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MÓDULO 02

Introdução à Teologia

INTRODUÇÃO A TEOLOGIA
MODULO 2-A
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................
.. 02

Cap. 1 — INTRODUÇÃO À
TEOLOGIA ....................................................... 02

Cap. 2 – TEOLOGIA DA
REVELAÇÃO............................................................11

Cap. 3 – CONTEXTO HIST.DOUT. DA


REVELAÇÃO.......................................16

Cap. 4 - CONCEITO DE REVELAÇÃO NO


SEC.XX.........................................21

Cap. 5 - REVELAÇÃO GERAL E


ESPECIAL................................................... 30

CONCLUSÃO.............................................................................................
....38

BIBLIOGRAFIA.........................................................................................
....29
INTRODUÇÃO

Estudaremos neste módulo o significado e o propósito da teologia como


ciência de Deus e das coisas a Ele relacionadas. Apresentaremos algumas
definições e conceitos de teologia, e falaremos sobre seus propósitos, sua
necessidade, possibilidade, fontes e métodos. Analisaremos suas divisões e
respectivas subdivisões. Teremos uma vista geral sobre a fonte autorizada da
teologia cristã, que é a Bíblia, as sagradas escrituras do Antigo e Novo
Testamentos. Dois ensaios de expertos no assunto complementarão o pano de
fundo desta discussão sumária.
Uma introdução, como o próprio nome indica, não passa de uma
exposição breve à guisa de preparação para o estudo mais aprofundado de
uma matéria. Portanto, estudaremos aqui apenas os elementos, os rudimentos
iniciais da teologia. Bom estudo!

Capítulo I
INTRODUÇÃO À TEOLOGIA

I. A Natureza da Teologia
Definição. A palavra ―teologia‖ compõe-se de dois termos
gregos theos, ―Deus‖ e logos, ―estudo‖, ―discurso‖, ―doutrina‖.
Etimologicamente, portanto, teologia significa o estudo racional sobre Deus,
ciência de Deus ou estudo das coisas divinas. Uma definição mais completa,
suficiente para todos os efeitos práticos, seria: Teologia é a ciência que trata do
estudo de Deus e de Suas relações com o homem, o universo e a verdade
religiosa.
Embora não encontrada nas Escrituras, a palavra teologia é bíblica em
seu caráter. Em Rom.3:2 encontramos ta logia tou Theou (os oráculos de
Deus); em 1 Ped. 4:11 encontramos logia Theou (oráculos de Deus), e em Luc.
8:21 temos ton Logon tou Theou (a Palavra de Deus).
Distinções. A teologia distingue-se da ética e da filosofia.
A teologia estuda Deus e Suas relações; aética estuda os juízos de apreciação
referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do
bem e do mal; a filosofia é tentativa de conhecer todas as coisas só pelo uso da
observação e da razão, sem partir de Deus e Sua Palavra,
Teologia e religião também não são a mesma coisa. Enquanto
a teologia é o conhecimento de Deus, areligião é a prática da vontade de Deus.
Ambas as coisas devem coexistir na verdadeira experiência cristã. Em muitos
casos, porém, estão distanciadas, de tal modo que é possível ser teólogo sem
ser religioso, e religioso sem ser teólogo.O ideal é o conhecimento e a prática
juntos. O teólogo deve praticar o que conhece (Tia. 1:25). O religioso deve
conhecer o que pratica (1 Ped. 3:15).
Conceito de Teologia. O conceito de teologia teve origem na tradição
grega, mas ganhou conteúdo e método apenas no interior do cristianismo.
Platão, com quem o conceito emergiu pela primeira vez, associou ao termo
teologia uma intenção polêmica, como fez também seu discípulo Aristóteles.
Para Platão, a teologia descrevia o mítico e podia ter um significado pedagógico
e temporário benéfico ao estado. A identificação entre teologia e mitologia
continuou no pensamento grego posterior. Diferentes dos filósofos, os
"teólogos" confundiam-se com os poetas míticos, como Hesíodo e Homero.
A teologia portanto se tornou significativa como meio de proclamar os
deuses, de professar a fé e de ensinar a doutrina. Nessa prática da "teologia"
pelos gregos está a prefiguração do que mais tarde se tornaria a teologia no
cristianismo. Apesar de todas as contradições que emergiriam na formulação
desse conceito nas várias confissões e escolas cristãs de pensamento, um
critério formal permaneceu constante: teologia é a tentativa, levada à prática
pelos adeptos de uma fé, de representar suas afirmações de crença de modo
consistente, explicando-as a partir de seus fundamentos e relacionando a
religião às demais referências humanas, como a natureza e a história, e aos
processos cognitivos, como a razão e a lógica.

II. A Teologia Cristã

Visto que literalmente falando, teologia pode significar também ―ciência


dos deuses‖, abre-se o campo para a existência de muitas teologias, sejam elas
monoteístas ou politeístas. Cada religião possui de certo modo a sua teologia,
isto é, o estudo racional dos seus textos sagrados, dogmas e tradições.
Podemos falar de uma teologia islâmica, budista, hinduísta, judaica etc.
Restringiremos, no entanto, nosso estudo à Teologia Cristã, ou seja, à teologia
do cristianismo. Será nesse sentido estrito que empregaremos o termo teologia
daqui por diante.

III. Acepções do Termo Teologia

Existem, pelo mentos, três acepções básicas para o termo teologia cristã.
A mais ampla é utilizada para nomear todo o conjunto de conhecimentos
teológicos ministrados em cursos ou nas respectivas faculdades e seminários.
A acepção intermediária define teologia com o campo circunscrito, dentro
da teologia, concernente a determinada área ou campos teológicos, como, por
exemplo, Teologia Sistemática, Teologia Moral, Teologia Bíblica etc.
A acepção mais restrita, também chamada Teologia Propriamente Dita,
emprega a palavra em escritos dogmáticos para designar a doutrina de Deus,
subdivisão da área de teologia sistemática que trata da natureza divina e de
Seus atributos. Estudaremos nesta obra a Teologia Sistemática.

IV. O Objetivo da Teologia


A teologia objetiva averiguar os fatos objetivos a respeito de Deus e das
relações entre Deus e o universo e apresentar esses fatos numa unidade
racional, como partes conectadas de um sistema formulado e orgânico de
verdades. Na qualidade de ciência, a teologia não cria os fatos, mas os
descobre e relaciona. Esses fatos devem ter existência independente dos
processos mentais subjetivos do teólogo.
A teologia, como corpo doutrinário coerente, é a tentativa de conciliar fé
religiosa e pensamento racional.

V. A Necessidade da Teologia Cristã


Do ponto de vista geral, a teologia é incontornável. Mesmo quem se
recusa a formular suas crenças teológicas tem doutrinas (= ensinos)
consideravelmente definidas, ainda que grosseiras. Isto é inevitável, devido ao
instinto sistematizante do intelecto, que não se contenta com uma mera
acumulação de fatos, mas busca organizá-los num sistema. assim, é
indispensável o estudo da teologia com nosso mais alto esforço, para nos
assegurarmos de que nossa teologia é a certa, sã.
A teologia é necessária como meio de expressar o significado do
cristianismo, por causa da natureza humana, que inclui razão e emoção.
A teologia é necessária para definir o cristianismo devido ao relativismo e
sincretismo religioso desta época.
A teologia é necessária para defender o cristianismo contra ataques.
A teologia é necessária para propagar o cristianismo.

VI. A Possibilidade da Teologia


A teologia é possível devido a três fatos:
1. Deus existe;
2. A mente humana é capaz de conhecer a Deus;
3. Deus Se deu a conhecer ao homem.

VII. A Cientificidade da Teologia


A teologia é uma ciência. Às vezes tem sido chamada, merecidamente,
de ―a rainha das ciência‖, dada a nobreza de seu objeto de estudo — Deus.
Entendemos ciência como o conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos
ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e
objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos,
teorias e linguagens próprias, que visam compreender e, possivelmente,
orientar a natureza e as atividades humanas.

VIII. O Método da Teologia


A teologia aplica, no estudo de seus conteúdos, os procedimentos
metodológicos, críticos e intelectuais da filosofia. Porém, estes procedimentos
são diametralmente opostos aos das ciências naturais e humanas porque
partem do pressuposto da fé e seu objetivo final, Deus, não é passível de
pesquisa empírica. Portanto, o problema de estabelecer um método rigoroso de
raciocínio sobre Deus é crucial em teologia.[1]
São vários os métodos pelos quais se pode elaborar um sistema de
teologia. O método determina a natureza do sistema elaborado. Um método
falso ou defeituoso, destruirá todo o resultado. Eis os três métodos mais
comuns:
1. O Método Especulativo. Também chamado dedutivo, pois raciocina
do geral para o particular, este método deduz o sistema de princípio filosófico a
priori. Este método é tendencioso, pois leva o sistema teológico a se acomodar
a princípios filosóficos previamente aceitos. Se o teólogo for deísta, panteísta,
racionalista ou evolucionista, os grande temas da teologia sofrerão influência da
teoria aceita. Schleiermacher era panteísta, e toda a sua teologia foi elaborada
a partir desse ponto de vista. Daí sua teologia ser defeituosa no tocante a
certas doutrinas como Escrituras, Pessoa de Cristo, Encarnação, Expiação e
Personalidade de Deus.
2. O Método Místico. Certos indivíduos, pretendendo ter recebido
revelações especiais de Deus, independente das Escrituras e superiores a ela,
formularam sua teologia sobre as bases dessas pretensas revelações. Exemplo
disto Este método é subjetivo, pois depende de impressões internas ou de
convicções pessoais mais do que de autoridade e instruções externas. A
experiência tem se valor, mas não como regra de fé. Ela deve ser submetida à
prova da Palavra de Deus, e não vice-versa. O método místico apresenta graves
perigos.
3. O Método Indutivo. Indução é o processo pelo qual o espírito tira
de fatos particulares uma conclusão de caráter geral. O método indutivo é
método da ciência natural, isto é, a coleção de fatos, sua classificação e o
estudo das leis que os regem. Este é o verdadeiro método na teologia. Toda
ciência verdadeira se baseia em fatos. Da mesma maneira, o verdadeiro teólogo
observa todas as revelações de Deus e combina tudo num sistema harmônico e
coerente. A maioria dos fatos são tirados da Bíblia, fonte autorizada da Teologia
Cristã. A verdadeira teologia baseia-se não num ―Assim-diz-o- homem‖ ou num
―Assim-diz-a-igreja‖, mas num ―Assim-diz-o-Senhor‖. Ressalve-se, porém, que a
prova textual é devidamente usada quando está de acordo com o contexto e a
analogia da fé.
IX. Fontes da Teologia
Assim como podemos conhecer um ser humano somente nos baseando
no que ele faz e no que ele fala, assim também duas são as fontes do nosso
conhecimento de Deus: Suas obras e Sua Palavra. Dois livros: o livro da
natureza e o livro das Escrituras. É o que se costuma chama de Teologia
Natural e Teologia Revelada. Teologia da Natureza e Teologia das Escrituras.
1. Teologia Natural. Compreende os fatos contidos na obra de Deus,
independentemente da revelação escrita. Sob este título incluímos não somente
a natureza inanimada, mas também a natureza humana, a história, a
providência etc., em tudo quanto revelam sobre Deus. Embora o universo
revele muitos fatos sobre Deus (Sal. 19:1-6; Atos 14:17; Rom. 1:17-20; 2:15),
esta é uma revelação incompleta e insuficiente para satisfazer as necessidades
humanas. Não oferece nenhum meio de obter perdão e paz com Deus; não
prevê nenhum meio para escapar ao pecado; não tem nenhum poder ou
incentivo para a santidade; não contém nenhuma revelação certa acerca do
futuro; deixa o homem nas mãos da lei natural; falta-lhe toque pessoal; pode
levar à degeneração e corrupção moral.
2. Teologia Revelada. É a contida nas Escrituras do Antigo e do Novo
Testamentos — a Bíblia. Contém todos os fatos necessários, pois além de
ensinar objetivamente o que ensina a teologia natural, mostra tudo quanto se
pode conhecer de Deus e de Sua relação com o universo material ou espiritual.
Embora a Bíblia seja a fonte por excelência de nosso conhecimento de Deus e
de Sua vontade, a natureza não deve ser desprezada como suplementadora dos
fatos da teologia revelada, visto que toda verdade é harmônica. Devido a nossa
finitude e pecado, a única fonte digna de confiança são as Escrituras. Elas
devem ter primazia sobre nossas conclusões da natureza ou de nossa
impressões aos ensinos do Espírito santo. A teologia cristã se baseia, portanto,
principalmente nas Escrituras.

