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pourRiNa. an Mandado de Seguranga. Direito Liquido e Certo Adhemar Ferreira Maciel Ministro aposentado do Superior THibunal de Justia Introdusdo. A “Terceira Onda” do controle da constitucionalidade das leis. Fendmeno do final do século. Se no ink € se espalhar como fogo o arbitrio, agora, no final do século, esta testemu- nhando 0 arrebentar da Troisiéme Vague do controle jurisdicional da constitu- cionalidade das leis, na expresso otimista de Loui sidade d’Aix-Marseille 11. Estados tradicionalmente avessos 4 protecio e garantia dos direitos funda- jo dos anos 30! o mundo viu passivamente crescer a autocracia Favoreau, dedo da Univer- ‘mentais, como os mugulmanos, com o Pacto deTeera, passaram, “ainda que no papel”, a admitir o controle do poder publico.* Mesmo que incipiente, trata-se dlc um primeizo passo para a valorizasao da dignidade humana.’ A ténica do ‘Mesmo em paises de democraciaestratiicada, como os Estados Unidos da América, em 1935, hnavia muita gente que acreditava piamente que a estrutura tradicional da politica norte-amer- cana estivese a um passo de desfazer-se. Os partidos politicos ndo tinham como conter & ‘encegia desencadeads por pecgociros de rims nat-fascstas (cf. Schlesinger, Jr, Arthr La Ere de Roosevelt ~ la Poitca del Catactime. Tad. pata 0 espanhol por Jose Meza Nit Mexico: Uteha, 1968, p. 64) 2. A*Primeira Onda” ocorreu logo apis a Primeira Grande Guerra, com o controle cncentrado na Constituicdo de Weimar esobretudo na Constituicéo da Austria; “Segunda Onda” se dew logo depois da Segunda Grande Guctra, com as Constiuigdes da Austria, Tia, Jado & Alemanha Ocklental (cf. Mauro Cappellett. General Report na coletinea organizads por Louis Favoreau c John-Anthony Jolowiez, com o titulo de Le Connsle Juidicionne! det Lois ~ Ligiimité, Efctiet et Devaloppoments Récenter. Paris: Economica, 1986, p. 302). 3. Para alguns sistemas juriicos, para que o ato internacional passe a obrigar interna e interna cionalmente, € necessiria sua incorporaco legislativa. Para outros, basta aratficacio pelo pas assnante. A nova ordem juridica brasileira, inaugurada em 05.10.88, adotao sistema mist: seo tratado internacional eaiieado pelo Brasil versa sobre protegdo de diteitos fan damenuais, a incorporacio & automitica por forea do art. 56, § 25 da Constivicdo (ef Pioveran, Flavia. Dircitos Humanos © 0 Direito Constitueional Internacional. Max Limonad, Lida, 1996, pp. 82 seg.) 4. Cf. Gélard, Patrice, in Transformagiet do Dircito Constitucional na Sociedade Con tempordnea, palestra publicada na Revista da Faculdade de Direito das Universidades Metropolitanas Unidas, Ano 10, Série Internacional V, jan unho 1996, 5. Ao falar sobre sistema constitucional espanhol, o Prof. Francisco Ferndnder Segado diz: “Es por ello mismo por fo que puede afirmarse gue todos los derechos qu dela Gonsttuiin Mier Aiear Fess Maciel 297.321, 2s ST}, DEZ ANOS A SERVICO DA JUSTICA constitucionalismo contemporanco esta sobretudo no respeito aos direitos fun- damentais, que tendem a se internacionalizar.* ‘Na verdade, nio podem existir direitos fundamentais sem instrumentos pro- cessuais eficientes e juizes independentes para efetivé-los. Hoje, mais do que justificar os direitos fundamentais, é importante protegé-los.” A Constituigdo brasileira de 1934 criou o instituto do mandado de segu- ranga, instrumento dos mais eficazes e notaveis do mundo em matéria de protesdo genérica dos direitos individuais e coletivos. De nossos Estatutos politicos posteriores, apenas a Carta de 1937 - “A Polaca”* ~ deixou de contempli-lo expressamente. institute do mandado de seguranga, com mais de meio século de exis- téncia e ainda em constante evolugao legislativa, doutrinaria e jurisprudencial, 6, em nosso entender, o mais aperfeigoado instrumento processual constitu- cional na defesa dos direitos fundamentais no Brasil.” Nao tem a generalidade inviabilizante do juicio de amparo mexicano, nem 0 casuismo dos zrits anglo- americanos. Por sua simplicidade e eficicia, pode-se dizer, sem imodéstia, que o man- proclama, de une n outra formay ss oncaminan a posibilitar ef desarrollo integral de ta persona exigido por ta propia dignidad de la mismo” (El Sistema Constcucional Espaitol, artigo dovirindcio publicid in Lor Sirtomar Consttuconales Beroamericanor, lito OrEa- nizado por Gareia Belaunde, Fernandez Segado, F. c Hernandes Valle, R. Madrid Dykinson, 1992, p. 398). Daf a Lei Fundamental de Bona, que tanco influenciow a Constituigho espanol, ter aberto 0 art. I* com a rubrica Schute der Menschenteine (Provegio dx Dignidade Humana). Tambérs a Constituicso portuguesa foi mareada por tal dispostivw (art. 1), uma vez que a “pessoa (humana) ¢ 0 fundamento e fim da Sociedade e do Estado” (Miranda, Jorge. Manual de Direito Constitucional, como LV. Coimbra Editra, Limitada, 1988, p. 167). 6. Cl, Ploveran, Flavia, ob. cit. p. 70. Anténlo Augusto Cangado Trindade fala até em novo constitucionalisma”, quanda se refere& intermacionaliaae3o da protecio dos dicei= tos humanos (A Interacdo entee o Dieito Ta {dos Dircitos Humanos in Arquivos do Ministerio da Justia, ano 45, nimera 182, julhor dderemtco 1993, p29) Bobbio, Norberto. A Era dos Dircitox. Trad. de Catlos Nélson Coutinho. Rio de Jancito: Gampus, 1992, p25 8. Nocembalo universal da deserenga na democracia, o Governo Getilio Vargas fos inspira na (Carta citatoria polonssa de Pisudaki (cf. Silva, Hélio. As Consttucies do Brasil R. Globo, 1985, p. 90) Esse ext politica & cassificado por Karl Loewenstein coms "Consituigge borigindria", uma vez que cru 6 “neopresidencialsmo"(e. Teoria de fa Constiuciin, 2 ed ‘Trad. espanhols por Alfredo Gallego Anabitarie. Barcelona: Ariel, 1920, p. 210). Embora verndculo,o term gluco, no feminino, tem sentido pejortivo (ef. Dicionétie Aurélio Eleres- nico). set Pitudzt, ministra da guetra do premi? Moscichi, assumia poderesditatorais ppromulgoua Carta de 1935 ( Mulamedia Encylopedia Encara, 1992, Microsoft Coporation). 9. Odireta dei, vir e permanecer¢ protepide pelo habeas corpus (Constituicio de 1988, art 55, LXVITD. ‘Mins Aikemae Fences Macc 7.301 ouTRINA a0) dado de seguranca é digno de ser copiado ou adaptado por outros povos. claro que ele nao nasceu como Minerva da cabega de Jipiter. Ao contririo, foi fruto da necessidade e exigéncia de uma época em que o jurisdicionade comega- va a expetimentar o gosto da liberdade e do enfrentamento com 0 Poder Pii- blico. Ainda que sua inspiragio possa estar em institutos alienigenas, como os torits anglo-americanos ou o juicio de amparo mexicano, sua criagio esta intima- mente ligada ao Habeas Corpus, aos Interditos Possessérios ei Ago Anulatéria de Atos da Administragio (Lein® 221/1894)." Direito liquido e certo. Condigiio especial da agao de mandado de seguranga. Histérico. Conceito. Jurisprudéncia do STF e do sTJ ‘A esséncia do mandado de seguranca esti no direito liguido e certo. Con- ceituar direito liguido e certo, assim, deve ser 0 primeiro passo para o bom en- tendimento do institute.” © art. 5? da Constituigdo Federal diz expressamente: “LXIX ~ conceder~ se-4 mandado de seguranga para proteger direito liguido ¢ certo, nao amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsivel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade