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©2002 by Arilda Ines Miranda Ribeiro

Direção Geral
Henrique Yillibor Flory
Editor
Luciana Salgado G. Moreira
Capa e Editoração Eletrônica
Rodrigo Silva Rojas
Revisão
R. S. Causo
DEDICATÓRIA
Dados Internacionais de Ca talogação na Publicação (CIP)
(Acácio José Santa Rosa, CRB-8/157)

A Deus. Por tudo!


R484v Ribeiro, Arilda lnes Miranda
A Fernando de Bulhões, o Santo António de Lisboa, meu amigo
Vestígios da educação feminina no século XVI 11 em Portugal/ nas horas mais difíceis.
Arilda lnes Miranda Ribeiro. -- São Paulo: Arte & Ciência, 2002. A três grandes mulheres, fundamentais na realização deste
172p.; 21 cm trabalho:
Uma brasileira: Ana Maria da Costa Santos Menin, de Pre­
Bibliografia
sidente Prudente-Brasil;
ISBN - 85-7473-059-9 Uma portuguesa: Maria Margarida (Guida) Pontes Valagão,
e a uma brasileira de alma portuguesa: Sônia Pedroso de Moraes.
1. Educação feminina - Portugal - Século XVIII. 2. Mulher -
Portugal - Cotidiano e escolarização - Século XVIII. 3. Portugal - Ambas de Santa Bárbara de Néxe-Portugal.
História - Condição social da mulher - Século XVIII. 4. Historiografia
educacional. 1. Título.
ao - 376.9469
- 376-9469033

iNDICES PARA CATÁLOGO SISTEMÁTICO

1. Educação da mulher: Portugal: Século 18 376.9469033


2. Portugal: Educação feminina: Século. 18 376.9469033
3. Portugal: Educação feminina 376.9469

AC
ARTE & CIÊNCIA
EDITORA

R. Treze de Maio, 71
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Tel.: 11 - 3257-5871
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palavra da pesquisa histórica, porque as normas têm elas próprias
11111 íi111 que as justifica. Na verdade, elas constituem o fio condutor
da prática. O fim a que se destinam em determinadas circunstânci­
as convida, ou mesmo impõe, se preciso, a infração. Não se pode,
portanto, excluir a prática do campo de observação. Também não
se pode reconstituir a regra a partir dela. Devemos atribuir o papel
a que cabe tanto a uma como a outra. Para o período ora estudado, II - VESTÍGIOS DA EDUCAÇÃO DA MULHER EM
ou seja, anterior às reformas pombalinas, no século XVIII, como PORTUGAL NO SÉCULO XVIII
afirma Nóvoa (1987, p. 53), tem que se "inventar" fontes, "sendo
2.1 Ausência de oficialização educacional: ocaso ou
necessária uma grande criatividade, recorrendo-se a fontes
descaso?
iconográficas e a peças de teatro, a roteiro de viajantes, e a docu­
mentos pertencentes à congregações, à memórias diversas e aos
De acordo com Fernandes (1994, p. 14) um traço que chama a
arquivos religiosos"8• De certa forma, as bibliografias por mim le­
atenção de quem relê o discurso pedagógico público em Portugal
vantadas, organizadas, selecionadas, seguidas de leitura e análise,
nos finais de Setecentos é a ausência de referências críticas à situa­
caminham nessa direção. Por esta razão, faço uso do termo "vestí­
ção real do ensino9 • Para esse pesquisador, faltam estudos históri­
gios" sobre a Educação de mulheres portuguesas do período
cos sistemáticos sobre a educação feminina.
setecentista. Esta opção de trabalho vem confirmar as indicações
Nas cartas de António Rib�_i.w_.dos� S_antoêi_ analisadas por. �,c,.r-,
de Nóvoa (1987).
Fernandes, encontram-se reclam�çõ�� q_e_qu�ã.2_�tiam boa
escolas de educação em Portug_al, e..ª1_ribuía essa situação à Le�
1ª.!20 do Estado, que até então, pão..b.,avia se preocupado em criar
ki
e
sobre a quest�ca�_on� Deix;;. "i êi�ucação "ao ;;m das'
águas, cuidando apenas de formar o corpo de um sexo e cultivar
muito a memória do outro, eram, para Santos, os grandes defeitos
da educação da mocidade setecentista"(Fernandes, 1994, p. 134•).
A situação do ensino em Portugal estava entregue à arbitra­
riedade dos mestres na medida em que não havia regulamento que
d -
os obrigasse a seguir procedimentos pedagógicos eficazes.
De acordo com Adão, "não havia nessa época, um método uni­
forme para as escolas de ler, escrever e contar". (Adão, 1996, p. ':;ff;, º
86) 10

" Rogério FERNANDES possui mais de quinze obras relativas à história da Educação
em Portugal. A mais recente Os caminhos do ABC: Sociedade Portuguesa e Ensino das
Pnºmeira.s Letras. (Porto: Porto Editora, 1994), constitui-se obra de referência na área,
refere-se à investigação de vários aspectos educacionais do legado pombalino à
reestruturação oitocentista, entre eles, os conteúdos, os valores e as práticas pedagógi­
cas.
'º Áurea ADÃO escreveu Esta.do Absoluto e ensino das primeiras letras. As escolas régias
0
' Vr1·: NÓVO/\, António. Anais do l Encontro de História da Educação em Portugal. Lis- (1772-1794) Lisboa, Gulbenkian, 1997. Trata-se de uma tese de doutoramento, assen­
11011: V11r11ldadc de Psicologia e Ciências da Educação, 1987. tada numa base considerável de informações arquivísticas, abundante bibliografia e de
preciosas informações acerca de fontes manuscritas e impressas, nomeadamente sobre
manuais e livros escolares pesquisados durante dez anos.

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33
uanto à educação formal para as mulheres, a celebrada r:::: texto A menina discreta dafábrica nova (1789) 12 • Entre os vários
pombalina nã.o as contemplou, "nem sequer na abertura de personagens aparecia a menina estudiosa, sobre a qual a criada di­
c�gios particulares "iLopes, 1989, p.98).Não houve escolas reg1- zia para seu pai: "Por mim estude ela quanto quiser. Porém olhe
a1; para meninas até o final do século XVIII."Na verdade, o ensino senhor: eu sempre ouvi dizer a minha avó que a mulher era sábia se
feminino não mereceu então, dos meios governamentais uma aten­ arrumava um até dois baús de roupa." (Costa, 1973, p. 15) E a irmã,
ét.··Slºes�ecial, c��endo a orde1�s religiosas provenientes da França
_ _
garota vulgar, criticava-a desta maneira: "Olhe mana, eu não sei
P(Prsulmas �1tação) o mento de terem concorndo para a educa­ essas ciências de fábrica nova, mas em lugar dessas suas loucuras
,1,(/.0 de algumas raparigas portuguesas." (Adão, 1996, p.87) com que nos seca, sei muito bem bordar, coser, fazer meia, e tudo o
Dessa forma, se o leitor procurar informações sobre a trajetó­ que é preciso a uma pessoa para ser útil à sua família." (Adão, 1996,
ria de estabelecimentos escolares femininos oficiais, encontrará re­ p.85)
ferências apenas ao final do Séc.XVIII, nos idos de 1790. ,....���
Emerge nessa cena teatral, a função, a representação social"F°'� 4 �
A reforma pombalina, de 6 de novembro de 1772, foi omissa _çonstruída p�ra o gênero feminino· a a�ên,ci� de es�udos. A m .::, "q "1...�
no que se refere ao ensino feminino.Ainda que a consulta da Real _!her que fugisse aos padrões estabelecidos tmha dificuldade d��
Mesa Censória de 3 de agosto do mesmo ano apontasse a necessi­ manter sua individualidade.Sua capacidade de resistência e de trans­
dade de criação de escolas femininas, nada de concreto ocorreu. formação foi, freqüentemente, testada mormente entre as próprias
Talvez porque essas escolas viveram das sobras do dinheiro reco­ mulheres.
lhido dos impostos do Subsídio Literário, e das poucas professoras Oficialmente, o assunto da educação feminina somente foi

que se dispuseram a lecionar: "Seriam aplicados na distribuição de retomado muitos anos mais tarde. Adão (1996, p.88), registra que�
algumas mestras de ler e escrever destinadas às meninas órfãs e isso ocorreu face à uma representação "cuja proveniência desconhe��
pobres." (Adão,1996, p.85) cemos a 25 de fevereiro de 1790 (grifo nosso) " 1 • Nessa mesma data, �
3

