma medida
similar ao que descrevi para o caso de Heloísa, vale dizer, a família escrava

7A validade desta afirmativa, devo salientar, não é meramente uma decorrência de minha opção
por limitar a análise às vinte primeiras SERPs fornecidas pelo buscador.
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sendo o foco por excelência na dissertação (Histórias de vida familiar e afetiva


de escravos na Bahia do século XIX), e os horizontes se ampliando na tese (A
família negra no tempo da escravidão: Bahia, 1850-1888; cf. REIS, 2007), na
qual a estudiosa acompanha o impacto de mudanças sociais, econômicas e
políticas, ocorridas no período sob análise, sobre as relações familiares dos
negros submetidos ou não ao regime de cativeiro.
Em suma, ainda que o elenco de trabalhos selecionados pelo buscador
seja decerto útil e apresente características interessantes a serem trabalhadas
na análise feita a seguir, há que reconhecer a possibilidade de haver outras
características, igualmente interessantes, mas cuja identificação demandaria o
cômputo de teses e dissertações que não foram listadas nas SERPs fornecidas
pelo Google. Será, é claro, necessário ter sempre em mente essa ressalva.
Entretanto, como será evidenciado na subseção seguinte deste artigo, na análise
das dissertações e teses selecionadas, o traço essencial do desdobramento
acima descrito com base nos trabalhos de Heloísa Teixeira e Isabel Reis não
deixou de, em alguma medida, ser contemplado em vários dos estudos listados,
os quais também privilegiaram recortes mediante os quais se foi além do
cômputo mais estrito das pessoas submetidas ao cativeiro.

A família escrava na historiografia brasileira do século XXI

Começo fornecendo, nos Quadros 1 a 4, um conjunto de características


dos trabalhos apontados pelo Google. No Quadro 1 estão listados os autores e
títulos das 13 teses de Doutorado que o buscador destacou. O Quadro 2 repete
o nome do doutorando e acresce o nome do(a) orientador(a) da tese, o ano da
defesa e a instituição na qual o trabalho foi defendido. Os Quadros 3 e 4 trazem
informações similares para as 25 dissertações de Mestrado. A ordem dos
distintos trabalhos em cada quadro obedece a data de defesa, começando pela
mais antiga e terminando pela mais recente. As dissertações foram defendidas
entre 2001 e 2018; as teses entre 2006 e 2018.
Uma primeira observação. Passadas já algo como cinco décadas desde
o início da significativa renovação do tratamento historiográfico do tema da
família escrava, percebe-se que alguns dos estudiosos vinculados a essa
renovação ainda figuram como orientadores de pesquisas sobre o assunto.
11

Olhando o Quadro 2, vemos Robert Slenes como orientador de uma e


coorientador de outra das teses listadas. Eu, também nessa estrada há alguns
decênios, orientei dois outros dentre os doutorados pinçados pelo Google.
Igualmente aparecem, como orientadores das teses do Quadro 2, historiadores
consagrados (João José Reis, Maria Odila Leite da Silva Dias, Maria Helena
Pereira Toledo Machado), autores de estudos de relevância ímpar acerca da
escravidão brasileira, não dedicados, necessariamente, de forma precípua à
família cativa, mas contemplando aspectos como a resistência escrava, as
mulheres, a autonomia relativa no cativeiro.

Quadro 1
Teses de Doutorado Selecionadas: Autor e Título
Autor Título
Marcia Cristina Roma de Vasconcellos Famílias escravas em Angra dos Reis, 1801-1888

Sharyse Piroupo do Amaral Escravidão, liberdade e resistência em Sergipe: Cotinguiba, 1860-1888

Jonis Freire Escravidão e família escrava na Zona da Mata mineira oitocentista

Maísa Faleiros da Cunha Demografia e família escrava. Franca-SP, século XIX

Memória e resistência na construção das famílias escravas no sul de Minas Gerais


Daniel Camurça Correia
(1810-1888)

Trabalho, folga e cuidados terapêuticos: a sociabilidade escrava na Imperial Fazenda


Júlio César Medeiros da Silva Pereira
Santa Cruz, na segunda metade do século XIX

Escravidão, saúde e doenças nas plantations cafeeiras do Vale do Paraíba fluminense,


Keith Valéria de Oliveira Barbosa
Cantagalo (1815-1888)

Maíra Chinelatto Alves Cativeiros em conflito: crimes e comunidades escravas em Campinas (1850-1888)

Antuérpio Dias Pereira O viver escravo em Cuiabá: relações sociais, solidariedade e autonomia (1831-1888)

Célio Augusto de Oliveira História e memória da escravidão no termo de Santo Antônio da Barra-BA (1860-1888)

Fronteiras entre a escravidão e a liberdade: histórias de mulheres pobres livres,


Virgínia Queiroz Barreto
escravas e forras no recôncavo sul da Bahia (1850-1888)

O cativeiro à sombra: estrutura da posse de cativos e família escrava no Grão-Pará


Daniel Souza Barroso
(1810-1888)

“Em diligência de se libertar”: alforria, família escrava e tráfico interprovincial no Alto


Rosângela Figueiredo Miranda
Sertão da Bahia – Termo de Monte Alto (1810-1888)

Fonte: Repositórios diversos de teses e dissertações. Teses de Doutorado listadas em meio aos resultados da
pesquisa “família escrava + pdf” no buscador do Google.

