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Arthur Oncken Lovejoy (1873-1962)

Livro: A Grande Cadeia do Ser um estudo da história de uma ideia

O texto faz parte da série de Conferências Willian James (em homenagem ao filósofo e
psicólogo estadunidense), proferidas pelo autor na Universidade de Harvard, em 1933.

O autor faz um estudo da ideia que acompanha o título da obra, ou seja, “a cadeia do ser”.

É um estudo de história, voltado para a análise de uma ideia, ou ideias, dotada supostamente de
sentido universal.

Lemos a Introdução, sob o título “O estudo da História das Ideias”.

As “ideias-unidade” são os elementos que diferenciam a história das ideias que ele propõe da
história da filosofia. Diz Lovejoy:

“Embora trate em grande parte do mesmo material que os demais ramos da história do
pensamento e dependa largamente de seus trabalhos anteriores, ela divide esse material de uma maneira
especial, colocando suas partes em novos grupos e relações e vendo-as do ponto de vista de um propósito
distinto.” P. 13.

Até aqui ainda está bastante abstrato o argumento do autor.

Mais à frente ele continua tecendo comentários acerca dos sistemas filosóficos e de sua relação
com as ideias-unidades:

“A aparente novidade de muitos sistemas se deve apenas à novidade na aplicação ou na


ordenação dos antigos elementos que os compõe. Quando isso é percebido – diz o autor –, a história como
um todo deveria parecer algo muito mais fácil manejar”. P. 14.

Ou seja, há uma modificação nas configurações nas quais esses sistemas se arranjam.

Ele faz uma analogia simples com as ciências químicas e explica que os compostos químicos se
diferem muitas vezes “por suas qualidades sensíveis dos elementos químicos que os compõe”, pari passu,
algo similar acontece com os elementos das doutrinas filosóficas.

Isto é, ele quer dizer que os elementos que compõe as doutrinas filosóficas, nas mãos dos
historiadores das ideias, devem ser decompostas em elementos singulares, que, após isso, podem ser
reposicionados em diferentes combinações lógicas, produzindo outras doutrinas. Isso em si não seria uma
novidade proposta por essas doutrinas, obviamente.

Em meio a essas diferenças que, após amplo estudo se mostram similaridades, que o historiador
das ideias se debruça:

“É nos ingredientes comuns lógicos ou pseudológicos ou afetivos por trás das dissimilaridades
de superfície que o historiador de ideias individuais procurará penetrar.” P. 14.
Essa introdução até agora me pareceu bem estranha. Mas o que parece interessante é que não há
provavelmente novidade no que ele pretende produzir, por estar muito próximo à história da filosofia.

No que o historiador das ideias está interessado?

“´É nos fatores dinâmicos persistentes, as ideias que produzem efeitos na história do
pensamento, que ele está especialmente interessado.” P.15

Ele explica a forma como opera a historia das ideias a partir da discussão de alguns conceitos,
como o de “Cristianismo”, salientando a multiplicidade de posições de pensamento divergente dentro de
um mesmo núcleo comum hipotético.

Ele diz que muitas vezes a unidade conceitual é apenas isso mesmo, e não os fatos que subjazem
aquilo descrito pelos historiadores. Ou seja, são unidades artificiais, porque são conceituais, antes de tudo,
reduções.

O historiador das ideias busca, segundo Lovejoy, elementos, as “unidades dinâmicas primarias
persistentes ou recorrentes”.

Primeiro, Há suposições implícitas ou incompletamente explícitas, coisas inconscientes.

“esquemas simples de ideias” p. 19.

Sobre esse esquema, que teve como período efervescente o século XVIII e o que ele insere em
uma tradição iluminista, esta inserido em um esquema de tendência simplificadora:

“a índole de modéstia intelectual foi em parte a expressão de uma aversão ao incompreensível,


ao complicado, ao misterioso [a “metafísica”]” p. 19.

Segundo lugar, são “suposições endêmicas”, “hábitos intelectuais”, de gênero geral e vago. O
“motivo nominalista”, que é nomear coisas. Torná-las substantivos. Os chamados “particulares
concretos”.

