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Aspetos práticos das locações – IFRS 16

ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

FICHA TÉCNICA

Título: Aspetos práticos das locações – IFRS 16

Tipo de formação: Distância 5022 / Plug-in 5722

Autores: Carla Viana


Lara Duarte

Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OCC

© Ordem dos Contabilistas Certificados, 2022

Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................................................. 5
2. O enquadramento das locações em Portugal ....................................................................................... 5
2.1. Enquadramento geral da NCRF 9 .................................................................................................. 5
2.1.1. Classificação........................................................................................................................... 6
2.1.2. Contabilização das locações financeiras................................................................................ 6
2.1.3. Contabilização das locações operacionais............................................................................. 7
2.1.4. Determinar se um acordo contém uma locação ................................................................... 7
2.2. Enquadramento geral da IFRS 16 .................................................................................................. 8
2.2.1. Âmbito ................................................................................................................................... 8
2.2.2. Isenções de reconhecimento................................................................................................. 8
3. Identificação de uma locação ................................................................................................................ 9
3.1. Definição de locação...................................................................................................................... 9
3.1.1. Ativo identificável ................................................................................................................ 10
3.1.2. Direito a controlar o uso desse ativo................................................................................... 10
3.2. Componentes do contrato .......................................................................................................... 10
3.2.1. Componentes da locação .................................................................................................... 10
3.2.2. Componentes que não são locação ..................................................................................... 10
3.2.3. Alocar a consideração do contrato às componentes .......................................................... 11
3.3. Prazo da locação .......................................................................................................................... 11
3.3.1. Período não cancelável........................................................................................................ 12
3.3.2. Reavaliação do período não cancelável .............................................................................. 12
3.3.3. Reavaliação da sua opção de estender a locação (ou não exercer a opção de a rescindir) 13
4. Ferramentas digitais para gestão de portfólio de contratos ............................................................... 13
5. Os fluxos financeiros de uma locação ................................................................................................. 18
5.1. Os pagamentos da locação .......................................................................................................... 18
5.2. Pagamentos fixos em substância ................................................................................................ 19
5.3. Pagamentos de locação variáveis que dependem de um índice ou taxa .................................... 19
5.4. A taxa de desconto ...................................................................................................................... 19
6. A contabilização do passivo da locação............................................................................................... 21
6.1. Reconhecimento.......................................................................................................................... 21
6.1.1. Mensuração inicial ............................................................................................................... 21
6.1.2. Mensuração subsequente ................................................................................................... 21

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7. A contabilização do direito de uso ...................................................................................................... 22


7.1. Reconhecimento.......................................................................................................................... 22
7.1.1. Mensuração inicial ............................................................................................................... 22
7.1.2. Mensuração subsequente ................................................................................................... 25
7.2. Transações de sale and leaseback ............................................................................................... 25
7.2.1. Avaliação sobre se a transferência do ativo é uma venda .................................................. 25
7.2.2. Se a transferência do ativo é uma venda ............................................................................ 25
7.2.3. Se a transferência do ativo não é uma venda ..................................................................... 26
7.2.4. Transição para a IFRS 16 ...................................................................................................... 26
8. Tratamento das alterações e modificações na locação ...................................................................... 27
8.1. Tratamento como uma locação distinta ..................................................................................... 27
8.2. Tratamento como uma modificação à locação existente ........................................................... 28
9. Apresentação....................................................................................................................................... 37
9.1. Na demonstração da posição financeira ou nas notas ................................................................ 37
9.2. Na demonstração dos resultados e de outro rendimento integral ............................................. 37
9.3. Na demonstração dos fluxos de caixa ......................................................................................... 37
9.4. Apoio de ferramentas digitais no relato financeiro de locações ................................................. 38
10. O que muda na ótica do locador ..................................................................................................... 42
10.1. Contabilização das sublocações .............................................................................................. 42
10.2. Custos iniciais diretos .............................................................................................................. 42
10.3. Divulgações .............................................................................................................................. 42
11. Transição para a IFRS 16 .................................................................................................................. 42
11.1. Avaliação se um contrato é ou contém uma locação.............................................................. 42
11.2. Locatários ................................................................................................................................ 43
11.2.1. Locações anteriormente classificadas como locações operacionais ................................... 43
11.2.2. Locações anteriormente classificadas como locações financeiras ...................................... 45
11.3. Locadores ................................................................................................................................ 45
11.4. Impacto na implementação de um software de gestão para locações................................... 45
12. Desafios de implementação da IFRS 16........................................................................................... 45

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1. Introdução
A IFRS 16 – Locações é uma norma internacional de reporte financeiro emitida pelo IASB (International Accounting
Standards Board).
A primeira proposta da norma para discussão foi apresentada em 2009, mas apenas em 13 de janeiro de 2016 a
norma foi aprovada e publicada pelo IASB. O endosso para a União Europeia ocorreu em 31 de outubro de 2017
através do Regulamento (EU) 2017/1986 da Comissão, o qual estabeleceu no seu artigo 2º a aplicação da norma
para exercícios que se iniciem em ou após 1 de janeiro de 2019.
Este manual pretende orientar o leitor no entendimento dos princípios previstos na norma internacional relativamente
ao reconhecimento, à mensuração, à apresentação e à divulgação de locações.
A nova norma traz novos desafios não só ao nível da contabilização inerente mas também ao nível da gestão dos
contratos até à sua maturidade. Atualmente a maioria das entidades gere os seus contratos em folhas de cálculo
(Excel). A nova norma vai aumentar significativamente o portfólio de contratos a gerir, pelo que o Excel pode deixar
de ser a solução mais adequada, face à complexidade acrescida.
Têm surgido no mercado diversas soluções (softwares) para a gestão de contratos, as quais permitem o controlo dos
registos contabilísticos a efetuar, do reporte financeiro e a gestão dos próprios contratos. Estes softwares foram
desenvolvidos para dar apoio aos requisitos regulatórios da IFRS 16 e as suas funcionalidades mais comuns serão
apresentadas ao longo deste manual, como exemplo prático (para o efeito recorreu-se a um software exemplo
meramente para efeitos ilustrativos, sem qualquer tipo de preferência).

2. O enquadramento das locações em Portugal


Em Portugal uma locação pode ser tratada em conformidade:
• Com a NCRF 9 – Locações, para as empresas que preparem as suas demonstrações financeiras de acordo
com o SNC;
• Com a IFRS 16 (a parti de 1 de janeiro de 2019), para as empresas que, ao abrigo do artigo 4.º ou artigo 5.º
do Decreto-Lei n.º 158/2009 de 13 de julho, alterado pelo Decreto-Lei n.º 98/2015 de 2 de junho, apliquem
as IFRS.
A NCRF 9 tem por base a IAS 17 – Locações. De acordo com a NCRF 9, as locações são classificadas como
locações operacionais ou financeiras, quer na ótica do locador, quer na ótica do locatário, e é a sua classificação que
orienta os princípios do reconhecimento, da mensuração, da apresentação e da divulgação.
A IFRS 16, no caso dos locatários, prevê um modelo único para o reconhecimento, a mensuração, a apresentação e
a divulgação de todas locações, com opção de isenção das locações:
• De curto prazo (12 meses ou menos);
• Em que o ativo subjacente tenha baixo valor.
No que respeita aos locadores, com a IFRS 16 o tratamento contabilístico permanece substancialmente inalterado.

2.1. Enquadramento geral da NCRF 9


A NCRF 9 é aplicável apenas aos acordos que transfiram, para o locatário, o direito de uso de um ativo, mesmo que
serviços substanciais do locador possam ser solicitados em conexão com a operação ou manutenção de tais ativos.
De acordo com a NCRF 9, uma locação é um acordo pelo qual o locador transmite ao locatário, em troca de um
pagamento ou uma série de pagamentos, o direito de usar um ativo por um período de tempo acordado. A locação
pode ser classificada como:
• Uma locação financeira, quando transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à
propriedade do um ativo; o título pode ou não ser eventualmente transferido;
• Uma locação operacional, que é uma locação que não seja uma locação financeira.

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2.1.1. Classificação
A classificação das locações adotada pela NCRF 9 baseia-se na extensão em que os riscos e benefícios são
inerentes à posse de um ativo locado junto do locador ou do locatário.
Riscos Benefícios
Perdas podem surgir: Ganhos podem surgir:
• Quando o ativo permanece inativo por algum • Da geração de lucros a partir do uso do ativo;
tempo devido à falta de procura suficiente; • Do uso do ativo durante substancialmente toda
• De uma queda no valor do ativo devido à a sua vida útil; e
obsolescência técnica; e • De um ganho potencial decorrente da venda
• Do atender aos custos de manutenção e futura do ativo, onde ele aumenta de valor.
reparação do ativo.
Uma locação é classificada como um locação financeira se ela transferir substancialmente todos os riscos e
benefícios inerentes à propriedade. Uma locação é classificada como um locação operacional se não transferir
substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade.
São indicadores de uma locação financeira os seguintes:
• Propriedade - a locação transfere a propriedade para o locatário no final do prazo da locação;
• Opção de compra do ativo - o locatário tem a opção de comprar o ativo a um preço que se espera que
seja suficientemente inferior ao justo valor do ativo na data de exercício da opção; é razoavelmente certo, no
início da locação, que a opção será exercida;
• Prazo da Locação - o prazo da locação é para a maior parte da vida económica do ativo, mesmo que o
título não seja transferido;
• Pagamentos mínimos - o valor presente dos pagamentos mínimos da locação, no início da locação,
corresponde a pelo menos substancialmente todo o justo valor do ativo transferido;
• Natureza especializada - os ativos transferidos são de natureza tão especializada que somente o locatário
pode usá-los sem grandes modificações;
• Perdas - as perdas associadas a qualquer cancelamento da locação são suportadas pelo locatário;
• Flutuações - as flutuações no justo valor do ativo no final do prazo da locação são suportadas pelo
locatário;
• Período secundário - o locatário tem a opção de prolongar a locação por um período adicional / secundário
a uma taxa que é substancialmente abaixo da taxa de mercado.

