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Química tecnológica

Deusmaque Carneiro Ferreira

Natal Junio Pires

Ely Zago

Sebastião Francelino da Cruz

Claúdio Henrique Chadu Santos

Daniel Pasquini

Ricardo Alexandrino Dias


© 2017 by Universidade de Uberaba

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Pró-Reitor de Educação a Distância


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Coordenação de Graduação a Distância


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Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube

Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio

Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário

Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE

Q41
Química tecnológica / Deusmaque ... [et al.]. – Uberaba:
Universidade de Uberaba, 2016.
280 p.: il.
Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba.
ISBN 978-85-7777-614-6

1. Química. 2. Ligações químicas. 3. Reações químicas. I.


Pires, Natal Junio. II. Universidade de Uberaba. Programa de
Educação a Distância.
CDD 540
Sobre os autores
Deusmaque Carneiro Ferreiro

Possui graduação em Biomedicina pela Universidade Federal do


Triângulo Mineiro e especialização em Química pela Universidade
Federal de Lavras. Atualmente é professor N2 da Universidade de
Uberaba, professor de Química no Ensino Médio. Tem experiência na
área de bioquímica, com ênfase em enzimologia e modelagem molecular.

Natal Junio Pires

Mestre em Química (Química analítica) pela Universidade Federal de


Uberlândia. Bacharel e licenciado em Química pela Universidade Federal
de Uberlândia. Atualmente é docente no Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais, unidade de ensino descentralizada de
Araxá – Campus IV.

Ely Zago

Licenciado em Química pelas Faculdades Integradas Santo Tomaz


de Aquino, pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior pela
Universidade Federal de Santa Catarina, especializado em Química pela
Universidade Católica de Minas Gerais.

Sebastião Francelino da Cruz

Bacharel e licenciado em Química pela Universidade Federal de


Uberlândia. Mestre em Química (Físico-química) pela Universidade
Federal de Uberlândia. É docente da Universidade de Uberaba nos
cursos de Biomedicina, Engenharia e Licenciatura plena em Química.
Especialista em Educação pela Universidade de Uberaba. Atualmente é
gestor do curso de Licenciatura em Química.
Claúdio Henrique Chadu Santos

Licenciado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia.


Especialista em Educação a Distância pela Uniube (Universidade de
Uberaba). Atualmente é docente no Ensino Médio e na Universidade
de Uberaba, nos cursos de Farmácia e Tecnologia de Produção
Sucroalcooleira.

Daniel Pasquini

Licenciado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre


em Ciências (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo. Doutor
em Ciências (Físico-Química) pela Universidade de São Paulo. Pós-
doutorado em Físico-Química pela École Française de Papeterie et des
Industries Graphiques de Grenoble – França. Atuou como coordenador do
grupo de P&D em Tintas para Esferográficas e Marcadores na empresa
A.W. Faber-Castell S.A em Ciceco – Centro de Investigação em Materiais
Cerâmicos e Compósitos, do Departamento de Química da Universidade
de Aveiro, em Portugal. Atualmente é docente efetivo na Universidade
Federal de Uberlândia.

Ricardo Alexandrino

Licenciado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).


Desenvolveu novas metodologias para detecção de metais na água,
junto ao laboratório de pesquisa da UFU, onde tem diversos trabalhos
apresentados. Fornece assessoria ambiental em parceria com a empresa
Ouro Verde Florestal.
Sumário
Apresentação........................................................................................IX

Capítulo 1 Ligações químicas – conceitos básicos................................ 1


1.1 Conceitos básicos sobre ligações químicas..............................................................3
1.1.1 Ligação iônica..................................................................................................7
1.1.2 Ligação covalente............................................................................................7
1.1.3 Símbolo de Lewis para os átomos.................................................................10
1.2 Formação de ligações químicas..............................................................................12
1.2.1 Ligação em compostos iônicos......................................................................14
1.2.2 Ligações covalentes e estrutura de Lewis.....................................................17
1.3 Estrutura eletrônica de Lewis..................................................................................19
1.4 A regra do octeto......................................................................................................21
1.5 Prevendo estruturas de Lewis.................................................................................25
1.5.1 Compostos de hidrogênio..............................................................................25
1.5.2 Ressonância...................................................................................................26
1.6 Exceções à regra do octeto.....................................................................................28
1.7 Ligação metálica......................................................................................................33
1.7.1 As principais ligas metálicas..........................................................................34
1.8 Breve história do DNA – uma “ligação” entre a química e a vida...........................35
1.9 Conclusão................................................................................................................36

Capítulo 2 Estudo das grandezas químicas......................................... 41


2.1 Grandezas químicas................................................................................................42
2.2 Massa atômica ou peso atômico.............................................................................46
2.3 Massa das moléculas..............................................................................................50
2.4 Fórmula mínima ou fórmula empírica......................................................................55
2.5 Conclusão................................................................................................................57

Capítulo 3 Funções inorgânicas: ácidos, bases e sais ....................... 59


3.1 Estudo das propriedades físicas e organolépticas das funções inorgânicas:
ácido, base e sal.....................................................................................................61
3.1.1 Aplicação das propriedades organolépticas e fisiológicas de alguns grupos
de substâncias...............................................................................................62
3.2 Estudo das funções ácido e base............................................................................65
3.2.1 Função ácido..................................................................................................65
3.3 Nomenclatura e fórmula dos ácidos........................................................................67
3.3.1 Ácidos não-oxigenados..................................................................................68
3.3.2 Ácidos oxigenados.........................................................................................68
3.3.3 Determinação teórica da força ácida.............................................................71
3.3.4 Força nos hidrácidos......................................................................................71
3.3.5 Força nos oxiácidos.......................................................................................72
3.4 Fórmulas estruturais dos ácidos..............................................................................73
3.5 Reações de ionização.............................................................................................74
3.6 Classificação dos ácidos.........................................................................................76
3.7 Função base............................................................................................................78
3.8 Nomenclatura e fórmula das bases.........................................................................78
3.9 Classificação das bases..........................................................................................82
3.10 Conceitos modernos sobre ácidos e base............................................................82
3.10.1 Teoria protônica de Brönsted-Lowry............................................................83
3.10.2 Teoria eletrônica de Lewis............................................................................84
3.11 Aplicação prática dos ácidos e bases mais importantes em nosso cotidiano......85
3.12 Sais........................................................................................................................87
3.12.1 Reação de neutralização total ....................................................................88
3.12.2 Nomenclatura dos sais normais ou neutros................................................89
3.12.3 Reação de neutralização parcial do ácido...................................................90
3.12.4 Nomenclatura dos hidrogenossais .............................................................91
3.12.5 Reação de neutralização parcial da base...................................................91
3.12.6 Nomenclatura dos hidroxissais....................................................................92
3.13 Conclusão..............................................................................................................92

Capítulo 4 Óxidos................................................................................. 93
4.1 Função óxido...........................................................................................................94
4.2 Formulação dos óxidos e nomenclatura geral........................................................95
4.2.1 Regra geral de nomenclatura........................................................................96
4.3 Ligação química nos óxidos....................................................................................96
4.4 Classificação dos óxidos.........................................................................................97
4.4.1 Óxidos básicos...............................................................................................97
4.4.2 Óxidos ácidos ou anidridos............................................................................99
4.4.3 Óxidos anfóteros..........................................................................................100
4.4.4 Óxidos neutros.............................................................................................100
4.4.5 Óxidos duplos ou salinos.............................................................................101
4.4.6 Peróxidos.....................................................................................................102
4.4.7 Superóxidos.................................................................................................103
4.5 Óxidos e a poluição atmosférica...........................................................................106
4.6 Conclusão..............................................................................................................109

Capítulo 5 As principais classes de reações químicas.......................111


5.1 As principais classes de reações químicas...........................................................113
5.1.1 Considerações iniciais.................................................................................113
5.1.2 Importância da água como solvente............................................................114
5.2 Reações de precipitação.......................................................................................121
5.2.1 A força motriz de reações de precipitação em meio aquoso ......................121
5.2.2 Predizendo se uma reação de precipitação irá ocorrer...............................123
5.3 Reações ácido-base..............................................................................................124
5.3.1 A força motriz da reação ácido-base: formação de H2O a partir de H+ e OH–.......126
5.3.2 Análise mais precisa das reações acido­base..............................................129
5.3.3 Reações acido­base que formam um produto gasoso.................................130
5.4 Reações de oxidorredução....................................................................................131
5.4.1 Processos redox na formação de compostos iônicos moleculares............131
5.4.2 Terminologia essencial em oxidorredução...................................................133
5.4.3 Uso do número de oxidação para monitorar o movimento de elétrons......134
5.4.4 Algumas reações de oxidorredução envolvendo elementos.......................137
5.4.5 Combinando elementos...............................................................................138
5.4.6 Reações de síntese e que não são de oxidorredução................................140
5.4.7 Reações de decomposição..........................................................................140
5.4.8 Reações de deslocamento ou troca............................................................141
5.5 Reações de combustão.........................................................................................144
5.6 Conclusão..............................................................................................................146

Capítulo 6 Estequiometria.................................................................. 147


6.1 Introdução à Estequiometria..................................................................................149
6.2 Passos para a resolução dos cálculos .................................................................151
6.3 Tipos de cálculo estequiométrico..........................................................................157
6.3.1 Quando o dado e a pergunta são expressos em mol.................................157
6.3.2 Quando o dado e a pergunta são expressos em massa............................158
6.4 Enunciado em mol, resposta em volume..............................................................160
6.5 Reagente limitante.................................................................................................162
6.5.1 Quando são dadas as quantidades de dois ou mais reagentes.................162
6.5.2 Rendimento teórico......................................................................................165
6.5.3 Rendimento percentual................................................................................165
6.6 Impureza................................................................................................................168
6.7 Conclusão..............................................................................................................171

Capítulo 7 Introdução ao equilíbrio químico....................................... 173


7.1 Introdução ao equilíbrio químico – conceitos básicos...........................................175
7.2 Natureza dinâmica do equilíbrio............................................................................179
7.3 Constante de equilíbrio..........................................................................................182
7.3.1 Primeira situação: o valor de Kc é muito pequeno.......................................183
7.3.2 Segunda situação: o valor de Kc é muito grande........................................183
7.3.3 Terceira situação: o valor médio de Kc.........................................................183
7.4 Calculando o valor de Kc a partir de concentrações de equilíbrio........................184
7.4.1 Variação de Kc com a forma da equação balanceada................................185
7.4.2 Escrevendo a constante de equilíbrio para a reação inversa.....................186
7.5 Expressão de equilíbrio para reações envolvendo líquidos e sólidos puros........187
7.5.1 Constante de equilíbrio em função das pressões parciais..........................189
7.6 Quociente de reação e direção da reação............................................................191
7.6.1 Uso e determinação das constantes de equilíbrio.......................................192
7.7 Princípio de Le Châtelier.......................................................................................202
7.7.1 Efeito da concentração................................................................................203
7.7.2 Efeito da pressão.........................................................................................205
7.7.3 Efeito da temperatura...................................................................................208
7.7.4 Efeito do catalisador.....................................................................................210
7.8 Conclusão..............................................................................................................210

Capítulo 8 Eletroquímica, parte I........................................................ 213


8.1 O estudo das pilhas e de seus componentes.......................................................214
8.2 Balanceamento de equações de oxirredução.......................................................216
8.2.1 Balanceamento de reações de oxirredução em meio ácido.......................218
8.2.2 Balanceamento de reações de oxirredução em meio básico.....................221
8.3 Células eletroquímicas..........................................................................................224
8.4 Notação ou representação esquemática de célula eletroquímica........................225
8.5 Potencial eletroquímico.........................................................................................226
8.5.1 Potencial eletroquímico padrão de eletrodo................................................227
8.5.2 Potencial eletroquímico fora das condições padrão....................................230
8.6 Pilha de concentração...........................................................................................232
8.6.1 Relação entre equilíbrio e potencial.............................................................233
8.7 Conclusão..............................................................................................................234

Capítulo 9 Eletroquímica, parte II – Eletrólise: conceito e aplicações.... 237


9.1 Eletrólise................................................................................................................239
9.2 Eletrólise Ígnea......................................................................................................245
9.2.1 Eletrólise em solução aquosa......................................................................247
9.3 Lei de Faraday.......................................................................................................250
9.4 Aplicações da Eletrólise.........................................................................................253
9.5 Tópicos especiais em eletroquímica.....................................................................254
9.5.1 Células a combustível..................................................................................254
9.5.2 Aplicações da célula a combustível.............................................................258
9.6 Corrosão................................................................................................................258
9.6.1 Classificação quanto ao meio......................................................................259
9.6.2 Classificação quanto à natureza..................................................................260
9.6.3 Classificação quanto à morfologia...............................................................260
9.6.4 Velocidade da corrosão...............................................................................261
9.6.5 Polarização e passivação............................................................................262
9.6.6 Eletrólitos e a corrosão................................................................................263
9.6.7 Prevenção contra a corrosão.......................................................................264
9.7 Conclusão..............................................................................................................265
Apresentação
Prezado(a) aluno(a).

Este livro, intitulado Química tecnológica, inclui nove capítulos,


dispostos na seguinte ordem: 1 – Ligações químicas – conceitos básicos;
2 – Estudo das grandezas químicas; 3 – Funções inorgânicas: ácidos,
bases e sais; 4 – Óxidos; 5 – As principais classes de reações químicas; 6
– Estequiometria; 7 – Introdução ao equilíbrio químico; 8 – Eletroquímica,
parte I; 9 – Eletroquímica, parte II.

Todos nós sabemos da importância dos conhecimentos oriundos da


química em nossa vida, desde as situações domésticas mais simples
até as mais complexas, no ambiente profissional, por exemplo. Para
você, que é estudante do curso de licenciatura em Química, deve estar
mais do que clara a importância desta disciplina e, mais do que ninguém,
sabe as razões porque ela é importante. Já você, que é estudante de
engenharia, ao deparar com um livro como este, poderá ter dúvidas
sobre o real interesse de uma obra tão especializada, com capítulos
aparentemente densos e áridos, para a sua formação profissional.
Obviamente, não se espera que você seja um químico para depois ser
um engenheiro. O que se pretende é que você tenha um conhecimento
geral sobre algumas noções importantes da química e é importante que
esses conhecimentos essenciais sejam exigidos em um mínimo. Só que
o estudo dessas noções não pode ser descontextualizado. E, mesmo
no seu caso, não é difícil mostrar de que forma o conhecimento dessas
noções básicas é importante. Pense na composição das argamassas
e concretos e a importância de se saber dosar as substâncias que os
compõem. E a secagem das tintas, o endurecimento do concreto, a ação
dos poluentes nas estruturas onde ocorre a corrosão? Como faria para
escolher que tinta empregar para proteger uma estrutura metálica em
contato com gases agressivos e/ou corrosivos, sem conhecimento de
química? Para soldar determinado tipo de aço, é necessário saber a
composição química que esse aço possui para escolher o eletrodo de
X UNIUBE

solda correto, isto é, que tenha composição química compatível. Talvez


valha lembrar aqui o depoimento de um estudante em um blog: “Ao
cursar a disciplina de Química Geral, pude analisar a importância da
química para a engenharia, e quanto as duas estão interligadas, desde a
aplicação de uma tinta em uma parede, até a fabricação de uma peça de
aço ou a cura do concreto de um edifício”. Deve-se ressaltar ainda que,
diante dos inúmeros avanços científicos e tecnológicos da atualidade,
os egressos dos cursos de Engenharia necessitam de base sólida dos
conceitos químicos para compreender, analisar e prever os fenômenos
que ocorrem nas suas respectivas áreas de atuação, para que se tornem
profissionais capazes de desenvolver e analisar novas tecnologias. É
com essa convicção que esperamos que você utilize este livro.

A seguir, uma breve síntese do que você encontrará em cada um


dos capítulos. Como os átomos se unem para formar as substâncias
químicas, no primeiro capítulo, você estudará os vários tipos de ligação
química entre os elementos. Aprenderá a montar as estruturas de
Lewis para moléculas simples e a descrever a importância da regra do
octeto nas ligações químicas bem como suas exceções. Verá como se
interpreta o modelo de ligação iônica por meio do modelo de transferência
de elétrons e entenderá a ligação covalente, utilizando o modelo de
partilhamento de elétrons. Além disso, aprenderá a aplicar os conceitos
construídos em situações práticas e, finalmente, analisará diversos tipos
de materiais e verá como utilizá-los para determinado fim com base em
suas propriedades.

As grandezas químicas é o assunto do segundo capítulo. Entende-


se por tal aquelas grandezas utilizadas pela química e que estão
relacionadas com a massa, volume, número de átomos, de moléculas,
de íons e, principalmente, quantidades expressas em mol. A partir da
relação entre massa e número de partículas de uma amostra de matéria,
introduziremos o conceito de mol como medida de medida, o conceito de
massa molar e sua relação com a quantidade de matéria.
UNIUBE XI

Tomando por base que você já possui algum conhecimento sobre a estrutura
atômica e as ligações químicas, nos capítulos 3, 4 e 5 veremos as relações
entre estes conceitos e as transformações químicas. São dois capítulos
sobre as funções inorgânicas: um, abordando os ácidos, as bases e os sais,
e o outro, tratando dos óxidos. Começaremos pelo estudo das propriedades
desses compostos e suas peculiaridades, passando, em seguida, para o
estudo das principais classes de reações químicas inorgânicas, que podem
ser sistematicamente enquadradas em diferentes grupos, de acordo com
a sua especificidade e terminando com a abordagem de um conjunto de
regras que proporcionará a você a capacidade de prever a ocorrência ou
não de uma reação, com base na natureza química das espécies reagentes.

No capítulo 6, intitulado Estequiometria, os conceitos vistos até aqui


são aplicados, nos chamados cálculos estequiométricos. Os cálculos
estequiométricos estudam as relações quantitativas entre massas,
volumes, mol e número de moléculas, de reagentes e produtos envolvidos
nas reações químicas. Iniciaremos com uma pequena introdução à
estequiometria, trataremos das grandezas proporcionais, mostraremos os
passos para a resolução dos cálculos, os tipos de cálculo estequiométrico
e, finalmente, abordaremos as questões de rendimento e pureza e a
aplicabilidade da estequiometria em nosso cotidiano.

Os capítulos 7, 8 e 9 voltam-se para o estudo de aspectos físico-químicos


que são importantes para a sua formação profissional.

No capítulo 7, referente a equilíbrio químico, serão fornecidas as


ferramentas primordiais para auxiliá-lo(a) na construção do seu
conhecimento e entendimento de vários processos industriais
importantes, além de lhe permitir entender a dinâmica do deslocamento
de um equilíbrio. Será abordado também um dos princípios gerais mais
importantes em química, o Princípio de Le Châtelier, extremamente
necessário para se entender a dinâmica do equilíbrio químico. Nesse
tópico, iremos iniciar uma abordagem sobre o equilíbrio ácido-base, entre
outros.
XII UNIUBE

Nos capítulos 8 e 9, iniciaremos o estudo da eletroquímica, que diz


respeito às transferências de elétrons entre espécies químicas, sendo
amplamente empregada em muitos segmentos de nossa sociedade.
Mostraremos, também, as principais aplicações da eletroquímica no
cotidiano, assim como em processos industriais. Já no capítulo 9, o
estudo é focado nos processos eletrolíticos e suas principais aplicações.

Esperamos que os capítulos constantes deste livro possam atender às


suas expectativas, seja você aluno do curso de licenciatura em Química,
seja aluno do curso de Engenharia Civil. E que os conhecimentos adquiridos
possam realmente fazer diferença em sua formação profissional, pois foi com
essa intenção que os autores elaboraram este material.

Bons estudos!
Capítulo
Ligações químicas –
conceitos básicos
1

Natal Junio Pires

Introdução
Neste capítulo serão discutidos conceitos sobre ligações químicas
que permitem o entendimento da natureza microscópica da
matéria. Vale destacar que os conceitos aqui trabalhados são
essenciais para entender o conteúdo, principalmente no que diz
respeito à distribuição eletrônica e propriedades periódicas. Cabe
ressaltar que as discussões sobre tais conceitos trabalhados não
se esgotam aqui, pois perpassam as outras unidades temáticas
do curso.

Quanto à metodologia, trata-se de ensino experimental que


envolve elaboração de ideias referentes aos conceitos trabalhados.
O estudo da química torna-se mais concreto quando o aluno
vivencia o que ele está estudando. Portanto, sempre que possível,
procurou-se estabelecer um vínculo entre aquilo que se aprende
e o cotidiano.

Alguns procedimentos experimentais serão realizados nos


encontros presenciais, mas alguns dados são apresentados como
atividades para discussão. As atividades propostas priorizam a
discussão dos conceitos aprendidos e não a simples memorização
ou aplicação de fórmulas matemáticas. Desse modo, a análise
e a reflexão do conhecimento são necessárias, fazendo com
que, mesmo a distância, você faça inferências, comparações,
estabeleça relações e interpretações a fim de propiciar o
desenvolvimento de habilidades cognitivas.
2 UNIUBE

Objetivos
Esperamos que, ao término dos estudos deste capitulo, você seja
capaz de:
• compreender os vários tipos de ligações química entre os
elementos;
• montar as estruturas de Lewis para moléculas simples;
• descrever a importância da regra do octeto nas ligações
químicas bem como suas exceções;
• interpretar o modelo de ligação iônica por meio do modelo
de transferência de elétron;
• entender a ligação covalente, utilizando o modelo de partilhamento
de elétrons;
• aplicar os conceitos construídos em situações práticas;
• analisar diversos tipos de materiais e utilizá-los para
determinado fim com base em suas propriedades.

Esquema
1.1 Os conceitos inicias sobre as ligações químicas
1.1.1 Ligação iônica
1.1.2 Ligação covalente
1.1.3 Símbolo de Lewis para os átomos
1.2 Formação de ligações químicas
1.2.1 Ligação em compostos iônicos
1.2.2 Ligações covalentes e estrutura de Lewis
1.3 Estrutura de Lewis
1.4 A regra do octeto
1.5 Prevendo estruturas de Lewis
1.5.1 Compostos de hidrogênio
1.5.2 Ressonância
1.6 Exceções à regra do octeto
1.7 Ligação metálica
1.7.1 As principais ligas metálicas
1.8 Brave história do DNA – uma “ligação” entre a química e a vida
1.9 Conclusão
UNIUBE 3

1.1 Conceitos básicos sobre ligações químicas

Veja que, aos poucos estamos aprofundando cada vez mais nossos
conhecimentos, por isso, não acumular dúvidas passa a ser um procedimento
importante para que você possa ter um bom aproveitamento e, também,
para evitar dificuldades de entendimento à medida que caminharmos para
novas descobertas. Tudo bem?

Então, nas duas primeiras unidades de estudo, pudemos registrar que


toda a matéria é constituída de átomos e, que eles são formadores de
materiais simples como a folha deste capitulo que você lê agora, como
a água que bebemos, como o sal que consumimos, e, até mesmo,
organismos mais complexos, como o nosso corpo.

Veja o que afirma o professor: Richard Feynman


Richard Feynman
(2006) em um dos livros que escreveu: (1918-1988)
a ideia mais importante para o
Ganhador do
conhecimento humano é que Premio Nobel de
todas as coisas são formadas física e professor
por àtomos. respeitado no
California Institute
of Technology.

Fonte: Acervo EAD-Uniube.


4 UNIUBE

Podemos utilizar como exemplo a junção das letras do alfabeto na


formação de palavras em que as letras poderiam ser comparadas aos
átomos, e as moléculas às palavras. Na formação de palavras, nós não
podemos simplesmente ir ajuntando as letras, veja: ‘addo’ em português
não tem significado, por outro lado, se organizarmos essas letras, terá a
palavra ‘dado’ que ja passa a ter um significado. Percebemos então que
as uniões estabelecidas – nos exemplos dos átomos e das letras – não
ocorrem de qualquer forma, certo? Deve haver, neste caso, condições
apropriadas para que a ligação aconteça entre eles, tais como: afinidade,
contato e energia.

IMPORTANTE!

Mas como os cientistas chegaram às formulas, ou seja, às combinações dos


átomos, que formam as moléculas?

A história nos mostra que o caminho foi longo. No início do século XIX,
Dalton imaginava que os átomos sempre se uniam de um a um, de
maneira que a fórmula da água, em vez de ser H 2O , seria HO . Somente
depois de muito tempo, aproximadamente na metade do século XIX,
com as contribuições dos resultados dos estudos e experimentos de
Avogrado e Canizzaro, é que se consolidou a noção de molécula que
conhecemos atualmente, em que várias circunstâncias podem acontecer
para que sejam constituídas.

SAIBA MAIS

John Dalton (1766-1844): químico e físico Inglês, fundador da teoria atômica


moderna.

Lorenzo Romano Amadeo Carlo Avogadro (1766 – 1856): cientista


italiano, nascido em Turim, que formulou a hipótese sobre a decomposição
molecular dos gases (1811).

Stanislao Cannizzaro (1826 1910): químico italiano nascido em Palermo,


pioneiro no desenvolvimento da teoria atômica moderna, cujas exposições
foram fundamentais para a classificação dos elementos em termos de seus
pesos atômicos.
UNIUBE 5

Veja alguns exemplos:

a) Por um único átomo – o hélio (He);


b) Por mais de um átomo do mesmo elemento – o oxigênio (O2 ) ;
c) Por átomos de elementos diferentes – a água ( H 2O)

Os cientistas sabem, há muito tempo, que a chave para a interpretação


das propriedades de uma substância química passa primeiro pelo
conhecimento e pela compreensão da sua estrutura e das suas ligações:

• estrutura – forma com que os átomos estão arranjados no espaço;


• ligações – definem as forças que mantêm os átomos adjacentes
(vizinhos) unidos.

A partir desses conhecimentos, passamos a obter artificialmente, por


meio da síntese química, novos materiais, mais resistentes e úteis que
os formados naturalmente. Veja alguns exemplos:

• medicamentos mais eficientes contra as doenças;


• produtos que amenizam as tarefas cotidianas do lar;
• muitas outras coisas para melhorar a qualidade de vida.

Mas o que de fato é uma ligação química?

Quando detalhamos o que seria ligação, estávamos falando justamente


sobre a LIGAÇÃO QUÍMICA; por isso, já até a conceituamos, não é
mesmo? Vamos, agora, ver outras abordagens, classes e importâncias
que a ligação química exerce sobre a formação das moléculas, e,
também, para a continuidade dos nossos estudos.

Veja a Figura 1 e perceba a estrutura do DNA (ácido desoxirribonucleico),


na forma de dupla hélice, que nos possibilita indagar: por que sua forma
é helicoidal – em hélices?
6 UNIUBE

Figura 1: Exemplo de um DNA


para visualização do formato
dupla hélice.

A resposta está relacionada à geometria das ligações químicas ao redor


de cada um de seus átomos. Os fatores específicos dessas geometrias
se tornarão mais evidentes à medida que se aprender mais a respeito
sobre a estrutura e ligações químicas.

Nossos objetivos agora são de explicar;

a) a maneira como os átomos se arranjaram em compostos químicos;


b) o que os mantêm unidos.

Para isso, podemos começar observando como se relacionam a


estrutura e as ligações em uma molécula, de modo a compreender as
suas propriedades químicas e físicas.

De composto a composto, os átomos do mesmo elemento irão participar


de ligação e da estrutura de maneira semelhante. Essa consistência
permite desenvolver um conjunto de princípios que se aplicam aos mais
variados sistemas químicos, incluindo desde aqueles simples até os
que apresentam estruturas complexas, como o DNA.

Vamos discutir agora sobre duas classes de ligações químicas?


UNIUBE 7

IMPORTANTE!

Mantenha em mente tudo o que você aprendeu sobre as propriedades


periódicas. Este conhecimento será muito importante em nosso estudo, pois
elementos de uma mesma família tendem a ter o mesmo comportamento
quando se ligam a outro elemento.

Nos próximos textos veremos que alguns compostos covalentes


conduzem corrente elétrica em meio aquoso porque eles reagem
com a água para formar íons, num processo denominado
ionização.

1.1.1 Ligação iônica

Interação de natureza eletrostática entre íons resultantes da transferência


completa de um ou mais elétrons de átomo ou grupo de átomos para
outro.

1.1.2 Ligação covalente

Resultam do compartilhamento de um ou mais pares de elétrons.

Estes dois tipos de ligações representam dois extremos; porém, toda


ligação entre átomos possui, de certa forma, um grau de caráter iônico
e outro também de caráter covalente. Substâncias contendo ligações
predominantemente iônicas são denominadas de compostos iônicos. Já
aqueles que se mantêm unidos principalmente por ligações covalentes
são denominados compostos covalentes.

Algumas propriedades normalmente associadas com vários compostos


iônicos e covalentes são apresentadas no Quadro 1. As diferenças
nessas propriedades podem ser entendidas pela diferença entre os
átomos ou íons.
8 UNIUBE

Quadro 1: Propriedade de compostos iônicos e covalentes

Compostos iônicos Compostos covalentes

1. Eles são gases, líquidos ou sólidos


1. Eles são sólidos com alto ponto de
com baixos pontos de fusão (tipicamente
fusão (tipicamente > 400 °C).
< 300

2. Muitos são solúveis em solventes 2. Muitos são insolúveis em solventes


polares, tal como a água. polares.

3. Maioria é insolúvel em solventes 3. Maioria é solúvel em solventes


apolares, tal como hexano (C6H12), apolares, tal como hexano (CaH12),
tetracloreto de carbono (CCl4). tetracloreto de carbono (CCf4).

4. Quando fundidos, conduzem corrente


4. Quando líquidos ou fundidos, eles não
elétrica pelo fato de existirem partículas
conduzem corrente elétrica.
carregadas livres (íons).

5. Soluções aquosas são péssimas


5. Soluções aquosas conduzem bem a
condutoras de corrente elétrica pelo
corrente elétrica pelo fato de existirem
fato de não existirem partículas móveis
partículas móveis
carregadas em meio líquido (íons).

6. Eles são formados geralmente por


6. Eles são formados por dois ou mais
dois elementos com relativa diferença
elementos com eletronegatividades
de eletronegatividade, normalmente um
diferentes, geralmente não metais.
metal e um não metal.

IMPORTANTE!

E você? Já se perguntou por que os átomos se unem?


UNIUBE 9

Para você entender o motivo pelo qual os átomos se unem, faz-se


necessário relembrar um conceito extremamente importante, que é a
valência de um átomo. Os elétrons em um átomo estão divididos em
dois grupos:

• Elétrons de valência são os da camada mais externa de um


átomo e são os que irão determinar as propriedades químicas do
átomo, uma vez que as reações químicas resultam de perda, do
ganho ou do rearranjo dos elétrons da camada de valência.
• Elétrons das camadas internas não se relacionam com o
comportamento químico.

Considere, agora, os elementos do grupo principal da tabela periódica. Os


elétrons de valência estão distribuídos nos orbitais s e p, da camada mais
externa (Quadro 2). Já aqueles elétrons acomodados em subcamadas
d preenchidas (orbitais d) são denominados de elétrons de camadas
internas.

PARADA OBRIGATÓRIA

Para os elementos do grupo principal, o número de elétrons de valência é


igual número do grupo.

Devido ao fato de todos os elementos de um grupo periódico terem


o mesmo número de elétrons de valência, isto se relaciona com a
semelhança das propriedades químicas entre componentes do grupo.

Quando se consideram os elétrons de valência para elementos


de transição, observamos uma diferença. Agora, os elétrons estão
nos orbitais ns e (n — 1 ) d, conforme se pode notar no Quadro 2.
Os elétrons restantes são internos. Da mesma forma que para os
elementos do grupo principal, os elétrons do grupo de valência para
metais de transição irão governar as propriedades químicas de tais
elementos.
10 UNIUBE

Quadro 2: Elétrons de valência e de camadas internas para diversos elementos comuns

Grupo Elétrons de
Elementos Elétrons internos
periódico valência

Na 1A 1s ²2 s ²2 p 6 = [ Ne] 3s¹

Si 2A 1s ²2 s ²2 p 6 = [ Ne] 3s ²3 p ²

As 5A 1s ²2 s ²2 p 6 3s ²3 p 6 3d 10 = [ Ar ]3d 10 4 s ²4 p ³

Elementos
de transição

Ti 4B 1s ²2 s ²2 p 6 3s ²3 p 6 = [ Ne] 3d ²4 s ²

Co 8B [Ne] 3d 7 4 s ²

Mo 6B [Ar] 4d 6 5s¹

1.1.3 Símbolo de Lewis para os átomos

No decorrer da Primeira Guerra Mundial, dois americanos, G. N. Lewis e


Irvíng Langmuir, e o alemão Walther Kossel publicaram ideias similares
e importantes sobre ligações químicas.

Destacaremos aqui as ideias de Lewis, que introduziu uma maneira


útil de se representar os elétrons na camada de valência de um átomo.
O símbolo do elemento representa o núcleo do átomo junto com os
elétrons internos.

Considere, por exemplo, o átomo de sódio (Na).


UNIUBE 11

Para átomos que possuem até quatro elétrons de valência, os quais


são representados por pontos, são colocados um de cada vez em torno
do símbolo do elemento, Quando se tem mais do que quatro elétrons,
estes devem ser colocados ao lado de algum outro elétron que lá já
esteja. Atualmente tais representações são denominadas de símbolos
de Lewis. O Quadro 3, a seguir, apresenta alguns símbolos de Lewis
para os elementos do grupo principal do segundo e terceiro períodos.

Quadro 3: Símbolo de Lewis para alguns elementos

Analisando a distribuição dos elétrons de valência em torno de um


átomo em quatro pares, entendemos que cada camada de valência
de um elemento principal do grupo pode acomodar um total de oito
elétrons. Tal característica é chamada de octeto de elétrons.
12 UNIUBE

A tendência de um elemento químico em apresentar oito elétrons na


camada de valência será muito importante em nossa discussão sobre
ligações químicas, já que um octeto de elétrons em torno de um átomo
é considerado uma configuração estável.

Essa ideia pode ser racionalizada com base no fato de que os gases
nobres, à exceção do hélio, têm oito elétrons de valência e, dessa
forma, não possuem reatividade. Os gases hélio, neônio e argônio não
se envolvem em nenhuma reação química, enquanto os outros gases
nobres apresentam pequena reatividade química.

Como comentado anteriormente, as reações químicas envolvem


mudanças na camada de elétrons de valência. Assim, podemos atribuir
a inexistente ou pequena reatividade dos gases nobres à estabilidade
de sua configuração eletrônica representada genericamente como
sendo ns2 np6. O fato de o hidrogênio em seus compostos apresentar
dois elétrons em sua camada de valência pode ser entendido como uma
busca da configuração eletrônica do He.

1.2 Formação de ligações químicas

IMPORTANTE!

Conseguiu perceber por que os átomos se unem?

Isso mesmo! Eles fazem as ligações no sentido de obterem um octeto


completo, adquirindo assim estabilidade.

SAIBA MAIS

Reação química é um processo em que substâncias são transformadas


em outras substâncias por meio do rearranjo, recombinação ou separação
de átomos.

Ao ocorrer uma reação química entre dois átomos, os seus elétrons de


valência irão se reorganizar, fazendo com que uma força atrativa – uma
ligação química ocorra entre eles. Conforme já dissemos anteriormente,
as ligações ocorrem em dois tipos gerais, iônica e covalente, e sua
formação pode ser descrita por meio dos símbolos de Lewis.
UNIUBE 13

RELEMBRANDO

Assim que ocorre a ligação iônica (quando um ou mais elétrons são


transferidos de um átomo para outro), criam-se íons positivos (cátions)
e negativos (ânions). Veja a seguir a reação entre o sódio e o cloro, em
que um elétron do átomo de sódio é transferido para um átomo de cloro,
formando o cátion Na + e o ânion Cl − .

PARADA PARA REFLEXÃO

Observe a configuração eletrônica do sódio e do cloro antes da ligação:

Na 1s ²2 s ²2 p 6 3s¹
Cl 1s ²2 s ²2 p 6 3s 2 3 p 5

Como o sódio transferiu seu elétron para o cloro, ele ficou com uma carga
positiva e sua nova configuração é : Na + : 1s ²2 s ²2 p 6 .

Dessa forma a sua camada de valência, passa a ser formada pelos orbitais
2s e 2p, que somam um total de 8 elétrons (octeto completo!).

Se você analisar esta configuração eletrônica, concluirá que é a do gás


nobre neônio, Ne.

Por outro lado, o cloro recebeu um elétron do sódio e sua carga passou a
ser negativa.

A configuração do íon cloro passa a ser a do gás nobre argônio, Ar.


Cl − : 1s ²2 s ² sp 6 3s ²3 p 6

Observe que a camada de valência, formada pelos orbitais 3s e 3p, possui


um total de 8 elétrons. Note que, em torno de cada átomo de cloro, tem-se
um total de 8 elétrons.
14 UNIUBE

Neste caso, ocorreu uma ligação química a partir de uma força atrativa,
de natureza eletrostática entre os íons positivos e negativos. Por outro
lado, já na ligação covalente em que os elétrons são compartilhados
e não transferidos, dois átomos de cloro, para completar o seu octeto,
precisam apenas compartilhar um par de seus elétrons, sendo um elétron
de cada átomo, para formar a ligação covalente.

Analisando atentamente as estruturas de Lewis, percebemos mais


uma vez a diferença entre a ligação iônica e a covalente. Na verdade,
nas duas situações, o que acaba ocorrendo é o emparelhamento dos
elétrons desemparelhados nos átomos participantes das ligações, para
formar espécies que apresentem oito elétrons na posição do par de
elétrons entre os dois átomos ligados. Podemos perceber com isso uma
significante diferença entre ligações iônicas e ligações covalentes. Na
molécula de cloro (Cl2), o par de elétrons é compartilhado igualmente
pelos dois átomos. Já no cloreto de sódio (NaCI), o par de elétrons
passou a fazer parte da camada de valência do cloro.

Vale ressaltar aqui que os dois tipos de ligação – transferência completa


de elétrons e compartilhamento igual dos elétrons – são casos extremos.
Na grande maioria das substâncias, os elétrons são geralmente
compartilhados de forma desigual. Sendo assim, pode-se pensar que
este compartilhamento desigual de elétrons poderá levar a uma alteração
das propriedades físicas e químicas dos compostos.

1.2.1 Ligação em compostos iônicos

Quando se coloca sódio metálico, na presença de cloro gasoso, acontece


uma reação explosiva, ou seja, uma reação que ocorre muito rápido e
com liberação de grande quantidade de energia; “calor”, para formar o
cloreto de sódio, da mesma forma que o cálcio metálico e o oxigênio
reagem para formar o óxido de cálcio. Nos dois casos relatados, o
produto formado é um composto iônico: no primeiro caso, temos o NaCI
que contém íons Na+ e Cl–; e na segunda situação, o CaO é composto
por íons Ca2+e O2–.
UNIUBE 15

SAIBA MAIS

DH° (variação de entalpia) representa a quantidade de calor envolvida reação

Uma reação química acontece ou absorvendo (endotérmica) ou liberando


(exotérmica) calor. Para uma reação endotérmica tem se DH°>0[ e para uma
reação exotérmica um DH°<0.

1
Na( s ) + Cl2( g ) → NaCl( s ) DH 0 = −411,12 KJ / mol
2
1
Ca( s ) + O2( g ) → CaO( s ) DH 0 = −635, 09 KJ / mol
2
Na frente das reações acima, aparece uma grandeza que denominamos
de variação de entalpia (DH°). Essa é uma grandeza muito importante
em química, que se relaciona com a quantidade de calor liberada ou
absorvida no decorrer de uma reação química.

Quando o valor de DHQ for precedido pelo sinal negativo, temos o que
denominamos de reações exotérmicas. No caso representado acima,
temos um exemplo do comportamento químico geral dos elementos
nesses grupos periódicos, que podem ser compreendidos com base
nas propriedades periódicas.

AGORA É A SUA VEZ

Na formação do NaCl, o sódio precisa doar um elétron para o cloro e cada


átomo de cloro que receber um elétron. Com base nessa informação,
demonstre que a combinação entre cálcio e flúor resulta em CaF2 e que
entre cloro e alumínio forma AlCl3 .

Os metais alcalinos e alcalinos-terrosos apresentam baixas energias de


ionização. Dessa forma, relativamente pouca energia é necessária para
remover os elétrons de valências desses elementos de modo a formar os
cátions com configuração de gás nobre. Diferentemente, os elementos
imediatamente anteriores ao Grupo 8A (os halogênios e os elementos
do Grupo 6A) têm elevadas afinidades eletrônicas.
16 UNIUBE

Neste caso, tais elementos irão formar os ânions por meio da adição de
elétrons, de modo que, na maioria dos casos, ter-se-á um íon com uma
configuração eletrônica equivalente à do gás nobre seguinte.

Esta tendência para atingir uma configuração de gás nobre pelo ganho
ou pela perda de elétrons é importante na química dos elementos do
grupo principal. Outra característica muito importante é o fator energético
favorável à formação dos compostos. Em todas as reações químicas em
que a formação dos produtos é favorecida, ou seja, reações químicas
espontâneas, estes têm energia potencial química mais baixa do que os
reagentes.

A estrutura resultante de um composto, seja ele iônico ou covalente,


é aquela que tem a energia potencial mais baixa, ou seja, a maior
estabilidade termodinâmica.

De olho no mundo que nos rodeia! O fato de elementos


químicos reagirem entre si para formar substâncias e estas
reagirem para formar outras mais estáveis (produtos de uma
reação química) vem sendo aproveitado pela humanidade há
muito tempo. Um exemplo é a energia liberada durante a
combustão da gasolina no motor de um automóvel, a explosão
de dinamite para a construção de estrada e túneis etc. Isso tudo
só é possível porque os produtos dessas reações são mais
estáveis do que aqueles que se tinha no início. Sendo assim,
mantenha sempre em mente o seguinte: Tudo na natureza tende
ao estado de menor energia (maior estabilidade).

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 1

O etanol (C2H5OH) é uma substância que vem sendo usada como


combustível de automóveis no Brasil. O uso do etanol como combustível
decorre do fato de que sua combustão libera uma grande quantidade de
energia (em forma de calor e trabalho mecânico). Na combustão do etanol,
ocorre uma reação com oxigênio e formam-se gás carbônico (CO2 ) e água,
além de vários outros subprodutos, resultantes da combustão incompleta.
UNIUBE 17

a) Considerando a discussão acima, qual contém maior quantidade de


energia? Reagentes ou produtos? Justifique sua resposta.
b) Considerando a resposta do item anterior, quem seria mais estável?
Reagentes ou produtos? Explique sua afirmação.

1.2.2 Ligações covalentes e estrutura de Lewis

IMPORTANTE!

E a ligação covalente, como representá-la pelos símbolos de Lewis?

Embora esse esquema seja um tanto quanto simplista, ele é útil


para se fazer uma previsão do tipo de ligação e, consequentemente,
das propriedades físicas das substancias obtidas a partir das várias
combinações possíveis. Assim podemos prever que um composto
obtido a partir de Ca (metal) e flúor (não metal) será um composto
iônico, com ponto de fusão relativamente alto e que, quando
dissolvido em água, conduzirá corrente elétrica. Por outro lado, um
composto formado entre carbono (não metal e oxigênio não metal)
terá características de um composto covalente.

Como vimos anteriormente, na ligação covalente, os pares de elétrons


são compartilhados entre os átomos ligados. Exemplos de compostos
contendo ligações covalentes incluem os gases na nossa atmosfera
(O2 , N 2 , H 2O e CO2 ) , combustíveis comuns C3 H 8 (componente do gás
de cozinha), CH 3CH 2OH(usado como combustível em automóveis), CH 4
gás natural usado em usinas termoelétricas) e a maioria dos compostos
em nosso organismo. As ligações covalentes também mantêm unidos os
átomos em íons comuns como HSO3− r CO32− , CN − , NH 4+ , NO3− , SO42−
e PO43– .

Considere, por exemplo, o sulfato de sódio ( Na2 SO4 ) o principal componente


do giz.
18 UNIUBE

Vamos entender os princípios básicos de estrutura e ligação, usando como


exemplos moléculas e íons mais simples, porém os mesmos princípios
aplicam-se a moléculas complexas, desde a aspirina a proteínas e DNA,
que apresentam milhares de átomos.

Você deve ter notado que as moléculas e os íons que acabamos de


mencionar são compostos formados inteiramente por não metais.