X. Origem e Centro da Teologia

A verdadeira teologia é teocêntrica e cristocêntrica (João 14:1). É


teocêntrica em relação à origem de onde procede o sistema: a teologia procede
de Deus. Ele mesmo é, em última análise, a única fonte de conhecimento não
só teológico, mas geral ( É cristocêntrica em relação ao fato no qual se
centraliza o sistema: a teologia encontra sua principal expressão em Cristo,
ponto do qual e para o olha se olha na visão teológica.
XI. Áreas da Teologia

As áreas, ramos ou departamentos da teologia são:

1. Teologia Bíblica. Investiga a verdade de Deus e o Seu universo no


seu desenvolvimento divinamente ordenado e no seu ambiente histórico
conforme apresentados nos diversos livros da Bíblia. A teologia bíblica é a
exposição do conteúdo doutrinário e ético da Bíblia, conforme originalmente
revelada. A teologia bíblica extrai o seu material exclusivamente da Bíblia.
2. Teologia Pastoral ou Prática. Trata da aplicação da verdade aos
corações dos homens. Ela busca aplicar à vida prática os ensinamentos das
outras teologias, para edificação, educação, e aprimoramento do serviço dos
homens. Ela abrange os cursos de homilética, administração da igreja, liturgia,
educação cristã, evangelismo e missões.
3.Teologia Sistemática. Ramo que estuda as grandes doutrinas da
Bíblia agrupadas em tópicos, de acordo com um sistema definido. Suas
disciplinas serão comentadas no ponto XII.
4. Teologia Dogmática. É a exposição ordenada das doutrinas
expressas nos símbolos da igreja. Assim temos "Dogmática Cristã", por H.
Martensen, com uma exposição e defesa da doutrina luterana; "Teologia
Dogmática", por Wm. G. T. Shedd, como uma exposição da Confissão de
Westminster e de outros símbolos presbiterianos; e "Teologia Sistemática", por
Louis Berkhof, como uma exposição da teologia reformada.
5. Teologia Apologética. É a tentativa de expor as crenças religiosas
enquanto se atende ou se responde às objeções e críticas.
6. Teologia Histórica. Considera o desenvolvimento histórico da
doutrina, mas também investiga as variações sectárias e heréticas da verdade.
Ela abrange história bíblica, história da igreja, história das missões, história da
doutrina e história dos credos e confissões. Traça a história do desenvolvimento
da interpretação doutrinária e envolve o estudo da história da igreja.
Disciplinas: História de Israel, História do Cristianismo, Histórias Eclesiásticas
etc.
7. Teologia Exegética. Estuda o Texto Sagrado e assuntos
relacionados, através do estudo das línguas originais, da arqueologia bíblica, da
hermenêutica bíblica e da teologia bíblica.

XII. Teologia Sistemática


Nenhuma exposição sobre Deus seria completa se não contemplasse Suas obras e Seus
caminhos no universo que Ele criou, além de Sua Pessoa. Toda ciência provém e mantém
relação com o Criador de todas as coisas e com Seu propósito na criação. E toda verdade é
verdade de Deus, onde quer que ela seja encontrada. Deus se revelou na criação e nas
Escrituras, e a verdade achada pelas ciências naturais e sociais, por cristãos ou profanos, não é
verdade profana; é verdade sagrada de Deus (Cl.2:3). Toda verdade, onde quer que seja
encontrada, tem peso e valor iguais como verdade, como qualquer outra verdade. Uma verdade
pode ser mais útil em dada circunstância, e uma outra em outra, mas ambas têm valor como
verdade.

Portanto é perfeitamente lícito utilizar-se de outras fontes, enquanto


verdade, para o estudo da teologia.O estudo teológico que incorpora em seu
escopo o exame das ciências naturais e sociais, é denominado teologia
sistemática.
A Natureza da Doutrina. A teologia sistemática estuda a doutrina
cristã. Geralmente se define doutrina como o conjunto de princípios que servem
de base a um sistema religioso. Para a teologia sistemática, porém, doutrinas
são as verdades fundamentais da Bíblia dispostas em forma sistemática. Não
devemos confundir doutrina e dogma. Doutrina (do lat. doctrina, ―ensino‖) é a
declaração de Deus acerca da verdade apresentada nas Escrituras; dogma é a
declaração do homem acerca da verdade apresentada num credo.
O Valor da Doutrina. A doutrina é importante por pelo menos três
razões. (1) Ela supre a necessidade de uma declaração autorizada e sistemática
sobre a verdade num mundo de descrença e heresia; (2) Ela sistematiza as
verdades das Escrituras; (3) Ela determina nosso caráter e destino, já que
aquilo em que acreditamos modela nossas ações; (3) Ela é um baluarte contra
o erro, pois serve de critério para a verdade; (4) Ela nos equipa para o serviço
aceitável, pois fortalece nossa fé ao darmos a razão do que cremos (1 Ped.
3:15).

XIII. Definições de Teologia Sistemática


A) Chafer: Uma ciência que segue um esquema ou uma ordem humana de
desenvolvimento doutrinário e que tem o propósito de incorporar no seu sistema a verdade a
respeito de Deus e o Seu universo a partir de toda e qualquer fonte (Lewis Sperry Chafer).
B) Chafer: Teologia sistemática pode ser definida como a coleção, cientificamente
arrumada, comparada, exibida e defendida de todos os fatos de toda e qualquer fonte
referentes a Deus e às Suas obras. Ela é temática porque segue uma forma de tese
humanamente idealizada, e apresenta e verifica a verdade como verdade (Lewis Sperry
Chafer).
C) Alexander: A ciência de Deus... um resumo da verdade religiosa cientificamente
arranjada, ou uma coleção filosófica de todo o conhecimento religioso (W. Lindsay Alexander).
D) Hodge: A teologia sistemática tem por objetivo sistematizar os fatos da Bíblia, e
averiguar os princípios ou verdades gerais que tais fatos envolvem (Charles Hodge).
E) Strong: A ciência de Deus e dos relacionamentos de Deus com o universo (A. H.
Strong).
F) Thomas: A ciência é a expressão técnica das leis da natureza; a teologia é a
expressão técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos
espirituais da revelação, calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de ensinamentos. A
doutrina, assim, corresponde às generalizações da ciência (W. H. Griffith Thomas)
G) Shedd: Uma ciência que se preocupa com o infinito e o finito, com Deus e o
universo. O material, portanto, que abrange é mais vasto do que qualquer outra ciência.
Também é a mais necessária de todas as ciências (W. G. T. Shedd).

H) Definições Inadequadas: Para definir teologia foram empregados


alguns termos enganadores e injustificados. Já se declarou que ela é "a ciência
da religião"; mas o termo religião de maneira nenhuma é um sinônimo da
Pessoa de Deus e de toda a Sua obra. Da mesma forma já se disse que ela é "o
tratamento científico daquelas verdades que se encontram na Bíblia; mas esta
ciência, embora extrai a porção maior do seu material das Escrituras, extrai
também o seu material de toda e qualquer fonte. A teologia sistemática
também tem sido definida como o arranjo ordeiro da doutrina cristã; mas como
o cristianismo representa apenas uma simples fração de todo o campo da
verdade relativa à Pessoa de Deus e o Seu universo, esta definição não é
adequada.

XIV. Divisões da Teologia Sistemática


Os tópicos discutidos pela teologia sistemática são de dimensões
universais. Em geral incluem o seguinte sistema de doutrinas:

01. Bibliologia – Doutrina da Bíblia.


02. Teologia – Doutrina de Deus. Trata da Pessoa de Deus, Sua natureza
e atributos.
03. Ktisiologia – Doutrina da Criação. Trata do criação/intervenção
divina.
04. Angelologia – Doutrina dos Anjos. Trata da natureza e obra dos anjos
bons e maus e de Satanás.
05. Antropologia — Doutrina do Homem. Trata da natureza do homem.
06. Hamartiologia – Doutrina do Pecado. Trata da natureza do pecado.
07. Cristologia — Doutrina de Cristo. Trata da Pessoa e obra de Cristo.
08. Soteriologia — Doutrina da Salvação. Trata da necessidade e
propósito da salvação.
09. Pneumatologia — Doutrina do Espírito Santo. Trata da Pessoa e obra
do ES.
10. Eclesiologia — Doutrina da Igreja. Trata da natureza, estrutura e
missão da igreja.
11. Cristianologia (Axiologia) — Doutrina da Vida Cristã. Trata da
conduta do crente.
12. Escatologia — Doutrina das Últimas Coisas. Trata dos eventos finais.
Capítulo II

TEOLOGIA DA REVELAÇÃO
Amim Rodor

I- A Atual Crise de Autoridade


Nos primeiros 4 séculos, a atenção da Igreja prendeu-se à cristologia.
Na Reforma do séc. XVI o assunto foi soteriologia. No século passado, com
raízes nos séc. 17 e 18, a doutrina da revelação e inspiração tornou-se o
assunto central e até hoje influencia a Igreja. O Iluminismo provocou a questão
e até hoje o protestantismo não se preocupou.
A Igreja Atual - A crise afeta de maneira particular a Igreja
Católica, mas também a cada ramo do Cristianismo. Desafios se apresentam
aos protestantes, dentro e fora da Igreja.