2.1.2. Contabilização das locações financeiras


2.1.2.1. Locadores
Os locadores devem reconhecer os ativos detidos sob uma locação financeira nos seus balanços e apresentá-los
como uma conta a receber por uma quantia igual ao investimento líquido na locação. Os custos incorridos com a
locação e que devem ser incluídos na mensuração inicial da conta a receber de locação financeira, reduzindo a
quantia de rendimento reconhecida durante o prazo da locação, são os custos diretos iniciais incorridos por
locadores, nomeadamente:
• Comissões;
• Honorários legais;
• Custos internos que sejam incrementais e diretamente atribuíveis à negociação e aceitação de uma locação;
Estes custos iniciais excluem as despesas gerais tais como os custos suportados por uma equipa de vendas e de
marketing. No entanto, quando se trata de um locador fabricante ou negociante, estes custos não são considerados
custos iniciais e são reconhecidos como gasto quanto incorridos. Em resumo:

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2.1.2.2. Locatários
Os locatários devem reconhecer os ativos e os passivos da locação por valores iguais ao justo valor do ativo
transferido ou, se inferior, ao valor presente dos pagamentos mínimos da locação, cada um determinado no início da
locação.
Os custos incorridos relacionados com atividades específicas da locação, como na negociação e garantia de acordos
de locação devem ser incluídos como parte da quantia reconhecida como ativo sob locação.
Em resumo:

2.1.3. Contabilização das locações operacionais


2.1.3.1. Locadores
Os locadores devem apresentar os ativos sujeitos a locações operacionais nos seus balanços de acordo com a
natureza do ativo.
O rendimento da locação derivado das locações operacionais deve ser reconhecido na receita numa base linear
durante o período da locação, salvo se outra base sistemática seja mais representativa do padrão temporal em que o
benefício do uso derivado do ativo arrendado seja diminuído.

2.1.3.2. Locatários
Os locatários reconhecem os pagamentos efetuados de uma locação operacional como um gasto numa base linear
durante o prazo da locação, salvo se outra base sistemática seja mais representativa do modelo temporal do
benefício do locatário.

2.1.4. Determinar se um acordo contém uma locação

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As entidades que aplicam o SNC devem aplicar ainda, supletivamente, o estabelecido na IFRIC 4 - Determinar se um
Acordo contém uma Locação.
Existem acordos que, apesar de não assumirem a forma legal de uma locação, transmitem direitos de uso de ativos
em troca de um pagamento e, como tal, podem ter de ser tratados de acordo com a NCRF 9. A interpretação IFRIC 4
fornece as orientações para determinar se determinado contrato está ou não abrangido pela NCRF 9.
Esta Interpretação especifica que um acordo que satisfaz os seguintes critérios é, ou contém, uma locação que deve
ser contabilizada de acordo com a NCRF 9 Locações:
• O cumprimento do acordo depende de um ativo específico:
o O ativo não precisa de ser explicitamente identificado pelas disposições contratuais do acordo;
o O ativo pode ser especificado implicitamente porque não é economicamente viável ou praticável
para o fornecedor cumprir o acordo através do uso de ativos alternativos;
• O acordo transmite um direito de controlar o uso do ativo subjacente, que se materializa sempre que
qualquer uma das seguintes condições for atendida:
o O comprador no acordo tem a capacidade ou direito de operar o ativo ou direcionar outros para
operar o ativo;
o O comprador tem a capacidade ou direito de controlar o acesso físico ao ativo;
o Existe apenas uma possibilidade remota de que outros, além do comprador tomem mais do que
uma quantidade insignificante da produção do ativo e o preço que o comprador pagará não é fixo
por unidade de produção nem igual ao preço atual de mercado no momento da entrega.

2.2. Enquadramento geral da IFRS 16


Conforme mencionado anteriormente, a IFRS 16 é aplicável às empresas que, por obrigação ou por opção, adotem
as IFRS na preparação das suas demonstrações financeiras.

2.2.1. Âmbito
A IFRS 16 é aplicável a todas as locações, incluindo locações de ativos de direito de uso de uma sublocação.
A IFRS 16 não é aplicável às seguintes locações:
a) Locações para explorar ou usar minérios, petróleo, gás natural e recursos similares não regeneráveis;
b) Locações de ativos biológicos abrangidos pelo âmbito de aplicação da IAS 41 Agricultura detidos por um
locatário;
c) Acordos de concessão de serviços no âmbito da IFRIC 12 Acordos de Concessão de Serviços;
d) Licenças de direitos de propriedade intelectual concedidas por um locador no âmbito da IFRS 15 Rédito de
Contratos com Clientes;
e) Direitos detidos por um locatário ao abrigo de acordos de licenciamento no âmbito da IAS 38 Ativos
Intangíveis para itens tais como películas cinematográficas, registos de vídeo, peças de teatro, manuscritos,
patentes e direitos de autor (copyrights).
Um locatário pode, mas não é obrigado a, aplicar a IFRS 16 a locações de ativos intangíveis que não as descritas no
ponto e) acima.

2.2.2. Isenções de reconhecimento


A IFRS 16 permite uma isenção de reconhecimento, prevista apenas para os locatários, de:
• Contratos de locação a curto prazo:
o A opção é tomada para cada categoria de ativos subjacentes;
• Contratos de locação em que o ativo subjacente tenha baixo valor:
o A opção é tomada locação a locação;
o Se o locatário sublocar um ativo, ou previr sublocá-lo, a locação original não pode ser considerada
uma locação de um ativo de baixo valor.
Se o locatário adotar estas isenções, deve reconhecer os pagamentos de locação associados a esses contratos
como uma despesa, quer numa base linear ao longo do prazo da locação, quer noutra base sistemática.

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2.2.2.1. Locações de curto prazo


Os locatários podem, para locações com um prazo de locação inferior ou igual a 12 meses, definir uma política
contabilística, por classe de ativo subjacente, para usar a isenção da locação de curto prazo.
Na identificação do prazo da locação, o locatário deve considerar a opção de renovação do contrato e se é expetável
que a mesma venha a ser exercida.
Por exemplo, podem existir ativos relacionados, como modificações a um edifício) aos quais foi atribuída uma vida
útil (prazo de depreciação) que evidenciem que é expetável que a opção de renovação venha a ser exercida.
Em resumo:
Por exemplo, uma locação não cancelável de 9 meses com uma opção de renovação por 4 meses:

2.2.2.2. Ativos de baixo valor


Um locatário deve avaliar o valor de um ativo subjacente com base no seu valor quando era novo,
independentemente da idade do ativo a ser locado.
Um ativo subjacente só pode ser de baixo valor se:
o O locatário puder beneficiar do uso do ativo subjacente isoladamente ou em conjunto com outros recursos
que estejam imediatamente à sua disposição; e
o O ativo subjacente não estiver altamente dependente de outros ativos, nem altamente interligado com
outros ativos.
Uma locação de um ativo subjacente não pode ser considerada uma locação de um ativo de baixo valor, se por
natureza esse ativo, quando novo, não era normalmente de baixo valor. Por exemplo, as locações de automóveis
não poderiam ser consideradas locações de ativos de baixo valor porque um automóvel novo não teria, normalmente,
baixo valor.
Um locatário ao definir o que considera um ativo de baixo valor, deve ter em consideração outras situações, como
por exemplo, a sua política de capitalização de ativos.
Podem incluir-se entre os exemplos de ativos subjacentes de baixo valor os tabletes e computadores pessoais, os
pequenos artigos de mobiliário de escritório e os telefones, entre outros.

3. Identificação de uma locação


A avaliação se um contrato constitui, ou contém, uma locação é efetuada no início do contrato. Subsequentemente, a
reavaliação desta situação apenas deverá ser efetuada quando os termos e condições do contrato forem alterados.

3.1. Definição de locação


Um contrato constitui, ou contém, uma locação se incorporar o direito de controlar a utilização de um ativo
identificado durante um certo período de tempo, em troca de uma retribuição.
Assim, a definição de uma locação prevê a existência:
• De um ativo identificável;

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• De um direito a controlar o uso desse ativo por um certo período em troca do pagamento de uma retribuição.

3.1.1. Ativo identificável


Um ativo é identificável quando:
• Está explícita ou implicitamente identificado no contrato;
• O locador não tem direito substantivo para o substituir;
• O locador não beneficia da substituição do ativo;
• O ativo é fisicamente distinto.

3.1.2. Direito a controlar o uso desse ativo


O direito de controlar o uso do ativo prevê o direito:
• A obter, substancialmente, todos os benefícios económicos desse ativo; e
• A dirigir o uso do ativo; este direito existe quando:
o O locatário tem direito a decidir como e para que propósito o ativo é usado; ou
o As decisões relevantes sobre como e para que propósito o ativo é usado estão pré-definidas e:
▪ O locatário tem o direito a operar o ativo sem que o locador tenha o direito a alterar as
instruções sobre como operar o ativo; ou
▪ O locatário desenhou o ativo com tais especificações as quais determinam como e para
que propósito o ativo é usado.