Um ponto importante a ser ressaltado é que, em moléculas e íons


constituídos apenas por átomos de não metais, os átomos estão unidos,
por ligações covalentes. Diferentemente, a presença de um metal em
uma fórmula é um sinal de que o composto é provavelmente iônico.
UNIUBE 19

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 2

Faça uma previsão do tipo de ligação existente entre os seguintes pares


de elementos como auxílio da tabela 1 e da tabela periódica, apresentando
duas possíveis propriedades físicas do composto formado.

a) Ca e Cl
b) C e O
c) K e Br
d) C, H e N

Atividade 2

Os metais alcalinos não são


encontrados na natureza na forma
elementar, mas sim, combinados
com outros elementos. Os metais
alcalinos, quando obtidos na forma
elementar, são tão reativos que
não podem ser deixados expostos
ao ar, pois reagem com o oxigênio.
O sódio, por exemplo, é guardado
em querosene para evitar o contato
com o ar. A água não pode ser
Um modelo explicativo!
usada no lugar do querosene, Perceba que o que temos é uma situação
porque o sódio reage violentamente de equilíbrio entre forças. Temos forças da
com ela. Relacione as ideias de repulsão e forças de atração. A aproximação
energia, estabilidade e reatividade entre os átomos se dá até que haja um
balanço entre essas duas forças.
para explicar esses fatos.

1.3 Estrutura eletrônica de Lewis

Como já mencionamos em momentos anteriores, a ligação covalente é


resultante do compartilhamento de um ou mais pares de elétrons entre
átomos. Dessa forma, o par de elétrons entre os dois átomos de uma
molécula de H2 é representado por um par de pontos ou uma linha.
20 UNIUBE

Tais representações são denominadas de estruturas eletrônicas de Lewis,


ou estrutura de Lewis.

Iremos, agora, aprender uma sistemática para escrever as estruturas de


Lewis para diferentes compostos. As estruturas simples de Lewis podem
ser desenhadas começando com símbolos de Lewis para os átomos
e, posteriormente, arranjando os elétrons de valência para formar as
ligações. Considere que queiramos criar a estrutura de Lewis para a
molécula de flúor (F2). Comecemos com o símbolo de Lewis poro o átomo
de flúor. O flúor pertence ao grupo 7A, portanto possui sete elétrons de
valência. Dispondo os elétrons aos pares em torno do flúor, percebemos
que o símbolo de Lewis mostra que o átomo de F apresenta um único
elétron desemparelhado, ao lado de três pares de elétrons.

Já no F2l os elétrons desemparelhados, sendo um de cada átomo de F,


estão emparelhados, formando a ligação covalente.

Uma diferenciação importante entre os pares de elétrons é feita aqui.


O par de elétrons da ligação F – F é o par de ligação, ou par ligado.
Os outros seis pares que estão livres em torno do átomo de flúor são
denominados de pares isolados. Pelo fato de eles não estarem envolvidos
na ligação, também são chamados de elétrons não ligantes.
UNIUBE 21

Os pares isolados podem ser muito importantes na estrutura.


Estando na mesma camada de valência que os elétrons
envolvidos nas ligações, eles podem influenciar na forma da
molécula, determinando, por exemplo, a sua polaridade.

Toda linha existente entre dois ou mais elementos simboliza o


compartilhamento de um par de elétrons. Assim, duas linhas (ligação
dupla) simbolizam o compartilhamento de dois pares de elétrons; três
linhas (ligação tripla) são o mesmo compartilhamento de três pares
de elétrons.

Na molécula de flúor, observamos a formação de uma única ligação.


Essa ligação é denominada de ligação simples. Entretanto, existem
moléculas nas quais os átomos fazem mais do que uma única ligação.
Exemplos são o dióxido de carbono, CO2, e o nitrogênio, N2, onde os
átomos apresentam ligações múltiplas, ou seja, compartilham mais de
um par de elétrons.

Na molécula do dióxido de carbono, o átomo de carbono compartilha dois


pares de elétrons com cada átomo de oxigênio e, portanto, está ligado a
cada O por uma ligação dupla. A camada de valência de cada átomo de
oxigênio no C02 tem dois pares de ligação e dois pares isolados.

Já no nitrogênio, os dois átomos de nitrogênio compartilham três pares de


elétrons, portanto estão ligados por uma ligação tripla. Observe que cada
átomo de N possui um único par isolado, o par isolado assume um papel
importantíssimo na configuração espacial de algumas moléculas, sendo
que esta estará intimamente relacionada com as forças intermoleculares
que atuam entre elas, sendo uma das responsáveis pelas propriedades
físicas das substâncias.

1.4 A regra do octeto


Como escrever uma estrutura de Lewis para um composto qualquer?
Existe alguma sistemática para isto? A partir de agora, iremos procurar
uma resposta para essas perguntas. Uma observação importante pode
22 UNIUBE

ser feita sobre as moléculas que você viu até aqui: cada átomo (exceto
H) tem na camada de valência quatro pares de elétrons; assim, cada um
atingiu uma configuração de gás nobre, ou seja, está rodeado por um
octeto de elétrons. A tendência das moléculas e íons poliatômicos de
possuir estruturas em que oito elétrons cercam cada átomo é conhecida
como regra do octeto. Na molécula de nitrogênio, uma ligação tripla é
necessária para que se tenha um octeto em torno de cada átomo de
nitrogênio. No átomo de carbono e em ambos os átomos de oxigênio
no C02l a configuração do octeto é atingida por meio da formação de
ligações duplas.

IMPORTANTE!

Embora a regra do octeto seja largamente aplicada, há exceções.


Felizmente, muitas serão óbvias, como quando um elemento faz mais de
quatro ligações ou quando ocorre um número ímpar de elétrons.

SAIBA MAIS

Alguns passos podem ser seguidos para se escrever as estruturas de Lewis


para os compostos, Vamos tomar o formaldeído (metanal), CH20, como
exemplo: (KOTZ e TREICHEL, 2005).
UNIUBE 23

1. Escolha do átomo central. O átomo central é geralmente aquele


com a afinidade eletrônica mais baixa. No CH20, por exemplo, o
átomo central é C. Você reconhecerá que certos tipos de átomos
aparecem frequentemente como átomo central, entre eles C, N, P
e S. Halogênios são em geral átomos terminais que formam uma
única ligação com outro átomo, mas podem ser átomos centrais
quando combinados com O nos oxiácidos (como HCI04). O oxigênio
é o átomo central na água, mas, em conjunção com o carbono,
nitrogênio, fósforo e halogênios, é em geral um átomo terminal. O
hidrogênio é um átomo terminal porque ele faz uma única ligação.

IMPORTANTE!

Escolhendo o átomo central! As eletronegatividades relativas dos átomos


podem também ser usadas para se escolher o átomo central.

2. Determine o número total de elétrons de valência na molécula ou íon.


Em uma molécula neutra, esse número será a soma dos elétrons
de valência de cada átomo. Para um ânion, adicione um número de
elétrons igual à carga negativa; para um cátion, retire um número
de elétrons igual à carga positiva. O número de pares de elétrons
de valência será metade do número total de elétrons de valência
Elétrons de valência = 12e − ou 6 pares de e − .
= 4 para o C e (2 x 1 para 2 átomos de H) + 6 para o O.

IMPORTANTE!

Para compostos simples, o primeiro átomo em uma fórmula é frequentemente


o átomo central (por exemplo, SO2 , NH 4+ , NO3− ). Entretanto, este não é
sempre o caso. Exceções notáveis incluem a água ( H 2O ) e a maioria dos
ácidos comuns (HNO3 e H 2 SO4 ), em que o hidrogênio ácido é geralmente
escrito primeiro, mas onde N ou S são os átomos centrais.

3. Coloque um par de elétrons entre cada par de átomos ligados para


formar uma ligação simples. Aqui, três pares de elétrons são usados
para fazer três ligações simples (que são representadas por linhas
únicas). Falta usar três pares de elétrons.
24 UNIUBE

4. Use todos os pares restantes como pares isolados em tomo de cada


átomo terminal (exceto H) de modo que cada átomo esteja rodeado
por oito elétrons. Se, depois disso feito, houver elétrons sobrando,
atribua-os ao átomo central. Se o átomo central for um elemento do
terceiro período ou de um período maior, ele pode acomodar mais
de oito elétrons.

Aqui todos os seis pares foram atribuídos, mas o átomo de carbono tem
participação em apenas três deles.

5. Se o átomo central contiver menos de oito elétrons nesse ponto,


mova um ou mais pares isolados dos átomos terminais para uma
posição intermediária entre o átomo central e o terminal para formar
ligações múltiplas.
UNIUBE 25

Como regra geral, ligações duplas ou triplas são formadas quando ambos
os átomos pertencem à seguinte lista: C, N, O ou S. Isto é, ligações como
C=C, C=N, C=0 e S=0 serão encontradas frequentemente.

1.5 Prevendo estruturas de Lewis

As estruturas de Lewis são úteis para se obter uma perspectiva da


estrutura e da química de uma molécula ou íon. As diretrizes para se
desenhar as estruturas de Lewis são úteis, mas os químicos podem
também se basear em padrões de ligação em moléculas semelhantes.

1.5.1 Compostos de hidrogênio

O número de ligações formadas por um elemento pode ser facilmente


derivado a partir de sua estrutura de Lewis. Um exemplo que podemos
citar é o seguinte: se não há nenhuma carga, o nitrogênio tem cinco
elétrons de valência. Dois elétrons estão na forma de par isolado,
enquanto os outros três estão como elétrons desemparelhados com um
elétron de outro átomo. Dessa forma, espera-se que o átomo de N forme
três ligações em moléculas sem cargas, e isso é o que de fato ocorre.
Do mesmo modo, espera-se que o carbono forme quatro ligações, o
oxigênio, duas, e o flúor, uma, conforme pode ser notado no esquema
a seguir.
26 UNIUBE

Na química presente em nosso cotidiano, os hidrocarbonetos (compostos


formados apenas por carbono e hidrogênio) são de extrema importância.
Eles estão presentes no gás de cozinha, nos combustíveis, no gás
natural etc. Os primeiros dois membros da série denominada alcanos
(os hidrocarbonetos mais simples) são CH4 e C2H6. Você poderia então
perguntar qual seria a estrutura de Lewis do terceiro membro da série,
o propano, C3H8? Neste ponto, devemos imaginar que os átomos dessa
série formam ligações de maneira previsível. Conforme discutimos
anteriormente, o carbono deverá formar quatro ligações, enquanto o
hidrogênio poderia ligar-se a somente outro átomo.

Dessa forma, o único arranjo de átomos que atenderia a esses critérios


apresenta três átomos de carbono unidos por ligações simples carbono-
carbono. As outras posições em torno dos átomos de carbono são
completadas com átomos de hidrogênio, de modo que teremos, assim,
três átomos de hidrogênio nos dois átomos carbonos da extremidade da
molécula e dois hidrogénios no átomo de carbono no meio:

1.5.2 Ressonância

Vamos agora aplicar os conceitos aprendidos anteriormente à molécula


de ozônio, 03, um gás instável, azul, com um odor irritante característico
e que protege a Terra e seus habitantes da radiação ultravioleta intensa
do Sol. Observamos que há duas maneiras possíveis de se escrever a
estrutura de Lewis para a molécula:
UNIUBE 27

Tais estruturas são equivalentes no sentido de que cada uma delas


apresenta uma dupla ligação de um lado do átomo central de oxigênio e
uma ligação simples do outro. Supondo que qualquer uma delas fosse
a estrutura real do ozônio, deveríamos ter uma das ligações mais curta
(0=0) do que a outra (0-0).

A estrutura verdadeira da molécula de ozônio mostra que este não é


o caso. Sendo assim, o que se pode concluir é que nenhuma dessas
estruturas de Lewis representa corretamente as ligações de ozônio.

Um importante cientista, Linus Pauling, propôs a teoria


da ressonância para resolver o problema. Segundo ele, Linus – Carl
Pauling (1901 –
as estruturas de ressonância representam a ligação 1994)
em uma molécula qualquer ou em um íon quando uma
Foi um dos
única estrutura de Lewis não descreve precisamente a maiores químicos
estrutura eletrônica verdadeira. de todos os
tempos e
certamente um
Desse modo, as estruturas alternativas apresentadas cidadão muito
importante neste
para o ozônio são denominadas de estruturas século, pois foi a
de ressonância. Suas ligações são idênticas e única pessoa a
receber o famoso
energeticamente iguais.Você então deve enxergar Prêmio Nobel
que a estrutura real da molécula do ozônio é uma por duas vezes,
por motivos
mistura, ou híbrido de ressonância, das estruturas de completamente
ressonância equivalentes. Esta conclusão é coerente diferentes.

com resultados experimentais que mostram que a


ligação 0-0 tem comprimento de 127,8pm, valor intermediário entre o
comprimento médio de uma ligação dupla 0-0 (121pm) e uma ligação
simples 0-0 (132pm).

Descrever uma molécula como uma mistura de diferentes estruturas


de ressonância é o mesmo que descrever uma cor de tinta como uma
mistura de cores primárias. A tinta verde é uma mistura da tinta amarela
com a tinta azul. Não podemos descrever o verde com base em apenas
uma das cores (azul ou amarelo), mas sim uma mistura das duas.

Um outro hidrocarboneto, o benzeno, é um exemplo clássico em que


a ressonância é usada para representar uma estrutura. A molécula
de benzeno é um anel de seis átomos de carbono com seis ligações
carbono-carbono equivalentes (e um átomo de hidrogênio ligado a cada
28 UNIUBE

átomo de carbono). Todas as ligações entre os átomos de carbono


têm 144pm de comprimento, que é um valor intermediário entre o
comprimento médio de uma ligação dupla C=C (134pm) e uma ligação
simples C-C (154 pm).

1.6 Exceções à regra do octeto

IMPORTANTE!

Será que todas as moléculas que conhecemos seguem a regra de octeto?


Existirão exceções a essa regra?

Embora a maioria dos compostos e dos íons moleculares obedeça à


regra do octeto, existem algumas exceções, incluindo as moléculas e os
íons que possuem um número menor do que quatro pares de elétrons
em torno do átomo central. Duas outras situações são aquelas em que
se tem mais do que quatro pares e aqueles que têm um número ímpar
de elétrons.

O elemento químico boro, um não metal do Grupo


Bórax
3 ou 3A, apresenta três elétrons de valência e,
Este mineral sendo assim, poderemos esperar que ele forme
comum, utilizado
em sabões, três ligações covalentes com outros elementos não
contém um ânion metálicos. Este resultado leva a uma camada de
interessante,
B4O5 (OH ) 42− . Este valência com somente seis elétrons para o boro em
íon de boro e
oxigênio apresenta
seus compostos, dois a menos do que um octeto.
dois átomos de Dos compostos de boro, muitos desse tipo são
B rodeados por
quatro pares conhecidos, incluindo alguns compostos comuns,
de elétrons, e como o ácido bórico ( B(OH )3 ) (usado em colírios
dois átomos de
B rodeados por para os olhos), o bórax ( Na2 B4O5 (OH ) 4 8 H 2O)
apenas três pares.
(empregado na produção de sabões) e os trialetos
de boro BBr3 e Bl3 ) (importantes em sínteses
orgânicas).
UNIUBE 29

Aqueles compostos de boro, tais como o BF3, em que faltam dois elétrons
para se completar o octeto, são bastante reativos. Como sabemos,
o átomo de boro pode acomodar um quarto par de elétrons, mas
somente quando esse par é fornecido por um outro átomo, já que ele
não apresenta mais um elétron para compartilhar com um outro átomo.
Moléculas ou íons com pares isolados podem desempenhar esse papel.
Você se lembra do par de elétrons isolado sobre o átomo de nitrogênio na
molécula de amônia? Neste caso, a amônia reage com BF3 para formar o
H3N à BF3. A ligação entre os átomos de B e N utiliza um par de elétrons
originado do átomo de N (par isolado). Um outro exemplo, agora com um
íon, é a reação do fluoreto (F–) com BF3 para formar o íon BF4–.

EXPLICANDO MELHOR

Ligação coordenada é aquela em que o par de elétrons da ligação provém


de apenas um dos átomos. Esse tipo de ligação também era denominado
de ligação dativa.

Entretanto, atualmente se recomenda a utilização do termo ligação


coordenada.
30 UNIUBE

O tipo de ligação abordado anteriormente apresenta uma característica


peculiar que é o fato de o par de elétrons da ligação ser oriundo de
apenas um dos átomos que estão ligados. Esta ligação é denominada
de ligação covalente coordenada. Nas estruturas de Lewís, uma ligação
covalente coordenada pode ser designada por uma seta (—►) que
aponta do átomo que doa o par de elétrons para o átomo que o recebe.

Por outro lado, existem aqueles elementos em que um dos átomos


acaba aceitando mais do que oito elétrons na camada de valência.
Os elementos do terceiro período ou em períodos mais elevados
frequentemente apresentam esta tendência. Na maioria dos compostos e
dos íons nessa categoria, o átomo central está ligado a átomos pequenos
como o flúor, o cloro ou o oxigênio.

A partir da fórmula de um composto, é natural percebermos que existe


um número maior de elétrons na camada de valência de determinado
átomo. Vamos considerar o hexafluoreto de enxofre, SF6j gás formado
pela reação do enxofre com excesso de gás flúor.

O enxofre é o átomo central nesse composto


e o flúor liga-se geralmente a apenas outro
átomo com uma ligação simples de um par de
elétrons, como por exemplo, no HF (usado para
escreverem vidros) e CF4. Como são necessárias
seis ligações S-F no SF6, concluímos que haverá
seis pares de elétrons na camada de valência do
átomo de enxofre.
UNIUBE 31

Quando se tem mais do que quatro grupos ligados a um átomo central


tem-se forte evidência de que existem mais de oito elétrons em torno do
referido átomo.

Uma observação importante aqui é que apenas elementos do terceiro


período e períodos mais elevados da Tabela Periódica formam compostos
e íons em que o octeto é expandido. Elementos do segundo período, tais
como B, C, N, O e F comportam um máximo de oito elétrons na sua
camada de valência. Considerando o nitrogênio, vemos que ele forma
compostos e íons como o NH3, o NH4+ e NF3, mas o NF5 não é conhecido.
O fósforo, elemento do terceiro período pertencente à mesma família do
nitrogênio, forma as espécies PH3, PH4+ e PF3. Porém, este elemento,
pode acomodar até cinco ou seis pares de elétrons de valência em
compostos tais como o PF5 ou em íons como o PF6–.

O arsênico, o antimônio e o bismuto, elementos abaixo do fósforo no


Grupo 5A, são semelhantes ao fósforo em seu comportamento. Lembra-
se sobre as propriedades periódicas?

Como explicar tais diferenças? Atualmente a explicação para o


comportamento contrastante entre os elementos do segundo e terceiro
períodos baseia-se no número de orbitais na camada de valência destes
átomos. Elementos do segundo período apresentam quatro orbitais de
valência (um orbital 2s e três orbitais 2p). Sabemos que cada orbital
acomoda no máximo dois elétrons. Isto resulta em um total de oito
elétrons ao redor de um átomo. Já quando se consideram elementos do
terceiro período e posterior, os orbitais d na camada exterior possuem
energia muito parecida com aquela dos orbitais s e p, de modo que
agora poderemos ter os orbitais s, p e d envolvidos nas ligações.
Exemplificando, para o fósforo, os orbitais 3d se unem aos orbitais 3s e
3p como orbitais de valência. Dessa forma, os orbitais d juntamente com
os outros (s e p) fornecem ao elemento a possibilidade de acomodar 12
elétrons (ou mais).

Existem, entretanto, moléculas que apresentam um número ímpar de


elétrons. Exemplos são os óxidos de nitrogênio – NO, com 11 elétrons
de valência, e N02, com 17 – que fazem parte de um pequeno grupo de
moléculas estáveis com número ímpar de elétrons. Com um número
ímpar de elétrons, torna-se impossível escrever estruturas que obedeçam
à regra do octeto para essas moléculas. No entanto, este fato não nos
32 UNIUBE

impossibilita de escrever uma estrutura de Lewis para tais moléculas.


Ela poderá ser escrita e representará de forma aproximada as ligações
presentes na molécula. Para a molécula de N02, teremos as estruturas
representadas a seguir.

Observe o elétron desemparelhado sobre cada molécula.

Uma evidência experimental para o NO2 indica que a ligação entre N


e O é intermediária entre uma ligação dupla e uma tripla. Já para o
NO, tem-se que é praticamente impossível apresentar uma estrutura de
Lewis que consiga explicar as observações experimentais acerca de tal
composto. Sendo assim, faz se necessária uma outra teoria sobre ligação
para se entender a ligação presente no NO.

Estes dois óxidos do nitrogênio, NO e NO2, pertencem a um grupo de


substâncias químicas denominadas de radicais livres. Os radicais livres
são espécies químicas que apresentam elétrons desemparelhados.
Esses elétrons desemparelhados fazem com que tais espécies se
tornem bastante reativas. Estes compostos estão muito envolvidos
com a poluição do meio ambiente. Pequenas quantidades de NO são
liberadas pelos escapamentos de veículos. Este NO transforma-se em
N02 rapidamente, e se decompõe na presença da luz solar e do oxigênio
para formar mais NO, bem como ozônio, 03. Esse ozônio formado na
baixa atmosfera passa também a ser um poluente muito prejudicial ao
sistema respiratório.

EXPLICANDO MELHOR

Radicais livres e a saúde! Radicais livres podem ser gerados em nosso


organismo, por exemplo, quando somos expostos a radiação ionizante. Esses
radicais são altamente reativos e podem causar sérios danos à nossa saúde.
UNIUBE 33

Estes dois óxidos de nitrogênio, NO e NO2, apresentam características


próprias, uma vez que sua reatividade não é tão alta a ponto de poderem
ser isolados em laboratório. O NO2, quando é resfriado, sofre um
processo de dimerização, ocorrendo o emparelhamento dos elétrons
desemparelhados, formando o N2O4.

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 4

Com base no que foi discutido anteriormente, explique o fato de existir o


composto PCl5 não existir o NCl5

1.7 Ligação metálica

Diferentemente da ligação iônica que ocorre íons positivos e negativos,


a ligação metálica só ocorre entre metais.

Nesse tipo de ligação química, temos átomos que tendem a perder


elétrons, os elétrons de valência, e, ao ocorrer tal perda, transformam-se
em cátions. Como diminuem de tamanho, aproximam-se uns dos outros
num arranjo cristalino, sendo que ao redor desse aglomerado de cátions
estarão os elétrons que antes pertenciam à camada de valência de cada
um. Esse amontoado de elétrons, circundando os cátions, recebe o nome
de “mar de elétrons livres” ou “nuvens de elétrons livres”. É devido a essa
nuvem de elétrons livres que ocorre a estabilização da estrutura metálica,
funcionando como uma cola que une os cátions do cristal metálicos.

Ao representar um cristal metálico


formado por átomos iguais, o mais
sensato seria escrever Fen, Cun etc.,
uma vez que a substância metálica é
constituída por um número infindável (n)
de átomos metálicos. Por simplificação,
representa-se um metal apenas por seu
símbolo: Fe, Cu etc. Há substâncias
metálicas formadas por metais
diferentes e recebem o nome de LIGAS
METÁLICAS.
34 UNIUBE

1.7.1 As principais ligas metálicas

Independentemente de ser uma substância metálica formada por um


único elemento metálico, ou mais de um, a estrutura do mar de elétrons
livres oferece à substância uma elevada capacidade em conduzir corrente
elétrica e também calor. Isto se deve à grande mobilidade dos elétrons
livres.

SAIBA MAIS

Para qualquer meio conduzir corrente elétrica, ele deve possuir cargas livres
(íons ou elétrons). Nos metais, o “mar de elétrons” é responsável pelo fato
de fios de cobre conduzirem a eletricidade até nossas casas. Esses elétrons
também são responsáveis pela relativa facilidade com a qual os metais
conduzem o calor. Ao colocar uma colher de metal sobre a chama de um
fogão, podemos sentir rapidamente calor até nossas mãos.

Liga metálica Constituição

Latão 67% de cobre (Cu) + 33% de zinco (Zn)

Bronze 90% de cobre (Cu) + 10% de estanho (Sn)

Ouro branco Ouro (Au) + níquel (Ni 20% a 50%)

Ouro 18 quilates 18 g Ouro + 6 g de prata ou cobre

Ouro 12 quilates 12 g de Ouro + 12 g de prata ou cobre

Aço carbono 98% de ferro (Fe) + 2% de C

Aço inox 74% de aço carbono + 18% de Cr + 8% de Ni

ímã 63% de Fe + 20% de Ni + 12% de Al + 5% Co

Amálgama dental Hg + outros metais como Sn, Ag, Cu, Cd

Solda elétrica 67% de Pb + 33% de Sn

Essas substâncias podem ser moles ou duras, porém, contrastando com


as substâncias iônicas, não são de todo quebradiças, pois, ao se deslocar
alguns cátions do cristal, o mar de elétrons estabiliza-os novamente, não
ocorrendo repulsão imediata.
UNIUBE 35

As substâncias metálicas são estáveis em conformidade com o cristal


que conseguem formar e, por isso, possuem elevadas temperaturas de
fusão, como as substâncias iônicas.

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 5

Nenhuma teoria convencional de ligação química é capaz de justificar as


propriedades dos compostos metálicos. Investigações indicam que os
sólidos metálicos são compostos de um arranjo regular de íons positivos,
no qual os elétrons das ligações estão apenas parcialmente localizados. Isto
significa dizer que se tem um arranjo de íons metálicos distribuídos em um
“mar” de elétrons móveis. Com base nestas informações, é correto afirmar
que os metais, geralmente:

a) Têm elevada condutividade elétrica e baixa condutividade térmica


b) São solúveis em solventes apolares e possuem baixas condutividades
térmica e elétrica
c) São insolúveis em água e possuem baixa condutividade elétrica.
d) Conduzem com facilidade a corrente elétrica e são solúveis em água.
e) Possuem elevadas condutividade elétrica e térmica.

1.8 Breve história do DNA – uma “ligação” entre a química e a vida


As pessoas têm usado materiais para armazenar
DNA
informações desde o tempo das pinturas em
cavernas. A natureza já faz isso há milhões de Uma molécula
chamada de ácido
anos por meio do que conhecemos como ácido desoxirribonucleico é
desoxirribonucleico (DNA). O DNA é formado usada para armazenar
informação genética
por duas hélices que se mantêm unidas uma à que permite aos seres
outra. Cada hélice da molécula da dupla hélice vivos se reproduzirem.
Cada célula viva
do DNA consiste em três unidades: um fosfato, contém pelo menos
uma molécula desoxirribose (uma molécula de uma molécula de
DNA para controlar a
açúcar com um anel de cinco membros) e uma produção de proteínas
base nitrogenada. As bases do DNA podem ser e carregar informação
genética de uma
uma entre quatro moléculas: adenina (A), guanina geração de células
(G), citosina (C) ou timina (T). para a próxima.
36 UNIUBE

Uma pergunta natural de se fazer é: Por que o DNA tem duas hélices
com o esqueleto O – P – O – C – C – C n a parte exterior e as bases
nitrogenadas no interior? Este fato pode ser explicado pelas propriedades
das ligações entre as moléculas das bases ligadas ao esqueleto. Os
átomos de H unidos ao N, na molécula de adenina, possuem carga
positiva, e isso resulta numa forma especial de ligação, denominada de
ligação de hidrogênio, com a molécula de base da cadeia vizinha. Sendo
assim, a ligação química acaba sendo uma força diretora no processo de
armazenamento das informações genéticas dos indivíduos, sustentando
dessa forma a vida. Você terá uma noção mais detalhada da importância
da ligação de hidrogênio em estudos posteriores.

1.9 Conclusão

A combinação ou recombinação de átomos dá origem a várias


substancias diferentes, mas já vimos que essas interações entre átomos
ocorrem segundo regras, ou tendências destes próprios átomos. Na
grande maioria, os átomos adquirem estabilidade quando apresentam
oito elétrons na camada mais externa, ou também chamada de camada
de valência, seguindo a configuração eletrônica dos gases nobres. As
ligações iônicas possuem como principal característica a geração de
cátions e ânions, ou seja, formam-se forças eletrostáticas. As ligações
covalentes se caracterizam pelo compartilhamento de elétrons por dois
ou mais átomos, e as ligações metálicas que ocorrem entre átomos
metálicos, formando ligas.

Os elétrons participantes das ligações, elétrons de valência, podem


ser representados por símbolos de pontos, chamados de símbolos de
Lewis. Às vezes as estruturas de Lewis são insuficientes para representar
uma molécula. Esses compostos são descritos usando duas ou mais
estruturas de ressonância, sendo vistos como uma mistura destas
estruturas múltiplas.
UNIUBE 37

AGORA É A SUA VEZ

Atividade 6

6.1 Que característica as partículas devem apresentar em um meio para que


haja passagem de corrente elétrica em um sistema?

6.2 Por que, quando fundido, o cloreto de sódio conduz corrente elétrica?

6.3 Quantas ligações covalentes os elementos da família do nitrogênio


precisam estabelecer para completarem seu octeto?

6.4 Suponha que, em um outro universo, os elementos apresentem a


tendência a completar o noneto (nove elétrons na camada de valência) e
não o octeto como aprendemos nesta unidade. Uma ligação covalente é
estabelecida quando três elétrons são compartilhados entre dois átomos.
Sendo assim, desenhe a estrutura de Lewis para os compostos que seriam
formados a partir de:

a) Hidrogênio e oxigênio
b) Hidrogênio e flúor

6.5 O elemento fósforo tem fórmula molecular P4 . Proponha uma estrutura


de Lewis para esta molécula.(Pense: Cada átomo de fósforo deve ser ligar
a outros três átomos de fósforo.)

Atividade 7

7.1 Classifique os compostos listados abaixo como covalentes ou iônicos.

CH 4 , KF , CO, SiCl4 e BaCl2

7.2 Escreva a estrutura de Lewis para o AlCl3 . Mostre que no AlCl3 o


alumínio não atende à regra do octeto.

7.3 Escreva estruturas de Lewis aceitáveis para os seguintes poluentes


atmosféricos:

a) SO2 b) NO2 c) O3 d) CO e) SO3 f) ( NH 4 ) 2 SO4. Qual deles é um sólido?


38 UNIUBE

7.4 Os seguintes dados foram encontrados em um handbook (livro com


uma série de propriedades químicas e físicas de elementos e compostos).

Cânfora – C10 H16O – cristais incolores, densidade de 0,990g/cm³ a 25ºC;


sublima a 204ºC; insolúvel em água, muito solúvel em água e éter.

Cloreto de praseodímio – Pr Cl3 – cristais verde-azulados em forma de


agulhas, densidade de 4,02g/cm³ a 25ºC, ponto de fusão igual a 786ºC,
ponto de ebulição igual a 1700ºC, solubilidade em águia fria igual a 103,9g/
ml e muito solúvel em água quente. Você descreveria cada um desses como
iônico ou valente. Por quê?

7.5 Explique por que HCl é uma molécula polar e Cl2 não é uma molécula
polar.

7.6 Explique por que uma solução de NaCl conduz corrente elétrica
enquanto uma solução de sacarose (açúcar comum) não conduz. E álcool
etílico (C2 H 5OH ) e água irá conduzir? Explique.

7.7 Cerâmicas são compostos inorgânicos tal como Al2O3 (utilizado


na fabricação de velas de ignição para motores e substrato para peças
microeletrônicas), SiO2 (isolante elétrico em microeletrônica), Fe3O4 (usado
na produção de memórias de computadores e SiC (um abrasivo). Com
base em seus conhecimentos, diga qual o tipo (caráter) de ligação (iônica
ou covalente) predomina em cada um dos compostos, justificando a sua
escolha.

AGORA É A SUA VEZ

Atividade Integradora

O uso de materiais e ligação química

Para a realização desta atividade, você deverá pesquisar sobre um


determinado material com o objetivo de entender suas propriedades e
explicá-las com base nos modelos de ligação química, verificando como a
utilização desse material para fabricar diferentes tipos de objetos e artefatos
do cotidiano urbano, industrial e rural relaciona-se com essas propriedades.
UNIUBE 39

Procure se informar sobre os processos de obtenção do material estudado,


a distribuição das reservas de matéria-prima para sua obtenção no Brasil e
no mundo; assim como as implicações sociais e ambientes da sua produção
e uso. Você deverá escolher o material a ser estudado dentre os seguintes
grupos:

• Metais – ferro e aço


• Metais – alumínio e cobre
• Materiais cerâmicos – vidros e tijolos refratários.
• Materiais de origem natural – madeira, papel, fibras vegetais.
• Novos materiais – biomateriais, catalisadores, polímeros condutores,
nanomateriais.
• Plástico e borrachas
• Silício e outros materiais usados na fabricação de componentes
eletrônicos.

No relatório que deve ser feito sobre o material, você deverá responder às
questões e atender às demandas:

1) Qual é a origem do material considerado? Como ele é produzido e/ou


extraído?

2) Descreva todas as fases do processo de extração e do processo industrial


de produção. Qual é o impacto ambiental e social de sua produção e
extração? Quais são as reservas potenciais em uso das matérias-primas
para fabricação desse material no Brasil?
3) Descreva uma aplicação de um produto em que esse matérial é usado.
Deixe claro que propriedades fazem com que o material seja indicado para
esse uso.

4) Quais são os principais impactos ambientais e sociais decorrentes do


uso desse material?

5) Como o uso do material estudado pode contribuir ou não para o


desenvolvimento sustentável?

6) Selecione, prepare e apresente algum experimento relacionado ao “seu”


material.
40 UNIUBE

Referências
FEYNMAN,R.P. O prazer da descoberta. Lisboa: Gradiva, 2006.

KOTZ, J.C.;TREICHEL ,J.P. Química geral e reações químicas. V.2.3.ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, 2005.
Capítulo
Estudo das grandezas
químicas
2

Sebastião Francelino de Cruz

Introdução

Neste capítulo serão abordados conceitos básicos sobre massas


atômicas, massas molares (que é a massa em grama de 1 mol
de partículas de determinada substância) e escalas de massas
atômicas, tendo como base as ideias de Dalton sobre a estrutura
atômica. Partindo do pressuposto de que o aluno já possui algum
conhecimento prévio sobre a estrutura atômica e as ligações
químicas, discutiremos as relações entre estes conceitos e a
transformações químicas, introduzindo o assunto “massa das
substâncias”. Depois será feita uma abordagem histórica sobre a
relação entre a massa e o número de partículas de uma amostra
de matéria. A partir dessa relação, introduziremos o conceito de
mol como medida da quantidade de matéria, o conceito de massa
molar e sua relação com a quantidade de matéria. Os conceitos
aqui tratados são de fundamental importância para você, futuro
educador.

Objetivos
O presente capítulo tem como objetivos:

• conceituar número atômico número de massa isótopos;


• estabelecer uma escala de massas atômicas a partir do
conhecimento da fórmula e da composição centesimal das
substâncias;
42 UNIUBE

• conhecer o princípio de Avogadro e aplicá-lo na determinação


das massas relativas das moléculas;
• analisar dados sobre as quantidades de reagentes e produtos
envolvidas em transformações químicas;
• avaliar a massa do átomo em relação ao de um elemento de
referência;
• relacionar massa, quantidade de matéria e número de
partículas através da unidade mol e do conjunto de massa
molar em cálculos químicos;
• definir a unidade mol de acordo com o Sistema Internacional
de Unidades (SI).

Esquema
2.1 Grandezas químicas;
2.2 Massa atômica ou peso atômico;
2.3 Massa das moléculas;
2.4 Fórmula mínima ou fórmula empírica.
2.5 Conclusão

2.1 Grandezas químicas

O que já estudamos até aqui?

Em etapas anteriores foi realizada uma abordagem histórica e científica


sobre a teoria atômica, desde Demócrito até o modelo atômico atual.
Nesse contexto, construímos os conhecimentos sobre o átomo e as
principais partículas constituintes. A partir deste ponto foram abordados
conceitos sobre número atômico, elemento químico, isótopos etc. Feito
da abordagem dos átomos, foi realizado um estudo sobre a organização
UNIUBE 43

da tabela periódica, na qual percebemos que os elementos estão


dispostos na ordem crescente de número atômico e de acordo com
suas semelhanças. A partir da tabela periódica, passamos a discutir
a formação das substâncias que nos cercam através do estudo das
ligações químicas.

IMPORTANTE!

Mas como trabalhar com as massas de partículas tão pequenas como a dos
átomos, das moléculas ou dos íons?

Antes de responder a essa pergunta, vamos recapitular alguns conceitos.

Número atômico (Z): indica a quantidade de prótons no núcleo


de determinado elemento químico. Portanto, um elemento químico
é caracterizado pela quantidade de prótons em seu núcleo. Assim
deduzimos que os átomos de um mesmo elemento químico apresentam
o mesmo número de prótons e podem apresentar números de nêutrons
diferentes.

Número de massa (A): indica a soma do número de prótons (p) e


nêutrons (n) no núcleo de um átomo. A = p + n
Assim 11 Na 23 indica que:

• o número atômico é 11;


• o número de massa é 23;
• e o número de nêutrons ê 12.

Isótopos: são átomos de um mesmo elemento químico, com diferentes


números de nêutrons e, portanto, diferentes números de massa. Os
isótopos mais leves que podemos encontrar na natureza são os do
hidrogênio.
44 UNIUBE

1 H 1 (símbolo H) = prótio, possui 1 elétron e 1 próton;

1 H 2 (símbolo D) = deutério, possuí 1 elétron, 1 próton e 1 nêutron;

1 H 3 (símbolo T) = trítio, possui 1 elétron, 1 próton e 2 nêutrons.

Os isótopos exemplificados, como os de outros elementos químicos,


são encontrados na natureza na forma de uma mistura de composição
fixa. Por exemplo, no caso dos isótopos do hidrogênio, temos a seguinte
composição;

Isótopo Abundância (%)


99,985
1 H1
0,015
1 H2
0
1 H3

Muitos isótopos radioativos naturais ou artificiais (fabricados em reatores


nucleares) têm grande aplicação tanto na indústria quanto na medicina. O
Quadro 1 apresenta alguns isótopos conhecidos e as respectivas áreas
de aplicação.

Quadro 1: Principais aplicações de isótopos radioativos


Isótopo Aplicação

Urânio-235 (92 U
235
) Utilizado na produção de energia nuclear

131
Empregado no tratamento de câncer e outras, patologias
lodo-131 (53 I )
da glândula tireoide
99
Tecnécio-99 ( 43 Tc ) Utilizado na medicina para obtenção de imagens do cérebro
32
Fósforo-32 (15 P3 ) Utilizado na detecção de tumores na pele

14
Usado para determinar a idade de achados arqueológicos
Carbon o-14 ( 6 C ) que o contém

IMPORTANTE!

Perceba que você já começou a construir conhecimentos sobre grandezas


químicas!
UNIUBE 45

Sabemos que as substâncias existentes reagem entre si para formar


novas substâncias. E, pela teoria atômica de Dalton, vimos que a massa
total é conservada nesse processo.

Para trabalharmos com as reações químicas, seja no dia a dia ou em


um laboratório de química, precisamos entender o conceito de massa
atômica e massa molecular.

Para os cientistas do século XIX, era impossível medir diretamente a


massa de um átomo ou de uma molécula de forma direta. A resolução
para essa questão veio com a ideia de medir uma massa relativa, ou
seja, medir quantas vezes um átomo seria mais pesado que outro. A
substância escolhida foi a água.

Já se sabia que a água era composta de oxigénio e hidrogênio. Através


de dados experimentais, determinou-se que para se obter 100 g de água
eram necessários 88,9 g de oxigênio e 11,1 g de hidrogênio, portanto,
numa razão (88,9 /11,1) = 8, ou seja, na molécula de água teria uma
massa oito vezes maior de oxigênio que de hidrogênio. Desse modo foi
atribuída ao hidrogênio a massa relativa 1 e ao oxigênio, 16.

Hoje, através de aparelhos chamados espectrômetro de massa, pode-se


determinar a massa de um átomo com grande precisão. Por exemplo, a
massa do hidrogênio-1 é igual 1, 6735 x10−24 g e a do oxigênio-16 é igual
2, 6560 x10−23 g .

Atualmente, podemos utilizar o carbono-12, isótopo Massa atômica


mais abundante do carbono, para determinar a
É a massa média
massa atômica relativa de um elemento químico. de um átomo em
Uma unidade de massa atômica (u), portanto, é a uma amostra do
elemento.
massa de um átomo de carbono – 12 dividido por 12.

Agora sabemos que a unidade de massa atômica (u) é a massa de 1/12


do átomo de carbono.

As massas atômicas que encontramos na tabela periódica, na verdade,


são uma média ponderada de todos os isótopos naturais do elemento
químico.
46 UNIUBE

Cada isótopo possui uma massa específica que é uma aproximação da


massa exata, determinada experimentalmente. Geralmente a massa de
um isótopo não é um número inteiro, com exceção do carbono-12, que
é 12 por definição. As massas exatas de um isótopo podem ser obtidas,
como já comentado anteriormente, através do espectrômetro de massa.

Geralmente há uma diferença entre a soma de prótons e nêutrons e a


massa exata. Esta diferença é chamada de defeito de massa. Assim,
consulte a tabela periódica e observe a massa atômica dos elementos.

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

Você já se deparou com situações de uso do espectrômetro de massa? Foi


possível observar o princípio de funcionamento do espectrômetro de massa?
Pesquise esse assunto na Internet, em livros, revistas especializadas.
Anote os detalhes e veja se você realmente compreendeu o princípio de
funcionamento desse espectrômetro.

2.2 Massa atômica ou peso atômico

Note que a massa atômica também é chamada de peso atômico. Porém


o mais correto é massa atômica.

IMPORTANTE!

Como calcular a massa atômica através da massa dos isótopos e sua


abundância?

Vamos tomar como exemplo os isótopos do hidrogênio:

Isótopo Massa do Isótopo Abundância (%)


H1 1,0078
1
99,985
H2 2,0141
1
0,015
H3 3,0161
1
0
UNIUBE 47

A massa atômica é dada por:

abundância em % do isótopo1
Massa atômica = x (massa isótopo 1)
100
abundância em % do isótopo 2
+ x (massa isótopo 2)
100
abundância em % do isotopo 3
+ x (massa isótopo 3) =
100

Resolução:

99,985 0, 015 0
Massa atômica
= x (1, 0078 ) + x ( 2, 0141) + x ( 3, 0161=
) 1, 00795u
100 100 100

A Química está sempre nos proporcionando uma melhor qualidade de


vida a partir da descoberta de substâncias como:

• novos medicamentos;
• materiais mais resistentes;
• chips de computadores cada vez menores;
• tornando a água ideal para consumo humano;
• aumentando a produtividade agrícola etc.

IMPORTANTE!

Um novo produto é obtido pela interação entre outras substâncias conhecidas.

Portanto, uma reação química (fenômeno no qual uma substância


é transformada em outras através do rearranjo de seus átomos) é a
interação de reagentes para se obter um produto. Para termos uma ideia
do produto formado, devemos saber quantos átomos de cada reagente
foram utilizados na reação. Mas como contar os átomos se eles são tão
pequenos?
48 UNIUBE

IMPORTANTE!

Imagine se em determinado supermercado em vez de vender arroz por quilo


vendesse por grãos. Que tumulto não seria, hein?!

Os químicos do passado, diante de tal impasse, criaram uma forma


de ligar o mundo macroscópico ao mundo microscópico. Assim foi
introduzido o conceito de mol que é uma forma de contar moléculas, íons
ou átomos. A palavra mol, é derivada de “moles”, que do latim significa
“monte”.

Para entendermos o conceito de mol, precisamos explicar como tudo


começou...

O químico e físico francês Joseph-Louis Gay Lussac que viveu entre


1778 a 1850 estudava reações químicas entre substâncias gasosas
e deu uma grande contribuição para a Lei dos Gases. Ele foi o
primeiro a formular a segunda lei dos gases: Um gás se expande
proporcionalmente a sua temperatura absoluta se for mantida constante
a pressão. Hoje é conhecido como a lei de Charles, que será estudada
posteriormente. Gay Lussac, estudando a reação entre gás hidrogênio
( H 2) e gás cloro (Cl2 ), tendo como produto o cloreto de hidrogênio ( HCl ),
constatou o seguinte:

Gás Hidrogênio + Gás Cloro → Cloreto de Hidrogênio


1 Volume 1 Volume 2 Volumes
2 Volumes 2 Volumes 4 Volumes
3 Volumes 3 Volumes 6 Volumes

Gay Lussac, trabalhando com outros gases, concluiu que numa reação
química entre substâncias gasosas, quando a pressão e temperatura são
constantes, os reagentes e produtos guardam entre si uma proporção
definida que é expressa por números inteiros. Temos outro cientista,
talvez o mais importante desta história, que aproveitou os dados de Gay
Lussac em seus estudos. Estamos falando do químico italiano Amedeo
Avogadro (1776-1856), sendo um dos primeiros cientistas a distinguir
átomo e moléculas.
UNIUBE 49

Avogadro elaborou um modelo para explicar as observações de Gay


Lussac a partir de dados experimentais. Ele supôs que duas amostras
de gases diferentes, nas mesmas condições de temperatura e pressão,
seriam formadas pelo mesmo número de moléculas. Portanto, se certo
número X de moléculas ocupa um determinado volume “V”, dobrando
o número de moléculas, o volume também irá dobrar. Se o número de
moléculas for 3 vezes maior, o volume irá aumentar na mesma proporção
e assim por diante. Assim temos que:

Gás Hidrogênio + Gás Cloro → Cloreto de Hidrogênio

Observações
experimentais de Gay- 1 volume 1 volumes 2 volumes
Lussac
Hipótese de Avogadro X moléculas X moléculas 2X moléculas

Para aceitar a hipótese de Avogadro, precisamos admitir que a fórmula


do hidrogênio é H2, a do cloro Cl2 e a do cloreto de hidrogênio, HCl.