A principal causa da atual crise é a crise da autoridade:


1- Em que constitui a genuína autoridade teológica?
2- De onde deriva a autoridade?
3- Onde testar as doutrinas?
4- Qual a fonte da qual a Teologia deriva suas doutrinas e as testa?

II - A Importância e Lugar da Revelação


O problema dominante é da Revelação. A questão da revelação e a
autoridade atinge a natureza e conteúdo do Evangelho que se vai pregar. Se
não tivermos uma clara compreensão da revelação e inspiração, as antigas
heresias adquirirão novo impulso. A falta desta clara percepção atinge primeiro
os teólogos e logo a Igreja também é afetada.
A. KUYPER (Séc. XIX) - Teólogos liberais não têm certeza de nada, mas
os ortodoxos têm. A perda da autoridade bíblica conduz a diferentes formas de
subjetivismo. Poucas questões da Teologia não têm que ver com a doutrina da
revelação. Nossa compreensão da revelação afeta a compreensão da
mensagem cristã, em que a Bíblia é o instrumento da revelação. Se não
houvesse a revelação, não haveria a menor possibilidade do conhecimento de
DEUS e nenhum discurso teológico. O cristianismo cai ou fica em pé,
dependendo da revelação.
A doutrina da revelação é mais centra do que a doutrina da
salvação.

O investigador, nas áreas de conhecimento está sobre o objeto de


estudo, mas na Teologia está sob o Sujeito de estudo. A grande contradição da
Teologia moderna é falar de forma independente, pretensão de autonomia. A
solução é um retorno a uma revelação cristã objetiva, clara, inteligível como se
apresenta na Bíblia.

III- A Revelação na Tradição Cristã


O Pensamento de DEUS:

A) Deus é incognoscível, inescrutável, insondável, infinito, transcendente (Jó


11:17).
B) Ao mesmo tempo, DEUS deve ser conhecido (João 17:3; Os.6:3).
Buscando a DEUS pelos próprios métodos não é possível conhecer a
DEUS, Is. 55:8, 9. Conclusões finais, absolutas, não podem ser alcançadas a
partir de métodos humanos (I Cor.2:11 e Rom.11:33 e 34). O homem pela sua
própria iniciativa não pode alcançar a DEUS. Há um abismo profundo entre
Deus e o homem.
Paradoxo Resolvido

1. DEUS não pode ser conhecido;


2. A Bíblia afirma que DEUS deve ser conhecido (João 17:3; Os.6:3).[2]
3. O paradoxo é resolvido através da Revelação: DEUS não pode
ser conhecido pelos métodos humano. Sim. Mas DEUS resolve isso se revelando
ao homem. Aquele que é transcendente cruzou o abismo, invadiu a história
humana e deu-Se a conhecer.
O homem deixado a sim mesmo, desajudado, não pode conhecer a
DEUS; DEUS só pode ser conhecido na proporção em que Ele Se revela - ―Self-
Revelation‖ - a única maneira de conhecer a DEUS. Única maneira de conhecer
Sua personalidade. Se DEUS declara Sua mente, Seus propósitos por alguma
forma, o homem só pode se aproximar de DEUS pela maneira em que Ele
Se revelou.

DEUS não é conhecido em Si mesmo, Ele só é conhecido


como Se revela.

Teologia não é o conhecimento de DEUS em Si; é o conhecimento


de DEUS como Ele Se deu a conhecer (Se revelou) ao homem.

―O homem usa máscaras para se esconder; DEUS usa máscaras para Se


revelar‖ - LUTHER. A Teologia humana não pretende estudar DEUS em Sua
essência e sim, na Revelação que Ele faz de Si. A Teologia está fundamentada
naquilo que Ele deu a conhecer.
A Revelação é insubstituível, pois se não há revelação, não há Teologia.

IV - REVELAR
A) Definido pelo dicionário - expor, abrir, manifestar, descobrir...
B) Etimologicamente - deriva do verbo latino ―VELO‖ - cobrir, pôr um
véu.
Então revelar significa descobrir, ―remover o véu‖.

C) Revelação, pelo conceito bíblico, é algo que vem de fora, um dom


divino que nos livra da ignorância, da morte, etc. Revelação não é
conhecimento perdido ou adquirido por processos mentais lógicos, por indução
ou dedução ; não nasce de dentro, vem de fora.
O Cristianismo, Revelação é um dom divino, é a manifestação da graça divina,
da divina vontade de DEUS em ser conhecido. Tanto no hebraico quanto no
grego, é a manifestação daquilo que está escondido, oculto à mente ou nossa
compreensão.

MISTÉRIO - Na Bíblia é algo que pode ser conhecido se revelado, e


nunca algo que pode ser conhecido por investigação ou esforço diligente. Não
há caminho do homem para DEUS - ascendente - mas sim, de DEUS para o
homem descendente. O motivo pelo qual o homem com sua própria razão não
pode alcançar a DEUS, é que o pecado obstrui este caminho. A menos que
DEUS Se mova em direção ao homem, este permanece em trevas. Assim, a
única maneira de conhecer a DEUS, é pela revelação que Ele faz de Si.

Mat. 16:16 - ―carne e sangue‖ - símbolo de fraqueza e fragilidade


humana - não pode alcançar o conhecimento de DEUS; só a revelação pode
fazer-nos conhecer a DEUS. Revelação cristã é a auto-manifestação de DEUS
sem a qual não o conheceríamos.

V- Revelação Proposicional ou Conceptual


DEUS graciosamente Se revela àqueles que não podem encontrá-Lo por
si mesmos. A ação reveladora de DEUS se manifesta na fé histórica de Israel e
Igreja Cristã. Revelação como ―Comunicação de Informação‖, com conteúdo
objetivo, com proposições de verdades, tem sido aceito tradicionalmente.
Revelação - a sobrenatural comunicação de verdades em forma proposicional.
Deus revela verdades que Ele deseja que sejam conhecidas.
Deus comunicava aos profetas em forma proposicional, conceptual.

NOVA ORTODOXIA

―Teologia do Encontro‖, existencial - No encontro entre DEUS e o profeta


(não com o povo ou Igreja) DEUS não comunicava nada, apenas Se revelava ao
profeta, daí a Bíblia não é um depósito de informações e sim a descrição da
reação do profeta ao ―encontro‖.

Profeta - Gr. PRO + FEMI = falar por, em lugar de. Hebr. - RO’EH;
HOZEH - formas participiais do verbo VER - VIDENTE. Hebr. - NABHI - segundo
W.F. ALBRIGHT, esta palavra se relaciona com o verbo acadiano NABU
(CHAMAR), portanto o profeta era chamado, não podia se apropriar do título
por designação política ou por hereditariedade. Amós não era profeta nem filho
de profeta.
A revelação de DEUS ao profeta não era um fim em si mesma. O profeta
bíblico é aquele que comunicava o que recebia de DEUS.

130 vezes - ―veio a mim a Palavra do Senhor‖;


359 vezes - ―Assim diz o Senhor‖.
Estas revelações são proposicionais, isto é, conceitos de verdade,
informação de verdade. Este conceito assume que o que DEUS revela tem
formas de verdade. DEUS não revelou a Si mesmo, Ele revelou verdades a Seu
respeito. O perigo desta teoria é tornar DEUS uma doutrina.
O que DEUS revelou sobre Si ?
Os cristãos têm mantido que DEUS tem comunicado verdades aos
profetas, em forma de idéias, palavras faladas... Esta comunicação em forma
de idéias, é dirigida à mente humana, que requer compreensão, a revelação faz
um apelo à razão, daí a fé não é racional.

Revelação Sacramental - Lutero, Calvino, Kuyper, EGW e


Berkower

Como saber se é verdade ? O apelo é feito à Revelação Objetiva, a


norma que tem conteúdo, como encontramos na Bíblia, para todos os homens,
em todas as épocas.

6.1 A Tradição Desafiada


O conceito tradicional de Revelação, como comunicação objetiva de
verdades em forma proposicional, tem sido desafiado recentemente por outra
noção qualificada de Revelação Existencial.

Quais as acusações contra o Tradicional ?


6.1- Primeiro argumento contra a noção tradicional:
A identificação da revelação divina com as palavras humanas da Bíblia é
degradante para DEUS, porque torna DEUS responsável pelo que está escrito
na Bíblia, inclusive seus eventuais erros e enganos.

6.2- Conceitual tradicional é objetável porque tal conceito oferece ao


homem algo menos que um encontro e comunhão pessoal com DEUS; DEUS é
reduzido a uma fria doutrina. Parece igualar a Revelação a um livro ou uma
série de doutrinas.
E. BRUNNER diz que o protestantismo tem um novo Papa - a
―Bibliolatria‖.
Os críticos dizem que o conceito tradicional é um novo tipo de deísmo,
um DEUS distante do homem, e a comunicação é feita através de um velho
livro.
Em contraste com o ponto de vista tradicional, teólogos contemporâneos
afirmam que devemos conceber a natureza da revelação divina de outra
maneira, não como um corpo de verdades, doutrinas contidas na Bíblia, ao
contrário, a Revelação divina tem como seu propósito a DEUS em Si mesmo
como uma pessoa.

JOHN BAILLIE sumariza assim:


―O que é revelado não é um corpo de informações ou doutrinas; DEUS
não nos dá informações por comunicação; Ele dá-nos a Si mesmo em
comunicação.‖ The Idea of Revelation in Recent Thought.

KITEL endossa BAILLIE.


ALBRECHT OEPKE - art. ―APOKALUPTW‖ Vol. 3, pp.563-592.
DEUS revela Sua presença ao homem, o que é a verdade é a revelação
subjetiva no homem, não num livro confinado. Neste caso, a revelação ocorre
num encontro pessoal com DEUS; o apelo não é feito a uma norma objetiva e
sim subjetiva. Revelação toma lugar na experiência subjetiva do homem, não
em um livro.A Bíblia não é verdade objetiva em si mesma. A revelação media a
presença de DEUS, não doutrinas. Além do mais, revelação não foi algo
completo no passado com o encerramento do cânon; ela ocorre continuamente
na Igreja nos atos de DEUS.