Tomados os 12 orientadores presentes no Quadro 2, identificamos 5


(41,7%) que se doutoraram entre 1972 e 1990; outros 4 (33,3%) entre 1991 e
2000, sendo apenas 3 (25,0%) os que obtiveram seu título no século XXI. Esses
orientadores cujo doutoramento é mais recente são Maria de Fátima Novaes
Pires, Nauk Maria de Jesus e Isnara Pereira Ivo.8 No caso das dissertações de

8Maria de Fátima Novaes Pires defendeu sua tese na Universidade de São Paulo (USP) em
2005, orientada pela professora Maria Odila Leite da Silva Dias. Nauk Maria de Jesus doutorou-
12

Mestrado (Quadro 4) esses porcentuais são muito diferentes, um resultado


esperado. Afinal, a atividade de orientação na pós-graduação, regra geral,
começa pelos mestrandos e, com o tempo, incorpora igualmente os
doutorandos. As 25 dissertações de Mestrado consideradas foram orientadas
por 22 professores. Desses, tão-somente 3 (13,6%) doutoraram-se até 1990
(Robert Slenes, em 1976; Vera Lúcia Amaral Ferlini, em 1986; e José Flávio
Motta, em 1990).9 Outros 8 (36,4%) obtiveram seu doutorado na década de 1990
(1991-2000), enquanto 11 (50,0%) doutoraram-se no século XXI.

Quadro 2
Teses de Doutorado Selecionadas: Autor, Orientador, Ano e Instituição
Autor Orientador Ano Instituição
Marcia Cristina Roma de Vasconcellos José Flávio Motta 2006 USP

Sharyse Piroupo do Amaral João José Reis 2007 UFBA

Jonis Freire Robert Wayne Andrew Slenes 2009 UNICAMP

Maria Silvia Casagrande Beozzo Bassanezi &


Maísa Faleiros da Cunha 2009 UNICAMP
Robert Wayne Andrew Slenes

Daniel Camurça Correia Maria do Rosário da Cunha Peixoto 2011 PUC-SP

Júlio César Medeiros da Silva Pereira Lorelai Brilhante Kury 2011 FIOCRUZ

Keith Valéria de Oliveira Barbosa Maria Rachel de G. Fróes da Fonseca 2014 FIOCRUZ

Maíra Chinelatto Alves Maria Helena Pereira Toledo Machado 2015 USP

Antuérpio Dias Pereira Nauk Maria de Jesus 2016 UFGD

Célio Augusto de Oliveira Isnara Pereira Ivo 2016 UESB

Virgínia Queiroz Barreto Maria Odila Leite da Silva Dias 2016 USP

Daniel Souza Barroso José Flávio Motta 2017 USP

Rosângela Figueiredo Miranda Maria de Fátima Novaes Pires 2018 UFBA

Fonte: Repositórios diversos de teses e dissertações. Teses de Doutorado listadas em meio aos resultados da
pesquisa “família escrava + pdf” no buscador do Google.

se pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2006, sob orientação de Maria Fernanda
Baptista Bicalho. E Isnara Pereira Ivo obteve seu título de Doutora em 2009, na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), orientada por Eduardo França Paiva. Vali-me no texto, e não
apenas para esses três casos, de consulta às informações constantes dos currículos integrantes
da Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), base de dados disponível em http://lattes.cnpq.br/.
9Por seu turno orientados, respectivamente, por John D. Wirth, José Jobson de Andrade Arruda
e Iraci del Nero da Costa.
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Quadro 3
Dissertações de Mestrado Selecionadas: Autor e Título
Autor Título
Heloísa Maria Teixeira Reprodução e famílias escravas em Mariana, 1850-1888

Ricardo Figueiredo Pirola A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e família

Caetano De’Carli A família escrava no sertão pernambucano (1850-1888)

Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Cabras, caboclos, negros e mulatos: a família escrava no Cariri Cearense (1850-1884)

Denise Vieira Demetrio Famílias escravas no Recôncavo da Guanabara: séculos XVII e XVIII

Sherol dos Santos Apesar do cativeiro: família escrava em Santo Antônio da Patrulha (1773-1824)

Fábio Carlos Vieira Pinto Família escrava em São José Del Rei: aspectos demográficos e identitários (1830-1850)

Antonio Roberto Alves Vieira Família escrava e pecuária: revisão historiográfica e perspectivas de pesquisas

Escravidão e família escrava em uma economia de abastecimento. Termo de Barbacena,


Leonardo França Campos
século XIX

Wlisses Estrela de Albuquerque


Senhores e escravos do sertão: espacialidade de poder, violência e resistência, 1850-1888
Abreu

Entre o fim do tráfico e a abolição: a manutenção da escravidão em Pelotas, RS, na segunda


Bruno Stelmach Pessi
metade do século XIX (1850-1884)

Geisa Lourenço Ribeiro Enlaces e desenlaces: família escrava e reprodução endógena no Espírito Santo (1790-1871)

Pelas veredas da senzala: família escrava e sociabilidades no mundo agrário (Campos de


Márcio Munhoz Blanco
Viamão, c.1740-c.1760)

Arranjos de sobrevivência: relações familiares entre escravos no sertão do Piauí (São


Déborah Gonsalves Silva
Raimundo Nonato, 1871-1888)