H2 + Cl2 → 2HCl

Assim, a hipótese de Avogadro possibilitou aos químicos a determinação


das fórmulas das substâncias.

IMPORTANTE!

Mas qual a relação entre mol e Amadeo Avogadro?

A partir dos estudos de Avogadro, obteve-se a grandeza conhecida


número de Avogadro. Por meio dela, sabemos que o mol de qualquer
substância possui sempre o mesmo número de partículas (íons, átomos
ou moléculas).

1 mol = 6,02214199 x 1023 partículas

Esse número era conhecido como “Número de Avogadro” e hoje é


chamado de “Constante de Avogadro”, que é de fundamental importância
para o entendimento de vários conceitos químicos. Muitas vezes
podemos utilizá-lo aproximado como 6,02 x 1023 ou até mesmo 6,0 x 1023.
50 UNIUBE

Hoje, podemos confirmar a constante de Avogadro, medindo-se a massa


dos átomos por espectrometria de massa.

1 mol é o número de átomos em exatamente 12 g de carbono 12

A massa de um átomo de carbono determinada por espectrometria de


massa é igual a 1,99265 x 10-23 g, portanto em 12 g de carbono, temos
6,0221 x 1023 átomos.

12 g
Número de átomos de carbono 12 = = 6, 0221x1023
1,99265 x10−24

2.3 Massa das moléculas

Em laboratório ou em uma indústria, estamos interessados na quantidade


de átomos ou moléculas em determinada reação, mas, na maioria das
vezes o que nos interessa realmente é a massa das moléculas. Seria
impossível contar quantos átomos ou quantas moléculas há em uma
tonelada de matéria-prima para produção de um medicamento.

IMPORTANTE!

Como relacionar a quantidade de átomos ou moléculas com a massa de


determinada substância?

Através do peso molecular ou massa molecular, podemos fazer essa


relação, logo, o peso molecular ou massa molecular de uma substância
é a soma das massas atômicas de cada átomo em sua fórmula química

Devemos deixar claro que o termo sugerido pela IUPAC (União


Internacional de Química Pura e Aplicada) é a massa molecular (MM)
uma vez que peso é massa vezes a aceleração da gravidade (p = m x g).
Vejamos alguns exemplos:
UNIUBE 51

EXEMPLIFICANDO!

A glicose tem fórmula molecular C6H12O6. Significa que temos seis átomos
de carbono, doze átomos de hidrogênio e seis átomos de oxigênio. Pela
tabela periódica, obtemos as massas atômicas de cada elemento. Assim
temos que:
MM(C6H12O6) = 6 x 12 + 12 x 1 + 6 x 16 = 180 u
A sacarose é um açúcar que pode ser obtido a partir da cana-de-açúcar e é
utilizado na produção de álcool. Sua formação molecular é C12H22O11.
MM(C12H22O11) = 12 x 12 + 22 x 1 + 11 x 16 = 342 u

O hidróxido de magnésio, Mg(OH)2, é o príncipio ativo do leite de magnésia.

MM[Mg(OH)2] = 24 x 1 + 16 x 2 + 2 X 1 = 58 u

Geralmente para substância iônica não se fala em moléculas, uma vez


que os íons estão numa rede tridimensional. O correto então é tratarmos
a fórmula química do NaCl como fórmula unitária e a partir desta se
obtém a massa fórmula.

Massa molar pode ser definida como a massa em gramas de 1 mol de


determinada substância. Como vimos anteriormente, um mol de átomos
de carbono-12 tem 6,02 x 1023 átomos de carbono. Portanto, um mol da
mesma substância sempre terá o mesmo número de partículas.

IMPORTANTE!

A massa de um átomo, íon ou molécula (em u, unidade de massa atômica)


é numericamente igual a massa (em gramas) de 1 mol da substâncias.

EXEMPLIFICANDO!

1 átomo de sódio, Na, tem massa igual a 23 u e 1 mol de Na, que equivale
a uma massa de 23 g.
1 íon sódio, Na+, tem massa igual a 23 u e 1 mol de íons Na+, que equivale
a uma massa de 23 g.
1 molécula de água, H2O, tem massa igual a 18 u e 1 mol de H2O, que
equivale a uma massa de 18 g.
1 molécula de glicose, C6H12O6, tem massa igual a 180 u e 1 mol de C6H12O6,
que equivale a uma massa de 180 g.
52 UNIUBE

Exemplos Práticos:

1. A aspirina ou ácido acetil salicílico é um medicamento utilizado como


analgésico, antitérmico, anti-inflamatório e na prevenção do infarto
no miocárdio. Geralmente a aspirina é comercializada na forma de
comprimidos de 500 mg. Sabendo-se que a fórmula molecular
(fórmula essa que expressa o número de átomos presente em um
composto por cada molécula) da aspirina é C6H8O4, determine sua
massa molar e o número de mols presente em cada comprimido de
500 mg.

Resposta: 3,472 x 10–3 mols

2. O hidróxido de cálcio é utilizado indiretamente para corrigir a acidez


do solo antes do plantio. Calcule o número de mols de hidróxido de
cálcio presente em uma tonelada do composto a partir da fórmula
unitária, Ca(OH)2.

Resposta: 13 698,6 mols

Outro aspecto importante é que, a partir da fórmula da molécula e sua


massa molecular, podemos calcular a porcentagem em massa de cada
elemento que constitui o composto. Esta fórmula de representar os
elementos por porcentagem é chamada de fórmula percentual. Vamos
tomar novamente a glicose como exemplo:

% do elemento =
( número de átomos do elemento ) x ( massa atômica do elemento ) x 100% Glicose,
massa molecular do composto
C6 H12O6 = 180u , deste modo podemos dizer que :

%C =
( 6 ) x (12 ) x 100% = 40%
180

=
( ) x (1) x 100% 6, 67%
%H =
12
180
(6) x (16 )
=%O = x 100% 53,33%
180
UNIUBE 53

Assim temos que a fórmula percentual para a glicose é:

C40%H6,67%O53,33%

Observação: os cálculos podem ser resolvidos facilmente através de


uma regra de três simples.

Podemos realizar o processo inverso, ou seja, obtermos a fórmula


molecular a partir da fórmula percentual e da massa molar do composto.
Este processo foi utilizado por muito tempo para descobrir a fórmula
molecular de novas substâncias. Vejamos o exemplo abaixo:

O eugenol é um composto aromático extraído do cravo da Índia e,


por muito tempo, foi utilizado como anestésico. As porcentagens em
massa em uma amostra de eugenol são 73,14 % de carbono, 7,37 %
de Hidrogênio e 19,49 % de oxigênio. Determine a fórmula molecular do
eugenol, considerando que sua massa molar igual é a 164,2 g/mol.

Resolução:
• Em 100g do composto temos: 73,14 de Carbono, 7,37 g de hidrogênio
e 19,49 g de oxigênio.
• Podemos calcular o número de mols de cada elemento através da
massa molar.

1 mol de C 12,011 g
x 73,14g

73,14 x 1 mol
=x = 6, 089 mols carbono
12, 011g

1 mol de H 1,008 g
x 7,37g

73,14 x 1 mol
=x = 7,31 mols hidrogênio
1, 008 g
54 UNIUBE

1 mol de oxigênio 15,999 g


x 19,49g

19, 49 g x 1 mol
=x = 1, 218 mols oxigênio
15,999 g

No próximo passo, precisamos achar a razão entre o número de mols


dos componentes, baseando-se no composto com a menor quantidade
de número de mols que, nesse caso é o oxigênio.

mols de hidrogênio 7,31 mol 6, 00 mol de H


= ( dividindo os 2 números por
= 1, 218 ) →
mols de oxigênio 1, 218 mol 1, 000 mol de O

mols de carbono 6, 089 mol 4,99 mol de C


= ( dividindo os 2 números=
por 1, 218 ) →
mols de oxigênio 1, 218 mol 1 mol de O

mols de oxigênio 1, 218 mol 1 mol de O


= ( dividindo os 2 números
= por 1, 218 ) →
mols de oxigênio 1, 218 mol 1 mol de O

A partir dos cálculos, podemos concluir que, no composto, temos 6


mols de hidrogênio, 5 mols de carbono e 1 mol de oxigênio, ou seja, a
fórmula mínima do composto é C5H6O, o que corresponde a uma massa
molar de 82,10 g/mol. Sabendo-se que a massa molar determinada
experimentalmente é igual a 164,2 g/mol, podemos concluir que a
proporção dos átomos fórmula molecular do composto é o dobro, ou
seja, C16H10O2.

Como podemos notar no exemplo acima, a fórmula do eugenol, C5H6O,


é chamada de fórmula mínima ou fórmula empírica, ou seja, a fórmula
molecular que mostra a razão mais simples entre os átomos de uma
molécula.
UNIUBE 55

2.4 Fórmula mínima ou fórmula empírica

A fórmula mínima ou empírica de uma substância nos diz a proporção


entre os átomos que constituem um composto. Por exemplo, a fórmula
mínima da água é H2O, ou seja, a 1 mol de água, teremos 1 mol de
oxigênio e dois mols de hidrogênio.

Portanto, de posse da fórmula mínima e da massa molar do composto,


podemos obter facilmente a fórmula molecular. A fórmula molecular da
glicose é C6H12O6, dividindo por 6 encontramos os menores números
inteiros possíveis. Portanto, a fórmula mínima é CH2O. Podemos notar que
a proporção de carbono, hidrogênio e oxigênio no composto é de 1:2:1.

Hidrocarbonetos são compostos formados por carbono e hidrogênio. A


fórmula mínima dos hidrocarbonetos pode ser determinada por análise
de combustão. Os hidrocarbonetos, quando sofrem combustão completa,
produzem especificamente gás carbônico (CO2) e água (H2O). O CO2 e
H2O produzidos são recolhidos em um sistema apropriado e a massa
determinada.

A partir da massa destes dois produtos, podemos determinar o número


de mols de carbono e hidrogênio no composto original e consequente
sua fórmula mínima. Vejamos o exemplo a seguir:

O octano é um dos principais constituintes da gasolina. A combustão de


5,23 g de octano produz 16,149 g de CO2 e 7,432 g de H2O. Determine
a fórmula mínima para o octano a partir dos dados.

• Primeiramente devemos calcular a massa em gramas de C e H, a


partir do conceito de mol.

1 mol de CO2 = 1 x 12 + 2 x 16 = 44 g
1 mol de H2O = 2 x 1 + 1 x 16 = 18 g
56 UNIUBE

Partindo da massa molar do CO2 temos:



44 g de CO2  12 g de C
16,149 g  X g de C X = 4,4 g de Carbono

1 mol de C  12 g de C
Y mol  4,4 g de C Y = 0,3667 mol de Carbono

Partindo da massa molar da H2O.

18 g de H2O  2 g de H
7,432 de H2O  X g de H X = 0,8258 g de Hidrogênio

Como a massa atômica do H é 1, o número de mols é igual a 0,8258


mol de H.

Para encontramos a fórmula mínima, basta dividirmos pelo componente


em menor quantidade.

molsdeH 0,8258mol 2, 25molsdeH 2, 25 H


= (dividindo ambos por 0,3667)  =
molsdeC 0,3667 mol 1, 000moldeC 1C

Portanto, a razão entre o número de mols de carbono e hidrogênio é de


2,25:1. Nesse caso, devemos multiplicar por 4 a proporção para obtermos
um número inteiro. Assim obtemos a proporção entre hidrogênio e
carbono de 9:4, fornecendo uma fórmula mínima igual a C4H9. Sabendo-
se que a massa molar do octano é igual a 114 g/ mol, podemos concluir
que o composto tem a fórmula molecular C8H18.

IMPORTANTE!

Se um terceiro elemento estiver presente no composto além do carbono


e hidrogênio, podemos determinar a massa do carbono e o hidrogênio e
subtrair da massa total para calcularmos a massa do outro elemento.
UNIUBE 57

2.5 Conclusão

Os estudos das grandezas químicas possibilitam a aprendizagem


de conceitos importantes e amplamente aplicados na química, como
o conceito de mol. Partindo do pressuposto que a teoria atômica foi
estudada, desenvolvemos os conceitos de isótopos, números atômicos
e massas atômicas, focando os estudos nas massas moleculares. Dentro
desse contexto, vimos a contribuição essencial de renomados cientistas
como, Amedeo Avogrado, Gay Lussac, John Dalton, entre outros.

Abordamos, ainda, fórmulas percentuais e empíricas a partir das fórmulas


moleculares de diferentes compostos, e como o conhecimento prévio
desse conceito pode auxiliar em análise de identificação e elucidação de
compostos de diferentes classes químicas.

Referências
BROWN,L.; LEMAYH. E.; BURSTEN B. E. Química: a ciência central. 9. Ed. São Paulo:
Pearson Prentice-Hall,2005.
Capítulo
Funções inorgânicas:
ácidos, bases e sais
3

Deusmaque Carneiro Ferreira


Ely Zago

Introdução
Prezados (as) alunos (as), as substâncias químicas podem ser
agrupadas de acordo com suas propriedades comuns. Estas
propriedades comuns são chamadas de propriedades funcionais. 
A partir dessas propriedades, podemos agrupar as substâncias
em grupos denominados de funções inorgânicas. As funções
inorgânicas que iremos estudar neste capítulo serão: ácidos,
bases e sais.

Você irá perceber, ao longo dos estudos, o quanto que essas


funções inorgânicas estão presentes em nosso cotidiano. Como
exemplo, podemos citar o ácido clorídrico (HCl), comercializado
com o nome de ácido muriático, utilizado na indústria, nos
laboratórios, na limpeza após a pintura de edifícios (caiação) ou
de superfícies metálicas (antes da soldagem), lembrando que este
ácido também está presente no estômago (suco gástrico).

Outra substância muito usada em nosso dia a dia é o hidróxido


de sódio (NaOH), comercializado com o nome de soda cáustica,
inserida no grupo das bases, sendo utilizada principalmente na
fabricação de sabão, glicerina e na produção do biodiesel.

Os sais também apresentam uma ampla aplicação prática


destacando o cloreto de sódio (NaCl), encontrado dissolvido na
água do mar e usado em nossa alimentação; podemos destacar
também o carbonato de cálcio (CaCO3), conhecido como calcário
(calagem de solo), um sal muito abundante na crosta terrestre
sendo o mármore uma variedade desse mineral.
60 UNIUBE

Através desses exemplos de aplicações práticas, você pode perceber


a importância das funções inorgânicas ácidos, bases e sais na
indústria, laboratório, comércio, agricultura, saúde (medicamentos)
entre outras, sendo assim, precisamos conhecer bem as propriedades
físicas, químicas e organolépticas dessas substâncias bem como as
suas fórmulas estruturais, suas nomenclaturas e classificações, uma
vez que esses tópicos constituirão ferramentas essenciais para a
melhor compreensão dessas funções em nossas atividades práticas
diárias nos mais diversos setores.

Objetivos
O presente capítulo tem como objetivos:
• comparar as funções inorgânicas ácidos, bases e sais quanto
a formulação, classificação estrutura e nomenclatura;
• utilizar exemplos do cotidiano, para explicitar fatos e conceitos
sobre ácidos, bases e sais;
• correlacionar às propriedades periódicas com as funções
inorgânicas: ácidos, bases e sais.

Esquema
3.1 Estudo das propriedades físicas e organolépticas das funções
ácido, base e sal
3.1.1 Aplicação das propriedades organolépticas e fisiológicas
de alguns grupos de substâncias
3.2 Estudo das funções ácido e base
3.2.1 Função ácida
3.3 Nomenclatura e fórmula dos ácidos
3.3.1 Ácidos não oxigenados
3.3.2 Ácidos oxigenados
3.3.3 Determinação teórica da força ácida
3.3.4 Força nos hidrácidos
3.3.5 Força nos oxiácidos
3.4 Fórmulas estruturais dos ácidos
3.5 Reações de ionização
UNIUBE 61

3.6 Classificação dos ácidos


3.7 Função base
3.8 Nomenclatura e fórmula das bases
3.9 Classificação das bases
3.10 Conceitos modernos sobre ácidos e base
3.10.1 Teoria protônica de Brönsted-Lowry
3.10.2 Teoria eletrônica de Lewis
3.11 Aplicação prática dos ácidos e bases mais importantes em
nosso cotidiano
3.12 Sais
3.12.1 Reação de neutralização total
3.12.2 Nomenclatura dos sais minerais ou neutros
3.12.3 Reação de neutralização parcial do ácido
3.12.4 Nomenclatura dos hidrogenossais
3.12.5 Reação de neutralização parcial da base
3.12.6 Nomenclatura dos hidroxissais
3.13 Conclusão

3.1 Estudo das propriedades físicas e organolépticas das


funções inorgânicas: ácido, base e sal

Antes das teorias modernas de ácido e base que serão abordadas


posteriormente, os ácidos eram conceituados através de uma série de
propriedades comuns, tais como:

• Apresentar sabor azedo.


• Tornar róseo o papel de tornassol azul.
• Conduzir corrente elétrica (solução aquosa, meio eletrolítico).
• Produzir efervescência ao ser adicionado aos carbonatos.
• Reação envolvida: ácido + carbonato → sal + gás carbônico + água.

As bases, antes dessas teorias modernas, eram definidas por uma série
de propriedades comuns, como:

• Possuir um sabor adstringente (“amarrar na boca”).


62 UNIUBE

• Tornar a pele lisa ou escorregadia (usado atualmente em cremes


dermatológicos).
• Tornar azul o papel róseo de tornassol.
• Conduzir corrente elétrica (solução aquosa, meio eletrolítico).

Enquanto que os sais eram caracterizados pelo sabor azedo e pela


condutibilidade elétrica em meio aquoso.

3.1.1 Aplicação das propriedades organolépticas e fisiológicas de


alguns grupos de substâncias.

Com o sabor azedo... Com o sabor doce...

...tem-se frutas verdes ou ...tem-se, por exemplo, frutas


cítricas; produtos de origem maduras; caldo de cana; verduras
fermentativa como o vinagre etc. etc.

Com o sabor adstringente...


Com o sabor salgado...
(aquele sabor que “fecha” a boca)
...há sal de cozinha; terra etc. ... tem-se banana verde; leite de
magnésia; caju; caqui verde etc.

IMPORTANTE!

Cuidado! Sabor não é critério para classificar substâncias, pois, por uma
questão de segurança, não podemos provar qualquer produto. Ele pode
ser tóxico!
UNIUBE 63

Um fato interessante é o caso do sabor salgado da



folha da “mandioca brava”, rica em cianeto (CN–) Cianeto ( CN )
que, conforme a quantidade ingerida pode levar à Ânion formado
morte. A banana, maçã verde “prende o intestino” por carbono e
nitrogênio (CN).
e o leite de magnésia, Mg(OH)2, em quantidade
um pouco exagerada pode levar o indivíduo a
desidratação (laxante).

IMPORTANTE!

Um grupo de substâncias, denominadas de indicadores ácidos-bases,


apresenta uma determinada coloração em meio ácido e outra em meio
básico.

Vários produtos, além do extrato do repolho roxo, podem ser utilizados


como indicador ácido-bases, tais como flor de quaresmeira, flor de
ipê, fenolfateleína, azul de bromotimol, alaranjado de metila, papel de
tornassol e tantos outros.

NOTA: Através de uma demonstração simples você pode visualizar


essa mudança de cor que ocorre nos indicadores em função do caráter
ácido-base do meio.

De uma forma simplificada basta você seguir os seguintes itens:

I – Providencie algumas folhas de repolho roxo, cortadas em pedaços


pequenos.
II – Coloque estes pedaços em água fervente por cerca de dez minutos.
III – Observe a cor final da solução água com repolho roxo.
IV – Umedeça um pedaço de pano branco no extrato de repolho roxo.
V – Repita esse procedimento em outros produtos, como limão,
Coca-cola, vinagre, leite de magnésia, sabão, sabonete, baba de
quiabo e outros que desejar.
VI – Anote as suas observações ao final do experimento.
64 UNIUBE

a) O pano com vinagre ficou...


b) O pano com limão ficou também...
c) O pano com leite de magnésia ficou verde ou levemente...
d) O pano com sabonete ficou também verde ou levemente...

Você deve ter percebido que temos dois grupos de substância dentre os
materiais testados, sendo um dos grupos, as substâncias que fizeram
com que o pano adquirisse a cor avermelhada, e outro a cor verde. O
grupo que produz a cor avermelhada é chamado de ácidos e o grupo
que produz a cor verde ou amarelada é chamado de álcalis ou bases.

Temos, portanto, uma ótima definição para ácidos e bases:

Ácidos Bases

São substâncias que possuem São substâncias que possuem


sabor azedo e que avermelham sabor adstringente e que
o extrato de repolho roxo. esverdeiam ou amarelam o
extrato de repolho roxo.

PARADA PARA REFLEXÃO

Você sabe o significado dos termos ionização e dissociação? Veja as


definições a seguir.

PARADA PARA REFLEXÃO

Dissociação Iônica
É a separação dos íons que ocorre quando uma substância iônica dissolve-
se em água. É um processo em que se dá a separação de íons em uma
fórmula. Estes íons podem voltar a recombinar-se para dar origem à
substância original.
UNIUBE 65

Ionização
É o processo em que íons são formados quando certas substâncias
moleculares (covalentes) dissolvem-se em um solvente apropriado (polar
com polar, apolar com apolar).

NaOH H 2O

← → Na+ + OH–

Ca(OH)2 H 2O

← → Ca2+ + 2OH–

Vejamos alguns exemplos:

H2SO4 H 2O

← → 2H+ + SO42–

HNO3 H 2O

← → H+ + NO3–

3.2 Estudo das funções ácido e base

Inicialmente iremos definir as funções ácido e base segundo a teoria


de Arrhenius e, posteriormente, iremos definí-las segundo as teorias de
Bronsted-Lowry e Lewis.

3.2.1 Função ácido

Segundo Arrhenius os ácidos são substâncias moleculares que em meio


aquoso ionizam liberando como único cátion o íon H+.

Ex: HCl(aq) ←
→ H+

 (aq)
+ Cl–(aq)

NOTA: Hoje, nós sabemos que o íon H+ interage com a água, ligação
coordenada, formando o íon hidrônio ou hidroxônio (H3O+), forma mais
estável.
66 UNIUBE

H +
H Cl + H2O + Cl–
O
Cloreto de H H Ânion
Hidrogênio Cloreto
Cátion
Hidroxônio

IMPORTANTE!

Ácidos

1o) Produto de reações entre os óxidos ácidos ou anidridos com água.

CO2 + H2O → H2CO3 (ácido carbônico)

2o) Frente ao extrato de repolho roxo, os ácidos caracterizam-se pela cor


avermelhada.

Experimentalmente, Arrhenius verificou que as soluções eletrolíticas


conduziam a corrente elétrica devido à presença dos íons carregados
eletricamente, e as soluções não-eletrolíticas não conduziam a corrente
elétrica, porque se mantinham na forma de moléculas neutras, isentas
de ação em um campo elétrico.

IMPORTANTE!

Corrente elétrica

É um fluxo ordenado de partículas carregadas (partículas dotadas de carga


elétrica). Em um fio de cobre, a corrente elétrica é formada por minúsculas
partículas dotadas de carga elétrica negativa, denominadas elétrons. Eles
são os portadores da carga elétrica.
UNIUBE 67

Figura 1: Esquema mostrando a presença de uma solução eletrolítica (à esquerda) e uma


solução não-eletrolítica (à direita).

Interpretando melhor a figura acima, percebemos que na solução


eletrolítica, a luz está acesa porque há a ionização do cloreto de
hidrogênio, formando íons livres: cátion hidrogênio e o ânion cloreto.
Na solução não-eletrolítica, a luz está apagada, pois a sacarose é um
composto molecular que não sofre ionização ou dissociação iônica.

SAIBA MAIS

Condutibilidade elétrica

É a capacidade de uma solução conduzir uma corrente elétrica ao ser


exposto a um diferencial de potencial elétrico. Esta condutividade varia em
função da concentração de íons na solução

3.3 Nomenclatura e fórmula dos ácidos


Os ácidos podem ser divididos em dois grandes grupos:

IMPORTANTE!

Não oxigenados ou hidrácidos: São os ácidos que não possuem oxigênio


em sua estrutura.
Oxigenados: São os que possuem oxigênio em sua estrutura.
68 UNIUBE

3.3.1 Ácidos não oxigenados

São os ácidos que não formam óxidos.

Para dar nome a esse grupo de ácidos, basta escrever o nome do


elemento, seguido da terminação ídrico:

NOME DO ELEMENTO + SUFIXO ídrico

Observe os exemplos a seguir:


HF ácido fluorídrico
H2Se ácido selenídrico
HBr ácido bromídrico
HCN ácido cianídrico
HI ácido iodídrico
H2S ácido sulfídrico

3.3.2 Ácidos oxigenados

São os ácidos que quando desidratados formam óxidos. Portanto, a


nomenclatura de óxido ácido ou anidridos será utilizada na nomenclatura
de ácidos. Para tal, basta substituir a palavra anidrido pela palavra ácido.
Exemplos:
SO3 + H2O H2SO4
Anidrido sulfúrico ácido sulfúrico

CO2 + H2O H2CO3


Anidrido carbônico ácido carbônico

Mas há outras várias maneiras de aprender a nomenclatura dos ácidos


que contêm oxigênio. Uma das mais fácies é você memorizar a fórmula
e o nome de seis ácidos. São eles:
HNO3
ácido nítrico HClO3 ácido clórico
H2SO4 ácido sulfúrico H3PO4 ácido fosfórico

H2CO3 ácido carbônico H3BO3 ácido bórico


UNIUBE 69

Os ácidos escolhidos são ácidos padrões para a nomenclatura. Observe


que todos eles terminam em ICO. A partir deles, acrescentando ou
retirando oxigênio, conseguiremos a fórmula de outros ácidos.

Podemos, resumidamente, para facilitar a compreensão, acompanhar o


esquema:
O prefixo significa acima. Per....(elemento)......ico mais um oxigênio
O prefixo significa abaixo. ....(ácidos padrão)... íco
menos um oxigênio
................................oso
menos um oxigênio
Hipo........................oso

Vamos colocar em prática essa tabelinha? Veja a seguir como ficam as


nomenclaturas retirando ou adicionando oxigênio:

Os traços foram HClO4 – – –


colocados na
posição onde Ácido
deveria ter percloríco
mais um ácido. HClO3 H2SO4 HNO3 H3PQ4
Porém, onde
Ácido clórico ácido sulfúrico ácido nítrico ácido fosfórico
estão os traços
não há ácidos. HClO2 H2SO3 HNO2 H3PO3
Ácido cloroso ácido sulfuroso ácido nitroso ácido fosforoso
HClO – – H3PO2
Ácido ácido
hipocloroso hipofosforo

O ácido carbônico (H2CO3) e o bórico (H3BO3) não foram representados


nessa aplicação que acabamos de ilustrar por não formarem outros
ácidos pelo acréscimo ou retirada de oxigênio.

A família dos halogênios, ou seja, os elementos que pertencem a uma


mesma família da tabela periódica possuem propriedades químicas
semelhantes. O bromo (Br) e o iodo (I) formam ácidos semelhantes ao
cloro (Cl). Enquanto que os calcogênios tais como o selênio (Se) e o
telúrio (Te) formam ácidos semelhantes ao enxofre (S). Já os elementos
da família do nitrogênio, como o arsênio ( As) e o antimônio (Sb) formam
ácidos semelhantes ao fósforo (P).
70 UNIUBE

IMPORTANTE!

Alguns ácidos podem ser obtidos pela desidratação parcial de outros ácidos.
Isso você pode constatar a partir das estruturas a seguir de alguns ácidos
contendo o fósforo (P).

H3PO4 ácido fosfórico ou ortofosfórico


–H2O

HPO3 ácido metafosfórico

H3PO4 x 2 = H6P2O8
–H2O
H4P2O7 ácido pirofosfórico

SAIBA MAIS

Orto

Significa que o ácido pode gerar outro por desidratação.

Meta

Significa que foi retirada uma molécula de água do orto por desidratação.

Piro

Significa que foi retirada uma molécula de água de duas moléculas de ácido orto.

Os metais cromo (Cr) e manganês (Mn) também formam ácidos


importantes, pois vão originar várias outras substâncias, utilizadas em
diversas reações químicas, ou podem originar subprodutos que irão
desempenhar um papel cinético (catalisadores) importantíssimo nas
reações de oxidação. Observe a composição química e a nomenclatura
desses ácidos a seguir:
UNIUBE 71

HMnO4 ácido permangânico


H2MnO4 ácido mangânico

H2CrO4 ácido crômico

H2Cr2O7 ácido pirocrômico (ou dicrômico)

3.3.3 Determinação teórica da força ácida

Para os hidrácidos:

IMPORTANTE!

A força ácida está relacionada com o comprimento do raio do átomo


ligado ao hidrogênio. Quanto maior o raio desse átomo, menor será a sua
eletronegatividade e, mais fraca será a ligação deste átomo com o átomo
de hidrogênio, o que faz com que a ionização ocorra em maior extensão.

Quanto mais fracamente ligado o átomo de hidrogênio estiver, mais


facilmente ele será “arrancado” pela molécula de água, para formar o
hidroxônio, H3O+.

Portanto, perceba que a força de um ácido está relacionada com a


capacidade desse ácido em ionizar e liberar íons H+ ou H3O+ no meio
reacional (solução). Um ácido forte ioniza muito apresentando uma
elevada concentração de íons H+ ou H3O+ no meio eletrolítico e, como
consequência, terá um elevado valor para o grau de ionização (α ≥ 50%)
e um baixo valor de pH (potencial hidrogeniônico) e pKa (potencial da
constante de ionização ou de acidez) já que o valor de Ka é elevado
em se tratando de ácido forte. Esses parâmetros físico-químicos (pH,
pKa, Ka) usados para mensurar a força de um ácido serão estudados
posteriormente nas unidades de estudos de físico-química.

3.3.4 Força nos hidrácidos

• Fortes
Em ordem decrescente de força: HI (aq), HBr(aq), HCl(aq).
72 UNIUBE

• Moderado
HF (aq).

• Fraco
Todos os demais.

3.3.5 Força nos oxiácidos

A força está intimamente ligada ao número de oxigênio presentes na


estrutura do ácido. O oxigênio é o segundo elemento mais eletronegativo
da tabela periódica, e sua posição terminal na molécula, faz com que
haja um deslocamento de elétrons na molécula, no sentido do elemento
central para o oxigênio. A deficiência eletrônica (insuficiência de
elétrons) do hidrogênio facilita sua ionização. Assim o ácido será mais
forte, quanto maior for o número de átomos de oxigênio em sua estrutura.

Aumenta o número de oxigênios e consequentemente a força do ácido.

O O
Cl
Cl OH O OH Cl OH O Cl OH

O O
Ácido Ácido Ácido Ácido
hipodoroso cloroso clórico perclórico

Vamos ver uma regra prática :

Tomemos a fórmula de um ácido hipotético qualquer, HxEzOy, onde E


pode ser qualquer elemento, e x é o número de hidrogênios ionizáveis e
y o número de átomos de oxigênio.

Fazendo a subtração y-x=f, pode-se diferenciar os ácidos em forte,


moderado ou fraco, de acordo com o valor de f.

• Ácido forte: quando f for maior ou igual a dois.


Veja os exemplos:

HClO4: (4 – 1= 3) H2SO4: (4 – 2 = 2) HNO3: (3 – 1 = 2)


UNIUBE 73

• Ácido moderado: quando f for igual a um.

Por exemplo:

H3PO4: (4 – 3 = 1) H2SO3: (3 – 2 = 1) HNO2: (2 – 1 = 1)

• Ácido fraco: Quando f for igual a zero.

Observe os exemplos:

H3BO3: (3 – 3 = 0) HClO: (1 – 1 = 0)

Nota: Devido à sua instabilidade, o ácido carbônico (H2CO3) é


considerado um ácido fraco e não um ácido moderado como sugere a
regra prática (f = 1).

Podemos expressar a força dos ácidos pelo grau de ionização, que é a


relação entre o número de moléculas ionizadas e o número de moléculas
dissolvidas em água. O grau de ionização é representado pela letra grega
α (alfa).

 número de moléculas ionizadas 


a =  x100
 número de moléculas dissolvidas 

Podemos classificar os ácidos de acordo com o grau de ionização:

– Ácidos Fracos: a < 5%


– Ácidos Moderados: 5% < a < 50%
– Ácidos Fortes: a > 50%

3.4 Fórmulas estruturais dos ácidos

Conhecendo a fórmula molecular dos oxiácidos, para montar a sua


fórmula estrutural, basta seguir os seguintes passos.
74 UNIUBE

1o Escrever os símbolos do elemento central, aquele sem ser o oxigênio


ou o hidrogênio.

2o Colocar os hidrogênios ligados ao elemento central com um oxigênio


entre eles.

3o Completar, ligando os oxigênios restantes (se houver) ao elemento


central.

Observação: Somente dois ácidos não seguem esta regra: o ácido fosforoso
(H3PO3) e o hipofosforoso (H3PO2). Estes têm 2 e 1 hidrogênios ionizáveis,
respectivamente, ligados diretamente no fósforo. Veja os exemplos:

H2SO4: S HO S OH HO S OH
O
Primeiro passo Segundo passo Terceiro passo

OH OH
H3PO4: P HO P OH HO P OH
O
Primeiro passo Segundo passo Terceiro passo

3.5 Reações de ionização

Reações de ionização, como é a própria definição de ácidos, é a quebra


heterolítica da ligação entre o hidrogênio e o oxigênio, com a formação
de cátion (H+) e um ânion diferente da hidroxila (OH)–

Observe com detalhe o exemplo a seguir na fórmula estrutural:


UNIUBE 75

Duas ligações químicas


que serão quebradas
na ionização.

O O
H2O
H O S O H O

S O– + 2H+

O O
Cátion
Ácido Sulfúrico Ânion sulfato hidrogênio

A substância anterior é um oxiácido, pois tem oxigênio, classificado como


forte e, sua ionização se dá com a separação do hidrogênio ligado ao
oxigênio, sendo que, o par de elétrons que formava a ligação entre esses
dois elementos (– O –H), após a ionização permanece junto ao oxigênio.
Observe o mesmo exemplo agora com fórmula molecular:

H2SO4 2H+ + SO 4
2-

Ácido Sulfúrico cátion hidrogênio ânion sulfato

IMPORTANTE!

Vamos aproveitar o exemplo para verificar que, o ânion, produto da


ionização, muda o sufixo. Veja: o sulfúrico mudou para sulfato!

Só para relembrarmos, os ácidos são substâncias moleculares que,


ao se dissolverem em água (H2O) sofrem ionização liberando com íon
positivo, somente o (H+). O ânion, isto é, o outro íon, terá carga negativa
numericamente igual à quantidade de hidrogênios liberados. Vamos
ver outros exemplos, somente com fórmulas moleculares envolvendo
hidrácidos e oxiácidos.
76 UNIUBE

HCl H+ Cl–
+ ânion cloreto
Ácido cloridríco cátion hidrogênio

HClO3 H+ ClO3–
+ ânion clorato
Ácido clórico cátion hidrogênio

H3PO4 3H+ PO43–


+ ânion fosfato
Ácido fosfórico cátion hidrogênio

HNO2 H+ NO2
+
Ácido nitroso cátion hidrogênio ânion nitrito

H2MnO4 2H+ MnO42–


+
Ácido mangânico cátion hidrogênio ânion manganato

HBr H+ Br
+
Ácido bromídrico cátion hidrogênio ânion brometo

Você observou o nome dos ânions formados?

• ídrico foi substituído por eto.


• oso foi substituído por ito.
• ico foi substituído por ato.

3.6 Classificação dos ácidos

Os ácidos são classificados de acordo com os seguintes critérios:

1) Quanto ao número de elementos químicos, que constituem suas


moléculas.

• Binários: formados por dois elementos químicos.


Exemplos: HCl, HBr, H2S.

• Ternários: formado por três elementos químicos.


Exemplos: HCN. H2SO4, H4P2O7.

• Quaternários: formado por quatro elementos químicos.


Exemplos: HNCO, HSCN.
UNIUBE 77

2) Quanto ao número de hidrogênios ionizáveis:

• Monoácidos: apenas um hidrogênio ionizável.


Exemplos: HCl, H3PO2, HBrO2.

A reação de ionização pode ser generalizada pela representação a


seguir:

HBr
+ H2O → H3O+ + Br-

• Diácidos: dois hidrogênios ionizáveis (ácidos que quando em


processo de ionização liberam dois prótons hidrogênios).
Exemplos: H2SO4, H3PO3, H2MnO4.

A reação de ionização pode ser representada como:

H2SeO4 + 2H2O → 2H3O+ + SeO42–



• Triácidos: três hidrogênios ionizáveis.
Exemplos: H3PO4, H3BO3.

A reação de ionização pode ser representada de acordo com a


equação química a seguir:

H3PO4 + 3H2O → 3H3O+ + PO43–

• Tetrácidos: quatro hidrogênios ionizáveis.


Exemplo: H4P2O7.

A reação de ionização é representada a seguir:

H4P2O7 + 4H2O → 4H3O+ + P2O74–


78 UNIUBE

3.7 Função base


Segundo Arrhenius, as bases são substâncias que, em solução aquosa,
liberam como íons negativos somente OH–.

Como exemplo, podemos representar a dissociação do hidróxido de


sódio:

NaOH(aq) Na+(aq) + OH–(aq)

Assim, para Arrhenius, o sabor azedo (ácido) visto no item anterior é


causado pela espécie química H+ que torna vermelho o indicador de
extrato de repolho roxo. Da mesma forma, o sabor adstringente (básico)
que causa a coloração verde ou amarelada do indicador de repolho roxo
é o ânion OH–.

SAIBA MAIS

Bases

1o) Produto de reações entre óxidos básicos com água.

Na2O + H2O 2NaOH

2o) Frente ao extrato de repolho roxo caracterizam-se pela cor verde ou


amarelo-avermelhada.

3.8 Nomenclatura e fórmula das bases

Recordando a definição anterior sobre base: trata-se de um produto da


reação de um óxido básico com a água. Portanto, para dar nome a uma
base, basta você substituir a palavra óxido por hidróxido.

Quando se adiciona base à água, esta, mesmo que muito pouco,


dissocia-se, liberando um único tipo de ânion, a hidroxila (OH)–. Todas
as bases são iônicas, com exceção de uma única, a amônia (NH3), que
é molecular.
UNIUBE 79

Para facilitar a nomenclatura, vamos dividí-la em dois grupos: primeiro


aquele cujo metal forma uma única base e, segundo aquele que o metal
permite a formação de mais de uma base. Observe as reações a seguir,
com a referida substituição das palavras:

1o) grupo: metais que formam uma única base.

Observe e faça a relação do nome do óxido com o nome da base.

Primeiro exemplo:

K2O + H2O → 2KOH


Óxido de potássio
Hidróxido de potássio

Segundo exemplo:

Fr2O + H2O → 2FrOH


Hidróxido de frâncio

Terceiro exemplo:

CaO + H2O → Ca(OH)2


Óxido de cálcio Hidróxido de cálcio

Quarto exemplo:

ZnO + H2O → Zn(OH)2


Óxido de zinco Hidróxido de zinco

Quinto exemplo:

Al2O3 + 3H2O → 2Al(OH)3


Óxido de alumínio Hidróxido de alumínio
80 UNIUBE

Portanto, você percebe que a nomenclatura das bases cujo metal


apresenta NOX (número de oxidação) fixo é dada pela seguinte regra
prática:

Hidróxido + de + nome do cátion


• LiOH – hidróxido de lítio
• Zn(OH)2 – hidróxido de zinco
2o) grupo: metais que formam mais de uma base.
Neste caso, os metais apresentam mais de um NOX, como é o caso do
ferro (Fe2+; Fe3+), cobre (Cu1+; Cu2+), ouro (Au1+; Au3+), níquel (Ni2+; Ni3+), etc.

IMPORTANTE!

Neste ponto, recomendamos que você procure saber mais sobre Nox de um
átomo em um composto. Todas as referências aqui indicadas podem servir
de auxílio ao aluno. De maneira geral, o Nox pode ser entendido como sendo
a carga efetiva de um átomo em um composto, a qual pode ser facilmente
encontrada seguindo algumas regras.

Os metais de maior importância que apresentam mais de um Nox


consistem, em sua maioria, em metais de transição.

IMPORTANTE!

Sua nomenclatura é igual à anterior, acrescentando algarismos romanos


para indicar o Nox do metal formador da base. Pode-se, também, utilizar os
sufixos OSO para a base cujo metal possui menor Nox e ICO para a base
cujo metal possui maior N.

Observe, com atenção, os exemplos a seguir, pois teremos metais com


Nox variados, isto é, metais com Nox 1+ e 2+, metais com Nox 2+ e 3+,
metais com Nox 2+ e 4+ e, finalmente, um exemplo de metal com três Nox.

1. Metais com carga 1+ e 2+ (cobre e o mercúrio):

Exemplo com o cobre:


Cu+ + OH– → CuOH
Hidróxido de cobre I Hidróxido cuproso
UNIUBE 81

Cu2+ + 2OH– → Cu (OH)2


Hidróxido de cobre II Hidróxido cúprico

2. Metal com carga 1+ e 3+ (ouro)

Exemplo com o ouro:

Au+ + OH– → AuOH


Hidróxido de ouro I Hidróxido auroso

Au3+ + 3OH– → Au(OH)3


Hidróxido de ouro III Hidróxido áurico

3. Metais com cargas 2+ e 3+ (Ferro, Níquel, Cromo e Cobalto)

Exemplo com o ferro:


Fe2+ + 2OH– → Fe(OH)2
Hidróxido de ferro II Hidróxido ferroso

Fe3+ + 3OH– → Fe(OH)3


Hidróxido de ferro III Hidróxido férrico

4. Metais com cargas 2+ e 4+ (estanho e chumbo)

Sn2+ + 2OH– → Sn(OH)2


Hidróxido de estanho II Hidróxido estanhoso

Sn4+ + 4OH– → Sn(OH)4


Hidróxido de estanho IV Hidróxido estânico

5. Metal com cargas 2+, 3+ e 4+ (Manganês)

Mn2+ + 2OH– → MnOH


Hidróxido de manganês II Hidróxido hipomanganoso

Sn3+ + 3OH– → Mn(OH)3
Hidróxido de manganês III Hidróxido manganoso

Sn4+ + 4OH– → Mn(OH)3


Hidróxido de manganês IV Hidróxido mangânico
82 UNIUBE

3.9 Classificação das bases


1) Quanto ao número de hidroxilas
• Monobases: possuem somente uma hidroxila.
Exemplo: NaOH, KOH, AuOH e LiOH.
• Dibases: possuem duas hidroxilas.
Exemplo: Ca(OH)2, Ba(OH)2, Fe(OH)2 e Co(OH)2.
• Tribases: possuem três hidroxilas.
Exemplo: Fe(OH)3 e Al(OH)3.
2) Quanto à solubilidade em água
• Solubilidade total
As bases dos metais alcalinos e amônia.
• Solubilidade parcial
As bases dos metais alcalinos terrosos (exceto Mg(OH)2).
• Praticamente insolúveis
Todas as outras bases, incluindo Mg(OH)2.
3) Quanto ao grau de dissociação
• Bases fortes: São as bases essencialmente iônicas, cujo grau
de dissociação dos metais é total. Neste grupo, incluem-se as
bases dos metais alcalinos e alcalinos terrosos, com exceção do
Mg(OH)2, que é uma base fraca.
• Bases fracas: Neste grupo inclui-se a amônia e todas as outras
bases.