Naquela época, muitos portugueses resistiam ao fato de se a Real Mesa Censória criava um parecer favorável para a instala-
oferecer às mulheres, erudição. As poucas que alcançaram uma edu­ ção de 18 mestras na Corte, designadas para ensinar gratuitamen-
cação mais aperfeiçoada, foram motivo de crítica e deboche de ho­ te às meninas:
mens e mulheres que as rodeavam.
Os folhetos de cordel'' que traziam ao público as polêmicas
da época, ironizavam a situação das meninas que estudavam. O
"José Daniel da COSTA (1757-1832) foi membro da Nova Arcádia com o nome de
mais citado entre os autores é José Daniel da Costa, que publicou o Josino Leiriense. Freqüentemente encontramos publicado esse nome nos folhetos de
cordel. Autor de inúmeros panfletos que comentam o seu tempo, de anedotas e folhe­
" Com particular relevo no século X V III, mas estendendo-se por um período de tempo
t'ins, de versos tortos e jocosos, de livros de passatempo. É no terceiro volume das suas
que inicia no século XVI até o século XX, circularam em Portugal, como em outros Himas, Teatro Cómico de Pequenas Pe ças. Lisboa, 1789, que encontram-se quinze à vinte
países, pequenos folhetos ou papéis volantes, que são expressões vivas de uma cultura
phginas constituindo, praticamente, todo o seu teatro. O mais comentado ente os estu­
popular e tradicional. Assumindo formas diversas - pequenas peças de teatro, diálo­
diosos portugueses sobre a crítica à educação feminina é A menina Discreta da Fábrica
gos, cartas, textos em verso, pequena narrações ou ainda reflexões pessoais sobre uma
Novo. COSTA, José Daniel Rodrigues da. 6 entremezes de cordel. Direção da Coleção de -
questão - estes papéis apresentavam uma grande variedade de temas, com tendência �
Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo. Lisboa: Editorial Estampa, 1973.
:111 repetir-se e perpetuar-se, como se repetem e pérpetuam edições e reedições dos '" Adão refere-se a um documento encontrado nh Torre do Tombo, Ms.L. 1102391, s.d. ��., '°C:&,
111cs111os folhetos. Um tipo de publicação bem definido - impressão imperfeita, papel de , '+c::_
Nesse documento, diz-se que a idéia de solicitação para educação feminina partiu do� q �
1116 qualidade, variações ortográficas por vezes menos ortodoxas - populares no tom e _
padre Pedro de Carvalho, para a suges;ão da� 18 i nestras: "Do zelo com quep rocurava � �
110 rnnteúdo, estes folhetos são bem a expressão de uma cultura não-oficial e profünda- , �
11 educação de men111as desamparadas . ADAO,, Aurea. Estado absoluto e enszno das prz- -e:'.,¼(.,.
11,�nt'c ligada, quer ao cotidiano concreto da vida das pessoas, quer ao seu imaginário
111eiras letras, 99. Fernandes, nu entanto, afirma em seu trabalho que essa exposiçãol,.. t,._,"'-t
rol('I ivn de raízes ancestrais e profundas. Sob forma gráfica semelhante surgem, porém v
111,0nima e até agora inédita, teria partido do sacerdote Joaquim José dos Santos, que 'if--
gl"11cros diversos de temas e textos. Ver: SILVA, Maria Regina Neves Xavier Amorim
\'1'11v11rcs da. "Mulher em folhetos volantes portugueses". ln: Mulher na sociedade portu­
ll'ria uma casa de Educação para Mulheres no Sítio do Junqueira. Quem teria conven""' "1, !f
l' idoa Rainha D. Maria a dar um parecer favorável? Ver: FERNANDES, Rogério. Oi""'l1 -�
g,111,<11: visno histórica e perspectivas atuais. Actas do Colóquio. Coimbra: Instituto de _ .
m·,11.mlws do ABC, p.173.
l li.�16ri11 1•:conl'lmica, Faculdade de Letras, 20 a 22 de março de 1985.
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34 35
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S11a Magestade Hey por bem aprovar, que se estabeleçam as �·11neiras mestras so vieram a ser adm1t1"das em 1816, quando o
[scolas de Meninas, e que pelo Cofre do Subsidio Literário se lhe ensino masculino estava Já regulamentado e em funcionamento nor­
dem os ordenados competentes, ou sejam como de Mêsa arbitra, ou mal." Quais seriam os motivos do descaso da implantação da edu­
cação feminina oficial: o ocaso? o descompromisso? O silêncio per­
como pela experiência se julgar em proporção ao prestimo, e servi­
ço de cada huma das Mestras. E por quanto não he muito praticavel,
manece na documentação encontrada até o momento. Que as futu­
que huma só Mestra possa ensinar a muitas Meninas, que ellas de­
vem saber, de ler, e escrever, defiar, de cozer, de bordar, e de cortar, ras pesquisas no campo da História da Educação Portuguesa pre­
a Mêsa tomará esse ponto em consideração ou para dividir estes encham essas lacunas.
ensinos de sorte que huma das Mestras sejam para Cozer, e fiar,
outras para bordar, e Cortar, e outras para ler, e escrever, mas todas
com obrigação de ensinarem a Doutrina Christam, ou para regular 2.2 A Educação recomendada
por outro modo este estabelecimento de maneira que seja praticavel
na execução. Outro sim hey por bem que a Caza, que com tanto zelo Como o ensino feminino não se encontrava oficializado, no
tem fundado, e promove no Sitio da Junqueira junto de Galeria o século XVIII, a literatura de que se tem conhecimento sobre a edu­
sacerdote Joaquim José dos Santos, para educação de Meninas, sede cação das mulheres pode ser observada por me10 CleplTl5ticações
pelo mesmo Subsídio a quantia anuual de duzentos e vinte mil réis, realizadas por muitos homens, tidos como ilustres na éJ;Loca, em
que elle aplicará a seu arbitrio e beneficio da educação, que até ago­
livros, cartas, cenas e teatrais. Alguns o fizeram por solicitações d"';;
ra tem sustentado gratuitamente. N.S. da Ajuda s I de Março de
1790. Para o Principal Abranches. (Arquivos Nacionais da Torre do
amigos, outros por encomenda de autoridades ou mesmo como puro
Tombo, Livro no. 364 do Ministério do Reino, fls. 54-54 v.) diletantismo. Eram homens de diferentes níveis educacionais, cul­

iJ'�
turais e econômicos.
Os pesquisadores portugueses da área educacional feminina,
A ;nfecio,;dade salada! fem;n;na ,evelac-se-ía no mesmo pa- recomendam algumas leituras, por serem significativas para estu­
recer. Constava na proposta que os professores do sexo masculin-; dos deste tipo, além de se constituírem em um caminho percorrido
receberiam 90$000 réis e as mestras 60$000 mil réis. Portanto, as por muitos. No entanto, como afirma Adão:

Y
�� professoras receberiam 30$000 a menos que os seus colegas de pro­
fissão, realizando, contudo, as mesmas tarefas educativas. Também Na segunda metade do século XVIII, poucas são as obras que
­
estariam, estas professoras, proibidas de admitirem alunos do sexo tratam exclusivamente da educação das meninas; algumas destina
casadoi ras e, por

·#
vam-se somente à formaç ão e aconsel hament o das
masculino e subordinadas aos veredictos dos padres e ministros
conseguinte, não abordavam o ensino que deveria ser dado às mais
-JLª-U!..f!.2derem pinistrar aulas. Em 31 de maio de 1790, a proposta
ovas. ( 1996, p. 261)
foi aprovada, com algumas indefinições. Uma delas, relativa aos ���
ordenados. Não indicava os valores a serem pagos, apenas que es­
tariam sob a responsabilidade das reservas do Subsídio Literário.
),eb ;J.,6J No início do século XVIII a mulher foi subalternizada, fato
,
gue não provocou em Portugal nenhuma convulsão social, porém
A rroposta, destituída de sentid.o, mencionava '!2gam�� , foram- se a itan-
a artir da segunda metade e ao longo do século
umas das 18 mestras deveriam ensmar a coser, fiar, bordar, cor-
do ondas, provando que nem todos eram acor es com esse d�

---------
tar e outras a ler e escrever, mas todas, sem exceção, deveriam ê� t
- - ,de submissão. Tr�grandes hoID.ens,d,a_cultur.a.d�p.gca setecentis �,
si.13llr a Doutrina Cristã. es: Luís Antón io� �
escreveram suas idéias sobre como educar as mulher
Aprovada pela Real Mesa Censória, a proposta para a educa- ir?._ dE;_ Q!lvei é!,_�- �
r
� ( 1 �h_Ribeiro Sanche�Ll.2_6_?2...:. <,;.....C .!v�
çno feminina em l.1Q9, entretanto, não saiu do P..e_P�
(12_.5_!). � �i..
i11icT;1tiva por quase trinta anos. Adão (1996, p. 85) ;firma: "estas
• "'I�-

36 37
2.3 Verney e a educação feminina

Embora o Marquês de Pombal tenha sido o principal respon­


sável pelo projeto de introdução das Ciências Naturais em Portu­
gal, a feição intelectual desse momento essencial da cultura luso­
brasileira foi dada por Luís Antonio Verney (1952).
,1� �1746, Verney_(l952)'4, baseado na autoridade con�
�1 elas "Luzes" fazia ublicar um conjunto de 16 Ca:,t�s Jk_ cunh_z.
;-4). , roblemático filosófico-cultural e pedagógico, ao qual atribuiu o
título de O Verdadeiro Método de Estudar. No "Apêna1ce sobre Õs
estudos das mulheres", à "'i6ã"carta, ãp"ó;-c/exame crítico da situa­
ção da mulher no país, focalizava:

Isso é o que me ocorre em breve, e tenho lido em alguns autores.


Certamente que a educação das mulheres neste Reino é péssima; os
homens quase as consideram como animais de outra espécie: e não
só pouco aptas, mas incapazes de qualquer gênero de estudo e eru­
dição. Mas, se os pais e as mães considerassem bem a matéria, v,eri-
.!:n quetêm gravíssimo prejürzc'.;"à ReRfbiica, tanto nãs' coisa�J2,_ú_bl;-: FIGURA l - Ana e a Virgem em cenário de leitura - Igreja da Misericórdia de Viana
-
cas, como domésticas. ...(Verney, 1952, carta 16, 1746, Ap. 10-15, p.127)
. do Castelo. Fonte: Manoel Inácio Rocha, O Real colégio das Chagas, 1996.

Verney (1952) fundamentou suas idéias sobre educação femi­


rrina, por ter, segundo suas próprias afirmações, "lido em alguns
11utores", basicamente os humanistas como Erasmo, Vives, Comenius
( 1 (i57). Aderiu também às idéias de Fénelon, em Traité de l'Éducation
l11s Filles (1687), em Rollin, De La Maniere d'Enseign er et d'Etudier
/1•.1· rJelles Lettres par Rapport à l'Esprit et au Couer (1726-1728), hesi-
11111do à adesão ao estudo feminino de Maintenon em Entretiens sur
/'l�d1tcation des Filies (1692), passando a incondicional defesa de
Prnill:-iin de la Barre em L'Éducation des Darnes pour la Conduite de
n,;,,•prit dans les Sciences et dans les Moeus (1679)' 5 •
,., Luís Antonio Verney, nascido em Lisboa em 1713, tilho de franceses, viveu e morreu
na Itália, integrando-se no movimento cultural que na história se conhece por
iluminismo. "Estrangeiro" como tantos outros, publicou, em 1746, a primeira edição do
" /\pt'Mllr de ser uma obra importante sobre educação feminina no século XVIII em
Verdadeiro !Vlétodo de Estuda,: Não manteve relações de amizade com Pombal, porém o
I ', 11 111111!1, rnros são os autores posteriores a Verney que escreveram livros e artigos que
ministro aproveitou-se da circunstância de Verney ter andado em luta com os jesuítas,
r 1'1,,,,,,111-s,· exclusivamente ao 'J\pêndice sobre os estudos das Mulheres". A questão
e o nomeou Secretário de Legação, em Roma. Por intrigas de Francisco de Almada e
111111•1 ,. 11nu ter despertado curiosidade até os dias de hoje. O único texto sobre o qual
Mendonça, primo do Marquês de Pombal, foi logo expulso e teve dificuldades financei­
ll1!1111 1·111tl11'rimcnto, que discorre sobre o assunto, é o do professor da Faculdade de
ras para publicar o conjunto de sua obra. VERNEY, Luís António. O verdadeiro método
1 ·1�,11 l11N d11 Universidade de Lisboa, José Amílcar de Carvalho COELHO, Verney e a
de estuda,: Seleção, tradução e notas de Antonio Salgado Júnior. Lisboa: Sá da Costa,
111.11�111111 Nl11mtivn das mulheres. Revista Educação, Lisboa, v.1, n. l, p. 69-71, dez. 1986.
1952. 5 V.