Fábio Pereira de Carvalho Vassouras: comunidade escrava, conflitos e sociabilidades (1850-1888)

Cativos julgados: experiências sociais escravas de autonomia, sobrevivência e liberdade em


Renata Saldanha Oliveira
Cachoeira do Sul na segunda metade do século XIX

Guilherme Augusto do Nascimento Os laços da escravidão: população, reprodução natural e família escrava em uma vila mineira.
e Silva Piranga, 1850-1888

Escravos e senhores na terra do cacau: alforrias e família escrava (São Jorge dos Ilhéos,
Victor Santos Gonçalves
1806-1888)

Delsa de Fátima dos Santos


Escravos e libertos: autores das ações de liberdade em Diamantina (1850-1871)
Mariano

Francisco Helton de Araújo Cativos do sertão: a família escrava na Freguesia de N. S. do Carmo de Piracuruca-Piauí,
Oliveira Filho 1850-1888

Laura Congo e a família escrava do Barão de Tinguá: reflexões sobre a família no Vale do
Olívia Dulce Lobo
Paraíba fluminense (1830-1888)

Dermeval Marins de Freitas Famílias escravas na Freguesia de Santo Antônio de Sá-RJ (c.1750-1808)

Casamentos e compadrios: formação familiar escrava e forra na Freguesia de Quixeramobim-


Luzia Leila Velez de Miranda
Ceará (1740-1810)

Roberta Marcelino Veloso Imagens de uma escrava rebelde: quadrinhos, raça e gênero no ensino de história

Viviane Tamíris Pereira Escravidão e família escrava na Freguesia de São José do Paraíso (1850-1888)

Fonte: Repositórios diversos de teses e dissertações. Dissertações de Mestrado listadas em meio aos resultados
da pesquisa “família escrava + pdf” no buscador do Google.

Sem dúvida, e aí novamente se percebe a passagem inclemente do


tempo, vai-se processando uma inevitável “mudança de gerações”, verificando-
se em média um rejuvenescimento dos pesquisadores dedicados ao estudo do
tema da família escrava no Brasil. Esse rejuvenescimento, natural e salutar, vai
sendo acompanhado, ademais, por uma nítida dispersão geográfica. Mesmo no
14

Quadro 2, concernente às teses de Doutorado, essa inferência encontra ótima


ilustração no caso da orientação realizada pela Profa. Nauk Maria de Jesus.
Titulada pela tradicional Universidade Federal Fluminense em 2006, Nauk Maria
orientou a tese de Antuérpio Dias Pereira (defendida em 2016) na Universidade
Federal da Grande Dourados (UFGD), instituição criada em 2005, sob tutoria da
Universidade Federal de Goiás (UFG), no bojo de uma iniciativa do governo
central, o Programa de Expansão das Instituições Federais de Ensino Superior no
Brasil.

Quadro 4
Dissertações de Mestrado Selecionadas: Autor, Orientador, Ano e Instituição
Autor Orientador Ano Instituição
Heloísa Maria Teixeira José Flávio Motta 2001 USP

Ricardo Figueiredo Pirola Robert Wayne Andrew Slenes 2005 UNICAMP

Caetano De’Carli Celso Silva Fonseca 2007 UnB

Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Eurípedes Antônio Funes 2008 UFC

Denise Vieira Demetrio Mariza de Carvalho Soares 2008 UFF

Sherol dos Santos Paulo Roberto Staudt Moreira 2009 UNISINOS

Fábio Carlos Vieira Pinto Afonso de Alencastro Graça Filho 2010 UFSJ

Antonio Roberto Alves Vieira Vera Lúcia Amaral Ferlini 2011 USP

Leonardo França Campos Mônica Ribeiro de Oliveira 2011 UFJF

Wlisses Estrela de Albuquerque Abreu Juciene Ricarte Apolinário 2011 UFCG

Bruno Stelmach Pessi Carlos de Almeida Prado Bacellar 2012 USP

Geisa Lourenço Ribeiro Adriana Pereira Campos 2012 UFES

Márcio Munhoz Blanco Fábio Kühn 2012 UFRGS

Déborah Gonsalves Silva Antonia da Silva Mota 2013 UFMA

Fábio Pereira de Carvalho Maria Verônica Secreto de Ferreras 2013 UFF

Renata Saldanha Oliveira Júlio Ricardo Quevedo dos Santos 2013 UFSM

Guilherme Augusto do Nascimento e Silva Afonso de Alencastro Graça Filho 2014 UFSJ

Victor Santos Gonçalves Maria de Fátima Novaes Pires 2014 UFBA

Delsa de Fátima dos Santos Mariano Elaine Leonara de Vargas Sodré 2016 UFVJM (*)

Francisco Helton de Araújo Oliveira Filho Eurípedes Antônio Funes 2016 UFC

Olívia Dulce Lobo Mariana de Aguiar Ferreira Muaze 2017 UNIRIO

Dermeval Marins de Freitas Jonis Freire 2018 UFF

Luzia Leila Velez de Miranda Frank Pierre Gilbert Ribard 2018 UFC

Roberta Marcelino Veloso Luana Saturnino Tvardovskas 2018 UNICAMP (*)

Viviane Tamíris Pereira Afonso de Alencastro Graça Filho 2018 UFSJ

(*) Mestrado Profissional.


