Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tema 2 PM - 2022-23 - 2022.09.02
Tema 2 PM - 2022-23 - 2022.09.02
Prof. Doutor J. Alves da Silva, Prof. Doutor Gonçalves Pereira & Corpo Docente de
Psicologia Médica
Estes apontamentos/compilação de textos destinam-se a guiar o aluno na leitura da bibliografia
recomendada. São disponibilizados para uso pessoal do estudante, exclusivamente na plataforma
Moodle institucional da FCM/NMS-UNL. Todos os direitos estão reservados.
CONTEÚDOS TEÓRICOS:
Estes apontamentos apenas introduzem à leitura dos tópicos correspondentes na Bibliografia. Incluem
comentários que remetem para a UC Fundamentos de Neurociências (2º ano MIM). O aluno deve ler
integralmente a Bibliografia essencial, podendo aprender mais consultando a Bibliografia complementar.
1
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
PROCESSOS COGNITIVOS: PERCEPÇÃO, ATENÇÃO E MEMÓRIA
Definir cognição é difícil, mesmo para quem trabalha diariamente na avaliação de processos cognitivos
como a percepção, atenção e memória. Podemos tentar essa definição de forma mais descritiva e genérica,
mas menos controversa: o conjunto de processos mentais relativos à percepção, atenção, aprendizagem e
memória (na verdade, devemos incluir também: tomada de decisões, resolução de problemas e produção de
linguagem). Conceptualmente, podemos ainda definir cognição como o conjunto de processos através dos
quais tomamos conhecimento do mundo. Especificamente, falamos dos processos que permitem: 1.
identificar estímulos externos e internos; 2. reconhecer o seu significado; 3. responder de forma adequada.
Percepção
A percepção é o processo pelo qual o nosso cérebro recebe, interpreta e organiza os estímulos sensoriais
(externos e internos) do nosso ambiente. Não se trata da recepção passiva destes sinais, mas da sua
modulação por processos cognitivos que envolvem aprendizagem prévia, memória e atenção. Começa,
assim, a tornar-se óbvio como os processos cognitivos estão interligados.
Podemos ver a percepção como o resultado de um jogo que se estabelece entre a informação veiculada pelo
sistema nervoso periférico (no sentido “bottom-up”) e a informação contida em estruturas do sistema
nervoso central (no sentido “top-down”). Um bom exemplo prende-se com a constância do tamanho e
forma, e a percepção de profundidade (se quiser aprofundar este tópico, cf. 10.1 em Ayers & Visser, 2021).
Esta influência “top-down” revela-se, por exemplo, na forma como a atenção vai privilegiar certos
componentes sensoriais em detrimento de outros, selectividade que pode ser influenciada por factores como:
- Limiar de percepção
- Experiências anteriores
- Motivação
- Emoções
- Valores pessoais
- Fundo cultural
- Ambiente
Na clínica, é importante estudar a percepção e que factores a modulam. Isto não só para entender melhor as
alterações da percepção como as ilusões e alucinações (cf. Psicopatologia – 2º ano, UC Introdução à Prática
Clínica), mas também para compreender por que razão pessoas diferentes podem percepcionar o mesmo
objecto de forma diferente.
2
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
Atenção
Como decorre da secção anterior, a atenção tem um papel muito importante na forma como adquirimos
informação. ‘Atenção’ é a capacidade de nos focarmos em determinado(s) estímulo(s) que nos chega(m) do
ambiente (externo ou interno). Contudo, apesar de ser bom conseguirmos estudar num café ruidoso, seria
mau continuarmos a estudar quando o café começa a arder. Por isso, é igualmente crucial conseguirmos
deixar de nos focar num estímulo, ou mesmo sermos capazes de oscilar entre um estímulo e outro, consoante
o que for mais adequado.
Tal como a atenção está intimamente relacionada com a aquisição de informação (percepção), está também
interligada com a capacidade de armazenar informação (memória). A informação que é mantida na memória
de curto prazo depende de a qual ou quais buffers sensoriais (o equivalente a uma memória imediata de
segundos de duração para cada modalidade sensorial) é que ‘prestamos atenção’. Mais à frente, abordaremos
a ‘memória’ e que tipo de memória é dependente da atenção.