38 39
Si.o rarissímas, no s livros de Histórja, as menções àedw:;,fü2_0 Lopes (1989, p. 93) afirma que Verney (1952) nada apresen-
feminina no_Bra_sil C olonial. Eu mesma, quando redigia minha dis­ tou de novo para a transformação da vida feminina em sociedade.f'-. ,;
./
sertação de mestrado, em 1987 no Brasil, Educação da Mulher no Suas recomendações foram as mesmas de autores anteriores a ele.,; f 4?
Brasil-Colônia (1996), deparei-me co m a mesma pro blemática. Ob­ Porém, o mérito de Verney (1952) foi de ter tido a coragem d� �
servando essa lacuna, interessei-me pela o bra de Luís Ant onio reservar, exclusivamente, em uma de suas cartas sobre o método
Verney, O Verdadeiro Método de Estudar(1952) e sua propo sta rela­ de estudar, algumas folhas ao problema da faíta de educação femi...:
tiva ao "Apêndice so bre o estudo das mulheres". Naquela época, nin_a em PortuggiCÊ certo que se;do·u� apêndice, refere-se a uma
procurei fazer um paralelo de sua o bra com a de Jo sé Lino Coutinho parte anexa, distinta do que escreveu em seu método pedagógico
(1849) e com a do Bispo Azeredo Coutinho (apudOliveira, 1973). mais aprofundado. Um acréscimo ao que percebia so bre a p o breza
A meu ver, ambos so freram influência do s estudos de Verney (1952) na instrução de mulheres portuguesas e a necessidade em educá-
e de seus antecessores, ao conceberem e divulgarem a proposta do las.
método pedagógic o das educandas brasileiras 16• �ªSéculo das Luzes" acreditava só haver progresso para,°�
.
b_o mem.f.J k!s ta.edilícação..s..o.cia.Lp.er..meio..de..u...1I1..a.pro füncla renova-;e�
Se no Brasil a influência do Verdadeiro Método de Estudar(1952)
no período setecentista foi até o momento pouco explorada, em ção cultural, no que diz respeito àeducação �� sexo feminino, 1_2o_i-1to�
_
Portugal causo u polêmica e foi motivo de vários artigo s em revis­ co se alterava. No amDiente d o minanteda C ontra-Reforma, quN
tas e livro s. No entanto, os autores que fazem referência a O verda­ penetrava lenta e difusamente nos alvores do Setecentismo em Por'.:?o�
deiro método de estudar (1952) tratam dos vári os ramos do conheci­ tugal, a educação da mulher foi posta de lado .
-1"�'
mento abordado s por Verney, estabelecendo um silênci o abso luto Nesses estudos e no contexto do Iluminismo francês, a teoria
elativo ao "A êndice so bre o estudo das mulheres", rarissimamente a ação educativa vêm a ser instrumento s privilegiado s de trans­
L, rJJJfJJi:.

-�1
Ypr1$i l�cla_ç_ o mo uma-p1:op.os-ta inoya o ra 12<1.Üi a e_dLJç-aç[o da mu­ formação cio ho mem, da mulher e da sociedade, tal como testemu­
lher em Portug.?1' 7• nham o s ideário s pedagógicos desse perí odo. �y (1952) reco­
-N e�- -- nhecia a urgência em determinar um novo sentido 2ara o estudo v�
ir/J das muíheres portuguesas. ,....\
'" No Brasil, as influências do Verdadeiro Método de Estudar, de Luís Antonio Verney, A realidade esco 1arnêsse país revelava um completo despr�- -e,,
referem-se a duas propostas de ensino: a obra "Cartas sob1-e a educação de Cora", escrita
no primeiro quartel do séc. XIX ( 1849) por José Lino Coutinho, professor de Medicina, "·º à educação das mulheres, conduzindo a um anaítabet1smo_gene­
e nos Estatutos do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória, em Olinda, Pernambuco, rnlizado: "pouquíssimas sabem ler e esêrever: e muíto meno s fazer
redigidos pelo Bispo D.José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho em 1798. Aliás
Azeredo Coutinho, apesar de ser brasileiro, viveu e estudou por muito tempo em Portu­ 11111bas as coisas correctamente." (Verney, 1952, carta 16, ap.10-15,
gal. Nasceu em 174-3, em Campos-RJ e licenciou-se em Cânones na Universidade de p. I !27) Quais as causas dessa ocorrência? Haveria fundamento para
Coimbra. Na vida do Reino, impregnou-se das idéias iluministas, vindo para o Brasil na
década de noventa com o objetivo de dedicar-se à educação da mocidade brasileira. Ver: 01-1 portugueses c onsiderarem as mulheres intelectualmente inferi-

COUTINHO, José Lino. Cartas sobre a educação de Cora, seguidos de um catecismo moral. 111'(•s, e conseqüentemente não lhe permitirem serem educadas em
(Bahia: Carlos Pongetti, 184-9), e sobre Azeredo Coutinho ver OLIVEIRA, Betty. As
refàrmas pombalinas e a educação no Brasil. São Carlos: UFSCar, 1973. (mimeogr). 1·st ahelecimento s esco lares?
17 ANDRADE, António Alberto Banha de. A,refàrma pombalina dos estudos secundários
Verney (1952) responderia como um Iluminista ap oiado no
(1759-1771) Contribuições para a história da pedagogia em Portugal. 2 v., Coimbra.
Por ordem da Universidade, 1981-1984, encontra-se a citação: "se nem os homens 1111"ionalismo: Se a razão é faculdade especificamente humana, per­
sabiam ler e escrever, as mulheres então para quê?" (p. 39) É pois, sobre o fato de que t1•11r� t,1nto a homens co mo a mulheres. Para ele. o sexo feminino ��
-
não se preocupavam com isso, nem homens, nem mulheres, que acredito que era rara a
t'IH'rnltrava-se na ignorância, em Portugal, p orque até aquele m o-
alfabetização feminina. Em outras obras do mesmo autor� Contributos para a história da ,,..,
mentalidade portuguesa (Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1982) e Verney e a 1111•1110 ;1 educação não se estendia de mo do i_ ual, mas diferenciado �
,·11t1'(• ambos os �':!;!:.os. A diferença decorre, segun o o autor, "Ua tl
pr(!feção de sua obra (Lisboa: Ministério da Cultura e da Ciência/Secretaria de Estado e
da Cultura, 1980), não há menções ao "Apêndice sobre os estudos para mulheres", o que
revela um provável descaso com o tema. 1plirn<;:\o e exercício que um (sexo) tem e outro não tem" (Verney,
111/i'.I, (';1rta 16, Ap. 10-15, p. 125).
40 41
O problema seria tornar evidente o preconce
ito que o gênero fine o papel da mulher em duas�s J�idades: " ... este é o fim.
ma s culin o nutria pela educação feminina. Verney ( 1952
) acredita­ para que a Pro_y..1.êI.ênc�s.,pJ>_s no mundo: para ajudarem = oLmark
va que não bastava apenas propor uma reforma educi"t:iva; era pre­
- dos ou parentes, empregando- se na; �oi;;, s d�é sti-;;=a; -�o mesmo
ciso mostrar como se geravam os equívocos e as idéias pré-conce- s
tempo q�'"e'" ele sêãpTiêãm às de forã." "(Vê1-=iíey, 1952, carta 16, Ap.
--� pelos homens. Pela via das capacidad
es da"'?azão, toda a dis­ 10-15, p. 137) Reforçava com essa definição, o espaço feminino res­
�inação é ilegítima e injusta. Configurar-se
-ia um ato insano ao trito à esfera privada e o masculino à esfera pública. Definia ainda
não se educar as mulheres. De acordo com Verney (1952): "Pelo
quais eram as mulheres que deveriam utilizá-lo: as mães, as espo-
que toca à capacidade é loucura persuardir-se que as mulheres te­
sas e as freiras. As solteiras, nem pensar!_çom isso, sem r.erce�
nham menos que os homens. Elas não são de outra espécie no que A::,..,
reforçava o preconceito ao qual fizera in�meral> críticas. Impedia,c.:9.1�.
toca à alma." (Verney, 1952, carta 16, Apêndice 10-15, p. 125)
dessa maneira, e abertura plena às múltiplas condições das �ulhe-:, ��
O autor da proposta do estudo para mulheres �
solicitava aos re s gue viviam no século XVIII. Nem toda s er._am mães, esposas ou er...,�
horne�não considerassem as mulheres inferiores pelo fato de ----- ...... 'C
freiras. Seu método a s e:iscluía, o que sjgnificava um paradoxo em .1
se e ncontrarem em est�do de ! norância, pois apes
ar dos esforço;
-
g_ relação ao ideal de liberdade no qual acreditava.
;;Jücativos@e se forneciam aos rapazes, muitas vezes
.,_;,.,.-- - �les contj_: Como deveria ser essa educação preparatória da vida domés-
nuayam ignorantes. Nesse sentido, o que se poderia dizer sobre /l?
as i
� � _ religiosa da mulher? Ver_ney (1952) recomendava u:11ª área G:7�
a e
meninas a quem s�e impedia completamente o acesso ao estudo?
m1cial de formação geral, seguida de uma formação especifica em
Verney (1952) mostrava, sem qualquer hesitaç
ão, que a dife­ Ç1!llilra geral e dÕméstica. Nos funcla,!TI�nto�da educação as �� ,,...
rença de sexo não podia legitimar uma desigualdade de oportuni­ '...
lh�s deveriam estudar os_pr.hneiros elementos da escrita, feitura
dades educativas. Ambos os sexos deveriam aperfeiçoar-se no Ver­
� aritmética, ™re_nq_o a p_roce ssos !itdicos e)ntegr.ad.o.s u�ipa_
dadeiro método de estudar, que deveria conter o novo espírito cultu­
cotidiana das meninas. Esse_ensino primeiro relacion!!::"�.LeS.;
ral. Se a mulher tivesse o direitQj escolarizaç� ela participaria da
treitamente às li@s de catecismo e à icÕn-;grafia religiosa. O pre­
reaI1aade educativa. Aliás, acrescenta Verney, sempre que ocorre­
�portunidades educati;a�so de u� cursor do O verdadeiro método de estudar rec�mendaria, aÍnda, em

------- - --
bom método, como se
venhcava de modo exemplar e�nulheres célebres, "vê-se;�
lher discorrer tão bem como os homens" (Verney, 1952, carta 16,
relação à educação básica, um maior aprofundamento à introdu�
�ramática, já que elas só teriam acesso à ed�caçã3 em� Em
contrapartida, Õsmeninos daquela época têriam acesso às escolas,
Ap.J-15, p.126).
e portanto, estudariam muito mais.
Infelizmente, o método de Verney, em decorrên
cia do contex­ Às meninas �oram ministradas noções de artes doméstis_as,
to histórico em que estava inserido, utilizou como critério para a �
"estudos mais próprios das mulheres", segundo expressão de Verney�'?.,
necessidade da educação feminina apenas as ditas qualificações "na­

mava que:
- --
turais" das mulheres: o de serem "boas EJ,!ei' e "boas e.s.po�as". Afir-
(1952) e que denota um estudo discriminatório. Aprenderiam esses_
ofícios "d;;ulher" J!imultªo_earo�1Te:"a1
os_ est�s �istóricos (gre-
go�, romanos e portugueses). A história, por conseqüência, evoca:

...elas, principalmente as mães de família, são as nossa �ia "famosos ex�mplos de to'das as. virtudes morais, próprias para
s mestras nos regular as acções e animá-las". Entre esses exemplos, haveria a ci-
primeiros anos de vida: elas nos ensinam a língua;
elas nos dão as tação de alguma figura feminina? Quais ações seriam dignas de
primeiras idéias das coisas. E que coisa boa nos
hão-de ensinar, se
elas não sabem o que dizem? (1952, carta 16, Ap.I0 enaltecimento naquele período? Vern ey (1952) afirmava que os
-15, p.124)
exemplos "confirmam qualquer pessoa na fé e religião". Esses es­
A educação de aperfeiçoamento para si própria e stava tudos complementares seriam ministrados apenas às men�a�
fora de
cogitação! Baseado na autoridade conferida por Rollin, Verney de- estratos sociais superiores.

