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Apostila Currículo e Programas
Apostila Currículo e Programas
Bons estudos!
De certa forma, vocês estão certas, meninas, pois o currículo, pelo menos
o que vamos estudar no curso de Pedagogia, tem múltiplos conceitos e
significados. Acreditamos que, em função disso, vocês perceberão que é
uma área bastante interessante e que nos ajudará a compreender a
dinâmica da escola com relação, entre outros aspectos, àqueles que
tratam de conteúdos, métodos, processo ensino-aprendizagem e
avaliação.
Por outro lado, acreditamos que, para analisar a relação existente entre
os dois termos, seria prudente, primeiro, compreender o significado de
cada um dos vocábulos, para depois justificarmos a junção.
Tudo bem?
Pois bem, já que nos entendemos, vamos iniciar nossa pesquisa tentando
responder à pergunta que deu origem à nossa conversa: O que se
entende por currículo?
Mas como fazer isso? Podemos nos valer de alguns recursos, tais como
recorrer ao léxico ou realizar um levantamento
Mas o que esse autor pensa sobre o assunto? Para Bobbitt (1918), apud
Pacheco (2005), o currículo é todo leque de experiências, sejam estas
dirigidas ou não, que visam ao desdobramento das capacidades do
indivíduo; ou é a série de experiências instrutivas conscientemente
dirigidas que as escolas usam para completar e aperfeiçoar o
desdobramento.
Portanto,
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Currículo
Mais do que isso,
— Claro que sim, meninas! Vamos tenta r fechar essa conversa, pelo
menos sobre a relação entre currículos e programas, pois o campo
curricular é bastante amplo e temos muito mais a dizer.
Agora que conhecemos um pouco mais sobre currículos e sua relação com
os programas, vamos ver o que alguns estudiosos que ficaram conhecidos
como críticos do currículo pensam sobre o assunto. Para tanto,
analisaremos, no próximo tópico, as teorias curriculares.
2. TEORIAS DE CURRÍCULO
Claro que não. As teorias são importantes, pois elas antecipam a prática.
Portanto, vejam só os questionamentos apresentados pelo autor:
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Tomaz Tadeu da Silva é Ph. D pela Stanford University (1984). Atualmente é professor
colaborador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Seu último trabalho publicado (2007) é a tradução da Ética, de Spinoza
(Autêntica). Publicou mais de trinta artigos em periódicos especializados, trinta capítulos de
livros e 25 livros. Atua na área de educação, com ênfase em Teoria do Currículo.
• O que distingue as teorias tradicionais das teorias críticas do
currículo?
Mas qual a origem de cada uma delas? Verificamos que ambas originaram
nos Estados Unidos e tanto as visões conservadoras como as críticas
influenciaram sobremaneira o campo no Brasil, e por isso merecem ser
estudadas. Entretanto, como Silva (2000) propõe uma abordagem mais
detalhada acerca das teorias, vamos nos basear em sua proposta.
São essas as três grandes áreas, se é que podem ser divididas dessa
forma, pois não conseguimos imaginar o currículo de forma fragmentada.
Como essa discussão não cabe aqui, pelo menos neste momento, vamos
tentar explicitá-las para que possamos compreendê-las melhor.
A partir dessa abordagem, percebemos que ela procura ser neutra, tendo
como principal foco identificar os objetivos da educação escolarizada,
formar o trabalhador especializado ou proporcionar uma educação geral,
acadêmica, à população. Silva (2000) explica que essa teoria teve como
principal representante Bobbit, que escreveu sobre o currículo em um
momento no qual diversas forças políticas, econômicas e culturais
procuravam envolver a educação de massas para garantir que sua
ideologia fosse garantida. Sua proposta era que a escola funcionasse
como uma empresa comercial ou industrial. Segundo Silva (2000, p.23),
Vale dizer que Dewey, assim como Kilpatrick, era representante da teoria
progressivista, cuja concepção de currículo, nesse caso, parte da
totalidade de experiências vivenciadas pela criança, sob a orientação da
escola, levando em conta e valorizando os interesses do aluno.
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A criança e o currículo.
Figura 2: Representação do Currículo Clássico Fonte: www.athens.sg
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O currículo humanista foi contestado tanto pelo currículo progressista quanto pelo
currículo tradicional no início do século XX.
suas formas, como a análise dos aspectos cognitivos e do conhecimento
técnico como formas de dominação.