A atenção é também importante na aquisição de competências. Por exemplo, quando aprenderem a suturar,
vão estar atentos a todos os vossos movimentos, à escolha da linha de sutura, onde colocam a agulha etc. À
medida que treinam, os movimentos tornam-se mais automáticos, como que um hábito. As acções muito
treinadas e habituais são menos dependentes da atenção. Do ponto de vista cognitivo, a atenção é encarada
como algo limitado, daí que o multitasking provoque uma dispersão do nosso foco, com custos no
desempenho de acções ou na obtenção de informação do meio ambiente. Por isso o treino repetitivo ‘liberta’
capacidade cognitiva e permite-nos prestar atenção a outros estímulos do ambiente para além da acção que
está a ser realizada. Por outro lado, quando dispersamos a nossa atenção é provável que, na presença de
acções alternativas, utilizemos as mais habituais, mesmo se não forem as mais adequadas. Isto é uma das
origens do erro médico. Os médicos, frequentemente assoberbados por trabalho e por múltiplas exigências
do meio, podem tender a desenvolver acções mais rotineiras (que, por vezes, não são as mais adequadas,
dada a variabilidade e complexidade dos casos que vão surgindo).
Assim, é importante no contexto clínico compreender o que é a atenção e reconhecer as suas limitações, não
só por causa das manifestações patológicas mas também porque nos poderá ajudar a diminuir o erro médico.
Se quiser aprofundar este tópico, cf. 10.2 em Ayers & Visser, 2021.
3
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
Memória
A capacidade de armazenar e recuperar informação tem sido uma das questões mais abordadas pelas
ciências cognitivas. A compreensão deste processo cognitivo é fundamental na clínica, dada a elevada
prevalência de doenças que cursam com alterações da memória (v.g. doença de Alzheimer) mas também
para sabermos como melhor transmitir informação aos doentes (de modo que a retenham).
A distinção entre memória implícita e memória explícita é talvez um dos casos (arriscamos dizer raros), em
que conceitos cognitivos encontraram uma correspondência estrutural e biológica clara (se não recordam o
caso de Henry Molaison das aulas de Fundamentos de Neurociência, devem voltar aos vossos
apontamentos). Sabe-se hoje que a formação de novas memórias explícitas é dependente de estruturas
4
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
temporais medianas como o hipocampo, mas que lesões destas estruturas deixam os mecanismos de
memória implícita intacta. Por outro lado, estas estruturas não são necessárias para a recuperação de
memórias explícitas previamente armazenadas.
Podemos olhar ainda para a memória do ponto de vista do tempo de armazenamento de informação. Como
referimos anteriormente, a informação está primeiro disponível numa memória imediata que corresponde a
um buffer sensorial (por exemplo quando nos perguntam se ouvimos o que nos acabaram de dizer, nós
conseguimos ‘viajar’ alguns segundos no tempo e recuperar essa informação), depois na memória a curto
prazo ou memória de trabalho e finalmente na memória a longo prazo.
A consolidação das memórias a longo prazo não parece ter uma localização restrita no cérebro. Foi colocada
a hipótese de que estas memórias existam em ‘engramas’ (tradução livre do inglês engrams) i.e., uma
correspondência biofísica ou bioquímica no cérebro que quando activada nos permite recuperar estas
memórias. Pensa-se que estes engramas correspondam a redes neuronais, que podem ser compostas por
neurónios de diferentes regiões do cérebro ligados entre si. Esta teoria é compatível com o que se observa do
ponto de vista cognitivo, nomeadamente:
- Enriquecer a informação com ‘pistas’ variadas. Ao ligarmos várias pistas para nos lembrarmos de
uma dada informação, provavelmente vamos recrutar mais neurónios para estabelecer o engrama
correspondente, aumentando a probabilidade de activação da informação que queremos lembrar.
Estratégias como o uso de mnemónicas ilustram bem estes princípios. Compreender os processos que
regulam a memorização é importante na clínica (cf. Ayers & de Visser, 2021 – pp. 269-272) e também pode
ajudar no próprio estudo da Medicina (exemplos práticos - pp 266-269).
5
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
MOTIVAÇÃO
EMOÇÕES
7
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
PERSONALIDADE
No que se refere a Personalidade, estes apontamentos não dispensam a leitura das 2 páginas de ‘Personality
and health’ (2019) e das 4 páginas do Shorter Oxford Textbook of Psychiatry.
As primeiras são um bom resumo sobre personalidade, saúde e doença, incluindo: modelo big five,
conceito de personalidade tipo D, ‘disposições emocionais e saúde’/ optimismo, possíveis
mecanismos subjacentes às ligações entre personalidade e saúde.
