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Poder Judiciário
JUSTIÇA ESTADUAL
Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins
GAB. DA DESA. JACQUELINE ADORNO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0000233-11.2021.8.27.2725/TO


PROCESSO ORIGINÁRIO: Nº 0000233-11.2021.8.27.2725/TO
RELATORA: DESEMBARGADORA JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA
APELANTE: SÃO JERÔNIMO INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS E PARTICIPAÇÕES LTDA (REQUERIDO)
ADVOGADO: MATHEUS BARRA DE SOUZA (OAB DF059076)
APELADO: ACÁCIO BERNARDES GOMES (REQUERENTE) E OUTRO
ADVOGADO: JOACY BARBOSA LEÃO JÚNIOR (OAB TO009098)
ADVOGADO: VICTOR DOURADO SANTANNA (OAB TO04701A)
ADVOGADO: SANDOVAL FERREIRA LIMA NETO (OAB TO009151)
ADVOGADO: CECÍLIA AUGUSTO LIMA DOURADO SANTANA (OAB TO007813)

VOTO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA


INCIDENTAL. EXTINÇÃO PELO NÃO ADITAMENTO DA PEÇA INICIAL.
VERBA HONORÁRIA SUCUMBENCIAL. PERCENTUAL SOBRE O VALOR
DA CAUSA. DESPROPORCIONALIDADE EVIDENCIADA. JUÍZO DE
EQUIDADE. POSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1 – A jurisprudência do STJ vem reiteradamente proclamando a possibilidade de


fixação dos honorários por juízo de equidade, com fulcro no art. 85, § 8º, do CPC,
na hipótese em que a verba honorária fixada com base no valor da causa se revela
excessiva, isto é, desproporcional às particulares do caso, aquilatadas pelo
sopesamento dos critérios elencados no § 2º, do art. 85 do NCPC.

2 – Destarte o disposto no art. 85, § 8º do NCPC não só contempla o arbitramento


dos honorários advocatícios por equidade nas causas de valor muito baixo ou
irrisório, como também abrange, por interpretação extensiva e sistêmica, os
valores exorbitantes, devendo ser afastada a interpretação literal da disposição
processual em prol do princípio da proporcionalidade e razoabilidade.

3 - Recurso conhecido e improvido.

Conforme relatado, trata-se de recurso de  APELAÇÃO CÍVEL


interposto  por  SÃO JERÔNIMO INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS E
PARTICIPAÇÕES LTDA. (Requerido), em face da r. sentença proferida pelo MM. Juiz de
Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Miracema-TO, e integralizada pelo decisum lavrado em
sede de Embargos de Declaração, que,    nos autos da TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA INCIDENTAL Nº 00002331120218272725 movida por  ACÁCIO
BERNARDES GOMES e  MARIA DIVINA MENDES GOMES (Requerentes), ora
Apelados em desfavor do ora Apelante, julgou extinto o processo, nos termos do art. 303, § 2º
do NCPC, já que não aditada a peça exordial no prazo legal.

Condenou os autores ao pagamento das custas e despesas processuais e ainda dos


honorários advocatícios sucumbenciais que foram fixados em R$ 5.000,00 cinco mil reais).
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Cito que os pressupostos processuais foram atendidos, utilizado o recurso cabível,
há interesse e legitimidade para recorrer, este é tempestivo e devidamente realizado o preparo
recursal.

Assim, verificados os pressupostos legais, conheço do recurso intentado para a


análise, em conjunto, das questões de fundo suscitadas.

Saliento que a questão em debate se resume sobre o arbitramento dos honorários


advocatícios sucumbenciais, sendo que adianto que a adoção do parâmetro pretendido para o
arbitramento dos honorários sucumbenciais ensejaria a fixação em valor exacerbado, não
desmerecendo é claro o trabalho desenvolvido pelos profissionais no presente processo.

Destarte, assevero que não desconheço o fato de que o §8º do art. 85 do CPC é
silente acerca da possibilidade de fixação dos honorários por equidade na hipótese de proveito
econômico ou valor da causa elevados, referindo-se apenas às hipóteses nas quais "for
inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito
baixo".

Entretanto, diante das particularidades do caso concreto, dentre elas o fato de ser
uma tutela provisória incidental, que foi extinta em menos de 03 meses do seu ajuizamento por
ausência de aditamento da pela inicial, aliado ao vulto valor atribuído a causa, a fixação dos
honorários nos moldes pretendidos, renovada vênia ensejaria enriquecimento sem causa dos
patronos da ora apelante.

Inclusive cito que o art. 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro


dispõe que "na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum". No mesmo norte o art. 8º do CPC, vejamos: "ao aplicar o
ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade,
a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência".

Portanto, se a legislação pátria vigente traz mecanismos para evitar que o


procurador de uma das partes seja prejudicado com a fixação de honorários em valor irrisório
por serem baixos o proveito econômico ou o valor atribuído à causa, a interpretação da lei deve
proporcional que o procurador também não seja beneficiado em excesso (em prejuízo da parte
contrária), com o arbitramento de honorários em valor exacerbado quando for muito alto o
proveito econômico ou o valor atribuído à causa.

Por certo, a referida interpretação - que excepciona a regra geral - deve ser
adotada com cautela, observando-se as particularidades do caso concreto. Porém, na hipótese,
entendo-a como necessária.