3.2. Componentes do contrato


Quando um contrato é, ou contém, uma locação, é necessário proceder à identificação e contabilizar cada
componente da locação ( “ ”) contido no contrato como uma locação,
separadamente dos outros componentes do contrato que não sejam locações ( “
”).
A IFRS 16 prevê, no entanto, um expediente prático que permite optar por não contabilizar separadamente as
componentes de locação das componentes de não locação. Esta opção é tomada para cada categoria de ativos
subjacentes. No entanto, a IFRS 16 estabelece que esta opção só deve ser tomada quando o montante associado
aos componente de não locação não seja significativo.

3.2.1. Componentes da locação


O direito de usar cada ativo é considerado uma componente de locação separada se ambos dos seguintes critérios
forem atendidos:
• O locatário pode beneficiar do uso do ativo subjacente quer independentemente quer em conjunto com
outros recursos que estão prontamente disponíveis para o locatário; e
• O ativo subjacente não é nem altamente dependente, nem altamente relacionado, com os outros ativos
subjacentes no contrato.
Se um ou ambos os critérios não são cumpridos, o direito de usar vários ativos é considerado como uma única
componente de locação.
Aos componentes de locação deve ser aplicado o disposto na IFRS 16.

3.2.2. Componentes que não são locação


Muitos contratos contêm uma locação juntamente com um acordo para comprar ou vender outros bens ou serviços
(componentes de não locação). Os componentes de não locação devem ser segregados e contabilizados
separadamente de acordo com as normas que lhes forem aplicáveis, a menos que seja eleita a opção prevista na
IFRS 16 de não separar os componentes de não locação, contabilizando-os em conjunto com os componentes de
locação.
Aos componentes de não locação deve ser aplicado o disposto em outras normas, conforme a natureza da despesa.

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3.2.3. Alocar a consideração do contrato às componentes


3.2.3.1. Locatário
Os locatários alocam a consideração de um contrato aos componentes de locação e de não locação com base no
“stand-alone selling price” (preços de venda individuais “SSP”).
O locatário deve utilizar os preços de venda individuais observáveis sempre que os mesmos estão prontamente
disponíveis. Caso estes não estejam prontamente disponíveis, devem ser estimados os preços de venda individuais
maximizando o uso de informação observável no mercado.

3.2.3.2. Locadores
Os locadores devem seguir o previsto na IFRS 15 Rédito de Contratos com Clientes, para identificar as várias
componentes do contrato e alocar uma retribuição a cada uma dessas componentes (geralmente a alocação
efetuada também é com base no SSP.

Exemplo 1:
Um contrato de arrendamento de uma loja inclui, para além do arrendamento do espaço, as despesas comuns de
condomínio. De acordo com o contrato, a renda a ser paga (total do contrato) é de 7.000 euros, não especificando
qual o valor do componente de despesas de condomínio.
O locatário não optou pelo expediente prático da IFRS 16, pelo que terá de alocar o valor total do contrato aos dois
componentes identificados: renda do espaço e despesa do condomínio.
Os preços de mercado praticados para um contrato semelhante são os seguintes:
• Arrendamento – 7.500 euros;
• Despesas do condomínio – 500 euros.
A tabela abaixo exemplifica a alocação do preço total do contrato aos dois componentes identificados:
Componentes SSP % Valor a alocar
Arrendamento 7.500 93,75% 6.562,50 (7.000 x 93,75%)
Despesa do condomínio 500 6,25% 437,50 (7.000 x 6,25%)

As atividade ou os custos imputados pelo locador que não forneçam um bem ou um serviço adicional ao locatário
(por exemplo, os custos administrativos), não são um componente de locação nem de não locação. Como tal,
nenhuma consideração do contrato lhes deve ser alocada. No entanto, estes valores fazem parte da retribuição total
do contrato a ser imputada aos componentes separadamente identificados no contrato.

3.3. Prazo da locação


O prazo da locação é o período não cancelável da locação juntamente com ambos:
• Os períodos abrangidos por uma opção para estender o contrato de arrendamento se for razoavelmente
certo que o locatário irá exercer esse opção;
• Os períodos abrangidos por uma opção de rescindir o contrato de arrendamento se for razoavelmente certo
que o locatário não irá exercer esse opção.
Na data de entrada em vigor, o locatário, ao avaliar se está razoavelmente certo se irá exercer uma opção de
estender a locação, ou de não exercer uma opção de a rescindir, deve considerar todos os factos relevantes e
circunstâncias que criem um incentivo económico para exercer, ou não exercer, a opção, incluindo quaisquer
alterações esperadas dos factos e circunstâncias entre a data de entrada em vigor e a data de exercício da opção.
Entre os fatores a considerar incluem-se os seguintes exemplos:
• Os termos e condições contratuais para os períodos facultativos em comparação com as taxas de mercado,
tais como:
o O montante dos pagamentos de locação em qualquer período facultativo;

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o O montante de eventuais pagamentos de locação variáveis ou outros pagamentos contingentes,


tais como pagamentos resultantes das sanções relativas à rescisão e das garantias de valor
residual; e
o Os termos e condições das opções que possam ser exercidas após os períodos facultativos iniciais
(por exemplo, uma opção de compra que possa ser exercida no final de um período de
prorrogação, a uma taxa atualmente inferior às taxas de mercado);
• Melhorias importantes do objeto de locação efetuadas (ou a efetuar) durante o prazo de vigência do contrato
e que se preveja que produzam benefícios económicos significativos para o locatário quando a opção de
prorrogar ou rescindir o contrato de locação, ou de comprar o ativo subjacente, se torne exercível;
• Os custos relativos à rescisão do contrato de locação, tais como os custos de negociação, os custos de
relocalização, os custos de identificação de outro ativo subjacente adequado às necessidades do locatário,
os custos de integração de um novo ativo nas operações do locatário, ou as sanções relativas à rescisão e
custos semelhantes, incluindo os custos associados à devolução do ativo subjacente em condições ou num
local contratualmente especificados;
• A importância do ativo subjacente para as operações do locatário, considerando, por exemplo, se o ativo
subjacente é um ativo especializado, a localização do ativo subjacente e a disponibilidade de alternativas
adequadas; e
• As condições associadas ao exercício da opção (isto é, quando a opção só puder ser exercida se uma ou
mais condições estiverem preenchidas), e a probabilidade de essas condições existirem.
Por outro lado, a opção de prorrogação ou rescisão de um contrato pode ser combinada, por exemplo, com uma
garantia de valor residual, em que o locatário garante ao locador um retorno de caixa mínimo ou fixo que seja
substancialmente o mesmo, independentemente de a opção ser ou não exercida. Nestas situações, deve assumir-se
que o locatário está razoavelmente certo de exercer a opção de estender a locação, ou de não exercer a opção de a
rescindir.
O prazo da locação começa na data de entrada em vigor e inclui os eventuais períodos de aluguer gratuito oferecidos
pelo locador ao locatário.

3.3.1. Período não cancelável


Ao determinar o prazo da locação e ao avaliar a duração do período não cancelável de uma locação, deve aplicar-se
a definição de contrato e determinar o período para o qual o contrato tem força executória.
Uma locação deixa de ter força executória quando o locatário e o locador têm o direito de rescindir o contrato de
locação sem autorização da outra parte e apenas com uma sanção insignificante. No entanto:
• Se o direito de rescindir o contrato apenas couber ao locatário, considera-se que esse direito é uma opção
de rescisão de que o locatário dispõe e esta opção deve ser avaliada ao determinar o prazo da locação;
• Se o direito de rescindir um contrato de locação apenas couber ao locador, o período de locação não
cancelável inclui o período abrangido pela opção de rescisão da locação.

3.3.2. Reavaliação do período não cancelável


O locatário deve rever o prazo da locação, quando ocorra uma alteração do período não cancelável.
Por exemplo, o período não cancelável de uma locação será alterado se:
• O locatário exercer uma opção que não tenha sido previamente incluída na determinação do prazo da
locação pela entidade;
• O locatário não exercer uma opção previamente incluída na determinação do prazo da locação pela
entidade;
• Ocorrer um acontecimento que obrigue contratualmente o locatário a exercer uma opção não previamente
incluída na determinação do prazo da locação pela entidade; ou
• Ocorrer um acontecimento que proíba contratualmente o locatário de exercer uma opção previamente
incluída na determinação do prazo da locação pela entidade.

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3.3.3. Reavaliação da sua opção de estender a locação (ou não exercer a opção de a
rescindir)
Após a data de entrada em vigor da locação, o locatário deve reavaliar se é razoavelmente certo se irá exercer uma
opção de estender a locação, ou de não exercer uma opção de a rescindir quando ocorre um acontecimento
importante ou uma alteração significativa das circunstâncias que:
• Esteja sob o controlo do locatário; e
• Afete a sua certeza razoável de exercer uma opção que não estivesse previamente incluída na sua
determinação do prazo da locação, ou de não exercer uma opção previamente incluída na sua
determinação do prazo da locação.
São exemplos de eventos ou alterações significativos das circunstâncias figuram os seguintes:
• Melhorias significativas do objeto da locação que não se previam na data de entrada em vigor e que se
espera que produzam benefícios económicos significativos para o locatário quando a opção de prorrogar ou
rescindir o contrato de locação, ou de comprar o ativo subjacente, se torne exercível;
• Uma alteração significativa ou uma adaptação do ativo subjacente que não se previsse na data de entrada
em vigor;
• O início de uma sublocação do ativo subjacente durante um período que ultrapassa o prazo de locação
anteriormente fixado; e
• Uma decisão empresarial do locatário que seja diretamente relevante para o exercício, ou não exercício, de
uma opção (por exemplo, uma decisão de prorrogar a locação de um ativo complementar, de alienar um
ativo alternativo ou de alienar uma unidade empresarial na qual o ativo sob direito de uso é utilizado).