42
4·3
�:Jl
r•
ai.

i!/ As mulheres deveriam apre n!1er bem a língua portuguesa e,


_
al�m disso, o �SQ_an_h'2,!: "No mesmo tempo , aprendem, ou se ap;:
Vemos todos os dias muitas Senhoras arruinarem as suas casas e
rendas com coisas que talvez não são supérflu<:1s, mas porque não
feiçoam na Língua Espanhola, que ser ve muito para ler as histó­ sabem gastar quando se deve, e como se deve [. .. ] Quando vejo
rias e outras o bras daqu ela Nação." (Verney, 1952, Ap. 10, p. 137)
deitar o dinheiro na rua, e gastá-lo sem reflexão, chamo-lhe
soleníssima loucura. (Verney, 1952, Ap.10, p.139)
Para as freiras, era necessário o aprendizado, particularmen­
p 111" te , do est�d-;; do Latim . Curi osamente, bastava entend erem a 1;';;:'
Não nos iludamos, porém. Ver ney somente reconhecia a ne
­
'(/1- gua, não era necessano falá-la! " ...Digo que o estudar o latim, a
ã be­
cessidade de estudos para as mulheres porque dessa instruç
o
algumas é necessário, e são as Freiras, porque me parece ridículo
ercita­
que leiam continuamente sem o entenderem". (Verney, 1952, Ap. neficiavam-se os homens. Diria ele : "uma mulher de juízo ex
ásp ign oran­
10, p.147) d o saberá adoçar o ânimo ag reste de um marido ero e
rido
Quanto ao ensino de canto e execução de algum instrumento , te, ou saberá entreter melhor a disposição de ânimo de um ma
erudit o..." (Ve rney, carta 16, Ap.10-15, p. 126)
,e ele roderia ser realizado, porém com algumas reser vas. O ensi� Ap esar das contradições, das propostas pragmáticas e utilitá­
� de dança era aprovado,�r poss�bilitar (;"";xercício do c2,re2: "me-­ ei­
,A •1,1J parece necessário a uma Senhora [ ... ] aprender alguma coisa a dan­ rias, de r eceitas imediatistas, da dificuldade do autor de o Verdad
s dupl da t o ia da
çar. [ .. .] Por falta deste exercício, vemos muita gente que anda ro Método de Estudar em articular o discur o o e r e
ble as da
� torta e com alco rva ..." (Verne y, 1952, Ap.10, p.145) Finalmente os prática, sua intenção não foi de iludir, ou mascarar os pro m
s eu
hri.meiros es_tll_�p_�cializados �m�no �n�a doméstica, fo rn ece­ educação feminina em Portugal. Tratou-os abertamente em
_ b a nã é citada n os
AjJêndice. Estranhamente , no entanto, sua o r o
�)(:-V'-;1am l!ID c_Qnhec1ment�.2m.12leto da adm m1straçã� da casa.e do
�_» J;rabalho femininp. L� Antonio Ve rney consider ava o trabalho m!: lextos de seus contemporâneos. Também seu Apêndice so b r e edu­
l, é
-p'' nual uma_seg1.lQfil!_parte da ec onomia d9méstica, muito necessário caçã o feminina não causa polêmica. E m uma perspectiva atua
s u t po, a nfocar
"para tirar o ócio" e administr-;; bem u��r. Evoca Rollin para ainda exemplar. Verney foi corajoso para o e em o e
.
definir a função da mulher e de toda a educação que rece be para questões que clamavam por um estudo mais aprofundado
isso: "Diz M. Rollin com razão que este é o fim para que a provi­ De acordo com Coelho:
dênc ia as pôs no mundo: para ajudarem os maridos e os parentes,
Apesar de Verney não se assumir como autor de considerações
empregando-se nas coisas domésticas no mesmo tempo que eles se
originais, ao elaborar e apresentar publicamente um projeto de de­
aplicam às de fo ra." (Verney, 1952, Ap.10, p.137) Nessa afir mação é fesa da educação da mulher, numa época em que proceder deste
possível obser var claramente a divisão de espaços privados e pú­ modo não era uma tarefa fácil, revela notável sentido das novas re­
blicos reser vados a ambos os sexos e o papel que se esperava das alidades sociais e educativas. (Coelho, 1987, p. 71)
mulheres.
Tua as meninas pQbres,.,ju. lgax:<L'sumamente necessário apr� Contempor âneo a Verney (1952), António Ribeiro Sanches
.J .J'. .i,' der a CQfüZ..laz..er_hem-as�m.eiªs,�� endar, e outras coisas de casa" t11111bém se preocup ou em escrever reflexões à respeito da educação
"t �e n ey, 1952, Ap. 10, p.138); as ricas, ainda que nã erecisass�
,'
fí � _ �_ l1•111i11ina.
�- ����saberes...e 111s�er�ve 1!9 e o de �ml_w!,� emp..r:..e.�
riam seus dotes na,.prep_ar-ªç_ãp_�� obras d_estinadas a �olas, a
filantro2ia (Adão, 1996, p. 266).
�� Qu';.nto ao aprendiza�o ��.cifirmav1-V��era
preciso_g �e as senbor as_ça§..adas ªmn_q,.esse m_a�saber usar�º di-
ri-lf
nheiro de seus �riios, g2is_muita§ colocavam em risco a econo_­
mia da casa:

45
44
2.4 Ribeiro Sanches e a educação das meninas 18 q
nh a conhecimento do Verdadeiro Método de Estudar, estudo con�
temporâneo a o seu. A novid ade é que avança um pouco quando �
r� � Sa nches (1922) preconizava educa ção apena s par a a s mulhe­ �ita-a_:po§tilhi)idade da existência da "solteirona". Verney (1952)
�:; res oriund as da nobrez a portugues;- Tin��I:!._C!io d�ue
o acesso é m ais tax ativo quando reconhece, em seus estudos, apenas a possi­
�ndizagem escolar da s mull1eres de ca madas m ais baix as re=::-­ bilid ade de as mulheres serem mães, espos as ou freira s. Em Cartas

't'{�� presentasse um perigo à _estrutur a vigent;. Um amigo clãnobreza-
rJhv· sobre a educação da Mocidade(l 759/60) tr atou da questão educ acio-
solicit ava-lhe opinião sobre como deveri a ser a educa ção de sua nal feminina r apid amente, e sempre com a preocupa ção de ver a
filha . Ribeiro S anches ( 1922), em carta de 1754, de cunho mor alis­ mulher como aquel a que cuida inicialmente da vid a do menino. A

rt.t !s,_yers av a sob�tipo�c�� qu!E�i<!..!2!..fornecer _?S 12º2:..-


tugueses, homens de bem, prudent�ab ast ados, às��
como súditas de u122_Es_ta c!_z, e corp.q.;.'.Ccistã,s.da.,SanJi! g!:fia C ató-
educ a ção da s mulheres er a import ante, nesse sentido, porque con­
tribuiria par a a educ a ção do sexo ma sculino. Afirmava Sanches:
J
f'Jrr lica Roma p". ---,.,, [... ] o sexo femenino são os primeyros Mestres do nosso; todas as
'/'?,rr['r, �menda'.\Ca.que_ a prendessem �a�scrit a e a ritmét�, primeyras ideas que temos, provem da criação que temos das mays,
�l� a ém de um livro ...Q§__l a vq_res femininos, Geogr afi a , História de
�, ·_ru Po!_- amas, e ayas; e se estas forem bem educadas nos conhecimentos da

.nJ.. d anç a <:jogos_�o2:1ésticos. Acha v a que a s mulheres não devi­


am perder tempo com .!!JÚSica, Latim, Filosofi a , M atemátiq , His -
verdadeyra Religiaõ, da vida civil, e das nossas obrigaçoens, redu­
zindo todo o ensino destas meninas Fidalgas à Geographia, à Historia
sagrada e profana, e ao trabalho de maõs senhoril, que se me prega
� -tó rié!J,agr ada, Teologia , entre outros. Alegav a que a s matérias que
) no risco, bordar, pintar, e estofar, naõ perderiaõ tanto tempo e� ler
recomendou er a m suficientes par a uma boa educ a ção feminina , e o
novellas amorozas, versos, que nem todos saõ sagrados: e em outros
�ficiente para impedí-las de "ter tempo para enfeites, postur a s à passatempos, onde o animo naõ só se dissipa, mas ás vezes se cor­
/j anel a , leitura de novelas e comédias e <mleios amoroso
n, s" (Lopes, rompe; mas o peyor desta vida assi empregada he que se communica
d,Uc,', �.. 1989, p. 95). O que significa que era m esses os reais desejos das aos filhos, aos irmaõs, e aos maridos. (1922, p. 192)
1
, l�)r�1eninas da époc a , e as matérias era m sugerid as não p ar a a erudi­
� i;, �5,) m as/ar a evit ar esses gestos desapro dos pela socied a d�s De acordo com Adão, em Portugal a escolha era reduzida quan­
. .'
_:1! :
� . -rn'fm a v1g�e.
o.?n to a lugares educ ativos acessíveis ao sexo feminino. Ger almente
.--
Conseqüências por não criarem as Mães seusfilhos (Ribeiro Apud :ra em c as a , a cargo da s próprias mães, que ensinav a m às suas fi­
Lopes, 1989, p. 95) tratava de um a menina que tinha à sua frente, lhas a s atividades doméstic as e o cultivo da religiosidade ou quem
no futuro, três possíveis estados: ou havia de ser Matrona ; Religio­ podia, contr ata va preceptor as e mestr a s particulares, que lhes "cul-
sa ; ou Solteir a , "senhora " de sua casa ou govern anta de c asa alhei a . 1 ivavam os talentos a dequ a dos p ara brilhar em socieda de" (1996,

