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Dados da tese/dissertação AGUIAR, José Vicente. Narrativas sobre povos indígenas na Amazônia. 2011. 215 f.

Tese (Doutorado em Educação) – Programa


escolhida de Pós-graduação em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 2011.

Link para acesso ao texto https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/49075/000827023.pdf?sequence=1&isAllowed=y


completo

Orientador/a da Dra. Rosa Maria Hessel Silveira


tese/dissertação

Sobre o/a autor/a, indicar O autor do texto não é indígena e por isso ao se apresentar, explica o motivo pelo qual se interessou pelo tema indígena. Um deles,
se for o caso é pelo fato de ser professor e atuar no Estado do Amazonas, lugar de maior concentração de população indígena. O autor se
apresenta logo no segundo parágrafo da apresentação do trabalho. Fala de sua atuação e justifica o seu interesse pela temática.
Esta pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
UFRGS, e suas análises foram elaboradas a partir dos diálogos teóricos desenvolvidos e estimulados principalmente pela linha de
pesquisa Estudos Culturais em Educação, em estado de estreita relação de aproximação aos pensamentos expressos por Michel
Foucault, Roland Barthes, Gilles Deleuze e Jacques Derrida, fundamentalmente. Enquanto temática investigada, a pesquisa
analisou a relação entre a produção das narrativas e os povos indígenas na Amazônia ao longo dos séculos XVIII ao
XX. É importante frisar, sobretudo, que às narrativas, nesta pesquisa, foi atribuída a ideia de um dispositivo que serviu para nomear
os sujeitos, de modo a classificá-los, hierarquizá-los e sugerir a criação de um sistema de pensamento social sobre os povos
Resumo
indígenas. A pesquisa foi constituída em quatro momentos. O primeiro corresponde ao lugar teórico e às ferramentas com as quais
as análises foram produzidas, cuja finalidade consiste em construir uma forma de olhar visando sustentar a ideia de que a relação
saber-poder pode, em certa circunstância, servir como instrumento pelo qual se procurou projetar a criação social do outro, além
de também ressaltar o efeito político do uso da língua e da escrita. Dessa forma, a língua e a escrita são vistas como instrumentos
sociais, com força de efeitos de verdades, pelos quais os tipos sociais negros e indígenas foram produzidos, principalmente por
narrativas que os destacam na condição de sujeitos social e moralmente subalternos e selvagens. No segundo, são feitas as
análises das narrativas produzidas pelos padres jesuítas João Daniel, Samuel Fritz, Cristóbal de Acuña, que atuaram na Amazônia
e Antonio Sepp, que atuou na região do Rio Grande do Sul, procurando identificar como os povos indígenas foram incluídos nas
narrativas de natureza religiosa. Evidentemente, estes textos revelaram as inúmeras iniciativas visando à transformação dos povos
indígenas em cristãos e em sujeitos que incorporassem um modo de ser, de viver e de pensar ocidentalizado, pois dessa forma
passariam a ser mais úteis para o projeto dos colonos e dos jesuítas que necessitavam de corpos e almas – corpos para os serviços
braçais e almas para a expansão do cristianismo. No terceiro momento, foram analisadas as narrativas dos viajantes-cientistas-
naturalistas do século XIX que passaram pela Amazônia e produziram narrativas a respeito dos povos indígenas, que reiteram a
ideia anteriormente apresentada pelos jesuítas e, de igual modo, produziram suas narrativas apresentando os indígenas na
condição de sujeitos rudes, preguiçosos, indolentes e selvagens. No último, sobre as narrativas da atualidade, os povos indígenas
são apresentados, no mínimo, em três perspectivas distintas. Na primeira, são vistos como os sujeitos que representam obstáculos
para o progresso da nação, pois continuam sendo classificados como povos pouco afeitos ao trabalho, além de suas terras
demarcadas se constituírem em áreas que não podem ser utilizadas para a criação e plantação como pretende um setor do
agronegócio; no segundo, são apresentados como sujeitos que vivem em completa harmonia com a natureza e, por isso, são
considerados seus protetores; na terceira, os indígenas são vistos como sujeitos de direito e são apoiados diante das ações do
Estado e daqueles que pretendem usar as terras indígenas. De qualquer forma, acredita-se que as narrativas produzidas e
analisadas nesta pesquisa, sejam do passado, sejam da atualidade, principalmente as emergentes da relação saber-poder,
religiosas ou laicas, agiram e agem no sentido de classificá-los, de hierarquizá- los e de estimular uma forma de pensamento da
sociedade envolvente a respeito dos povos indígenas, que reconhece a ideia de respeito às diferenças, embora reaja
negativamente quando se trata da efetivação objetiva dos direitos constitucionais e sociais dos indígenas.
Usa o conceito de Narrativa como uso político (Barthes); Força de agenciamento (Nikolas Rose); A força de verdade do discurso
e a subjetivação do sujeito (Foucault e Deleuze); hospitalidade (Derridá)