piiblica ou agente de pessoa juridica no exercicio de atribuigdes do poder piiblico” Como ensina Celso Barbi, a “expressio direito liquido e certo no foi criada pelo legislador constituinte nem pelo legistador ordinario. Limitaram- se eles a busci-la na jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal, onde a introduzira Pedro Lessa, a0 tempo da formulacio da doutrina brasileira do habeas corpus, ¢ para aplicagdo a este” 10. Diversos autores estrangeiros se tém ocupado do estudo do insttuto brasilcire. Asim, Hector Fix-Zamudio (Enayor tore El Derecho de Ampars, México: Universidade Nac ‘onal Autonoma de México, 1993), Luis Atberto Viera (sy de Amparo, 28d, Montevides Idea, 1995), A Lei uruguala n° 16/11/88 ~ Ley de Amparo -, como ensina Views fo também inspirada na nossa Lei né 1.33/51 11. Cl. Gavaleant, Themiatocles Brandio, A Consttuigio Federal Comentada, IM, Rio {e Janciro: Konfino, 1949, p. 178. Em voto proferido no MS n! 333/36, 0 Ministro Carlos Maximiliane for a sepuinte observagso: “Nao aceito essa opinido, em primeira lugar, por gue 0 novo Instituto juridico nio tem origem romana nem ligagdo com o laventitio, © Gircto sucessério, ow coisa parecida. O mandado de seguranea procede de fonte norte fmcricana, Ais, a propria letra do texto leva a esta conclusio” Archive Jadicaro,. XL Rio de Janeiro: Jornal do Commercio de 05.01.37, p. 7) 12, Dai dizer Celso Barbi que o conceito de dirsito liquide ¢ certo & "a pedea de toquc, 4 ‘have de abdbada de todo 0 edifcio” (Do Mandado de Seguranca, 6+ ed. Rio de Jancis Forense, 1993, p. 55) ‘Mintaro Adbeimar erteira Maciel, 207321 ST}, DBZ ANOS A SERVICO DA JUSTICA Outra nio é a observagio de Themistocles Brandao Cavalcanti: “Pedro Lessa foi quem introduziu a expressio certo, liguido e incontestavel, nos julgados do ‘Supremo Tribunal, e apesar das criticas feitas, exprimia, com precisio, salvo o rigor da técnica das expresses usadas, as exigéncias dos juizes daquele Tribunal para que se pudesse ampliar o conceito clissico de habeas corpusa outros direitos que no os concernentes a liberdade fisica”."* Também Castro Nunes diz que “as origens da locugio mostram que se trata de um critério jurisprudencial, justificado pelas necessidades da adapta~ io do habeas corpus, na extensio dada a esse instituto pela antiga jurispru- déncia”"*, Mais para a frente, continua o ministro e publicista da primeira Republica, apés transcrever trecho de voto de Pedro Lessa no qual se utiliza dos adjetivos “incontestavel” ¢ “liquido”: “a formula direito certo e incontest. vel tem, pois, nesses antecedentes a sua origem, 0 seu comentario, a sua expl cago”. Efetivamente, Pedro Lessa, no HC n? 3.539, impetrado por Rui Barbosa no STF, esboga a idéia de que 0 direito liquido e incontestivel estava ligado a prova pré-constituida c rapidez da solucdo do conflite de interesses. Em seu voto- vencido disse Lessa: “A liberdade de locomogio & um direito fundamental, condigao do exercicio de um sem-nimeto de direitos. No segundo caso, 0 constrangi- mento se limita a privagi fim proximo o exercicio de um determinado direito, Nao esti o paciente da liberdade individual, quando esta tem por preso, nem detido, nem desterrado, nem ameagado de qualquer desses constrangimentos 4 liberdade individual. Apenas Ihe tolhem os movimen- tos necessitrios para 0 exerci io de um certo direito; ndo permitem que volte ao domicilio, que penetre na reparti¢ao onde ¢ empregado, que vi 4 praca publica onde se deve realizar uma reuniaio politica, ou & assembléia politica de que é membro. Neste segundo caso, diversa é a indagacio a que deve proceder o juiza quem se impetrou a ordem. Cumpre-Ihe verifi- car se o direito que o paciente quer exercer, € 0 do qual é a liberdade fisica uma condigdo, um meio, um caminho, é um direito incontestavel, se ndo hd uma controv: processo. Esta investigagao se impde ao juiz, porquanto o processo do habeas corpus ¢ de andamento répido, nao tem forma nem figura de juizo, ¢ ia sobre esse direito, gue deve ser dirimido em outro 13, A Consiitwiefo Federal Comentads, v, II. Rio de Janeleo: Kanfino, 1949, p. 208 14. Do Mandado de Seguranca e outros Meios de Defera do Direito contra Actos do Poder Pblico. Livasia Academics, 1937, p. 55 15, Ob. city p65. pourRina 01 conseguintemente no comporta 0 exame, nem a decisio de qualquer ou- tra questo judicial, que the queira anexar, ou que nele se pretenda inse- rir, Desde que esteja apurad: posicdo juridica inquestionivel, a situagao legal bem manifesta, de quem é vitima de uma coag: + que constitui 0 linico obstaculo ao exercicio de um direito liquido, nao é licito negar 0 habeas corpus”."* Em habeas corpus impetrado no meado de dezembro de 1914, para garantir 0 exercicio da presidéncia do Estado Rio de Janeiro a0 entio Sena- dor Nilo Peganha, reconhecido como eleito por uma facgio do Legislative local, Pedro Lessa (vencido), reiterando suas palavras anteriores, deixa bem claro que “direito incontestivel, liquide, certo” esti ligado a prova pré-cons- tituida,"” Outros ministros do STF também se prevaleceram da expressio incontes- tavel, como 0 fez Coetho e Campos no habeas corpus acima mencionado. Mais tarde, no Acérdio n® 5.514, de 24.12.1919, Edmundo Lins aderiu & nomenclatura lessiana."* Anda hoje no se acha pacificado 0 conceito de direito liguido e certa ‘Trata-se de uma condigdo" especifica da agi de mandado de seguranca? En- volve mérito? A resposta is indagacdes acima vai depender, em primeiro lugar, do direi- to positive de cada pais e, em segundo lugar, da concep¢ao doutrinéria ¢ até {filoséfica do operador do direito. © GPC brasileiro em vigor (1973), por influéncia doutrinéria do Te, Gosta, Edgard, O+ Grandes Julgamentos do Supremo Tribunal Federal, Primeiro volu sme. Rio de janeiro: Civilizag3o Brasileira, 1964, p. 224 17. Costa, Edgard, ob. eit p. 233 18. CE Araujo Castro, A Nova Consttuiezo Brasicirs. Freitas Bastos, 1936, p. 452 19. A teoria da agto tem sofrido, a0 longo dos anos, sobretudo depois do meado do século XIX (Bulow e Wach), constante oxigenacio dovrrinaria. Nosso CPC em vigor (1973) distingue os “pressupostos processuais” das “condicbes da aco". O juiz 56 pode chegss 3 pretensto resistida do autor, deduzida na peticio inical, se satisfeitos os equisitos para exame de mérito: 0s pressupostos processuais, que dizem respeito 4 validade e regularida edo processo, «as condicies da ac30, que se conexionam com a acio propricmente dita (CL arts, 3 € 267, 1V e VI). “No 4e confundem com os pressupostos processuals, pois tester dizem respeito apenas validade da relagfo processual, enquanta as candigaes da Scio ae relacionam com a possibiidade ou ndo de abter-re, dentro de um processo vido, ' sentenea de merito” (Theodore Jr., Humbert, Procesto de Conhecimento, 3+ ed, Rio de Jancito: Forense, 1988, p. 359). Quando ausente uma condigio que sa, 0 juz extn Boies 0 processo (que se prestopse vilido) por “caréneia de ac40™ (et, dentte outros, Moacyr Amaral Santos, Primeieas Linhas de Dieito Processual Civil, 5ed., Iv. Sa va: 1977, p, 146, Humberto Theodoro Jr, Processo de Conhicimento, ob, ei... 339), ‘Mite Adhere Masi 297321 Pry STI, DEZ. ANOS A SERVICO DAJUSTICA “abstracionista” Enrico Tullio Liebman, procurou abragar a doutrina do di- reito abstrato de agdo: a agdo judicial é dirigida contra o Estado, e nao contra aquele que resiste a pretensio do autor. E, na conceituagio de Alfredo Rocco, um “interesse secundario”, que ndo se confunde com o direito material (“inte resse primério”), ainda que possa ser-Ihe conexo. Em outras palavras, como 0 “credor” da pretensio insatisfeita no pode obrigar manu militari o“devedor” a satisfazé-lo, tem de provocar o Estado (juiz), pedindo-Ihe que o fasa, aplican- doo direito objetivo.” Antes mesmo do advento da primeira lei do mandado de seguranca, a Lei n® 191/36, autores de nomeada, como Carlos Maximiliano, ja se debru- cavam sobre a expresso constitucional (1934) dirvito certo e incontestavel, tentando entendé-Ia, esmiuga-la c defini-la.