Sobre o tema:

PROCESSUAL CIVIL (...) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PERCENTUAL


SOBRE O VALOR DA CAUSA. DESPROPORCIONALIDADE
EVIDENCIADA. JUÍZO DE EQUIDADE. POSSIBILIDADE. (...)  A
necessidade de deferimento de honorários advocatícios em tais casos não pode
ensejar ônus excessivo ao Estado, sob pena de esvaziar, por completo, referido
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comando normativo. 3. Da sentença fundada no art. 26 da LEF não é possível
identificar objetiva e direta relação de causa e efeito entre a atuação do
advogado e o proveito econômico obtido pelo seu cliente, a justificar que a verba
honorária seja necessariamente deferida com essa base de cálculo, de modo que
ela deve ser arbitrada por juízo de equidade do magistrado, critério que, mesmo
sendo residual, na específica hipótese dos autos, encontra respaldo nos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade preconizados no art. 8º do CPC/2015. 4.
Precedente: REsp 1.795.760/SP, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma,
DJe 03/12/2019. 5. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 1398106/SP,
Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/04/2020,
DJe 06/05/2020)

EMENTA: EMBARGOS DE TERCEIRO - HONORÁRIOS


SUCUMBENCIAIS - INVERSÃO DO ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA -
PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE - INCIDENCIA DA SÚMULA 303 DO STJ -
IMPOSSIBILIDADE NO CASO EM CONCRETO - REDUÇÃO DO VALOR
DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS EM PATAMAR
ELEVADO - POSSIBILIDADE - PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E
RAZOABILIDADE ERIGIDO COMO POSTULADO INTERPRETATIVO
PELO ART 8º DO CPC/15. (...)- A norma prevista no art. 85, § 8º do Código de
Processo Civil não só contempla o arbitramento dos honorários advocatícios por
equidade nas causas de valor muito baixo ou irrisório, como também abrange,
por interpretação extensiva e sistêmica, os valores exorbitantes, devendo ser
afastada a interpretação literal da disposição processual em prol do princípio da
proporcionalidade e razoabilidade. Recurso ao qual se dá parcial provimento".
(TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.126928-1/001, Relator(a): Des.(a) Lílian
Maciel , 20ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/12/2019, publicação da súmula
em 18/12/2019).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO.


(...) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA.
REVISÃO DE OFÍCIO. FIXAÇÃO POR EQUIDADE. RECURSO NÃO
PROVIDO. (...) No caso, conforme se verifica da sentença recorrida, a aplicação
literal do art. 85, § 2º, do CPC resultaria em montante excessivo que, além de não
refletir a complexidade da demanda, implicaria ônus desproporcional à parte.
Isso porque, ainda que fixados os honorários no percentual mínimo de 10% sobre
o valor da condenação (R$ 150.000,00), a quantia resultante (R$ 15.000,00) se
mostraria exorbitante. 7.2. Assim, cabe ao juiz proceder à adequação equitativa
de seu valor, fixando-o em patamar condizente com a razoabilidade e o grau de
dificuldade da causa (art. 85, §8º, do CPC). 7.3. Feitas essas considerações, e
levando-se em conta as particularidades desta demanda, na qual o processo teve
resolução em pouco mais de 7 (sete) meses, acrescido de que a penhora decorreu
por dívidas no valor de R$ 24.000,00), mostra-se proporcional e suficiente a
fixação da verba honorária em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), na forma do art. 85,
§2º e §8º, já computada a majoração prevista no art. 85, § 11, do CPC. 8.
Recurso não provido. (Acórdão 1336040, 07010885320208070004, Relator:
JOÃO EGMONT, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 22/4/2021, publicado no
DJE: 6/5/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada.)

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Lembrando que em atenção aos princípios da isonomia, da razoabilidade e da
proporcionalidade, a jurisprudência pátria, como visto, tem firmado o entendimento no sentido
de que a verba honorária também pode ser arbitrada com base no critério de equidade na
hipótese em que o valor da condenação ou da causa for exorbitante – (AgInt nos EDcl nos EDcl
no REsp 1807495/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 10/09/2019, DJe 19/09/2019).

E ainda que “a aplicação do juízo de equidade na hipótese vertente não


caracteriza declaração de inconstitucionalidade ou negativa de vigência do § 3º do art. 85 do
CPC/1973, mas interpretação sistemática de regra do processo civil orientada conforme os
princípios constitucionais da razoabilidade e da proporcionalidade, tal como determina hoje o
art. 1º do CPC/2015, pois fugiria do alcance dos referidos princípios uma interpretação literal
que implicasse evidente enriquecimento sem causa de um dos sujeitos do processo (...)” -
(REsp 1795760/SP, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
21/11/2019, DJe 03/12/2019).

Nesse contexto, não verificada qualquer nulidade ou ilegitimidade, a sentença


deve ser mantida, visto que, devidamente fundamentada e escorada no entendimento
jurisprudencial.

Sem honorários recursais.

Ex positis, pelas razões acima expendidas conheço do recurso, por presentes os


requisitos de admissibilidade, e voto no sentido de NEGAR-LHE PROVIMENTO para
manter incólume a sentença ora vergastada.

Documento eletrônico assinado por JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA, Relatora, na forma do artigo
1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Instrução Normativa nº 5, de 24 de outubro de 2011. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.tjto.jus.br, mediante o
preenchimento do código verificador 401472v4 e do código CRC ae8646b2.

Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): JACQUELINE ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA

Data e Hora: 15/10/2021, às 16:57:5

 
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