4. Ferramentas digitais para gestão de portfólio de contratos


Como vimos até agora, a IFRS 16 vem trazer alguma complexidade à gestão da carteira de contratos de locação. A
complexidade existe não só no reconhecimento inicial de ativos e passivos inerentes (analisado nos capítulos
subsequentes deste manual), mas também nas fases subsequentes da gestão dos contratos, nomeadamente a
gestão de renovações, alterações ao contrato, entre outros. Todos os acontecimentos subsequentes ao início da
locação, deverão ter o seu impacto contabilístico apropriado.
Os contratos de locação podem incluir todos os tipos de ativos, desde imóveis, equipamentos, veículos, entre outros.
Trata-se portanto e uma norma bastante abrangente no seu âmbito, o que se traduz num grande volume de trabalho
adicional na gestão da carteira de contratos.
As opções existentes para gestão de contratos são:
• O recurso a folhas de cálculo Excel;
• O recursos a ferramentas digitais.
Para as entidades que, decorrente da aplicação da nova norma, fiquem com um elevado número de contratos para
gerir, o recurso ao Excel poderá não ser a opção mais adequada. Na área das tecnologias de informação, foram
desenvolvidos vários softwares dedicados à gestão e contabilização de locações, com controlos definidos e que
armazenam, processam e auxiliam o relato das transações de forma adequada, em conformidade com a IFRS 16.
Alguns sistemas podem mesmo integrar as transações diretamente no sistema de contabilidade geral, ou podem ser
desenvolvidos interfaces para o efeito.
Geralmente o próprio carregamento inicial dos contratos nestes softwares é efetuado através da importação de folhas
Excel, onde a informação é previamente compilada.
Apresentamos de seguida as funcionalidades genéricas deste tipo de ferramentas digitais, e ao longo dos próximos
capítulos, apresentaremos exemplos ilustrativos de introdução de dados num software e respetivos resultados.

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• Solução centralizada para gestão de informação e conformidade legal

• Gestão integral do ciclo de vida de um contrato de locação:


o Monitorização de ativos;
o Segregação de componentes de locação e de não locação nos pagamentos;
o Gestão de eventos (sinistros, ajustamentos de pagamentos, alterações de contrato, entre outros).

• Hierarquia de objetos de locação, em que podem existir diversos acordos de locação que incluam um ou
agrupem mais do que um contrato. Cada contrato por sua vez pode incluir uma ou várias componentes,
dando origem a grupos de ativação, e por último, o nível dos próprios ativos.

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• Processos e Fluxos de Aprovação, entre os vários objetos e com perfis de autorização atribuídos a cada
interveniente.

Fluxo de aprovação de um contrato Fluxo de aprovação de um grupo de ativação:

Relativamente aos temas da norma abordados nos pontos 2. e 3., ao nível do sistema selecionámos as seguintes
características, em formato Excel, para carregamento inicial no sistema.

• Tipo de locação: os sistemas permitem arquivar informação relativa aos contratos de curto prazo e de baixo
valor, adicionalmente aos contratos de locação, e efetuam os cálculos de pagamentos das rendas.

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• Componentes de locação: é possível fazer a distinção dos componentes de locação e dos componentes de
não locação. Como componentes de locação temos a renda base, extensões, suplementos, reduções, pré-
pagamentos e incentivos, entre outros.

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• Componentes de não locação: estas componentes podem subdividir-se por várias rubricas, a configurar,
como por exemplo seguros, manutenção, serviços, entre outros.

• Duração: são definidas as datas de início e fim do contrato, bem como a primeira data e última de
pagamento.

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5. Os fluxos financeiros de uma locação


5.1. Os pagamentos da locação
A tabela abaixo resume os itens que devem ser considerados como pagamentos da locação.

Pagamentos fixos Opção de compra Garantia de valor Penalidades Pagamentos


residual associadas à variáveis que
opção de rescisão dependem de um
índice ou taxa
• Pagamentos fixos • Preço do Locatário • Incluir exceto se • São mensurados
• Pagamentos exercício da • Garantias de valor for razoavelmente inicialmente
variáveis fixos em opção de compra, residual a pagar certo que não utilizando o índice
substância se razoavelmente ao fornecedor será exercida ou a taxa à data
• Deduzidos dos certo de que será de entrada em
incentivos à exercida Locador vigor
locação a receber • Nesta situação, a • Qualquer garantia • Os pagamentos
vida útil passa à recebida ou variáveis
do ativo locado (*) prestada baseados em
performance ou
no uso do ativo (a
menos que sejam
fixos em
substância), são
excluídos

Ao nível do ativo locado, em sistema é introduzida a classe do ativo e respetiva vida útil.

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
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5.2. Pagamentos fixos em substância


Os pagamentos de locação fixos em substância são pagamentos que podem variar quanto à forma, mas que são
inevitáveis na substância, como por exemplo, uma renda baseada na performance ou no uso do ativo, em que os
valores a pagar são, em substância, fixos.
Por exemplo, existem os pagamentos de locação fixos em substância se:
• Os pagamentos forem estruturados como pagamentos de locação variáveis, mas não existir verdadeira
variabilidade nesses pagamentos. Esses pagamentos incluem cláusulas variáveis mas sem substância
económica real. Exemplos:
o Pagamentos que só devam ser efetuados caso se demonstre que um ativo é capaz de funcionar
durante o período de locação, ou se ocorrer um acontecimento que não tenha qualquer
possibilidade real de que não ocorrer, ou
o Pagamentos inicialmente estruturados como pagamentos de locação variáveis relacionados com o
uso do ativo subjacente, mas cuja variabilidade será resolvida em qualquer momento após a data
de entrada em vigor de modo a que os pagamentos se tornem fixos para o resto do prazo da
locação. Esses pagamentos tornam-se pagamentos fixos em substância quando a variabilidade é
resolvida;
• Há mais de um conjunto de pagamentos que o locatário pode fazer, mas só um desses conjuntos é realista.
Neste caso, uma entidade deve considerar que o conjunto de pagamentos realista corresponde aos
pagamentos de locação;
• Há mais de um conjunto realista de pagamentos que o locatário pode fazer, mas deve efetuar pelo menos
um desses conjuntos de pagamentos. Neste caso, uma entidade deve considerar que o conjunto de
pagamentos que agregue o montante mais baixo (numa base descontada) corresponde aos pagamentos de
locação.

5.3. Pagamentos de locação variáveis que dependem de um índice ou taxa


Incluem, por exemplo, os pagamentos ligados a um índice de preços no consumidor, os pagamentos ligados a uma
taxa de juro de referência (como a taxa LIBOR), ou os pagamentos que variam de modo a refletir as alterações nas
taxas de locação praticadas no mercado.
Todos os outros pagamentos efetuados ao abrigo de um contrato de locação que não se incluam num dos itens
acima devem ser levados a custos (locatário) / proveitos (locador) quando incorridos.

5.4. A taxa de desconto


A IFRS 16 prevê que os pagamentos da locação devem ser descontados para a data de início da locação, à taxa de
juro implícita no contrato.
A taxa de juro implícita no contrato é a taxa que o locador cobra ao locatário. A taxa de juro implícita é a taxa que
iguala o valor presente dos pagamentos futuros, acrescidos do valor presente do valor residual não garantido, ao
justo valor do ativo locado, acrescido dos custos iniciais incorridos pelo locador.

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Quando esta não pode ser fiavelmente determinada, o locatário deve usar a taxa de juro incremental. Nesta situação
deverá ser identificada a taxa a que a entidade se iria financiar para adquirir um ativo nas mesmas condições (por
exemplo, características do ativo locado, justo valor do ativo locado, prazo da locação).

Ao nível de sistema, os detalhes sobre a taxa de desconto e pagamentos que dependem de índices introduzem-se
da seguinte forma:

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6. A contabilização do passivo da locação


Na data de entrada em vigor, o locatário deve reconhecer um passivo da locação associado a cada direito de uso
reconhecido no ativo.

6.1. Reconhecimento
6.1.1. Mensuração inicial
Na data de entrada em vigor do contrato, o locatário deve reconhecer o passivo da locação pelo valor presente dos
pagamentos de locação (ver ponto 5.1 acima), usando a taxa de desconto acima mencionada, que não estejam já
pagos nessa data.

6.1.2. Mensuração subsequente


Subsequentemente, o valor presente dos pagamentos de locação é ajustado dos seguintes montantes:
• Deduzido de pagamentos efetuados ao locador;
• Acrescido dos juros acumulados;
• Aumentado ou deduzido por remensurações do passivo.
Após a data de entrada em vigor, o locatário deve reconhecer nos resultados, a menos que os custos estejam
incluídos na quantia escriturada de outro ativo em aplicação de outras normas aplicáveis:
• Os juros sobre o passivo da locação; e
• Os pagamentos de locação variáveis não incluídos na mensuração do passivo da locação no período em
que ocorre o acontecimento ou a condição que desencadeia esses pagamentos.

6.1.2.1. Juros sobre o passivo da locação


Os juros sobre o passivo da locação, em cada período durante o prazo da locação, correspondem à aplicação da
taxa de desconto, aplicada sobre o saldo remanescente do passivo da locação.
A taxa de juro periódica é a taxa de desconto referida no ponto 5.4. ou, se aplicável, a taxa de desconto revista
quando ocorre a remensuração do passivo (ver ponto 6.1.2.2.)