8
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
Dimensões da personalidade:
Classificação de Eysenck:
o Introversão vs. extroversão;
o Neuroticismo vs. estabilidade;
o Psicoticismo vs. controlo dos impulsos.
Traços versus situação: foi também salientada a interacção pessoa-situação e a importância desta
última nos comportamentos (Mischel et al, 2004).
9
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
AUTO-CONCEITO – crenças em relação aos seus atributos; percepção que o indivíduo tem de si
próprio. Inclui as identidades (conteúdo do auto-conceito, designadamente os vários papéis
desempenhados na sua vida).
A auto-complexidade pode ser alta (a pessoa assume vários papéis) ou baixa (a pessoa centra-se
num dos papéis que desempenha). Pode também incluir a AUTO-ESTIMA – avaliação que o
indivíduo faz acerca do seu valor (relacionada com crenças em relação ao próprio).
10
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
Traços e biologia: alguns traços são fortemente influenciados por determinantes genéticos (e.g.
extroversão/ introversão; neuroticismo/ estabilidade emocional).
AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
11
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
b. Testes projectivos (‘inestruturados’) – o sujeito resolve uma tarefa não estruturada e
projecta os seus desejos ‘recalcados’ e conflitos inconscientes; exemplos:
Teste de Rorschach (interpretação de borrões de tinta, coloridos e a preto e
branco / aspectos do borrão utilizados)
Teste de Apercepção Temática – TAT (interpretação do conteúdo de quadros
com várias cenas; pede-se ao indivíduo que conte uma história sobre cada uma)
Vantagens: alguns autores defendem menor probabilidade de viés positivo ou negativo? Para
articular com informação recolhida na clínica.
2. Avaliação informal na prática clínica – a que é geralmente usada pelo médico (excepto, por
exemplo, em perícias médico-legais). Na prática quotidiana, o médico não tem geralmente
necessidade de solicitar avaliações formais da personalidade: usa a informação recolhida nas
consultas para conhecer progressivamente o paciente (muitas vezes de forma empírica, podendo
fazê-lo melhor com base nas teorias da personalidade). O estudante de Medicina deve reconhecer
a importância da personalidade do doente para a relação terapêutica, o padrão de uso dos serviços
e os resultados clínicos, desenvolvendo competências básicas nesta avaliação clínica informal.
Determinantes psicossociais nas doenças cardíacas – exemplo dos comportamentos tipo A, incluindo
hostilidade (cf. Temas 8 e 9). No modelo Big Five, hostilidade estaria em oposição a ‘amabilidade’.
12
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
BIBLIOGRAFIA:
Essencial
Harrison, Cowen, Burns & Fazel (2018). Shorter Oxford Textbook of Psychiatry. 7th ed, Oxford
University Press (pp 391-4).
“Personality and health”, in Van Teijlingen & Humphris: Psychology and Sociology applied to
Medicine. An Illustrated Colour Text. 4th ed, Elsevier, 2019 (pp 18-19).
Ayers S, de Visser R: Psychology for Medicine & Healthcare. Sage, 2021.
o Cap. 10 Cognitive psychology: pp 257-273, especificamente.
Complementar
Pode ainda aprofundar conhecimentos sobre ‘resiliência’ no site da American Psychological Association:
http://www.apa.org/helpcenter/road-resilience.aspx
13
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 2
ANEXO:
Atitudes
Conceito. Avaliação (usando, por exemplo, uma escala de Likert).
Mudança das atitudes na alteração de comportamentos (relevância na clínica). Estratégias para
potenciar mudanças de atitude (cf. entrevista motivacional – Tema 10):
i. Dissonância (discrepância) cognitiva como elemento para a mudança.
ii. Mensagens persuasivas em saúde.
iii. Ambivalência.
A psicologia do self
Identidade pessoal e social; relação com auto-estima; importância do modo de vestir e de se
apresentar (pp 225-27) – cf. também Tema 10.
Atribuições (estilo atributivo; erros atributivos e doença; locus de controlo e saúde).
Self-ideal e self-real (a discrepância entre estes como agente de mudança comportamental).
Indivíduos e grupos
Papéis sociais (significado, mudanças); papel de doente (sick-role).
Conformidade. O fenómeno da polarização na definição de atitudes do indivíduo em grupo.
Obediência, estilos de liderança e poder em Medicina.
Estereótipos e preconceitos: influência na prestação de cuidados.
Comportamentos anti-sociais (incluindo agressão) e pró-sociais (altruístas)
14
UC – Psicologia Médica (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)