Fonte: Repositórios diversos de teses e dissertações. Dissertações de Mestrado listadas em meio aos resultados
da pesquisa “família escrava + pdf” no buscador do Google.
15

O exame dos informes sobre as dissertações de Mestrado indicadas pelo


buscador do Google, fornecidos no Quadro 4, reforça essas inferências. Uma
perfeita ilustração da sucessão de gerações de pesquisadores é dada pelo caso
de Jonis Freire. Seu doutorado, sobre a escravidão e a família escrava na Zona
da Mata mineira do século XIX (cf. Quadros 1 e 2), foi obtido em 2009 na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sob orientação do Prof. Robert
Slenes. Em 2018, o mesmo Jonis, agora professor na Universidade Federal
Fluminense (UFF), aparece como orientador do Mestrado de Dermeval Marins
de Freitas, um estudo sobre as famílias escravas em uma freguesia fluminense
na segunda metade do século XVIII e na primeira década do Oitocentos.
Os dois mais frequentes orientadores de Mestrado elencados no Quadro
4 fornecem bons exemplos da abertura do leque das instituições envolvidas nos
trabalhos selecionados e, concomitantemente, do alargamento geográfico
decorrente da localização dessas instituições. Foram três os orientandos de
Afonso de Alencastro Graça Filho apontados pelo buscador (Fábio Carlos Vieira
Pinto, Guilherme Augusto do Nascimento e Silva, e Viviane Tamíris Pereira). As
defesas ocorreram em 2010, 2014 e 2018, todas elas na Universidade Federal
de São João del Rei (UFSJ), em Minas Gerais.10 O Prof. Alencastro Graça Filho,
por seu turno, obtivera seu doutoramento em 1998, na Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação da Profa. Dra. Maria Yedda Leite
Linhares.11
O segundo orientador de Mestrados mais frequente foi o Prof. Eurípedes
Antônio Funes. Tendo obtido o título de Doutor pela Universidade de São Paulo
(USP) em 1995, orientado pela Profa. Dra. Eni de Mesquita Samara,12 o Prof.
Funes orientou dois dos Mestrados selecionados, um em 2008 e o outro em
2016, ambos na Universidade Federal do Ceará (UFC):13 Ana Sara Ribeiro
Parente Cortez estudou a família escrava no Cariri cearense (1850-1884);

10 Em 1987 foi instalada a FUNREI-Fundação de Ensino Superior de São João del Rei; a
instituição foi transformada em Universidade em 2002.
11A tese do Prof. Afonso intitulou-se A Princesa do Oeste: elite mercantil e economia de
subsistência em São João del Rei (1830-1888).
12
A tese do Prof. Funes intitulou-se Nasci nas matas, nunca fui senhor: história e memória dos
mocambos do Baixo Amazonas.
13 A Universidade Federal do Ceará foi criada por lei de 1954 e instalada no ano seguinte.
16

Francisco Helton de Araújo Oliveira Filho estudou a família escrava em uma


freguesia da Província do Piauí (1850-1888).
Não cansarei o leitor com uma descrição exaustiva dos casos
apresentados no Quadro 4. Em vez disso, valho-me da Tabela 1 para evidenciar
a mencionada multiplicação de instituições e o correspondente alargamento
geográfico ocorrido. Essa tabela traz a distribuição das teses e dissertações
selecionadas de acordo com as distintas Instituições em que foram defendidas.
É digno de nota, em especial, a distribuição das 25 dissertações de Mestrado.
Elas foram defendidas em 16 Universidades espalhadas por 10 unidades de
nossa República Federativa: São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Ceará, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraíba, Espírito Santo e Maranhão.
O número de instituições eleva-se para 20 e o de unidades da Federação para
11 (Goiás) se observada também a distribuição das 13 teses de Doutorado.
Esse alargamento geográfico inevitavelmente trouxe reflexos também no que
respeita aos objetivos de pesquisa contemplados. Em outras palavras, a produção
historiográfica brasileira do século XXI sobre a família escrava contribuiu no sentido
de amenizar o predomínio dos recortes espaciais que privilegiavam, sobretudo, a
região fluminense, a paulista (aí incluído o Paraná) e a mineira.14 É evidente que
também trabalhos desenvolvidos em instituições sediadas em São Paulo, no Rio de
Janeiro e em Minas Gerais foram elaborados com o foco em outros recortes
espaciais. Darei um único exemplo entre vários possíveis: a tese de Daniel Souza
Barroso, defendida sob minha orientação em 2017 na Universidade de São Paulo
(USP), dedicada ao estudo da estrutura da posse de cativos e família escrava no
Grão-Pará (1810-1888).
Não obstante esse papel cumprido pelas instituições mais tradicionais, a
exemplo da USP, é inegável que a multiplicidade de centros de pós-graduação teve
o efeito de alavancar a diversidade dos recortes espaciais selecionados pelos
diversos estudos. O já descrito caso das dissertações orientadas por Eurípedes
Funes na Universidade Federal do Ceará fornece ótima ilustração desta afirmativa.
Ela é corroborada, outrossim, pelo Mestrado de Geisa Lourenço Ribeiro, outro dentre
os casos apontados pelo Google e passíveis de menção. Trata-se de dissertação

