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brancas locais. Os eugenistas mexicanos procu- No último capítulo, que serve como con-
raram criar um discurso eugênico que pudesse clusão para a obra, a historiadora esboça uma
sustentar a idéia de uma miscigenação constru- reflexão sobre as relações entre a ciência e a
tiva, como propunha o ensaísta José Vasconce- política, demonstrando que as “representações
los em suas obras Raza cósmica (1924) e científicas tanto são conformadas como formam
Indianologia (1925). O caso brasileiro é apre- o mundo à sua volta” (p.213). Nesse contexto
sentado pela autora como particularmente in- chama a atenção para a importância da história
teressante, uma vez que o discurso eugênico da eugenia no tempo presente, na medida em
sobre raça e identidade nacional florescia con- que as discussões sobre genética, biotecnologia
forme as contingências do nacionalismo e das e fisiologia reprodutiva são atualmente apresen-
discussões acerca das políticas de imigração. tadas como idéias “cientificamente validadas” que
No capítulo seis são destacadas as vincu- prometem novos métodos de reprodução hu-
lações internacionais da eugenia latino-america- mana, a eliminação de doenças e “imperfeições
na. Apesar da organização de dois congressos biológicas”, além do desejo de conhecer as ca-
pan-americanos, realizados nas décadas de 1920 racterísticas mais recônditas contidas no DNA.
e 1930, Nancy Stepan explica que a cooperação Para encerrar, valer dizer que o livro em
entre os eugenistas norte-americanos com seus apreço tem contribuído muito para uma série
pares da América Latina fracassou amplamente, de trabalhos produzidos no Brasil e na Améri-
pois punha em evidência as diferentes concep- ca Latina, especialmente no campo da história
ções políticas e ideológicas que norteavam seus das ciências, da medicina e da saúde pública.
projetos eugênicos. A autora demonstra que a Mais do que uma importante referência, ele
organização internacional da eugenia latino-ame- pode ser definido como uma grande agenda de
ricana encontrou abrigo ideológico nos movi- pesquisa sobre temas latino-americanos, uma
mentos eugênicos da Itália, da França e da Bél- vez que apresenta um panorama geral sobre
gica, que associados por “pontos em comum” diversas questões que envolvem não somente
fundaram, em 1934, a Federação Internacional as discussões sobre ciência, raça, gênero, na-
de Sociedades Eugênicas. De acordo com Nancy ção, sexualidade e reprodução humana, mas
Stepan, a construção da “latinidade”, como iden- também sobre a própria história intelectual da
tidade ideológica, ocorreu com uma oposição ao região.
projeto eugênico proposto pelos países anglo-sa-
xônicos. Enquanto a visão anglo-saxônica de raça
era considerada em suas formas unilateral, bio- Vanderlei Sebastião de Souza
lógica e mendeliana, a Federação Latina pensa- Doutorando em História das
va as discussões raciais de forma mais tolerante, Ciências e da Saúde
ligada a uma visão neolamarckista que refletia a Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
diversidade da situação racial na América Latina. vanderleidesouza@yahoo.com.br