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6.1.2.2. Remensuração do passivo da locação


A remensuração do passivo deve ser efetuada para refletir qualquer reavaliação ou alteração da locação nas
situações especificadas a seguir, ou para refletir a revisão de pagamentos de locação fixos em substância (ver ponto
5.2.).
Quando os pagamentos da locação são alterados nas seguintes circunstâncias, os novos pagamentos são
descontados usando uma taxa de desconto revista:
• Houver uma alteração do prazo da locação decorrente da reavaliação da opção de estender o período da
locação (ver ponto 3.3.3.) ou da reavaliação do período não cancelável (ver ponto 3.3.2.); o locatário deve
determinar os pagamentos de locação revistos com base no prazo da locação revisto; ou
• Se houver uma alteração na avaliação de uma opção de compra do ativo subjacente, avaliada em função
dos acontecimentos e circunstâncias descritos no parágrafo anterior; o locatário deve determinar os
pagamentos de locação revistos para refletir a alteração dos montantes a pagar no âmbito da opção de
compra.
Quando os pagamentos da locação são alterados nas seguintes circunstâncias, os novos pagamentos são
descontados usando a mesma taxa de desconto inicial (a menos que essa alteração dos pagamentos resulte de uma
alteração das taxas de juro variáveis, caso em que se deve utilizar uma taxa de desconto revista que reflita as
alterações da taxa de juro):
• Houver uma alteração dos montantes a pagar ao abrigo de uma garantia de valor residual; o locatário deve
determinar os pagamentos de locação revistos de modo a refletir a alteração dos montantes a pagar ao
abrigo dessa garantia.
• Houver uma alteração de futuros pagamentos de locação resultantes da alteração de um índice ou taxa
utilizados para determinar esses pagamentos, incluindo, por exemplo, uma alteração para refletir alterações
das taxas de locação de mercado após uma análise das rendas de mercado; o locatário só deve remensurar
o passivo da locação de modo a refletir os pagamentos de locação revistos quando houver uma alteração
dos fluxos de caixa (ou seja, quando o ajustamento dos pagamentos de locação produzir efeitos); os
pagamentos de locação revistos para o período remanescente do prazo da locação devem ser
determinados com base nos pagamentos contratuais revistos.
O montante da remensuração do passivo da locação deve ser registado como um ajustamento ao ativo sob direito de
uso. No entanto, se a quantia escriturada do ativo sob direito de uso for reduzida a zero e houver uma outra redução
na mensuração do passivo da locação, o locatário deve reconhecer qualquer quantia remanescente da
remensuração nos resultados do período.

7. A contabilização do direito de uso


Na data de entrada em vigor, o locatário deve reconhecer um ativo como um direito de uso.

7.1. Reconhecimento
7.1.1. Mensuração inicial
A mensuração inicial de um ativo sob direito de uso é ao custo, o qual inclui:
• O montante da mensuração inicial do passivo da locação (ver ponto 6);
• Quaisquer pagamentos de locação efetuados na data de entrada em vigor ou antes desta, deduzidos os
incentivos à locação recebidos;
• Quaisquer custos diretos iniciais incorridos pelo locatário; e
• Uma estimativa dos custos a serem suportados pelo locatário com o desmantelamento e a remoção do ativo
subjacente, a restauração do local onde este está localizado ou a restauração do ativo subjacente para a
condição exigida pelos termos e condições da locação, a menos que esses custos sejam incorridos para
produzir inventários; o locatário contrai a obrigação de suportar esses custos, quer na data de entrada em
vigor, quer em consequência de ter usado o ativo subjacente durante um determinado período.

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Exemplo 2:
Um contrato de arrendamento do escritório de uma empresa tem os seguintes termos:
• Taxa implícita não é prontamente determinável;
• Taxa incremental de empréstimo é de 3%;
• Tem cinco rendas anuais postecipadas de 15.000 (Valor presente é de 68.696);
• Adicionalmente há um pagamento de 30.000, 3 meses antes de poder usar o ativo pela primeira vez;
• Este contrato teve custos diretos iniciais de 2.000;
• O locatário recebeu um incentivo do locador de 5.000.
A tabela abaixo discrimina os movimentos a efetuar:
Débito / (Crédito)
Descritivo Caixa Direito de uso Passivo de locação
Pré-pagamento (30.000) 30.000
Valor presente dos pagamentos de locação 68.696 (68.696)
Custos diretos iniciais (2.000) 2.000
Incentivo da locação 5.000 (5.000)
No reconhecimento inicial (27.000) 95.695 (68.696)

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 2.


• Introdução de dados

• Mapa de ativo

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• Mapa de passivo

• Lançamentos contabilísticos de capitalização do ativo e respetiva dívida no passivo

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7.1.2. Mensuração subsequente


Para a mensuração subsequente, o locatário tem duas opções:
• O modelo do custo;
• O modelo da revalorização ou o modelo do justo valor, conforme o tipo de ativo subjacente).

7.1.2.1. Modelo do Custo


De acordo com este modelo, o ativo sob direito de uso é mensurado pelo custo:
• Deduzido das depreciação acumuladas e as perdas por imparidade acumuladas; e
• Ajustado de uma eventual remensuração do passivo da locação.
Este modelo de custo é o previsto para os ativos fixos tangíveis (IAS 16). A depreciação também deve ser calculada
de acordo com a norma das imparidades (IAS 36).
O ativo sob direito de uso é depreciado:
• Desde a data de entrada em vigor até ao fim da vida útil do ativo subjacente, quando:
o A locação transfere a propriedade do ativo subjacente para o locatário no fim do prazo da locação;
o O custo do ativo sob direito de uso reflete o facto de o locatário ir exercer uma opção de compra;
• Desde a data de entrada em vigor até à data de termo da vida útil do ativo sob direito de uso, ou até ao final
do prazo da locação, caso este seja anterior.

7.1.2.2. Modelo da revalorização ou do justo valor


De acordo com este modelo, o ativo sob o direito de uso é mensurado:
• Ao valor revalorizado, quando o mesmo estiver relacionado com uma classe de ativos fixos tangíveis à qual o
locatário aplique o modelo de revalorização previsto na IAS 16; nesta situação, o locatário poderá optar por
aplicar o mesmo modelo a todos os ativos sob direito de uso que estejam relacionados com essa classe de
ativos fixos tangíveis;
• Ao justo valor, se o ativo subjacente for uma propriedade de investimento e o locatário aplicar o modelo do
justo valor previsto na IAS 40.

7.2. Transações de sale and leaseback


Uma transação pode envolver:
• Um vendedor-locatário;
• Que transfere um ativo para o comprador-locador;
• E esse ativo é relocado do comprador-locador.
Nestas situações, tanto o vendedor-locatário como o comprador-locador devem contabilizar o contrato de
transferência e a locação nos seguintes termos, dependendo ou não se a transferência é considerada uma venda.

7.2.1. Avaliação sobre se a transferência do ativo é uma venda


Na determinação se uma transferência de um ativo é contabilizada como uma venda desse ativo, devem ser
aplicados os requisitos previstos na IFRS 15 para determinar quando uma obrigação de boa execução se encontra
satisfeita.

7.2.2. Se a transferência do ativo é uma venda


Quando a transferência de um ativo pelo vendedor-locatário satisfizer os requisitos da IFRS 15 para ser contabilizada
como uma venda do ativo, os seguintes requisitos devem ser aplicados.
No vendedor-locatário:
• O ativo sob direito de uso resultante da relocação é mensurado na proporção da anterior quantia escriturada
do ativo respeitante ao direito de uso mantido pelo vendedor-locatário;

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• Apenas o montante de qualquer ganho ou perda relacionado com os direitos transferidos para o comprador-
locador é reconhecido.
No comprador-locador:
• Deve contabilizar a compra do ativo de acordo com as normas aplicáveis ao ativo subjacente;
• Deve contabilizar a locação de acordo com os requisitos contabilísticos previstos para o locador (ver ponto
8).
Nesta venda, as situações podem ocorrer:
• O justo valor da retribuição pela venda de um ativo não for igual ao justo valor do ativo; ou
• Os pagamentos de locação não forem efetuados a taxas de mercado.
Nestes casos, é necessário efetuar os seguintes ajustamentos para mensurar o rédito da venda pelo justo valor:
• Quaisquer prazos inferiores aos do mercado devem ser contabilizados como pagamentos antecipados da
locação; e
• Quaisquer prazos superiores aos do mercado devem ser contabilizados como financiamento suplementar
fornecido pelo comprador-locador ao vendedor-locatário.
Estes ajustamentos devem ser mensurados com base no valor mais facilmente determinável de entre:
• A diferença entre o justo valor da retribuição pela venda e o justo valor do ativo; e
• A diferença entre o valor presente dos pagamentos contratuais pela locação e o valor presente dos
pagamentos pela locação às taxas de mercado.

7.2.3. Se a transferência do ativo não é uma venda


Quando a transferência de um ativo pelo vendedor-locatário não satisfizer os requisitos da IFRS 15 para ser
contabilizada como uma venda do ativo, os seguintes requisitos devem ser aplicados.
No vendedor-locatário:
• Deve continuar a reconhecer o ativo transferido;
• Deve reconhecer um passivo financeiro igual à retribuição recebida, de acordo com a IFRS 9.
No comprador-locador:
• Não deve reconhecer o ativo transferido;
• Deve reconhecer um ativo financeiro igual à retribuição transferida, de acordo com a IFRS 9.

7.2.4. Transição para a IFRS 16


A IFRS 16 determina que não devem ser reavaliadas as transações de venda e relocação celebradas antes da data
de aplicação inicial da IFRS 16, no sentido de para determinar se a transferência do ativo subjacente satisfaz os
requisitos da IFRS 15 para ser contabilizada como uma venda.

7.2.4.1. Locações que foram contabilizadas como venda e locação financeira


Nestas situações, o vendedor-locatário deve:
• Contabilizar a relocação da mesma forma que contabiliza qualquer outra locação financeira existente à data
de aplicação inicial; e
• Continuar a amortizar qualquer ganho na venda ao longo do prazo da locação.