14De outra parte, há que observar ter-se mantido a dominância do recorte temporal dado pelo
Oitocentos, dominância que é absoluta nas 13 teses e quase isso nas 25 dissertações
consideradas.
17

sobre família escrava e reprodução endógena no Espírito Santo (1790-1871) e foi


defendida em 2012 na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); a orientadora
de Geisa, Adriana Pereira Campos, obtivera seu doutoramento na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2003.15

Tabela 1
Distribuição das Teses de Doutorado e Dissertações de Mestrado Selecionadas
de Acordo com as Instituições em que Foram Defendidas
Instituições Teses Dissertações
Universidade de São Paulo (USP) 4 3
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) 2 2
Universidade Federal da Bahia (UFBA) 2 1
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) 2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) 1
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) 1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) 1
Universidade Federal Fluminense (UFF) 3
Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ) 3
Universidade Federal do Ceará (UFC) 3
Universidade de Brasília (UnB) 1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) 1
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) 1
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) 1
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) 1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 1
Universidade Federal do Maranhão (UFMA) 1
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 1
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) 1
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) 1

TOTAIS 13 25

Fonte: Repositórios diversos de teses e dissertações. Teses e Dissertações listadas em meio aos resultados da
pesquisa “família escrava + pdf” no buscador do Google.

Além do recorte espacial, cumpre tecer algumas considerações um pouco


mais minuciosas acerca do tema das teses e dissertações indicadas pelo buscador.
É perceptível que muitas das características que se foram sedimentando nos
trabalhos produzidos ao longo do último quarto do Novecentos são igualmente
encontradas na historiografia do século XXI. A mais evidente dessas características

15Sua tese intitulou-se Nas barras dos tribunais: direito e escravidão no Espírito Santo do século
XIX, e foi orientada por José Murilo de Carvalho e coorientada por Manolo Garcia Florentino.
18

é a seguinte: muito embora em muitos dos estudos apontados pelo Google o foco
esteja nitidamente posto nas famílias cativas, em outros a atenção divide-se por um
conjunto mais amplo de preocupações. Até mesmo os títulos das teses e
dissertações indiciam essa característica. Por exemplo, enquanto Francisco Helton
de Araújo Oliveira Filho estudou os “Cativos do sertão: a família escrava na Freguesia
de N. S. do Carmo de Piracuruca-Piauí, 1850-1888”, Ricardo Figueiredo Pirola
analisou “A conspiração escrava de Campinas, 1832: rebelião, etnicidade e família”.16
Em artigos anteriores, abordei as ligações estreitas existentes entre o evolver
da demografia histórica e o da historiografia da escravidão no Brasil, incluída nesta
última a historiografia da família escrava. Procurei mostrar como, a partir de um
núcleo mais diretamente centrado num ferramental demográfico, os estudos de
demografia histórica no Brasil foram além, até pela influência das distintas formações
acadêmicas dos nossos demógrafos-historiadores, entre os quais havia não apenas

16 Para não me limitar ao título, transcrevo os resumos das duas dissertações em tela: a) “Neste
trabalho, são analisadas as relações familiares de homens e mulheres escravizados que viveram
e trabalharam na região que abrangia a freguesia de N. S. do Carmo de Piracuruca - Piauí, entre
1850 e 1888, fossem elas legitimadas pelas normas religiosa ou consensual, assim, como pelos
laços de parentescos ritualísticos formados através do compadrio. Constata-se uma variedade
de arranjos familiares constituídos pelos cativos da freguesia de Piracuruca, região com
economia voltada para o mercado interno, seja nas pequenas, médias e grandes propriedades.
Questões como a organização e estabilidade da vida familiar dos escravos são analisadas.
Através dos registros de casamento e batismos, foi possível visualizar diversos tipos de arranjos
familiares de homens e mulheres escravizados com pessoas livres e libertas que conviviam e
trabalhavam juntos. A leitura dos registros paroquiais e o cruzamento das informações com as
listas de classificação de escravos e censos populacionais das freguesias de Piracuruca e Piripiri
permitiram extrair dados sobre os diversos tipos de ligações familiares estabelecidas pelos
cativos, que apontam para um quadro mais complexo da estrutura familiar escrava, elaborando
diferentes estratégias de acordo com os recursos disponíveis, valores e interesses
heterogêneos, mobilizando parentes consanguíneos, compadres, vizinhos e companheiros de
cativeiro. Foram observadas as implicações da Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871 – Lei do
Ventre Livre, conhecida, também, como Lei Rio Branco - na vida familiar dos escravizadas e nos
projetos de liberdade, através da atuação do Fundo de Emancipação e da importância do pecúlio
para alcançar a liberdade” (OLIVEIRA FILHO, 2016, p. 8); b) “No ano de 1832 foi descoberto um
plano de revolta escrava em Campinas, envolvendo quinze fazendas. O objetivo deste trabalho
é construir uma biografia coletiva dos escravos e do liberto envolvidos nesse plano de rebelião.
Buscaremos acompanhar a trajetória desses revoltosos desde o momento em que chegaram na
vila de Campinas até o ano de 1832. Levantaremos vários aspectos de suas vidas, como, por
exemplo, a época em que chegaram na região, as procedências, os tipos de tarefas
desempenhadas nas fazendas, as relações de parentesco e outros. Esperamos com isso tirar
algumas conclusões para discutir a temática da comunidade escrava. Existiria uma comunidade
escrava homogênea pelo simples fato de todos terem a mesma condição cativa? Ou os escravos
eram bastante divididos entre si pelas diferenças de origem, sendo os crioulos (cativos nascidos
no Brasil) menos propensos a se rebelarem contra os senhores que os africanos? Ou, ainda,
seriam aqueles escravos casados e com profissões especializadas completamente estranhos à
maioria dos cativos que não experimentavam essas vivências e totalmente avessos a rebeliões
coletivas? O trabalho utiliza o método de ligação nominativa das fontes, baseado em cinco séries
documentais: processo-crime de 1832, inventários, censos populacionais, registros de batismo
e casamento escravo” (PIROLA, 2005. p. ix).
19