*! Castro Nunes chega mesmo a afirmar que o constituinte de 34, “temeroso da facilitagao da medida”, teria colocado no texto magno a expresso com o fito de “dificultar a concessio do mandado de seguranga”.O Ministro Carlos Maximiliano asseverava que se tratava de “direito transliicido, evidente, acima de toda duivida razoi- vel, aplicavel de plano, sem detido exame nem laboriosas cogitagdes”. Esse entendimento nos parece, hoje, numa perspectiva puramente histérica, com- preensivel para a poca, uma vez que o texto constitucional entio vigente (1934) se utilizava do advérbio manifestamente para modificar os adjetivos inconstitucional e ilegal. Mas, a partir da Constituigio de 1946, que suprimix 20, Joxé Frederico Marques ensina: “A asio, portanto, & dieito pablicn subjective, uma ver que é dirigido contra o Estado. Tatacse de dieito autbnomo, conexo a wma pretemsdo, © de cariter abstrato. E dieitoconexo a uma pretensio, porgue o pedide de cuelajurisdicional tem por fim tormar satsfeita a pretensio que gerou a lide. Nexos ¢ ligacdes existem, pportanto, entre a acio ¢ a pretensio, muico embora alo se confundam ¢ re apresentem distinas! a pretensio & ato juriico que contém exigéncia contra o réu; a ago € direico subjetivo contra 0 Estedo para pedirthe a ttela «0 recontecimento da pretensio” (Manual de Direito Processual Civil. 12" ed, v. I S, Paulo: Saraiva, 1987, p. 174). O conccita de ‘como de resto 0 de “proceso”, continua sempre em fermentaeio, ENo Fazzalari a" 0 conceto de asione. Nao & 56 "Ta parte che promuots il proceso (csi, nel proceso civle, Vator); ha la propria asione qualtiarsalira parte (con, ancora nel proceso cil, it lent): nf cateuma part ha una series poer, facta, doves ssegnaile are, con una sere dé ati, la sta pariecipasione al proceso, quindi #l fontaddiori” Counc’ di Dirino Pocesuals, 5# ed. Padova: Cedar, 1989, p 405), 21. Uma das primeira temtativas de interpreta a diccio constitucional“direito certo ¢incomtes- vel” partia do enedo Juiz Federal Cunha Mell, como sendo aquela “contra o qual se nis [podem opor motivus ponderiveis ¢ sim vagas aegacies cuia improcedéncia o magistrado ‘ote recinhecer imediatamente, sem necessidade de detdo cxame"(Flaks, Milton, Mnd- ode Seguranca ~ Pressupostos da Impetracio. Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 111) 22, Ob. cit, p. 63 23. Parccer, Jornal do Comercio de 28.08.34 Mina Adee Fees Maciel 297-331 ouTRINA ao © manifestamente ¢ trocow a expresso certo ¢ incontestavel por liquide e certo, ja no se podia mais falar em direito transhiicido, evidente, acima de toda dit vida razodvel. Por isso, no deixa de ser um tanto caturra a persisténcia de Carlos Maximiliano na mesma conceitua\ anterior, quando, nos Comen- tirios & Constituigao (1946), repetia que “cabe 0 mandado de seguranga quan- do se trate de direito transliicido, evidente, acima de toda diivida razoavel, apurivel de plano, sem detido exame, nem laboriosas cogitagdes”... “Direito liquido e certo € aquele contra o qual se no podem opor motives ponderaveis, , sim, meras ¢ vagas alegacdes, cuja improcedéncia o magistrado logra re- conhecer imediatamente sem necessidade de exame demorado, pesquisas di- ficeis; por outras palavras, é o que nenhum jurista de mediana cultura con- testaria de boa-fé e desinteressadamente”.." Esse pensamento doutrinério nio deixou de refletir no STF, como deixa transparecer o excerto de voto abai xo, do Ministro Lafayette de Andrada: “Vé-se que ndo pode haver direito liquido ¢ certo quando o assunto dit margem a variadas opiniges, variados entendimentos do texto legal. O di- reito liquido € certo exige sua comprovacio & primeira vista, sem se aprofundar em doutrinas ¢ controvérsias” (MS n® 1.514-DF, julgado em 20.02.52). © modo de pensar do Ministro Carlos Meximiliano, entéo Procurador- Geral da Repiblica®, ja havia sofrido critica de Castro Nunes: “entendidas desse modo as palavras do texto constitucional, s6 as questSes muito simples estariam ao alcance do mandado de seguranga, Mas taes questdes nio sio as que commumente dio entrada em juizo. Aliis, ocriterio que parecesse simples a um juiz, difficil e complicado poderia ser para outro, menos enfronhado no assumpto”* Alfredo Buzaid gasta algumas boas paginas e nao consegue, creio eu, preci- sar © que vem a ser 0 direito liguido e certo. Combate a conceituacio de Celso Barbi, que via no instituto conotagio ripicamente processual. Procura fazer um paralelo entre 0 conceito civilistico de titulo liquide ¢ certo com dircito liquid ¢ certo, nio logrando apontar um porto seguro para o entendimento da cléusula constitucional. “A nosso ver” ~ diz Buzaid -, “direito liquido e certo, para efeito de mandado de seguranga, no é aquele que se apresenta certo quanto & sua exis- 24, 5+ od, WIL, Freitas Bastos, 1954, pp. 16 e seg, 25. 0 Procurador-Geral da Republica era escolhido pelo Preside dos juizes do STF (Decreto n° 84/1890, art. 69 26. 0b. city 7.37 «da Repiblica dente um sou ST). DLZ ANOS A SERVICO Da JUSTICA téncia eliquido quanto ao seu valor, para usar a formula empregada pelo Cédigo Civil ao definir a obrigagao liquida (art. 1.533)” 2” Mais para a frente, continua 0 juspublicista patrio: “O que, a nosso ver, esclarece o conceito de direito liquido certo a idéia de sua incontestabilidade, isto é, uma afitmacio juridica que nio pode ser séria e validamente impugnada pela autoridade publica, que pratica um ato ilegal ou de abuso de direito”.”* Ora, percebe-se a fragilidade da conceituacao acima, que parte de ele- mento puramente subjetivo. © que seria uma “afirmagio juridica que ndo pode ser séria e validamente impugnada pela autoridade publica”? E 0 juiz que vai fazer a avaliagio da seriedade como se fosse a autoridade coatora? Claro que nao. Sérgio Ferraz” busca conceituar separadamente 0s adjetivos liguido ¢ certo, 0 que ndo me parece aconselhivel”: “Diremos” ~ afirma o eminente professor da PUCRJ ~ “que liquido sera o direito que se apresente com alto grau, em tese, de plausibilidade; ¢ certo aquele que se oferece configurado preferencialmente de plano, documentalmente sempre, sem recurso a dilagdes probatérias”. Indago: por que voltar-se i idéia de “plausibilidade” do direito subjetivo, se indo esté em jogo medida cautelar? Ainda que veja no “direito liquide ¢ certo” uma condigdo da acao criada no patamar constitucional, Sérgio Ferraz diz que 0 “direito liquide e certo” também implica deciso de mérito. Ninguém melhor do que o Ministro Costa Manso, do STF, conceituou 0 dircito corto e incontestével, Teata-se de voto célebre, hoje repetide por todos aqueles que abordam o tema, proferido no MS n® 333/1936, onde foi lide voto ja preparado para o RMS n® 324: “Bu, porém, entendo que o art. 113, n® 33, da Constituigao empregou © vocabulo direito como sindnimo de poder ou faculdade decorrente da lei ou norma (direito subjectivo). Nao alludiu & propria lei ou norma (direito objective). O remedio judiciario nao foi criado para a defesa da lei em these. Quem requer o mandado, defende o seu direit isto é, 0 direito subjectivo, reconhecido ou protegido pela lei. O direito subjectivo, o dircito da parte 27. “Considera-s liguida a obrigagio cera, quanto 3 sua exsténcia, € detcrminada, quanto a0 seu objeto" 28, Do Mandado de Seguranga, vf, Saraiva, 1989, pp. 85 seg. 20. Mandado de Seguranca (Individual e Coletivo) ~ Aspectos Polzmicos, Malhires, 1992, p. 24. 