3.10 Conceitos modernos sobre ácidos e base

Vimos, nas considerações iniciais, alguns conceitos de ácidos e bases


aplicando, inclusive, a teoria de Arrhenius, sobre os quais desenvolvemos
todo o estudo de ácido e base.

Mas a teoria de Arrhenius, porém, possui três limitações:


UNIUBE 83

1o) Muitas reações importantes ocorrem em outros solventes. A teoria de


Arrhenius é restrita a soluções aquosas.

2o) A água não é o único solvente capaz de ionizar ácidos e dissociar


bases.

3o) O caráter ácido e o caráter básico de espécies químicas que não


possuem hidrogênio e hidroxilas, respectivamente, não foram considerados.

IMPORTANTE!

Caráter básico: substâncias com pH superior a sete (7).


Caráter ácido: Substâncias com o pH inferior a sete (7).

3.10.1 Teoria protônica de Brönsted-Lowry

Segundo a teoria de Brönsted-Lowry, o primeiro cientista dinamarquês e


o segundo inglês, toda reação ácido-base é reversível independente do
grau de ionização ou dissociação iônica.

Ácido Base
Doa um próton Aceita um próton
(H+) para se (H+) para se
transformar em Cl– transformar em HCl

HCl + H2O Cl– + H3O+

Base Ácido
Aceita um próton (H+) Doa um próton (H+)
para se transformar para se transformar
em H2O+ em H2O

IMPORTANTE!

Algumas espécies químicas diferem entre si pela diferença de um próton e


são chamadas de par conjugado.
84 UNIUBE

Podemos, ainda, fazer algumas afirmações. Veja:

Um ácido forte é aquele que


possui facilidade em doar
Num par conjugado, quanto
próton. Sua base conjugada
mais forte for o ácido, mais
é fraca, tendo dificuldade em
fraca será a base e vice-versa.
receber novamente o próton, por
isso, não volta a formar ácido.

Uma base forte é aquela


que possui facilidade em
Todo ácido tem sua base
receber próton. Seu ácido
conjugada e toda base tem
conjugado é fraco, pois tem
seu ácido conjugado.
dificuldade em doar próton
para voltar à forma de base

Observe a seguir:
Primeiro par conjugado Segundo par conjugado
+
doa H
→
+

Cl– H2O
recebe H
HCl ← 
← →
 H3O+

Dessa maneira, a reação sempre tenderá à formação dos ácidos fracos


(tal como o H3O+) e bases fracas (como por exemplo, o Cl–). O sentido
inverso de formação dos mais fortes também ocorre, só que em escala
menor.

IMPORTANTE!

Substâncias como a água, que ora se comporta como base, ora se comporta
como ácido, são chamadas de anfóteras.

3.10.2 Teoria eletrônica de Lewis

Gilberto Newton Lewis, cujo nome está associado a uma definição geral
de ácido (substância capaz de receber um par de elétrons) e de base
(substância capaz de doar um par de elétrons), dedicou-se também à
preparação de uma amostra de água na qual os átomos de hidrogênio
fossem substituídos por deutério (2H): a “água pesada”(D2O).
UNIUBE 85

Em 1884, Gilberto Newton Lewis anunciou:


Ácido é toda espécie química, átomo, íon ou molécula
capaz de aceitar um par de elétrons, levando à formação
de uma ou mais ligações covalentes coordenadas.
(FELTRE, 1989, p.201).
Base é toda espécie química, íon ou molécula, capaz
de oferecer um par de elétrons através de uma ligação
covalente coordenada. (LEWIS et al; FELTRE, 1989,
p.201).

Ligação covalente
coordenada

H F

H N B F

H F

Base Ácido

Observe que o boro fez três ligações covalentes comuns com o flúor,
ficando com seis elétrons na última camada. Dessa forma, ele pode
aceitar um par de elétrons do nitrogênio da amônia para completar seu
octeto.

IMPORTANTE!

Base oferece um par de elétrons através de ligação coordenada.


Ácido recebe um par de elétrons através de ligação coordenada.

3.11 Aplicação prática dos ácidos e bases mais importantes


em nosso cotidiano
Ácido sulfúrico (H2SO4)
Líquido incolor, muito corrosivo, oleoso, considerado muito forte, oxidante
e absorve água (higroscópio). Em contato com a pele pode provocar
queimaduras de terceiro grau. A dissolução em água é fortemente
exotérmica. Jamais adicione água ao ácido. Faça sempre ao contrário.
86 UNIUBE

A economia de um país pode ser medida pela quantidade de ácido sulfúrico


que ele produz, pois, ele é empregado na indústria de fertilizantes, película de
filmes, medicamentos, corantes, tintas, explosivos, baterias de automóveis,
refinação de petróleo decapante de ferro e aço.

Ácido cianídrico (HCN)

Líquido branco e transparente, com baixo ponto de ebulição (26°C).


Considerando um ácido fraco, mas extremamente venoso: na
concentração de 0,3 mg por litro de ar, torna-se mortal, sendo que sua
primeira vítima foi seu próprio descobridor, Carl Wihelm Scheele. Nome
comercial: ácido prússico. Usado na fabricação de plástico, acrílicos,
cianetos e corantes. É utilizado nos EUA em câmara de gás para
condenados à morte.

Ácido fosfórico (H3PO4)

Quando puro, é sólido cristalino. Em solução aquosa a 85%, forma um


líquido oleoso. É um ácido fraco usado na indústria de fertilizantes e
acidulantes em algumas bebidas não alcoólicas. Ânion fosfato PO4-3, está
presente na formação de material genético.

Hidróxido de amônio (NH4OH)

Líquido incolor com odor forte, altamente tóxico, irritante nos olhos. Usado
na indústria têxtil, fabricação de borracha, fertilizantes, revelação de filme
fotográfico. É usado ainda na indústria farmacêutica, na fabricação de
tintas, explosivo, em detergentes e, em alimentos.

Hidróxido de sódio (NaOH)

Sólido branco, cristalino, higroscópio e absorve CO2 do ar. É altamente


tóxico e reage facilmente com as gorduras provocando a saponificação.
Usado na fabricação de produtos químicos, celofane, sabão e detergente.
Na indústria, é utilizado para a extração de celulose e obtenção de papel,
no refino de petróleo, na medicina, na indústria têxtil e na recuperação
da borracha. Conhecido também como lixívia.
UNIUBE 87

Hidróxido de magnésio (Mg(OH)2)

Base fraca, pouco solúvel em água. Usado na medicina como antiácido


estomacal e como laxante. Sua suspensão aquosa é vendida no comércio
como “leite de magnésia”.

3.12 Sais

Os sais são compostos iônicos que apresentam pelo menos um cátion


diferente do íon H+ e um ânion diferente da hidroxila (OH–). Os sais são
formados por diversas reações químicas, entre elas podemos destacar
a reação de neutralização entre um ácido e uma base, reação entre um
metal e um ácido, a reação envolvendo um óxido básico e um óxido ácido
ou a reação entre dois sais entre outras.

a) Reação de neutralização

HCl(aq) + NaOH(aq) → NaCl(aq) + H2O(l)

ácido base sal água

b) Reação de deslocamento

Zn(s) + 2HCl(aq) → ZnCl2(aq) + H2(g)

metal ácido sal gás hidrogênio

c) Reação de síntese
CaO(s) + SO3(g) → CaSO4(s)

óxido básico óxido ácido sal

d) Reação de dupla troca entre sais

AgNO3(aq) + NaCl(aq) → NaNO3(aq) + AgCl(s).


88 UNIUBE

É importante que você saiba que os íons que formam os sais podem ser
monoatômicos (como o ânion fluoreto, F–, ou o cátion cálcio, Ca2+) ou
poliatômicos (como o ânion sulfato, SO42–). Podem ainda ser inorgânicos
(como o sulfato, SO42–) ou orgânicos (como o ânion acetato,CH3COO–).

Em geral, os sais formam cristais e quando solúveis dissociam, liberando


os íons constituintes.

Os sais são substâncias iônicas e em consequência têm um alto ponto


de fusão e ebulição.

Esses compostos normalmente apresentam reduzida dureza e pouca


compressibilidade. Se fundidos ou dissolvidos em solvente polar (água),
conduzem eletricidade, pois dissociam-se nos seus íons constituintes,
passando estes a funcionar como eletrólitos.O sal mais conhecido
popularmente é o cloreto de sódio, vulgarmente conhecido como "sal
comum" ou "sal de cozinha", por ser largamente utilizado na alimentação
humana.

A neutralização dos ácidos pelas bases pode ser total ou parcial, dando
origem a sais neutros, ácidos ou básicos. Veja, a seguir, as reações de
neutralização total, neutralização parcial do ácido, neutralização parcial
da base.

3.12.1 Reação de neutralização total

Quando reagem todos os íons H+ do ácido com todos os íons OH– da


base, o sal assim formado é chamado de sal normal ou neutro.

3KOH(aq) + H3PO4(aq) → K3PO4(aq) + 3H2O(l)

K3PO4, fosfato de potássio é um sal neutro.

Formulação dos sais normais:


Cy + A-x → CxAy

Exemplo: Al+3 + (SO4)-2 → Al2(SO4)3


UNIUBE 89

3.12.2 Nomenclatura dos sais normais ou neutros

O nome de um sal normal deriva do ácido e da base que lhe dão origem;
apenas a terminação do nome do ácido sofre alteração, de acordo com
a seguinte regra:

Ânion (constituinte da
Ácido
estrutura do sal)
ídrico eto
ico ato
oso ito

Exemplo:

a) HF= ácido fluorídrico (ácido)


F– = fluoreto (ânion)

b) HNO3 =ácido nítrico (ácido)


NO3– = nitrato (ânion)

c) HClO =ácido hipocloroso (ácido)


ClO– = hipoclorito (ânion)

d) HIO = ácido hipoiodoso (ácido)


IO– = hipoiodito (ânion)

Em linhas gerais, o nome de um sal normal é:

Nome do ânion + de + nome do cátion

Exemplo:

a) KNO3→ nitrato de potássio.

b) Fe(ClO)2→hipoclorito de ferro II ou hipoclorito ferroso.

c) Fe(ClO)3→hipo clorito de ferro III ou hipoclorito férrico.

3.12.3 Reação de neutralização parcial do ácido

Ocorre quando um di, tri ou tetrácido reage com uma base e nem todos os
hidrogênios ionizáveis são neutralizados, originando um hidrogênio sal.
90 UNIUBE

Ex: NaOH + H2SO4→ NaHSO4 + H2O

Hidrogenossal {caráter neutro, pois, origina de um ácido forte (H2SO4)


e de uma base forte (NaOH).

SAIBA MAIS

O caráter ácido-base de uma sal está relacionado com a força do ácido e


da base de origem e não com a simples presença de H ou OH na estrutura
do sal, ou seja, um ácido forte (HCl) ao reagir com uma base fraca(NH4OH)
originará um sal de caráter ácido(NH4Cl) e uma base forte (NaOH) ao reagir
com um ácido fraco (H2CO3) formará um sal de caráter básico (Na2CO3 ou
NaHCO3). Enquanto que a reação entre um ácido forte (HCl) e uma base
forte (KOH) originará um sal neutro (NaCl) e a reação entre um ácido fraco
e uma base fraca irá originar um sal cujo caráter ácido-base irá depender
dos valores das constantes de dissociação do ácido (Ka) e da base (Kb);
Ka > Kb→sal de caráter ácido.
Ka < Kb→sal de caráter básico.
Ka = NKb→sal de caráter neutro.

Reações químicas envolvidas;

1) HCl + NH4OH→ NH4Cl + H2O

Cloreto de amônio→ sal neutro de caráter ácido.

2) 2NaOH + H2CO3→ Na2CO3 + 2H2O (neutralização total)

Carbonato de sódio → sal neutro de caráter básico.

3) NaOH + H2CO3→ NaHCO3 + H2O (neutralização parcial do ácido)

bicarbonato de sódio → hidrogenossal de caráter básico (usado para corrigir a


acidez estomacal).

4) HCl + KOH → KCl + H2O

Cloreto de potássio → Sal neutro.


UNIUBE 91

3.12.4 Nomenclatura dos hidrogenossais

Os nomes dos sais ácidos são semelhantes aos dos sais normais, porém:
a) Indica-se o número de cátions pelos prefixos mono, di, tri...
KH2PO4→fosfato (mono) potássico

K2HPO4→fosfato di-potássico

b) Indicar o número de H+ pelas expressões (mono)ácido, diácido,


triácido...
KH2PO4→ fosfato diácido de potássio

K2HPO4→ fosfato (mono) ácido de potássio.

c) Indicar o número de H+ pelas expressões (mono)hidrogeno, di-hidrogeno,


tri-hidrogeno.
NaH2PO4 → di-hidrogeno fosfato de sódio

Na2HPO4 → (mono)hidrogeno fosfato de sódio

Nota: Os sais ácidos dos diácidos recebem, frequentemente, o prefixo bi:

Ca(HSO4)2 → bissulfato de cálcio.

NaHCO3 → bicarbonato de sódio (anti-ácido).

3.12.5 Reação de neutralização parcial da base

Ocorre quando uma di, tri ou tetrabase reage com um ácido e nem todas
as hidroxilas são neutralizadas formando um hidróxissal, cujo caráter
pode ser ácido, básico ou neutro, conforme mencionado anteriormente.

Exemplo:
Ca(OH)2 + HCl→ CaOHCl + H2O

Hidroxissal de caráter neutro, pois, origina de um ácido forte(HCl) e de


uma base forte Ca(OH)2.
92 UNIUBE

3.12.6 Nomenclatura dos hidroxissais

a) A nomenclatura desses sais pode ser indicada pelas expressões


(mono) básico, dibásico, tribásico:
Exemplo:
CaOHCl– cloreto(mono) básico de cálcio.
b) A nomenclatura dos sais básicos também pode ser indicada pelas
expressões (mono) hidroxi, di-hidroxi, tri-hidroxi:
Exemplo:
CaOHCl– (mono) hidroxicloreto de cálcio.

3.13 Conclusão

Neste capítulo, vimos as funções inorgânicas – ácidos, bases, sais –


segundo as teorias de Arrhenius (meio aquoso), Bronstel-Lowry (teoria
protônica) e Lewis (transferência de pares de elétrons).Essas funções
inorgânicas são muito aplicadas em nosso cotidiano, na produção
de fertilizantes (ácido fosfórico), produção de sabão (soda cáustica),
calagem de solo (calcário) além de outras aplicações.

Na natureza, não há jazidas de ácido e base, nós temos reservas de


óxidos ácidos (como o SiO2, quartzo) e básicos(como o CaO, cal virgem)
que em meio aquoso originam o respectivo ácido e a respectiva base, e
a reação entre um ácido e uma base origina o sal (reação de salificação
ou de neutralização). Quanto ao caráter do meio (ácido ou básico),
precisamos de analisar a estrutura do composto, tipo de ligante, natureza
da ligação química, grau de dissociação (composto iônico) ou grau de
ionização (composto covalente) para prever se a referida composição
química retrata um eletrólito forte ou um eletrólito fraco.

Referências
ATKINS,P.;JONES,L. Principios da química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente, 1.ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

BROWN, Theodore L. et. Ai. Química, a ciência central. 9. Ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2005.

FELTRE, Ricardo, Química: química geral. 3. Ed. São Paulo: Moderna, 1989. Vol 1.
Capítulo Óxidos
4

Deusmaque Carneiro Ferreira


Ely Zago

Introdução
Prezado (a) aluno (a), neste capítulo iremos abordar um assunto
de extrema importância, a função óxido. Esta função inorgânica
está relacionada com a interação do elemento químico oxigênio
com a grande maioria dos elementos químicos, formando as mais
variadas substâncias. Iremos verificar, posteriormente, que esta
função, em termos práticos, pode ser considerada a precursora das
funções inorgânicas ácidos e bases, já estudadas anteriormente.
Essa versatilidade de compostos abrangendo a função óxido se
deve em parte à elevada eletroatividade do elemento químico
oxigênio (forte agente oxidante) em oxidar diversos átomos,
formando os óxidos (compostos binários do oxigênio). Iremos
também classificar os óxidos, em função de suas composições
químicas, estruturas, reatividades, aplicações, ressaltando as suas
principais nomenclaturas.

Você irá perceber que muitas das propriedades que serão


discutidas aqui nesse capítulo já foram estudadas. Isso ficará mais
nítido no momento em que formos estudar o caráter ácido-base
dos óxidos. Nesse contexto, é oportuno evidenciar a presença
desta função em assuntos de grande relevância no nosso
cotidiano, como o efeito estufa (aquecimento global), que em
grande parte está relacionado com a grande emissão de óxidos
(gás carbônico, CO2), a chuva ácida (emissão de óxidos ácidos), a
corrosão das estruturas de aço (ferrugem, formação de óxidos de
ferro, Fe2O3) além de outras aplicações que veremos no decorrer
do capítulo.
94 UNIUBE

Objetivos
O presente capítulo tem como objetivos, levar o aluno a:
• reconhecer a formulação dos óxidos em seus arranjos
moleculares e iônicos;
• analisar e diferenciar óxidos moleculares de óxidos iônicos;
• reconhecer os produtos de reações dos óxidos com a água;
• caracterizar os óxidos anfóteros, duplos, neutros, peróxidos
e superóxidos, evidenciando suas principais reações e
aplicações práticas.

Esquema
4.1 Função óxido
4.2 Formulação dos óxidos e nomenclatura geral
4.2.1 Regra geral de nomenclatura
4.3 Ligação química nos óxidos
4.4 Classificação dos óxidos
4.4.1 Óxidos básicos
4.4.2 Óxidos ácidos ou anidridos
4.4.3 Óxidos anfóteros
4.4.4 Óxidos neutros
4.4.5 Óxidos duplos ou salinos
4.4.6 Peróxidos
4.4.7 Superóxidos
4.5 Óxidos e a poluição atmosférica
4.6 Conclusão

4.1 Função óxido

Óxido pode ser definido como um composto binário que contém oxigênio
como elemento mais eletronegativo. Essa definição abrange óxidos
formados pela interação do oxigênio com quase todos os elementos da
tabela periódica. O único elemento mais eletronegativo que o oxigênio é
o flúor, por isso o OF2 (fluoreto de oxigênio) não é considerado um óxido.
UNIUBE 95

Os óxidos constituem um grupo muito numeroso e são encontrados na


natureza com muita frequência. Além dessa abundância no ambiente,
você sabia que a substância mais abundante em nosso organismo é um
óxido? Isso mesmo, o organismo de um adulto apresenta mais da metade
de sua composição formada por moléculas de água (H2O é um óxido
denominado segundo as regras da IUPAC de monóxido de dihidrogênio).
Além desse óxido de grande importância para nossa sobrevivência,
podemos citar outros essenciais ao setor metalúrgico, por exemplo, os
óxidos que constituem os minérios (compostos dos quais podemos extrair
com vantagem econômica um dado metal). Entre eles podemos destacar:

• Fe2O3 –hematita (minério de ferro)


• Fe3O4 – magnetita (imã natural)
• MnO2 – pirolusita (minério de manganês)
• SnO2 – cassiterita (minério de estanho)
• SiO2 – sílica (quartzo), importante constituinte da areia
• Al2O3 –coríndon (Al2O3 . 2H2O – bauxita, minério de alumínio)

O oxigênio também reage com elementos químicos não metálicos


formando outros óxidos como exemplo; SO2, Cl2O, CO2, NO, CO. Vale
ressaltar que, por ser muito eletroativo, o oxigênio interage também com
gases nobres, como o xenônio, formando o óxido de xenônio (XeO3).

4.2 Formulação dos óxidos e nomenclatura geral

Exemplos:

E x + O 2− → E2Ox

Al 3+ O 2− → Al2O3

Na fórmula, E representa qualquer elemento químico, exceto o flúor. O


número de oxidação do oxigênio é – 2, nos óxidos, exceto nos peróxidos
(Nox = – 1) e nos superóxidos (Nox = – 1/2). Essas duas classes de
óxidos serão estudadas a seguir.
96 UNIUBE

4.2.1 Regra geral de nomenclatura

Prefixo (número
Prefixo (número de
de elemento) + + nome do
oxigênio) + (Mono, di, óxido de +
(Mono, di, tri, elemento
tri, tetra)
tetra)

Fe3O4
Exemplo: triferro tetróxido

Fe3O4– Tetróxido de triferro

4.3 Ligação química nos óxidos

Os óxidos dos elementos fortemente eletronegativos apresentam


ligações covalentes polares. Lembrando-se de que todos os óxidos dos
não metais e dos semimetais são moleculares.

Exemplo: O = C = O (molécula é apolar, µR=0)

Ligação Covalente polar

Por sua vez, os óxidos dos elementos fracamente eletronegativos


(alcalinos e alcalino-terrosos) apresentam ligação tipicamente iônica.
Quanto maior for a diferença de eletronegatividade entre o elemento
combinado e o oxigênio, maior será o caráter iônico da ligação química.

Exemplo: Ca2+ O2– ou (CaO)

Já os óxidos dos elementos de eletronegatividade intermediária (elementos


da região central da tabela periódica) têm ligação intermediária entre a
tipicamente covalente e a tipicamente iônica, formando os óxidos anfóteros.

Ex: ZnO; Al2O3; PbO; PbO2.


UNIUBE 97

4.4 Classificação dos óxidos

Ao se deparar com vários óxidos de um mesmo metal, lembre se de que


o caráter ácido-base desses óxidos pode ser correlacionado, a partir do
número de oxidação (Nox) do metal.

• Nox do metal baixo – caráter básico


• Nox do metal médio – caráter anfótero
• Nox do metal elevado – caráter ácido

Isso pode ser identificado nos exemplos abaixo:

• MnO – Mn2+ → óxido básico (óxido de manganês II)


• MnO2 – Mn4+ → óxido anfótero (óxido de manganês IV)
• MnO3 – Mn+6 → óxido ácido (anidrido mangânico)
• Mn2O7 – Mn7+ → óxido ácido (anidrido permangânico)

4.4.1 Óxidos básicos

Os óxidos dos elementos fracamente eletronegativos como os metais


alcalinos e alcalino-terrosos são óxidos básicos. Estes reagem com a
água, produzindo uma base, ou reagem com um ácido, produzindo um
sal e água. Portanto, aqui, você pode verificar que os óxidos básicos são
espécies químicas precursoras à formação das bases em meio aquoso
(reação de hidrólise).

Exemplo: Na2O + H2O → 2 NaOH

Óxido básico Base


(hidróxido
de sódio)

Reação com ácido: Na O + 2HCl → 2NaCl + H O


2 2

Óxido ácido sal água


básico
98 UNIUBE

Nesses óxidos, o elemento ligado ao oxigênio é um metal com baixa


energia de ionização e baixo número de oxidação (+1, +2 e +3, exceto
Pb, Zn, As, Sb e Sn, os quais formam sempre óxidos anfóteros, conforme
mencionado anteriormente). Os óxidos de caráter mais básico são os
óxidos de metais alcalinos e alcalino-terrosos, que reagem com a água,
os demais óxidos básicos são pouco solúveis em água. Os óxidos básicos
possuem estrutura iônica devido à grande diferença de eletronegatividade
entre o metal (que é baixa) e o oxigênio (que é alta). Por terem este
caráter iônico apresentam elevadas temperaturas de fusão e ebulição.

4.4.1.1 Nomenclatura dos óxidos básicos

• Quando o elemento forma apenas um óxido:

Óxido + de + nome do metal

Exemplo:

a) K2O – óxido de potássio

b) CaO – óxido de cálcio (cal virgem, oriunda da decomposição térmica


do calcário, CaCO3).

• Quando o elemento forma mais de um óxido:

ICO – Nox maior


Óxido + nome do elemento
OSO – Nox menor

Exemplo:

Cu2O – óxido cuproso (Cu1+)

CuO – óxido cúprico (Cu2+)


UNIUBE 99

SAIBA MAIS

Outra nomenclatura que normalmente é aplicada a esses óxidos é:

Óxido + de + nome do elemento + Nox (metal) em algarismo romano.

Exemplo:

Cu2O – óxido de cobre I


CuO – óxido de cobre II

4.4.2 Óxidos ácidos ou anidridos

A maioria dos óxidos dos elementos fortemente eletronegativos (não


metais), como regra, forma óxidos ácidos, com exceção de CO, NO e
N2O, que são óxidos neutros. Estes serão abordados posteriormente, no
tópico sobre óxidos neutros.

Os óxidos ácidos reagem com a água, produzindo um ácido ou reagem


com uma base, produzindo sal e água.

P2O5 + 3H2O 2H3PO4

Óxido Ácido (ácido fosfórico)

Reação com base: SO3 + 2NaOH Na2SO4 + H2O

óxido ácido base sal água

Nesses óxidos, o elemento ligado ao oxigênio é um ametal. Os ametais


possuem estrutura molecular, pois a diferença de eletronegatividade
entre o oxigênio e o outro elemento não é tão grande. Resultam da
desidratação dos ácidos e, por isso, são chamados anidridos de ácidos.

Ex.: H2SO4 → ácido sulfúrico


– H2O
SO3→ anidrido sulfúrico
100 UNIUBE

4.4.3 Óxidos anfóteros

Nessa classe de óxidos, iremos perceber uma duplicidade do caráter


ácido-base, uma vez que esses óxidos podem se comportar ora como
óxido básico, ora como óxido ácido, dependendo apenas do meio
reacional. Sendo indecisos entre o caráter básico e o caráter ácido, os
óxidos anfóteros só irão reagir com outra substância de caráter químico
pronunciado, ou seja, um ácido forte ou uma base forte.

Esses óxidos são formados por metais de transição e semi-metais, que


apresentam, geralmente, número de oxidação igual a 3+ ou 4+, capazes
de reagir tanto com ácidos quanto com bases, formando sal e água.

Dependendo do metal ligado ao oxigênio pode haver predominância do


caráter ácido ou básico. O caráter ácido do óxido aumenta à medida
que seu elemento formador se aproxima, na tabela periódica, dos não
- metais. O caráter básico do óxido aumenta à medida que o elemento
formador se aproxima dos metais alcalinos e alcalino-terrosos. A estrutura
dos óxidos anfóteros pode ser iônica ou molecular.

Reação I: ZnO + 2HCl→ ZnCl2 + H2O


Reação II: ZnO + 2KOH → K2ZnO2 + H2O

Observe que, na primeira reação, o óxido de zinco (ZnO) reage com um


ácido forte (HCl), atuando como óxido básico. Já na segunda reação, o
óxido de zinco (ZnO) reage com uma base forte (KOH), agindo como
óxido ácido.

4.4.4 Óxidos neutros

Conforme já mencionado anteriormente, CO (monóxido de carbono),


NO (óxido nítrico), N2O (óxido nitroso) formam os chamados óxidos
neutros, que não reagem nem com ácidos nem com base e nem com
água, portanto são inertes (neutros) ao caráter ácido-base. É importante
que você saiba que esses óxidos neutros participam de outras reações
químicas, o CO, por exemplo, é o agente redutor na reação de
desoxidação do minério de ferro (Fe2O3) que se processa no alto forno
siderúrgico. Veja as principais reações envolvidas na produção do ferro
gusa a partir do minério de ferro (Fe2O3).
UNIUBE 101

Reação I C(coque) + O2(g) → CO2(g)

Reação II CO2(g) + C(coque) → 2CO(g)

Reação III 1Fe2O3(s)+3CO(g) → 2Fe(s) + 3CO2(g)

Reação IV 2CO(g) + 1O2(g) → 2 CO2(g) (reação exotérmica)

A energia liberada na reação IV é usada para produzir vapor de água


em uma caldeira, e a energia térmica do vapor é convertida em energia
elétrica em um gerador. Veja a importância dessa reação entre o
monóxido de carbono (CO) e o gás oxigênio (O2) para a matriz energética
envolvida na produção do ferro gusa, pois além de fornecer energia para
a manutenção das reações que ocorrem no interior do alto forno, ainda
há um excedente de CO, destinado à produção de energia elétrica que,
dependendo do polo siderúrgico é comercializado.

4.4.5 Óxidos duplos ou salinos

Nesse caso, você irá perceber que os óxidos duplos apresentam uma
estrutura que pode ser compreendida como sendo a junção de duas
outras estruturas do mesmo elemento com o oxigênio (reação de
adição ou síntese). Eles sofrem decomposição (aquecimento, pirólise),
originando dois óxidos.

Exemplo: FeO + FeO2 → Fe3O4

Óxido duplo

Quando se reage um óxido duplo com um ácido, o produto formado é


composto de dois sais de mesmo cátion, mas com Nox diferentes, e mais
água. Alguns exemplos: Fe3O4, Pb3O4, Mn3O4.

Exemplo de reação: Fe3O4 +8 HCl → 2FeCl3 + FeCl2 + 4H2O


102 UNIUBE

PARADA PARA REFLEXÃO

Na reação acima, você pode perceber claramente o que foi dito na definição
de óxido duplo, em que o Fe3O4 (óxido duplo) reage com o ácido clorídrico
(HCl), produzindo dois sais: o cloreto ferroso (oriundo da reação do FeO
com o ácido) e o cloreto férrico (oriundo da reação do Fe2O3 com o ácido).

4.4.6 Peróxidos

Os peróxidos são óxidos que reagem com a água ou com ácidos diluídos,
produzindo água oxigenada (H2O2). São substâncias que apresentam
uma ligação oxigênio-oxigênio na qual o estado de oxidação do oxigênio
é –1. Geralmente se comportam como substâncias oxidantes. Em contato
com material inflamável, podem provocar inclusive explosões.

Normalmente, em contato com um oxidante forte, como o permanganato


de potássio (KMnO4), o peróxido atua como redutor, oxidando-se a
oxigênio elementar.

Estrutura geral: – O – O –

Exemplo: Na-O-O-Na (Na2O2); H-O-O-H (H2O2)

Reações:

a) Na2O2 + 2H2O→ 2NaOH + H2O2

b) Na2O2 + H2SO4→ Na2SO4 + H2O2

4.4.6.1 Nomenclatura dos peróxidos

Peróxido + de + elemento

Exemplo: Na2O2– peróxido de sódio

H2O2 – peróxido de hidrogênio (quando em solução aquosa denomina-se


“água oxigenada”). O H2O2 é líquido e molecular; os demais peróxidos
são sólidos iônicos.
UNIUBE 103

SAIBA MAIS

Você sabe o significado da expressão água oxigenada a 10 volumes? O


significado é que 1L de água oxigenada, ao sofrer decomposição nas CNTP,
libera 10L de oxigênio.

4.4.6.2 Algumas particularidades a respeito do peróxido de hidrogênio

O peróxido de hidrogênio tem uma grande importância para as reações


biocatalíticas que se processam em sistemas biológicos, uma vez que
o H2O2 é substrato das peroxidases (grupo de enzimas que atuam
em diversas etapas aeróbias do nosso metabolismo). Além dessa via
metabólica, o peróxido de hidrogênio se decompõe na presença da
catalase (enzima bioativa presente em tecido lesado), produzindo água
e oxigênio. E também é usado na desinfecção de materiais contaminados
por bactérias anaeróbias restritas.

A respeito das propriedades físicas e organolépticas do peróxido de


hidrogênio, podemos evidenciar que ele é incolor à temperatura ambiente
e apresenta sabor amargo característico. Podemos encontrar pequenas
quantidades de peróxido de hidrogênio gasoso no ar atmosférico. O
peróxido de hidrogênio é instável e, quando perturbado, rapidamente se
decompõe em oxigênio e água com liberação de calor (∆H < 0). Embora
não seja inflamável, é um poderoso agente oxidante, que pode sofrer
combustão espontânea em contato com matéria orgânica ou alguns
metais como o cobre, a prata, o níquel e o bronze.

4.4.7 Superóxidos

Essa classe de óxidos reage com água ou com ácidos diluídos,


produzindo peróxido de hidrogênio (H2O2) e gás oxigênio (O2). Nestes
óxidos, o número de oxidação do oxigênio (Nox) vale –1/2.

Exemplo: K2O → superóxido de potássio.


104 UNIUBE

Reações envolvendo os peróxidos:

2NaO2 + 2H2O→ 2NaOH + H2O2 + O2

2NaO2 + H2SO4→ Na2SO4 + H2O2 + O2

4.4.7.1 Algumas particularidades a respeito dos superóxidos

De forma geral, podemos representar a formulação dos superóxidos a


partir da reação de redução da molécula de oxigênio.

Reação de redução:

O2 + e– → O2–

Nos seres aeróbicos, o O2 age como molécula aceptora final de íons H+


e de elétrons na cadeia respiratória (impedindo a acidificação do meio),
sendo reduzido a H2O.

Reação envolvida:

2H+ + ½ O2 + 2e– → H2O

SAIBA MAIS

Em determinadas condições, o O2 aceita apenas um elétron, formando o


superóxido. Esta redução anômala ocorre especialmente com enzimas
fumarato redutase e NADH (nicotinamida adenina dinucleotídeo
desidrogenase). Na bactéria Escherichia coli, foi demonstrado in situ a
produção de superóxido de oxigênio no complexo enzimático da sulfito
redutase.

Uma outra aplicação interessante do superóxido ocorre em nosso


sistema imunológico, pois devido à sua toxicidade, o superóxido é
utilizado pelo sistema imunitário na eliminação de microorganismos
invasores como bactérias, fungos e vírus. Os fagócitos possuem uma
UNIUBE 105

enzima denominada NADPH oxidase que produz superóxido, sendo


este utilizado na degradação dos microrganismos fagocitados. A doença
granulomatose crônica é uma imunodeficiência que resulta da mutação
no gene que codifica esta enzima, tornando o portador muito suscetível
a infecções.

Segundo Carvalho et al. (2005), o superóxido pode causar danos


às estruturas celulares de forma direta ou indireta, originando outras
espécias reativas de oxigênio, radicais livres que, por sua vez, causam
diversas alterações nas estruturas celulares. Como o superóxido é uma
molécula com carga elétrica negativa, é altamente polar, impossibilitando
a sua passagem por difusão simples através das bicamadas lipídicas
que formam as membranas celulares, por isso, não está normalmente
associado a danos membranares. No entanto, a sua forma protonada,
HO2 (radical hidroperoxilo), não possui carga e atravessa membranas
mais facilmente. Como o pKa desta protonação é 4,8, cerca de apenas
1% do superóxido se encontra na forma protonada.

Segundo Pingarrón et al. (2008), o superóxido reage com centros de


ferro-enxofre existentes em proteínas, como as desidratasese e a
aconitase, destruindo-os e provocando a liberação de ferro dentro da
célula. A existência de ferro em solução dentro das células é uma situação
de reconhecida potenciação de danos por espécies reativas de oxigênio.

Outros compostos contendo enxofre, como o aminoácido cisteína, são


também alvos da ação destrutiva do superóxido, formando sulfóxidos em
soluções aquosas. A capacidade do superóxido em reagir com centros de
ferro-enxofre é explorada pelas células para sentir mudanças no estado
redox intracelular.

Determinadas proteínas têm os seus centros de ferro-enxofre destruídos


de forma propositada pelo superóxido, de modo a provocar a síntese
de enzimas que desintoxicam a célula desse mesmo superóxido. Neste
sentido, o superóxido atua como molécula sinalizadora.
106 UNIUBE

4.5 Óxidos e a poluição atmosférica

Durante o processo de respiração, animais e plantas, eliminam o gás


carbônico (CO2) para a atmosfera e somente os seres fotossintéticos
(autotróficos) capturam o gás carbônico da atmosfera durante a
fotossíntese. A queima dos combustíveis (carvão, gasolina, querosene,
óleo diesel, álcool) também libera CO2 para a atmosfera. Atualmente,
há um desequilíbrio entre a emissão deste óxido (respiração e queima
dos combustíveis) e a captura feita durante a fotossíntese. Este
desequilíbrio se deve ao aumento acentuado da queima de combustíveis
e à diminuição do processo de fotossíntese provocado pela destruição
das florestas (aumento da taxa de desmatamento em todo o planeta)
aumentando significativamente os índices de gás carbônico em diversas
partes do nosso planeta. Esse aumento acentuado de CO2 provoca o
chamado efeito estufa.

As radiações infravermelhas provenientes do Sol incidem na superfície


terrestre e parte sofre reflexão total e volta para a alta atmosfera. O
CO2 da atmosfera absorve parte dessas radiações e com o aumento
da quantidade de CO2 na atmosfera, maior quantidade de radiações
infravermelhas é absorvida, o que leva a um aumento de temperatura na
superfície terrestre caracterizando o efeito estufa. Em outras palavras, a
Terra está ficando cada vez mais quente e isso acarreta sérios transtornos
climáticos, um exemplo são as grandes inundações que têm ocorrido
ultimamente.

Um efeito estufa intenso poderá derreter grande quantidade de gelo


das regiões polares, provocando uma inundação no planeta. Sendo
assim, é fácil compreender a preocupação geral dos ambientalistas e
das autoridades mundiais com este desequilíbrio no ciclo do carbono
(aumentando drasticamente), transformando a Terra em uma verdadeira
estufa, inclusive futuramente inóspita à espécie humana (elevada redução
da biodiversidade). É por isso que ouvimos frases do tipo “a natureza
pede socorro”.
UNIUBE 107

O gás carbônico, ao entrar em contato com água, por exemplo, a água


da chuva, reage formando ácido carbônico e, nesse caso, produz-se uma
chuva ligeiramente ácida. Assim, toda chuva é ácida e, o grau de acidez
varia de região para região em virtude da emissão de óxidos ácidos (CO2,
SO2, SO3, NO2) feita pelos agentes poluidores.
Reações envolvidas na chuva ácida:

I) CO2 + H2O H2CO3

II) SO3 + H2O H2SO4

III) 2NO2 + H2O HNO2 + HNO3

IMPORTANTE!

Precisamos ser verdadeiros cidadãos no controle da emissão de óxidos


poluentes!

Um outro fator que merece a nossa atenção é a presença de enxofre


como impureza nos derivados do petróleo, que durante a combustão,
forma óxidos ácidos (SO2 e SO3) que são emitidos na atmosfera formando
a chuva ácida conforme já apresentado anteriormente. A chuva ácida é
responsável por diversos problemas, entre os quais podemos destacar:

1) Prejuízos para a agricultura, pois o solo torna-se ácido, e o SO2 destrói


as folhas dos vegetais.
2) Promoção da acidez das águas dos rios e lagos, tornando a vida
inviável nestes ambientes.
3) Corrosão de materiais presentes em monumentos e construções como
o mármore e os materiais ferrosos.

Durante a combustão nos automóveis, é necessário que entre ar no


motor. Junto com o O2, outros componentes, como o nitrogênio (N2),
também entram, e em alta temperatura no motor, o gás nitrogênio reage
com o oxigênio formando o óxido de nitrogênio (NO).
108 UNIUBE

Ao ser lançado para a atmosfera, o NO transforma-se em um óxido ácido,


o NO2, que ao reagir com a água da chuva produz o ácido nítrico (HNO3)
e o nitroso (HNO2).

Reações envolvidas:

I) N2 + O2 → 2 NO
II) 2NO + O2 → 2NO2
III) 2NO2 + H2O → HNO3 + HNO2

O ácido nítrico (HNO3) não surge apenas devido à poluição. Nos raios
que ocorrem durante as tempestades também há formação de NO e NO2,
que levam ao surgimento desses ácidos na água. Por isso, quantidades
moderadas de HNO3 podem existir na água da chuva, mesmo na
ausência da pouição. O NO2 também contribui para a formação da
camada de ozônio na atmosfera através da seguinte reação:

NO2 + O2 → NO + O3

A presença de ozônio (O3) na alta atmosfera é benéfica ao ser humano,


pois o mesmo é responsável pela filtração dos raios ultravioleta
provenientes do Sol. Entretanto, quando esse gás encontra-se na baixa
atmosfera pode causar irritação nos olhos e na garganta e destruir as
folhas dos vegetais. Nesse caso, considera-se o O3 como um poluente.

O monóxido de carbono (CO), já tratado no item sobre os óxidos neutros,


também é considerado tóxico, pois apresenta uma grande afinidade pela
hemoglobina (através da ligação coordenada com o ferro da molécula
de hemoglobina), impedindo-a de interagir com o gás oxigênio. Sendo
assim, a hemoglobina fica impossibilitada de fazer o transporte dos gases
respiratórios. Vale salientar que se inalado em grande quantidade, o CO
pode levar o indivíduo a morte por asfixia celular.
UNIUBE 109

Quadro 1: Método industrial para a obtenção de ácidos sulfúrico, nitroso e nítrico

S + O2 SO2
Reação de
produção do 2SO2 + O2 2SO
ácido sulfúrico
SO3 + H2O H2SO

N2 + O2 2NO

Reação de 4NH + 5O2 4NO + 6H2O


produção dos
ácidos nítrico
e nitroso 2NO + O2 2NO2

2NO2 + H2O HNO3 + HNO2

4.6 Conclusão

Neste capítulo, vimos a grande abrangência da função óxido. Em parte,


isso se deve ao elevado poder oxidante do oxigênio, que proporciona uma
reatividade com diversos elementos na natureza formando os óxidos,
que em muitas vezes são classificados como minérios, como a hematita
(minério de ferro, Fe2O3). Vale ressaltar, que a interação do oxigênio com
o flúor forma um fluoreto e não um óxido, pois, pela definição, um óxido é
um composto binário em que o oxigênio é o elemento mais eletronegativo
e, o flúor é mais eletronegativo que o oxigênio.

Na crosta terrestre, há grandes reservas de óxidos ácidos, básicos,


anfóteros, além de outros, que interagem formando as mais diversas
substâncias que apresentam uma grande importância em nosso cotidiano
e em diversas atividades industriais.

É bom destacar a importância dos óxidos na poluição atmosférica, na


chuva ácida, no aquecimento global, além de outras correlações.
110 UNIUBE

Referências
ATKINS P. e JONES L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 3. ed. Bookman Companhia Editora, 2006.

BROWN, Theodore L. et al. Metais e metalurgia. In:___. Química, a ciência central.


9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 23. 856-875.

FONSECA, M.R.M. Completamente Química: química


geral. vol 1. São Paulo: FTD, 2005.

PERUZZO, F.M.,CANTO, E.L. Tito e canto: uma abordagem do cotidiano. vol 1. São
Paulo: Moderna, 2002, cap. 8.

USBERCO, S. Química geral. vol 1. São Paulo: Saraiva, 2000.


Capítulo
As principais classes
de reações químicas
5

Natal Junio Pires

Introdução
Neste capítulo será realizada uma abordagem das reações
químicas do ponto de vista microscópico, buscando a
compreensão daquilo que observamos em nível macroscópico.
Serão apresentados vários tipos de reação que poderão ser
classificadas de acordo com a quantidade de espécies que
aparecem nos reagentes e produtos, e a natureza das mesmas.

Iniciamos uma breve introdução aos processos de oxidorredução,


que são extremamente importantes para os processos industriais,
e até mesmo para a manutenção da vida. Será resgatada uma
série de conceitos que já foram trabalhados ao longo do curso,
com o objetivo de mostrar a aplicação do que aprendemos,
no sentido de construir um conhecimento interligado, de forma
a entender melhor o mundo que nos cerca, por meio de uma
abordagem contextualizada da Química.

Bom trabalho!
112 UNIUBE

Objetivos
O presente capítulo tem como objetivos:
• usar equações iônicas para especificar a natureza das
reações em meio aquoso;
• compreender a natureza da força motriz das reações iônicas.
• interpretar a ocorrência ou não ocorrência de uma reação
química;
• analisar o caráter das reações ácido-base em meio aquoso
como processo de transferência de prótons;
• discutir a presença de elementos em alguns tipos importantes
de reações de oxidorredução: síntese, decomposição e
deslocamento.

Esquema
5.1 As principais classes de reações químicas
5.1.1 Considerações iniciais
5.1.2 Importância da água como solvente
5.1.3 Reações de precipitações e reações ácido-base
5.1.4 Escrevendo reações iônicas em meio aquoso
5.2 Reações de precipitação
5.2.1 A força motriz de reações de precipitação em meio aquoso
5.2.2 Predizendo se uma reação de precipitação irá ocorrer
5.3 Reações ácido-base
5.3.1 A força motriz da reação ácido-base: formação de H2O
a partir de H+ e OH–
5.3.2 Análise mais precisa das reações ácido-base
5.3.3 Reações ácido-base que formam um produto gasoso
5.4 Reações de oxidorredução
5.4.1 Processos redox na formação de compostos iônicos
moleculares
5.4.2 Terminologia essencial em oxidorredução
5.4.3 Uso do número de oxidação para monitorar o movimento
de elétrons
UNIUBE 113

5.4.4 Algumas reações de oxidorredução envolvendo elementos


5.4.5 Combinando elementos
5.4.6 Reações de síntese que não são de oxidorredução
5.4.7 Reações de decomposição
5.4.8 Reações de deslocamento ou troca
5.5 Reações de combustão
5.6 Conclusão

5.1 As principais classes de reações químicas

5.1.1 Considerações Iniciais

A extraordinária variedade de substâncias que vemos na natureza é, em


grande parte, consequência da surpreendente quantidade de reações
químicas que nos rodeiam. Reações químicas bastante rápidas ocorrem
quando a luz solar atravessa a atmosfera ou quando relâmpagos surgem
durante uma tempestade. Os oceanos são sistemas reacionais, onde,
o tempo todo, acontece um número grande de reações químicas,
indispensáveis à manutenção da vida no planeta. Em qualquer célula do
seu organismo, estão ocorrendo neste momento, milhões de reações
químicas importantes para o desempenho de qualquer atividade que
você se proponha a realizar.