Em qualquer desses estados, er a necessária e útil a educ a ção. Ou p. 8 7).


seja: Ribeiro S anches (1922) concordava com Verney ( 1952), p ara Ribeiro S anches ( 1922), por sua vez, condenav a o ensino for�
quem o lugar da mulher era em cas a , no esp a ço priva do, apes ar de 111..:cid�preceptor a s, �º. qot!-reeénteme·nfe"'hav,Píêlõin.6:§�
estranhamente não mencionar em nenhum de seus escritos que ti- d111/,iclo em Portugal n as cas as nõoi·es portuguesas, cuJ as mulheres,
s
11:1 opinião c!êle,'" que e presfavim a esse serviÇÕ, e!:.fil!LCOm fre­
" SANCHES, Ant6nio N. Ribeim Cartas sobre a Educação da Mocidade. Nova edição
revista e prefaciada pelo Dr. Maximiano Lenws. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1922. q0C.n_ç_ia inferiores ê"m condição e prepar a ç� ara desempenh ar�
Obra de extrema importância, independentemente dofato de Ribeiro Sanches temati::zar muito l11rcfa., Achav a que a s meninas nobres que estudava m com essa s
pouco sobre educação feminina. Horn.em culto e ilustrado para sua época, tinha 14ma visão
interessantíssima sobre o papel da nobreza e de sua educação. Essas cartas redigidas: em prnf'cssor as particulares fic ari am com os mesmos vícios e modo
l 759
para o Monsenlun- Salem.a, refutam a hipótese de Camilo Castelo 1!_ranco, que acreditava que 1·11:-lciro de pens ar, "de obrar das suas armas, de que ordinário são
Sanches as tivesse escnto a pedzdo do Conde Oezras,fiâuro Marques de Pombal, enz 1760.
livro é um. opúsmlo de 130 páginas, com dois índices.
O gv11 tcs de comum e alguma cois a pior" (S anches Apud Pina , 1966,
p, ,1,:1). Também desap_rova va o costume português de envi ar as
4 ·6
47
meninas para os conventos aos quais seriam atraídas por parent de algum perigo, huma indigna ociosidade, que se oppoem à conser­
, as
que as induziam a professarem sua fé e obediência. Ao se tornarem vação e aumento das suas forças, uma cega superstição, que das
freiras, seriam impedidas de desempenharem as tarefas matern coisas mais simples, e mais naturaes lhes forma monstros, ou fan­
as. tasmas, um louco desvanecimento, que até o maior excesso vai ce­
Ribeiro Sanches lamentava não haver em Portugal nenhuma "Es­
vando nellas o desejo de agradarem, o golfo dos frívolos enfeites,
cola com clausura para se educarem ali as meninas fidalgas desde
a hum total aborrecimento para tudo aquilo, que lhes póde constran­
mais tenra idade" (1922, p. 193). ger o espírito,sugeitá-las as suas obrigações. ( 1787, p. 2)
Luís Carlos Moniz Barreto, tradutor de um Tratado de Edu­
cação Física e Moral dos meninos de ambos os sexos (1787) 19, anonima­ No entanto, assim como seus contemporâneos, Barreto repro���
mente publicado, mas de autoria de Joly de St. Valier, coronel vava a educação ministrada n-;; e pelos �onv��tos. Que ed�cação�·
de
Infantaria, exaltava o valor da educação das mulheres. Dada a
-
..........
funç_!o educativ!! como !llães, considerava que tal educação era "m�
sua· rêceberiam elas naqueles �ciosos retiros? Criticava o fato de se�
rem educadas para Deus e muito pouco para o corpo, enfatizando a �
só único, e capaz de produzir para o futuro, o desejado, e perfeit necessidade da educação física "para fazê-las fortes e robustas""c��
o
systema de Educação da m;cidade (...)" (Fernandes, 1994, p. 141) (Barreto, 1787, p. 14).
Para Fernandes (1994), este ponto de vista, perdido num prefáci Afirma Fernandes que, dois anos depois, o Jornal Enciclopédi-
o
do tradutor, caracterizava-se ainda por não aparecer valorizada co (1789), na seção 'Anedotas e Miscellanea", parecia avançar um
nele
a educação feminina com um fim em si. tanto na direção do reconhecimento dessa educação, ao mencionar
.. Barreto diria que seria um gran�ab�rdo pensar que �II@. "que existia há três anos uma instituição, em Paris, destinado não
gas mulhe.!.!_S fosse d� 12.ª!�reza diferente da d�s homens. Acredi somente aos homens (grifo nosso), mas a todas as mulheres que alme­
, _ �
_va que as mulheres não _desenvolviam sua intelig ência, devido� jassem instruir-se" (1994, p. 141).
tratamento diferenciado entre os_sexos: · O Cavaleiro de Oliveira20 dedicou algumas páginas do Recre­
ação Periódica ( l 751) à possibilidade da erudição feminina. Apesar
Examinemos sem preocupações o ensino, que entre todos os Póvos do tom jocoso, revela-se muito mais intransigente: "Em meu foro,
da Terra se dá as mulheres, e veremos, que esta tão essencial parte
"' Francisco X avier de Ol ive ira. (CAVALEIRO DE OLIVEIRA). Recreação Periódica
do Genero Humano, é tratada, como se fora huma segunda classe,
(1751). Compilado e vertido por Aquilino Ribeiro. Lisboa, Livraria B ertand , 1922.
que não merece, nem o mesmo respeito, nem a mesma attenção, que Constitui-se em obra necessária s obre o século XVIII, p orque Cavaleiro de Oliveira é
a dos homens. Com effeito, todos os maiores disvelos, todas as lições um dos poucos de sua época que apresenta o que se esperava da inte ligência feminina .
Pertencia Fra ncisco X avier de Oliveira a uma família de nome honrado, a qual, s e bem
de virtude, de ciência, de generosidade, de valor são para os ho­ que não tivess e entrada na Corte, possu ía as armas fidalgas dos Pereiras. Seu p ai, José
mens. As mulheres pelo contrário abandonadas desde o seu nasci­ de Oliveira e S ousa, conta dor dos Contos do Reino e Casa, serviu sucessivamente ao
mento a espiritos baixos, superticiosos, e tímidos, contraem todos Marquês de Alegre e Conde Tarouca em Utrecht e Viena, d e 1708 a 17S+, na qualida ­
de de escrivão e secretário de embaixada . Com o pai no es tr angeiro, s em um p ulso for te
os seus vicios. É da essência, digamo-lo assim, inspirar-lhe no seu ;i regê-lo, a e ducação de Franci sc o X avie r devi a correr um p o uco à rédea solta, sem
ensino hum infame medo, que as torna incapazes de se defenderem Nnnçào ne m medida. Tanto assim, que ficando dezesseis anos à t esta de família nllln ero­
Nn, cedo começou a p raticar a galanteria com as mulheres. Em 1 7S+ faleceu o pai em
"' BARRETO, L uiz Carlos M oniz. Tratado da Educação Fysico, e moral das crianças de Vkna, onde o sucedeu e recebeu sua herança, entre duzentos ou tre zentos mil réis. Foi
ambos os sexos. Traduzido do Francês. Lisboa, 1787. S67 pp. A obra que a Biblioteca l'Xilndo em Londres, era odiado pelos religiosos da I nqu isiçã o, porque escrevia com
N acional de Lisboa possui es tá um p ouco prejudicada, ca rco mi da em algumas páginas . 11111ita l'ranqueza . Em 1751, vivia em Londres e provavelmente passava por g randes
A folha de rosto está desp regada do livro, bem como as (i]timas. A ortografia emprega­ 1H·n·ssidades. Encontrava-se com cinqüenta anos e casara-se pela terceira vez. Sob re
da subs titui o f pelo s. Por exe mplo, a palav ra affim que r dizer "A ssim". B arreto assu­ ,,t,, ,. s11a ligação com o M arques de Pombal: as relações com a sua terra natal estavam­
me-s e de fensor de uma educação p ara as mulheres difere ntemente do que os homens Ih,• totalmente cortadas. Contra o perjuro do credo ro mano montara-se no r eino o mais
pregavam em sua ép oca . Escreve que as mulheres já tiver am, historicamente, instru ção �,•v,·ro cordão. Os seus próprios p arentes faziam sentin elas. Era jurado de mo rte p or
e realizaram muitos· feitos na hu manidade. Cita as mulheres g re gas, romanas e o ut ras.
l '11H1 h 11 I, q11c simbolicamente o queimou em praça pública, com um bo neco qu e o repre-
Critica ferozmente a educação da ép oca s etecentista , afir mand o que as mães não dava m 111•11t11v11 j11nto aos ossos do Padre Malagrida. Cavale iro d e Oliveir a foi, o que nos dias de
de ma mar s uas filhas p ois s e preocu pavam com a bele z a e com a arr u mação par a i rem
l 111 j1•, 1•l 11111ia1nos de escritor de vanguarda . O mais interessa nte de seus escritos é aquele
a bai les e fes tas, e tc.
•,ilt•, 1,11Ntil11i um testemunho animado acerca d os costumes, ambiente religioso e social
, ,, 11•111po. pp.Xl

48
+9
creio que não há nada mais frágil que a mulher. Nisto aparceiro ordem de aduladores é densa e esta ordem de damas rara, daí as
com Cícero que reputava a mulher incapaz de emitir um bom pare­ mulheres doutas e prodigiosas. (Oliveira, 1922, p. 150)
cer. Era dentro deste princípio a lei romana lhe impunha um pro-
� cura or no tocante à educação dos filhos." (Oliveira, 1922, p. 218) Seriam tão incomuns as mulheres sedentas de saber nessa épo­
...
��f}'P- Cavaleiro de Oliveira (1922) considerava uma mulher sábia ca em Portugal? Não estaria exagerando Cavaleiro de Oliveira, que
(O P ão inútil como um cavalo de circQ, e não lhe�econhecia sua capa­ foi contemporâneo a Teresa Margarida da Silva e Orta, e outras
Jgt!, (?' cic�ra �ac��io ;i;;trato. A dedicação do gênero feminino mulheres esclarecidas desse período, ao fazer as afirmações acima?
��pf"ciência era no sentido de ser amável e adorável, inteirando-se do Verney (1952), contemporâneo ao Cavaleiro de Oliveira, dizia que
rJf"' bem e do dever, firmando-se nos mandamentos de lealdade e fide- "muito poucas sabiam -ler e escrever e não conhecia uma única que o
lidade a união absoluta com o homem. "Ao homem, infelizmente, fizesse correctamente?" (grifo nosso) Brincando ou tratando seria­
tanto em Cavaleiro de Oliveira, como em outros que escreveram mente da condição feminina, reproduziam com todas as letras, o
sobre educação, não há menção sobre o que podiam ou não reali­ discurso normativo que a sociedade impingia: mulher não deve ser
zar." (Lopes, 1989, p. 94) Deveriam eles também se manter fiéis aos letrada.
mandamentÓs de fidelidade? O que diriam se uma mulher os com­ Exageros à parte, não havia de fato, até aquele momento, ne­
parasse a um asno? Cavaleiro de Oliveira concluía sua reflexão afir­ nhum estabelecimento escolar do gênero, que pudesse propQiçio:­
mando que �es deveriam ser ponderadas,_e__� nar uma educação cuidada e planejada
- --às mulheres, até o final do_
e inteligência seriam como o sal na cozinha; nem muito, nem pou­ �éculõ XVTII.