7.2.4.2. Locações que foram contabilizadas como venda e locação operacional


Nestas situações, o vendedor-locatário deve:
• Contabilizar a relocação do mesmo modo que contabiliza qualquer outra locação operacional existente à
data de aplicação inicial; e

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• Ajustar o ativo sob direito de uso visado pela relocação a quaisquer ganhos ou perdas diferidos relacionados
com condições diferentes das de mercado reconhecidos na demonstração da posição financeira
imediatamente antes da data de aplicação inicial.

8. Tratamento das alterações e modificações na locação


8.1. Tratamento como uma locação distinta
O locatário deve contabilizar uma alteração a uma locação como uma locação distinta, se ambas as seguintes
situações forem verificadas:
• Ocorrer um alargamento do âmbito da locação ao adicionar o direito de uso de um ou mais ativos
subjacentes;
• A retribuição pela locação aumentar proporcionalmente ao preço individual relativo a esse aumento do
âmbito e a quaisquer ajustamentos adequados decorrentes do mesmo, de modo a refletir as circunstâncias
do contrato em causa.
A anterior locação não é desreconhecida e uma nova locação é reconhecida.

Exemplo 3: Modificação que é uma locação separada – (IFRS 16 IE7 – exemplos 15 a 19)
Um contrato de arrendamento do armazém está em vigor e refere-se ao arrendamento de 2.000 m2 por 10 anos.
No início do ano 6, o locatário e o locador acordam em aumentar a área locada para o período remanescente do
contratos (5 anos). A nova área passa para 5.000 m2 (mais 3.000 m2) no mesmo edifício.
O aumento total na retribuição / renda da locação está de acordo com a renda praticada no mercado para os 3.000
m2 adicionais.

O locatário contabiliza esta modificação como uma nova locação tendo como base apenas os 3.000 m2 adicionais,
o período remanescente do contrato (5 anos) e a taxa de desconto à data da modificação.
Não existe nenhum ajustamento à locação inicial dos 2.000 m2.

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 3:


• Introdução de dados

• Introdução de dados – modificação (novo contrato)

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8.2. Tratamento como uma modificação à locação existente


As alterações a contratos que não se enquadrem no ponto 8.1. acima devem ser tratadas como uma modificação ao
contrato existente.
Nestas situações o locatário deve:
• Afetar a retribuição prevista no contrato alterado às várias componentes do contrato, conforme descrito no
ponto 3.2.;
• Determinar o prazo da locação alterada, conforme descrito no ponto 3.3.; e
• Remensurar o passivo da locação descontando os pagamentos de locação revistos utilizando uma taxa de
desconto revista, conforme descrito no ponto 6.1.2.2.
O locatário deve contabilizar a remensuração do passivo da locação como segue:
• Diminuindo o ativo sob direito de uso de modo a refletir a cessação total ou parcial da locação, quando as
alterações da locação que reduzam o âmbito da mesma; qualquer ganho ou perda relacionados com a
cessação total ou parcial da locação é reconhecida em resultados;
• Ajustamento ativo sob direito de uso em relação a todas as outras alterações da locação.

Exemplo 4: Modificação que aumenta o âmbito da locação - (IFRS 16 IE7 – exemplos 15 a 19)
Um contrato de arrendamento do armazém está em vigor e refere-se ao arrendamento de 5.000 m2 por 10 anos e
prevê pagamentos anuais de 100.000. A taxa de desconto no início da locação é de 6%. O passivo da locação no
final do 6º ano ascende a 347.000.
No início do ano 7, o locatário e o locador acordam em aumentar o prazo da locação por mais 4 anos (prazo
remanescente é de 8 anos). O pagamento anual mantém-se nos 100.000. A taxa de desconto no início do ano 7 é
de 7%.

No início do ano 7 o passivo é remensurado (8 anos remanescentes, 100.000 por ano, à taxa de 7%). No total o
passivo ascende, após a modificação, a 597.000.
A alteração de 250.000 (597.000 – 347.000) acresce ao direito de uso e ao passivo da locação.

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 4:

• Introdução de dados

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
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• Aplicação da modificação

• Mapa de passivo

• Mapa de ativo

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
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Exemplo 5: Modificação que diminui o âmbito da locação - (IFRS 16 IE7 – exemplos 15 a 19)
Um contrato de arrendamento do armazém está em vigor e refere-se ao arrendamento de 5.000 m2 por 10 anos e
prevê pagamentos anuais de 50.000. A taxa de desconto no início da locação é de 6%.
No início do ano 6 o locatário e o locador acordam em reduzir o espaço arrendado para 2.500 m2. Isto
corresponde a uma redução de 50% no âmbito da locação. A renda anual reduz para 30.000. A taxa de desconto
nesta data é de 5%.
Na data da modificação o direito de uso ascende a 184.000 e o passivo da locação ascende a 211.000.

No início do ano 6 o passivo é remensurado (5 anos remanescentes, 30.000 por ano, à taxa de 5%). No total o
passivo ascende, após a modificação, a 130.000.
Numa primeira análise, quer o direito de uso, quer o passivo da locação, reduzem em 50% (proporção da redução
do âmbito da locação):
• O ativo diminui para 92.000 (50% de 184.000 na data da modificação);
• O passivo da locação reduz para 105.500 (50% de 211.000 na data da modificação);
• A diferença (105.500 – 92.000 = 13.500) é um ganho do período.
Numa segunda análise:
• O passivo da locação é ajustado para os 130.000 (valor presente dos pagamentos da locação na data da
modificação);
• O ajustamento de 24.500 (130.000 - 105.500) é refletido igualmente no ativo, o qual passa para 116.500
(92.000 + 24.500).

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 5:


• Introdução de dados

• Aplicação da modificação

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• Mapa de passivo

• Mapa de ativo

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Exemplo 6: Modificação no valor da renda - (IFRS 16 IE7 – exemplos 15 a 19)


Um contrato de arrendamento do armazém está em vigor e refere-se ao arrendamento de 5.000 m2 por 10 anos e
prevê pagamentos anuais de 100.000. A taxa de desconto no início da locação é de 6%.
No início do ano 6, o locatário e o locador acordam numa redução da renda anual para 95.000. A taxa de desconto
na data da modificação é de 7%. O passivo da locação nessa data é de 421.000.

No início do ano 6 o passivo é remensurado (5 anos remanescentes, 95.000 por ano, à taxa de 7%). No total o
passivo ascende, após a modificação, a 390.000.
A alteração de 31.000 (421.000 – 390.000) reduz o direito de uso e o passivo da locação.

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 6:


• Introdução de dados

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• Aplicação de modificação

• Mapa de passivo

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• Mapa de ativo

Exemplo 7: Modificação que aumenta e diminui o âmbito - (IFRS 16 IE7 – exemplos 15 a 19)
Um contrato de arrendamento do armazém está em vigor e refere-se ao arrendamento de 2.000 m2 por 10 anos e
prevê pagamentos anuais postecipados de 100.000. A taxa de desconto no início da locação é de 6%.
No início do ano 6, o locatário e o locador acordam em:
• Aumentar para 3.500 m2 o espaço arrendado;
• Reduzir o prazo da locação para 8 anos;
• A renda é atualizada para 150.000;
• A taxa de desconto da data da modificação é de 7%.
Na data da modificação:
• O direito de uso é de 368.004;
• O passivo da locação é de 421.236.

O novo passivo da locação é de 393.647 (150.000 anuais descontados à taxa de 7%). Este incremento no passivo
deve-se em parte:
• Ao aumento da renda em 50.000 (50.000 anuais descontados à taxa de 7%) = 131.216;
• Aos restantes 100.000 da renda (100.000 anuais descontados à taxa de 7%) = 262.431.

Redução do prazo do contrato


• O prazo remanescente da locação diminui de 5 para 3 anos (proporção de 3/5);
• O ativo reduz inicialmente para 220.802 (3/5 de 368.004) – diminuição de 147.202;
• O passivo reduz inicialmente para 267.301 (valor presente dos três pagamentos “ ”
remanescentes de 100.000 descontados à taxa do início do contrato) – diminuição de 153.935;
• A diferença de 6.733 (153.935 – 147.202) é um ganho do período;
• f ê “ ” 100.000
descontados à taxa do início do contrato (267.301) e os mesmos pagamentos descontados à taxa da
modificação (262.431), de 4.870, é ajustado ao valor do ativo e do passivo.

Aumento da renda
• Quer o ativo quer o passivo são aumentados em 131.216 (valor presente dos 50.000 adicionais de renda
descontados à taxa de 7%).

As tabelas abaixo evidenciam os impactos ao longo do contrato:

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Inicial Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5


Pagamento previsto no contrato 100 000 100 000 100 000 100 000 100 000
Reconhecimento na demonstração dos
resultados:
Juro 44 161 40 810 37 259 33 494 29 504
Depreciação 73 601 73 601 73 601 73 601 73 601
Despesa total 117 761 114 411 110 860 107 095 103 105
Reconhecimento no balanço
Direito de uso 736 009 662 408 588 807 515 206 441 605 368 004
Passivo da locação 736 009 680 169 620 979 558 238 491 732 421 236

Inicial Ano 6 Ano 7 Ano 8


Pagamento previsto no contrato 150 000 150 000 150 000
Reconhecimento na demonstração dos resultados:
Ganho 6 733 - -
Ganho total 6 733 - -
Juro 27 555 18 984 9 813
Depreciação 115 716 115 716 115 716
Despesa total 143 271 134 700 125 529
Reconhecimento no balanço
Direito de uso 347 148 231 432 115 716 -
Passivo da locação 393 647 271 203 140 187 -

A nível de sistema obteríamos os seguintes resultados para o exemplo 7:


• Introdução de dados

• Aplicação de modificação

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• Mapa de passivo

• Mapa de ativo

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9. Apresentação
9.1. Na demonstração da posição financeira ou nas notas
O locatário deve apresentar na demonstração da posição financeira, ou divulgar nas notas:
• Os ativos sob direito de uso separadamente dos outros ativos;
o Se optar por não apresentar os ativos sob direito de uso separadamente na demonstração da
posição financeira, deve:
▪ Incluir os ativos sob direito de uso na mesma linha de itens em que seriam apresentados
os respetivos ativos subjacentes, caso fossem propriedade sua, e
▪ Revelar que linhas de itens, na demonstração da posição financeira, incluem esses ativos
sob direito de uso;
o A opção não está disponível no caso de o ativo subjacente ser uma propriedade de investimento,
em que neste caso deve ser apresentado na demonstração da posição financeira como
propriedade de investimento;
• Os passivos da locação separadamente dos outros passivos;
o Se optar por não apresentar os passivos da locação separadamente na demonstração da posição
financeira, o locatário deve:
▪ Divulgar em que linhas de itens da demonstração da posição financeira se incluem esses
passivos.