demógrafos e historiadores, mas também economistas, antropólogos etc.17 A


renovação do tratamento da família escrava, no último quarto do século XX, esteve
vinculada, ao menos em parte, ao desenvolvimento de nossa demografia histórica.
E, de forma análoga, vivenciou um primeiro momento com forte participação da
análise demográfica para, com o correr do tempo, desdobrar-se na ênfase de
aspectos múltiplos, amiúde obedecendo as inclinações decorrentes das distintas
formações acadêmicas dos estudiosos.
Esse desdobramento mantém-se nas décadas iniciais do século XXI. Ainda
se fazem presentes estudos nos quais a faceta demográfica tem destaque (mas
decerto, não a exclusividade). Assim, por exemplo, a coorientação de Maísa
Faleiros da Cunha pela professora Maria Silvia Casagrande Beozzo (Quadros 1
e 2) evidencia a aludida faceta, tendo sido a tese de Maísa apresentada ao
Departamento de Demografia da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Não obstante, o privilégio a tantos outros recortes e aproximações
mostra-se não menos evidente. Boas ilustrações, ainda nos Quadros 1 e 2, são
dadas pelos casos das teses orientadas por, respectivamente, Lorelai Brilhante
Kury e Maria Rachel de Gomensoro Fróes da Fonseca, ambas na Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).18 As teses em tela, selecionadas como todos os
demais trabalhos aqui tratados com base na expressão de busca “família
escrava + pdf”, atestam o desdobramento referido (a de Júlio César Medeiros da
Silva Pereira, Trabalho, folga e cuidados terapêuticos: a sociabilidade escrava
na Imperial Fazenda Santa Cruz, na segunda metade do século XIX, assim como
a de Keith Valéria de Oliveira Barbosa, Escravidão, saúde e doenças nas
plantations cafeeiras do Vale do Paraíba fluminense, Cantagalo - 1815-1888).
A permanência e a intensificação de características e recortes temáticos
entre os estudos do Novecentos e aqueles produzidos no século XXI encontram
igualmente exemplos variados no conjunto das dissertações de Mestrado
indicadas pelo Google. Mantém-se o sólido embasamento em fontes
documentais primárias, e muitos dos trabalhos listados nos Quadros 3 e 4

17 Ver, por exemplo, MOTTA (1995, 1999b, 2001 e 2019), e MOTTA & COSTA (1997).
18A professora Lorelai, interessada na história da medicina desde seu Mestrado (de 1990 na
UFF), defendeu seu Doutorado em 1995, sob orientação de Jean-Pierre Goubert, na Ecole des
Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), na França. A professora Maria Rachel doutorou-
se em 1997, na USP, sob orientação de Maria Ligia Coelho Prado; sua tese intitulou-se A única
Ciência é a Pátria: o discurso científico na construção do Brasil e do México 1770-1815.
20

procedem ao cruzamento entre várias destas fontes, sejam elas cartorárias,


judiciárias, eclesiásticas ou outras. São utilizados processos criminais e cíveis,
registros paroquiais de batismos, casamentos e óbitos, róis de confessados,
escrituras diversas, listas de matrículas de escravos, processos de inventários
post-mortem etc.
Sempre levando em conta o desdobramento geográfico acima indicado,
as dissertações do novo milênio continuam se voltando à análise das famílias
nucleares, sua organização e estabilidade, em especial em contextos outros que
não os dominados pelas atividades econômicas direcionadas à exportação;
preocupam-se com os vínculos entre as relações de família e as estratégias para
obtenção da liberdade; continuam tratando das relações familiares como
instrumento para a formação e/ou ampliação das escravarias; e ainda se discute
o papel da família escrava na manutenção da ordem social.
Foi bastante frequente entre as dissertações encontrarmos a análise das
relações familiares entre os escravos sendo acompanhada pelo estudo do
compadrio. Assim, procurou-se delinear as estratégias subjacentes à definição
de padrinhos e madrinhas, às vezes dando preferência a indivíduos da mesma
condição social, eventualmente melhor situados no seio da comunidade escrava,
às vezes dando preferência a pessoas livres, quiçá integrantes das próprias
famílias dos escravistas. E foram relativamente frequentes os trabalhos
dedicados ao estudo das famílias mistas, nas quais apenas um dos cônjuges era
cativo.19
Por fim, exemplos adicionais dos desdobramentos temáticos
contemplados no século XXI são os dois Mestrados profissionais apontados pelo
Google, datados de 2016 e 2018. O primeiro, de Delsa de Fátima dos Santos
Mariano, foi desenvolvido na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri (UFVJM), sob orientação de Elaine Leonara de Vargas Sodré. 20 O