Quanto à sua origem, entendemos que não podemos dizer que houve
uma data específica para o fato, mas sim um período de transição que,
por sua vez, veio acompanhado de uma série de movimentos sociais e
culturais que caracterizaram os anos sessenta em todo o mundo,
surgindo, portanto as primeiras teorizações questionando o pensamento e
a estrutura educacional tradicionais, em específico, aqui, as concepções
sobre o currículo.
• 1971– Michael Young: Knowledge and control: new directions for the
sociology of education;
Mas e a escola? Como ela fica nesse caso? Mais do que isso, e o currículo?
Afinal, estamos discutindo o currículo escolar!
Na análise de Silva (2004), fica evidente que a escola não atua pela
inculcação da cultura dominante às crianças e jovens das classes
dominadas, mas, ao contrário, por um mecanismo que acaba por
funcionar como instrumento de exclusão. Dessa forma, o currículo da
escola estaria baseado na cultura dominante e as crianças das classes
dominantes poderiam facilmente compreender o código, pois é natural a
elas, mas o mesmo não acontece com as crianças das classes dominadas.
Nesse caso, de acordo com Silva (2000, p.35), esse “código funciona
como uma linguagem estrangeira”, sendo, portanto, incompreensível.
Basil Berstein — De acordo com Silva (2000), esse autor elaborou sua
teoria na linha sociológica, definindo que a educação formal encontra sua
realização em três sistemas de mensagem: o currículo, a pedagogia e a
avaliação. Diante disso, percebemos que Berstein entende que o currículo
define o que conta como conhecimento válido; a pedagogia, por sua vez,
define o que conta como transmissão válida do conhecimento; e a
avaliação resgata o que conta como realização válida desse
conhecimento.
Por outro lado, são importantes para justificar o fato de que grande parte
da produção que surgiu a partir da década de noventa foi influenciada
pelo pensamento pós-moderno, com ênfase na análise da relação entre
currículo e construção de identidades e subjetividades.
Podemos constatar que essa linha de trabalho está presente nas
produções de Giroux, McLaren, Cherryholmes e Popkewitz. Esses teóricos
defendem que o currículo constrói identidades e subjetividades, uma vez
que, junto com os conteúdos das disciplinas escolares, se adquirem, na
escola, valores, pensamentos e perspectivas de uma determinada época
ou sociedade. Por isso, os estudos sobre a cultura escolar, a cultura que a
escola privilegia, as diferenças culturais dos grupos sociais e as relações
entre esses elementos têm sido preocupações crescentes no campo
curricular. Os estudos multiculturais enfatizam a necessidade de o
currículo “dar voz” às culturas excluídas, “negadas ou silenciadas”.
— Que bom que vocês gostaram. Essa era a nossa intenção. Quanto à
pergunta de vocês, a resposta é não. Na próxima unidade estudaremos
sobre o currículo no Brasil e no mundo a partir de uma análise
comparativa de programas curriculares de alguns países, mas por hoje é
só.
— Até breve!
3. O CURRÍCULO NO BRASIL
Para discutirmos o currículo no Brasil, precisamos ter em mente que o
currículo tem um papel fundamental na transformação do sistema
educacional, assim como indica que tipo de homem ou mulher irá compor
a sociedade daqui a vinte ou trinta anos, ou seja, se serão críticos (as) ou
não. Além disso, estabelecerá que valores terão força nessa sociedade do
futuro.
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Esse trabalho constitui-se em uma adaptação da tese de doutorado apresentada ao
Instituto de Educação da Universidade de Londres sob a orientação dos professores
Michael Young e Robert Cowen e realizada no período de 1984 a 1988.
progressistas decorrentes do pensamento de Dewey e Kilpatrick
começaram a exercer certo fascínio em nossos educadores e teóricos.
Frente ao exposto, não podemos fechar o assunto, mas sim nos valermos
dos diferentes pontos de vista para ampliarmos nossa análise.
— Não é bem isso. É claro que o que tínhamos, afinal, não dá para pensar
a educação sem o currículo. Por outro lado, não podemos negar que
recebemos fortes influências de outros países, em especial dos Estados
Unidos, conforme sinalizado pelas pesquisadoras Alice Casimiro Lopes e
Elizabeth Macedo.