30, Também Direito, Carlos Alberto Menezes, [az a motma observagie quanto 4 inconve nigneia de analisa-ss, separadamente, os asjetivos (Manual do Mandade de Seguranca, 2+ fd. Rig de Janeiro: Renovar, 1994, p37). pourrina 05 € constituido por uma relagao entre a lei e 0 facto. A lei, porém, é sem- pre certa e incontestavel. A ninguém é licito ignoral-a, com o silencio, a obscuridade, a indecisio della ndo se exime o juiz de sentenciar ou despachar (Cédigo Civil, art. 5° da Introdugio). Sé se exige prova do eito estranjeiro ou de outra localidade, ¢isso mesmo se nao for noto- riamente conhecido. O facto é que o peticionario deve tornar certo e incontestivel para obter mandado de seguranga. O dircito sera declara~ do e applicado pelo juiz, que langaré mio dos processos de interpretagao estabelecidos pela sciencia, para esclarecer os textos obscuros ou har- monizar os contraditorios. Seria absurdo admitir se declare o juiz inca- paz de resolver de plano um litigio, sob o pretexto de haver preceitos Iegaes esparsos, complexos ou de intelligencia difficil ou duvidasa, Des- de, pois, que o facto seja certo ¢ incontestavel, resolverd o juiz a questéo de direito, por mais intrincada e difficil que se apresente, para conceder ou denegar o mandado de seguranga”.™ © Ministro Castro Nunes, jé em 1937, quando vigia a Lei n® 191/36, é muito claro a respeito do tema: ‘Direito certo e incontestavel, para os effeitos do mandado de segu- ranga, se define por uma condigdo processual e pelo tedr da obrigagao que incumba 4 autoridade. Condicao processual é a possibilidade de provar de plano, documentalmente, os pressuppostos da situagao juridica a preservar do acto lesivo ¢ a violagao ou ameaga de que se queixa o impetrante, susceptivel, em regra, de prova official. A segunda indagagdo é 0 merito da questi, o exame da legalidade do procedimento da autoridade, 0 direito de cexigir da autoridade o cumprimento de um dever funcional”. Ainda que no esteja pacificada a conceituagio de direito liquido e certo, tanto na doutrina quanto na jurisprudéncia, uma pesquisa em decisdes do STF mostra que vai prevalecendo, a0 longo dos anos, a tese de que a express dircito liquido ecerto esta ligada a prova pré-constituida, a fatos documentalmente provados com a inicial: “Deixa de ser liquido ¢ certo o direito do impetrante, se demanda de provas para a sua verificacio. Impropriedade do mandado de seguranga, 31, Archivo Judiciari, v. XLI. Rio de Janeiro: 0 Jornal do Commercio de 03.01.37. 32. Ob cit, pp. 61 © see, 06 ST), DEZ ANOS A SERVICO DA JUSTICA esse caso” (RMS n? 1.548, Min, Mario Guimaraes, DJU de 19.05.52, p. 2.276). “Retificagao de limites do territério do novo Municipio. Questées de alta indagagao”, insusceptiveis de apreciagdo em mandado de seguranga. Recurso desprovido”. (Ementa do RMS n? 4.953-RS, Min. Barros Monteiro, DJU de 02.05.58). “Mandado de seguranga. Ao relator ¢ facultado o indeferimento in limine, cabendo agravo de tal despacho. Nao cabimento do remédio, pois 0 caso nao é daqueles em que, por ser possivel excluir a controvérsia sobre ‘matéria de fato, 0 mandado de seguranga serve ao reconhecimento de direito liguido e certo, demonstravel desde logo pela sé exibigao de documentos, em confronto com a lei aplicivel” (RMS n° 1.912, Min. Luis Gallotti, DJU de 14.12.53,p. 3.781), “Mandado de seguranga e direito a vencimentos. Diividas na situagdo dos impetrantes ainda quanto entidade devedora. Inocorréncia de direito liquido e certo, Indeferimento do torit” (MS n* 2.174, Min. Orosimbo Nonato, DJU de 08.07.54, p. 7.985). “Mandado de seguranga. Posse e dominio. Questdes de fato. Auséncia de direivo liquide e certo. Decisao judicial. Improcedéncia do pedido. Denegagao do recurso” (RMS n® 2.478, Min. Ribeiro da Costa, julgamento em 01.10.54) “Mandado de seguranga, Denegacdo, desde que no se demonstra direito liquide ecerto,tanto assim que, ainda nas razdes de recurso, o impetrante oferece 33, Os pranistas considcravam “questio de alta indagagio" a que envolvia fatos complexos, apuraveis somente através do procedimento ordinério. “As questbes de alta indagecdo 50 ‘mente podem ser promovidas em agdes cujosritos sejam ordindtos. E, se aventadas em aces especias, devem ser trazidas a e¢do propria, para que, por el, seguidas as formalida- des processuais que se mostrem indispensiveis, se solucion: a pendéncia® (De Pléeido « Sliva. Vocabulario Juridico, 11 ed.,¥.1. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 139).No verbete “Alta indagacio”, n. 4, J.M. de Carvalho Santos, coadjuvado por José de Aguiar Dias, anota: "Houve, entretanto, scrias divergéncias entre notaveis juristas sobre a ‘conceituacio de “alta indagacio”, Sustentaram tins que casos de “alta indagacdo” eram, apenas, oF que envolviam questoes de fato, dependentes de producto de prov {que outros defendiam a tese de que podiam existir questies de dreito de alta indagacio, desde que fossem difices intrineadas" (Repertério Enciclopédico do Direito Brasileiro, v IIE Rio de Janeiro: Bors, p. 211). novos documentos ¢ pede a requisigio de outros, 0 que se nio concilia com a indole daquele remédio sumarissimo. Recurso nao provido” (RMS n®2.484, Min. Luis Gallott, julgamento em 06.04.55). “Mandado de seguranca. Nao cabimento, se a matéria a ser decidida envolve questies de fato, sujeitas a irduos meios de prova e exame incompa- (RMS n? 2.954, Min. tiveis com o requisito de liguides ¢ certeza do direit Luis Gallowti, julgamento em 08.03.55). “Mandado de seguranga, Auséncia de dircitoliguida e corto. Questdes de {fato a serem apuradas. Nega-se a seguran¢a” (RMS n* 3.079, Min. Lafayette de Andrada, julgamento em 04.04.56). “Aforamento. A dependéncia de prova mostra a inexisténcia de direito liquido ¢ certo” (RMS n? 5.481, Min. Candido Motta, julgamento em 09.07.58), “Mandado de seguranca: deve ser denegado quando Ihe falta do- cumentagdo hibil, que mostre o direivoliguido e certo” (RMS n® 6.099, Min. Afranio Costa, julgamento em 24.11.58). “Mandado de seguranca; no ha dircito liguido e certo dependente de provas a serem produzidas posteriormente. Funcionsrio civil ou militar em missio oficial no estrangeiro, no esti por esse fato autorizado a trazer bens ‘que mandou adquirir em diversos paises e importi-los desses paises para 0 Brasil” (RE n® 39.282-DF, Min. Afrénio Costa, DJU de 30.01.60). “Recurso extraordinario, Interposto de acérdio concessivo de manda- do de seguranca. Rejei¢io liminar. Agravo