CAPÍTULO III

DOUTRINA DA REVELAÇÃO: CONTEXTO HISTÓRICO

SÉCULOS XVII – XIX

1.Tradição Cristã: Afirma que a Revelação foi proposicional, em


forma de proposições, verdades objetivas, conceitos, que DEUS comunicou aos
profetas, e que se encontra entesourada nas Escrituras.
2.Escolasticismo: Não vai de encontro a Revelação Especial, mas
abre uma porta ao Racionalismo.
Os escolásticos eram monges dominicanos, grandemente influenciados
por Aristóteles.
As pessoas nascem como uma folha em branco, com capacidade racional
dedutiva. Com este pensamento, estes monges discutiam 3 questões básicas:
a) AN SIT DEO ? ―Existe DEUS ?‖ (Existência)
b) QUID SIT DEO ? ―Quem É DEUS ?‖ (Essência)
c) QUALIS SIT DEO ? ―Que Tipo de DEUS ?‖ (Atributos)
Toda a Teologia Católica até o Vaticano II foi influenciada por T.
Aquino, o mais notável escolástico que sintetizou o pensamento árabe,
aristotélico e cristão (morto em 1274 a.d.). Os escolásticos se preocuparam
com o QUID e o QUALIS, por esta via chegaram a uma Teologia Natural, isto é,
de que é possível conhecer a DEUS através da natureza e por meio da razão.
Para os teólogos deste período, há duas formas pelas quais os homens podem
conhecer a DEUS e as coisas divinas:

1. Método ascendente - O homem para DEUS, através da razão.


2. Método descendente - de DEUS para o homem - através da
Revelação especial.
No ensino de T. de Aquino foi estabelecida uma aguda distinção entre FÉ
e RAZÃO.
Há aspectos da Teologia ou de DEUS que não podem ser conhecidos
pela razão - Ex.: Trindade, Encarnação, etc. A razão tem uma grande função na
Teologia Tomística: se não se pode chegar ao QUID, pode-se argumentar em
favor Dele. A razão desajudada quase pode chegar a uma compreensão de
DEUS.
ANALOGIA ENTIS - Analogia do ser humano com DEUS - estabelecer
uma relação com DEUS e deduzir as coisas de DEUS.
KARL BARTH rejeita a Revelação Natural.
Para os escolásticos havia distinção entre razão e revelação, entre
verdade da razão e verdade da revelação, entre ACIRE (entender) e CREDERE
(crer).
3. Reformadores - Na Reforma, Lutero e Calvino, em certa
medida, chegaram a partilhar da idéia de que o homem, pela razão, pode
chegar a algum conhecimento de Deus, mas é um conhecimento incompleto,
inadequado. Lutero usa algumas expressões para descrever a inabilidade
humana em conhecer a DEUS pela dedução racional, e é tão enfático, que
torna quase impossível realmente ao homem, pela razão, conhecer a DEUS.
Lutero faz uma distinção entre o DEUS ABSCONDITUS e o DEUS
REVELATUS - mesmo quando DEUS Se revela, ainda continua escondido.
Revela-Se por máscaras. Não conhecemos a DEUS em Sua essência - o QUID
não se pode conhecer. Para Lutero, mesmo em Sua revelação, DEUS
permanece envolto em mistérios impenetráveis.

Nós conhecemos a DEUS na medida em que Ele Se relaciona conosco.


Para Lutero, toda Revelação necessária está contida nas Escrituras.
SCRIPTURA VERBUM DEI INFALIBLE EST - A Escritura como verbo de
DEUS é infalível.
―DEUS em Sua própria natureza e majestade deve ser deixado de lado;
neste aspecto não temos nada que ver com Ele, nem Ele quer que tratemos
com Ele nestes termos; temos que ver com Ele como Ele Se apresenta, vestido
e revelado na Sua Palavra, pela qual Ele Se apresenta a Si mesmo para nós.
Esta é a Sua glória, esta é a Sua beleza, na qual o Salmista proclama que Ele
está revestido.‖

Calvino assumiu uma posição semelhante à de Lutero, mas é mais


radical. Na primeira seção das Institutas, Calvino trata do conhecimento de
DEUS como Criador. Para Calvino, é totalmente desnecessário preocupar-se
com o QUID (essência), precisamos preocupar-nos com o QUALIS (atributos).
DEUS não pode ser conhecido perfeitamente. Embora possamos conhecer algo
a respeito de DEUS, este conhecimento não pode ser de forma apriorística, só a
posteriori (depois que Ele Se revela).
Calvino admite que haja um SENSUS DIVINITATIS gravado por DEUS no
coração do homem. Este senso da divindade foi corrompido, endurecido, por
ignorância ou malícia, por isto o homem não pode perceber a DEUS na ordem
criada (para entender a DEUS na ordem criada precisa de outra lente, a
Revelação Especial).

Esta conclusão leva a um poderoso Capítulo das Institutas:


A NECESSIDADE DAS ESCRITURAS COMO GUIA E MESTRE PARA
VIRMOS A DEUS COMO CRIADOR.

Aqui neste capítulo, Calvino vê as Escrituras como ensino, doutrina


(afirmação de que a Revelação é proposicional).

Para Calvino, é impossível conhecer a DEUS sem a Revelação Especial,


sob a Iluminação do Espírito Santo. O Deus da razão foi qualificado por Calvino
como pseudo-deus. A concepção filosófica de DEUS é deficiente. Para os
Escolásticos era mente a mente; para Calvino era coração a coração.
O Deus de Aristóteles é puro pensamento, mas não é amor. Conhecer a
Deus não depende da razão pura, do intelecto, mas da experiência
humana. Falando com propriedade, DEUS não pode ser conhecido onde não há
religião e piedade. Piedade é a união da reverência e o amor a Deus.
Dentro da mesma linha de Calvino, a maioria dos teólogos posteriores
enfatizava a impossibilidade do verdadeiro conhecimento de DEUS onde a Bíblia
não atua como regra de fé e autoridade.

4-DEÍSMO/ILUMINISMO/KANT
A. No final do séc. 17 e durante o séc. 18, emergiu uma ruptura de
maior magnitude na posição tradicional mantida sobre a doutrina da Revelação.
Esta foi a era da RAZÃO. Os racionalistas criam na razão com profunda fé.

Para saber o que é verdade, o apelo não é feito às Escrituras; o apelo é


feito à razão especulativa, informada por princípios de julgamento extra-
bíblicos. A religião verdadeira é baseada nas verdades da razão. O uso próprio
da razão consistia na investigação do mundo e da natureza. Os líderes do
movimento racionalista foram chamados DEÍSTAS. O movimento se
desenvolveu particularmente na Inglaterra.

Os Deístas argumentavam que a razão sozinha é competente no reino da


verdade. Revelação não acrescenta nada ao que pode ser conhecido pela razão,
não oferece nenhuma informação acerca dos propósitos de DEUS.

Com os deístas há uma regressão ao escolasticismo, com algumas


diferenças.
 Os deístas argumentavam que a religião racional devia ser
independente de qualquer revelação especial.
 DEUS existe porque o mundo precisa de um Criador; esta
conclusão se alcança pela razão. Ex. DEUS, o relojoeiro.
 Nesta visão, DEUS é um proprietário ausente; DEUS criou o
mundo, mas não há necessidade de Sua interferência.
 Investiam a Natureza e a Razão de uma autoridade suprema,
repudiando a crença tradicional da Revelação especial.
 A Revelação bíblica não é necessária nem possível, porque Ele já
revelou tudo na Natureza (revelação geral); DEUS não interfere mais. Os
escritores deístas afirmavam que as histórias e os milagres são formulações
doutrinárias que surgiram da observação ou entendimento defeituoso.
B) ILUMINISMO - O grande florescimento do Racionalismo veio no
séc. 18, como o Iluminismo, que foi marcado por um temperamento naturalista,
sendo hostil a qualquer idéia de interrupção sobrenatural no ordenado curso da
natureza, portanto incluindo declarada hostilidade à idéia da Revelação
sobrenatural.

O Iluminismo voltou as costas a toda e qualquer forma tradicional de


autoridade (Igreja, Bíblia, etc.). Voltou à autoridade que está dentro do próprio
homem - a razão. Com o pensamento de Emanuel Kant (1724-1804) o
Iluminismo atingiu o seu auge. Com ele, apelos éticos atingiram o seu auge.
Definição do iluminismo por Kant: ―É a emergência do homem da imaturidade;
é o homem aprendendo a pensar por si mesmo, sem nenhuma dependência de
autoridade exterior, quer seja a Bíblia, Igreja ou Estado.‖

Kant concordou em parte com os racionalistas no aspecto de que o


conhecimento da realidade vem através dos sentidos, de noções de tempo e
espaço, causa e efeito. Kant estabeleceu uma diferença básica entre
realidade como ela existe e a realidade como é percebida.
 A realidade que conhecemos é colorida pelos nossos sentidos, é
subjetiva.
 Uma vez que o conhecimento, mesmo o conhecimento das coisas
materiais, é condicionado pela estrutura em que a mente opera, pelas noções
de causa e efeito, tempo e espaço, todo o conhecimento fora da física, ou seja,
realidade metafísica, torna-se impossível. Se isto é verdade, o pensamento
teológico envolve uma contradição, pois a mente humana não é capaz de
resolver os problemas do mundo metafísico.
 Assim, ele rejeitou todo o argumento racionalista; foi um golpe de
morte nos deístas.
 O homem pode chegar a DEUS através de demandas morais.
 A razão pura não pode encontrar a DEUS.
 A teoria Kantiana do conhecimento invalidou qualquer sorte de
comunicação vinda de DEUS, assim rejeitando a maior característica bíblica e
reduziu a religião aos limites da razão pura.
 Kant negou a possibilidade factual concernente à ordem supra-
sensível, acima dos sentidos. Isto pareceu selar a doutrina histórica da
Revelação.
A ortodoxia protestante não se recuperou deste golpe.