- �rado (1922, p. 153).


Cavaleiro de Oliveira elogiava as mulheres como seres feitos 2.5 Educação nos conventos
para o amor, não para as ciências. Certa vez, diante de uma mulher
dita culta, inquirindo-a, desentenderam-se em função de conceitos Em relação às meninas de famílias, envolvidas em atividades <:-;:iz
de filosofia. Contrariado, emitiu o seguinte julgamento sobre a in­ profissionais, o ensino era concebido como utilitário, e, por isso,,t;-;;;
0
teligência feminina: '1d tive ocasião de me convercer que a sabedo­ recorria-se a escolas particulares e conventuais, posto que não exis� �
ria nas mulheres não passa, em geral, de presunção, apoiada por tiram aulas régias até finais do século. Adão (1996), menciona que �
uma vivacidade que só agrada a inteligências medianas, ou àqueles Hl' a educação feminina não recebeu atenção dos meios governa­
que não se dão ao trabalho de raciocinar." (1922, p. 146) mentais, os conventos das Ursulinas (1753), e Visitação (1782), as-
Franco e á�ro na franqueza que comunicava ao público seus 1iirn como outros, tiveram o mérito de terem concorrido para a edu-
/.,. /}' 1•11�·1'10 ele algumas "raparigas" portuguesas.
�ftv"_sentimentos, admitia a idéia de que-ã füstona po�sutrn.ITn5õm nú­
No reino português, as Ursulinas instalaram-se na Vila de
:tl'1en �neres que se-sobressaíram por s� intelig.ê.ncia. mas l 11 ·reira, próximo de Coimbra. Tinham como objetivo a assistência
eram exceções:
111,s enfermos e o ensino do sexo feminino. O nome da congregação
Através da história poderá coligir-se, é verdade, um magote de f• 11111;1 derivação do nome de Santa Úrsula (1535) e dedicava-se
mulheres doutas que igualaram ou até excederam, se assim o exi­ l11l1•iramcnte à educação das jovens donzelas, recebendo elogios dos
gem, os mais belos espíritos de homem que tem havido; uma destas 111,•ios 14overnamentais bastante receptivos a esse tipo de iniciativa,
luminares aparece. Perfeitamente; mas são os fenomenos tão extra­ p1 q111• niuito pouco faziam neste sentido. A primeira diretora, D.
vagantes como raros. O comum é homens enaltecerem, elevarem ao l ,1 1 11('(1dia Vaía, afirmava que a educação feminina devia ter por ob-
séptimo céo mulheres que pegam com uma certa habilidade da pena, 11 1 1 Ivo II formação moral e cristã. Assim como Verney ( 1952) e
ou atiram a público com duas ratices bem imaginadas. E como aquela llllll'lro Sanches (1922), a diretora do Colégio das Ursulinas repro-

50 51
duzia o mesmo discurso normativo relativo à condição feminina da menta musical, segundo os preceitos do solfejo, pois seriam prepa­
sociedade setecentista: radas para serem as futuras esposas cultas e boas donas de casa.
Essas "novidades" aconteciam em Portugal influenciadas pela edu­
Não queremos a mulher escrava; mas também não a queremos cação ocorrida na França.
licenciosa. [. . .] e para isso é preciso educá-la e instruí-la. Mulher Infelizmente, como o Colégio das Ursulinas da Vila de Perei­
livre é somente aquela, que, educada e instruída no amor de Deus e ra mantinha um vínculo muito estreito com os Jesuítas, o Marquês
ao próximo, sabe ser donzela honesta, filha obediente, irmã extre­ de Pombal, que os execrava, pretendeu desativá-lo. Em conversas
mosa, esposa fiel, e mãe carinhosa. Enquanto essa, que corre solta e
com as responsáveis, decidiu mantê-lo com recursos advindos de
sem pejo pela estrada do vício, é escrava do pecado e do demónio,
que são os maiores tiranos da alma e do corpo. (Adão, 1996, p. 189) outros recolhimentos extintos. As freiras foram obrigadas, inclusi­
ve, a trocar de hábito, usando então o de Santo Agostinho. Quando
D. Maria assumiu o colégio, após a morte de D. José e da destitui­
ção do Marques de Pombal, "o colégio estava próximo de sua ruí­
na, reduzido ao apuro de quase terminar a sua existência". (Adão,
1996, p. 189) Apesar de problemas que, certamente, enfrentaram
com o poderoso ministro, o Colégio de Pereira era de muita
credibilidade. De várias partes do reino vinham meninas estudar
naquele local. O preço era avultado para a época: 40$000 réis anu­
ais. Iniciou-se como internato, mas, em virtude da procura, atendia
alunas externas.
Adão afirma que semanalmente as alunas eram avaliadas, por
meio de sabatinas, "ensinando-lhes, e suprimindo os conhecimen­
tos, a que as Mestras não podiam chegar". As freiras também aca­
baram com o antigo costume das alunas usarem invariavelmente
hábitos de lã, passando a usar roupas comuns, caseiras, para que
pudessem aprender a cuidar das suas roupas e apresentar-se ao
mundo. Era uma educação útil, tanto que ensinavam formas de
cumprimento, maneiras de portarem-se diante da comida, da bebi­
FIGURA 2 - A educação foi o primeiro espaço público onde as mulheres puderam atuar. da, além de outras boas maneiras, "que apesar de minuciosas, reve­
Professoras ou mães professoras, ela moldam a cidade. Fonte: George Adolphus Storey lam a boa ou má educação de quem as pratica" ( 1996, p. 189).
(1834-1919), The blue girls ofCanterbury. ln Michelle Perrot, Mulheres Públicas, 1998.
Na Ordem da Visitação ( 1876), criada no Convento de Belém
para o ensino das meninas nobres, aprendia-se a ler, escrever e con­
Quanto ao conteúdo de ensino, havia uma distinção entre o
tar, a fazer rendas e bordados, Francês, Italiano, Latim, Gramática
que se ensinava às alunas internas ou pensionistas, oriundas de
Portuguesa e Geografia. Além destas matérias, as alunas deviam
estratos sociais mais elevados, e às alunas externas, sem recursos
ser instruídas "nas boas artes, que lhes são próprias, e instilando­
financeiros. Ambas aprendiam, para além de ler, escrevei� contar,
lhes os mais puros sentimentos de piedade, e de religião" (Adão,
trabalhos de costura, bordados e rendas, doutrina cristã e elemen­
1996, p. 189).
tos de civilidade, .latim, e inglês. Às mulheres mais ricas, acrescen­
Adão afirma que essa ordem religiosa, ao observar que as me­
tava-se o francês, o italiano, o canto, e o manejo de algum instru-
ninas, nos finais do século XVIII, estavam num estágio mais atra-

52 53
sado do que o sexo masculino, preparou um conjunto de compên­ Tomara que visse este rebanho de cordeirinhas arrancada da boca
dios para o uso de suas educandas, de autoria do Padre Teodoro de do lobo [. ..] Ahi estão agora instruindo-se em tudo que convém a
Almeida e uma freira. Ao contrário das Ursulinas, essa instituição huma Mãi de famílias; depois casão com officiaes; contribue-se-lhes
não aceitava alunas externas e, durante alguns anos, não gozou de com alguma cousa para o seu estabelecimento, e fica uma família
muita credibilidade na nobreza, para educar suas filhas. "Parece talvez bem util á Religião, e á Sociedade. (Peixoto, 1991, p. 143)
que os objetivos a que se propunha não estavam sendo seguidos,
quando abusavam da fraqueza da educandas, para convencê-las a Nos finais do século, em 1790, como já mencionado anterior­
seguir a vida de clausura." (Adão, 1996, p. 262) mente, o padre Joaquim José dos Santos fundava a Casa da Educa­
Além desses estabelecimentos, foram criados mais dois, da ção das Meninas, na Junqueira (Lisboa). Pouco se sabe até o mo­
Congregação das Ursulinas. Em 1777, o Colégio de Vianna21 ,e em mento sobre essa instituição. Adão (1996, p. 195), menciona-o como
1784, o Colégio das Chagas de Braga, em decorrência dos bons "local onde se ensinava a ler e escrever, piano e canto. Era uma
serviços prestados pelas freiras dessa congregação em Vila de Pe­ obra de cunho filantrópico."
reira. Esse último foi auxiliado financeiramente pelo Frei Caetano Quanto às mestras de ensino particulares, parece que ensina­
Brandão22 • Esse Frei conhecia perfeitamente a realidade escolar vam algo semelhante ao conteúdo ministrado nos conventos.
em Portugal na segunda metade do século XVIII, nomeadamente, Em 1784, uma francesa moradora em Lisboa, ensinava "com
o abandono, o analfabetismo e a discriminação pela educação da toda a perfeição a falar, ler, escrever, e contar, em Português, e em
mulher. "Não havia, para esse arcebispo, qualquer fundamento em Francês: como também a coser, bordar e mais qualidades que com­
considerar a mulher intelectualmente inferior e, desse modo, en­ pletam uma educação cristã, e civil" (Adão, 1996, p. 262).
contrar uma justificação para afastá-la do sistema escolar." (Peixo­ De qualquer forma, tanto Ribeiro Sanches (1922), quanto Luís
to, 1991, p. 90) Antonio Verney (1952), Frei Caetano Brandão (1790) e os estabe­
Em vários de seus escritos, Frei Caetano Brandão (apud Pei­ lecimentos religiosos e mestras particulares de educação, comun­
xoto, 1991 ), retomava, freqüentemente, a questão da necessidade �avam dos mesmos princípios: à mulher não interessava, nem a
educativa da mulher. Para tanto, avançava com duas "necessidades abertura de espírito e nem a clarificação das idéias que o estudo lhe
fundamentais": a primeira relacionava-se com a formação de boas podia proporcionar. Todos concordavam em conceder às mulheres
mães, a segunda referia-se à formação boas esposas: o acesso a apenas certas matérias.
Para os portugueses, ela deveria aprender algumas habilida­
des e conhecimentos, pois, além de companheira do homem a quem
deveria facilitar e tornar agradável a vida, deveria também educar
21
No período em que estive em Portugal, recebi das mãos do P rofessor Rogério
Fernandes um exemplar recém editado do livro de Manuel Inácio ROCHA, O real o �ênero masculino. Devia-se conhecer, mas não em profundidade,
colégio das Chagas (Instrução de meninas em Viana I 778-1884). Governo Civil de Viana do pois certos conhecimentos tornar-se-íam perigosos ou, inúteis para
Castelo, 1996. Rocha investiga a instituição que constituiu a primeira aula pública do
11 condição feminina. De acordo com Lopes:
sexo feminino existente em Viana, e que foi, também, a mais importante e eficiente
instituição de ensino de meninas no Norte do Douro, durante mais de um século Trata
das circunstâncias da fundação do Colégio das Ursulinas, sobre sua vida interna, sobre
Tal convicção inseria-se perfeitamente no pensamento da época,
o tipo de educação ministrada e os métodos e programas de ensino.
"Frei Caetano Brandão fundou vários estabelecimentos de ensino, entre eles o Colégio segundo o qual a instrução deveria ser distinta consoante o grupo
S.Caetano ( 1791-1991). Atuou no Brasil, em 1788 (Pará), na criação de um colégio social a que se destinava. O Pressuposto da necessidade de limitar o
para a educação de meninas pobres e orlas. Em Portugal, além do Convento das Ursulinas
saber de acordo com o estatuto social e a função a desempenhar,
de Braga, instalou em 1798 20 escolas para o ensino de meninas pobres no Recolhi­
mento de Tamanca, nas f�eguesias de S.Lázaro, Sé, entre outros. Foi considerado um apoiando-se na inutilidade e no perigo decorrente do acesso ao co­
dos maiores pedagogos do século XVIII, em Portugal. Ver: PEIXOTO, José Carlos nhecimento por parte dos estratos inferiores, era uma das idéias
Gonçalves. Pensamento Social e Pedagógico de Frei Caetano Brandão. Braga: Gráficas do
Diário do Minho, 1991.
caras aos homens das luzes. (1989, p. 96)