9.2. Na demonstração dos resultados e de outro rendimento integral


O locatário deve apresentar na demonstração dos resultados e de outro rendimento integral, separadamente:
• O gasto de juros relativo ao passivo da locação, como sendo um componente dos custos de financiamento;
e
• O custo de depreciação do ativo sob direito de uso.

9.3. Na demonstração dos fluxos de caixa


O locatário deve classificar, na demonstração dos fluxos de caixa, os seguintes itens como segue:
• Pagamentos relativos à parte do capital do passivo da locação – atividades de financiamento;
• Pagamentos relativos à parte dos juros do passivo da locação – aplicar os requisitos previstos na IAS 7
relativos aos juros pagos;
• Pagamentos de locação a curto prazo, pagamentos relativos a locações de ativos de baixo valor e
pagamentos de locação variáveis não incluídos na mensuração do passivo da locação - atividades
operacionais.

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Exemplo 8:
A tabela abaixo evidencia as diferenças de reconhecimento entre a IFRS 16 e a IAS 17, num caso de um contrato
a 3 anos em que a taxa de desconto é 4,24%.

Impacto no Balanço e Demonstração dos Resultados:


Ano 1 IAS 17 IFRS 16
Despesa com a renda -12 000 -
Despesa com a depreciação - -11 000
Despesa total -12 000 -11 000
Despesa com juro - -1 398
Resultado antes de imposto -12 000 -12 398

Ano 1 IAS 17 IFRS 16


Direito de uso -22 000
Acréscimo de custo por linearização da renda -2 000 -
Responsabilidade com os pagamentos da locação - -24 398
Ativo líquido -2 000 -2 398

Impacto na Demonstração dos Fluxos de Caixa:


Ano 1 IAS 17 IFRS 16
Caixa usada nas operações -10 000 -
Juros pagos - -1 398
Total de caixa usada nas atividades operacionais -10 000 -1 398
Pagamentos relativos a empréstimos - -8 602
Total de caixa usada nas atividades financeiras - -8 602

9.4. Apoio de ferramentas digitais no relato financeiro de locações


Os softwares de gestão dedicados à gestão da norma das locações culminam com a funcionalidade de relato, sendo
este o objetivo principal do armazenamento de dados: preparação para o relato financeiro das transações
contabilizadas.
Geralmente, estes sistemas disponibilizam vários tipos de relatórios, como os exemplos listados de seguida.
• Relatórios de gestão: relatórios em tempo real com visualização geral dos diversos objetos com opção de
vários filtros (por tipo de contrato, estado, entidade, centro de custo, classe de ativo, etc.)

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• Relatórios de apresentação: relatórios sumário de todas as informações necessárias para preparação das
demonstrações financeiras de acordo com a norma, nomeadamente:
o Relatórios de saldos e movimentos do passivo, com segregação entre curto e longo prazo

o Relatórios de saldos e movimentos do ativo

o Análise de maturidade dos contratos

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o Relatórios de fluxo de caixa

o Relatórios de despesas (juros, rendas de contratos de curto prazo e baixo valor)

• Relatórios de transações: detalhe de transações para reconciliação e/ou carregamento com ERP (sistema
de contabilidade geral), nomeadamente:
o Capitalização do ativo
o Término de contratos
o Transações do passivo – início e ajustamentos

o Transações de acréscimo de juros


o Transações de pagamento de rendas (capital e juros)

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• Balanço, Demonstração de Resultados, Fluxo de caixa, por contracto:

Balanço, por contracto

Demonstração de Resultados, por contracto

Fluxo de caixa, por contrato

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
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10. O que muda na ótica do locador


A IFRS 16 prevê a continuação dos requisitos de contabilização previstos para os locadores na IAS 17. As únicas
exceções a estes requisitos são as que a seguir se enumeram.

10.1. Contabilização das sublocações


A IFRS 16 requer que um sublocador contabilize a locação principal e a sublocação como duas componentes
separadas, aplicando quer os requisitos de contabilização dos locatários e dos locadores.
Esta exigência está relacionada com o facto de que, usualmente, os contratos são negociados separadamente, e a
contraparte da sublocação é diferente da contraparte da locação principal. Assim, e para o sublocador, a obrigação
associada à locação principal geralmente não se extingue pelos termos e condições da sublocação.

10.2. Custos iniciais diretos


A IFRS 16 define custos iniciais diretos consistentemente com a definição de custos incrementais para a obtenção de
um contrato presente na IFRS 15. Por esta via, os custos incorridos pelo locador para obter uma locação são
capitalizados, em certas circunstâncias, exceto se incorridos por locadores fabricantes ou negociantes.

10.3. Divulgações
A IFRS 16 melhora as divulgações anteriormente previstas na IAS 17 por forma a permitir aos utilizadores das
demonstrações financeiras efetuarem uma melhor avaliação do valor, do prazo e da incerteza dos fluxos de caixa
associados às atividades de locação desenvolvidas pelos locadores.
As melhorias previstas ocorrem nas divulgações sobre os temas a seguir enumerados:
• Exposição do locador ao risco de valor residual dos ativos e como o locador gere esta exposição ao risco;
• Diferentes componentes de rédito reconhecidas durante o período (similar com a IFRS 15);
• Informação sobre os ativos detidos pelo locador que estão em locação operacional, a apresentar em
separado aos restantes ativos do locador que não geram rendimentos;
• Risco de liquidez, exigindo uma análise de maturidade aos valores não descontados dos pagamentos das
locações a serem recebidos numa base anual, discriminada para os primeiros 5 anos e para períodos
subsequentes até ao fim dos contratos;
• Explicações, qualitativas e quantitativas, relativas a incrementos significativos no montante do investimento
líquido em locações financeiras.

11. Transição para a IFRS 16


11.1. Avaliação se um contrato é ou contém uma locação
A IFRS 16 tem um expediente prático que não obriga uma entidade a reavaliar se um contrato é, ou contém, uma
locação à data de aplicação inicial. Em vez disso, a entidade pode:
• Aplicar a IFRS 16 aos contratos que foram previamente identificados como locações nos termos da IAS 17 e
da IFRIC 4, seguindo os requisitos de transição previstos (ver ponto 11.2. e 11.3.);
• Não aplicar a IFRS 16 aos contratos que não foram anteriormente identificados como contendo uma locação
nos termos da IAS 17 e da IFRIC 4.
Caso uma entidade siga esta opção, ela deve divulgar esse facto e aplicar o expediente prático a todos os seus
contratos. Consequentemente, só deve aplicar os requisitos de transição aos contratos celebrados (ou alterados) na
data de aplicação inicial ou após essa data.

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

11.2. Locatários
Os locatários têm as seguintes opções de aplicação da IFRS 16 aos seus contratos de locação:
• Aplicação retrospetiva completa - retrospetivamente a cada período de relato anterior apresentado nos
termos da IAS 8; ou
• Aplicação retrospetiva simplificada - retrospetivamente com o efeito cumulativo da aplicação inicial
reconhecido à data de aplicação inicial como segue:
o A informação comparativa não é reexpressa;
o O efeito cumulativo da aplicação inicial é reconhecido como um ajustamento ao saldo de abertura
de resultados retidos (ou outra componente de capital próprio, conforme for apropriado) à data de
aplicação inicial.
A opção que o locatário seguir deve ser aplicada de forma coerente a todos os contratos de locação em que é
locatário.

11.2.1. Locações anteriormente classificadas como locações operacionais


Na data de aplicação inicial da IFRS 16 às locações anteriormente classificadas como operacionais, e quando opta
pela aplicação retrospetiva simplificada, o locatário deve:
• Reconhecer um passivo por locação:
o Mensurado pelo valor presente dos pagamentos de locação remanescentes;
o Descontados segundo a taxa incremental de financiamento do locatário à data de aplicação inicial;
• Reconhecer um ativo sob o direito de uso, podendo optar, locação a locação, por mensurar esse ativo:
o Pela sua quantia escriturada, como se a IFRS 16 tivesse sido aplicada desde a data de entrada em
vigor da locação, a qual deve ser descontada usando a taxa incremental de financiamento do
locatário à data de aplicação inicial, ou
o Pela quantia igual ao passivo da locação, ajustada pela quantia de quaisquer pagamentos de
locação antecipados ou acrescidos relacionados com essa locação que estejam reconhecidos na
demonstração da posição financeira imediatamente antes da data de aplicação inicial;
• Aplicar os requisitos de imparidade previstos na IAS 36 aos ativos sob direito de uso à data de aplicação
inicial, a menos que o locatário aplique o expediente prático previsto no ponto 11.2.1.1.
O locatário:
• Não é obrigado a proceder a ajustamentos na transição das locações cujo ativo subjacente seja de baixo
valor; deve contabilizar essas locações nos termos da IFRS 16 a partir da data de aplicação inicial;
• Não é obrigado a proceder a ajustamentos na transição das locações anteriormente contabilizadas como
propriedade de investimento usando o modelo de justo valor; deve contabilizar o ativo sob direito de uso e o
passivo por locação decorrente dessas locações nos termos da IAS 40 e da IFRS 16, a partir da data de
aplicação inicial;
• Deve mensurar o ativo sob direito de uso pelo justo valor à data de aplicação inicial das locações
anteriormente contabilizadas como locações operacionais e que serão contabilizadas como propriedades de
investimento segundo o modelo do justo valor, a partir da data de aplicação inicial; deve contabilizar o ativo
sob direito de uso e o passivo por locação decorrente dessas locações nos termos da IAS 40 e da IFSR 16,
a partir da data de aplicação inicial.