19Das 25 dissertações listadas pelo Google, pelo menos 11 (44%) trataram em alguma medida
das relações de compadrio, e pelo menos 9 (36%) trouxeram dados sobre relações familiares
entre escravos e não-escravos (forros, índios, livres), muitas vezes consideradas em paralelo
com os enlaces entre escravos pertencentes a escravarias distintas.
20A Profa. Elaine Sodré doutorou-se em 2009, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUC-RS), sob orientação de René Ernaini Gertz (coorientação de Joaquín Varela
Suanzes-Carpegna, da Universidad de Oviedo, na Espanha). Sua tese intitulou-se A disputa pelo
monopólio de uma força (i)legítima: Estado e Administração Judiciária no Brasil Imperial (Rio
Grande do Sul, 1833-1871).
21

programa de pós-graduação que abrigou essa dissertação é um Mestrado


Profissional Interdisciplinar em Ciências Humanas. Transcrevo a seguir o
resumo do trabalho, intitulado Escravos e libertos: autores das ações de
liberdade em Diamantina (1850-1871):

O presente trabalho tem como principal objetivo analisar o protagonismo de


cativos e libertos em Diamantina para conseguir ou manter a liberdade, por
meio do aparato judiciário. A fonte documental utilizada foram as chamadas
ações cíveis de liberdade, localizadas na Biblioteca Antônio Torres (BAT),
em Diamantina, território da antiga comarca do Serro e espaço escolhido
para esta pesquisa. O recorte temporal compreende o período entre 1850,
ano em que foi abolido o tráfico negreiro e o ano de 1871, tomando-se como
base o período anterior à promulgação da Lei do Ventre Livre, em 28 de
setembro de 1871. Essa escolha do recorte cronológico final se justifica
porque a partir dessa lei um novo padrão nas relações entre senhores e
cativos se acentua com a interferência do Estado nas questões relativas à
alforria. Conseguir a liberdade era o objetivo de homens e mulheres que
procuraram a justiça para reivindicar seus direitos. Em contrapartida, houve
aqueles que impetraram ações para comprovar ou manter sua condição de
liberto, o que revela aspectos que evidenciam os obstáculos e a precária
fronteira que separava a escravidão da liberdade imposta no cotidiano das
relações escravistas. Cativos e libertos são, assim, os principais
personagens a falar (mesmo que indiretamente) nos processos. (MARIANO,
2016, p. 7)

O segundo mestrado profissional apontado pelo Google poderia, talvez,


ser entendido como um caso extremo dos desdobramentos verificados no
tratamento da família escrava.21 Roberta Marcelino Veloso defendeu em 2018,
na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o trabalho intitulado
Imagens de uma escrava rebelde: quadrinhos, raça e gênero no ensino de
história. Com essa dissertação, a autora tornou-se Mestra em Ensino de História,
e a defesa ocorreu no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
(IFCH/UNICAMP). A orientação coube à Profa. Dra. Luana Saturnino
Tvardovskas.22 Também reproduzimos o resumo fornecido no trabalho:

21 Vale notar que a presença mesma desse caso como que corrobora o acerto do método
escolhido para a seleção dos trabalhos que seriam analisados neste artigo. Confesso que fosse
eu, e não o Google, o responsável pela seleção, dificilmente esse mestrado teria figurado em
minha alça de mira. No entanto, a relevância do trabalho é evidenciada pelo seu resumo,
transcrito adiante no texto, mostrando que sua eventual não consideração teria sido um problema
localizado na minha alça de mira!
22Do conjunto de orientadores listados nos Quadros 2 e 4, a Profa. Luana é a cujo doutorado,
em História Cultural, tem a data mais recente: 2013, também defendido na UNICAMP. Com
22

O presente trabalho traz as reflexões e debates sobre as possibilidades do


uso pedagógico de histórias em quadrinho no Ensino de História. Apoiado
nessas reflexões, propõe-se confeccionar uma livre adaptação no formato
de uma narrativa gráfica sequencial (HQ) da obra historiográfica Caetana
diz não: história de mulheres da sociedade escravista de Sandra Lauderdale
Graham, publicado em 2002. Tendo como base o protagonismo de uma
escrava que enfrentou a sociedade patriarcal oitocentista, a narrativa gráfica
se propõe uma ferramenta pedagógica para o uso em sala de aula no ensino
de História, abordando questões de gênero, o patriarcado e a cultura
escravista no Brasil Império. O trabalho discute as relações entre quadrinhos
e ensino, a crítica feminista das representações gráficas de mulheres
negras, a formação da família escrava e o matrimônio no século XIX.
(VELOSO, 2018, p. 9)

Considerações finais

Este artigo representa um esforço de atualização de incursões anteriores


na historiografia brasileira dedicadas ao acompanhamento do tratamento
dispensado ao tema das famílias escravas. Desta feita, meu objetivo foi
contemplar a produção historiográfica produzida no século XXI. Tendo em vista
o volume dessa produção e a decorrente impossibilidade de efetuar uma análise
exaustiva, em especial nos limites de um artigo, vali-me do buscador do Google
e da expressão de busca “família escrava + pdf” como um primeiro instrumento
de filtragem da dita produção.
Adicionalmente, na seleção do que analisar, fui também bastante restritivo
no que respeita ao tipo de resultado levantado pelo buscador, destacando-se,
entre os itens descartados, artigos publicados em periódicos, trabalhos
apresentados em eventos científicos e monografias de conclusão de cursos de
graduação. Por fim, limitei-me às primeiras vinte páginas de resultados
apresentados, conjunto cujo conteúdo, vale observar, mostrou-se em alguma
medida variável no decurso dos vários dias pelos quais se processou o
levantamento.
Dessa forma, dentre as centenas de resultados indicados pelo Google,
centrei-me nas dissertações de Mestrado e nas teses de Doutorado. As

orientação de Luzia Margareth Rego (e coorientação de Leonor Arfuch, da Universidad de