54,
55
Não eram as mulheres do século XVIII um grupo social de­ 2.6 Mulheres em pele de homens
marcado, restrito e condicionado a obter apenas a educação que à
época lhe convinha? O século XVIII impõe a marginalização da esfera pública
para as mulheres, "que se constitui [ ... ] a partir das sociabilidades
Como mencionado anteriormente, instalar-se-ía o primeiro
masculinas, e depois, com a Revolução, a rejeição da sua cidadania"
colégio para educar me_ninas, no Convento da Visitação ( 1 782).
No entanto, mesmo nesse lugar, o objetivo das freiras era (Chartier, 1995, p. 46). Nesse sentido, é preciso fazer uma releitura
professá-las e não educá-las para a convivência em sociedade. dos papéis que as mulheres deveriam desempenhar, evitando-se a
Quanto às mulheres do povo, permaneceriam ainda na escu­ armadilha de uma história linear, como a de D. António da Costa,
que traça a progressiva conquista de autonomia e de igualdade fe­
ridão e na submissão.
mininas, demarcadas por combates heróicos e figuras exemplares.
Apesar de parecer à primeira vista que não havia avanços para
Vestir-se de homem foi um recurso muito utilizado pelas mu­
a educação feminina, os autores citados acima inovaram em rela­
ção à obra de D. Francisco Manuel de Melo apud Peixoto, 1991, lheres para terem acesso ao mundo masculino, estendendo até o
século XIX. Até essa época, fez-se pouca questão de as mulheres
denominada Carta de Guia dos Casados ( 165 1 ). Nesta obra, a mu­
aparecerem no relato histórico, o qual, na verdade, ainda está pou­
lher passava a tutela dos pais para a tutela ainda mais apertada do
co constituído. As que foram aparecendo, registradas pelos cronis­
marido, devendo viver em reclusão completa, "inclusivamente com
tas, são quase sempre excepcionais por sua beleza, virtude, heroísmo
a capela em casa, sem confidentes, sem criadagem da sua confiança
ou, pelo contrário, por suas intervenções tenebrosas ou nocivas,
pessoal, vigiada estreitamente nas suas relações e despesas, sem
suas vidas escandalosas. Como afirma Perrot: "A noção de
cultura literária e artística" (p. 145).
excepcionalidade indica que o estatuto vigente das mulheres é o do
As mudanças que ocorreriam na vida das mulheres da socie­
silêncio que consente com a ordem." (1995, p. 13)
dade portuguesa, a partir da segunda metade do século XVIII, se­
riam conseqüências da nova sociabilidade urbana que surgia, de­
D. António da Costa não fugiu a esta regra. Nos finais do
Século XIX, escreveria um livro sobre a Mulher em Portugaf-3, no
correntes das influências Iluministas francesas. As perspectivas
qual é possível observar exemplos de mulheres que mostraram seus
abertas pelos inovadores eram ainda muito limitadas. Chama-se a
·onhecimentos e atos de heroísmo. Por limite de espaço, descreve­
atenção para a necessidade da mulher aprender, mas deveria fazê­
rei alguns em que, muitas vezes, não há datas dos gestos anuncia­
lo muito mais pelos seus filhos, pela sua casa, pelo seu marido, que
dos. Apesar do enaltecimento, são esses relatos que permitem a
por si própria, pela sua efetiva emancipação.
rnntraposição ao discurso normativo de que as mulheres pouco
Lopes, autora do excelente estudo Mulheres, espaço e sociabili­
.�nbiam ou arriscavam.
dade ( 1989), anunciava que vinha da França a moda adotada em
Portugal, a qual exigia mulheres prendadas para pertencerem aos Como as mulheres não participavam dos acontecimentos pú­
hlicos e como a política interior e exterior (guerras, diplomacia), os
novos grupos sociais que iam brotando. De fato, não foi a escola
documentos administrativos e as crônicas do poder as remetiam a
que abriu as portas da esfera pública para as mulheres, mas a soci­
abilidade. Nascia, a partir da segunda metade do século XVIII, uma
" () livro de D. António da Costa, único exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa, foi
nova mulher em Portugal: mais fina no falar e no agradar. As mu­ , 1111N11ltado por mim, mediante autorização da bibliotecária-chefe. Encontra-se em mau
lheres que se destacaram nesse período, o fizeram sempre às escon­ i'HI 11,lo de conservação, amarrado por uma cordinha. Foi publicado após sua morte,
111111•111,ado. Em alguns lugares, há apenas os títulos e os apontamentos principais. É
didas ou acompanhadas do consentimento de pais, irmãos e mari­ 1111111 obra densa e rara, de suma importância para o conhecimento da mulher portugue­
dos. •11. 1° 01110 filha, mãe, educadora, escritora, soberana, entre outras. Inicia-se citando as
1 11 l1111"ir11s rainhas portuguesas até as mulheres de vulto, contemporâneas à sua vida. O
J II 11d11l0 da edição póstuma foi destinado a uma criança desvalida, a quem ele protegia
, 1•il111'11vn. COSTA, D. Antonio da. A mulher em Portugal. Lisboa: Nacional, I 892.

57
56
um lugar secundário, omitiam-se ou encobriam-se, muitas vezes, Um dia cortou os cabelos, colocou-se em roupas de rapaz, e
as atitudes femininas ditas masculinas. transformou-se em António. Costa ( 1892), descreve a trajetória de
Como exemplo da mulher que se assume cm trajes de homem Antónia carregada de qualificativos femininos, sem notar que se
para ser corajosa, conta Costa (1 S92), o caso de D. Maria de Sequeira, Antónia de fato os acentuasse, poderiam percebê-la um homosse­
mulher de Antônio da Cunha Souto Maior, desembargador que re­ xual. Certamente Antónia, para garantir seu futuro como homem,
gressava do Brasil a Portugal. representou com muita masculinidade seu papel, pois nunca foi des­
Parece que na manhã de 20 de março de 1 714, Gaspar dos coberta. Ao contrário, quando ela percebeu que havia despertado o
Santos, Comandante da nau Nossa Senhora do Carmo, ao navegar amor de uma mulher, resolveu revelar seu segredo. Nesse sentido,
no litoral da Bahia, avistou três navios, com cento e trinta canhões, a narrativa de Costa peca em suas premissas:
enquanto a nau deles tinha apenas vinte e oito. Eram corsários
argelinos:
Sae de casa ás escondidas, e eil-o grumete n'uma caravella
Quando começou o combate, apareceu D. Maria de Sequeira, desmandando Mazagão. O mundo é vasto, e o espírito ainda mais
bradando que a rendição seria morte certa. Aplaudido o seu brado, vasto do que o mundo. Em Mazagão o grumete da caravella trans­
apareceu em trajes de homem [grifo nosso], colocando-se como com­ forma-se em soldado. Estimavam-n-o pela sua boa índole. Nas ruas
batente atuante. Travaram luta dia e noite, ora lutando contra os os da cidade esgrimia com tanta graça, que o mudou para cavallaria o
combatentes, ora auxiliando com curativo_s os que haviam sido feri­ Capitão. Quando faltava a lenha e o farro, eil-o a cavallo com a sua
dos. Quando a noite veio interromper a luta, ela com as suas pretas espingarda, dirigindo audazmente a sortida. Nas investidas contra
e duas judias, a fazer cartuxos, que iam já faltando. (Costa, 1892, p. os Mouros mandavam-n-o na dianteira por seu valor e perspicácia.
26) Tudo isto concorreu para laurear a fama d'este militar, distincto
como um valente, e de trato gentil como donzella. Franquearam-se
Depois de muita resistência, os argelinos, assustados com o as casas principaes a esse moço, que por sua galanteria enfeitiçava
enfrentamento, foram embora. Ao chegarem a Portugal, o Rei D. as damas. N'uma d'essas casas tão requestrada foi por certa menina,
João V, ao invés de reconhecer o ato de bravura e coragem de D. que se considerou o casamento como justo!
Houve elle então de representar a sua comedia, porque nem po­
Maria de Sequeira, entregou ao capitão do navio a condecoração
dia, para não levantar suspeitas, recusar a sua mão, nem, por impos­
do Hábito de Cristo e uma tença. Essa atitude mostra muito mais sível, dar esperanças... ( 1892, p. 34)
do que Costa (1892) desejaria: embora a mulher em situações ex­
tremas, para destacar-se em atos de bravura devesse vestir-se como O caso complicou-se. Naquele momento, sua felicidade era o
homem, nem mesmo nesses trajes obtinham reconhecimento ofici­ seu perigo. Vendo que não havia outra saída, a jovem Antónia pro­
al. Era preciso ser, de fato, do sexo masculino, ou parecer que era. curou o governador e revelou-lhe o segredo que manteve na Cava­
Foi o caso de Antónia Rodrigues, ou a Antóninha, como a chama­ laria Portuguesa: era mulher. O Governador, espantado e por que
vam. Quando pequena, fora trazida para Lisboa p�r sua mísera mãe, não dizer, decepcionado, mandou-lhe deixar a farda e voltar a ser
que a entregou aos cuidados de outra filha mais velha, casada na mulher. Acabara-se aí seu valor como prestadora de serviços a Por­
capital. Quando cresceu, percebeu ser pesada à irmã, e foi pensan­ tugal. Voltava a viver como todas as mulheres daquele tempo, den­
do ºem uma forma de manter-se às suas expensas. Aos doze anos de tro de casa, cuidando dos afazeres domésticos. Foi enviada para
idade, disse para si mesma: "Pois uma mulher não há de servir para viver junto a uma família nobre em Portugal.
nada neste mundo?" (Costa, 1892, p. 26) Ao constatar que muito Antóninha Rodrigues ganhou notoriedade, e muitos em Lis­
pouco conseguiria sendo mulher naquela sociedade, resolveu si­ boa queriam conhecê-la pelos seus atos. Se até ali, enquanto rapaz,
mular-se de homem. eram as mulheres que a desejavam, agora transformada em uma
58 59
2. 7 Mulheres, casadas e solteiras escrevendo...