5- FRIEDRICH SCHLEIERMACHER (1768-1834)


O Cristianismo enfrentou o desafio do Racionalismo com uma outra
escola de pensamento, liderada por Schleiermacher, o pai da Teologia Liberal.
Filho de um capelão Calvinista, influenciado pelo PIETISMO, desgostoso com o
frio Racionalismo, tentou reabilitar entre os intelectuais que na sua maioria
haviam abandonado a religião no curso do séc.18. Insistiam que os grandes
debates - provas de Deus, milagres, autoridade das Escrituras - estão fora dos
limites da religião. O coração da religião é e sempre foi sentimento - GEFUHL,
não credo e doutrinas. Este foi um lamentável engano dos tradicionalistas.
Deus, para o homem religioso, é uma experiência da realidade viva baseada no
sentimento.
 Religião é baseada no sentimento - sentimento como categoria
filosófica, sentimento como absoluta dependência de Deus.
 Este sentimento dá lugar à idéia de Deus.
 Sendo assim, revelação não vem de fora, emerge de dentro. Para
Schleiermacher, revelação não é interferência do céu em nosso mundo com
conhecimento que o homem pode obter. Não há revelação especial ou
revelação sotérica. Revelação é uma dimensão do conhecimento dentro do
mundo natural, expressa por palavras como INSIGHT, intuição e descoberta.
 Sua ênfase ao contrário dos deístas, não era na transcendência
de Deus, e sim na Sua imanência.
Com Schleiermacher a religião foi feita independente da filosofia, da
ciência e da razão.
A religião não deve provar nada; ela está dentro de todos os homens.
A religião não se baseia em doutrinas metafísicas, e sim na experiência pessoal.
 O centro da religião muda da Bíblia para o coração do que crê.
Pontos Principais:
1. Revelação não vem de fora e sim de dentro.
2. O centro da religião muda da Bíblia para o coração do homem.
3. Revelação não envolve conteúdo dado por Deus. As doutrinas
são humanas em forma e conteúdo e devem ser descartadas quando
se tornam muito importantes.
Esta é uma mudança radical, um desvio do Cristianismo histórico, uma
mudança para um conceito de Revelação como sendo experiência interior.
BARTH acusa Schleiermacher de ser Panteísta.
Schleiermacher deixou algumas marcas da Teologia Protestante. Negou
o conceito Paulino da queda e universal pecaminosidade do homem.
O principal impacto; nenhuma autoridade externa (Bíblia, Igreja, credos)
tem precedência sobre a experiência imediata do crente. Com Schleiermacher o
Cristianismo foi reduzido ao status de uma religião entre as outras (porque este
mesmo sentimento é experimentado nas outras religiões.
CAPÍTULO IV
CONCEITO DE REVELAÇÃO NO SÉC. XX

No séc. XX emerge uma nova corrente teológica - a NEO-


ORTODOXIA - que objetou ao liberalismo. Este grupo foi educado dentro do
liberalismo e se rebelou contra ele, por isso suas críticas tiveram um efeito mais
devastador. Dentro deste grupo temos:

K. BARTH - m. 1968

E. BRUNNER - m. 1966

R. BULTMANN - m. 1976

P. TILLICH - m.

O termo Nova Ortodoxia é de certa forma infeliz, porque NEO implica em


NOVO e ORTODOXIA implica em VELHO, tradicional (o título foi cunhado pelos
opositores). Eles defendiam a necessidade de fazer um retorno à ortodoxia sem
deixar de ser liberais. Após o liberalismo se levantar contra as doutrinas da
ortodoxia, este grupo passou a encontrar nova relevância na ortodoxia.
Passaram a enfatizar: pecado, salvação por Cristo, revelação, transcendência de
Deus. Por outro lado, estes teólogos não retornaram totalmente à ortodoxia,
pois retiveram uma parte do liberalismo, que continuou vivo dentro deles.
 Influências que ajudaram na emergência da Nova Ortodoxia:
1. Eventos históricos: No período liberal do séc. 19, viveu-se um
período de otimismo em relação ao futuro. Mas no início do séc. 20 ocorre a 1ª
Guerra Mundial, com trágicos e devastadores resultados sobre este otimismo
liberal da época. Uma guerra envolvendo as Nações mais civilizadas, com armas
sofisticadas, etc... Este período foi seguido pela grande depressão econômicas e
conseqüentes problemas sociais. Neste período aparecem as organizações do
crime, os grandes ditadores, que preparam o caminho para a 2ª Guerra
Mundial.
 Neste contexto, a conclusão dos Neo-Ortodoxos foi de que os
liberais (com o seu pensamento da bondade inerente do homem) haviam
modificado a doutrina bíblica da universal depravação humana.
 BARTH disse que este é o anti-Cristo da Igreja Católica, e é a
razão básica porque ninguém deve se tornar católico.
Este grupo reagiu primeiro à acomodação do Cristianismo à ciência e
cultura ocidental; em segundo lugar, opões ao progressivo aperfeiçoamento do
homem (o homem não está melhorando). Em quarto lugar, fizeram uma
formulação do conceito de revelação que, no período liberal, havia quase
desaparecido da Teologia. Esta mudança consistiu em conceber a revelação não
como uma universal capacidade humana de experiência mística, mas como um
encontro com DEUS.

SOREN KIEKEGAARD - M. 1885 - teólogo e filósofo, foi uma das


maiores forças inspiradoras da nova ortodoxia. Com a falha do Liberalismo
protestante, abriu-se espaço para o EXISTENCIALISMO - mundo da perspectiva
em que a existência (por que estamos aqui ?) é mais importante que a essência
(quem somos nós ?)
 No desespero, na solidão, na ansiedade do séc. XX, suas palavras
soaram quase como uma profecia.
―Em ciência ou matemática podemos tratar os fatos objetivamente sem
sermos pessoalmente envolvidos com eles, mas em Filosofia e em religião, o
alvo não é conhecer dogmas ou idéias, mas vivê-las.‖ S. Kiekegaard.

O alvo verdadeiro do pensamento religioso é trazer o homem a um


compromisso com um modo de vida. No pensamento objetivo podemos nos
separar do objeto (este objeto se relaciona com a nossa mente), mas em
religião, não podemos fazer isto, pois degradaria a Deus e também ao homem.
 Deus é o sujeito, nunca o objeto, quando Ele entra em contato
conosco.
2. MARTIN BUBER - filósofo judeu alemão, m. 1965. Em 1923
publicou um livro intitulado I AND THOU, um dos livros que mais influenciou o
pensamento ocidental. (Influenciou grandemente a BRUNNER).
Segundo BUBER, existem 02 maiores reinos nos quais o homem se
expressa a si mesmo ou se relaciona com o mundo ao redor:

I - IT - EU - COISA
I - THOU - EU - TU
O homem não vive em isolamento, mas em relações. O homem ocidental
envolveu-se com o método científico e empírico, olhando o mundo como uma
coleção de coisas (IT). Nós abstraímos, medimos, identificamos,
caracterizamos, tudo ao nível do cérebro.
Temos a tendência de fazer a mesma coisa com as pessoas - coisificar
as pessoas.
I - IT e I - THOU é a dicotomia básica do mundo ocidental.
Neste processo, o EU permanece como um observador distante, um
expectador não envolvido, tudo pode ser analisado a nível de uma atividade
cerebral.
A atitude I - THOU encontra sua mais alta intensidade no
relacionamento com DEUS - DEUS é o eterno THOU, o outro, e este
relacionamento não deve ser a nível de coisa. DEUS nos convida a um
relacionamento em termos de OUTRO, sem o elemento coisa. Neste caso, o
OUTRO nos convida a um relacionamento profundo. Neste encontro com DEUS,
o elemento IT não pode existir, segundo BUBER, está completamente ausente.
Ele dizia que frequentemente o homem tem coisificado a DEUS,
procurando igualar a DEUS a nível de assentimento intelectual, a um certo
número de doutrinas concernentes a DEUS. Com isto o homem tem tentado
manipular a DEUS, tornando DEUS como ele próprio homem, moldá-Lo a sua
imagem. Em outras palavras, este DEUS é uma projeção do próprio homem e,
por isto mesmo, um DEUS muito pequeno.

Mas o eterno THOU está convidando o homem não para um


relacionamento EU - COISA, mas para um genuíno encontro EU - TU, no qual
todo elemento impessoal deve desaparecer.

BRUNNER tomou esta idéia e aplicou à Teologia escrevendo 2 livros


nesta área:

―TRUTH AS ENCONTER‖ ; ―REVELATION AND REASON‖


3- BRUNNER era um teólogo reformado, calvinista, cria na queda do
homem, transcendência de DEUS, rebelou-se contra o Liberalismo e foi um
oponente de BARTH. Enfatizava um retorno à doutrina da Revelação com um
novo APPROACH - Revelação como ENCONTRO. Usou as noções de BUBER da
Teologia Cristã.

Revelação não é a recepção de verdades vindas de ou acerca de DEUS.


Revelação é um encontro EU - TU. Há um conteúdo neste encontro, mas o
conteúdo não é revelação de verdades e sim o próprio DEUS é que Se constitui
no conteúdo. O elemento coisa está ausente. Da perspectiva da Nova
Ortodoxia, a Revelação não comunica alguma coisa, comunica Alguém. DEUS
revela-Se a Si mesmo ao profeta, não palavras, porque isto estaria no nível do
cérebro. Revelação não é dada ao intelecto, mas é dada para evocar uma
resposta de fé e obediência. Revelação não é dada para que o homem dê
assentimento intelectual a um grupo de doutrinas, de verdades. Na Revelação
DEUS convida o homem a vir a Ele, não a dar assentimento intelectual a
verdades acerca de DEUS. A revelação é DEUS pessoalmente dentro da alma,
revelando-Se a Si mesmo, chamando a uma resposta, sendo esta revelação
vazia de qualquer elemento coisa.
A) IMPLICAÇÕES:
Negação de que revelação seja proposicional. Uma vez que a revelação
como entendida por Brunner e a Nova Ortodoxia não é doutrinal e
proposicional, ela não é a comunicação do que DEUS revelou ao profeta, mas
apenas a sua reflexão pessoal do fenômeno da revelação que ele tem
experimentado. Uma vez que a revelação como tal não comunica doutrinas, o
que o profeta declara não é propriamente verdade, porque o que ele comunica
não é intrinsecamente parte da revelação original, porque DEUS não revelou
nada, coisa; o que ele escreve é o testemunho do impacto do encontro com
DEUS.
B) A FUNÇÃO DAS ESCRITURAS:
Seu papel não é comunicar informação a respeito de DEUS ou vinda de
DEUS. Em vez disto, a Escritura mantém o testemunho de que DEUS Se revelou
no passado e está desejoso de fazer o mesmo no presente. Esta revelação (a
Bíblia) promete revelação no futuro; por um milagre de DEUS ela pode
funcionar agora para ocasionar a revelação para nós. A Bíblia tem função
revelatória como testemunho da revelação.
Apenas Cristo é a revelação, apenas Cristo é o Logos, o ato revelador
de DEUS.
Este ato falado de DEUS foi interpretado pelo testemunho dos apóstolos. A
Bíblia é o testemunho da revelação, mas a ela é negado o status da revelação.
Ela é uma coleção de confissões de fé, da fé profética, apostólica, escrita com o
propósito de despertar e fortalecer a fé dos que ouvem. Mas aquilo que os
profetas e apóstolos escreveram não é o que DEUS revelou a eles. A Bíblia é
um documento meramente humano, falível e cheio de erros.

K. BARTH - A Bíblia é em cada ponto a vulnerável palavra do homem; é


a reflexão sobre Cristo, concernente ao significado da revelação, mas ela não é
a revelação.