Desses milhões de reações que ocorrem, até agora temos explorado


um número muito pequeno, já que poderemos considerar praticamente
impossível conhecer todas elas. Felizmente, não é necessário investigar
todas, uma vez que, quando estudamos algumas delas, logo podemos
observar alguns padrões de reações químicas.

Sendo assim, neste capítulo, estudaremos a natureza dos três tipos de


reações mais comuns que acontecem em nosso cotidiano. Devido ao
fato de que nossa discussão se baseará essencialmente em reações que
ocorrem em meio aquoso, vamos relembrar o importante papel da água
como solvente para várias reações químicas. Em seguida, trabalharemos
com dois tipos principais de reações: as reações de precipitação e
ácido-base, investigando por que elas ocorrem e como usar equações
iônicas para representá-las. Finalizando, veremos uma terceira classe
de reações que são as reações de óxido­redução, sendo uma das mais
importantes em nosso estudo.
114 UNIUBE

5.1.2 Importância da água como solvente

Grande parte das reações químicas que conhecemos atualmente ocorre


em um ambiente aquoso. Dessa forma, torna-se importante entendermos
o mecanismo pelo qual a água promove a solubilização das substâncias.
A função de um solvente em uma reação depende da sua natureza
química. Assim, ele pode ser passivo e realizar apenas a separação das
moléculas de determinada substância, sem interagir com elas de outra
maneira. A água pode desempenhar também um papel bem mais ativo,
pois interage fortemente com os reagentes e, em algumas situações,
chega até mesmo a quebrar suas ligações químicas.

a) Solubilidade de compostos iônicos

Quando a água dissolve um composto iônico como o cloreto de potássio


(KCl), ocorrem importantes alterações no comportamento destas
substâncias (água e KCl). Quando se testa a condutividade da água
pura e do KCl sólido, não há fluxo de corrente elétrica, pois em nenhum
desses sistemas temos cargas elétricas livres para se movimentarem.
Quando se dissolve o KCl em água, ocorre um fluxo considerável de
corrente elétrica, pois os íons K+ e Cl­– no sólido se separam (dissociam) e
se movem até o eletrodo de carga oposta ao do íon. Uma substância que
conduz a corrente elétrica, quando dissolvida em água, é denominada de
eletrólito. Compostos iônicos que são completamente solúveis em meio
aquoso fazem com que a solução seja um meio extremamente condutor
de eletricidade e, por este motivo, são denominados de eletrólitos fortes.

SAIBA MAIS

Quando o KCL se dissolve em água, cada íon é solvatado, ou seja, é rodeado


por moléculas de água. A dissolução do KCL em água é apresentada a
seguir:
H2O
KCl(s) K+(aq) + Cl–(aq)

A água (H2O) acima da seta indica que a dissociação ocorre em meio


aquoso, porém aqui ela não atua como reagente. Quando qualquer
composto iônico solúvel em água se dissolve, os íons com cargas
opostas são separados, sendo rodeados por moléculas de água, ficando
livres para se movimentarem no interior da solução.
UNIUBE 115

b) A natureza polar da água

A água separa os íons em um processo que reduz muito a força de


atração eletrostática entre eles. Para entender como isso acontece,
vamos analisar detalhadamente a molécula de água.

O poder da água como solvente iônico se deve a duas características


principais de sua molécula:

• a distribuição dos elétrons nas ligações químicas;


• sua forma angular.

Para entendermos isso, basta relembrarmos que o compartilhamento


desigual dos elétrons nas ligações fazem surgir pólos parcialmente
carregados (positivos) sobre os átomos de hidrogênio da ligação O – H.
Dessa maneira, sobre o oxigênio há formação de um pólo parcialmente
negativo. Devido à presença de dois pares de elétrons não ligantes
(livres) sobre o átomo de oxigênio, a molécula de água assume a
conformação angular, como forma de minimizar a repulsão entre os pares
não ligantes e a nuvem eletrônica da ligação O – H. A combinação desses
efeitos faz com que a molécula de água seja polar.

c) Compostos iônicos em água


Com esta representação da molécula de água em mente, imagine
um sólido iônico sendo dissolvido em meio aquoso. Os cátions (íons
positivos) ficam rodeados por moléculas de água que interagem
116 UNIUBE

eletrostaticamente com aqueles através do seu pólo negativo. Já os


ânions (íons negativos) também irão interagir com as moléculas de água,
através da sua região positiva.

SAIBA MAIS

Solventes sólidos para íons

A presença de cargas parciais sobre a molécula de água faz que ela seja
um excelente solvente líquido para compostos iônicos. Alguns sólidos
comportam-se de modo similar. Um exemplo é o poli(óxido de etileno), um
polímero cuja estrutura é representada a seguir.

H H δ–
C
C C
δ+
H H
n
poli(óxido de etileno)

A letra n indica vários grupos idênticos ligados covalentemente. As


cargas parciais negativas dos átomos de oxigênio podem rodear
cátions metálicos, como o Li+ e solvatá-los enquanto permanecem no
estado sólido. O poli(óxido de etileno) e outros polímeros similares são
componentes essenciais das baterias de lítio usadas em computadores
laptop e outros eletroportáteis. Enquanto muitos compostos iônicos se
dissolvem em água, muitos outros não encontram a mesma facilidade.
Nestes casos, a atração eletrostática entre os íons do composto é maior
que aquela que seria estabelecida entre os íons (cátions e ânions) e as
moléculas de água e por isso a substância permanece intacta.

Na realidade, as substâncias denominadas de insolúveis se dissolvem


em pequenas quantidades, normalmente em várias ordens de magnitude
menores do que aquelas ditas solúveis.

Vamos comparar, por exemplo, as solubilidades de cloreto de sódio


(NaCl), um composto solúvel em água e o cloreto de prata (AgCl), um
composto “insolúvel”.
UNIUBE 117

Solubilidade de NaCl em água a 20 oC: 365 g/L


Solubilidade de AgCl em água a 20 oC: 0,009 g/L

Essa diferença pode ser entendida usando um tratamento termodinâmico


sobre a formação de cada uma dessas espécies. Entretanto, este
tratamento não faz parte dos objetivos deste capítulo, mas será estudado
em capítulos posteriores.
Miscíveis
d) Compostos covalentes em água
Substâncias que
interagem com a
A água também é capaz de dissolver um grande água.
número de substâncias com características Não eletrólitos
moleculares. O açúcar de mesa (sacarose), álcool
comum (etanol), um anticongelante para radiadores Substâncias que
não conduzem
de automóveis (etileno glicol), são alguns exemplos corrente
bastante comuns. Todas essas substâncias possuem elétrica quando
dissolvidas com
grupos O – H, que são polares, são miscíveis. a água.

Entretanto, essas substâncias não possuem a propriedade de se


dissociarem em íons quando em meio aquoso (como acontece com
aquelas que são iônicas), pois suas moléculas permanecem de forma
inalterada durante o processo de dissolução. Essas substâncias são não
eletrólitos.

Muitas outras substâncias moleculares tais como o benzeno (C6H6)


e o octano (C8H18) não possuem partes polares em suas estruturas
(hidrocarbonetos) e estas não se dissolvem apreciavelmente em água.
Um grupo pequeno de substâncias moleculares, porém muito importante,
quando dissolvido em água libera íons H+ num processo denominado de
dissociação e/ou ionização.

SAIBA MAIS

Ionização e dissociação
Em livros do segundo grau é comum encontrarmos uma distinção entre
ionização e dissociação, entendendo por ionização a formação de íons a
partir de substâncias moleculares, e dissociação, a separação de íons em
um composto iônico ou separação de moléculas em um composto molecular,
tal como a sacarose, em meio aquoso.
118 UNIUBE

No ensino superior, o termo dissociação é visto de forma mais ampla,


empregado indistintamente por alguns autores para fazer referência a
processos que, no segundo grau, são denominados apenas ionização. Veja
o exemplo a seguir:
H2O
HCl(g) H+(aq) + Cl–(aq)

No ensino superior, esse processo pode ser igualmente denominado


ionização do cloreto de hidrogênio ou dissociação do cloreto de hidrogênio.
Uma explicação para isso está relacionada com a definição da IUPAC
(União Internacional de Química Pura e Aplicada) para tais processos. Para
a IUPAC, o processo de ionização é a geração de um ou mais íons, o que
pode ocorrer pela perda de elétrons por uma entidade neutra (átomos ou
moléculas), como a reação dada. Já o processo de dissociação, é definido
como a separação da entidade molecular em duas ou mais entidades, ou
ainda, a separação das entidades constituintes de uma substância iônica em
seus íons livres. No caso da HCl, substância molecular, o processo recebe
a denominação de heterólise unimolecular, cuja representação genérica é
a seguinte.

A B A+ + B–
Observe a quebra da ligação covalente, de modo que o par de elétrons das
ligações fica com uma das espécies para formar o ânion, enquanto a que
perde é transformada em um cátion.

Assim, podemos entender o processo como um processo de dissociação.


O inverso não é verdadeiro, pois, em um composto iônico, os íons já estão
formados, não cabendo, portanto, a denominação de ionização.

Para concluir, podemos dizer que, quando um composto iônico se dissolve


em meio aquoso, os íons dissociados são solvatados pelas moléculas de
água. Como os íons possuem liberdade para se movimentarem, suas
soluções são meios condutores de eletricidade. A água tem um papel ativo
no processo de dissolução de compostos iônicos, já que suas moléculas
polares são atraídas pelos íons (cátions e ânions).

Muitas substâncias covalentes podem ser dissolvidas pela água e, em


algumas situações tais como com os ácidos, a interação é tão forte que
chega até mesmo a romper as ligações covalentes, para formação de
íons(aq) e seus ânions. Em meio aquoso, o íon H+ pode se ligar a uma
molécula de água para formar o íon H3O+.
UNIUBE 119

5.1.3 Reações de precipitação e reações ácido-base

Das várias reações que acontecem no meio ambiente e nos organismos,


a grande maioria ocorre em soluções aquosas e muitas delas envolvem
íons. Os químicos usam três tipos de equações para representar uma
reação química:
Equação iônica • molecular.
simplificada
• equação iônica completa.
Equação química
sem a presença de • equação iônica simplificada.
íons espectadores.

Nos dois tipos de equações iônicas, átomos e cargas devem ser


balanceados, conforme você verá um pouco mais adiante. Nesta parte
iremos nos concentrar em reações de precipitação e reações ácido­base.
Estaremos sempre preocupados em justificar o porquê das reações
químicas ocorrerem.

5.1. 4 Escrevendo reações iônicas em meio aquoso

Considere a seguinte situação: quando misturamos soluções aquosas


contendo nitrato de prata (AgNO3) e cromato de sódio (Na2CrO4),
forma-se cromato de prata (Ag2CrO4), um sólido vermelho. O esquema
a seguir apresenta como podemos simbolizar, as mudanças que ocorrem
quando as soluções de AgNO3 e Na2CrO4 são misturadas em laboratório.

Equação molecular
2AgNO8(aq) + Na2CrO4(aq) Ag2CrO4(s) + 2NaNO3(aq)
Nitrato de Cromato Cromato Nitrato de
Prata de Sódio de Prata Sódio

Equação iônica molecular


2Ag+(aq) + 2NO–3(aq) + 2Na+(aq) + CrO42–(aq) Ag2CrO4(s) + 2Na+(aq) + 2NO–3(aq)

Equação iônica simplificada


2Ag+(aq) + CrO42–(aq) Ag2CrO4(s)
*O termo “molecular” neste caso não é muito adequado, já que temos apenas compostos iônicos.
Então é preferida a denominação “fórmula” ao invés de “molécula”. Assim, iremos empregar a
denominação “equação molecular”, porém conscientes de que se trata de um composto iônico
neste caso específico.
120 UNIUBE

Na equação molecular, as espécies (reagentes e produtos) estão


representadas como se fossem compostos intactos e não sofressem
qualquer tipo de dissociação.

A equação iônica total ilustra a reação de uma forma um pouco mais


realista em relação a anterior, pois todas as substâncias iônicas solúveis
estão dissociadas em seus íons. Nessa reação, a única espécie que
permanece inalterada é o precipitado vermelho (Ag2CrO4).

Íons Observe que os íons Na+(aq) e NO3–(aq) não sofrem


espectadores qualquer mudança durante a reação. Esses íons
Íons que são denominados de íons espectadores, pois na
aparecem em realidade eles não participam da reação.
solução em
ambos os lados
da equação
iônica total e não Os íons estão presentes por serem partes integrantes
sofrem qualquer dos reagentes, pois eles são necessários para o
mudança na
reaçãoquímica balanceamento de cargas.

Os íons estão presentes por serem partes integrantes dos reagentes,


pois eles são necessários para o balanceamento de cargas.

Não podemos adicionar íons Ag+ à solução sem adicionar um ânion,


neste caso íon NO3–. Note também que as cargas estão balanceadas:
existem quatro cargas positivas e quatro negativas do lado esquerdo
da reação, resultando dessa forma em uma equivalência entre cargas
positivas e negativas.

Do lado direito, podemos observar a presença de duas cargas positivas


e duas cargas negativas, resultando também num balanceamento de
cargas. Dessa forma não temos nenhuma carga líquida de ambos os
lados da reação (esquerdo e direito).

Já a equação iônica simplificada é mais útil, pois elimina a representação


dos íons espectadores, apresentando apenas as espécies realmente
envolvidas na reação. A formação do sólido Ag2CrO4 é a única
mudança na reação. Para você entender, o mesmo produto poderia ser
facilmente obtido misturando se K2CrO4(aq) e AgC2H3O2(aq). Apenas os íons
UNIUBE 121

espectadores iriam mudar, sendo K+(aq) e C2H3O2(aq) ao invés de Na+(aq) e


NO3–(aq). Sendo assim, podemos concluir que os íons espectadores não
interferem na formação de um produto durante uma reação química. O
uso de equações iônicas simplificadas irá facilitar muito o nosso trabalho
mais adiante.

5.2 Reações de precipitação

Reações de precipitação são muito comuns tanto na natureza, quanto


na indústria. Muitas formações geológicas, inclusive corais de recifes,
algumas pedras preciosas e minerais, e a estrutura do fundo mar, em
parte, se devem a este tipo de processo químico. E, como você verá, a
indústria química emprega métodos de precipitação para produzir várias
substâncias de interesse econômico.

A reação que a pouco discutimos entre o nitrato de prata e cromato de


sódio é um exemplo de reação de precipitação. O precipitado forma-se
pela mesma razão que algumas espécies iônicas não dissolvem: a
atração eletrostática entre os íons (cátions e ânions) excede a tendência
dos íons se tornarem solvatados e movimentarem aleatoriamente dentro
da solução.

IMPORTANTE!

Quando soluções de tais íons estão mituradas, eles colidem e ficam juntos,
e a substância resultante “sai da solução” para formar um preciptado.

5.2.1 A força motriz de reações de precipitação em meio aquoso

As reações químicas de íons em meio aquoso são tão comuns que


poderíamos até pensar que sempre que misturássemos duas soluções
contendo íons ocorreria uma reação química. Porém este não é o caso.

IMPORTANTE!

Então, como podemos saber se uma reação química irá ou ocorrer ou não?
122 UNIUBE

Em muitas situações, principalmente em processos de precipitação e


reações ácido-base, a reação ocorre porque certos íons se atraem tão
fortemente entre si que são removidos da solução para a formação de
um dado produto.

Considere o seguinte exemplo: quando dissolvemos iodeto de sódio (KI)


e nitrato de potássio (KNO3) sólido em água, teremos duas soluções
(separadas) em que seus íons estarão dispersos de acordo com as
seguintes equações químicas:
H 2O
Nal( s )  → Na + ( aq ) + I – ( aq )
H 2O
KNO3( s )  → K + ( aq ) + NO3–

IMPORTANTE!

E o que acontece se misturarmos as duas soluções? Ocorrerá reação?

Para responder, devemos pensar nas possíveis combinações das


substâncias presentes na solução, a fim de observarmos se alguns dos
possíveis produtos são insolúveis, ou seja, que não sofre dissociação em
íons. Os íons reagentes são:

Na + ( aq ) + I – ( aq ) + K + ( aq ) + NO3 – ( aq ) 
→?

Além dos dois reagentes iniciais (NaI e KNO3), que sabemos serem
solúveis, as possíveis combinações cátion-ânion são NaNO3 e KI. Neste
caso não irá ocorrer nenhuma reação, pois as duas outras substâncias
que seriam formadas são também solúveis. Em conseqüência deste fato
os íons antes dissolvidos simplesmente permanecerão como solução.

Em seguida, iremos estudar e aprender como determinar se um produto


é ou não solúvel em água.

Suponha agora que o KNO3 seja substituído por nitrato de chumbo


(Pb(NO3)2). Quando misturamos a solução de NaI com a solução de
Pb(NO3)2, ocorre a formação imediata de um precipitado amarelo.
UNIUBE 123

Além dos reagentes iniciais (NaI e Pb(NO3)2) há duas outras possíveis


combinações neste sistema, que é a formação de NaNO3 e PbI2 , de
modo que o sólido deve ser o iodeto de chumbo(II). Neste caso, ocorre
uma reação porque os íons (Pb2+ se atraem fortemente e são removidos
da solução para formar PbI2(s).

2 Na + ( aq ) + 2 I – ( aq ) + Pb 2+ ( aq ) + 2 NO – 3( aq ) 
→ 2 Na + ( aq ) + 2 NO – 3( aq ) + PbI 2( s )

Uma outra forma de escrever a equação química anterior é:


Observe arepresentação do

sódio formado

2 NaI ( aq ) + Pb ( NO3 )2( aq ) 


→ 2 NaNO3( aq ) + PbI 2( s )

Reações deste tipo são denominadas de reações de dupla troca ou


metátese, pois quando ocorre a reação, as espécies trocam de pares
(observe o detalhe em negrito na representação anterior). Uma reação
dessa natureza é utilizada industrialmente para a produção de AgBr(s)
(brometo de prata), muito empregado na produção de filmes para fotos
em preto e branco.

AgNO3( aq ) + KBr( aq ) → KNO3( aq ) + AgBr( s )

5.2.2 Predizendo se uma reação de precipitação irá ocorrer

Como você viu anteriormente, três passos lhe permitem predizer se um


precipitado irá ou não se formar:

1) note os íons que estão presentes nos reagentes;

2) considere as possíveis combinações entre cátions-ânions;

3) decida se alguma das combinações é insolúvel.

Uma dificuldade que surge com o último passo é decidir se haverá ou


não a formação de precipitado, pois não há nenhum modo simples para
fazer isso, ou seja, determinar se uma combinação é insolúvel.
124 UNIUBE

Para facilitar, você poderá memorizar uma lista curta de regras de


solubilidade colocadas no Quadro. Estas regras não cobrem todas as
possibilidades, mas conhecendo-as, você será capaz de predizer o
resultado de muitas reações de precipitação.

Quadro 1: Regras de solubilidade para compostos iônicos em meio aquoso

Composto iônicos solúveis Compostos iônicos insolúveis


1. Todos os compostos que envolvam os 1. Todos os hidróxidos metálicos
íons do grupo 1A (1), (Li , Na , K etc.)
+ + +
comuns são insolúveis, exceto
e o íon amônio (NH 4) são solúveis.
+
aqueles dos grupo 1A (1) e os
2. Todos os nitratos comuns (NO–3), maiores membros do grupo 2A
acetados (CH3COO ) e a maioria dos

(2) (começando pelo Ca2+).
percloratos (ClO4–) são solúveis. 2. Todos os carbonatos (CO32–) e
3. Todos os cloretos comuns (Cl–), fosfatos (PO43–) comuns são
brometos (Br ), iodetos (I ) são solúveis,
– –
insolúveis, exceto aqueles do
exceto os de Ag , Pb , Cu e Hg2 .
+ 2+ + 2+
grupo IA (1) e aqueles de NH4+.
4. Todos os sulfatos comuns (SO42–) 3. Todos os sulfetos (S2–) são
são solúveis, exceto aqueles insolúveis, exceto aqueles do
de Ca2+, Sr2+, Ba2+ e Pb2+ grupo 1A (1), 2A (2) e NH4+.

Resumindo, as reações de precipitação envolvem a combinação de


espécies solúveis, que ao serem colocadas juntas em meio aquoso,
formam um produto sólido. Elas acontecem porque atrações eletrostáticas
entre certos pares de íons solvatados são fortes o bastante para causar a
remoção deles da solução. Tais reações podem ser previstas identificando
possíveis combinações para formação de espécies insolúveis, baseando-
se no uso de um conjunto de regras de solubilidade apresentadas no
Quadro.

5.3 Reações ácido-base

As reações ácido-base podem não só ter a água como solvente,


mas também como uma espécie bem mais ativa sendo, por exemplo, um
reagente ou produto. Estas reações são eventos químicos empregados
em diversos processos, tais como a síntese bioquímica de proteínas, a
produção industrial de vários fertilizantes e até mesmo para recuperar lagos
danificados pela chuva ácida.
UNIUBE 125

Obviamente, uma reação ácido-base (também denominada de reação


de neutralização) ocorre quando colocamos em contato um ácido com
uma base. Porém, ao longo dos anos, as definições para esses termos
foram sofrendo grandes variações. Dentro dos objetivos do Curso, neste
momento, usaremos as definições propostas pelo químico suíço Svante
Arrhenius.

SAIBA MAIS

Svante Arrhenius nasceu em Vik, Suécia, dia 19 de fevereiro de 1859,


e faleceu em Estocolmo, em 2 de outubro de 1927. Foi um químico que
investigou as propriedades condutoras das dissociações eletrolíticas.

Sua teoria afirma que, nas dissoluções eletrolíticas, os compostos químicos


dissolvidos se dissociam em íons, mantendo a hipótese de que o grau de
dissociação aumenta com o grau de diluição da solução, correta apenas
para os eletrólitos fracos.

Sua teoria se tornou um dos pilares da físico-química, no ramo da


eletroquímica. Sua concepção científica lhe valeu a obtenção do Prêmio
Nobel de Química em 1903, em reconhecimento aos extraordinários serviços
prestados ao avanço da Química através de sua teoria da dissociação
eletrolítica.

Um ácido é uma substância que, dissolvida em água, produz íons H+


como único cátion.

HX H+(aq) + X(aq)
Ácido de
Arrhenius

Uma base é uma substância que produz íons OH– como único ânion
quando dissolvida em água.

MOH M+(aq) + OH–(aq)


Base de
Arrhenius
126 UNIUBE

Em estudos anteriores, você percebeu que os ácidos e bases são


eletrólitos e podem ser classificados de acordo com a sua “força”, que
se refere ao grau de dissociação em meio aquoso.

Dessa forma, tem-se que os compostos iônicos completamente solúveis


são eletrólitos fortes. Por outro lado, os ácidos e bases fracos sofrem
pequena dissociação e a maioria de suas fórmulas ou moléculas
permanecem intactas. Como resultado, eles conduzem uma pequena
corrente e são denominados de eletrólitos fracos.

Tanto os ácidos fortes quanto os fracos têm um ou mais átomos de


hidrogênio ionizáveis como parte de sua estrutura. Já as bases fortes
podem ter íons OH– ou O2– como parte de sua estrutura.

Os óxidos iônicos solúveis, como o K2O, atuam como bases fortes porque
o íon óxido (O2–) reage com a água para formar o íon hidróxido (OH).

O2–(aq) + H2O(I) 2 OH–(aq)

Bases fracas, como a amônia, não contêm o íon OH–. Porém, pode
formá-lo em pequena quantidade, quando reage com a água.

NH3(g) +  NH +
H2O(I)  + OH–(aq)
4 (aq)

Observe a espécie de seta que foi empregada na reação anterior. Esta


indica que a reação ocorre em ambos os sentidos, ou seja, é uma reação
reversível. Reações reversíveis são de grande importância em química e
serão extensivamente discutidas ao longo de nosso curso.

5.3.1 A força motriz da reação ácido-base: formação de H2O a partir


de H+ e OH–

Vamos empregar aqui as equações iônicas simplificadas para analisar


as reações ácido-base e entender porque elas acontecem.

Comecemos com a representação molecular entre o um ácido forte (HCl)


e uma base forte (Ba(OH)2):
UNIUBE 127

2HCl(aq) + Ba(OH)2(Aq) BaCl2(aq)+ 2H2O(l)

Devido ao fato do HCl e o Ba(OH)2 se dissociarem completamente e a


água permanecer sem se dissociar, a equação iônica total é:

2H+(aq) + 2Cl–(aq) + Ba2+(aq) + 2OH–(aq) Ba2+(aq) + 2Cl–(aq) +2H2O(I)

Observe a remoção dos íons H+(aq) e OH–(aq) para formar água (H2O).
Eliminando da equação acima os íons espectadores (Ba2+ e Cl ),
obtém-se a equação iônica simplificada:

2H+ + 2OH–(aq) 2H2O(I) ou H+(aq) + OH–(aq) H2O(I)

Dessa forma, a única mudança química essencial em todas as reações


aquosas entre ácidos e bases fortes é a combinação entre o íon H+ do
ácido forte e o íon OH– da base forte para formar a molécula de água.
Então, podemos concluir que, apenas os íons espectadores mudam de
uma reação para outra!

Um ponto importante aqui é observar que assim como nas reações


de precipitação, as reações ácido-base são conduzidas pela atração
eletrostática entre íons e sua remoção da solução na formação do
produto. Neste caso, os íons são H+ e OH–, e o produto é a água, que
consiste em sua maioria de moléculas de H2O não dissociadas. Na
realidade, as moléculas de água sofrem ligeira dissociação, porém, a
formação da água em uma reação de neutralização representa uma
remoção global enorme de íons H+ e OH– da solução.

Se evaporarmos a água da mistura da reação anterior, restará um


resíduo que corresponde ao sólido iônico, cloreto de bário (BaCl2). Um
composto iônico que resulta de uma reação entre um ácido e uma base
é denominado de sal. Assim, nas reações de neutralização comuns, os
reagentes são um ácido e uma base, e os produtos são sal e água.

HX(aq) MOH(aq) MX(aq) H2O(I)


+ +
Ácido Base Sal Água
128 UNIUBE

IMPORTANTE!

Note que cátion do sal provém da base e o ânion provém do ácido.

A equação geral acima mostra que as reações ácido-base podem ser


consideradas reações de dupla-troca, conforme as de precipitação. A
equação molecular entre o hidróxido de alumínio, está presente em
muitas formulações farmacêuticas para combater a acidez estomacal,
e o HCl, o principal componente do suco gástrico, mostra claramente
essa situação.

Presente na
formulação do
antiácido

3 HCl(aq) + Al(OH)3(s) AlCl3(aq) + 3 H2O(I)

Principal
componente do
suco gástrico

As reações ácido-base, como veremos mais adiante, são ferramentas


importantes no campo de análises, sendo muito empregadas no controle
de qualidade da indústria de bebidas, alimentícia, farmacêutica, etc.
A técnica empregada nestas indústrias é denominada de titulação
ácido-base ou volumetria de neutralização.

As reações ácido-base ocorrem frequentemente nos processos de


síntese e quebra de macromoléculas biológicas, tais como as proteínas.
UNIUBE 129

5.3.2 Análise mais precisa das reações ácido­base

Para termos um conhecimento mais profundo das reações ácido-base,


vamos observar em detalhes as espécies que estão presentes em
solução. Vamos ver a seguir o que acontece quando uma substância
como o cloreto de hidrogênio (HCl(g)) é dissolvido em água.

Conforme analisamos anteriormente, a polaridade da molécula de água


“separa” as moléculas de HCl (nos íons H+ e Cl) e os íons H+ se unem
com a água. Na verdade, podemos dizer que o HCl transfere um próton
para a H2O.

H+ é transferido

→ H 3O + ( aq ) + Cl – ( aq )
HCl( g ) + H 2O( I ) 

Assim, a solução de ácido clorídrico (HCl(aq)) consiste na verdade de


íons H3O+ e Cl– solvatados.

Quando se adiciona uma solução de hidróxido de sódio, o íon H3O+


transfere um próton para o íon OH– da base, tendo como produto a água
(representada como HOH).
H+ é transferido

 H 3O + ( aq ) + Cl(–aq )  +  Na(+aq ) + OH – ( aq )  
→ H 2O( s ) + Na + ( aq ) + Cl – ( aq ) + HOH ( I )
 
Ácido Base

Sem os íons espectadores, a transferência de um próton do H3O+ para a


OH– é facilmente representada por:
H+ é transferido

H 3O + ( aq ) + OH – ( aq ) 
→ H 2O( I ) + HOH ( I ) ou 2 H 2O( I )

Compare essa equação iônica simplificada com aquela que vimos


anteriormente:
H + ( aq ) + OH – ( aq ) 
→ H 2O( I )
130 UNIUBE

Veja que são idênticas, com uma molécula de água adicional, proveniente
do H3O+. Claramente, uma reação entre um ácido e uma base é um
processo de transferência de prótons. Assim sendo, os íons Na+ e Cl–
permanecem em solução, e se evaporarmos a água, obteremos o sólido
iônico NaCl (sal de cozinha).

De acordo com a definição de Bronsted e Lowry, o íon H3O+ comporta se


como um ácido, pois é capaz de doar um íon H+ e o íon OH– atua como
base, pois é capaz de aceitar um íon H+.

5.3.3 Reações ácido-base que formam um produto gasoso

Entender as reações ácido-base como um processo de transferência de


prótons, ajuda a entender outro tipo comum de reação aquosa: aquelas
que formam um produto gasoso.

Por exemplo, quando o íon carbonato, presente no K2CO3, reage com


um ácido como o HCl, um dos produtos é o dióxido de carbono. A força
motriz desta reação, e outras similares, é a formação de uma espécie
gasosa e água, pois ambos os produtos “removem” íons reativos da
solução.

2 HCl(aq) + K2CO3(aq) 2 KCl(aq) + [H2CO3(aq)]

O produto H2CO3(aq) é colocado entre colchetes pelo fato dele ser instável,
pois se decompõe imediatamente em água e dióxido de carbono.
[H2CO3(aq)] H2O(I) + CO2(g)

E veja o que obtemos ao combinar as duas últimas reações:

2 HCl(aq) + K2CO3(aq) 2KCl(aq) + H2O(I) + CO2(g)

Quando mostramos os íons H3O+ do HCl como as espécies reais em


solução e escrevemos a equação iônica simplificada, eliminamos os íons
Cl– e K+. Observe que cada um dos dois íons H3O+ transfere um próton
ao íon carbonato (CO32–) . 2H+ são transferidos.

2H3O+(aq) + CO32–(aq) 2H2O(I) + [H2CO3(aq)] 3H2O(I)+ CO2(g)


UNIUBE 131

IMPORTANTE!

Em essência, esta é uma reação ácido-base, onde o íon carbonato aceita os


prótons, e consequentemente, pode ser considerado uma base.

5.4 Reações de oxidorredução

As reações de oxidorredução são talvez as mais importantes de todos


os processos químicos. Neste grupo podemos incluir a formação de um
composto a partir de seus elementos (e vice-versa), todas as reações de
combustão, as reações que geram eletricidade em baterias e produção
de energia celular.

5.4.1 Processos redox na formação de compostos iônicos moleculares

Nas reações de oxidorredução, o processo chave é a transferência de


elétrons de uma espécie para outra. O movimento de elétrons de uma
espécie para outra ocorre tanto na formação de compostos iônicos, como
na de covalentes.

Como exemplo, vamos considerar a reação que ocorre no bulbo de um


flash de uma máquina fotográfica, no qual o composto iônico, MgO (óxido
de magnésio), se forma a partir de seus elementos:

um próton ao íon 2 Mg(s) + O2(g) → 2 MgO(s) carbonato

O esquema a seguir ilustra o que ocorre durante a reação. Veja

2e–
Mg2+

Transferência
de elétrons Sólido
O Iônico
Mg +
O2–
132 UNIUBE

Observe neste esquema apresentado que cada átomo de Mg perde dois


elétrons, e que cada átomo de O ganha estes elétrons, ou seja, dois
elétrons se movem de cada átomo de Mg para cada átomo de O. Esta
transferência de elétrons, resulta na formação dos íons Mg2+e O2-.

IMPORTANTE!

A atração eletrostática entre íons forma o sólido.

Durante a formação de um composto molecular a partir de seus


elementos, ocorre também um movimento de elétrons. Porém, é mais
uma espécie de deslocamento, não chegando a ser uma transferência de
elétrons de uma espécie para outra, não havendo, portanto, a formação
de íons ao final da reação. Considere a formação do cloreto de hidrogênio
gasoso.

H2(g) + Cl2(g) → 2 HCl(g)

Para compreender melhor, veja o movimento dos elétrons. Devemos


comparar a distribuição eletrônica nos reagentes e produtos, como
apresentado a seguir:

δ–
δ+

H H H Cl
Deslocamento
Pares de elétrons de életrons Pares de elétrons
compartilhados compartilhados
igualmente desigualmente
δ+ δ–

Cl Cl H Cl

Observe que no H2 e no Cl2, seus átomos se unem através de ligações


covalentes pura, ou seja, seus elétrons são compartilhados igualmente,
enquanto que no HCl, os elétrons são compartilhados de forma desigual,
pois o átomo de cloro (mais eletronegativo) atrai mais fortemente os
elétrons da ligação do que o hidrogênio. Assim, no HCl, o hidrogênio tem
menor densidade eletrônica do que tinha no H2, enquanto o cloro tem
maior densidade eletrônica do que no Cl2.
UNIUBE 133

Em outras palavras, na formação do HCl, há um deslocamento de elétrons


do hidrogênio para o cloro, porém não chega a ser uma transferência
efetiva como aquela que ocorre entre os Mg e O. Em algumas situações,
o deslocamento de elétrons é muito pequeno, porém mesmo assim ainda
constitui um processo de oxidorredução.

5.4.2 Terminologia essencial em oxidorredução

Os químicos usam uma terminologia importante para descrever o


movimento de elétrons que ocorre em uma reação de oxidorredução.

Oxidação é a perda de eletróns;

Redução é o ganho de elétrons.

Assim, durante a formação do MgO, o Mg sofre oxidação (perda de


elétrons) e o O sofre redução (ganho de elétrons). Neste processo, a
perda e o ganho de elétrons são simultâneos. Um não acontece sem o
outro.
Oxidação
Para que um processo de redução aconteça,
obrigatoriamente ocorrerá um de oxidação. Aumento do número
de oxidação (Nox);
Podemos imaginar os processos de redução e corresponde à
oxidação como reações separadas: perda de elétrons

Reação de oxidação (perda de elétrons): Mg Mg2+ + 2 e–

Reação de redução (ganho de elétrons): ½ O2 + 2 e– O2–

SAIBA MAIS

Quando usar 3+ e quando usar +3?

A simbologia da química é muito importante para o entendimento de


vários processos que ocorrem em nosso cotidiano. Conforme você já
percebeu em nosso estudo de Química Orgânica, o órgão que regulamenta
a nomenclatura química, assim como a simbologia a ser adotada na
linguagem, é a lupac (International Union of Pure and Applied Chemistry).
Muitas pessoas imaginam que a Iupac só se preocupa com a nomenclatura
134 UNIUBE

orgânica, o que é errado, pois esse órgão gerencia a nomenclatura e


simbologia da Química orgânica, Química inorgânica, Físico-química e
Química analítica.

Uma dúvida comum é: qual representação está correta? Fe3+ ou F+3?


Embora alguns autores não se preocupem com essa pergunta, a Iupac
exige a utilização da primeira representação, ou seja, F3+. A terminologia +3
só é adequada quando vamos explicitar o Nox de uma espécie por extenso.

Observe os exemplos a seguir:

Fe3+ Nox +3
Pb+2 Nox +2
Pb 4+
Nox +4
Al 3+
Nox +3

Observe que o O2 ganha elétrons quando o Mg oxida. Podemos dizer que


o O2 oxida o Mg. Assim o O2 é o agente oxidante, ou seja, a espécie que
provoca a oxidação. De modo análogo, o Mg cede os elétrons ganhados
pelo O2 quando este sofre redução, e podemos dizer que o Mg reduziu
o O2. Desse modo, o Mg é o agente redutor, a espécie que promove a
redução.

5.4.3 Uso do número de oxidação para monitorar o movimento de


elétrons

Os químicos idealizaram um sistema útil para monitorar qual átomo em


uma reação química perde ou ganha elétrons. A cada átomo em uma
molécula (ou composto iônico) é atribuído um número de oxidação (Nox)
ou estado de oxidação, que é a carga que o átomo teria se os seus
elétrons que são compartilhados fossem transferidos completamente.

Números de oxidação são determinados empregando-se um conjunto de


regras, que estão apresentadas no Quadro 2.
UNIUBE 135

Quadro 2: Regras para determinar o número de oxidação (Nox)

a) Regra gerais
1. Para um átomo ou molécula em sua forma elementar (Fe, Na, O2, Cl2 etc.):
Nox = 0
2. Para um íon monoatômico: Nox = carga do íon
3. A soma dos valores de Nox para os átomos em um composto neutro é igual a zero.
A soma dos valores de Nox para um íon poliatômico é igual à carga do íon.

b) Regras para os átomos específicos ou grupos da tabela períodica


1. Para o grupo 1A (1): Nox +1 para todos os elementos.
2. Para o grupo 2A (2): Nox +2 para todos os elementos.
3. Para o hidrogênio: Nox +1 quando combinado com não metais e Nox –1 para todos
os metais e boro.
4. Para o flúor: Nox –1 em todos os compostos.
5. Para o oxigênio: Nox –2 em todos os compostos (exceto flúor) e Nox –1 nos
peróxidos.
6. Para o grupo 7A (17): Nox –1 em combinações com não metais (exceto o oxigênio),
metais e outros halogênios menores do grupo.

Existem espécies, entretanto que apresentam número de oxidação (Nox)


variável. A tabela periódica é de grande ajuda para determinarmos o
maior e o menor Nox dos grupos principais. Veja o esquema a seguir:
136 UNIUBE

Interpretando o esquema

Para a maioria dos elementos dos grupos principais (grupo A), o maior
valor do número de oxidação corresponde ao respectivo número do grupo
ou família a que ele pertence (1A, 2A, etc.). Por exemplo: o cloro (Cl)
pertence ao grupo 7A. Sendo assim, o seu maior Nox é +7, tal como
no ácido perclórico (HClO4). O enxofre (S) é do grupo 6A. Portanto, seu
maior Nox será +6, sendo este encontrado no trióxido de enxofre (SO3)
e no ácido sulfúrico (H2SO4). As exceções são o flúor (F é grupo 7A)
e o oxigênio (O é grupo 6A). O maior Nox do flúor é zero, sendo este
encontrado nos átomos da molécula de flúor (F2), e não +7 como sugere
a regra anterior. Já o oxigênio possui seu maior Nox no composto OF2.
Neste caso seu Nox é +2, diferente de +6, que é o maior Nox para os
membros de seu grupo.

Para a maioria dos elementos do grupo A, tais como os


Metalóides
não metais e alguns metalóides (semi-metais), o número
Elementos do grupo, subtraído do número 8, resulta no menor
com
propriedades
número de oxidação, Nox (sempre negativo de qualquer
intermediárias elemento do grupo). Por exemplo, o número de oxidação
entre metais
e não metais.
maior do enxofre (S) (grupo 6A) é +6, como por exemplo,
no SH6 ou H2SO4, e o menor é 2 como no FeS ou no H2S.
Este calculo é resultante da seguinte operação:

Menor Nox = 6 – 8 = – 2

Outro caminho para definir uma reação de oxidorredução é aquele no


qual observamos a mudança do Nox para as espécies envolvidas. Este
é, sem dúvida, o uso mais importante dos números de oxidação.

Se ao participar de uma reação, um dado átomo no composto aumenta


seu Nox (tornando­se mais positivo) nos produtos em relação àquele que
possuía nos reagentes, dizemos que ele perdeu elétrons e, portanto,
sofreu oxidação.

Se ao participar de uma reação, um dado átomo no composto diminui


o seu Nox (torna-se menos positivo) nos produtos em relação àquele
que possuía nos reagentes, dizemos que ele ganhou elétrons. Portanto,
sofreu redução.
UNIUBE 137

5.4.4 Algumas reações de oxidorredução envolvendo elementos

X perde elétrons
X sofre oxidação
e–
X é o agente redutor
X aumenta o Nox
Transferência ou
X deslocamento Y Y ganha elétrons
de elétrons Y sofre redução
Y é o agente oxidante
Y diminui o Nox

Como vimos anteriormente, uma classificação moderna para as reações


é agrupá-las como reações ácido-base, de precipitação e oxidorredução.
Um método antigo de classificação das reações se baseia na quantidade
de espécies antes e depois da reação. Nesta abordagem, três tipos
principais de reações podem ser encontrados.

a) Reações de síntese ou adição

São aquelas em que dois ou mais reagentes reagem para formar um


único produto.

X+Y→Z

b) Reações de decomposição

São aquelas em que um único reagente formará, após reação química,


dois ou mais produtos.

Z→X+Y

c) Reações de deslocamento

São reações químicas em que se têm o mesmo número de espécies


tanto nos reagentes quanto nos produtos, porém eles deslocam alguns
elementos ou íons, quando acontece a reação química.

X + YZ → XZ + Y
138 UNIUBE

Uma característica interessante dessa antiga classificação é que sempre


que aparece uma espécie elementar nos reagentes ou nos produtos,
podemos dizer que se trata de uma reação de oxidorredução. Entretanto,
muitas reações de oxidorredução não envolvem necessariamente
substâncias elementares. Um exemplo é a reação conforme apresentado
a seguir:

2MnO4–(aq) + 5C2O42–(aq) + 16H+(aq) 2Mn2+(aq) + 10CO2(g) + 8H2O(I)

5.4.5 Combinando elementos

Quando dois elementos reagem entre si, eles podem formar compostos
binários com caráter iônico ou covalente, sendo que em todos os casos,
teremos uma transferência de elétrons de uma espécie para outra ou um
deslocamento de elétrons, o que significa que os elementos irão mudar
seu Nox após a reação. Observe os exemplos a seguir:

a) Metal e um não metal formando um composto iônico

Quando o alumínio (um metal) reage com o oxigênio (não metal), eles
formam o óxido de alumínio, um composto de caráter iônico.

0 0 +3 –2

2 Al(s) + 3 O2(g) Al2O3(s)


b) Dois não metais formam um composto molecular

Dentre os vários exemplos que conhecemos, podemos citar a produção


industrial de amônia a partir dos gases nitrogênio e hidrogênio.

–3
0 0 +1

N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g)


Os halogênios formam vários compostos com outros não-metais, como
na obtenção de tricloreto de fósforo, um dos principais compostos
empregados na produção de biocidas e outros organofosforados:
UNIUBE 139

+3
0 0 –1

P4(s) + 6 Cl2(g) 4 PCl3(l)

Quase todos os não-metais reagem com oxigênio para formar óxidos


moleculares, como o monóxido de nitrogênio, que é formado sob as
altas temperaturas ocasionadas por descargas elétricas (relâmpagos)
na atmosfera:

+2
0 0 –2

N2(g) + O2(g) 2 NO(g)

c) Combinação entre um composto e um elemento

Muitos compostos moleculares binários reagem com não metais para


formar compostos maiores. Muitos óxidos não metálicos se combinam
com oxigênio para formar óxidos “superiores” (aqueles que possuem
mais átomos de “O” na molécula quando comparado com o óxido de
origem). Por exemplo, uma etapa importante do “smog” urbano é:

+2 +4
–2 0 –2

2 NO(g) + O2(g) 2 NO2(g)

De modo semelhante, muitos haletos não metálicos reagem adicionalmente


com halogênios:

+3 +5
–1 0 –1

PCl3(I) + Cl2(g) PCl5(s)


140 UNIUBE

5.4.6 Reações de síntese e que não são de oxidorredução

Muitas reações de adição que envolvem apenas compostos como


reagentes não são reações de óxidorredução. Para verificarmos se
a reação é ou não de óxidorredução, basta checarmos o Nox, antes
e depois da reação. Se eles permanecerem os mesmos, não houve
oxidação e nem redução.