Outra forma das mulheres desse período serem ouvidas, foi


por meio da escrita. Chartier afirma que:

A relação das mulheres com a escrita, é caracterizada no século


XVII e XVIII (e talvez ainda no século XIX) por um certo número
de traços: o recurso freqüente ao anonimato ou ao pseudônimo que
dissimula a identidade verdadeira do autor, a distância em relação à
edição, a destinação das obras a um público restrito, próximo, cúm­
plice. ( 1995, p. 38)

Em Portugal, também muitas optaram por escrever teses, ro­


mances, sonetos, atos de bravura, entre outros, dentro de uma es­
crita feminina contida e dominada, privada de propriedades que,
majoritariamente, qu;a.Úficavam a escrita masculina: o nome pró­
prio, a difusão na impressa, a busca de um grande público, anônimo
e longínquo. Outra característica que envolvia essas produções fe­
mininas é que elas eram, geralmente, provenientes da aristocracia.
FIGURA 3 - Se a leitora é uma figura clássica da pintura, a mulher que escreve é mais
Entre essas, Costa (1892) cita: D. Leonor de Meneses, Con­
1111·11. Essa jovem mulher elegante é representada num canto da sala e numa postura
dessa de Serem e de Albuquerque, D. Constança Freire e D. NL"1nipública. Fonte: Christian Clausen (1862-1911 ), Femme devant écritoire jleuri, in
Umbelina de Távora (as duas últimas também teólogas e linguístas), M lchclle Perrot, Mulheres Públicas, 1998.
D. Ignácia Xavier, perita em Medicina e Cirurgia, autora das Anti­
guidades de Braga, ele onde procedia e D. Joanna Michaela, da cida­ D. Marianna Antonia P imentel Maldonado também foi uma
de de Guimarães, Matemática e Teóloga. ,·xcelente escritora. Nasceu em Lisboa em 1771 e morreu solteira
No século XVIII destacaram-se: na cidade do Porto, Luisa 1•11i 1855. Escreveu muitas cartas e sonetos amorosos, sob a inspi-
Marescotti, que, casando-se com um fidalgo italiano, foi para a Itá­ 1•11l;rlo de um amor proibido denominado "Alceu". Contemporânea a
lia e graduou-se em Artes e em Teologia; Dyonisia da Encarnação ,•ln, l:imbém é possível encontrarmos a Condessa do Vimieiro, que
(s.d.), que nascida de pais humildes, nobilizou-se nos estudos de p1t1'(•t·c ter tido uma vida mais tranqüila do que as suas contempo-
Matemática e Arquitetura; D. Marianninha de Abrandes, que vi­ 1 n1i1•:1s. Em 1785, a "Academia Real das Sciências" abriu um con­

veu apenas dezessete anos, mas "o suficiente para ser autora de , 111-.�n, com prêmio, para a apresentação de uma tragédia de assun-
vários livros de Philosophia Moral e Rethorica Moderna". (Costa, 1892, 111 d1· interesse nacional. Ganhou-o com o trabalho intitulado
p. 165) Auta, filha de professor da Universidade de Lisboa, que ''( h1111i:i", de interesse agrícola portug4ês. No texto ela solicitava
estudou Teologia e Direito Canônico e foi nomeada pela Rainha D. ,p11•, r11sn ganhasse o prêmio, que o entregassem a quem conseguis-
Leonor, dama de leitura na Corte, e que, levada para o Convento de ,, 1•111·011ln1r o remédio que acabasse com a ferrugem que se insta-
Madre de Deus, professou. 1111·11 1111s oliveiras e as danificava. Ganhou uma medalha de ouro no
11tl111 111- (·inqüenta mil réis, um valor extraordinário por essa ins-
1•1! 111,no, t· 11 Academia imprimiu três edições muito concorridas e

62 63
esgotadas da peça teatral. Sismondi, ao analisar sua obra, com todas mulheres que foram destaque, o foram por seus méritos e
influências nitidamente francesas e iluministas, afirmou que: capacidades. Algumas, que viveram durante o século XVIII, con­
temporâneas ao Marquês de Pombal, além de destacarem-se como
N'este genero de composições, em que as mulheres raras vezes se mulheres, escritoras, deixaram seus vestígios de rebeldia. É o que
teem estreado, a Condessa de V imieiro apresentou as qualidades se segue no próximo capítulo.
que distinguem o seu sexo, uma grande pureza de gosto, uma gran­
de delicadeza de sentimentos, e o interesse da paixão de preferência
ao das circunstâncias... No desfecho, como em toda a peça, seguiu as
regras do Theatro francez, parecendo na vivacidade do diálogo ter
tomado antes por modelo a Voltaire, do que a Corneille e Racine.
(Sismondi, apud Costa, 1892, p. 258)

Eram raras as mulheres que conseguiam um feito dessa na­


tureza, graças aos seus esforços pessoais. Mais raro ainda era um
homem elogiá-las pela sua inteligência e capacidade literária, mes­
mo que sob os atributos socialmente imputados às mulheres como
a beleza, delicadeza e paixão.
Encontra-se na Biblioteca de Évora toda a correspondência
da Condessa com o Arcebispo Cenáculo, e seria interessante se,
algum dia, estudiosos se debruçassem com mais afinco sobre suas
idéias e sentimentos.
Em seu relato sobre as mulheres que se destacaram na vida
portuguesa, Costa (1892) afirma que depois que faleceu seu mari­
do, a Condessa do Vimieiro recolheu-se ao Convento das
Commendadeiras de Santos. Costa (1892) conta que, por inveja de
uma residente anônima ali, vieram dez médicos conversar com a
Abadessa, para testar o juízo da Condessa de Vimieiro, alegando
essa freira, que ela estava ficando louca:

Ela não tinha notado que eles vieram como junta médica para
testar seu juízo. Percebendo que era isso, pelos olhares especiais, a
Condessa sorrindo-se foi intercalando differentes assumptos, até lhe
cahir a propósito o caso de Joanna-a-doida, doida só no pensamento
dos que não a sabiam avaliar. Os doutores supplicavam em espírito
ao pavimento da sala que se abrisse para os sumir! .... Sem antes ela
oferecer a cada um um mimo de prata. ( 1892, p. 261)

Muitos casos como esses foram descritos por D. António da


Costa. Poder-se-ía fechar esse discurso com essas citações. Mas nem

64 65
BIBLIOGRAFIA

1. FONTBS

1.1 Manuscritas

A N.T.T. -Arquivos Nacionais da Torre do Tombo

Chancelaria D. José I: livros 3, 54


Ministério do Reino: livros 362, 363, 364

1.1.2 Seção de Reservados dos Arquivos Nacionais da Torre


do Tombo

L IÇÕES DE HUM PAY A HUMA FILHA SUA , NA


PRIMEIA IDADE: QUE OFFERÊNCE ... A TODOS OS BONS
PAYS DE FAMILIA. Roque Ferreira Lobo. Primeiro Volume. 1794.

B.N. - Biblioteca Nacional de Lisboa

1.2 Livros, Relatórios e fontes impressas

CARTA S de P rudente Dictames que escreveo Certa Senhora


a hum tio seu, pedindo-lhe anciosamente algumas direcções, ou
confelhos para poder tolerar a má vida, com que seu marido a tra­
tava. Resposta, que se lhe deo, e tudo o mais, que verá o curioso
leitor, escrita por hum anonymo, que defeja muito a boa paz, e união
entre os Cafados. Lisboa: MDCCLXV (1765) Na Oflicina de Ignacio
Nogueira Xisto.

163
CARTAXO, António de S. Fancisco de Paula (Frei). Discursos moraes, 1.3 Seção dos Reservados da Biblioteca Nacional de
e evangelicos sobre vicias, e virtudes[. . .] para instrucção da vida christã. Lisboa. Microfilmes
Lisboa: Impressão Regia, 1811.
CARTAS de Prudente Dictames que escreveo Certa Senhora a um
COSTA, F. J. Ostentação pelo grande talento das damas contra seus tio seu, pedindo-lhe anciosamente algumas direcções, ou confelhos
emulas, Lisboa Occidental: Pedro Ferreira, 1741. para poder tolerar a má vida, com que seu marido a tratava. Res­
posta, que se lhe deo, e tudo o mais, que verá o curioso leitor, escri­
COSTA, J. D. No dia em que sefaz lembrar o nome da nossa Soberana ta por hum anonymo, que defeja muito a boa paz, e união entre os
Carlota Joaquina. Lisboa: Na Oficina de Simão Ferreira, 1764. (Bi­ cafados. Lisboa: Na Officina de Ignacio Nogueira Xisto, MDCCLXV
blioteca Nacional de Lisboa) (1765). Microfilme F. 3668 Res. 1351p.

COSTA, J. D. Conversação de senhoras em huma salla de visitas antes GUSMÃO, A. Arte de criar bem os filhos na idade da puerícia.
do chá, pilhada por hum tachigrafo e participada a José Daniel Microfilme n. S.A . 21898 p.
Rodrigues da Costa que a publica. Lisboa: Imprensa Nacional, 1821.
INST RUCÇOENS que da hum pay a sua filha que está para cazar
COSTA, J. D. Ópio que dão os homens e as senhoras na cidade de Lisboa afim desta poder viver em paz com seu marido. Lisboa:
huns aos outros, tirados da esperiência do author. Lisboa: Na Oficina de MDCCLXXIIl-24.5.1773. Res. 1351 P.
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NOVA PROGMATICA OPIA, QUE AJUNTA DO BOM GOVER­
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