Terceiro, o “páthos metafísico”. Ele diz que o resultado disso em leituras filosóficas feita por
pessoas leigas é “uma forma de experiência estética”. P. 20. “Volumosas reverberações emocionais, de
uma espécie ou de outra, emergem no leitor sem a intervenção de qualquer imageria definida.” P.20.

Ele chama isso de páthos metafísico, porém, a ideia que ele mesmo usa, de experiência estética,
parece melhor. Além disso, ele diz que isso ocorre em seu tempo presente, ele usa “hoje”. Segundo ele, há
graus de susceptibilidade a esse phatos, e além disso, há diferentes espécies, ou seja, estamos na esfera
das “ideias”.

O primeiro é o phatos da obscuridade, “o encanto do incompreensível”.

O objeto dele parece ser sistemas filosóficos, ou doutrinas filosóficas, aquilo que ele chama de
“aglomerado de ideias” que os historiadores das ideias precisam desmembrar.
Em seguida tem o phatos do esotérico. O nome já é sugestivo. Diz Lovejoy, “Quão excitante e
quão bem-vinda é a sensação de iniciação em mistérios ocultos!”. P. 21.

Lembrei-me do hermetismo filosófico.

Exemplo desse tipo é Bergson. E a “queda do véu” que “encobre a realidade em si”, nas palavras
de Le Roy.

“Esses dois tipos de pathos, entretanto, não são tão inerentes aos atributos que uma dada filosofia
confere ao universo como aos atributos que confere a si mesma – ou que seus partidários lhe conferem.”
P. 21.

Existe também o phatos eternalista. “o prazer estético que nos é dado pela mera ideia abstrata de
imutabilidade.” P. 21.

O phatos monístico ou panteísta. A ideia do “Tudo é Um”.

Páthos voluntarista. A “filosofia enquanto um fator na história”, e não como ciência. P. 23.

Diz Lovejoy

“Estou convencido de que a susceptibilidade a diferentes espécies de páthos tem um papel


importante na formação dos sistema filosóficos não só por guiar sutilmente muito da lógica de um
filósofo, como também por causar parcialmente a voga e a influência de diferentes filosofias entre os
grupos ou as gerações que elas afetaram. E a delicada tarefa de descobrir essas susceptibilidades variantes
e mostrar como elas ajudam a moldar um sistema ou a tornar plausível e corrente uma ideia é uma parte
do ofício do historiador das ideias.” P. 23.

A quarta parte do trabalho do historiador das ideias é o que ele chama de “semântica filosófica”,
que busca “tomar conhecimento dos fatores genuinamente operativos nos mais amplos movimentos do
pensamento”.

Diz Lovejoy,

“[...] um estudo das palavras [a semântica filosófica] e expressões sagradas de um período


histórico ou um movimento, visando ao esclarecimento de suas ambiguidades, ao inventário de seus
vários matizes de significado e a um exame do modo como associações confusas de ideias emergidas
dessas ambiguidades influenciaram o desenvolvimento de doutrinas ou aceleraram a insensível
transformação de um hábito de pensamento em outro, talvez seu verdadeiro oposto.” P. 23. [História X
essencialismo].

Ele diz que a palavra “natureza” é um grande exemplo disso. Lembra-nos a história dos
conceitos.

O quinto, um tipo de “ideia”, segundo o autor, que consiste em “uma proposição específica
simples ou ‘principio’ expressamente enunciado pelos mais influentes filósofos europeus[...]” p. 23
origina-se segundo aponta no pensamento reflexivo.
O historiador das ideias trabalha isolando uma “ideia-unidade”, depois rastreando-a através das
“províncias da história”, a filosofia, a ciência, a literatura, a arte, a religião e a política. P. 24.

Lovejoy justifica essa escolha:

“O postulado de um tal estudo é que a operação de uma dada concepção, de um pressuposto


explícito ou tácito, de um tipo de hábito mental ou de uma tese ou argumento específico, se sua
natureza e seu papel histórico tiverem de ser completamente compreendidos, precisa ser rastreada
conjuntamente por meio de todas as fases da vida reflexiva do homem em que essas operações se
manifestem ou por meio de tantas dessas fases quantas permitam os recursos do historiador” p. 24.grifos
meus.,

Prefiguração, e causas.