desprovido. Direito liguido ¢ certo verificado em face da prova”(Ag n® 27.428, Min, AnténioVillas Boas, DIU de 18.10.62, p. 1.569). “Miaquinas trazidas do estrangeiro. Licenga de importagdo. Matéria que depende de exame de prova escapa ao remédio constitucional” (RMS n?9,513-DF, Min, Candido Motta, julgamento em 11.07.62) “Funcionérios publics interinos. Nao é Higuido nem certo direito que pleiteiam aos cargos para que foram nomeados outros candidatos aprova- dos em concurso. Em mandado de seguranga nao se examinam fatos contes- Miao Adhenes Femeia Nace 7323 ms ST), DEZ ANOS A SERVICO DA JUSTIC tados, contestiveis e dependentes de prova. Indeferimento” (MS n® 8.584- DF, Min, Pedro Chaves, DJU de 17.12.63, p. 4.432). “Nao ha matéria de direito, que se possa considerar complexa, para solugdo no mandado de seguranga. Complexa é s6, na ligto dos Douto- res, a matéria de fato, que nao possa ser deslindada por documentos fora de diivida. No caso dos autos, no hé controvérsia em torno dos fatos, reconhecides por ambas as partes. Tudo gira em torno de decretos ¢ atos dos Governadores ¢ da interpretacao de leis. Logo, a matéria pode ser decidida por via de mandado de seguranga, quanto a este ponto”(Excerto do voto do relator, Ministro Aliomar Baleeiro, no RMS n? 11.353-PR, publicado na RTJ 39, p. 464) “Mandado de seguranga, Autorizagio de pesquisa de arcia, Nio sendo certos os fatos, uma vez que a versao do impetrante colide com as informagdes da autoridade, ndo é possivel o exame dos efeitos juri dicos acaso resultantes dos mesmos fatos. Inexisténcia de direito li- quido e certo. Denegagio do mandado de seguranga”(MS n® 18,370- DF, Min, Eloy da Rocha, DJU de 29.12.09, p. 0.233). “In casu ha controvérsia em torno da matéria de prova, de modo a afastar a propriedade do mandado de seguranga, que pressupde direitoligui- do e certo. Recurso provide” (RE n® 70.558-SP, Min. Djaci Falcio, DJU de 14.06.71). “1, Funcionario publice dirigente de associagio de classe e que fez crit ‘cas pela imprensa, 4 administrago a que serve. Falta disciplinar punida. Agio de seguranga proposta contra o autor da punigio. Ditvida sobre se foi punido por ser funciondrio ou por ser diretor da entidade. Trata-se de matéria que envolve fatoincerto e que, por isso, nao pode ser julgada por meio da sobretida demanda, que pressupée faro indiscutivelmente certo. Recurso extraordinario nio conhecido” (RE n? 72.646, Min, Antonio Neder, DJU de 07.11.77, p. 7.832), “Mandado de seguranga. Prova. Acérdao que, em face das cireunstin- do caso, entende que sio elas aptas para a demonstragio da certeza do Jato nio viola 0 § 21 do art. 153 da Constituigio Federal, nem o artigo 18 da Lei n?® 1.533/51, pois nenhum dos dois dispositivos trata dos meios de prova que podem produzir no juiz a convicgao da certeza dos fatos alegados, ¢, conseqiientemente, da existéncia de direito liguido ¢ certo a que ambos Miso Adbemar Fees Matick 297301 _ pourra so aludem. Dissidio de jurisprudéncia nao comprovado em face dos termos do art. 305 do Regimento Interno do STF. Recurso extraordinério nio conhe- cido” (RE n 89.687, Min. Moreira Alves, DJU de 11.12.78), “Nio € possivel conceder mandado de seguranga sem o exame da do- cumentagdo na qual se funda o alegado direito liguido ¢ certo. Agravo regi- mental desprovido” (AgReAg n° 83.698-RJ, Min. Soares Mufioz, DJU de 09.10.81, p. 10.056). “Recurso extraordinario, Prequestionamento, Siimulas n¥ 282 ¢ 356. Matéria relativa a compensagdo de crédito tributirio que, a par de nio requestionada, ndo guarda similitude com asistematica da nao cumulatividade do ICM. Mandado de seguranga. DireitoFquido ecerta Inexisténcia de ofensa 0s pressupostos processuais do mandado de seguranga visto que a contro- vérsia encerra questées de direito, no de fato, sob controvérsia. Recurso extraordinario nio conhecido” (RE n® 96.842-RJ, Min. Rafael Mayer, DJU de 27.08.82, p.8.180). “Recurso extraordinario: exigéncia de prequestionamento, no acérdio recorrido, dos temas constitucionais suscitados.. 2. Mandado de seguranga. Dircito liquido ¢ certo. O direito liquido e certo, pressuposto constitucional de admissibilidade do mandado de segu- ranca, & requisite de ordem processual, atinente a existéncia de prov ine- quivoca dos fatos em que se basear a pretensio do impetrante e nio a proce- déncia desta, matéria de mérito” (cfe. STF, Plen., AgRg MS n® 21.243, 12.09.90). (RE n® 117.936-RS, Min, Sepilveda Pertence, DJU de 07.12.90, p.257) “Mandado de seguranga. Militar. Promogao. Artigo 8% do ADCT. Sendo controvertidos os fatos alegados, no hi direito liquido e certo a permitira concessio do mandado de seguranca. Recurso ordindrio a que se nega provimento” (RMS n® 21.567-DF, Min, Moreira Alves, DJU de 30.10.92, p. 19.515). “Mandado de seguranga. Desapropriagio de imével rural para fins de reforma agraria, Alegacdo de se tratar de média propriedade, em face da rea aproveitivel Sendo 08 fatos controvertidos, nfo ha como pretender-se, no caso, a existéncia de direitoliguido e certo ‘Minisao Adhemar Fersciza Macich 297.321 uo STI, DEZ ANOS A SERVICO DA JUSTICA ‘Mandado de seguranca indeferido, cassando, em conseqiiéncia, aliminar concedida, mas ressalvando-se a0 impetrante o uso das vias ordinérias” (MS n® 21.971-PE, Min. Moreira Alves, DJU de 16.06.95, p. 18.214) “Mandado de seguranca. Recurso ordinirio, Multa por ocupagdo irre gular de imével funcional. Em se tratando de mandado de seguranca em que a prova tem de ser feita, com a inicial, pelo impetrante, nao é admissivel que se reconhega a cle, diante da afirmagao, da autoridade impetrada, de que a ocupagio & ittegular, direito liguido ¢ certo quanto a regularidade dessa ocupagio com ase em mera praesumptio hominis. Recurso ordinirio a que se nega provimento” (RMS n® 22.135-DF, Min. Moreira Alves, DJU de 20.10.95, p. 35.262)."" direito liquide e certo & uma “condicao especial” da aglo de mandado de seguranca. Em outras palavras, o impetrante, para que possa utilizar-se desta a¢ expedita, prevista na propria Constituicéo, deve provar com a inicial, através de documentos, o que afirma, Se ndo tiver documento, se ni tiver prova pré-consti- tuida, nao tem direito liguido e certo. Essa a condi¢do legal imposta para que 0 autor (impetrante) se utilize desse instrumento processual constitucional. O paré- grafo unico do art. 6% da Lei n? 1.533/51, por outro lado, reforga a tese processual do direito iguido e certo como condigdo da aio: “No caso em que o documento necessirio & prova do alegado se ache em repartigio ou estabelecimento publico, ‘ou em poder de autoridade que recuse fornecé-lo por certiddo, o juiz ordenara preliminarmente, por oficio, a exibigdo desse documento em original ou em cépia auténtica e marcaré para cumprimento da ordem o prazo de dez dias. Se a autori- dade que tiver procedido dessa maneira for a propria coatora, 8 ordem far-se-a no proprio instrumento da notificagao. O eserivao extrairé cépias do documento para junté-las é segunda via da petigdo”. Também o art. 15 da LMS vem em socorro dessa argumentagdo: “A decisio do mandado de seguranga nao impedira que 0 requerente, por ago propria, pleiteei os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais”. Dai notar Seabra Fagundes que tal caminho apontado “somente pode ter como objetivo ensejar uma formulagdo mais completa da prova, pois a demonstragio do direito, em face dos textos, ha de ser substancialmente a mesma jf feita no requerimento do mandado”.” “do autor. As ementas eanseritas foram tra 5 do “Informe Juridico — versio 35. 