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Tema 3 - 2022.23 - 2022.09.26
Tema 3 - 2022.23 - 2022.09.26
Compilação de textos: Prof. Doutor Gonçalves Pereira, Dr. Manuel Salavessa & Corpo
Docente de Psicologia Médica
CONTEÚDOS TEÓRICOS:
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UC – Psicologia Médica e Medicina Comportamental (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 3
Nas teorias do ciclo de vida consideram-se diversos estádios pelos quais todas as pessoas passam, do
nascimento à morte, numa sequência definida.
Erikson entendeu o desenvolvimento psicossocial como resultante do confronto com desafios/conflitos
inerentes a cada fase da vida humana (infância, adolescência, idade adulta, maturidade): a sua forma
de resolução seria determinante para a construção da personalidade (ex: relação entre a qualidade dos
cuidados tal como percebidos na infância e o desenvolvimento do sentimento de confiança nos outros).
Conceito de crises ‘acidentais’ (provocadas por eventos inesperados, e.g. doença, alteração do
estatuto profissional) vs crises ‘normativas’ (processos esperados no desenvolvimento ‘normal’ - a
cada fase correspondem desafios específicos (por exemplo, a adolescência tem como desafio a
construção, ou não, de uma identidade coesa).
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UC – Psicologia Médica e Medicina Comportamental (FCM/NMS-UNL, versão de 2022/2023)
Psicologia Médica: TEMA 3
As alterações físicas, cognitivas, instintivas, sexuais, etc. combinam-se para determinar uma crise
interna, cuja resolução pode levar a crescimento ou a “regressão” psicossocial.
Citando Erikson, no que se refere às crises normativas “crisis refers not to a threat of catastrophe, but
to a turning point, a crucial period of increased vulnerability and heightened potential, and therefore
the ontogenetic source of generational strength or maladjustment”.
Princípio epigenético (termo tomado da embriologia por ‘empréstimo’): a resolução de cada fase de
desenvolvimento determina em muito o funcionamento psicossocial da fase seguinte. Cada estádio é
caracterizado por eventos/crises (distintos dos anteriores e dos subsequentes) que devem ser resolvidos
satisfatoriamente para o desenvolvimento progredir sem sobressaltos, de forma adaptativa. Em
condições ideais é atingido um nível superior de funcionamento. A maioria das pessoas não atingirá
uma polaridade ‘positiva’ perfeita, mas tenderá mais para o pólo ‘positivo’ que para o ‘negativo’.
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2. INFÂNCIA
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Psicologia Médica: TEMA 3
Dicas na comunicação com crianças (veja Ayers & Visser, 2021 para desenvolvimento):
i. Ajuste a sua forma de comunicar às capacidades daquela criança em particular. Use bonecos,
por exemplo, para captar a sua atenção e ajudar a explicar o que quer transmitir.
ii. Em geral, crianças pequenas não vão entender conceitos abstractos.
iii. Se for mais adequado, peça a ajuda dos pais para comunicar com a criança.
3. ADOLESCÊNCIA
[O ponto ‘cognição, exposição ao risco e identidade’ é desenvolvido na secção 8.2.2. de Ayers & Visser (2021) –
bibliografia complementar.
O caso clínico final de Wedding & Stuber (2020), cap. 3 - bibliografia essencial - será mais adequado ao estudo de
Psiquiatria, no 5º ano.]
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Psicologia Médica: TEMA 3
4. IDADE ADULTA
[para desenvolvimento veja a Bibliografia Complementar]
Fases mais precoces da idade adulta, ajustamento ao nascimento dos filhos, mudanças profissionais e
sociais, etc. Crise da ‘meia-idade’; menopausa; adaptação ao ‘ninho vazio’ familiar.
Tenha em conta os estádios ‘intimidade vs isolamento’ e ‘produtividade vs estagnação’ (Erikson).
5. ENVELHECIMENTO
[Alguns aspectos psicológicos do envelhecimento são também abordados na UC Doente Idoso; a propósito do que
se segue, volte ao Tema 2 para lembrar: personalidade, auto-conceito, locus de controlo e ‘externalidade’, resiliência;
o World Report on Ageing and Health 2015 está em livre acesso online – cf. Bibliografia Complementar.]
Crítica de preconceitos relativamente ao envelhecimento; esta idade não tem só aspectos negativos:
Declínio da inteligência? A inteligência ‘fluída’ (relacionada com velocidade de
processamento e desempenho da memória de curto prazo) decresce a partir de certa idade.
Porém, a inteligência ‘cristalizada’ (relacionada com experiência acumulada e memória a longo
prazo) mantém-se durante muito tempo, podendo exercer um papel compensatório.
A maioria dos mais velhos não tem demência, nem depressão. Veja a epidemiologia da
demência e da depressão na UC Doente Idoso ou, para já, este estudo nacional.
A sociedade ainda vê os idosos como um fardo (não um recurso)…
Sexualidade: uma área de interesse, como noutras idades (desenvolvido na UC opcional
Introdução à Sexologia Médica).
‘Integridade vs desespero’ (Erikson), correspondendo à ‘virtude’ da sabedoria.