A Bíblia é vista frequentemente por estes teólogos como a fixação da fé


dos apóstolos a escrituração do testemunho dos apóstolos daquela revelação
que tomou lugar na vida de Jesus, mas a Bíblia não participa da autoridade da
revelação, apenas dá testemunho da revelação. A Bíblia está na margem deste
evento particular que foi Jesus Cristo e a Bíblia simplesmente dá testemunho.
C) QUAL É A NATUREZA DA AUTORIDADE BÍBLICA ?
A Bíblia é autoritativa não por causa do que diz, mas apenas na medida
em que conduz a pessoa a Cristo. A Bíblia se torna a Palavra de DEUS quando,
por sua influência, eu e Cristo nos tornamos contemporâneos. A autoridade
da Bíblia depende da resposta humana.
Há aqui um claro rompimento com a posição da Reforma com respeito à
revelação.
Para BRUNNER, a Reforma foi correta em elevar a autoridade da Bíblia acima
da autoridade da Igreja, mas a Reforma errou em fazer da Bíblia a última
instância de apelo, a norma final de verdade religiosa. BRUNNER insiste que a
Reforma, assim identificando a Palavra de DEUS com a Bíblia, a Reforma em
princípio retornou ao mesmo erro do Catolicismo, isto é, enquanto os católicos
têm um papa como autoridade final, o protestantismo tem um livro na mesma
condição.

5- SUMÁRIO: CENÁRIO ATUAL - Modelos:


1. Conceptual, proposicional;
2. Modelo de Revelação como ENCONTRO;
Neste caso o conteúdo da revelação é o próprio DEUS, não há conteúdo
objetivo, nada finito é revelado, exceto na medida em que Cristo, que é a
verdadeira Palavra, fala por este meio finito. A Bíblia não é revelação, é apenas
uma testemunha primária da Revelação que é Cristo. Então as palavras que se
encontram nas Escrituras não podem ser igualadas à Palavra de DEUS.

A revelação ocorre quando a Palavra de DEUS, que é Cristo, está sendo


proclamada e é recebida em fé. A revelação, longe de ser um evento histórico
ocorrido no passado, ocorre agora. Cada geração, segundo Bultman, tem a
mesma relação original com a Revelação.
AVALIAÇÃO PRELIMINAR: Neste modelo estão em jogo os seguintes
aspectos:

1- Rejeição da verdade final historicamente revelada e comunicada;


2- Confusão entre revelação e regeneração (a revelação passa a
depender da resposta, da regeneração);
3- Este modelo coloca todos os crentes no mesmo nível dos profetas,
cada um torna-se parte da revelação;
4- Não provê ao homem um critério em que possa fazer uma
distinção entre a verdade e o erro;
5- Uma vez que a Revelação toma lugar num encontro, e neste encon-
tro não ocorre comunicação de verdades, doutrinas, DEUS não revela em
termos claros a Sua vontade, o homem torna-se o padrão, a medida.
6- Deixa sem resposta uma questão vital: como podemos conhecer a
verdade?

REVELAÇÃO COMO HISTÓRIA


Neste caso, a Revelação ocorre primariamente em atos, não em
palavras, mas numa série de atos nos quais DEUS Se revelou no passado. Aqui
se encontra o anglicano WILLIAN TEMPLE, que disse que ―os eventos históricos
são a fonte de qualquer verdade. Credos e doutrinas são derivados dos eventos
históricos.‖
ERNEST WRIGHT, presbiteriano americano (escreveu ―God Who Acts)
diz que DEUS Se comunica primariamente através de atos da história. Com
base nas Escrituras, concluiu que DEUS não Se comunica através de encontros
místicos, mas por atos de DEUS na história.

Fraquezas do Livro:
a) Não deixa claro a que tipos de atos está se referindo;
b) Não deixa claro por qual processo os autores bíblicos movem-se do
ato para a interpretação do evento. Ele diz que o evento precisa de
interpretação para ser entendido. Diz ainda que esta interpretação são
inferências derivadas dos atos; que os hebreus não poderiam concluir outra
coisa dos atos, a não ser aquilo que encontramos nas Escrituras.
OSCAR CULLMANN - Revelação como a História da Salvação. Para ele,
existem duas histórias, uma história dentro da história: a intervenção divina na
história de Israel é a História da Salva- ção. A Bíblia não é uma mera história; a
Bíblia é a revelação não porque ela seja a exata descrição da história, mas
porque ela interpreta a ação de DEUS na História, e esta interpretação só é
possível ao historiados mediante os olhos da fé.

Os livros de WRIGHT e CULLMANN exerceram grande influência.


W. PANNENBERG - também fala de revelação como história. A revelação
consiste primariamente na ação de DEUS na História, mas como uma diferença
de CULLMANN, de que os poderes naturais do homem, sem qualquer
assistência sobrenatural, são suficientes para apropriação desta revelação.

―Esta revelação divina está aberta para qualquer um que tenha olhos
para ver. Neste caso, as palavras das Escrituras não acrescentam nada à
inerente inteligibilidade dos eventos; eles são auto-interpretativos, e não
necessitam de elucidação profética.‖
A revelação só ocorre indiretamente através de eventos, assim negando
que DEUS Se manifeste diretamente, quer por teofanias, quer por palavras.
4- REVELAÇÃO COMO EXPERIÊNCIA INTERIOR:
Aqui remos um considerável número de teólogos do século XX, que se
voltam para a experiência interior do crente, como ponto em que a atividade
reveladora de DEUS se manifesta. A revelação consiste da experiência imediata
de DEUS, a qual internamente se comunica a cada crente. DEUS é considerado
como fazendo-Se presente na consciência do indivíduo. Esta noção leva a uma
minimização da necessidade de mediação por qualquer outro meio - Bíblia.

F. SCHLEIERMACHER; ALBRECHT RISTSCH; C.H. DODD.


Com virtual unanimidade, os teólogos desta escola rejeitam qualquer
dicotomia entre religião natural e religião revelada. São desfavoráveis a
qualquer distinção aguda entre revelação geral e revelação especial. Afirmam
que a Revelação é interior, DEUS Se revela ao espírito e à piedade que Ele
mesmo inspira. O que vem de fora (Bíblia) apenas estimula, intensifica esta
revelação que vem de dentro.

Dentro deste grupo, aparece o teólogo católico que melhor elaborou esta
doutrina: KARL RAHNER - Teologia Transcendente. Esta é uma Teologia
personalística e antropocêntrica. Esta Teologia se enraiza numa visão do
homem como sujeito, não como objeto, como sujeito que constantemente se
projeta em direção ao infinito e que evade aos seus próprios limites. DEUS tem
criado o homem com um desejo de comunhão com Ele. Esta busca de DEUS,
combinada com sua incapacidade de encontrá-Lo, abre uma porta para o
fenômeno da Revelação.

DEUS Se oferece a Si mesmo em amor àqueles que se abrem à graça


divina, à qual é oferecida a todos. Então esta graça pode ser chamada
revelação. Revelação para RAHNER não consiste primariamente num externo
fenômeno histórico, como uma comunicação vinda ou acerca de outro mundo;
ela não é dada primariamente em palavras, conceitos, proposições, mas antes
um profundo e transformador impacto da graça divina; esta graça dá ao
homem um novo horizonte e esta mudança de perspectiva efetuada pela graça
divina é chamada por ele de revelação transcendental. Ao contrário de
Bultmann, Rahner não nega que a revelação seja dada por meio de eventos
históricos, ensinos conceptuais, proposicionais, mas estes são secundários.

CONCLUSÃO: A Teologia da Revelação de Rahner, porque faz amplas


provisões para fatores existenciais, experienciais, tem exercido uma enorme
influência sobre os autores católicos, sendo que muitos têm avançado além de
Rahner.
SUMÁRIO: A forma dela é de experiência interior imediata (não precisa
de mediação). Ao contrário de ser uma revelação que tenha basicamente
informação, o conteúdo é DEUS na medida em que Eleamorosamente Se
comunica ao homem. A apropriada resposta à revelação não é a aderência a
credo ou a um particular curso de ação, ou modo de viver; é uma atitude
religiosa.

5- REVELAÇÃO COMO UMA PERCEPÇÃO OU CONSCIÊNCIA


Esta linha de compreensão tem envolvido um número considerável de
teólogos, dentre eles GREGORY BAUM e GABRIEL MORAN. Este modelo tem
ancestrais filosóficos na filosofia de Kant, e na Teologia Católica pode apelar a
alguns textos do Vaticano II.

―Revelação é uma emergência para um estágio mais avançado de


consciência humana. Revelação é mediada através de eventos paradigmáticos.
Neste caso, revelação não tem conteúdo fixo. A Bíblia deve ser reinterpretada
para se ajustar à realidade histórica.

Para a Teologia da Libertação, DEUS é revelado na PRAXIS histórica da


libertação. A situação mais o nosso dedicado e reflexivo envolvimento, medeia
a palavra de DEUS para nós. Hoje esta Palavra é mediada pelo clamor do pobre
e do opresso.
GUSTAVO GUTIERREZ - Pai da Teologia da Libertação:
―A Teologia é a cena da Revelação que DEUS faz do ministério de Sua
Pessoa. Sua Palavra nos alcança na medida do nosso envolvimento na evolução
da história‖. Revelação, portanto, ocorre quando conhecemos e aceitamos o
chamado de DEUS para participar na luta histórica por libertação.
GABRIEL MORAN - Preocupa-se com o humano, com o contemporâneo,
com o existencial. Revelação é uma maneira de ver que se refere a uma relação
de interação mutual, não uma coleção de dados revelados. Ela ocorre quando
experimentamos a proximidade de Alguém que nos ama e Se preocupa
conosco. Nestes momentos, nós percebemos a presença do divino, isto é, o
significado desta presença que tem realidade prático-social, e está disponível a
toda a humanidade. Em outras palavras, Revelação é um fenômeno universal
com multiplicidade de específicas expressões da qual o Cristianismo é uma
delas.

DENOMINADOR COMUM: Estas tendências modernas têm um denomi-


nador comum: uma abordagem antropocêntrica à Revelação; elas definem a
Revelação quase inteiramente do ponto de vista do homem, do sujeito que crê,
em vez de fazê-lo da perspectiva de DEUS.
Revelação, segundo estas posições, conquanto haja diferenças, não pode
consistir de informações vindas de fora do homem.
A teoria objetiva, conceptual, tradicionalmente aceita pelos cristãos, tem
sido progressivamente substituída por teorias subjetivistas, e estas teorias,
contrariamente à posição tradicional, considera a revelação como uma
mensagem formulada ao dinamismo religioso do espírito humano.