Um óxido iônico e um ôxido molecular se unem para formar um composto


iônico.

Para ilustrar essa afirmação, podemos citar a produção de carbonato de


lítio, empregado como droga antidepressora, a partir do óxido de lítio e
dióxido de carbono. Observe que não há variação do Nox. Portanto,
não se trata de uma reação de oxidorredução.
+1 +4 +1 –2

–2 –2 +4

Li2O(s) + CO2(g) Li2CO3(s)

5.4.7 Reações de decomposição

As reações de decomposição são o inverso das reações de síntese ou


adição. Este tipo de reação acontece quando o reagente absorve uma
quantidade suficiente de energia para romper uma ou mais ligações
entre seus átomos. A energia pode ser absorvida na forma de luz, calor,
eletricidade, choque mecânico etc. Da mesma forma que as reações
de adição, as de decomposição serão um processo de oxidorredução
apenas se elementos químicos estiverem envolvidos.

Decomposição térmica

Se a energia absorvida for calor, a reação é uma decomposição térmica.


Uma delta (D) sobre a seta da reação indica que o calor é necessário
para a reação acontecer.

O aquecimento de clorato de potássio (KClO3) é uma forma de produzir


pequenas quantidades de O2 puro em laboratório.
UNIUBE 141

+1 –2 +1
O
+5 –1

2 KClO3(s) 2 KCl(s) + 3 O2(g)

Observe que, neste exemplo, o átomo de Cl e O, sofrem redução e


oxidação, respectivamente.

a) Decomposição eletrolítica

Muitos compostos podem absorver energia na forma de corrente


elétrica e formar os elementos de origem em um processo denominado
de eletrólise. A decomposição da água é um dos experimentos mais
clássicos envolvendo este tipo de reação.

–2
0 0
+1

Eletricidade
2 H2O(I) 2 H2(g) + O2(g)
Muitos metais como o sódio, magnésio e cálcio são produzidos
industrialmente através da eletrólise de seus sais de cloreto na forma
fundida.

+2
–1 0 0

Eletricidade
MgCl2(I) Mg(I) + Cl2(g)

A eletrólise será tratada, detalhadamente, em capítulos posteriores!

5.4.8 Reações de deslocamento ou troca

As reações de deslocamento (troca ou substituição) têm o mesmo


número de reagentes e produtos. Ocorrem sempre que um átomo
ou íons em um composto pode ser deslocado por um átomo ou íon. As
reações de deslocamento podem ser de deslocamento simples (simples
troca) ou duplo deslocamento (dupla troca) (metátese).
142 UNIUBE

De qualquer maneira, ambos os tipos de reações envolvem o deslocamento,


porém há uma diferença fundamental do ponto de vista químico:

• reações de deslocamento simples são reações de oxidorredução.


• reações de duplo deslocamento (ou metátese) incluem reações de
precipitação e ácido-base.

5.4.8.1 Reações de deslocamento simples e a série de atividade dos


íons metálicos

Os metais variam em sua reatividade, e podem, dessa forma, serem


agrupados segundo sua habilidade em deslocar H2 de várias fontes ou
deslocar outra substância da solução. Alguns não metais, especialmente
os halogênios, variam em sua reatividade e as diferenças podem ser na
sua facilidade em deslocar outras substâncias em solução.

Um metal desloca H2 da água ou de um ácido

Os metais mais reativos, como os do grupo 1A (1) e Ca, Sr e Ba do


grupo 2A (2), deslocam H2 da água e alguns de forma vigorosa. Para
metais menos reativos tais como alumínio e zinco, é necessário realizar
o aquecimento para acelerar o processo, de modo que eles irão deslocar
hidrogênio da água na forma de vapor.

+1
0 +1 +3 0
–2 –2

2 Al(s) + 6 H2O(g) 2 Al(OH)3(s) + 3H2(g)

Entretanto, outros metais menos reativos, tais como níquel e estanho, não
reagem com água mesmo sob aquecimento, mas reagem com ácidos,
dos quais deslocam H2 mais facilmente. A equação iônica simplificada
do processo é apresentada a seguir:

0 +1 +2 0

Ni(s) + 2 H+(aq) Ni2+(aq) + H2(g)


UNIUBE 143

b) Um metal desloca outro íon metálico em solução

Comparações diretas entre a reatividade dos metais são mais claras


nestas reações. Por exemplo, o zinco metálico desloca o íon cobre (II)
da solução como mostra a equação química a seguir:
0 +2 +2 0

Zn(s) + 2 Cu2+(aq) Zn2+(aq) + Cu(s)

De acordo com esse resultado, podemos dizer que o zinco (Zn(s)) é mais
reativo do que o cobre (Cu(s)). Já, quando comparamos o Cu(s) e a prata
(Ag(s)), o primeiro (cobre) é mais reativo que o último (prata).

–2 –2
+1 0 +2 0
+5 +5

2 AgNO3(aq) + Cu(s) Cu(NO3)2(aq) + 2 Ag(s)

Os resultados de várias reações de deslocamento simples entre metais


e água, ácidos aquosos, e soluções iônicas de metais formam a base da
série de reatividade dos metais. O esquema, a seguir, apresenta uma lista
em ordem decrescente de força do metal como agente redutor (capaz
de transferir elétrons).
144 UNIUBE

De acordo com o esquema, os elementos da parte superior são agentes


redutores mais fortes em comparação com aqueles imediatamente
abaixo. Usando os exemplos que discutimos, você pode ver que Al e Ni
encontram-se acima do H2, enquanto Ag encontra-se abaixo. O Zn está
acima do Cu que se encontra acima da prata (Ag).

c) A série de reatividade dos halogênios


A reatividade dos halogênios decresce à medida que descemos no grupo
7A (17). Como consequência, a ordem de reatividade dos halogênios
pode ser arranjada da seguinte forma:

F2 > Cl2 > Br2 > I2

O halogênio de menor número atômico é um agente oxidante mais forte


do aquele de maior número atômico. Assim, cloro (Cl2) desloca bromo
(Br2) de uma solução contendo íons brometo (Br), conforme apresentado
na reação a seguir:
–1 0 0 –1

2 Br –(aq) + Cl2(aq) Br2(aq) + 2 Cl–(aq)

Do mesmo modo, o Br2 consegue deslocar iodo (I2) de uma solução


contendo íons iodeto (I­–).
–1 0 0 –1

2 Br –(aq) + Cl2(aq) Br2(aq) + 2 Cl–(aq)

5.5 Reações de combustão

Você já teve contato com reações de combustão no decorrer do nosso


curso. Essas reações podem ser pensadas como combinação de
uma ou mais substâncias com o oxigênio (O2), e liberação de grandes
quantidades de calor e luz, às vezes como uma chama.

IMPORTANTE!

A queima de um material ao ar é o exemplo mais comum de reação de


combustão.
UNIUBE 145

SAIBA MAIS

Reação de combustão x O2

É comum pensarmos que toda reação de combustão ocorrerá entre um


combustível e o oxigênio (O2). Porém, sabemos que toda regra tem sua
exceção, e aqui não é diferente. Analistas sabem bem disso, pois em uma
técnica denominada absorção atômica soluções com metais são lançadas
em uma chama para quantificação destes em uma amostra de interesse
(fertilizantes, solo, águas contaminadas etc.). Uma das misturas gasosas
para a chama na análise por absorção atômica é a de acetileno (C2H2) com
óxido nitroso (N2O). A reação envolvida é a apresentada a seguir.

C2H2(g) + 5N2O(g) → 2CO2(g) + H2O(g) + 5N2(g) + energia

Como o O2 é um reagente, todas as reações de combustão que envolvem


o oxigênio são de óxido redução. Veja o exemplo de uma das etapas de
produção do ácido sulfúrico.
S8(s) + 8 O2(g) 8 SO2(g)

ou

S(s) + O2(g) SO2(g)

As reações de combustão que usamos para produzir energia já foram


bastante exploradas em capítulos passados de nosso Curso.

Uma outra reação de combustão essencial para todos é aquela que


ocorre dentro de nossas células – felizmente sem chama – quando
“queimamos” a glicose proveniente de alguns alimentos que ingerimos:

C6H12O6(s) + 6O2(g) 6 CO2(g) + 6H2O(g) + Energia


Glicose

SAIBA MAIS

Era espacial e combustão sem chama


As reações de combustão são geralmente usadas para obtenção de grandes
quantidades de energia. Nas aplicações mais comuns, o combustível é
queimado e a energia liberada na forma de calor (forno) ou como uma}
146 UNIUBE

combinação de trabalho e calor (motor). Em naves espaciais, dispositivos


denominados células de combustíveis geram energia elétrica a partir da
combustão de H2 sem a formação da chama. O H2 é o agente redutor e o
O2 é o agente oxidante, em um complexo processo de reação controlada
que produz apenas água, sendo utilizada para alivar a sede dos astronautas.
Hoje, as células combustíveis provenientes da reação entre metanol
(CH3OH) e O2 estão sendo estudadas para serem empregadas em veículos
automotores.

5.6 Conclusão

Vimos, neste capítulo, que uma grande quantidade de reações químicas


podem ocorrer em meio aquoso e que, em algumas, a água atua
apenas como solvente. Porém, em outras, ela pode atuar tanto como
solvente quanto como reagente e até mesmo como produto. Neste
capítulo percebemos que uma reação química apresentará tendência
em acontecer quando: a) houver possibilidade de formar substâncias
mais estáveis (menos reativas, menos ionizadas etc.), tal como uma
reação ácido base; b) houver tendência à formação de um produto mais
volátil, tal como a formação de CO2; c) houver formação de precipitado,
tal como a formação de PbI2(s).

Vimos, ainda, que uma reação de oxidorredução ocorre quando existe


transferência ou deslocamento de elétrons de uma espécie para outra e
que para verificarmos se houve tal reação ou não precisamos determinar
o Nox (número de oxidação) dos elementos antes e depois da reação.
Todas as reações que envolvem o consumo ou produção de substâncias
elementares são de oxidorredução.

Referências
BROWN,Theodire. L; LEMAY,H.Eugene; BURTEN JÚNIOR, Bruce E. Química:
a ciência central. 9. ed. São Paulo. Pearson Prentice Hall, 2005.

KOTZ,J.C., TREICHEL, J.P. Química geral e reações químicas. 3. ed. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos, 2005. vol . 2.
Capítulo Estequiometria
6

Deusmaque Carneiro Ferreira


Ricardo Alexandrino Dias

Introdução
Neste capítulo, iremos abordar a estequiometria, assunto
fundamental e relevante, uma vez que se insere em diversas áreas
do conhecimento da química, como nas análises quantitativas e
qualitativas que serão discutidas com maior detalhamento nos
capítulos relacionadas à Química Analítica, à Físico-Química, entre
outros.

Ao longo do capítulo, perceberemos que a estequiometria é


uma ferramenta indispensável para mensurar as quantidades de
reagentes e produtos envolvidos em uma transformação química.
Sendo assim, este estudo tem uma grande aplicabilidade prática
em nosso cotidiano, destacando-se a indústria química (produção
de alimentos, creme dental, produtos de limpeza em geral,
dentre outras), os laboratórios (para confecção de remédios, em
exames clínicos de saúde e, também, ao testar a qualidade dos
produtos que chegam a nossa casa) ou até mesmo em nossa
casa (observação da proporção dos ingredientes de uma receita
culinária).

Iremos, também, descrever situações inerentes à produção


industrial tais como impureza dos reagentes, excesso de reagente;
diferenciar o rendimento teórico do real e analisar a estequiometria
em reações que se processam em mais de uma etapa, como por
exemplo, a produção do ácido sulfúrico a partir da oxidação do
enxofre em meio aquoso.
148 UNIUBE

Veremos, aqui, que a estequiometria é uma das ferramentas


mais utilizadas pelos químicos. Sem ela muitos problemas do
nosso dia a dia não poderiam ser resolvidos. Assim, neste estudo
procuraremos desenvolver o seu raciocínio lógico, facilitando
a inserção deste no mundo científico. Um clássico exemplo de
aplicação da estequiometria refere-se a decomposição da azida
de sódio, NaN3(s), usada para inflar airbags de automóveis.

Quando ela é inflada de maneia adequada, o NaN3 se decompõe


rapidamente, formando gás nitrogênio, N2(g), que expande o airbag.

Objetivos
• Quantificar uma reação química a partir de seus coeficientes
estequiométricos.
• Utilizar as relações quantitativas em cálculo estequiométrico.
• Diferenciar rendimento teórico e real.
• Reconhecer o reagente limitante em um processo reacional.
• Desenvolver análises quantitativas em reações não elementares.

Esquema
6.1 Introdução à estequiometria
6.2 Passos para a resolução dos cálculos
6.3 Tipos de cálculo estequiométrico
6.3.1 Quando o dado e a pergunta são expressos em mol
6.3.2 Quando o dado e a pergunta são expressos em massa
6.4 Enunciado em mol, resposta em volume
6.5 Reagente limitante
6.5.1 Quando são dadas as quantidades de dois ou mais reagentes
6.5.2 Rendimento teórico
6.5.3 Rendimento percentual
6.6 Impureza
6.7 Conclusão
UNIUBE 149

6.1 Introdução à Estequiometria

Temos estudado sobre as contribuições de inúmeros cientistas na Química.


Uma das contribuições veio de Joseph Louis Proust que desenvolveu uma
lei chamada de Lei das Proporções Fixas ou simplesmente Lei de Proust.

IMPORTANTE!

Segundo Proust, a massa das substâncias que reagem e que são produzidas
em uma reação química obedecem sempre a uma proporção constante,
sendo que esta proporção é característica de cada reação.

Vejamos um exemplo clássico no Quadro 1:

Quadro 1: Demonstra a proporção estequiométrica da reação química em uma dada grandeza

Equação química 1 N2 + 3 H2 → 2 NH3

Grandeza: mol 1 mol 3 mols 2 mols

Grandeza: mol 10 mols 30 mols 20 mols

Grandeza: massa 28 g (1mol) 6 g (3mols) 34 g (2 mols)

Grandeza: massa 280 g (10 mols) 60 g (30mols) 340 g (20 mols)

Grandeza: volume
(CNTP; P = 1 bar;
22, 714L (1mol) 3.22,714L (3mols) 2.22,714L (2 mols)
T = 273,15 K;
1 mol = 22,714L)

De acordo com os dados (acima), fica evidente que para qualquer tipo
de grandeza usada a reação de síntese da amônia sempre obedece a
uma proporção constante de 1:3:2.
150 UNIUBE

Essa proporção de 1:3:2 representa os coeficientes estequiométricos


da reação química corretamente balanceada, que na verdade, indica a
proporção em número de mols com que os participantes da reação se
interagem.

Outra contribuição imensurável para a química e, em especial para a


estequiometria, foi a lei do francês Antoine Lavoisier, conhecida como
lei de Lavoisier:

“Na natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma.”

De acordo com essa lei, em qualquer sistema, físico ou químico, nunca


se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma
forma em outra. Essa pode ser traduzida como lei da conservação da
massa.

“Em toda reação química a massa dos reagentes é igual à massa dos
produtos.”

Veja o exemplo abaixo (Quadro 2):

Quadro 2: Demonstra a lei da conservação da massa e a lei das proporções constantes na


reação de síntese da amônia

Equação química 1 N2 + 3 H2 → 2 NH3

Grandeza: massa 28 g (1mol) 6 g (3mols) 34g (2 mols)

Grandeza: massa 280 g (10 mols) 60 g (30mols) 340g (20 mols)

Reagentes: N2 e H2; Produto: NH3

Conservação da massa →
28 g de N2 + 6 g de H2 formam 34 g de NH3.

Conservação da massa →
280 g de N2 + 60 g de H2 formam 340 g de NH3.
UNIUBE 151

IMPORTANTE!

Obedecendo a lei da conservação da massa, devemos balancear corretamente


todas as equações químicas, ou seja, o número de átomos de cada elemento
químico deve ser igual no primeiro e segundo membros da equação.

SAIBA MAIS

Você sabe qual é o significado de estequiometria?


A palavra estequiometria é de origem grega, e significa
Stoikheion = elemento
Metron = medição

A estequiometria é o cálculo das quantidades de reagentes e/ou produtos


das reações químicas baseado nas leis físicas das reações (lei de
Proust e lei de Lavoisier) realizado com o auxílio de uma regra de três
(grandezas diretamente proporcionais) que deve ser desenvolvida a
partir dos dados fornecidos pelo exercício a respeito dos participantes
da transformação química.

6.2 Passos para a resolução dos cálculos 

Para realizar os cálculos estequiométricos com maior facilidade, é necessário


que você, conheça algumas regras básicas:

a) sempre escreva a equação química mencionada no exercício.


b) ajuste os coeficientes presentes da equação (balanceamento).
c) monte uma regra de três entre os dados da equação química (mol,
massa, volume) e os dados e perguntas do exercício.

Exemplo:
Seguindo os passos citados acima, vamos utilizar desse raciocínio para
produzir amônia (NH3).
152 UNIUBE

I) Equação:
N2(g) + H2(g) NH3(g)

Realizando o balanceamento químico obtemos uma melhor correlação


para a formação do produto.

Note que ao reagirmos nitrogênio com hidrogênio para formar amônia


não utilizamos (N) ou (H) e,sim, (N2) e (H2) que são as formas como
essas substâncias são encontrados na natureza.

II) Balanceamento:

1 N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g)

Realizando o balanceamento químico, obtemos uma melhor correlação


para a formação do produto.

Note que, ao reagirmos nitrogênio com hidrogênio para formar amônia,


não utilizamos (N) ou (H) e,sim, (N2) e (H2) que são a formas como essas
substâncias são encontrados na natureza.

II) Balanceamento:

1 N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g)

Realizando o balanceamento químico, obtemos uma melhor correlação


para a formação do produto.

SAIBA MAIS

Lembre-se: ao escrever a equação química, comece pela fórmula dos


reagentes e produtos. Faça o balanceamento pelo método da tentativa.

O número de átomos de cada elemento deverá ser o mesmo em ambos


os lados da equação.
UNIUBE 153

Comece pelos elementos que aparecem uma única vez no lado dos
reagentes e no lado dos produtos. Dê preferência ao elemento que
possuirmaior índice.

Exemplo: 4 Fe(s) + 3 O2(s) → 2 FeO3(s)

III) Regra de três:

Para isso, é necessário primeiramente fazermos uso das relações


quantitativas (átomos, moléculas, massa, volume) de cada uma das
substâncias que vão nos auxiliar na resolução dos nossos cálculos e
interpretação do que se pede em um determinado exercício.

Quadro 3: Relações quantitativas entre as substâncias envolvidas na reação química

Relações
Equação Balanceada
quantitativas

1 N2(g) + 3H2(g) → 2 NH3(g)

Mols 1 mol 3 mols 2 mols

Massa 1 x 28,014 (g) 3 x 2,0158 (g) 2 x 17,0307 (g)

1 x 6,023.1023 3 x 6,023.1023 2 x 6,023.1023


Nº Avogrado
moléculas moléculas moléculas

Volume
1 x 22,714 L 3 x 22, 714 L 2 x 22,714 L
(CNTP)*

*CNTP (Condições Normais de Temperatura e Pressão) → Pressão: 1 bar, Temperatura: 273 K.

Agora, vamos exemplificar a regra de três através de alguns exemplos


práticos:

1o) Na produção do açúcar se usa geralmente o processo de sulfitação


para clarear o caldo de cana, mediante a queima de enxofre. Quantos
gramas de SO2 podem ser obtidos pela queima de 200g de S em excesso
de O2?
154 UNIUBE

Dados: S = 32; O = 16

Resolução:

Lembre-se de que a primeira coisa que devemos fazer é escrever a


equação química mencionada no exercício.
S + O2 → SO2

Neste caso, a equação química já está balanceada caso contrário faça o


balanceamento antes de prosseguir com as demais etapas.

Veja que, os dados do exercício estão em massa (gramas), sendo assim,


a primeira linha da regra de três é uma proporção em massa obtida da
própria equação balanceada. Nessa primeira linha, obedecemos aos
números de mols existentes na equação convertendo os mesmos em
gramas, isto porque o dado e a pergunta do problema foram feitos em
gramas (segunda linha da regra de três).

Equacionando a regra de três, temos:

1mol de S → 1 mol SO2


↓ ↓
32 g → 64 g (dados da equação química)

200 g → X ( dado e pergunta do problema)

X = 400 g de SO2

2o) Calcular o volume de gás carbônico (CO2) obtido nas condições


normais de temperatura e pressão, por calcinação de 1 tonelada de
carbonato de cálcio (CaCO3).

Dados: (massas atômicas): C = 12; Ca = 40 ; O = 16

Volume molar nas CNTP = 22,714 L (P = 1 bar ; T = 273 K)

Resolução:

Equação química balanceada: CaCO3 → CaO + CO2


UNIUBE 155

Veja que, neste exemplo, os dados do problema não apresentam


uma uniformidade de unidades, pois forneceu a massa de CaCO3 em
toneladas e perguntou o volume de CO2 em litros. Neste caso, você deve
relacionar a proporção entre massa e volume obtida da equação em
relação às substâncias mencionadas no problema, portanto:

1 mol de CaCO3 → 1 mol de CO2 (dado da equação química)



100 g → 22,714L (proporção entre massa e volume obtida
da equação)
106 g (1 ton.) → x (dado e pergunta do problema)

x = 2,2714 . 105 L de CO2

Você pode perceber que a aplicação da regra de três na resolução


de exercícios de estequiometria é algo bastante simples, versátil e de
fundamental aplicabilidade em nosso cotidiano.

Agora vamos considerar uma situação em que a estequiometria é


aplicada em uma reação que se processa em mais de uma etapa (reação
não elementar). Nesse caso, é mais viável somar algebricamente as
equações químicas e efetuar o cálculo estequiométrico diretamente na
equação final (equação global). Observe o exemplo a seguir.

3o) Sabendo se que 1,5 toneladas de hematita (minério de ferro) contendo


65% de Fe2O3 são aquecidos com X kg de monóxido de carbono (CO),
redutor siderúrgico, produzindo Q kg de ferro e liberando na atmosfera W
litros de gás carbônico (CO2), nas CNTP. A partir desses dados determine
os valores de X, Q e W, admitindo que o rendimento do processo
reacional seja iguala 100%.

Dados:
Massas atômicas: Fe = 56; O = 16; C = 12
Volume molar nas CNTP = 22,714 L (P = 1 bar ; T = 273 K)

Resolução:

Esse exercício retrata a produção do ferro bruto (ferro gusa) no alto forno
siderúrgico, em que o monóxido de carbono é agente redutor poderoso, e
reduz o óxido de ferro a ferro metálico, através das seguintes equações:
156 UNIUBE

3 Fe2O3 + CO → 2 Fe3O4 + CO2

2 Fe3O4 + 2 CO → 6 FeO + 2 CO2

6 FeO + 6 CO → 6 Fe + 6 CO2

3 Fe2O3 +9 CO → 6 Fe + 9 CO2 (equação global)


1 Fe2O3 +3 CO → 2 Fe + 3 CO2 (equação global simplificada)

IMPORTANTE!

Neste tipo de problema é indispensável que todas as equações estejam


balanceadas individualmente e que as substâncias intermediárias (Fe3O4 e
FeO) sejam canceladas; em certos problemas, isto nos obriga a multiplicar
ou dividir uma ou outra equação por números convenientes, que nos levam
ao cancelamento desejado.

É comum o uso de reagentes impuros como foi dado neste problema,


minério de ferro (hematita + impurezas), principalmente em reações
industriais, ou porque são mais baratos ou porque já são encontrados
na natureza acompanhados de impurezas (ganga) como é o caso do
minério de ferro. Neste caso, precisamos encontrar o grau de pureza (p)
que é o quociente entre a massa (m0) da substância principal e a massa
(mt) total da amostra(massa do minério bruto).

p = m0 / mt

O problema forneceu o grau de pureza igual a 65% ( 0,65), e a massa


total igual a 1,5 toneladas (1500 kg) sendo assim, temos:

0,65 = m0 / 1500

m0= 975 kg de Fe2O3

Esse cálculo também poderia ser efetuado por uma simples regra de
três:

1500 kg 100%

X 65%

X = 975 kg de Fe2O3
UNIUBE 157

1Fe2O3 + 3CO 2Fe + 3CO2 (equação global simplificada)


1 mol 3 mols
160 g 3.28 g
975 kg X
X = 511,875 kg de CO.

1Fe2O3 2Fe (dado da equação química)


1 mols 2 mols
160 g 2,56 g
975 kg Q
Q = 682,5 kg de Fe.

1Fe2O3 3CO2 (dado da equação química)


1 mol 3 mols
160 g 3.22, 714L (CNTP)
975 kg W
W = 415,24 L de CO2 nas CNTP.

6.3 Tipos de cálculo estequiométrico


Os dados de um problema podem vir relatados de diversas maneiras
como já foi evidenciado anteriormente. Em todos esses tipos de cálculos
temos de nos basear nos coeficientes das equações que nos dão a
proporção dos componentes da reação.

6.3.1 Quando o dado e a pergunta são expressos em mol

Suponhamos que queremos descobrir quantos mols de NH3(g) são


produzidos a partir de 15 mols de N2(g).
158 UNIUBE

Atenção: neste caso não é necessário fazermos uso da regra de três,


pois conhecemos a equação balanceada!

1 N2(g) + 3 H2(g) → 2 NH3(g)

Agora, é só multiplicarmos por 15 toda a equação de modo a manter a


proporção dos reagentes e produtos.

15 N2(g) + 45 H2(g) → 30 NH3(g)


R = 30 mols de NH3(g)

Agora, se no exercício nos fosse pedido para calcular a quantidade de


amônia formada em gramas, teríamos:

1 mol de NH3 17 g de NH3


30 mols de NH3 X g de NH3

X = 17 . 30 = 510 g de NH3

6.3.2 Quando o dado e a pergunta são expressos em massa

Quando queremos calcular a massa de um produto através da massa de


um reagente conhecido, precisamos seguir os seguintes passos:

Suponhamos que desejamos calcular a quantidade de SO3(g) formado a


partir de 10 g de S8(g).

Temos a seguinte equação:

S8(g) + O2(g) → SO3(g)

Existem duas maneiras de se resolver este exercício. Veja!

I) A primeira possui mais etapas, mas nos possibilita entender passo a


passo a estequiometria da reação.
UNIUBE 159

1o) passo: realizar o balanceamento:

1 S8(g) + 12O2(g) → 8 SO3(g)

2o) passo: observamos que na formação do SO3(g), temos a seguinte


relação estequiométrica:

1 S8(g) 8 SO3(g) → Dado da equação química

Ou seja:

1 mol de S8 (g) 256,53g de S8 (g)


X 10g

X = 0,039 mols de S8 (g)

1 mol de S8 (g) 8 mols de SO3 (g)


0,039 mols Y

Y = 0,312 mols de SO3 (g)

1 mol de SO3 (g) 80,06 g de SO3 (g)


0,312 mols Z

Z = 24,97 g de SO3 (g)

II) de maneira simplificada, podemos resolver em apenas 1 etapa:

produzem
1 mol de S8 (g) 8 mols de SO3 (g)

256,53g 8. 80,063g
10g X
X = 24,97 g de SO3 (g) são produzidos
160 UNIUBE

6.4 Enunciado em mol, resposta em volume

Em alguns casos pretendemos descobrir a quantidade em volume de gás


produzido. Para isso, vejamos o exercício a seguir.

A cal virgem (CaO) é um produto de variadas aplicações que vão muito


além da construção civil. Sua utilização está também presente na
produção de aço, papel e celulose, destacando-se, portanto, como um
produto químico versátil e de grande utilidade em diversos segmentos
industriais, dentre eles:

• indústria química;
• petroquímica;
• alcoolquímica;
• alimentícia;
• farmacêutica;
• metalúrgica;
• fertilizantes;
• dessulfurização de gases;
• na Engenharia civil, em argamassas de assentamento e revestimento,
em pinturas, na fabricação de blocos construtivos e tijolos, na
estabilização de solos, nas misturas asfálticas, e outros;
• no setor de saneamento básico, para tratamento de água, em
substituição à barrilha.

SAIBA MAIS

Um dos processos de obtenção do óxido de cálcio vem da decomposição


do carbonato de cálcio.

Vejamos a equação abaixo:

CaCO3(s) CaO(s) + CO2(g)

Considerando que partimos de 22 g de carbonato, qual o volume de


CO2(g) nas CNTP, liberado na produção da cal virgem?
UNIUBE 161

Vamos novamente fazer esse exercício de 2 maneiras:

a) passo a passo

1 mol de CaCO3(s) 100 g


X 22 g
X = 0,22 mols de CaCO3(s)

1 mol de CaCO3(s) 1 mol CO2(g)

0,22 mols Y

Y = 0,22 mols de CO2(s)

1 mol de CO2(s) 22,714 L (CNTP)

0,22 mols Z

Z = 4,99 L de CO2(s)

De forma simplificada, temos:

CaCO3(s) CaO(s) + CO2(g)

produzem
1 mol de CaCO3(s) 1 mol de CO2

100 g 22,74 L (CNTP)


22 g X
X = 4,997 L de CO2(g)
162 UNIUBE

6.5 Reagente limitante

6.5.1 Quando são dadas as quantidades de dois ou mais reagentes

Imaginemos, como exemplo, a reação:

H2SO4 + 2NaOH Na2SO4 + 2H2O

considerando que fossem misturados 147 g de H2SO4 e 100g de NaOH.

Neste ponto, seria importante ressaltar que as substâncias não reagem


na proporção em que misturamos, mas na proporção em que a equação
química (coeficientes estequiométricos da lei de Proust) determina.
Sendo assim, se os 147g de H2SO4 e os 100 g de NaOH estiverem na
proporção estequiométrica estabelecida pela equação química as duas
massas reagirão integralmente. Caso contrário, irá ocorrer uma das duas
hipóteses seguintes:

1o hipótese: Ou os 147 g do H2SO4 estão a mais (reagente em excesso).

2o hipótese: Ou os 147g do H2SO4 estão a menos em relação à


proporção estabelecida pela equação química (reagente limitante).

Na primeira hipótese, o H2SO4 reage com a totalidade dos 100g de NaOH


e ainda haverá H2SO4 em excesso.

Na segunda hipótese, os 147 g de H2SO4 são insuficientes para reagir


com todo o NaOH e, então, haverá NaOH em excesso.

Em uma situação em que são dadas (misturadas) as quantidades de dois


ou mais reagentes é fundamental efetuar os cálculos em número de mols
(quantidade de matéria), uma vez que, os coeficientes estequiométricos
da equação química corretamente balanceada representam proporção
em número de mols e assim fica mais fácil para descobrir qual ou quais
reagentes estão em excesso. Voltemos ao enunciado do exercício
anterior.

Misturando-se 147g de H2SO4 e 100g de NaOH, podemos determinar:


UNIUBE 163

a) A massa de sulfato de sódio (Na2SO4) formada.


b) A massa do reagente em excesso

Resolução:

Vamos calcular inicialmente o número de mols dos regentes presentes


na mistura;

147 gdde H2SO4 → n = m/M; n = 147/98 = 11,5 mol H2SO4


100 g de NaOH → n = m/M; n = 100/40 = 2,5 mols NaOH

Vejamos, agora, a correlação dessas quantidades em mol com a


proporção estequiométrica estabelecida pela equação química:
(proporções estabelecidades
pela equação química)
H2SO4 + 2NaOH Na2SO4 + 2H2O
1 mol de H2SO4 2 mols de NaOH

1,5 mol de H2SO4 (dados do exercício) 3 mols de NaOH (calculando)

A proporção dos coeficientes dos reagentes é de 1:2 (equação química)


nos mostra que 1,5 mol de H2SO4 deve reagir com 3 mols de NaOH.
Neste problema, você verifica que isso é impossível, pois, como foi
calculado na tabela acima, temos apenas 2,5 mols de NaOH.

Agora, se você iniciar os cálculos com base nos 2,5 mols de NaOH
concluirá que o H2SO4 é o reagente que está em excesso.

Veja demonstração abaixo.

2 mols de NaOH (proporções estabelecidas pela


11 mol de H2SO4
equação química)

1,25 mol de H2SO4(calculado) 2,5 mols de NaOH (dados do exercício)

A proporção dos coeficientes dos reagentes (1:2) nos mostra que 1,25
mol de H2SO4 deve reagir com 2,5 mols de NaOH; agora, você pode
verificar que isso é perfeitamente possível, pois, foi dado 1,5 mol de
H2SO4 e como reage apenas 1,25 mol, ainda sobrará 0,25 mol de H2SO4
em excesso (1,5 –1,25 = 0,25 mol de H2SO4 em excesso). Concluindo,
podemos esquematizar a reação química da seguinte forma:
164 UNIUBE

1H2SO4 + 2NaOH → 1 Na2SO4 + 2H2O

1,25 mol 2,5 mols 1,25 mol 2,5 mols


0,25 mol de
H2SO4 em
Reagente Reagente
excesso
em excesso limitante

Com esses valores podemos facilmente responder às perguntas do


problema:

a) Massa do sulfato de sódio (Na2SO4) formada

1,25 mol de Na2SO4


n = m/M
1,25 = m/142 → m = 177,5 g de Na2SO4

b) Massa do reagente em excesso

0,25 mol de H2SO4 em excesso


n = m/M
0,25 = m/98 → m = 24,5 g de H2SO4 em excesso.

Lembre-se de que é importante você notar que é o reagente limitante


(reagente em falta) que comanda toda a reação, pois no instante em
que ele acaba, irá sem dúvida parar a reação, por isso que o reagente
em falta é também denominado de fator limitante da reação, sendo
indispensável em um processo industrial controlar as quantidades desse
reagente para otimizar o rendimento da reação química.
UNIUBE 165

6.5.2 Rendimento teórico

Rendimento teórico é a quantidade máxima de produto que pode ser


produzida em uma reação química.

6.5.3 Rendimento percentual

Rendimento percentual é a razão entre o rendimento real obtido e o


rendimento teórico, multiplicador por 100%.

Você, então, precisa estar atento para:

rendimento real
Rendimento Percentual = x 100%
rendimento teórico

Por exemplo:

Na equação abaixo, temos:

Ag2S(g) + O2(g) → 2Ag(s) + SO2(g)

Considerando que 15g de sulfeto de prata reagem com 9g de oxigênio


gasoso:

a) Qual é o reagente limitante nesta reação?

b) Qual a quantidade de prata e de dióxido de enxofre formado?

c) Cálculo para descobrir o reagente limitante

reage com
1 mol Ag2S(g) 1 mol O2 (g)

247,81 g 32,0 g
166 UNIUBE

Queremos reagir 15g de sulfeto de prata com 9g de oxigênio. Vamos


pegar, aleatoriamente, qualquer uma das duas massas acima e montar
uma regra de três para podermos descobrir qual é o nosso reagente
limitante. Vamos trabalhar primeiramente com a massa do oxigênio
em nosso exemplo e, em seguida, a massa do sulfeto de prata para
conferirmos nosso raciocínio.

I) Utilizando a massa de 9g do oxigênio gasoso:


247,81g Ag2S(g) 32,0g O2(g)

X 9g

X = 69,70 g de Ag2S(g) são necessários para consumir todo o O2(g) na


reação

Como só temos 15 g de sulfeto de prata, todo o O2(g) não será consumido


ficando em excesso na reação. Se o sulfeto de prata não é o suficiente,
ele está, então, limitando a reação. Sendo, portanto, o reagente limitante.

II) Utilizando a massa de 9g do oxigênio gasoso:


247,81g Ag2S(g) 32,0g O2(g)

15g X’

X’ = 1,94g de O2(g) são necessários para reagir como todo o sulfeto de


prata presente.

Como temos 9 g de oxigênio, ao subtrairmos de 1,94g do oxigênio


necessários para reagir com o sulfeto de prata, sobram 7,06g de oxigênio
em excesso na reação. Sendo este, portanto, o reagente em excesso.

b) calculando a quantidade de prata e dióxido de enxofre formado.


produzem
1 mol de Ag2S(g) 2 mols de Ag(s)

247,81 g 2 . 107,87g
15 g X
X = 13,06g de Ag2(g) são produzidos
UNIUBE 167

Se:
rendimento real
Rendimento Percentual = x 100%
rendimento teórico
12,24g
Rendimento Percentual = x 100%
13,06g
Rendimento Percentual = 93,72%

Se considerarmos que 13,06g é o rendimento teórico, quando na verdade


obtivemos no laboratório 12,24g, qual deve ser o rendimento percentual?

Até

Considere SO2(g)

produzem
1 mol de Ag2S(g) 1 mols de SO2(g)

247,81 g 64,06g
15 g X
X = 3,88g de SO2(g) são produzidos

Até aqui calculamos a quantidade de prata e dióxido de enxofre formado,


pela quantidade de reagente limitante. Contudo, podemos achar a mesma
quantidade de produtos fazendo uso do reagente que está em excesso
sem ao menos usar os dados do reagente limitante.

Para isso, vimos no exercício anterior que somente 1,94g de O2(g) dos 9g
adicionados reagem e os 7,06g restantes estão em excesso.

Devemos, então, calcular a quantidade de produto formado considerando


apenas os 1,94g de O2(g) gastos na reação, desprezando os outros 7,06g,
já que eles não participam da reação química.
168 UNIUBE

Vejamos, então, como é:


Ag2S(g) + O2(g) 2Ag(s) + SO2(g)

produzem
1 mol de O2(g) 2 mols de Ag(s)

32 g 2 . 107,87g
1,94 g X
X = 13,06g de Ag(g) são produzidos

produzem
1 mol de O2(g) 1 mols de SO2(g)

32 g 64,06 g
1,94 g X
X = 3,88g de SO2(g) são produzidos

6.6 Impureza

Impurezas Uma amostra química que contém impurezas não


necessariamente contém substâncias tóxicas ou
São os elementos
que encontramos sujeiras. O que ocorre é que, quando falamos em
em uma amostra impurezas na amostra, estamos nos referimos a uma
que não são
importantes no amostra que contém além dos elementos de nosso
momento, na interesse, outros elementos que não são importantes
reação de nosso
interesse. no momento na reação de nosso interesse.

IMPORTANTE!

Cuidado! Substâncias 100% puras são difíceis de existir e, se considerarmos


a massa total de uma amostra impura como 100% pura, estaremos
cometendo um grave erro na hora de montar nossa esquiometria.
UNIUBE 169

Se imaginarmos, por exemplo, que queremos determinar a quantidade


de carbonato de cálcio (CaCO3) em uma pedra de calcário devemos
considerar que, além do carbonato de cálcio, ela possui impurezas como
argilas, sílicas, fosfatos, sulfetos, dentre outros, que fazem parte da pedra
de calcário e que não participam da estequiometria de nosso interesse
e, por isso, são considerados como impurezas.

Quando um exercício fornecer uma quantidade de amostra impura, para


calcular a estequiometria da reação, primeiramente devemos calcular a
quantidade de amostra pura contida na substância impura.

Vejamos um exemplo!

No exercício anterior, no qual queríamos determinar a quantidade de


prata formada, fizemos uso de O2 puro. Vejamos como ficaria nosso
exercício se mudássemos a pureza do O2 utilizado:

a) Vamos considerar que o O2(g) utilizado tem 50% de pureza.

Tem-se 15g de Ag2S reagindo com 9g de uma mistura que apresenta


50% de O2(g).

9 g da mistura → 100%
X → 50%

X = 4,5 de O2(g) (Teor de oxigênio na amostra é de 50%)

Como somente 1,94g de O2(g) vão reagir, então 4,5g de O2(g) são mais
que suficiente para a reação.

Ou seja, o O2(g) continua em excesso na reação.

Considerando que o O2(g) utilizado tem 20% de pureza.

9 g O2(g) → 100%
X → 20%

X = 1,8 de O2(g)
170 UNIUBE

Nesse caso, temos 80% de impurezas.

9g (amostra) → 100%
m → 80%

m = 7,2g de impurezas

Agora temos que somente 1,8g de O2(g) irão reagir. Vimos que na reação
eram necessários 1,94g de O2(g) para consumir todo sulfeto de prata.

Como somente 1,8g de O2(g) participarão da reação ele, agora, limitará a


quantidade de produto formado, sendo, neste caso, o reagente limitante.

produzem
1 mol de O2(g) 2 mols de Ag(s)

32g 2 . 107,87g
1,8g X

X = 12,14g de Ag(s) são produzidos

produzem
1 mol de O2(g) 1 mols de SO2(g)

32g 64,06g
1,8g X

X = 3,6g de SO2 (g) são produzidos


UNIUBE 171

6.7 Conclusão

Vimos, neste capítulo, que a estequiometria é fundamentada basicamente


em duas leis: Lei de Lavoisier (lei da conservação da massa) e Lei de
Proust (lei das proporções constantes).

O cálculo estequiométrico é aplicado em diversas áreas do conhecimento


em química como em química analítica (análise quantitativa), físico-
química (equilíbrio químico), química geral (estudo dos gases), além de
outras aplicações em laboratório e na indústria.

A aplicação do cálculo estequiométrico é relativamente simples, pois,


basta realizar uma regra de três simples (grandezas diretamente
proporcionais), em que, na primeira linha da regra de três deve-se colocar
os dados referentes à equação química (corretamente balanceada),
e na segunda linha inserir os dados referentes ao problema proposto
(exercício).

Em algumas situações é bom ficar atento para os casos especiais que


envolvem determinadas reações químicas como: rendimento e pureza
menores que 100%, reações consecutivas, além de outros.

Referências
ATKINS, P.W. Physical Chemistry. 5. ed. Oxford: Oxford University Press,
1997 p.216 229.

ATKINS, P. e JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o


meio ambiente. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001 p.426 467.

BROWN, Theodore L.; LEMAY,H . Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Química,


a ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

WALKER, J. The colors seen in the sky offer lessons in optical scattering. Scientific
American, p. 84-87, jan.1989.
Capítulo Introdução ao
7 equilíbrio químico

Natal Junio Pires

Introdução
Neste capítulo, enfocaremos nosso estudo a partir de duas
perguntas centrais dentro da química:

Qual a quantidade de produto que se formará em uma reação


química? E como esta quantidade se relaciona com as concentrações
e condições iniciais?

Enquanto a cinética química se encarrega de


Equilíbrio químico
nos dizer o quão rápido uma reação química
acontece, o equilíbrio químico se ocupa em Condição dinâmica
que um sistema
nos apresentar as concentrações de cada atinge, não havendo
uma das espécies ao final da reação. mais alteração das
quantidades e/
ou concentrações
As respostas para estas questões têm das espécies
envolvidas.
aplicações práticas muito importantes em
nosso cotidiano.
• Quantos produtos (medicamento, polímero, combustível,
fertilizante etc) serão obtidos de uma determinada mistura
reacional?
• Como podemos ajustar as condições (temperatura, pressão,
concentração etc) de modo a obter a maior quantidade de
produtos possíveis?
• Se a reação é lenta, mas tem um bom rendimento, qual
catalisador podemos empregar para torná-la economicamente
viável?
174 UNIUBE

Essas e outras questões tornam o equilíbrio químico uma das


partes mais importantes para o químico, que vai atuar desde a
sala de aula até o laboratório de uma indústria ou quaisquer outras
áreas afins. Neste sentido, convido você para uma viagem pelo
mundo do equilíbrio químico, para que você conheça o quanto
podemos interferir em uma reação química.

Objetivos
Ao final deste capítulo, você será capaz de:

• entender as ideias básicas do equilíbrio químico;


• entender o que é uma constante de equilíbrio e quociente de
uma reação e como usá-los;
• usar constantes de equilíbrio para descrever sistemas em
equilíbrio;
• reconhecer os fatores que afetam o equilíbrio e predizer os
resultados desses efeitos;
• usar a constante de equilíbrio em termos das pressões
parciais (Kp) e relacioná-la com a constante de equilíbrio Keq
ou Kc;
• descrever equilíbrio heterogêneo e escrever suas constantes
de equilíbrio;
• aplicar os conceitos de equilíbrio químico para explicar
situações presentes no cotidiano.