Narrativas vinculadas à relação saber-poder Michel Foucault, Gilles Deleuze, Roland Barthes, Nicolas Rose, Jacques Derrida e de
outros autores que tenham afinidades de pensamento com os mencionados, como Edward Said.
Apontamentos sobre o
Referencial teórico
procurou-se estudar e analisar as obras dos jesuítas do século XVIII padre Cristóbal de Acuña, padre Samuel Fritz e do padre João
Daniel. E as narrativas dos viajantes-cientistas-naturalistas do século XIX que passaram pela Amazônia e produziram narrativas a
respeito dos povos indígenas.
Charles-Marie de la Condamine, Viagem pelo Amazonas - 1735-1745, Paul Marcoy, Viagem pelo rio Amazonas – 1847, Afred
Russel Wallace – Viagem pelo Amazonas e Rio Negro - 1848 a 1852, Luís Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz. Viagem ao Brasil -
1865-1866 e NÉRI, Frederico José de Santana, Barão de Santana Néri, 1848 ou 9 – 1901 ou 2 País das Amazonas

É interessante observar o uso que o pesquisador faz das pedagogias culturais, situando o campo da educação no sentido amplo
e relaciona as obras dos jesuítas e dos viajantes como pedagogias para a construção do sujeito indígena. Mostrando as relações
de poder sobre eles, na tentativa de construir um novo sujeito para o trabalho e novos cristãos. Assim também construindo imagens
estereotipadas que permanecem ainda atualmente. O pesquisador também mostra a força de agenciamento das narrativas dos
missionários e cientistas a fim de criar um sistema de pensamento sobre os indígenas.
O autor realiza uma metodologia de referência bibliográfica em que analisa narrativas de missionários, cientistas do período colonial
e textos reportagens da atualidade em relação ao saber-poder. No primeiro momento apresenta os instrumentos analíticos. No
segundo, ele se aproxima do pensamento derridiano. No terceiro, analisa as narrativas dos jesuítas. E no último, analisa as obras
dos cientistas-naturalistas do séc. XIX. Isso é para ajudar a entender como os indígenas foram classificados e hierarquizados.
Também analisa textos jornalísticos de pessoas ligadas ao saber acadêmico e narrativas produzidas por especialistas.
Quanto à questão de método, o pesquisador construiu ou produziu dados e situou-os de forma a fazer a história do modo como as
Metodologia da pesquisa narrativas foram produzidas e usadas, e se tal uso foi feito através de esquemas, de programas, de técnicas, de práticas, de
exames, de exercícios, de forma a serem transformados em mecanismos que produziram um processo de subjetivação do
pensamento sobre os povos indígenas. Desses dados, foram analisadas suas regularidades, suas repetições, suas séries, suas
continuidades e descontinuidades nos textos escritos selecionados e nos possíveis artefatos localizados por ocasião das pesquisas
bibliográficas e documentais.

Um dos pontos que destaco é:


Pontos que você
destacaria, como
• O conceito de narrativa com características políticas, não sendo um mero ato de produção textual. Mas relacionado à ideia
contribuições para pensar o
de força, de escolha, de posicionamento, de vontade, de ação política. É interessante como o autor analisa e mostra como
tema.
ela ganha status de verdade e constrói uma subjetivação do sujeito indígena e cria a imagem. Assim construiu um
procedimento analítico das narrativas e seus efeitos de agenciamento do sujeito. A ênfase do estudo está em identificar
como os indígenas foram incluídos nas narrativas e de que forma elas contribuíram para a produção das imagens
classificatórias dos indígenas;
• Outro destaque, se refere ao conceito de Pedagogia Cultural que o autor utiliza, ampliando o conceito de Educação, pois
não se restringe ao espaço da sala de aula. Dessa forma, considera os espaços sociais como por meio de diversos
artefatos. Assim, ele inclui a narrativa como um processo pedagógico capaz de produzir um sujeito determinado
• as narrativas são apresentadas como estratégias discursivas vinculadas à relação saber-poder, o que apresenta um
aspecto de produtividade, visto que funciona na perspectiva de um mecanismo que procura nortear, disciplinar, punir,
regulamentar, dispor ou conduzir um tipo de conduta do sujeito;
• Na relação saber-poder ele consegue um entendimento de como as imagens indígenas foram produzidas pelos não-
indígenas; nessa perspectiva, a produção textual é tomada a partir de uma relação analítico e político. As análises, assim,
estão sendo projetadas para serem atravessadas por questões como a relação saber-poder, produção de verdades e
subjetivação dos sujeitos/
• A partir das análises, o autor concluiu que as pedagogias culturais produzem um tipo de entendimento sobre os indígenas
e que na análise comparativa das narrativas pelo saber religioso jesuítico e pelo saber laico, percebem-se seus desejos
de vê-los transformados primeiramente em cristãos e obedientes à doutrina e submetidos ao modo de vida da sociedade
envolvente, enquanto nas narrativas laicas identifica-se o desejo de novamente vê--los como sujeitos úteis para atender
aos propósitos, principalmente da conservação do meio ambiente ou que atendessem às necessidades de oferta de mão
de obra para a realização de atividades domésticas e agrícolas/
• Acredita-se que a combinação saber-poder, supostamente, atuou, numa perspectiva histórica, no processo de invenção
das formas de pensamentos que submeteram e compararam os indígenas ao tipo humano ocidentalizado
.

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