— Mas vamos continuar nossa conversa, que logo vocês perceberão que
foi a partir dos trabalhos realizados nos programas citados, ou seja, INEP
e PABAEE, que a identidade curricular no país foi se constituindo.
Conforme vocês podem ter percebido, estamos falando dos anos vinte e
trinta do século XX, e aí cabe um questionamento: até quando
permaneceu esse pensamento?
Grosso modo, podemos dizer que até o final dos anos 1950, pois não
houve, no Brasil, grandes mudanças até então que alterassem o quadro.
Basicamente, essa situação durou dez anos, pois, nos anos oitenta, com o
início da redemocratização do Brasil e o enfraquecimento da Guerra Fria,
a hegemonia do referencial funcionalista norte-americano foi abalada
(Lopes; Macedo, 2005).
Contudo, não podemos dizer que uma ou outra tendência foi soberana. Ao
contrário, conforme sinalizam as autoras, a marca do campo de currículo
no Brasil nos anos 1990 é o hibridismo.
Resumidamente, hibridismo diz respeito ao que é composto por
elementos diferentes. Considerando-se que estamos estudando o
currículo, esse ponto de vista se justifica a partir do momento em que
observamos que o campo, nesse período, foi marcado mais pela
diversidade orgânica do que pela uniformidade, ao contrário do que
acontecia até então com a influência norte-americana.
4. O CURRÍCULO COMPARADO
Mas não é isso que está acontecendo nos país, pois, segundo Pinar (2006,
p.144), “como a organização e a cultura da escola estão ligadas à
economia e dominadas pela ‘mentalidade empresarial’, a escola e o
campo do currículo norte-americano têm percorrido caminhos diferentes
durante os últimos trinta anos”.
Mas nem tudo são flores, pois, segundo Pinar (2006), o processo de
implementação da reforma fez com que os professores passassem a
sofrer uma forte pressão por parte do governo para que as unidades
escolares cumprissem as metas estabelecidas. Além disso, em alguns
estados, a reforma do ensino tem significado reforma da formação
docente, tanto no diz respeito a uma re-estruturação dos cursos de
formação de professores de base universitária, quanto na quebra do
monopólio da escola normal.
Nesse caso, fica evidente que as funções das autoridades escolares, bem
como a autonomia dos professores, no que se refere às decisões
curriculares, foram reduzidas.
A situação era caótica e insustentável por parte dos atores locais, que,
por sua vez, ansiavam por um provável aumento da diversidade e da
escolha, mas o então primeiro-ministro, John
Major, que era um político conservador, do outro lado, ansiava pelo dia
“em que todas as escolas com financiamento público funcionassem como
escolas com ‘livre auto-administração’”. Segundo Whitty e Power (2002),
Major contava com os confiáveis diretores de escolas, professores e
membros do governo para o bom funcionamento das suas escolas, bem
como nos pais, para que estes fizessem a escolha certa para as suas
crianças.
Para tanto, a educação é obrigatória para alunos dos sete aos dezesseis
anos de idade; quando o aluno chega ao nível médio, é encaminhado para
classes integradas cujo objetivo é acomodar indivíduos a partir dessa
idade. No país, há um sistema municipal de educação destinado aos
alunos maiores de dezesseis anos, que, por sua vez, oferece o mesmo
padrão de qualidade dado aos mais jovens. No que se refere ao ensino
superior, a Suécia conta com um sistema aberto a qualquer um e com
qualificações bastante diversificadas.
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Para analisarmos o currículo nesse país, tomamos como referência a dissertação de
mestrado de Lourenço Ocuni Cá (1999), que discute a política educacional de Guiné-
Bissau no período compreendido entre 1975 e 1997
constituía um obstáculo muito sério para que os alunos conseguissem
finalizar o curso.
• racionalizar os meios.
Para ilustrar o quadro caótico no qual o país se encontrava até 2002, das
escolas existentes após sua independência de Portugal, mais de 50%
foram completamente destruídas durante a guerra e mais de 40% das
crianças em idade escolar não estavam matriculadas.
Finalizando
São elas:
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O Brasil, por exemplo, por ocasião da elaboração dos PCN, contou com a coordenação
de especialistas espanhóis, com destaque para César Coll.
Com isso, ao término dessa conversa, esperamos que vocês tenham
entendido nossa proposta e aprendido conosco.
Bibliografia básica
PACH ECO, José Augusto. Escritos curriculares. São Paulo: Cortez, 2005.
Bibliografia complementar