Para Erikson estará em jogo, nesta fase: “the acceptance of one’s one and only life cycle and of the
persons who have become significant to it as something that has to be and that, by necessity, permitted
of no substitution” (in Identity, youth and crisis, 1968).
Estabilidade e mudança na PERSONALIDADE durante o envelhecimento:
Estabilidade relativa? Os estudos, incluindo meta-análises, favorecem a continuidade e a
consistência das características da personalidade no envelhecimento. Mas a investigação não é
inteiramente consistente. No modelo Big Five, alguns trabalhos sugerem alterações, como
menor neuroticismo (dado nem sempre replicado). Outros estudos sugerem uma redução, em
termos absolutos, dos níveis de abertura à experiência, conscienciosidade e extraversão, na
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idade mais avançada. Para cada indivíduo, também se verifica, com frequência, alguma
acentuação ou atenuação de traços com o envelhecimento. Não podemos definir a idade a partir
da qual a personalidade não se altera, nalguma medida… Assim, tanto a estabilidade como
alguma mudança podem ocorrer na idade avançada (Woods & Windle, 2021).
Evoluções distintas consoante os tipos de personalidade? Provavelmente, melhor adaptação
prévia alternativas melhores no envelhecimento.
Os traços de personalidade são importantes para explicar a auto-estima e o auto-conceito. Nesta
fase, algum aumento da ‘externalidade’ / locus de controlo externo (embora relativo) poderá
estar associado às mudanças biológicas que afectam capacidades e saúde. Estas mudanças
lembram às pessoas que não controlam por completo declínios no desempenho (Paúl, 2006).
Bem-estar nos mais velhos; as tarefas do envelhecimento, o envelhecimento bem-sucedido e a
promoção da saúde nesta fase. O que é o Modelo SOC? (Freund & Baltes, 1998, 1999, ap. Fonseca
2005). SOC = selecção, optimização, compensação. Existe uma dinâmica de ganhos vs perdas: o
envelhecimento, como outras fases do desenvolvimento, implica umas e outras. As trajectórias
pessoais são muito variáveis, assim como a perspectiva subjectiva sobre ganhos vs perdas.
O modelo SOC conceptualiza processos gerais de adaptação/“mastery” ao longo da vida, com
aplicabilidade específica no envelhecimento; estes processos podem ser assim sistematizados:
Selecção: definição de objectivos e resultados adequados; selecção por escolha vs selecção
baseada na perda (por exemplo, pela incapacidade).
Optimização: aquisição, manutenção e aperfeiçoamento de mecanismos úteis/recursos para
melhorar o funcionamento e alcançar objectivos – processos que promovem ganhos.
Compensação: processos que contrabalançam perdas. Particularmente importante no
envelhecimento, pelas perdas de saúde, sensoriais, cognitivas, sociais. Trata-se (por exemplo)
de usar um aparelho auditivo para ouvir melhor ou uma cadeira de rodas para continuar a sair.
Dicas na comunicação com pessoas de idade (veja Ayers & Visser, 2021 para desenvolvimento, mas
reveja também, de Introdução à Prática Clínica, BATES’ GUIDE, Wolters-Kluwer, 2017. Chap. 20
The older adult (Tips for communicating effectively with older adults: pp 967-968); vai praticar estas
competências nas aulas de Psicologia Médica e Doente Idoso – 4º ano – e MGF e Psiquiatria – 5º ano):
i. Adapte a sua forma de comunicar às capacidades daquele doente específico; atenda a
défices cognitivos ou sensoriais – assegure-se de que o doente tem os óculos ou aparelhos
auditivos que usa habitualmente.
ii. Por vezes deverá dispor de mais tempo (até para permitir reminiscências) e aguardar com
calma por algumas respostas.
iii. Por exemplo: não grite (não é o mais útil…) nem infantilize uma pessoa mais velha, falando
como se ela fosse criança. Tenha atenção aos seus próprios preconceitos (ver alguns acima)
e não se deixe influenciar por eles. Respeite a idade, a experiência de vida, a sabedoria e a
fragilidade. Como sempre, dirija o seu olhar e toda a sua atenção para aquela pessoa.
iv. Pode ajudar se incluir um familiar ou cuidador na consulta. Mas nem sempre, nem em todos
os momentos.
Essencial
Trivedi HK, Peters TE: “Birth, Childhood and Adolescence”, in D. Wedding, M.L. Stuber: Behavior &
Medicine. 6th Edition. Hogrefe Publishing, 2020 (pp 39-54).
Complementar
Ayers S, de Visser R: Psychology for Medicine & Healthcare. Sage, 2021.
o Cap. 8 Psychosocial development across the lifespan
(N.B. pode consultar a parte sobre os diferentes ‘estilos de vinculação’ (secção ‘Attachment and development’ - pp 195-
99 – e como comunicar melhor com crianças – p. 208 - adolescentes – p. 210 - ou pessoas mais velhas – p. 216).
Eckstrom et al: Chapter 14 – Older Patients (section Normal Psychological Aging), in Feldman et al
(2020). Behavioral Medicine: A Guide for Clinical Practice. 5th ed, McGraw-Hill.