Esquema
7.1 Introdução ao equilíbrio químico – conceitos básicos
7.2 Natureza dinâmica do equilíbrio
7.3 Constante de equilíbrio
7.3.1 Primeira situação: o valor de Kc é muito pequeno
7.3.2 Segunda situação: o valor de Kc é muito grande
7.3.3 Terceira situação: o valor médio de Kc
7.4 Calculando o valor de Kc a partir de concentrações de equilíbrio
UNIUBE 175

7.4.1 Variação de Kc com a forma da equação balanceada


7.4.2 Escrevendo a constante de equilíbrio para a reação
inversa
7.5 Expressão de equilíbrio para reações envolvendo líquidos e
sólidos puros
7.5.1 Constante de equilíbrio em função das pressões parciais
7.6 Quociente de reação e direção da reação
7.6.1 Uso e determinação das constantes de equilíbrio
7.7 Princípio de Le Châtelier
7.7.1 Efeito da concentração
7.7.2 Efeito da pressão
7.7.3 Efeito da temperatura
7.7.4 Efeito do catalisador
7.8 Conclusão

7.1 Introdução ao equilíbrio químico – conceitos básicos

Situação-problema

Imagine que você é um empresário que possui uma indústria química que
produz medicamentos. Não precisa ser um gênio para saber que quanto
mais você produz, mais lucro terá (desde que venda toda a produção,
é claro!). Entretanto, para saber como produzir mais, você vai precisar
conhecer um pouco mais de química.

PARADA PARA REFLEXÃO

1) Para produzir muito produto é desejável uma reação química lenta


ou rápida?
2) Para produzir muito produto é desejável uma reação química com
baixo ou alto rendimento?

A resposta à primeira pergunta, você que já estudou cinética química,


sabe que é conhecendo os fatores que afetam a velocidade, é que
podemos tornar uma reação rápida ou lenta. Quanto à segunda pergunta,
você também consegue responder, porém a parte mais difícil é:
176 UNIUBE

PARADA PARA REFLEXÃO

Como podemos alterar o rendimento de uma reação química?


Quais variáveis precisaremos alterar no sistema para que isto ocorra?

Lembre-se: do ponto de vista econômico de uma indústria química,


uma reação química que ocorra de modo rápido, mas que tenha um
baixo rendimento, torna o custo de produção maior; o que não é nada
desejável!

A maioria das reações químicas que temos no dia a dia não chega a
se completar. Isto é, se colocarmos quantidades estequiométricas de
reagentes em um recipiente, a quantidade de produto que será formada
terá, nesta situação, um rendimento inferior a 100%. Desse modo, ao
final da reação, teremos, além do produto formado, certa quantidade de
reagente.

Veja, como exemplo, a equação representativa da segunda etapa de


produção industrial do ácido sulfúrico (H2SO4).

2 SO2( g ) + 02( g )  2 S 03( g )


Suponha que coloquemos 0,400 mols de SO2 para reagir com 0,200 mols
de O2 em um recipiente de 1 L. Quando a reação entra em equilíbrio, a
concentração de SO3 é de 0,056 mol/L e permanece uma concentração
de 0,344 mol/L para o SO2 e 0,172 mol/L de O2. Estas observações são
resumidas no esquema a seguir:

2 SO2( g ) + 02( g )  2 S 03( g )


Concentrações iniciais 0,400 mol/L 0,200 mol/L 0 mol/L
Veriação ideal devido à reação
(rendimento de 100%) – 0,400 mol/L – 0,200 mol/L + 0,400 mol/L
Variação real devido à reação
(rendimento de 14%) – 0,056 mol/L – 0,028 mol/L + 0,056 mol/L

Concentrações no equilíbrio 0,344 mol/L 0,172 mol/L 0,056 mol/L

Em outro experimento, colocamos apenas 0,500 mols de SO3, em um


recipiente de 1L. Ao atingir o equilíbrio, observamos que há presença
de 0,424 mol de SO2, 0,212 mols de O2 e 0,076 mols de SO3, conforme
mostra o esquema a seguir:
UNIUBE 177

2 SO2( g ) + 02( g )  2 S 03( g )


Concentrações iniciais 0 mol/L 0 mol/L 0,500 mol/L
Veriação ideal devido à reação
(rendimento de 100%) + 0,500 mol/L + 0,250 mol/L – 0,500 mol/L
Variação real devido à reação
(rendimento de 14%) + 0,424 mol/L + 0,212 mol/L – 0,424 mol/L

Concentrações no equilíbrio 0,424 mol/L 0,212 mol/L 0,076 mol/L

Graficamente, temos as situações anteriores representadas por:

0,500 M
[SO2]
0,400 M 0,424 M
[SO2] 0,400 M
Concentrações

Concentrações
0,344 M
[O2]
[O2] 0,212 M
0,172 M
0,100 M [SO3] 0,100 M [SO3]
0,056 M 0,076 M

Tempo Tempo
te te
Figura 1: Gráfico representativo da segunda etapa de reação da produção industrial do ácido
sulfúrico.

Observe que, nos gráficos anteriores, a partir de certo tempo (te →tempo
de equilíbrio), as concentrações molares ([ ]) de todas as espécies
envolvidas na reação em questão permanecem constantes. Nesse ponto
dizemos que a velocidade da reação direta torna-se igual à velocidade
da reação inversa, o que caracteriza assim o equilíbrio.

IMPORTANTE!

Prevenindo a armadilha...

Muitos alunos criam, erroneamente, o conceito de que um sistema está


em equilíbrio quando a concentração dos produtos é igual à concentração
dos reagentes ou, ainda, que o número de mols dos reagentes seja igual
ao número de mols dos produtos. Devemos ficar atentos a esses fatos
e enfatizar sempre que o estado de equilíbrio é caracterizado quando a
velocidade das reações direta e inversa se igualam, e não obrigatoriamente
quando o número de mols e/ou concentração dos produtos for igual ao dos
reagentes.
178 UNIUBE

IMPORTANTE!

Embora tenha se falado que, na maioria das reações, os reagentes não são
totalmente convertidos em produtos, temos algumas exceções, sendo estes,
casos extremos. Se colocarmos gás hidrogênio (H2) e oxigênio (O2) para
reagirem, ao fornecermos um pequeno estímulo (energia de ativação), a
reação ocorre em grande extensão, chegando à conversão de praticamente
100% dos reagentes em produtos, já que ao final da reação, a quantidade
dos gases iniciais (H2 e O2) é extremamente pequena (insignificante) em
relação à quantidade de produtos. Nestes casos, é comum nos referirmos ao
equilíbrio como totalmente deslocado para a direita (sentido dos produtos).


→ 2H2O(g)
2H2(g) + O2(g) ←

Reação que ocorre com conversão de praticamente 100%

Por outro lado, existem as reações que praticamente não ocorrem. Se


colocarmos certa quantidade de CaO(s) em um recipiente fechado a 25 °C,
a quantidade de Ca(s) e O2(g) formada é virtualmente não detectável. Nesse
caso, dizemos que o equilíbrio está todo ou praticamente todo deslocado
para a esquerda (sentido dos reagentes).


→ 2Ca(s) + O2(g)
2CaO(s) ←

Reação que ocorre com conversão de aproximadamente 0%

Observação:

É muito estranho dizer que “uma reação ocorre com conversão de 0%”. É
uma maneira controversa de dizer que houve reação, mas tal menção é
para enfatizar que a reação praticamente não ocorre. A maioria das reações
químicas se situa em uma posição intermediária à que acabamos de citar,
ou seja, haverá no equilíbrio uma mistura de todas as espécies presentes
na equação que representa a reação química.

Como você pode observar nas equações representativas das reações no


quadro anterior, há a presença de uma seta dupla para indicar o sentido
da reação.
→ ( seta dupla )

←

UNIUBE 179

Esta seta indica que se trata de uma reação reversível (reação de


equilíbrio), ou seja, que pode acontecer tanto em um sentido quanto
em outro. A seta que aponta para a direita representa a reação direta,
enquanto aquela que aponta para a esquerda representa o que se
denomina de reação inversa. O equilíbrio é estabelecido quando a
velocidade da reação direta se iguala à velocidade da reação inversa.

7.2 Natureza dinâmica do equilíbrio

É natural pensarmos que ao se atingir o equilíbrio, a reação química para.


Entretanto, isso não é verdade, pois no equilíbrio, a velocidade da reação
inversa é igual à da reação direta, o que faz com que as concentrações
de todas as espécies se mantenham constantes, após o sistema atingir
o equilíbrio. Considere o equilíbrio:
Direta

2 SO2( g ) + O2( g ) ← → 2 SO3( g )

Inversa

Ao se atingir o equilíbrio, teremos que a reação de conversão de SO3


a SO2 e O2 acontecendo com a mesma velocidade que aquela da
conversão de SO2 e O2 a SO3. Isso caracteriza o que denominamos de
natureza dinâmica do equilíbrio, ou seja, é atingido um estado em que as
concentrações permanecem constantes, porém, a reação “nunca” para.

Uma analogia interessante é você imaginar que está sobre uma esteira
na qual se realiza exercício físico. Correndo sobre a esteira você está
“parado” em relação ao solo, pois com a mesma velocidade com que
você se movimenta para frente, a esteira se movimenta no sentido
contrário. Dessa forma, mesmo em movimento, você está “parado” em
relação ao solo, já que a sua velocidade é equilibrada pela velocidade da
esteira. Isto também é uma situação de equilíbrio dinâmico.

EXPERIMENTANDO

Um experimento para provar a natureza dinâmica do equilíbrio


Por muito tempo, os cientistas ficaram pensando em como poderiam
provar a natureza dinâmica do equilíbrio químico por meio de
experimentos. Daí com a criatividade individual ou conjunta de
cada um, desenvolveram-se vários experimentos que comprovam a
afirmação que fizemos. O experimento a seguir demonstra como isso
pode ser realizado na prática.
180 UNIUBE

Experimento – Numa temperatura de 25 °C, pegou-se uma quantidade


de NaI (iodeto de sódio), que foi dissolvida em certo volume de água.
Adicionou-se NaI até que se tivesse uma solução saturada com corpo de
fundo. Isso quer dizer que, nesta temperatura, seria impossível* dissolver
uma quantidade adicional de NaI na referida solução, de modo a ter uma
solução estável.

Uma vez saturada, filtra­se a solução para separá­la do corpo de fundo.

Em seguida, faz-se a adição de NaI radioativo à solução anterior, e a


solução volta a ter corpo de fundo.

*Na verdade, sabemos que não é impossível, pois podemos obter soluções supersaturadas
em laboratório com grande facilidade, porém tratam-se de soluções instáveis que com a menor
perturbação ocorre a precipitação do excesso de sólido dissolvido. Dessa forma, vamos pensar
que em todo o momento trata-se de uma solução saturada.
UNIUBE 181

Depois de certo tempo, filtra-se novamente a solução para separá-la do


NaI radioativo. Quando se analisa a solução após a filtração, observa-se a
presença de NaI radioativo. Como explicar a dissolução do NaI radioativo
na solução em questão se a mesma já se encontrava saturada quando
foi realizada a adição do Nal radioativo? Isso só pode ser explicado pela
natureza dinâmica do equilíbrio. O equilíbrio estabelecido, neste caso, é:

Nal ( s )  Na + ( aq ) + I – ( aq )
A natureza dinâmica do equilíbrio prevê que, nessas condições, ao se atingir
o equilíbrio, a conversão de NaI sólido em Na+ e I­aquosos (dissolução),
acontecerá com a mesma velocidade que a combinação de Na+ e I­aquosos
para formar NaI sólido (solidificação), sendo este um processo que ocorre o
tempo todo, ininterruptamente. Observe o desenho a seguir:

Isso é provado a partir do momento em que aparecem íons radioativos


na solução, pois embora a solução esteja saturada, ao se adicionar o NaI
radioativo sólido, o processo dinâmico continua, conforme representado na
figura anterior. Com isso, passaremos a ter o material radioativo na solução,
provando, assim, a natureza dinâmica do equilíbrio.
182 UNIUBE

7.3 Constante de equilíbrio

Considere que a reação reversível, a seguir, ocorra em uma única etapa:


Vdireta

2 A + 3B 
Vinversa

 A2 B3
Sendo assim, no equilíbrio sabemos que a velocidade da reação direta
(Vdireta) é igual à velocidade da reação inversa (Vinversa). Como as reações
ocorrem em uma única etapa, podemos escrever que:
Vdireta = Vinversa
kdireta [ A] [ B ] = kinversa [ A2 B3 ]
2 3

kdireta
=
[ A2 B3 ]
kdireta [ A]2 [ B ]3

Em uma temperatura constante, o valor de kdireta e


Constante de kinversa é constante e a razão entre estas duas constantes
equilíbrio:
resulta em outra constante. A esta razão são dados um
Representada nome e um símbolo especial. O nome é constante de
por K, Kc ou
Keq, é o valor equilíbrio e o símbolo é Kc, Keq, ou, simplesmente, K.
termodinâmico
característico
para todo O subscrito “c” significa que a constante de equilíbrio é
e qualquer dada em função das concentrações de cada uma das
processo de
natureza física ou espécies no equilíbrio. Os colchetes “[ ]” indicam que as
química, regido concentrações devem ser expressas em mol/L.
pela Lei de ação
das massas.
Mesmo se a reação ocorresse em várias etapas, a
expressão de Kc poderia ser escrita da mesma forma que apresentada
anteriormente.

IMPORTANTE!

Escrevendo uma expressão geral para o equilíbrio químico


Considere a reação geral a seguir:


Reagentes

Produtos

aA + bB  cC + dD
UNIUBE 183

Temos:
[ C ] .[ D ]
c d

k=
[ A] . [ B ]
c b

A constante de equilíbrio é definida como sendo a razão do produto da


concentração dos produtos, cada uma das concentrações elevada à
potência que corresponde ao seu respectivo índice estequiométrico na
equação balanceada, pelo produto das concentrações dos reagentes,
cada uma das concentrações elevada à potência que corresponde ao seu
respectivo índice estequiométrico na equação balanceada.

Em geral, as constantes de equilíbrio são obtidas experimentalmente. O


valor numérico de Kc nos dá uma indicação do quanto a reação avançou
no sentido de formação dos produtos em uma dada temperatura. A seguir,
vamos analisar três possibilidades de equilíbrio e os valores numéricos de Kc.

7.3.1 Primeira situação: o valor de Kc é muito pequeno

Neste caso, a formação de produtos é pouco favorecida e, em alguns casos,


podemos dizer que a reação praticamente não ocorre, pois apresenta
baixíssimo rendimento. Tome como exemplo a oxidação de nitrogênio (N2)
pelo oxigênio (O2) a 727 °C.
1, 0.10−30
N 2( g ) + O2( g )  2 NO( g ) K =

7.3.2 Segunda situação: o valor de Kc é muito grande

Aqui dizemos que a formação de produtos é muito favorecida, apresentando


rendimento próximo a 100%. Um exemplo é a reação entre monóxido de
carbono (CO) e oxigênio (O2) a 727 °C.
 2CO2( g ) K =
2CO( g ) + O2( g )  2, 2.1022

7.3.3 Terceira situação: o valor médio de Kc

Se ao atingir o equilíbrio químico existirem quantidades consideráveis de


cada uma das espécies, Kc terá um valor intermediário, como é o caso em
que o monocloreto de bromo (BrCl) se decompõe para formar bromo (Br2)
e cloro (Cl2) a 727 oC.
 Br2( g ) + Cl2( g )
2 BrCl( g )  K=
5
184 UNIUBE

7.4 Calculando o valor de Kc a parir de concentrações de equilíbrio

O valor numérico da constante de equilíbrio pode ser calculado,


facilmente, a partir das concentrações de equilíbrio. Vamos retomar
o exemplo que faz referência à segunda etapa de produção do ácido
sulfúrico. Na situação considerada, foram realizados dois experimentos,
conforme sintetizamos a seguir:
Direta

2 SO2( g ) + O2 
Inversa

 2 SO3( g )
Experimento 1 Concentrações no equílibrio 0,344 mol/L 0,172 mol/L 0,056 mol/L
Experimento 2 Concentrações no equilibrio 0,424 mol/L 0,212 mol/L 0,076 mol/L

A expressão de Kc para o equilíbrio em questão pode ser escrita como:

[ SO 3 ]
2

Kc –
[ SO2 ] [O2 ]
2

Substituindo os valores numéricos na expressão anterior, temos para o


experimento 1:
( 0, 056 )
2

Kc – = 0,15
( 0,344 ) ( 0,172 )
2

Da mesma forma, temos para o experimento 2:


( 0, 076 )
2

Kc – = 0,15
( 0, 424 ) ( 0, 212 )
2

Esses resultados mostram que o valor de Kc independente das condições


iniciais do equilíbrio, uma vez que ocorre convergência sempre para o
mesmo valor.

IMPORTANTE!

Uma particularidade a respeito das unidades de Kc


Neste capítulo e na maioria dos livros que consultamos, os valores de
Kc são adimensionais, ou seja, não possuem unidades. Isto se deve
ao fato de que cada termo de concentração na expressão de equilíbrio
é, na verdade, a razão entre uma quantidade medida em laboratório
UNIUBE 185

(concentração molar ou pressão) e uma quantidade termodinâmica


da substância no estado padrão (1 bar ≈ 1 atm e 25 °C = 298,15 K).
No estado padrão, esta quantidade termodinâmica é 1 mol/L para
qualquer substância em solução, 1 atm para gases. Desta forma, uma
concentração de 1,50 mol/L é expressa como sendo 1,50 mol.L–1 / 1
mol.L–1 = 1,50 e similarmente uma pressão de 3,20 atm torna-se 3,20
atm / 1 atm = 3,20. Desta forma obtemos o valor de Kc sem unidades.
A rigor, poderíamos escrever a última expressão de equilíbrio como:
2
 0, 076 mol / L 
 
 1mol / L 
Kc = 2
0,15
 0, 424mol / L   0, 212 mol / L 
  . 
 1 mol / L   1mol / L 
Como o número 1 é o termo neutro da multiplicação e divisão, isso se
torna desnecessário, pois a única consequência será a eliminação das
unidades, de modo que não teremos que realizar simplificações das
unidades durante os cálculos. Dessa forma, neste capítulo, sempre
iremos trabalhar com os valores numéricos de concentrações, já
supondo que foi realizada a divisão entre a quantidade medida e a
quantidade termodinâmica.

7.4.1 Variação de Kc com a forma da equação balanceada

Quando dermos o valor da constante de equilíbrio Kc, em qualquer


situação teremos de colocar a equação da reação química a que estamos
nos referindo.

Isso acontece porque a forma pela qual a reação química estará


balanceada influenciará o valor de Kc.

Considere a reação do item anterior. Podemos ter a equação balanceada


corretamente das seguintes formas:
Direta
1o balanceamento 
2 S 02( g ) + O2( g ) 
Inversa

 2 SO3( g )
Direta
2o balanceamento 
4 S 02( g ) + 2O2( g ) 
Inversa

 4 SO3( g )
186 UNIUBE

Para o 1o e 2o balanceamentos, podemos escrever as constantes de


equilíbrio como sendo, respectivamente:

[ SO3 ] e K ' [ SO3 ]


2 4

=Kc =
[ SO2 ] [O2 ] [ SO2 ] [O2 ]
2 c 4 2

Ao substituirmos os valores numéricos na primeira expressão, seja o


experimento 1 ou 2, obtém-se o valor de 0,15 para KC. Quando fazemos
o mesmo na segunda expressão, obteremos o valor de 0,00225 para a
mesma reação e concentração.

Podemos observar que, se dobrarmos os coeficientes da equação


balanceada, o novo valor da nova constante será o valor original elevado
ao quadrado. Se triplicarmos o valor da nova constante, será o obtido
o valor original elevado ao cubo. Logo, podemos generalizar que se
multiplicarmos toda a equação balanceada por um número “ n”, o valor
da nova constante será o valor original elevado a “n”, ou seja:

K 'c = ( K c )
n

7.4.2 Escrevendo a constante de equilíbrio para a reação inversa

A forma de Kc depende de qual reação (direta ou inversa) estamos


nos referindo. A menos que seja mencionado, sempre escreveremos a
expressão de equilíbrio para a reação direta, como temos feito até agora.
Considere a reação a seguir:

 A2 B3
2 A + 3B 
Para esta reação, como já vimos, a expressão de equilíbrio poderia ser
escrita da seguinte forma:

K c ( direita ) =
[ A2 B3 ]
[ A] [ B ]
2 3

Se escrevermos a reação inversa:

 2 A + 3B
A2 B3 
UNIUBE 187

A expressão de equilíbrio da reação inversa é a recíproca do Kc da reação


direta, ou seja:

[=
A] [ B ]
2 3
1
K c (inversa )
=
[ A2 B3 ] K c ( direita )

Para a segunda etapa de produção do ácido sulfúrico, temos que


Kc (direta) = 0,15, de modo que Kc (inversa) será o valor representado, a seguir,
nas condições especificadas:

1 1
K c (inversa
= ) = = 6, 67
K c ( direta ) 0,15

7.5 Expressão de equilíbrio para reações envolvendo líquidos


e sólidos puros

Até agora fizemos menção a equilíbrios químicos sem nos preocuparmos


com a forma na qual os reagentes ou produtos se apresentam na reação
química. A abordagem anterior só é válida para o que denominamos de
equilíbrio homogêneo, ou seja, um equilíbrio em que todos os reagentes
estão na mesma fase (todos na forma de gases ou em solução). Quando
os componentes estão em diferentes fases, trata-se, então, de um
equilíbrio heterogêneo.

Considere a decomposição de carbonato de cálcio (CaCO3) para formar


óxido de cálcio (CaO) e dióxido de carbono (CO2).

 CaO( s ) + CO2( g )


CaCO3( s ) 
Com base nas regras que temos até agora, poderíamos escrever a
expressão de Kc para a reação anterior da seguinte maneira:

K=
[CaO ][CO2 ]
CaCO3
Entretanto, sólidos puros, como CaCO3 e CaO, terão sempre a mesma
concentração, do início ao final da reação. A concentração em mol/L de
um sólido puro pode ser obtida a partir da densidade (g/cm3) deste sólido.
188 UNIUBE

EXPLICANDO MELHOR

Como pode a concentração de um sólido ser constante durante


uma reação química?

Considere a reação entre zinco metálico (Zn) e ácido clorídrico (HCl).

Zn(s) + 2HCl(aq)  ZnCl2(aq) + H2(g)



Considere os dois momentos, a seguir, da reação, sendo o momento
1 o início da reação e momento 2 em que a reação consumiu metade
do zinco metálico.

O zinco metálico tem densidade de 7,14 g/cm3. Como 1 cm3 é igual a


1 mL, em 1000mL (1 litro), teremos 7.140 g de zinco. Sendo a massa
molar do zinco igual a 65,41 g/mol, teremos que 7.140 g = 109,2 mol.
Dessa forma, a concentração de zinco no zinco metálico, no momento
1, é igual a:

109, 2 mol
Cmomento 1
= = 109, 2 mol / L
1L

Após decorrido tempo necessário para consumir metade do bloco


de zinco, vamos verificar qual é a concentração de zinco metálico no
sistema. Agora, temos um bloco de apenas 0,5 L e dessa forma a massa
de zinco, será metade daquela inicial, ou seja, 3,570 g = 54,6 mols de Zn.
Sendo assim, a concentração de zinco pode ser calculada por:

54, 6 mol
C
= momento 2 = 109, 2 mol / L
0,5 L
UNIUBE 189

54, 6 mol
Cmomento 2
= = 109, 2 mol / L
0,5 L
A concentração de um sólido puro é a mesma em qualquer estágio da
reação. Esta discussão é igualmente válida para situações em que,
em vez de um sólido, tenhamos um líquido praticamente puro.

Sendo assim, a expressão de Kc para o equilíbrio heterogêneo anterior


pode ser escrita como a seguir:
Kc
 
[ CaCO3 ]
K = [CO2 ] → K=c [CO2 ]
[CaO ]

7.5.1 Constante de equilíbrio em função das pressões parciais

Em algumas situações, é muito mais fácil medir a pressão de um gás do


que medir a sua concentração. No sentido de facilitar o acompanhamento
dos processos, tais como aqueles relacionados à produção industrial,
propôs se escrever uma expressão de equilíbrio em função das pressões
parciais dos gases presentes no meio reacional que caminha para o
equilíbrio químico.

Assim, para a reação genérica:


Produtos

aA 
+ bB  cC + dD

Reagentes

Em que as espécies estão no estado gasoso, podemos escrever:

(P ) (P )
c d

Kp = c a D b
( PA ) ( PB )
O símbolo “p” junto a K significa que a constante de equilíbrio foi obtida
a partir das pressões parciais dos componentes presentes no equilíbrio.
190 UNIUBE

7.5.1.1 Relação entre Kc e Kp

Embora pressão e concentração sejam grandezas diretamente


proporcionais, os valores de Kc e Kp não são obrigatoriamente iguais para
uma mesma reação. Passaremos, agora, a derivar uma relação entre essas
duas grandezas. Para tal, vamos considerar a reação genérica:

Produtos

aA + bB 
  cC + dD
Reagentes

Onde temos:
(=Pc ) ( PD ) [ C ] .[ D ]
c d c d

=Kp K
( PA ) ( PB ) [ A] . [ B ]
a b a b

Da lei dos gases ideais, temos que:

PAV = nART; PBV = nBRT; PCV = nCRT e PDV = nDRT

Considere a expressão para a espécie A, rearranjando a fórmula:


nA n
PA = RT , em que A , nada mais é do que a concentração molar do
V V
gás A, ou seja, [A]. Dessa forma teremos que:

([C ]RT )c ([ D]RT ) d [C ]c [ D]d ( RT )c ( RT ) d


=Kp = ⇒ K p .
([ A]RT ) a ([ B]RT )b [ A]a [ B]b ( RT ) a ( RT )b
K c ( RT )c ( RT ) d ( RT ) − a ( RT ) −b
⇒ Kp =

Empregando artifícios matemáticos no último resultado, podemos


escrever que:

=K p K c ( RT )( c + d )−=
( a +b )
⇒ K p K c ( RT ) Dn , onde Δn = (c + d) – (a + b)

IMPORTANTE!

1. Quando o número de mols de gás nos reagentes for igual ao número de mols
de gás nos produtos, teremos Δn = zero, e, portanto, nesta situação Kp = Kc.
2. É importante saber a unidade de pressão (atm, pascals, torr) para que se
possa escolher o valor conveniente de R, para ser utilizado na conversão
de Kp em Kc.
UNIUBE 191

7.6 Quociente de reação e direção da reação

Em muitas situações, é necessário ao químico saber Quociente de


se o equilíbrio foi atingido para um dado processo reação
reacional. Às vezes, com a simples observação visual É a razão entre
podemos ter a sensação de que a reação parou. as concentrações
Porém, para nos certificar de tal fato, precisaremos molares ou
pressões parciais
do valor de Kc para a reação nas condições desejadas de reagentes
e das concentrações das espécies no momento e produtos
desejado. A partir de tais dados podemos calcular elevadas aos
seus índices
o que denominamos de quociente de reação, Q e estequiométricos
compará-lo com o valor de Kc. No equilíbrio, teremos
que Q = Kc.

O esquema, a seguir, resume a três situações possíveis para valores de


Q em relação a Kc.
Q

ão
reaç
o da
ress
Prog
K Q Kc Kc

Q
ão
reaç
o da
ress
Prog

Reagentes Produtos Sistemas Reagentes Produtos

• Q < Kc: Se o valor de Q é menor do que Kc, o denominador


(reagentes) é maior em relação ao numerador (produtos). Para que
Q se torne igual a Kc, o denominador (reagentes) deve diminuir e
o numerador (produtos) deverá aumentar. Dessa forma, podemos
dizer que a reação progride para a direita, ou seja, no sentido dos
reagentes para os produtos.
• Q > Kc: Se o valor de Q é maior do que Kc, o numerador (produtos)
deverá diminuir e o denominador (reagentes) aumentará até que o
equilíbrio seja atingido. Desse modo, a reação irá progredir para a
esquerda, ou seja, no sentido dos reagentes.
• Q = Kc: Esta situação só existe quando o sistema atingiu o equilíbrio.
Desse modo, considerando o caráter dinâmico do equilíbrio, as
reações ocorrem nos dois sentidos com igual velocidade, de forma
que não há variação nas quantidades relativas de cada uma das
espécies presentes no equilíbrio.
192 UNIUBE

7.6.1 Uso e determinação das constantes de equilíbrio

Diversos são os problemas que aparecem no dia a dia envolvendo os


conceitos quantitativos sobre equilíbrio químico. Entretanto, podemos
colocá-los em dois grupos:

1) situação em que são dadas as quantidades no equilíbrio (concentrações


ou pressões parciais) e devemos encontrar o valor de Kc ou Kp.

2) outro grupo, são dados os valores de Kc ou Kp e quantidades


iniciais (concentrações ou pressões parciais) e devemos encontrar as
quantidades (concentrações ou pressões parciais) no equilíbrio.

7.6.1.1 Primeira situação: usando quantidades medidas no equilíbrio


para determinar o valor da constante de equilíbrio

Existem duas variações desse tipo de problema em que teremos como


objetivo encontrar o valor de Kc. Uma envolve a substituição direta
das quantidades, conforme fizemos para a obtenção da constante de
equilíbrio para a segunda etapa de produção do ácido sulfúrico, quando
encontramos Kc = 0,15. A outra variação requer que encontremos
algumas das quantidades para, então, chegarmos ao valor da constante
de equilíbrio.

Em situações como a última citada, deveremos construir uma tabela de


modo a organizarmos nossos resultados. Esta ferramenta é de extrema
importância, pois não conhecemos alguns valores que precisamos, mas
poderão ser facilmente encontrados com o uso da estequiometria da
reação em questão.

Considere o seguinte problema:

Exemplo: Em uma indústria está sendo estudada a oxidação do carbono


grafite com dióxido de carbono (CO2) para produção de monóxido
de carbono (CO). Para isso, uma pequena quantidade de grafite é
introduzida em um frasco de reação numa temperatura de 1080 K, e,
então, CO2 é adicionado em uma pressão de 0,458 atm. Assim que o CO2
é adicionado, começa a se produzir o CO. Após o equilíbrio ser atingido,
a pressão total no interior do frasco de reação vale 0,757 atm. Calcule Kp.
UNIUBE 193

Solução:

Para iniciar a resolução, vamos escrever a equação balanceada da


reação em questão.

 2CO( g )
CO2( g ) + Cgrafite 

Como sabemos, o grafite é sólido e, assim, não irá aparecer na expressão


de Kp.

(P )
2

Kp = co
Pco2

Foram apresentadas apenas a pressão inicial de CO2 e a pressão total


no equilíbrio. Para determinarmos o valor de Kp, devemos encontrar as
pressões parciais do CO e do CO2 no equilíbrio. Para isso, lançaremos
mão dos conceitos de cálculos estequiométricos. Observe que 1 mol de
CO2 leva à formação de 2 mols de CO. Quando a reação ocorre a uma
quantidade desconhecida da pressão de CO2 “reage” para dar origem a
uma pressão parcial de CO. Denominando a pressão desconhecida de
CO2 por “X”, teremos que irá se originar uma pressão “2X” do CO, pela
estequiometria da reação.

X atm de CO2 → 2X atm de CO

No equilíbrio, a pressão parcial de CO2, é a pressão inicial menos a


variação na pressão de CO2 (X), equivalente ao CO2 que reage.

PCO2(inicial) – X = PCO2(equilíbrio)

Similarmente, a pressão de CO no equilíbrio é a pressão inicial de CO,


mais a variação na pressão de CO (2X), que equivale à quantidade de
CO formado. Como no caso do CO, no início da reação, temos:

PCO (inicial) + 2X = 0 + 2X = 2X = PCO (equilíbrio)

Uma maneira útil de resumir as informações é através da tabela de


reação, que mostra a equação balanceada e o que sabemos sobre ela,
que são:
194 UNIUBE

• as quantidades iniciais (concentrações ou pressões) de reagentes


e produtos;
• as variações nessas quantidades durante a reação;
• as quantidades no equilíbrio.

Pressão (atm) CO2(g) + C(grafite) ←→ 2CO(g)

Início 0,458 0,0


Variação –X +2X
Equilíbrio 0,458 – X 2X

Observe no equilíbrio apresentado que o sinal é negativo para variação


do reagente CO2 e positivo para a do produto CO. Outro fato importante é
que as quantidades no equilíbrio são obtidas pela soma das quantidades
iniciais com a variação de cada espécie que figura na expressão da
constante de equilíbrio. Para obtermos o valor de Kp, deveremos
encontrar, primeiramente, o valor de “X”. Para isso, usaremos a pressão
total dada no problema. De acordo com a Lei de Dalton, das pressões
parciais, e usando as quantidades de equilíbrio, temos:

Ptotal = 0,757 atm = PCO2(equilíbrio) + PCO(equilíbrio) = (0,458 atm – X) + 2X

Deste modo:

0,757 atm = 0,458 atm + X → X = 0,299 atm

Com o valor de X determinado, podemos encontrar o valor de Kp em


função das pressões parciais.

PCO2(equilíbrio) = 0,458 atm – X = 0,458 atm – 0,299 atm = 0,159 atm

PCO(equilíbrio) = 2X = 2.0,299 atm = 0,598 atm

Substituindo esses valores na expressão de Kp, temos que:

(=
PCO ) ( 0,598 )
2 2

Kp
= = 2, 25
PCO2 0,159
UNIUBE 195

7.6.1.2 Segunda situação: usando a constante de equilíbrio para


determinar a quantidade de produtos e reagentes ao término
de uma reação

Assim como os problemas relacionados com a determinação de K,


aqueles que envolvem encontrar as concentrações (ou pressões) podem
ter muitas variações.

Considere o exemplo em que temos algumas concentrações e o valor de


Kc, e deveremos encontrar o valor de concentração de uma das espécies.

Exemplo: No estudo da conversão de metano (CH4) em outros


combustíveis, um engenheiro químico mistura CH4 e H2O em um reator
a 1200 K. No equilíbrio, o reator contém 0,81 mol/L de CO, 0,28 mol/L de
H2 e 0,13 mol/L de CH4. Qual é o valor da [H2O] no equilíbrio, sabendo
que a constante de equilíbrio Kc = 0,26 para a reação envolvida?

 CO( g ) + 3H 2( g )
CH 4( g ) + H 2O( g ) 

Solução:

Vamos, primeiro, a escrever a expressão de Kc para equação anterior:

[CO ][ H 2 ]
3

Kc =
[CH 4 ][ H 2O ]

Rearranjando, temos que:

[CO][ H 2 ]3 (0,81)(0, 28)3


[ H 2O ]
= = = 0,53mol / L
[CH 4 ]K c (0,13)(0, 26)

Como prevenção de erros durante a resolução, é sempre prudente


checarmos o resultado obtido, conforme realizado a seguir:

[CO][ H 2 ]3 (0,81)(0, 28)3


Kc
= = 26 K c
= 0,=
[CH 4 ][ H 2O] (0,13)(0,53)
196 UNIUBE

Em outro exemplo, o uso da a tabela de reação para encontrar os valores


de concentrações no equilíbrio, a partir de Kc.

Exemplo: A produção de hidrogênio (H2), combustível do futuro, pode


ser realizada de acordo com a reação a seguir:

 CO2( g ) + H 2( g )
CO( g ) + H 2O( g ) 

Em um reator, é colocado CO(g) e H2O(g) na concentração de 2 mol/L cada


um. Qual é a composição (concentração) no equilíbrio para cada uma
das espécies? Na temperatura do experimento, Kc vale 1,56.

Solução:

Vamos começar escrevendo a constante de equilíbrio para a reação


mencionada.
[CO2 ][ H 2 ]
Kc =
[CO][ H 2O]

Agora, precisamos encontrar as concentrações de cada espécie no


equilíbrio. Para isso, iremos montar a reação de equilíbrio para simplificar
nosso trabalho.

Concentração
CO(g) + H2O ←→ CO2(g) + H2(g)
mol/L
Início 2,0 2,0 0,0 0,0
Variação –X –X +X +X
Equilíbrio 2,0 – X 2,0 – X X X

Veja que a concentração de todas as espécies está em função da


quantidade “X” que variou durante a reação. Desse modo, vamos
substituir estes resultados na expressão da constante de equilíbrio que
escrevemos anteriormente.

[CO2 ][ H 2 ] ( X ).( X ) ( X )2
=Kc = = = 1,56
[CO][ H 2O] (2, 0 − X )(2, 0 − X ) (2, 0 − X ) 2
UNIUBE 197

Aqui, como temos do lado esquerdo um quadrado perfeito, podemos tirar a


raiz quadrada de ambos os lados da expressão anterior. Acompanhe:

( X )2 X
2
1,56 ⇒
= ±1, 25
=
(2, 0 − X ) (2, 0 − X )

O número 1,56 pode ter duas raízes, sendo uma positiva e a outra
negativa. Entretanto, apenas a raiz positiva tem significado químico, e,
desse modo, ignoramos o valor negativo da raiz. Logo:
X
1, 25 = ⇒ 2,50 − 1, 25 X = X ⇒ 2,50 = 2, 25 X ⇒ X = 1,11mol / L
(2,0 − X )

Sendo assim, as concentrações de equilíbrio serão:

[CO] = [H2O] = 2,00 mol/L – X = 2,00 mol/L – 1,11mol/L = 0,89 mol/L


[CO2] = [H2] = X = 1,11 mol/L

Checando os resultados, podemos escrever que:

[CO2 ][ H 2 ] (1,11) 2
=Kc = = 1,56
[CO][ H 2O] (0,89) 2

Em muitas situações, a resolução não é tão simples como aconteceu


no exercício anterior. A simplicidade do cálculo anterior se deu porque
tínhamos um quadrado perfeito. Porém, mudar as concentrações iniciais
dos reagentes para valores diferentes entre si, já será suficiente para
termos um pouco mais de trabalho na resolução. Veja o exemplo a seguir,
em que iremos trabalhar com o mesmo processo, demonstrando como
as coisas podem mudar de um exercício para outro.

Exemplo: Suponha que, no exemplo anterior, iniciamos a reação com


concentração de 2,00 mol/L de CO e 1,00 mol/L de H2O.

Solução:

O equilíbrio de reação a seguir será:


198 UNIUBE

Concentração
CO(g) + N2O ←→ CO2(g) + H2(g)
mol/L
Início 2,0 1,0 0,0 0,0
Variação –X –X +X +X
Equilíbrio 2,0 – X 1,0 – X X X

Substituindo os valores de equilíbrio na expressão para Kc, temos:

[CO2 ][ H 2 ] ( X ).( X ) ( X )2
=Kc = = = 1,56
[CO][ H 2O] (2, 0 − X )(1, 0 − X ) ( X 2 − 3, 0 X + 2, 0)

Para encontrar o valor de X, rearranjamos a expressão anterior, para


obter então, a equação quadrática:

1,56X2 – 4,68X + 3,12 = 0

Dessa forma, podemos encontrar os valores de X por meio da fórmula


quadrática a seguir:

4, 68 ± (−4, 68) 2 − 4(1, 56)(3,12)


X =
2(1, 56)

Obtemos então X’ = 2,0 mol/L e X” = 1,0 mol/L.

Note que apenas o valor de concentração 1,0 mol/L tem significado


químico, pois o maior valor resultará em uma concentração de equilíbrio
nula (por exemplo, 2,00 mol/L – 2,0 mol/L = 0 mol/L), que não tem
significado. Portanto, devemos tomar “X” como sendo 1,0 mol/L. Daí,
temos que:

[CO] = 2,0 mol/L – X = 2,0 mol/L – 1,0 mol/L = 1,0 mol/L

[H2O] = 1,00 mol/L – 1,00 mol/L = Zero

[CO2] = [H2] = X = 1,0 mol/L


UNIUBE 199

Em muitos exercícios, devemos usar o bom senso no sentido de evitar


a equação quadrática e, assim, simplificar o nosso trabalho e torná-lo
menos cansativo. De maneira geral, se uma reação possui um valor
pequeno de K e uma concentração inicial de reagentes relativamente
grande, a variação “X” na concentração será pequena o suficiente para
ser desprezada, sem introduzir erro significativo no cálculo. É importante
salientar que essa suposição não quer dizer que X = 0, pois, assim,
não aconteceria a reação. O significado dessa suposição é que se
temos um alto valor de concentração para os reagentes, e K é muito
pequeno, apenas uma pequena quantidade do reagente será convertida
em produtos, de modo que sua concentração praticamente não sofre
variação.

[Reagente]inicial – X = [Reagente]equilíbrio ≈ [Reagente]inicial

Você pode imaginar uma situação similar em seu cotidiano. Suponha que
você tenha uma poupança de R$ 10.000,00 e retira uma quantidade “X”,
igual a R$ 1,00 dessa quantia. Com esse saque você praticamente não
mudou a quantidade de dinheiro na poupança. Dizemos que R$ 1,00 é
muito pequeno em relação à quantia de R$ 10.000,00.

Dinheiro inicial – x = Dinheiro equilíbrio ≈ Dinheiro inicial

Similarmente, se a concentração inicial de um reagente A é igual a 0,600


mol/L e, devido ao pequeno valor de Kc, o valor da concentração de A que
reage vale 0,003 mol/L, podemos assumir que:

0,600 mol/L – 0,003 mol/L = 0,597 mol/L ≈ 0,600 mol/L

[A]inicial – [A]reage = [A]equilíbrio ≈ [A]inicial

Para que possamos usar essa aproximação com tranquilidade, sempre


devemos checar a magnitude do erro introduzido nos cálculos, de modo
a verificar se o mesmo é ou não significante. Porém, a pergunta é: quanto
seria um erro significante? É senso comum empregarmos o valor de
5%, ou seja, a aproximação será razoável sempre que a variação na
concentração “X” for menor ou igual a 5% do valor inicial de concentração.
200 UNIUBE

Vamos exemplificar como seria o cálculo na situação apresentada


anteriormente:

0,600 mol/L 100%


0,003 mol/L x%
x = 0,5%

Observe que a concentração 0,003 mol/L é apenas 0,5% do valor inicial


0,600 mol/L, e sendo assim, a aproximação 0,600 mol/L – 0,003 mol/L =
0,597 mol/L ≈ 0,600 mol/L, é válida.

Por meio do exemplo, a seguir, aplicaremos estes conceitos.

Exemplo: O gás fosgênio COCl2 é um poderoso gás de guerra, que


agora tem o seu uso proibido para este fim. Ele sofre decomposição de
acordo com a reação a seguir:

 CO( g ) + Cl2( g ) K c =


COCl2( g )  8,3 x 10 –4 (a 360 oC )

Calcule [CO], [Cl2] e [COCl2], quando a concentração inicial de fosgênio for:

a) 0,500 mol/L b) 0,0100 mol/L

Solução:

a) Vamos escrever, primeiro, a expressão da constante de equilíbrio para


a reação em questão.

[CO][Cl2 ]
Kc =
[COCl2 ]

Substituindo os valores na expressão da constante de equilíbrio, tem-se que:

[CO][Cl2 ] x2
=Kc = = 8,3.10−4
[COCl2 ] 0,50 − x
UNIUBE 201

Pelo fato de Kc ser relativamente pequeno, a reação não progride muito


para a direita, ou seja, para a formação de produtos. Sendo assim, vamos
assumir que a quantidade “X”, que irá variar da [COCl2], é muito pequena
em relação inicial de 0,500 mol/L, e, dessa forma, a concentração de
equilíbrio é praticamente a mesma. Portanto, 0,500 mol/L – x ≈ 0,500 mol/L.

x2
= 8,3.10−4
0,50 − x X = 2,0.10-2 mol/L

Como a concentração de X é inferior a 5% da concentração inicial, temos que:

[CO] = [Cl2] = X = 2,0.10-2 mol/L


[COCl2] = 0,50 mol/L – x = 0,48 mol/L

b) Na condição de se iniciar com 0,010 mol/L, podemos escrever que:


[CO][Cl2 ] x2
=Kc = = 8,3.10−4
[COCl2 ] 0, 010 − x

Supondo que 0,0100 mol/L – X ≈ 0,0100 mol/L e resolvendo para X,


temos:
x2
= 8,3.10−4 → X = 2,9.10-3 mol/L
0, 010 − x

A concentração de X representa 29% da concentração inicial. Dessa


forma a simplificação não pode ser realizada, e para encontrarmos o
valor correto de X, devemos usar a fórmula quadrática representada a
seguir:

X2 + (8,3.10-4)X – 8,3.10-6 = 0

Para qual a única raiz com significado é a de X = 0,0025 mol/L. Portanto,


as concentrações de equilíbrio, neste caso, serão:

[CO] = [Cl2] = 0,0025 mol/L

[COCl2] = 0,01 – X = 0,0075 mol/L


202 UNIUBE

Observe que a simplificação foi razoável apenas para a situação em que


tínhamos o maior valor de concentração.

7.7 Princípio de Le Châtelier

Uma das características mais notáveis de uma reação química é a sua


capacidade de atingir novamente o equilíbrio quando se realiza uma
perturbação do sistema inicialmente em equilíbrio. Essa tendência em
buscar novamente o equilíbrio é denominada de princípio de Le Châtelier.
Este princípio diz que:
Toda vez que um sistema, inicialmente em equilíbrio, for perturbado,
a reação deslocará no sentido de minimizar tal perturbação.