CAPÍTULO V
V - REVELAÇÃO GERAL E ESPECIAL
1- Duas revelações: a Teologia tradicionalmente tem feito
referência a duas formas de Revelação, ou revelação que encontra duas formas
de expressão:
A- GERAL 1. Natureza ; 2. Consciência Humana

B- ESPECIAL 1. Jesus Cristo - Revelação Máxima (Heb.1:1)

2. Bíblia - Palavra Escrita, originalmente confiada a um grupo


especial de pessoas.

REVELAÇÃO GERAL REVELAÇÃO ESPECIAL


1. Imediata, sem mediação 1. É mediada
2. Geral em natureza 2. Específica
3. Acessível a todos 3. Disponível apenas através de
um meio
4. Geral em conteúdo 4. Específica em conteúdo
5. Usa leis naturais, fenômenos 5. É sobrenatural
naturais, a própria natureza do
homem.
6. Dada antes da queda, PRÉ- 6. PÓS-LAPSARIANA, Revelação
LAPSARIANA, PRÉ-SOTÉRICA Sotérica
7. Apela ao homem como 7. Dirigida ao homem em seu
criatura de DEUS estado pecaminoso.

2-REVELAÇÃO GERAL: SUMÁRIO DAS POSIÇÕES:


Alguns teólogos, notadamente da Nova Ortodoxia, frontalmente
negam qualquer possibilidade de revelação geral, defendendo a infinita
distinção qualitativa entre DEUS e o homem e a destruição da IMAGO DEI no
homem pela queda.
A- KARL BARTH recusou reconhecer qualquer revelação à parte da
Palavra de DEUS. Revelação para ele significou a encarnação de Jesus Cristo, a
Palavra encarnada. BARTH via um perigo de que a aceitação da Revelação
Geral pudesse eclipsar ou distorcer a Revelação Especial de DEUS em Cristo na
Bíblia. Ele dizia porque esta revelação é mínima, ela se presta apenas para a
rebelião humana e ser distorcida para favorecer algum projeto favorito.
 Barth viu isto acontecendo na ideologia nazista: o apelo é feito à
superioridade ariana.
 Super enfatizada, a revelação geral leva ao conceito de que os
seres humanos podem aprender a verdade pelos próprios poderes da razão e
não depender da revelação salvadora, sotérica, do Evangelho.
B- LIBERAIS: A teologia liberal é grandemente constituída sobre o
fundamento da Revelação Geral, afirmando mesmo que ela é suficiente para a
salvação.

PERIGO: Quando se pode descobrir a DEUS no universo interior e


exterior, não se precisa mais de revelação.

C- T. DE AQUINO E A TRADIÇÃO TOMISTA - Afirmam que a mente


racional ajudada pela analogia de DEUS (ou que existe entre DEUS e o
homem), pela lei da causa e efeito, é capaz de provar a existência e a infinita
perfeição de DEUS.

Tomaz de Aquino constituiu 4 argumentos racionais para provar a


existência de DEUS:
1- Argumento Cosmológico - A existência do Cosmo ou universo ao
redor, nos aponta para a existência de DEUS.
2- Argumento Teológico - há finalidade, desígnio, propósito, no
universo, e a maneira complexa em que todas as coisas se interligam no
universo apontam para a existência de um Criador.
3- Argumento Ontológico - tem que ver com ideal de perfeição. Dentro
de um homem imperfeito, de um homem cercado de imperfeições, apontam
para uma fonte maior do que o próprio homem.
4- Argumento Antropológico - a própria inteligência do homem, capaz
de apreciar a inteligência no universo, capaz de transcender-se, superar-se, é
uma evidência de que deve haver Alguém maior do que o próprio homem,
como sua fonte.
D- G. BERKOWER, A KUYPER, C. VAN TIL - Admitem a existência de uma
revelação geral, mas negam que ela possa transmitir conhecimento à mente
não regenerada, obscurecida pelo pecado. A natureza pode transmitir
conhecimento apenas àqueles que foram iluminados pela graça reveladora de
DEUS.

E- LUTERO, CALVINO, C. HODGE, B. WARFIELD - arguem em favor da


objetiva existência da Revelação Geral, da sua limitada utilidade em transmitir o
conhecimento de DEUS, Sua existência, mas ao contrário do grupo anterior,
afirmam que este conhecimento está disponível a todos os homens.
Calvino disse que ―mesmo os ímpios são forçados pela mera
contemplação da terra e do firmamento, a elevar-se para o Criador.‖

3- A BÍBLIA E A REVELAÇÃO GERAL:


1. V.T. - Sal.19:1-3 (―Os Céus proclamam...‖)
Jó 36:24 - 37:24
Jó 38:1 - 39:30
2. N.T. - Atos 14:15-17 - DEUS não Se deixou sem testemunha.
Poder Criador
Poder mantenedor
 Atos 17:24-31 - Paulo referiu-se a um contato entre ele e sua
audiência, a revelação que DEUS faz de Si na natureza.
 DEUS é o Criador - v.24
 DEUS é auto-suficiente - v.25a
 Ele é a fonte da vida e de todo o bem - v.25b
 É um ser inteligente, que formula planos - v.26
 Está presente no mundo - v.27
 É a fonte e base da existência humana - v.28.
ROM. 1 e 2 - tratado teológico mais elevado do N.T. sobre a Revelação
Geral.
Rom.2:14-25 - ensina outra dimensão da Revelação geral, implantada na
natureza humana (SENSUS DIVINITATIS), consciência humana, atestada pelo
coração.
Nesta seção de Romanos, Paulo diz que todos os homens são pecadores:
os judeus são culpados pela transgressão da lei escrita na pedra (revelação
especial) e os gentios são culpados de transgredir a lei escrita na consciência -
Rom.1:32.

Paulo argúi que através da universal revelação de DEUS na natureza, Ele


é claramente visto, entendido e conhecido - vv.19-21.

THEIOTES - Usado para Divindade, significa perfeição de DEUS. Paulo


argumenta que este conhecimento elementar é adquirido por reflexão racional
sobre a ordem criada (verbo GNOSKW) - vv.19 e 20 - neste ponto conota
PERCEBER.

Esta revelação está disponível desde a criação.


As Escrituras ensinam que a consistente resposta do pecador quando
confrontada pela Revelação Geral, sua atitude é descartar da consciência esta
Revelação. Assim, ao invés de adorar a Deus, os pecadores afirmam sua
autonomia. Então Deus deliberadamente deixa os homens à mercê dos seus
impulsos e assim, esta revelação, em vez de ser salvífica, é condenatória.
5- Revelação Geral - 1. A Natureza como sendo uma fonte real de
conhecimento acerca de Deus; 2. Impossibilidade do homem em interpretar
corretamente a Natureza sem o auxílio da Revelação Especial.
SUMÁRIO: Uma vez que a revelação geral é PRÉ-LAPSARIANA, ela não
tem propósito soteriológico, anulamos a revelação especial dada em Jesus.
Ela tem uma utilidade limitada, é válida e útil, mas não suficiente. Ela pode
servir como uma ante-sala para uma revelação especial. Ela prepara o caminho,
serve de base racional para a revelação mediada pela Bíblia. Para o homem
pecaminoso, revelação especial é essencial, e esta necessidade de revelação
especial, reside primariamente na sua inabilidade de ler corretamente a
revelação de Deus na Natureza.

Assim, a revelação especial fornece ao homem, iluminação para melhor


entender o testemunho da revelação natural. O homem regenerado pelo
Evangelho, pode ler corretamente a revelação especial restaura a revelação
geral à sua primitiva glória.
Calvino dizia ―que a revelação especial nos habilita a ler corretamente o
livro da Natureza‖, corrige o nosso astigmatismo, é uma lente para ver o que
―realmente estava lá, para ler o que sempre esteve disponível.

A revelação especial transcende a geral, oferece informação inacessível


ao homem por qualquer outro meio.
REVELAÇÃO ESPECIAL
1. Sua Necessidade - A necessidade especial tem sido descartada,
como pertencendo a uma era de ignorância, credulidade.
O homem moderno, com sua quase reverência pelo método científico,
tem concluído que se a ele fossem dados os instrumento e o tempo
necessários, resolveria os problemas da humanidade. 94% dos cientistas
conhecidos vivem hoje e os problemas básicos da humanidade não têm sido
resolvidos.
Problema básico: sob que autoridade vivemos hoje? Sob que autoridade
o sentido da vida se torna claro: interior ou exterior? O homem é uma
autoridade inadequada, a esta inadequação humana para a solução de seus
problemas, acrescenta-se um profundo sentimento de culpa que acompanha
cada pessoa que invoca a necessidade de Deus.

Então, chegamos a que tipo de Deus é este com que temos que tratar?
Como Ele é conhecido? Embora a revelação geral possa dar alguma informação
sobre Deus, o universo não pode ser mais preciso em suas informações do que
um objeto criado informar algo sobre seu fabricante (mesa falar do carpinteiro).

Podemos conhecer personalidade até certa medida por observação, mas


nossa avaliação pode ser errada, nossos motivos podem ser mascarados, e o
EU real daquela pessoa pode ficar escondido. Daí, personalidade só se conhece
através de auto-revelação.
Então, se o homem não pode compreender o próprio homem, como
poderia ele conhecer a Deus?

Personalidade só se conhece por auto-revelação. Então Deus só pode ser


conhecido adequadamente à proporção em que Ele Se revela, comunica a Sua
mensagem, e esta revelação não é apenas importante, é CRUCIAL, VITAL.
Gen. 1:1 - Respostas a quatro perguntas básicas da EPISTEMOLOGIA:

1. QUANDO? No princípio
2. COMO? Criação
3. QUEM? Deus
4. QUEM? Céus e terra
As questões finais da vida podem ser respondidas apenas pelo Autor da
vida. Apenas a revelação especial provê uma chave adequada para interpretar
os propósitos e destino do homem (PROTOLOGIA).
 As descobertas científicas, conquanto importantes, não nos
podem dar certeza quanto ao propósito da vida, nem razão pela qual a vida
deva ser vivida.
 É apenas conhecendo a DEUS na Sua revelação que podemos ter
a resposta.
 Este conhecimento, adaptado aos dilemas da existência humana,
pode ser encontrado na Bíblia. A Bíblia é o meio ou conduto da Revelação
Divina: ―Veio a mim a Palavra do SENHOR...‖ 130 X; ―Assim diz o SENHOR...‖
359 X.
 A Bíblia reclama para si este Status.
 Heb.1:1 - DEUS falou de muitas formas, estágios de comunicação.
Sobre estas agências se baseia a autoridade e conteúdo da Teologia.
1. A Glória da Bíblia é que ela apresenta um DEUS pessoal, que
torna-Se a Si mesmo conhecido, um DEUS que entra em concerto (BERIT),
comunga conosco, parte o pão convida os pecadores para a paz.
 Ao contrário dos deuses gregos e pagãos, que não falavam, não
se revelavam, DEUS quebra o silêncio mortal que nos envolve, invade a história
e estabelece o diálogo conosco.
 Interessa-nos estudar Revelação como manifestação da graça e
misericórdia de DEUS, revelação que oferece base para a fé.
 As credenciais da revelação cristã, não são o apelo de uma
remota e austera autoridade de um DEUS distante e afastado.
 A diferença básica entre a Bíblia e os outros livros é que eles não
falam de boas novas. O que torna diferente a revelação cristã e a Bíblia é sua
mensagem de graça e perdão, que irresistivelmente atrai os pecadores.
 DEUS não Se conserva distante, Ele cruza o espaço e Se revela.
2. Caráter Dinâmico da Palavra:
A- Quando o escritores do V.T. falam da Revelação de DEUS, revelação
de DEUS ao Seu povo, frequentemente falam da Palavra de DEUS - DABAR
YAHWEH (Mínimo 200 X).