Buenos Aires, na Argentina), a tese intitulou-se Dramatização dos corpos: arte contemporânea
de mulheres no Brasil e América Latina.
23

dissertações somaram 25, defendidas entre 2001 e 2018, enquanto as teses


foram 13, defendidas entre 2006 e 2018. A análise destes 38 trabalhos revelou,
de um lado, diversas características de continuidade entre as pesquisas sobre
as famílias escravas realizadas no novo milênio e as realizadas desde o último
quarto do século XX. De outro lado, e em meio a esse movimento contínuo, foi
possível perceber alguns desenvolvimentos interessantes.
A meu ver a principal permanência refere-se ao sólido embasamento dos
estudos realizados, como regra geral, em fontes primárias de natureza diversa
(eclesiásticas, cartorárias, judiciárias etc.), a exemplo de registros paroquiais de
casamentos, batismos e óbitos, róis de desobriga e outros arrolamentos
nominativos, escrituras variadas, processos criminais e cíveis, inventários post-
mortem, entre outras. Tais fontes foram utilizadas muitas vezes de forma
combinada mediante cruzamentos nominativos. Essa característica, talvez um
traço “genético” decorrente da imbricação estreita entre os estudos sobre a
família escrava e o desenvolvimento da demografia histórica no Brasil, mantém-
se como ponto forte indicativo do vigor dos estudos analisados.
Verifiquei também muita continuidade em termos dos tópicos objeto de
consideração nas teses e dissertações selecionadas. A preocupação com os
elementos das famílias nucleares, com a estabilidade das relações familiares,
com as eventuais peculiaridades dessas relações em contextos econômicos nos
quais predominavam as atividades de subsistência, com o impacto das famílias
como elemento condicionante de estratégias seguidas com vistas à obtenção da
liberdade, assim como muitos outros tópicos, que foram sendo trazidos à
berlinda pelos estudiosos desde meados da década de 1970, mantêm-se na alça
de mira dos mestres e doutores que se formam no século XXI. Não obstante,
percebi igualmente que em especial dois tópicos apareceram com frequência
talvez algo mais intensa do que anteriormente: o estudo das relações de
compadrio, vale dizer, das estratégias de que os escravos lançavam mão na
escolha de padrinhos e madrinhas; e o estudo das relações familiares mistas,
formadas pelo casamento de cativos com pessoas de outra condição social.
E há que mencionar, entre os resultados trazidos pelo Google, de um lado,
a continuidade da dominância de estudos cujo recorte temporal é dado pelo
século XIX. De outro, a presença de enfoques representativos de
desdobramentos que ilustram um movimento de dispersão temática a partir
24

daqueles primeiros trabalhos marcados pelo forte emprego do instrumental


demográfico; exemplo desta dispersão (dispersão passível de analogia com o
movimento centrífugo; cf. MOTTA, 2019) é, no conjunto das 25 dissertações, o
Mestrado Profissional em Ensino de História, defendido em 2018 na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), no qual a autora discute as
possibilidades do uso pedagógico de histórias em quadrinhos (HQs) naquele
ensino.
Entendo que essas permanências e alterações nos tópicos estudados
acompanharam, ademais, a inflexão resultante da “mudança geracional” no
universo dos pesquisadores. Aqui, é claro, apenas pude corroborar algo decerto
esperado. Muito embora alguns dos estudiosos vinculados ao evolver da
historiografia sobre a família escrava no final do século passado ainda figurem
como orientadores das dissertações e teses listadas pelo Google, a renovação
é nitidamente evidenciada no elenco desses novos mestres e doutores.
Outra verificação interessante, imbricada às continuidades e variações
temáticas e à renovação dos pesquisadores, é o amplo elenco de instituições
nas quais essas recentes teses e, sobretudo, dissertações foram defendidas.
Não apenas tais instituições são múltiplas, mas permitem a identificação de uma
dispersão também geográfica, pois localizam-se em mais de uma dezena de
estados do Brasil. Essa característica decerto condiciona a intensificação, nos
estudos selecionados, dos casos em que se contemplaram recortes espaciais
distintos daqueles tradicionalmente privilegiados pela historiografia.
Em suma, o novo milênio, e a disponibilidade de mais variadas opções
para os interessados em avançar seus estudos nos programas existentes de
pós-graduação, têm propiciado estímulos adicionais ao desenvolvimento das
pesquisas vinculadas ao tema das famílias escravas. As teses e dissertações
aqui consideradas, por um lado, compartilham o mesmo vigor alcançado pelas
pesquisas nas décadas derradeiras do Novecentos; por outro, alavancadas
pelos aludidos estímulos adicionais, essas teses e dissertações indiciam
perspectivas alvissareiras para o futuro.
25

Referências bibliográficas

Teses e Dissertações listadas pelo buscador do GOOGLE


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Sítio da internet consultado


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