11.2.1.1. Outros expedientes práticos da IFRS 16 para a aplicação retrospetiva


simplificada
Para a aplicação retrospetiva simplificada, a IFRS 16 prevê ainda a utilização dos seguintes expedientes práticos,
locação a locação:
• Aplicar uma taxa de desconto única a uma carteira de locações com características razoavelmente
semelhantes (tais como locações com um prazo remanescente semelhante, para uma classe semelhante de
ativo subjacente e num contexto económico semelhante);
• Utilizar a sua avaliação sobre se as locações são onerosas, nos termos da IAS 37, realizada imediatamente
antes da data de aplicação inicial, em alternativa à realização de uma análise de imparidade; neste caso,
deve ajustar o ativo sob direito de uso à data de aplicação inicial pelo montante de qualquer provisão para
locações onerosas reconhecida na demonstração da posição financeira imediatamente antes da data de
aplicação inicial;

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• Não aplicar os requisitos descritos no ponto 11.2.1. a locações cujo contrato termine no prazo de 12 meses
a contar da data de aplicação inicial; nesta situação o locatário deve:
o Contabilizar essas locações da mesma forma que as locações a curto prazo, e
o Incluir o custo associado a essas locações na divulgação das despesas relativas a locações a curto
prazo no período de relato anual que inclui a data de aplicação inicial;
• Opção de poder excluir os custos diretos iniciais da mensuração do ativo sob direito de uso à data de
aplicação inicial;
• Recorrer à análise retrospetiva para, por exemplo, determinar o prazo da locação quando o contrato contiver
opções de prorrogação ou rescisão da locação.

Exemplo 9:
• Contrato de locação de uma viatura de transporte celebrado em 01-01-2018 por 2 anos;
• Considerado locação operacional de acordo com a IAS17 antes da data de adoção;
• O pagamento acordado para o uso da vi 200.000€ (97.000€
103.000€ f );
• Taxa de desconto na data da adoção é de 3%;
• Será usada a aplicação retrospetiva simplificada.

A aplicação retrospetiva simplificada permite duas opções, conforme evidenciado abaixo:


Opção 1: Aplicação da norma desde o início do contrato Opção 2: Aplicação da norma na data de transição

01-01-2018 31-12-2018 31-12-2019 01-01-2018 31-12-2018 31-12-2019


97 000 103 000 97 000 103 000
NPV 97 087 NPV 100 000
Taxa 3% Taxa 3%

Pagamento inicial 97 000 Pagamento inicial 97 000


Valor inicial do passivo 97 087 Valor inicial do passivo 100 000

Valor do ativo em 01-01-2018 194 087 Anulação do acréscimo por linearização das rendas 3 000
Depreciação do 1º ano 97 043
Valor inicial do ativo na data da adoção 97 044 Valor inicial do ativo na data da adoção 97 000

Em termos de reconhecimento, as diferenças entre as duas opções são as seguintes:


Opção 1 01-01-2018 31-12-2018 01-01-2019 31-12-2019
Pagamentos previsto no contrato -97 000 - - -103 000
Reconhecimento na demonstração dos resultados
Juro de 2018 - 2 913 2 913 3 000
Depreciação de 2018 - 97 043 - 97 045
Reconhecimento no balanço
Direito de uso 194 087 -97 043 97 045 -97 045
Passivo da locação -97 087 -2 913 -100 000 100 000
Impacto nos resultados transitados - - -43 -

Opção 2 01-01-2018 31-12-2018 01-01-2019 31-12-2019


Pagamentos previsto no contrato -97 000 - - -103 000
Reconhecimento na demonstração dos resultados
Juro de 2018 - - - 3 000
Depreciação de 2018 - - - 97 000
Reconhecimento no balanço
Direito de uso - - 97 000 -97 000
Passivo da locação - - -100 000 100 000
Anulação do acréscimo e diferimento - - 3 000 -

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11.2.2. Locações anteriormente classificadas como locações financeiras


Se um locatário optar pela aplicação retrospetiva simplificada, as locações que até agora estavam classificadas como
locações financeiras devem ser tratadas da seguinte forma à data de aplicação inicial:
• A mensuração do ativo sob direito de uso deve ser igual à quantia escriturada do ativo sob locação;
• A mensuração do passivo por locação deve ser igual ao passivo da locação imediatamente antes dessa
data;
• Qualquer diferença entre os dois valores deve ser registada como um ajustamento ao saldo de abertura de
resultados retidos.
Subsequentemente o ativo e o passivo devem seguir os requisitos da IFRS16.

11.3. Locadores
Com exceção do descrito a seguir, o locador não é obrigado a fazer ajustamentos na transição das locações em que
é locador e deve contabilizar essas locações nos termos da IFRS 16 a partir da data de aplicação inicial.
No caso das sublocações, o locador deve:
• Reavaliar as sublocações que foram classificadas como locações operacionais nos termos da IAS 17 e que
estão em curso à data de aplicação inicial, para determinar se cada sublocação deve ser classificada como
locação operacional ou financeira de acordo com a IFRS 16;
• Proceder a esta avaliação à data de aplicação inicial com base nos termos e condições contratuais
remanescentes da locação original e da sublocação nessa data;
• Para as sublocações que tenham sido classificadas como locações operacionais nos termos da IAS 17, mas
como locações financeiras de acordo com a IFRS 16, deve contabilizar a sublocação como uma nova
locação financeira celebrada à data de aplicação inicial.

11.4. Impacto na implementação de um software de gestão para locações


Os softwares desenvolvidos recentemente para dar resposta à gestão de locações têm tido o seu foco de utilização
pelos locatários, sendo estes os intervenientes mais impactados com as exigências da nova norma.
Na transição para a IFRS16, os procedimentos ao nível de software de gestão são idênticos, independentemente da
opção de transição que se siga. O impacto é meramente na preparação prévia da informação a carregar no sistema
em referência à data de aplicação inicial da norma ou à data de início de cada contrato, conforme a opção. Em
termos práticos de sistema estamos apenas perante diferenças de configuração, como por exemplo, de períodos de
abertura.
Independentemente da opção tomada e ainda que se opte pelos registos retrospetivos à data de início dos contratos,
as transações a importar para o sistema de contabilidade geral serão apenas as que refiram à data de transição e
posteriores.

12. Desafios de implementação da IFRS 16


A nova norma requer mais do que o reconhecimento das locações. Conforme apresentado no ponto 4. a
implementação da norma poderá resultar em alterações nas políticas contabilísticas, nos processos, nos controlos
sobre processos e nos sistemas de informação que suportem a contabilização, a gestão da carteira de locações e a
gestão fiscal da entidade.
As entidades terão igualmente de considerar as implicações nos relatórios financeiros e rácios quando negoceiam
contratos que possam conter locações.
Todos estes fatores exigem o envolvimento de várias áreas dentro de uma organização.
Para além das dificuldades iniciais subjacentes aos temas discutidos, como identificação se um contrato qualifica
como locação e identificação dos seus termos, determinação de taxas de desconto, e considerações de transição,
existem outros aspetos operacionais que as empresas não podem descurar.

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Para o correto tratamento e contabilização dos contractos de locação é imprescindível que as empresas tenham o
total controlo sobre o seu portfólio de locações e estejam aptas a:
• Recolher e gerir a informação de todos os contratos de locação existentes na empresa, normalmente
dispersa por departamentos ou mesmo por diferentes localizações;
• Interpretar os contractos de locação à luz da IFRS16;
• Proceder aos cálculos inerentes e integrar os dados dos contratos nos sistemas contabilísticos utilizados;
• Atender a notificações de eventos relevantes (extensões, prazos, etc.), bem como outras informações sobre
transações para integração nos sistemas contabilísticos;
• Produzir relatórios para auditoria e demonstrações financeiras;
• Definir um processo dedicado, com segregação de funções em que os utilizadores tenham diferentes níveis
de acesso e funções durante a recolha e validação da informação.
Considerando os requisitos necessários para implementação da IFRS16, pode concluir-se que as organizações irão
incorrer em esforços adicionais, quer diretos numa fase inicial, quer contínuos ao longo da vida dos contratos,
esforços esses que dependerão da dimensão do portfólio de contratos, dos seus termos e condições e da prévia
existência de sistemas e procedimentos implementados para a sua gestão e contabilização.
Por forma a lidar com esta mudança da melhor forma possível, recomenda-se que se proceda à concretização dos
pontos listados acima e ainda que se assegura a formação intensiva das pessoas envolvidas em todas as fases,
desde o departamento de compras à contabilidade, passando pelo departamento legal, para que todos estejam
cientes da norma e possam adotá-la de forma adequada.

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Aspetos práticos das locações – IFRS 16
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