Gn. 15:1 - ―A palavra do Senhor veio a Abraão...‖


I Sam.3:21 - ―O Senhor Se revelou a Samuel pela Palavra do Senhor‖.
II Sam. 7:4 - ―A Palavra do Senhor veio a Natã‖.
Sal.105:19 -
Sal.111 identifica a palavra com a lei.
Nos profetas literários, encontramos esta mesma fórmula. Na abertura
de cada um destes livros, todos são similares na afirmação ―veio a mim a
Palavra do SENHOR‖ (Am.3:8; Os.1:1; Isa.1:10; 40:8; Jer. 1:1 e 2).

Estes profetas entenderam a mensagem como sendo de DEUS e não


deles mesmos.
Qual é o caráter da Palavra?
Caráter Criativo da palavra: Gn.1:1
Sal.33:6 - Paralelismo sinônimo: A palavra é identifica com o sopro de
Sua boca, este sopro é símbolo de vida.
Cada estágio da criação é descrito de forma similar como sendo a
palavra de DEUS, a criação é resultado da Palavra e deste modo o autor nos
ensina quão poderosa é esta Palavra, diferente das palavras humanas. Quando
DEUS fala, algo acontece. Quando o homem fala, nada ocorre; Quando DEUS
fala, grandes coisas acontecem.
Jer.8:9 distingue entre a palavra de seus eruditos contemporâneos e a
Palavra de DEUS.

A palavra é a mais direta e clara expressão do pensamento humano.


Assim o pensamento de DEUS é expresso na Sua criação do mundo. E não é
por acidente que em Gn. 1 e Sal.23 a Criação é atribuída à Palavra e ao sopro
de DEUS.
AGOSTINHO - nas coisas reveladas - UNIDADE
nas coisas não reveladas: LIBERDADE
em todas as coisas: CARIDADE
A palavra hebraica para sopro é a mesma para espírito. Sopro no
hebraico e em muitas línguas antigas, é a própria vida. Assim DEUS coloca o
Seu poder interior na Sua Palavra.

B- NOVO TESTAMENTO - Duas expressões para ―palavra‖: RHEMA e


LOGOS.

O N.T. continua o uso do V.T. com relação a esta qualidade dinâmica da


Palavra.
Lc.3:2 - João Batista é colocado na linha dos profetas do V.T. ―Veio a
Palavra (RHEMA) de DEUS a J. Batista...‖
No V.T. DABAR é usada para descrever a lei; no N.T. a Palavra RHEMA
THEOU é usada com referência ao Evangelho, as Boas Novas de Cristo. Atos
4:31; 13:46; 17:13; Col.1:25.
Em alguns lugares, a Palavra do Senhor é usada significando a
promessa de DEUS ao Seu povo - Rom.9:6; Heb.11:3. Como DABAR, RHEMA
significa não apenas Palavra, mas também coisa, evento, o próprio concerto.
Caráter abrangente da Palavra:
Lc.1:37 - ―Haverá alguma coisa impossível...‖ (RHEMA). Paralela a Gn
18:14: ―Acaso para DEUS há cousa demasiadamente difícil ?‖

Lc.2:15 - ―Isto que aconteceu (RHEMA) - acontecimento histórico.


A Palavra de DEUS não significa apenas um meio de comunicar
informações, mas também um poder criativo que produz um efeito positivo.
Neste caso, Palavra e atos estão ligados. Evangelho é poder, não doutrina.

A mais distintiva idéia de Palavra no N.T. ocorre no prólogo do


Evangelho de S.João - LOGOS. A nossa tradução falha em captar o completo
significado do original grego. LOGOS significa muito mais do que isto; o LOGOS
significa o pensamento organizador por detrás do termo, portanto, significa a
própria razão.

Os filósofos gregos e os pais da Igreja usaram LOGOS significando


razão. No prólogo do Evangelho de João, temos a ponte entre a cultura judaica
helenística de um lado e do outro o Evangelho de Cristo. Já vimos o lugar da
preeminência de DABAR no V.T., seu poder criador, dinâmico, impelente,
propulsivo. Por outro lado, no período do N.T., o termo LOGOS significou
também a ordem racional por detrás da Natureza, a ordem que dá sentido às
coisas, que torna a ciência natural possível. FILO, filósofo judeu contemporâneo
de Jesus, combinou as duas posições. Quando João nos diz que no começo era
o VERBO, e o Verbo estava com DEUS e o Verbo era DEUS, ele estava fazendo
referência o poder criador de DEUS presente na natureza, referência a Gn.1:1.
Então, a própria razão de DEUS, o propósito significativo é expresso
nesta Palavra; João não começa com o tempo, João começa com a eternidade.

João 1:14 - ―o Verbo tornou-Se carne e habitou entre nós.‖


Se queremos ver a razão das coisas, o pensamento de DEUS na criação,
olhemos para JESuS. Ele é a perfeita encarnação, a perfeita revelação da
Palavra de DEUS, ativa, poderosa, criadora e dinâmica. Ele não apenas falou a
verdade, Ele era a verdade.

No quarto Evangelho Ele é o que promete:


 água para a samaritana (Ele é a água);
 Pão (Ele é o Pão da Vida);
 ―Quem Me segue não anda em trevas‖ (Eu Sou a luz).
 ―Quem Me segue não morrerá‖ (Eu Sou a ressurreição).
Então, numa boa linguagem bíblica, o cristão pode falar de Jesus como a
Palavra de DEUS. Apoc.19:13 - Verbo de DEUS.
V.T. N.T.
DABAR é luz Jesus é luz
DABAR é pão Jesus é pão
DABAR é caminho Jesus é o caminho
DABAR é verdade Jesus é a verdade
Jesus é a encarnação do Pai, de DEUS, dinâmica, criativa, poderosa...
Lc. 5:1; João 5:24; 8:43; 12:48.
O N.T. chama a Jesus de ―a Palavra de DEUS‖ e a ―Palavra de Vida‖ -
Fil.2:16; I João 1:1.
SUMÁRIO
DABAR é uma palavra com poder, provoca reação, eventos.
A revelação não é algo estático. Isa.52:10; 53:1 - Na revelação DEUS
trata ativamente conosco. Rom.1:17 - A justiça de DEUS se revela no
Evangelho. É a tendência intelectualista e estática noção de revelação que
transforma esta categoria em doutrinas apenas, quando elas são
essencialmente poder, ação. O Evangelho é o poder de DEUS - DINAMIS.
A revelação é ação originada em DEUS, poderosa manifestação de DEUS.
A revelação é atividade de DEUS, Sua ativa e efetiva intervenção na vida
humana. A Bíblia é, portanto, a mensagem acerca desta ação, mas esta
mensagem é em si mesma a ação de DEUS.
Quando ela é proclamada, DEUS continua e completa Sua ação em nós.
Quando o Evangelho é pregado, DEUS liberta o homem do domínio e poder da
destruição, e transforma-o em membro de Sua família.
3- NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DA REVELAÇÃO ESPECIAL
3.1. Características:
3.1.1. Ela é indispensável porque a Revelação Geral não é
suficiente, porque na sua condição caída, a humanidade não tem acesso a
conhecimento de DEUS por outro meio.
3.1.2. Ela é o resultado da iniciativa divina, DEUS dá o primeiro
passo, estabelece o diálogo, aquilo que o homem não pode alcançar por si
mesmo, DEUS oferece graciosamente.
Rom.9:20, 21 - contraste entre barro e o oleiro - não há afinidade entre
ambos - é um ato da misericórdia divina em Se revelar.
 O homem pode aceitar ou rejeitar, mas não pode mudar os
termos deste relacionamento, DEUS é Quem determina como este
relacionamento se estabelece. O homem não diz se é certo ou errado.
3.1.3. Esta revelação vem a PESSOAS ESPECIFICAS,
PARTICULARES, com o propósito de prover meios para o conhecimento de
DEUS.
Na Sua soberania, DEUS é livre para escolher determinados indivíduos
para serem condutos da Sua revelação, mas esta escolha não é arbitrária com
respeito à perdição e salvação.

Ex. DEUS escolheu uma família, uma pessoa (Abraão, Jacó), uma tribo,...
3.1.4. DEUS escolhe pessoas em SITUAÇÕES CONCRETAS: toda situação
histórica do profeta tem um impacto sobre o fenômeno da revelação, por isto
se encontra esta diversidade dentro da Bíblia. Quando DEUS alcança este
indivíduo, Ele não muda estes elementos concretos que fazem parte da
experiência humana.
3.1.5. PESSOAL:
a) Os filósofos em geral não estão muito dispostos a atribuir
personalidade a DEUS. Do ponto de vista da revelação bíblica, é impossível
conceber comunhão com um DEUS impessoal, portanto, esta revelação é feita a
partir de um DEUS pessoal.
b) O documento básico da revelação especial (Bíblia) nos apresenta a
DEUS conversando com os homens assim como os homens conversam entre si.
c) Além disso, a realidade da revelação especial atribui a DEUS atos
pessoais.
d) Os antropomorfismos da Escritura são testemunhos indiretos da
personalidade de DEUS.
3.1.6. A revelação especial é REMEDIADORA, CURATIVA - é o meio pelo
qual DEUS alcança o pecador.

[1]"Teologia," Enciclopédia® Microsoft® Encarta. © 1993-1999 Microsoft Corporation. Todos os


direitos reservados.

[2]
OBS: Conhecimento, no pensamento hebraico, não apresenta dicotomia
entre teoria e prática. Esta separação é produto do pensamento grego. Da
perspectiva bíblica, o conhecimento conduz à prática.
O verbo lembrar no hebraico, não é um simples exercício da memória; não é
abstrato. mas concreto. Quando DEUS lembra, algo acontece (I João 5:20).

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