0 Controle dos Atus Adminisrativos pelo Poder Judicirio, # ed. Rio: Forense, p. 280. ‘Mian Acar Fer Masih 207531 OUTRINA au ‘Tecnicamente, entio, seo impetrante nio juntar a documentagio, compro- vando 0 fato deduzido na inicial, ou sea apuragio dos fatos exigir outras provas, deverd ser considerado, dentro de nossa sistematica processual, carecedor da se- suranga. Em outeas palavras, 0 juiz ndo entrar no mérito, e extinguiré o proces- so com base no art, 267, VI, do CPC. Esse também é 0 entendimento da Profes- sora Luicia Valle Figueiredo: “Impende, pois, que os juizes, quando entende- rem ndo haver dircito liguido e certo, por necessidade de dilagio probatéria, no deneguem a seguranga, porém extingam-na por caréncia dessa via processual Com efeito, com a denegagio supde-se ter sido o mérito percutide”.» Celso Barbi, em seus Comentarios ao Cédigo de Processo Civil” lembra que para Chiovenda as expressdes “caréncia” e “improcedéncia” da ago sao equi- valentes. “Se 0 juiz conclui que 0 autor nao tem dircito de agdo, tanto faz que a conclusio decorra da falta de legitimidade, da falta de interesse, ou de nao cexistir a vontade concreta da lei alegads pelo autor; em qualquer desses casos, o autor carece de ago, no tem ago, vale dizer, sua agdo nao tem procedén- cia, ¢ improcedente” Penso que o saudaso mestre da Casa de Afonso Pena nao tem razio. Ain- da que doutrinariamente possa no haver diferenca, trata-se de distingao feita pelo direito positive brasileiro. A doutrina de Liebman, como se sabe, ft bsica na configuracio de nosso CPC. Ji nos primeiros anos da década de 40, em Estudos sobre o Processo Civil Brasileiro catedratico de Pavia insistia, apés falar em legitimatio ad causam e em legitimo interesse: “Estes so, pois, os, requisitos que devem preencher a lide para poder ser julgada, porque sem eles a lide esté mal proposta ¢ nio oferece as garantias de uma solugio justa e adequada do conflito de interesses, para cuja eliminagio se invocou a autori- dade da lei ea sabedoria do Poder Judiciairio. Recebem o nome de condigdes da agdo, porque so verdadeiras condigdes de existéncia da ago, requisitos cuja falta produz a caréncia da agao”.* Luiz Machado Guimaraes comunga do mesmo pensamento de Liebman: “A caréncia da agao, portanto, nada tema ver com a eventual inexisténcia do direito subjetivo afirmado pelo autor (hipétese de improcedéncia da ago), nem com a possivel inexisté cia de algum dos requisitos, ou pressupostos da relagio processual (hipétese de nulidade do processo). E situagao que diz respeito apenas ao direito de ago e que pressupe a autonomia deste direito.”” 36. Mandado de Seguranca. S. Paulo: Malheiros, 1996, p. 176 37. Vol Led, Rio de Janeiro; Forense, 1995, p. 21 38. S, Paulo: Saraiva, 1947 439. Estudos de Ditto Processual Ciil Rio de Janciro-S, Paulo: Juridica Universitvia, 196, . 96 Minis Acar Feira Mace 3732 aa. ST), DEZ ANOS A SERVICO DAJUSTICA (Como ensina Arruda Alvim, as condigdes da agdo (em geral) “sdo requisitos de ordem processual, inerinsecamente instrumentaise existem, em iltima andlise, para se verificar se a aco devera ser admitida ou nao. Nio encerram, em si, fim definitivo algum; sio requisitos-meios para, admitida a aco, vir a poder ser julga- do o mérito (a lide ou o objeto litigioso, respectivamente, principalmente na lin guagem de Carnelutti, e, na dos alemaes)”.“° Corretissima me parece a decisio abaixo, do Ministro Imar Galvao, quando compunha o ST} \dministrativo, Radiodifusdo. Interferéncias de uma emissora nas transmissdes de outra. Mandado de seguranca visando a compelir 0 Mi- nistério das Comunicagdes a coibir a irregularidade de interferéncias ne~ gadas pela autoridade e pela emissora apontada como irregular, com base ‘em laudo de medigao elaborado por técnicos indicados pelas partes em lide. Patavra final que somente poderd ser obtida por meio de pericia técnica judicial, que sincia de direito liquido e certo, que conduz & caréncia da a¢do. Ressalvada a ‘comporta no rito do mandado de seguranca. Au- impetrante a faculdade de renovar a sua pretensio pela via ordindria” (MS n® 58-DE, DJU de 21.08.89, p. 13.321). Com idéntica precisio técnico-processual, o Ministro Galvio, ja no STF, assim ementou, como relator designado, o MS n° 21.575-DF, publicado no DJU de 17.06.94, p. 15.707: “Mandado de seguranga. Decreto homologatério da demarcagao ad- ministrativa da drea indigena denominada Guasuti, no Estado de Mato Gros- so do Sul. Alegada ilegalidade, por tratar-se de terras particulares, detidas por produtores rurais, com base em titulos de dominio que remotam a 1920, Controvérsia cuja dilucidagio implica a necessidade de apurar se, con quanto desocupadas pelos indios ha cerca de 50 anos, como alegado, as terras em questo, em alguma época, teriam saido do dominio da Unifio, circunstancia sem a qual ndo se poderia reconhecer legitimidade a alien: ‘so que, segundo se alega, delas fez o Estado-Membro, iniciando a cadeia dominjal ora exibida pelos impetrantes. ‘Questio insuscetivel de ser dilucidada sem ampla instrugie probatéria, que o rito do mandado de seguranga nao comporta. 40. Tratado de Direito Procestua! Civil, . 1. 8. Paulo: RT, 1990, p. 384, ‘AL lnforma Jutidico ~ Base de Dados ~ ProLink ~Vers8a 9-CD, Ialico do autor. ~ Mises Aico Feria Maciek 297501 DoUTRINA 33 Caréncia da ago”. Ainda que proferida em recurso extraordinirio,a decisio abaixo ementada se acha relacionada com a questio de direito liquido e certo como condigdo da ago de mandado de seguranga: “Carincia de agdo decretada por insufciéncia de provasteazidasajuizo, para cterizagio do direito postulado em mandado de seguranga. Nio tendo sido ventilado, no acéndio recorrido, odispositivo constitucional dade como contra- riado (art. 23, I), nem estando configurada adivergéncia coma Simula n?271, prevalece 0 dbice previsto no art, 325, III Gin fine) do Regimento Interno. Recurso extraordindrio de que nio se conhece” (RE n? 110.656-SP, Min, Octavio Gallotei, DJU de 10.10.86, p. 18.935). Fiel “corrente processualista” do direito liquido ¢ certo, assim ementei © MS n® 195-DF, julgado na 1" Secio do STJ em 31.10.89, e publicado no DJU de 19.02.90, p. 1.395: “Mandado de seguranca. Dispensa sem motivagdo de empregado concursado, Razies politicas. Falta de direito liguido e certo, Ressalva das, vias ordinérias I-A impetracio é contra ato que indeferiu a reintegray empregado publicamente concursado, dispensado hé mai sim, niio se pode falar em decadéncia. 