A relação entre a história das ideias, a literatura e a filosofia.

O autor diz que o historiador das ideias, ao buscar o surgimento de uma concepção ou
pressuposição em algum sistema filosófico, ou religioso, ou em uma teoria científica, deve buscar
também nas artes, e na literatura, acima de tudo. Faltou falar da sua relação com a política.

Antes, diz ainda que,

“Enquanto a história das ideias – na medida em que se pode falar dela no tempo presente e no
modo indicativo – é dessa maneira uma tentativa de síntese histórica, isso não significa que ela seja
um mero conglomerado e menos ainda que aspire a ser uma unificação abrangente de outras disciplinas
históricas. Ela se ocupa somente com um certo grupo de fatores na história, e com esta apenas na medida
em que podem ser vistos operando naquelas que são consideradas comumente seções separadas do
mundo intelectual; e está especialmente interessada nos processos pelos quais a influência passa de um
campo para o outro.” P. 25

Ou seja, o que achava-se ser seções separadas do mundo intelectual, são seções conjuntas do
mundo intelectual, contudo, apenas intelectual.

Outro ponto, segundo o autor, se trata do estudo da literatura comparada, que, “a história das
ideias exprime um protesto contra as consequências que frequentemente resultaram da divisão
convencional dos estudos literários e de outros resultados históricos por nacionalidades e línguas.” P. 26.

Recusa a essas delimitações.

Um outro ponto:

“outra característica do estuda da história das ideias, como eu gostaria de defini-la, é que ela diz
respeito particularmente às manifestações das ideias-unidade específica no pensamento coletivo de
grandes grupos de pessoas, e não apenas nas doutrinas ou opiniões de um pequeno número de pensadores
profundos ou de escritores eminentes.” p. 27.
Se se trata do pensamento grego na época de e escrita por Platão, não há motivos para se falar
apenas de Platão.

Ou seja, está interessado, o historiador das ideias, em ideias “que alcançam ampla difusão, que se
torna parte do acervo de muitas mentes.”. p. 28.

Os historiadores das ideias se centram em temas da vida intelectual, da moral comum e dos
valores estéticos da época, segundo Lovejoy. A política, a economia, a situação desses autores, não são
levados em consideração, ao menos de modo central.

Por fim, o autor traz mais um tópico:

“[...] é uma parte da eventual tarefa da história das ideias aplicar seu próprio método analítico
distintivo na tentativa de entender como novas crenças e modismos intelectuais são apresentados e
difundidos, para ajudar a elucidar o caráter psicológico dos processos pelos quais se dão as mudanças na
voga e influência das ideias [...]” p. 28-29. Negrito meu.

Ele exemplifica o seu modelo de estudo a partir da ideia “A Grande Cadeia do Ser”. É a partir
dessa ideia que ele exemplifica o seu plano de estudos.

Tem também a questão de buscar o início, o ponto zero da “fonte histórica” na mente de certos
filósofos. P. 29.

Interessante é a posição que assume a dimensão da política na sua análise:

“No entanto, até onde essas limitações permitirem, tentaremos rastrear essas ideias até suas
fontes históricas na mente de certos filósofos; observar sua fusão: notar algumas das mais importantes
dentre suas influências vastamente ramificadas em muitos períodos e em diversos campos – metafísica,
religião, certas fases da história da ciência moderna, a teoria do propósito da arte e seus critérios de
excelência, valores morais e até mesmo, embora de modo relativamente restrito, em tendências políticas;
ver como as últimas gerações derivaram delas conclusões indesejadas ou inimagináveis por aqueles que
as originaram; apontar alguns de seus efeitos sobre as emoções do homem e a imaginação poética; e, por
fim, talvez, extrair uma moral filosófica do conto.” P. 29.

A “biografia de uma ideia”. P. 30.

“A história natural do homem em sua atividade mais característica.” P. 31. A interpretação e a


reflexão.

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