10 do impetrante, de oito anos. As- Il-© mandado de seguranga, embora seja uma ago, exige uma condi- edo especial:a do direito liquido e certo, Dessarte, quem nie consegue provar documentalmente aquilo que afirma nio tem como se prevalecer da via leita, Nos autos nao ha prova de que o impetrante tenha sido dispensado por razies ideoldgicas. Ao contrério, ha indicios de que o motivo da dis- pensa tenha sido outro, III - Caréncia da agao por falta de direito liquido e corto. Ressalva das vias ordinarias, onde a dilagao probatéria é a m: ampla possivel.” Quando integrante da 3® Segio de STY, elaborei, come relator desig- nado, a seguinte ementa: “Administrativo. Mandado de seguranga. Iméveis funcionais adminis- trados pelas Forcas Armadas. Cadastramento para efeito de compra. ranga concedida, Minar Acar Ferer Macch 3732 ua ST), DEZ ANOS A SERVICO DA JuSTICA I- Dez sio os impetrantes. Vindicam o cadastramento de iméveis fun- cionais por eles ocupados. A Se¢ao tem jurisprudéncia firmada no sentido de que o servidor civil de imével administrado pelas Forcas Armadas tem direito a0 cadastramento para efeito de compra. No caso concteto, $6 qua~ tro dos impetrantes satisfazem as exigéncias materiais ¢ processuais IL - Seguranga concedida quanto aos quatro primeiros. Quanto aos demais, trés sio carecedores da agdo de seguranga por falta de direito ligui- do e certo (fatos controversos) e trés nao tém direito ou por serem militares ou por nio terem demonstrado a regularidade ocupacional.”(MS n° 2.477- DF, DJU de 27.09.93, p. 19.772). Gelso Barbi, sem diva alguma o maior paladino do dicta liguido ¢ cero como condiydo especial da agao de mandado de seguranca, apés consideragdes sobre a conceituagio de Costa Manso, diz:"Como seve, o conceito dediretoliquidoe certo tipieamente procesua, pois arende ao modo de ser de um direto subjtivo no processo: a creunstincia dem determinad direto subjetivo realmente exist ndo The daa caracterizagio de liquides e certza; esta s6 the €atribuida se os fatos em quese fundar puderem ser provados de forma incontestive, certa,no proceso. Eisto normalmentes6 se dé quando a prova for documenta, pois esta éadequada a uma ddemonstragao imediatae segura dos fatos" +? A respeito do direto liquido e certo, como requisito puramente process, sublinha Seabra Fagundes: “Assim, ter-se-a como liquido ¢ certo o direito coujos aspectos de fato se possam provar, documentalmente, fora de toda a divi= da, © diteito cujos pressupostos materiais se possam constatar pelo exame da prova oferecida com o pedido, ou de palavras ou omissies da informagdo da autoridadeimperrada”? Hely Lopes Meirelles, embora nio tena sido muito claro no inicio de sua conceituagio de dirctoliguido e certo", acrescenta que “em iiltima anilise, dirit liguido «cert édireito comprovado de plano. Se depender de comprovacio posterior, nfo liquido nem certo, para fins de mandado de seguranga. Eviden- temente, 0 conceito de liquidez e certeza adotado pelo legislador do mandado de seguranca nio é 0 mesmo do legislador civil (CC, at, 1.533). E um conceito impréprio~ emal-expresso ~ alusivo a precisio e comprovagio do direitoquan- do deveria aludir a preciso e comprovagao dos fatos ¢ situagdes que ensejam o exercicio desse direito”. 42. Do Mandado...pp. 61 ¢ seg, 43. Ob. cits p. 279. 444, Mandado de Seguranca, Acdo Popular, Acio Civil Pablica, Mandado de Injuncio e Habeas, Data, 154 ed. atualizada por Arnoldo Wald, Malheitos, p. 25 45. 0b. cit. p26 Mii Acar Fer Mace 297321 pouTRINa. as Ovidio A. Baptista da Silva, que defende convictamente a categoria das ages mandamentais“, sintetiza seu pensamento quanto a expressio “direito li- quido e certo”: “A regra, portanto, é a seguinte: estando os fatos claramente demonstrados nos documentos com que o autor do mandado de seguranga ins- truiu o pedido, a maior ou menor complexidade da quaestio iuris, é irrelevante para descaracterizar a “certeza” do direito, Por mais controvertido que ele seja, no plano da existéncia somente pode haver duas alternativas: ou o direito existe ou ndo existe, independentemente daquilo que o julgador possa pensar a seu respeito”.!” No mesmo diapasio €0 ensinamento de Silvio de Figueiredo Teixeira, que lembra Lopes da Costa, quando esse tiltimo fala em “proceso documen- tal” do dircito alemao."* O LivroV da ZPO alema (§§ 592 a 605a),¢ certo, cuida do “Processo documental e cambiério” (Urkunden-undWechselprozess). Tal ago (Klage) ¢ admitida quando se tem a pretensio (Anspruch) de receber dinheiro ‘ou coisa fungivel. Os documentos devem acompanhar a peti¢ao inicial.” Outro nao é o entendimento de Ernane Fidélis dos Santos: de liquides ¢ certeza do direito defendido ¢ processual ¢ nao material, mesmo porque, embora entendendo-se que o autor tenha direito a aco, onde se re- quer seguranga, a sentenca poderd afirmar que o diteito no exista. Direito liquide ¢ certo é o que pode ser reconhecide apenas pela apreciago do mode- lo juridice proprio com 0 fato nele adequado, sem necessidade de se socorrer de provas, ou quando muito somente da documentagao induvidosa, onde se ‘O sentido 46. Difculdade maior estd na conceituapdo da “natureza juridica” do mandado de seguranes ‘Seria agla de cognicio? Executiva? Cautclar? Chegouse mesmo a riat uma quarta moda~ lidade: agdo mandamental. Pontes de Miranda e Lopes da Costa se utlzaram 3 larga dessa denominacio de G. Kuttner, em seu Uneiisoirkungen ausserhalb des Zivilprozesses, ivulgada sobrctudo por James Goldschmldt, quando esse ultimo afirmava que “acho de mandamento se encaminha a ober um mandado dirigido a outro drgia do Estado, por reio da sentenca judicial” (Devecho Proceial Trad. de Leonardo Castro Prieto. Labor 1936, p. 115). Sobre a eerminologia kutinerian, diz Milton Flaks: “No conceito clssien dde Kutener, agdes mandamentas seriam aquelas em que o julz, sem resolver a telagio de diteto exintente na funda do litigio, ardema a outro deBio do Estado que pratique ou ‘omita um ato de seu offi, a pedide da parte vencedora, A (cora soft criicas por 830 {terem tas ages um conteido diferente das outras demandas,distinguindo-se,tio-somen {e, por um efetoespecifico. Desse mado, 0 mandado de seguranca nio se ajustaia, peri tamente, i definiclo de Kuttner, uma vez que o juiz ado se abstém de solucionar 0 onfito bisieo existence entre o impetrante e a autoridade” (ob. cit, p. 26) 47. Curso de Processo Civil, I. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1990, p. 274 4B, Mandado de Seguranca: uma Visio de Conjunto (Mandados de Seguranca ¢ de Injuneio. Saraiva, 1990, p. 110). 49.“Agio ou a peticda preparatéria se devem fazer acompanhar dos documentos, 90 original ou ‘em cépia” (Dis Urhunden mucsen im Urichrift oder in Abschrift dor Klage oder einem orbereitonden Schniats begfgt werden (5 593, 2). ‘Nino Aer Fer Macc 7321 a6 ST). DIZ ANOS A SERVICO DAJUSTICA resume e se esgota toda a indagagao probatéria do fato. Se a questio depender de outras provas, as vias ordinarias sio o caminho especifico”.** 0 Prof. Celso Ribeiro Bastos também comunga do entendimento de que o direito liquido e certo tem natureza puramente processual: “De todo 0 exposto resultam diversas conclusdes. Em primeiro lugar, direito liquido e certo é concei- to de ordem processual, que exige a comprovacio dos pressupostos fiticos da situagio juridica a preservar. Conseqientemente, dircito liquido e certo ¢ conditio sine qua non do conhecimento do mandado de seguran¢a, mas nio ¢ conditio per quam para a concessio da providéncia judicial”. Em artigo doutrinirio, o Ministro Carlos Mario Velloso endossa 0 “conceito processual” do mandado de seguranga, uma vez que se reporta a ligdes de Celso Barbi, Lopes da Costa c Sélvie de Figueiredo Teixeira. Quando ministro do ST], de modo coerente, considerou o “direito liquido e certo” conexionado com os “fatos” (provados). E 0 que se infere da ementa seguinte: “Cons quido e certo. I~ Direito liquide e certo, que autotiza o ajuizamento do mandado de .cional. Processual Civil. Mandado de seguranga. Direito seguranca, diz respeito aos fatos. Incontrouersos estes, possivel o ajuizamento do writ, porque ao juiz sera possivel 0 ajuizamento completar a rela¢ao fato-direito positivo de que pode resultar o direito subjetivo. Qualquer di- reito subjetivo, publico ou privado, desde que liquide ¢ certo, pode ser defendido por meio do mandado de seguranga. II- Embargos de declaragdo rejeitados.” (EDc! no MS n° 124-DF, DJU de 06.08.90, p. 7.311), A jurisprudéncia do STJ, de um modo predominante, tem ligado o “direi- to liquido e certo” a “prova pré-constituida”. Contudo, como se vera das ementas abaixo selecionadas, no hi maior preocupagio em tomar o direito liquido e certo como condigao especial da aco. Dai falar-se em “indeferir”, ‘denegar” ou até mesmo ~ como se se tratasse de recurso ~ em “no conhecer” do writ 50, Manual de Direito Processuat Civil, 3* ed, v. 3. Saraiva: 1994, p. 169. 51. Comenticios 4 ConsttuicBo do Beasl, 2. Saraiva: 1989, p. 331 52, "O conceto, portant, de dircto liguido e certo, ensina Gelso Barbi, cde que & também, de Lopes da Gosta ¢ Salvio de Figueiredo Teixeira, ¢ processual” (Do Mandado de Seguranca ¢ Constituigio de 1988, Artigo douttindsio publicado na coletinea organizada por Silvio de Figueiredo Teixeira (Mandados de Seguranca ¢ de DOUTRINA Py “Mandado de seguranca. Fato incontroverso, O mandado de seguranga, porque exige demonstracio de diveitoliguido e certo, requer fato incontroverso, insusceptivel de dilagde probatéria” (MS n® 505-DF, Min. Nilson Naves (relator designado), DJU de 17.12.90, p. 14.334). “Mandado de seguranga. Fatos controvertidos. Auséncia de direitoligui= do e certo. Nao conhecimento do writ.” (MS n° 259-DF, Min. Américo Luz (relator designado), DJU de 21.05.90, p. 4.420), “Recurso ordinario, Mandado de seguranga. Dircito liguido e certo. No mandado de seguranga, considerado 0 procedimento especial, a prova deve ser preconstituida. Denega-se 0 mandamus quando 0 fato descrito na causa-de-pedir ino se mostra isento de duivida” (RMS n? 514-RJ, Min. Vicente Cernicchiaro, DJU de 17.12.90, p. 15.349), “Processo Civil. Mandado de seguranga. Processo Civil. Fundando-se 0 mandado de seguranga em direito liguido ¢ certo, que pressupde incidéncia de regra juridica sobre faros incontroversos, nao se de- fere 0 writ quando a alegacio se apresenta érfii de prova” (RMS n¥528-BA, Min, Silvio de Figueiredo, DJU de 29.10.90, p. 12.147). “Agdo de nunciagao de obra nova, Embargo liminar. Pedido de prosse- guimento da obra, mediante caugio, cuja apreciago se remeteu para apés realizagio de pericia. Mandado de seguranga. Inexisténcia de direito liquido e certo do recorrente, jd que existem ditvidas fundadas sobre matéria de fato, notadamente em vista do que dispde 0 artigo 940, § 2°, do Cédigo de Pro- cesso Civil” (RMS n® 641-RJ, Min, Eduardo Ribeiro, DJU de 18.03.91, p. 2.798). “Mandado de seguranga, Direitoliquido e certo, Auséncia, Impossivel a concessio de seguranca, havendo fatos controvertides. Recurso ordinéio improvido” (RMS n#713-SP, Min. Cliudio Santos, DJU de 11.03.91, p. 2.391), “Mandado de seguranca. Prova do direito liguido e certo Por sua natureza, nas a¢des de mandado de seguranea, com a inicial deve o impetrante fazer prova indiscurivel, completa e transparente de seu dircito liquido e certo, Nao é possivel trabalhar a base de presungées. Re- NiiareAiiemarReorea Mag a8 STh DBZ} curso conhecido mas desprovido” (RMS n® 929-SE, Min, José de Jesus, DJU de 24.06.91, p. 8.623). “Processual Civil. Mandado de seguranga, Pressupostos constitucionais, Produgio de prova. Inexistindo direito liguido « certo a ser protegido e nao sendo 0 mandado de seguranca a via adequada realizagdo ow discussao de prova, hi que ser denegada a ordem. Recurso conhecido, mas improvido.” (RMS n® 965-SP, Min, Pecanha Martins, DJU de 26.08.91, p. 11.383). “Mandado de seguranga. Ato administrativo. legalidade. Covejo de pro- ‘vas. Procedimento incompativel com a natureza da agao. ‘No mandado de seguranga ¢ imprescindivel a demonstragio de prova, preconstituida, pois 0 direito liquido e certo pressupde fatos induvidosos, comprovado de plano” (RMS n® 202-PA, Min, Hélio Mosimann, RSTI, v. 27, p. 140). “Tributério. Débito fiscal. Prescrigdo. Mandado de seguranga. Deca- dencia, presente mandado de seguranga foi distribuido um ano depois da ciéneia do ato impugnado, consumou-se a decadéncia. Mesmo assim 0 caso do abriga direito liguido e certo, existindo controvérsia sobre as questdes de ‘Jfato e na via de mandado de seguranga a prova é preconstituida” (MS n® 1.481-DF, Min. Garcia Vieira, DJU de 03.08.92, p. 11.234). “Mandado de seguranga. Direito liquido ¢ certo, Sistema Financeiro da Habitagao. Plano de equivaléncia salarial. Reajuste de prestacoes. 1.0 mandado de seguranga pressupde prova preconstituida da situagdo fatica incontroversa, em face da qual se pede a aplicagao do direito objetivo. 2. Recurso improvide (Simula n? 7 do ST)).” (REsp n® 20.227-PE, Min. Humberto Gomes de Barros, DJU de 07.12.92, p. 23.291). “Constitucional e Administrativo. Aposentados. Extensdo dos benefi- cios concedidos ao pessoal em atividade 0 § 4% do art, 40 da Constituicdo Federal ¢ auto-aplicavel, pelo que devem ser estendidos aos inativas os beneficios concedidos aos paradigmas em atividade, O direito liquido e certoque se busca atendimento em mandado de segu- ranga hi de ser demonstrado de plano, visto que essa estrita via processual no comporta dilagdo probatéria. ‘Minar Aiemar Fences Macc 297-381 ‘Mandado de seguranga no conhecido ressalvando-se aos impetrantes as vias ordinérias” (MS n® 1.761-DF, Min. Cesar Asfor Rocha, DJU de 28.02.94, p. 2.849) “Mandado de seguranga contra ato judicial. Fraude de execugio reco- nhecida. Decisio proferida pela autoridade impetrada, que, ao abrigo da Ici, no ofende direito tiguido certo da impetrante, Sao insuscetiveis de apreciagdo na via estreita do mandado de seguranca fatos controversos, de- pendentes de prova, Recurso ordinario improvido” (RMS n® 2.987-AM, Min. Barros Monteiro, DJU de 05.09.94, p. 23.106). Em suma, dentro da melhor corrente doutrindria e jurispradencial, o direi- to liquido e certo & condigdo da agdo do mandado de seguranga. Nada tem com 0 mérito. Quem nao prova com inicial o que diz, nao tem direito liquide e certo. Deve ser, entio, julgado carecedor da agao de seguranga. Bibliografia Archivo Judiciario, v. XL. Rio de Janeiro: O Jornal do Commercio de 05.01.37. Dicionirio Aurélio Eletrénico Informa juridico —versio 6. Prolink Informa juridico ~versio 9. Prolink Multimedia Encyclopedia, Microsoft Corporation: 1992, Encarta ivilprozessordnung... 12. Ed. Miinchen: C.H. Beck (DTV) Araiijo Castro. A Nova Constituil Arruda Alvim, Tratado de Direito Processual Civil, v. 18, S. Paulo: RT, 1990. Barbi, Celso Agricola, Comentarios ao Céd, Proc. Civil, v. I, 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. Barbi, Celso Agricola. Do Mandado de Seguranga, 6¢ ed. Rio de Janeiro: Fo- rense, 1993. Bastos, Gelso Ribeiro. Comentirios a Constituigio do Brasil,2 v. Saraiva: 1989. Bobbio, Norberto. 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