PARADA PARA REFLEXÃO

O que é um sistema em equilíbrio?

A perturbação de um sistema em equilíbrio pode ser realizada basicamente


de três formas: variação das concentrações das espécies em equilíbrio,
mudança na pressão do sistema, quando pelo menos uma das espécies
estiver no estado gasoso (causado por uma variação no volume), e
alteração da temperatura. Iremos discutir cada um desses aspectos mais
adiante.

PARADA PARA REFLEXÃO

O que é minimizar tal perturbação?

O equilíbrio pode ser deslocado para a esquerda ou para a direita. A


título de exemplo, se aumentarmos a concentração de um dos reagentes
(perturbação), o equilíbrio se deslocará no sentido de formação dos
produtos, de modo que, para isso, tenha que consumir o reagente,
diminuindo sua concentração (minimizando a perturbação) que foi
aumentada. Desse modo, quando uma perturbação ocorre, dizemos
que o equilíbrio desloca, o que resulta em variações da concentração
ou pressão no sentido de minimizar a perturbação, fazendo com que o
sistema atinja novamente o equilíbrio.
UNIUBE 203

O princípio de Le Châtelier permite prever em que sentido o equilíbrio irá


deslocar em virtude da perturbação ocorrida, e talvez mais importante,
possibilita que químicos industriais aumentem o rendimento das reações
por meio de condições idealizadas com base neste princípio.

7.7.1 Efeito da concentração

A concentração das espécies exerce um papel muito importante no


deslocamento do equilíbrio. Podemos analisar o problema de várias
formas que iremos chegar sempre à mesma conclusão. Duas formas
importantes são: analisar o problema do ponto de vista do enunciado de
Le Châtelier, e quanto ao aspecto cinético da reação.

Para realizarmos nossa abordagem, vamos trabalhar com a reação


a seguir, importante do ponto de vista ambiental, pois é responsável
pela formação de uma névoa de poluição presente ao nível do solo,
denominada de smog fotoquímico.
Vdireta


O3( g ) + NO( g ) 
V
 O2( g ) + NO2( g )
inversa

7.7.1.1 Análise segundo enunciado de Le Châtelier

Vamos imaginar que seja aumentada a concentração de NO(g)


(perturbação) no equilíbrio anterior. De acordo com o princípio de Le
Châtelier, o equilíbrio deslocará no sentido de minimizar esta perturbação.
Mas, minimizar esta perturbação seria provocar uma diminuição da
concentração de NO(g) que foi aumentada anteriormente? Isso mesmo!
Só que a única forma disso ocorrer é o NO(g) reagir com O3(g) para formar
O2(g) e NO2(g), que são produtos e estão à direita da equação. Dessa
forma, dizemos que o equilíbrio deslocou para a direita ou no sentido de
formação dos produtos. Por outro lado, vamos pensar na diminuição da
concentração de uma das espécies. Digamos que após atingir um estado
de equilíbrio, haja diminuição da concentração de O3(g) (perturbação).
Nesse caso, o princípio de Le Châtelier diz que o equilíbrio deslocará
no sentido de minimizar a perturbação. Dessa vez, a perturbação foi a
diminuição da concentração de O3(g) e, desta forma, o equilíbrio deverá
aumentar a concentração da espécie O3(g) que teve sua concentração
204 UNIUBE

diminuída. A única forma de isso acontecer é O2(g) se combinar com


NO2(g) para formar O3(g) e NO(g), que são reagentes e estão à esquerda
da equação. Sendo assim, dizemos que o equilíbrio foi deslocado para a
esquerda ou no sentido de formação dos reagentes. Resumindo, temos que:

Perturbação Deslocamento
Aumento da [O3] → para a direita
Aumento da [NO] → para a direita
Diminuição da [O3] ← para a esquerda
Diminuição da [NO] ← para a esquerda
Aumento da [O2] ← para a esquerda
Aumento da [NO2] ← para a esquerda
Diminuição da [O2] → para a direita
Diminuição da [NO2] → para a direita

7.7.1.2 Análise do ponto de vista cinético

Conforme discutido anteriormente, um sistema atinge o equilíbrio quando


a velocidade da reação direta torna­se igual à velocidade da reação
inversa. Como vimos no capítulo de cinética química, a velocidade de
uma reação depende da concentração das espécies reagentes. Quanto
maior a concentração, maior será o número de colisões e maior será a
velocidade da reação. Estando o sistema em equilíbrio, ao colocarmos
mais O3(g) no recipiente, aumentamos a [O3], e desse modo, a velocidade
da reação direta torna­se maior que a velocidade da reação inversa. Essa
diferença de velocidade leva a um aumento das concentrações de O2(g)
e NO2(g), resultando, então, em um deslocamento do equilíbrio para a
direita. O mesmo raciocínio é válido para a concentração de NO(g). Agora,
vamos imaginar o que acontece se aumentarmos a concentração de O2(g)
no equilíbrio. Nessa situação, a velocidade da reação inversa passa a ser
maior que a velocidade da reação direta. Isso leva a um deslocamento
do equilíbrio para a esquerda.

Como podemos perceber, o deslocamento de um equilíbrio químico pelo


aumento ou diminuição da concentração é melhor entendido analisando-
o dos dois modos citados anteriormente.
UNIUBE 205

7.7.2 Efeito da pressão

Para que analisemos o efeito da pressão sobre um equilíbrio químico,


é necessário que, pelo menos uma das espécies envolvidas na reação
esteja no estado gasoso. Vamos pensar como podemos aumentar a
pressão de um sistema gasoso. Isto pode-se acontecer em pelo menos
três maneiras, excluindo-se uma variação na temperatura. São elas:

• variação da concentração dos componentes gasosos;


• diminuição do volume;
• adição de um gás inerte (um gás que não reage com as espécies
em equilíbrio).

O primeiro ponto já discutimos anteriormente, quando tratamos do papel


que tem o aumento ou diminuição da concentração de uma ou mais
espécies do sistema em equilíbrio.

Vamos analisar, agora, qual é a relação entre volume, pressão e número


de mols. De acordo com a lei dos gases ideais, temos que:

 RT 
=PV nRT
= ou , rearranjando, V  n
 P 
Da equação anterior, podemos ver que pressão (P) e volume (V) são
grandezas inversamente proporcionais, ou seja, se uma aumenta a
outra diminui na mesma proporção. Por outro lado volume (V) e número
de mols (n) são grandezas diretamente proporcionais, isto é, se um
triplica o outro também triplica. Outra informação muito importante é que
o aumento do número de mols (n) em um volume fixo (constante) é
diretamente proporcional à pressão (P). Isso significa que se diminuirmos
o número de mols (n) de um gás mantendo-se constantes o volume (V)
e a temperatura (T), a pressão irá diminuir na mesma proporção.

Vamos considerar, agora, o equilíbrio:

 PCl5( g )
PCl3( g ) + Cl2( g ) 

2 mols 1 mols
206 UNIUBE

O que acontecerá se diminuirmos o volume do recipiente em que está


ocorrendo a reação descrita pela equação anterior? Vamos pensar!

Se diminuirmos o volume (V), a pressão (P) do interior do sistema


vai aumentar. De acordo com o princípio de Le Châtelier, o equilíbrio
deslocará no sentido de diminuir a perturbação (aumento da pressão).
Para diminuirmos a pressão do interior do sistema, poderíamos diminuir o
número de mols no interior do sistema. Existem duas formas de fazermos
isso.

A primeira é retirar matéria de dentro do sistema reacional aliviando


(diminuindo), assim, a pressão, mas isso não convém, pois se trata de
um sistema fechado. Desse modo, o próprio equilíbrio é que vai encontrar
um caminho para fazer isso.

A segunda e a que realmente acontece é a conversão de 2 mols de


reagentes (PCl3(g) e Cl2(g)) em um 1 mol de produto (PCl5(g)). Com isso,
ocorre uma diminuição da pressão interna e dizemos que o equilíbrio
desloca para a direita ou no sentido de formação dos produtos. O
aumento da pressão sempre irá deslocar o equilíbrio para o lado que
ocupa o menor volume. De modo análogo, podemos concluir que uma
diminuição na pressão favorece o equilíbrio no sentido de maior
volume. No caso anterior, uma diminuição na pressão pelo aumento do
volume deslocaria o equilíbrio para a esquerda, ou seja, no sentido de
formação dos reagentes.

Considere o equilíbrio a seguir:

 CO( g ) + Cl2( g )


COCl2( g ) 

1 mols 2 mols

Com relação à equação anterior, um aumento da pressão desloca agora


para a esquerda, pois a forma de minimizar o aumento da pressão é
converter 2 mols de produto em 1 mol de reagente. Em outras situações,
o aumento da pressão não irá favorecer nenhum dos lados do equilíbrio.
Isso irá ocorrer quando tivermos o mesmo número de mols de gás do
lado dos reagentes e dos produtos. Observe os exemplos a seguir:
UNIUBE 207

 2 NO( g )
N 2( g ) + O(2) 

2 mols 1 mols

 2 Hl( g )
H 2( g ) + l2( g ) 

2 mols 1 mols

Devemos, sempre, estar atentos à forma pela qual se deu o aumento


da pressão. Isso é importante porque em muitas situações é dito que a
pressão total do sistema foi aumentada pela adição de um gás inerte.
Este tipo de aumento da pressão não irá favorecer nenhum dos lados do
equilíbrio estabelecido. Isso decorre do fato de que o gás inerte aumenta
a pressão total, mas não a pressão parcial de cada gás (esta permanece
constante), e na expressão de Kp colocamos a pressão parcial de cada
gás. Por isso, a adição de um gás inerte não tem efeito sobre o equilíbrio.

SAIBA MAIS

Considere os sistemas representados, a seguir. Temos uma situação em que:

 2 B( g )
A( g ) 
Na primeira situação, tais espécies estão em equilíbrio a uma pressão de 1
atm, com um total de 10 partículas. Daí, faz-se a adição de mais 5 partículas
de gás inerte, o que, logicamente, leva a pressão para 1,5 atm. Observamos
assim um aumento líquido da pressão total. Mas, o que aconteceu com
a pressão parcial de cada um dos gases (A e B) presentes no equilíbrio
anterior? Vejamos.
Ver constantes

Sistema em Após a adição


equilíbrio de gás inerte
Gás A

Gás B

Gás Inerte
P = 1 atm P = 1,5 atm
208 UNIUBE

No primeiro sistema, temos que a fração molar do gás A (XA) vale 0,3 e a do
gás B (XB) vale 0,7. Deste modo, temos que:

nA 3 mols
PA= X A .P ⇒ p A= .P ⇒ p A .1atm ⇒ p A= 0,3.1atm ⇒ p A= 0,3.1atm ⇒ p A= 0,3 atm
ntotal 10 mols
nB 7 mols
PB= X B .P ⇒ pB= .P ⇒ pB .1atm ⇒ pB= 0, 7.1 atm ⇒ pB= 0, 7 atm
ntotal 10 mols

Quando adicionamos 5 partículas de gás inerte, iremos considerar


que agora temos um total de 15 mols de gás e a pressão total agora
é de 1,5 atm. Vamos então calcular a pressão parcial dos gases A e
B, para que possamos checar se houve ou não alteração.

nA 3 mols 3 atm
PA= X A .P ⇒ p A= .P ⇒ p A .1,5 atm ⇒ p A= ⇒ p A= 0,3 atm
ntotal 15 mols 10
nB 7 mols 7 atm
PB= X B .P ⇒ pB= .P ⇒ pB .1,5 atm ⇒ pB= ⇒ pB= 0, 7 atm
ntotal 15 mols 10

Como podemos perceber a pressão parcial de cada gás permanece a


mesma depois da introdução de gás inerte e, dessa forma, o aumento de
pressão provocado não interfere na posição do equilíbrio.

7.7.3 Efeito da temperatura

De todas as variáveis que discutimos até agora, a temperatura é a


única que altera o valor da constante de equilíbrio. Dependendo da
reação, a temperatura poderá aumentar ou diminuir o valor da constante
de equilíbrio da reação em questão. Para entendermos o efeito da
temperatura sobre a posição de um equilíbrio químico, vamos considerar
a reação química a seguir:

PCl3( g ) + Cl2( g ) Exotérmico


 →
PCl5( g ) DH =−111kJ
5( g ) ←
Endotérmico

A reação direta é exotérmica (Δ H < 0; libera calor), de forma que a


reação inversa é endotérmica (Δ H > 0; absorve calor).

Exotérmico
PCl3( g ) + Cl2( g )  → PCl5( g ) + Calor
Endotérmico
PCl3( g ) + Cl2( g ) ← PCl5( g ) + Calor
UNIUBE 209

Se considerarmos o “calor” como um dos componentes do equilíbrio,


um aumento da temperatura “adiciona” calor ao sistema, enquanto uma
diminuição da temperatura “remove” calor do sistema em equilíbrio.
De acordo com o princípio de Le Châtelier, assim como uma variação
de qualquer outro componente, o sistema irá deslocar no sentido de
minimizar a perturbação ocasionada pela variação imposta sobre o
equilíbrio. Dessa forma, um aumento na temperatura (“adição de calor”),
faz com que a reação seja deslocada no sentido endotérmico (absorve
o calor fornecido, diminuindo ligeiramente a temperatura e minimizando
a perturbação), e uma diminuição da temperatura (“remoção de calor”),
ocasiona o deslocamento do equilíbrio no sentido exotérmico (libera calor,
aumentando, ligeiramente, a temperatura e minimizando a perturbação).
Dessa forma, podemos concluir que:

• um aumento de temperatura aumentará o valor de Kc para um


sistema com ΔH > 0;
• um aumento de temperatura diminuirá o valor de Kc para um
sistema com ΔH < 0.

Observe o exemplo a seguir:


Endotérmico
→
N 2( g ) + O2( g ) ← 2 NO( g ) DH =+180, 5kJ
Exotérmico

A tabela, a seguir, apresenta o que acontece com a constante de equilíbrio


quando aumentamos a temperatura.

Constante de Equilíbrio Temperatura (°C)

4,5 x 10­31 25

6,7 x 10­10 627

1,7 x 10­3 2027

Observe que, à medida que a temperatura aumenta, o valor de Kc


também aumenta, pois a reação direta é endotérmica.
210 UNIUBE

7.7.4 Efeito do catalisador

É muito comum ter uma confusão de conceitos com relação ao papel


do catalisador sobre o equilíbrio químico. O catalisador não desloca o
equilíbrio químico nem para um lado nem para outro, pois o papel do
catalisador é fornecer um caminho alternativo para a reação química,
através da diminuição da energia de ativação (Ea).

A mesma quantidade que o catalisador diminui a energia de ativação


da reação direta, ele diminui também para a reação inversa, não
favorecendo, assim, uma ou outra reação. O único papel do catalisador
sobre um equilíbrio químico é fazer com que o mesmo seja atingido em
um intervalo menor de tempo.

0,10
I
Concentração em mol/L

0,08
II
0,06
III

0,04
IV
0,02

0,00
0 1 2 3 4 5 6
tempo em unidades arbitrárias
Figura 2: Curva para reações catalisadas e não catalisadas.
Fonte: Natal Junio Pires.

Na Figura 2, as curvas I e IV (reação catalisada) correspondem à mesma


reação representada pelas curvas II e III (reação não catalisada). Observe
que o equilíbrio é atingido primeiro para a reação catalisada, porém, as
concentrações finais são as mesmas em ambas as situações.

7.8 Conclusão
Estudamos, neste capítulo, o comportamento de diferentes reações
químicas que se encontram em equilíbrio, prevendo como podemos
influenciar nas velocidades e rendimentos dessas reações, buscando
a melhor eficiência possível, aplicando os conceitos físico-químicos.
UNIUBE 211

Na Tabela 1, está mostrado um resumo de como podemos influenciar


diretamente ou indiretamente no equilíbrio químico, com base nos
conteúdos apresentados neste capítulo.

Tabela1: Variáveis de um equilíbrio químico e suas consequências

Reação do Efeito sobre o Efeito


Perturbação
equilíbrio equilíbrio sobre Kc

Reagente é
Adição de reagente Desloca para a direita Nenhum
consumido

Reagente é Desloca para


Retirada de reagente Nenhum
formado a esquerda
Produto é Desloca para
Adição de produto Nenhum
consumido a esquerda
Retirada de produto Produto é formado Desloca para a direita Nenhum
Aumento da Desloca no sentido
Diminuição
pressão (diminuição de menor número Nenhum
da pressão
do volume) de mols gasosos

Diminuição da Desloca no sentido


Aumento da
pressão (aumento de maior número Nenhum
pressão
de volume) de mols gasosos

Aumento da pressão Nenhum


Nenhum efeito Nenhum
(adição de gás inerte) deslocamento

Aumento de “Calor” é Desloca no sentido


Varia
temperatura consumido endotérmico

Diminuição de Desloca no sentido


“Calor” é gerado Varia
temperatura exotérmico

Nenhum
Equilíbrio é deslocamento Reação
Catalisador atingido mais direta e inversa Não varia
rapidamente são favorecidas
igualmente

Referências
BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Forças
Equilíbrio Químico. In: _____. Química, a ciência central. 9. ed. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 15, p. 531-564
Capítulo Eletroquímica, parte I
8

Sebastião Francelino da Cruz

Introdução
Neste capítulo, iremos compreender como a energia química
é convertida em energia elétrica através das reações de
oxirredução. Você já teve contato com as reações de
oxirredução e os conhecimentos sobre número de oxidação
adquiridos anteriormente serão aplicados neste capítulo para o
balanceamento das reações de oxirredução e na identificação dos
agentes redutores e oxidantes. Nesse primeiro momento, iremos
nos concentrar no estudo das pilhas e de seus componentes e
no próximo capítulo iremos realizar um estudo dos processos de
corrosão, das reações de oxirredução não espontâneas (eletrólise)
e aplicar as reações de oxirredução na análise química elementar.
Portanto, nosso estudo sobre essa fascinante área da química
está apenas começando.

Bom trabalho a todos.

Objetivos
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• reconhecer uma reação de oxirredução;
• identificar o agente oxidante e o agente redutor em uma
reação de oxirredução;
• balancear reações de oxirredução que ocorrem em meio
ácido ou básico utilizando as semirreações;
• identificar o cátodo e o ânodo em uma pilha;
• compreender o funcionamento de uma célula eletroquímica;
214 UNIUBE

• calcular a diferença de potencial (ddp) em uma reação de


oxirredução;
• prever a espontaneidade das reações através do potencial
padrão de redução;
• relacionar a energia livre de Gibbs com a constante de
equilíbrio e o potencial padrão.

Esquema
8.1 O estudo das pilhas e de seus componentes
8.2 Balanceamento das reações de oxirredução
8.2.1 Balanceamento das reações de oxirredução em meio
ácido
8.2.2 Balanceamento das reações de oxirredução em meio
básico
8.3 Células eletroquímicas
8.4 Notação ou representação esquemática de célula eletroquímica
8.5 Potencial eletroquímico
8.5.1 Potencial eletroquímico padrão de eletrodo
8.5.2 Potencial eletroquímico fora das condições padrão
8.6 Pilha de concentração
8.6.1 Relação entre equilíbrio e potencial
8.7 Conclusão

8.1 O estudo das pilhas e de seus componentes

A eletroquímica é a parte da química que estuda as reações de transferência


de elétrons, ou seja, as reações de oxirredução. Neste sentido, a
eletroquímica estuda as reações químicas e o trabalho elétrico.

EXPERIMENTANDO

Para introduzirmos os conceitos sobre eletroquímica, vamos partir de um


experimento simples. Prepara-se uma solução sulfato de cobre pentaidratado
(CuSO4.5H2O) e coloca-se cerca de 50 mL em um copo de vidro. Coloca-­se
UNIUBE 215

um pedaço de esponja de aço no copo com a solução e observa-se por


alguns minutos. No decorrer do tempo, iremos notar que a solução de cobre
vai perdendo a cor azul e a esponja de aço vai ficando com uma coloração
avermelhada.

PARADA PARA REFLEXÃO

O que ocorreu no experimento descrito?

Ocorreu que os íons de cobre se depositaram sobre a esponja de aço na


forma de cobre metálico e o ferro foi para a solução na forma de íons. A
cor azul é característica dos íons cobre em solução aquosa. A equação
a seguir representa a reação ocorrida:

Fe( s ) + Cu(2aq+ ) → Fe(2aq+ ) + Cu( s )

Como você já teve contato com as reações de oxirredução anteriormente,


você pode perceber que ocorreu uma transferência de elétrons dos
átomos de ferro (Fe) para os íons Cu2+. Os íons cobre se depositam
na forma de cobre metálico sobre a esponja de aço, tornando-a
avermelhada. Por sua vez, os átomos de ferro saem da esponja para
a solução. Os elétrons que saem do ferro para o cobre podem ser
aproveitados em um circuito para gerar energia e, por exemplo, acender
uma lâmpada ou girar um motor elétrico.

Iremos, mais adiante, estudar as pilhas galvânicas ou células voltaicas,


que são dispositivos utilizados para gerar energia por meio de reações
espontâneas. Para que a reação possa ser utilizada para gerar energia,
um reagente cede elétrons para o outro reagente, ou seja, um se oxida
e o outro reduz-se.

IMPORTANTE!

As reações que precisam de energia para ocorrer também serão estudadas


no contexto da eletroquímica. O gás cloro, por exemplo, é obtido pela
eletrólise da água do mar.
216 UNIUBE

RELEMBRANDO

Vamos recordar alguns conceitos referentes às reações de oxirredução?

• Substância oxidada é aquela que perde elétrons, ou seja, o seu número


de oxidação aumenta.
• Substância reduzida é aquela que ganha elétrons, ou seja, tem seu
número de oxidação diminuído.
• Agente redutor é a substância que provoca redução, mas ele mesmo
sofre oxidação.
• Agente oxidante é a substância que provoca oxidação, mas ele mesmo
sofre redução.

Tomando como exemplo reação anterior, temos que:

O nox de ferro está aumentando, ou seja,


está sofrendo oxidação e portanto, é o agente
redutor

Fe(s) + Cu2+(aq) 

←
 Fe2+(aq) + Cu(s)

O nox do cobre está aumentando, ou seja,


está sofrendo redução e portanto, é o agente
oxidante.

Pela equação, podemos notar que o ferro perde dois elétrons e o cobre
recebe dois. A equação, desse modo, está balanceada. Vamos agora
aprender como balancear uma equação de oxirredução.

8.2 Balanceamento de equações de oxirredução


Balancear equações de oxirredução não é uma tarefa fácil. Vamos utilizar
aqui o método das semirreações. Uma equação de oxirredução pode ser
dividida em semirreações de oxidação e redução e a equação global, que
é a soma das duas semirreações, deve ser balanceada tanto nas cargas
quanto nas massas (conservação da massa e da quantidade de carga).
UNIUBE 217

Vamos tomar como exemplo a reação citada anteriormente. As duas


semirreações são:

• semirreação de oxidação: Fe( s ) + Fe(2aq+ ) → 2e –

• semirreação de redução: Cu(2aq+ ) + 2e – → Cu( s )

A soma das duas semirreações nos dá a equação global:

Fe( s ) → Fe(2aq ) + e –
Cu(2aq ) + e – → Cu( s )
Fe( s ) + Cu( aq ) + Cu( s )

Note que o ferro está perdendo dois elétrons e o cobre está recebendo
a mesma quantidade de elétrons. Caso isso não ocorra, teremos que
balancear as cargas. Vejamos outro exemplo.

Quando se coloca um fio de cobre em uma solução de nitrato de prata, a


solução, que é incolor, se torna azul com o tempo, devido aos íons Cu2+,
e aparece um depósito de prata sobre o fio. A reação ocorrida pode ser
representada pela equação química a seguir:

Cu( s ) + Ag (+aq ) → Cu(2aq+ ) + Ag ( s )

Nesse caso a equação está balanceada em massa, porém, as cargas


não estão balanceadas. Temos uma carga positiva nos reagentes e duas
cargas positivas nos produtos. Vamos balancear a equação?

Primeiro, separamos a equação em semirreações:


2+ –
• semirreação de oxidação: Cu( s ) + Cu( aq ) → 2e

• semirreação de redução: Ag (+aq ) + e – → Ag ( s )


218 UNIUBE

Como os elementos químicos já estão balanceados, vamos balancear os


elétrons multiplicando a semirreação de redução por 2.
2+ –
• semirreação de oxidação: Cu( s ) → Cu( aq ) + 2e
+ –
• semirreação de redução: 2 Ag ( aq ) + 2e → 2 Ag ( s )

Agora, é só somar as duas semirreações para obter a equação global.

Cu( s ) → Cu(2aq+ ) + 2e –
2 Ag (+aq ) + 2e – → 2 Ag ( s )
Cu( s ) + 2 Ag (+aq ) → Cu(2aq+ ) + 2 Ag ( s )

Assim, a equação global está balanceada, tanto em massa quanto em


carga.

8.2.1 Balanceamento de reações de oxirredução em meio ácido

Muitas reações de oxirredução ocorrem em meio ácido, e, nesse caso,


as moléculas de água e os íons H+ estão disponíveis no meio e devem
aparecer na equação que representa a reação ocorrida. Para balancear
uma equação desse tipo, temos alguns passos que facilitam o processo.
Vamos tomar como exemplo a reação que ocorre quando os íons
dicromato e iodeto entram em contato para formar cromo (III) e iodo .

Cr2O7(2–aq ) + I (–aq ) → Cr(3aq+ ) + I 2( s ) (em meio ácido)

Antes de começarmos nosso balanceamento, vamos relembrar as regras


para determinação do Nox, estudadas em momentos anteriores, sobre
as classes de reações químicas.

IMPORTANTE!

Vamos recordar as regras práticas para se determinar o número de oxidação


(Nox) das substâncias?
UNIUBE 219

IMPORTANTE!

a) Regras gerais

1) Para um átomo ou molécula em sua forma elementar (Fe, Na, O2, Cl2,
etc.): Nox = 0.
2) Para um íon monoatômico: Nox = carga do íon.
3) A soma dos valores de Nox para os átomos em um composto neutro
é igual a zero. A soma dos valores de Nox para um íon poliatômico é
igual à carga do íon.

b) Regras para átomos específicos ou grupos da tabela periódica


1) Para o grupo 1A (1): Nox +1 para todos os seus elementos.
2) Para o grupo 2A (2): Nox +2 para todos os seus elementos.
3) Para o hidrogênio: Nox +1 quando combinado com não-metais e Nox
–1 para todos os metais e boro.
4) Para o flúor: Nox –1 em todos os seus compostos.
5) Para o oxigênio: Nox – 2 em todos os compostos (exceto flúor) e Nox
– 1 nos peróxidos.
6) Para o grupo 7A (17): Nox – 1 em combinações com não metais (exceto
o oxigênio), metais e outros halogênios menores no grupo.

Continuando o balanceamento da reação que mencionamos, vamos


passo a passo

1) Determinar os Nox dos elementos das substâncias que compõem os


reagentes e produtos.

redução
+6 +3

2- - 3+ + I2(s)
Cr2O7(aq) + I(aq) Cr(aq)

oxidação
-1 0
220 UNIUBE

2) Divida a equação em semirreações de oxidação e redução.

• oxidação: I (–aq ) → I 2( s )
• redução: Cr2O7(2–aq ) → Cr(3aq+ )

3) Balanceie todos os elementos químicos com exceção do oxigênio e


do hidrogênio.

• oxidação: 2 I ( aq ) → I 2( s )
• reduação: Cr2O7(2–aq ) → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)

4) Balanceie os átomos de oxigênio com moléculas de água.



• oxidação: 2 I ( aq ) → I 2( s )
• redução: Cr2O7(2–aq ) → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)

5) Balanceie os átomos de hidrogênio colocando íons H+ do lado que


está faltando.

• oxidação: 2 I ( aq ) → I 2( s )
• reduação: 14 H (+aq ) + Cr2O7(2–aq ) → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)

6) Coloque e os elétrons nas semirreações. Lembre-se de que na


semirreação de oxidação os elétrons devem aparecer nos produtos e na
semirreação de redução nos reagentes.
– –
• oxidação: 2 I ( aq ) → I 2( s ) + 2e
• redução: 14 H (+aq ) + Cr2O7(2–aq ) + 6e – → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)

7) Balanceie as cargas igualando o número de elétrons nas duas


semirreações. Se precisar, multiplique as semirreações por números
inteiros.

Vamos multiplicar a semirreação de oxidação por 3 para igualar o número


de elétrons.
UNIUBE 221

• oxidação: 6 I (–aq ) → 3I 2( s ) + 6e –
• redução: 14 H (+aq ) + Cr2O7(2–aq ) + 6e – → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)

8) Some as duas semirreações para obter a equação global.

6 I (–aq ) → 3I 2( s ) + 6e –
Cr2O7(2–aq ) + 14 H (+aq ) + 6e – → 2Cr(3aq+ ) + 7 H 2O(1)
Cr2O7(2–aq ) + 6 I (–aq ) + 14 H (+aq ) → 2Cr(3aq+ ) + 3I 2( s ) + 7 H 2O(1)

Confira o balanceamento verificando a quantidade de átomos de cada


lado e as cargas.

Reagentes: 2 (Cr), 6 (I), 14 (H), 7(O), 6(+) → produtos: 2 (Cr), 6 (I), 14


(H), 7(O), 6(+)

AGORA É A SUA VEZ

1) Faça o balanceamento da reação química, a seguir, em meio ácido.

I 2( s ) + ClO(–aq ) → IO3(– aq ) + Cl(–aq )

IMPORTANTE!

Reação de oxirredução ou redox é uma reação em que ocorre a transferência


de elétrons de uma substância para outra.

8.2.2 Balanceamento de reações de oxirredução em meio básico

Se algumas reações podem acontecer em meio ácido, também podemos


encontrar reações que ocorrem em meio básico.

Neste caso, temos que colocar na equação química moléculas de água


e íons OH–. Veja o exemplo a seguir.
222 UNIUBE

O permanganato é um forte agente oxidante com várias aplicações,


inclusive em química analítica. Os íons permanganato reagem com íons
brometo para formar íon bromato e óxido de manganês (II) em meio
alcalino. A equação química a seguir representa a reação ocorrida.

MnO4–(aq) + Br-(aq) → MnO2(s) + BrO3–(aq)

1) Determinar os Nox dos elementos das substâncias que compõem os


reagentes e produtos.
redução
+7 +4

- -
MnO4(aq) + Br-(aq) MnO2(s) + BrO3(aq)

oxidação
-1 +5

2) Divida a equação em semirreações de oxidação e redução.


– –
• oxidação: Br( aq ) → BrO3( aq )
• reduação: MnO4(– aq ) → MnO2( s )

3) Balanceie todos os elementos químicos com exceção do oxigênio e


do hidrogênio.
– –
• oxidação: Br( aq ) → BrO3( aq )
• redução: MnO4(– aq ) → MnO2( s )

O manganês e o bromo já estão balanceados.


4) Balanceie os átomos de oxigênio com moléculas de água.
– –
• oxidação:3H 2O(1) + Br( aq ) → BrO3( aq )

• redução: MnO4( aq ) → MnO2( s ) + 2 H 2O(1)

5) Balanceie os átomos de hidrogênio colocando moléculas de água do


lado que está faltando hidrogênio e a mesma quantidade de íons OH– do
lado oposto.

• oxidação: 6OH (–aq ) + 3H 2O(1) + Br(–aq ) → Br3(– aq ) + 6 H 2O(1)


– –
• redução: 4 H 2O(1) + MnO4( aq ) → MnO2( s ) + 2 H 2O(1) + 4OH ( aq )
UNIUBE 223

6) Coloque os elétrons nas semirreações. Lembre-se de que na


semirreação de oxidação os elétrons devem aparecer nos produtos e na
semirreação de redução nos reagentes.

• oxidação: 6OH (–aq ) + 3H 2O(1) + Br(–aq ) → BrO3(– aq ) + 6 H 2O(1) + 6e –


– – –
• redução: 3e + 4 H 2O(1) + MnO4( aq ) → MnO2( s ) + 2 H 2O(1) + 4OH ( aq )

7) Balanceie as cargas igualando o número de elétrons nas duas


semirreações. Se precisar, multiplique as semirreações por números
inteiros.

Vamos multiplicar a semirreação de redução por 2, para igualar o número


de elétrons.

• oxidação: 6OH (–aq ) + 3H 2O(1) + Br(–aq ) → BrO3(– aq ) + 6 H 2O(1) + 6e –


• reduação: 6e – + 8 H 2O(1) + 2 MnO4(– aq ) → 2 MnO2( s ) + 4 H 2O(1) + 8OH (–aq )

8) Some as duas semirreações para obter a equação global.

6OH (–aq ) + 3H 2O(1) + Br(–aq ) → BrO3(– aq ) + 6 H 2O(1) + 6e –


6e – + 8 H 2O(1) + 2 MnO4(– aq ) → 2 MnO2( s ) + 4 H 2O(1) + 8OH (–aq )
2 MnO4(– aq ) + Br(–aq ) + H 2O(1) → 2 MnO2( s ) + BrO3(– aq ) + 2OH (–aq )

Confira o balanceamento verificando a quantidade de átomos de cada


lado e as cargas.

Reagentes: 2 (Mn), (Br–), 2 (H), 9(O), 3(–) → produtos: 2 (Mn), (Br–), 2


(H), 9(O), 3(–)

AGORA É A SUA VEZ

2) Faça o balanceamento da reação química, a seguir, em meio básico.

Pb ( OH )4( aq ) + ClO(–aq ) → PbO2( s ) + Cl(–aq )


2–
224 UNIUBE

8.3 Células eletroquímicas

As células eletroquímicas podem ser galvânicas, também chamadas de


voltaicas ou eletrolíticas. As células eletrolíticas serão abordadas em outro
momento. As células voltaicas ou galvânicas são dispositivos que utilizam
as reações de oxirredução espontâneas para gerar energia elétrica. As
baterias são geralmente compostas por várias células galvânicas. Os
nomes são em homenagem a dois cientistas, Alessandro Volta e Luigi
Galvani.

Para exemplificar o funcionamento de uma pilha, vamos nos basear na


pilha descrita na Figura 1:

Figura 1: Célula voltaica que usa uma ponte salina para completar o circuito elétrico.
Fonte: Brown, LeMay e Bursten Júnior (2005, p.729).

Na pilha esquematizada na figura anterior, temos dois compartimentos


separados fisicamente. No compartimento da esquerda, temos uma barra
de zinco, a qual chamamos de eletrodo, mergulhada em uma solução de
sulfato de zinco 1 M, chamada de solução eletrolítica. No compartimento
da direita, temos uma barra de cobre mergulhada em uma solução de
sulfato de cobre 1 M. Os dois eletrodos estão interligados por um fio que
passa por um medidor de voltagem (voltímetro). Os dois compartimentos
ou meias-células estão interligados por uma ponte salina, que, nesse caso,
possui uma solução saturada de cloreto de potássio, que permite a troca
UNIUBE 225

de íons na solução. Na ponte salina, o cátion (K+) se move em direção ao


cátodo e o ânion (Cl–) se move em direção ao ânodo. Em alguns casos
as duas soluções podem ser separadas por uma barreira semipermeável.

Em uma célula eletroquímica os eletrodos são nomeados de ânodo e


cátodo. O ânodo é o eletrodo no qual ocorre a oxidação e o cátodo é o
eletrodo onde ocorre a redução. Como um elemento que sofre oxidação
perde elétrons e o que sofre redução recebe, o fluxo dos elétrons é do
ânodo para o cátodo. A reação que ocorre na pilha é a seguinte:
2+ –
Ânodo, oxidação: Zn( s ) → Zn( aq ) + 2e
Cátodo, redução: Cu(2aq+ ) + 2e – → Cu( s )

Como podemos ver pelas duas semirreações, à medida que a reação


ocorre, a barra de zinco vai sendo corroída, ou seja, o zinco vai para
solução na forma de íon, Zn2+. O íon cobre sai da solução para se
depositar na barra na forma de cobre metálico. Com isso a solução de
cobre vai ficando mais diluída e a de zinco mais concentrada.

IMPORTANTE!

Você observará que no ânodo sempre ocorrerá oxidação tanto na pilha


quanto na eletrólise e no cátodo sempre ocorrerá à redução tanto na pilha
quanto na eletrólise. Veremos, posteriormente, que ocorre uma inversão de
polaridade (sinal) dos eletrodos da pilha para a eletrólise.

8.4 Notação ou representação esquemática de célula eletroquímica


Existe um esquema para a representação simplificada de uma célula
eletroquímica. Por exemplo, a célula apresentada anteriormente pode
ser representada da seguinte forma:

Zn / Zn 2+ (1mol / L) / /Cu 2+ (1mol / L) / Cu


Poderíamos também representar a célula galvânica anterior da seguinte
forma:
Zn / ZnSO4 (1mol / L) / /CuSO4 (1mol / L) / Cu
226 UNIUBE

Do lado esquerdo representa-se o ânodo e do lado esquerdo o cátodo.


Uma linha vertical simples indica um limite entre as fases, ou interfaces.
A linha dupla indica que os dois compartimentos estão interligados por
uma ponte salina. Se no eletrodo os componentes estiverem no mesmo
estado físico, eles são separados por uma vírgula.

Fe2+, Fe3+

A notação da célula pode também indicar a presença de um eletrodo


inerte, ou seja, que não sofre reação. Vamos ver como exemplo a célula
voltaica com o elemento hidrogênio:

2 F(3aq+ ) + H 2( g ) → 2 Fe(2aq+ ) + 2 H (2aq+ )


Pt / H 2 ( g , P = 1atm) / H + (aq,1,0mol / L) / / Fe2+ (aq,1,0mol /) / Pt

AGORA É A SUA VEZ

Escreva a equação global representada pelo esquema de célula representado,


a seguir:

Al/Al3+(1 mol/L) //Zn2+(1mol/L)/Zn

8.5 Potencial eletroquímico


As células eletroquímicas produzem diferentes potenciais que dependem
das reações ocorridas. O potencial de uma célula é dado pela diferença
de energia potencial dos eletrodos, sendo mais alta no ânodo do que no
cátodo. A energia produzida por uma célula é dada em volt (V). Um volt
(V) é definido como a diferença de potencial necessária para fornecer 1J
de energia para uma carga de 1 coulomb (C).

A diferença de potencial (ddp) indica a força eletromotriz (fem) com que


os elétrons são empurrados em direção ao cátodo. Para os processos
espontâneos, a diferença de potencial é sempre positiva. No exemplo da
pilha de cobre­zinco, a diferença de potencial é igual a +1,10 V. Na prática,
utilizamos um voltímetro para medir a ddp de uma célula galvânica.
Vimos, através do estudo da termodinâmica, que a energia interna pode
ser alterada pelo calor absorvido ou liberado, ou pelo trabalho. Em uma
UNIUBE 227

célula eletroquímica, a variação de energia interna é dada pelo trabalho


elétrico realizado:
Wmax = nFE

Nesse caso, estamos considerando um sistema ideal, sem perda de


calor. A quantidade nF indica a corrente elétrica transferida de um
eletrodo para outro.

A energia livre de Gibbs (∆G) está relacionada com o potencial elétrico;


isso pode ser verificado pela seguinte expressão:
DG =−n.F .E

O sinal negativo indica uma diminuição na energia interna. O ∆G nos


fornece informações importantes sobre a espontaneidade das reações
químicas.

Na equação, n é o número de elétrons transferidos e F, a constante de


Faraday. A constante de Faraday possui um valor de 96485 C.mol–1.
Note que, quando E > 0, o valor de ∆G < 0, indicando que o processo é
espontâneo. Nas condições padrão de uma célula, as soluções estão a
1 mol.L–1, e a pressão dos gases é igual a 1 bar. Quando trabalhamos
com ∆G0 (padrão), o potencial é representado por E0, ou seja, potencial
padrão da célula. O valor de ∆G0 depende do coeficiente estequiométrico,
enquanto que o E0 é independente.

REGISTRANDO

Bar (unidade de pressão); 1 bar = 100 KPa.

8.5.1 Potencial eletroquímico padrão de eletrodo

Quando medimos o potencial de uma célula a 25 ºC, e os reagentes


nas condições padrão especificadas anteriormente, o potencial obtido é
denominado potencial padrão de célula, E0(célula). O potencial padrão da
célula é dado por:
0
E=
( célula ) E(0cátodo ) − E(0ânodo )
228 UNIUBE

O potencial da pilha, Zn/Zn2+ (1 mol/L) //Cu2+(1mol/L)/Cu é dado por:

E 0 =ECu
0
2+
/ Cu
− E 0 Zn / Zn2+ =1,10V

O problema desse cálculo é que não podemos conhecer o potencial de


cada eletrodo, ou de cada semirreação. Para fins de cálculos, foi definido
arbitrariamente como potencial padrão igual a zero o eletrodo­padrão de
hidrogênio (EPH). Esse eletrodo serve de referência para determinarmos
o potencial de outros eletrodos, uma vez que seu valor é igual a zero. A
Figura 2 mostra o eletrodo padrão de hidrogênio conectado a qualquer
outro eletrodo.

Figura 2: O eletrodo padrão de hidrogênio (EPH) é usado como eletrodo de referência. (a)
Um EPH consiste em um eletrodo com Pt finalmente dividido em contato com H2(g) a 1 atm de
pressão e solução ácida com [H+] = 1 mol/L. (b) Representação molecular dos íons recebe um
elétron do eletrodo de Pt e são reduzidos e átomos de H. Os átomos de H se ligam para formar H2.
Quando EPH é o ânodo de uma célula, o processo inverso ocorre: uma molécula de na superfície
do eletrodo impede dois elétrons e é oxidada a H+. Os íons H+ em solução são hidratados.

Fonte: Brown, LeMay e Bursten Júnior (2005, p. 733).

Ao medirmos o potencial de uma célula formada pelo eletrodo de zinco e


o eletrodo de hidrogênio, obtemos um potencial igual a 0,76 Volts.

E0(célula) = E0(cátodo) – E0(ânodo)

0,76 V = E0H+/H2 – E0Zn/Zn2+

0,76 V = 0 – E0Zn/Zn2+

E0(Zn/Zn2+) = – 0,76 Volts (potencial padrão de redução)


UNIUBE 229

Portanto, o valor do potencial de redução para o eletrodo de zinco é


igual a 0,76 V. Sabendo-se o potencial padrão para o eletrodo de zinco,
podemos determinar o potencial padrão para o eletrodo de cobre.
E0(célula) = E0(cátodo) – E0(ânodo)
1,10 V = E0(Cu2+/Cu) – E0(Zn/Zn2+)
1,10 V = E0(Cu2+/Cu) – (– 0,76 V)
E0(Cu2+/Cu) = + 0,34 V (potencial padrão de redução)

Vários valores de potencial são tabelados nas condições padrão. Esses


valores podem ser positivos ou negativos. Quanto mais negativo for o
potencial de redução, maior vai ser a tendência de a semirreação perder
elétrons. Um potencial muito positivo indica que a semirreação possui a
tendência de puxar elétrons, ou seja, de redução.

Quando compararmos duas semirreações, a que tiver o menor potencial


de redução irá oxidar, enquanto a outra irá reduzir. Portanto, o cátodo
possui um potencial de redução maior e o ânodo possui um potencial de
redução menor.

Tabela 1: Potenciais padrão de redução de algumas espécies químicas


Semirreação Eº (v )
Li+ + e­– → Li – 3,05
K+ + e­ → K ­– 2,92
Ba2+ + 2e­– → Ba – 2,90
Ca2+ + 2e­ → Ca – 2,76
Na+ + e­– → Na ­– 2,71
Mg2+ + 2e­– → Mg ­– 2,38
Al3+ + 2e­– → Al ­ 1,67

Mn2+ + 2e­– → Mn ­– 1,03
2H2O + 2e­– → H2 + 2OH­– ­– 0,83
Zn2+ + 2e­– → Zn ­ 0,76

Cr3+ + 3e­– → Cr ­– 0,74
Fe2+ + 2e­– → Zn ­– 0,44
PbSO4 + 2e­– → Pb + SO42–­ ­– 0,36
Ni2+ + 2e­– → Ni ­ 0,25

Sn2+ + 2e­– → Sn ­– 0,14
Pb2+ + 2e­– → Pb ­– 0,13
Fe3+ + 3e­– → Fe – 0,04
2H+ + 2e­– → H2 0,00
Cu2+ + 2e–­ → Cu + 0,34
Cu+ + e­– → Cu + 0,52
Fe3+ + e­– → Fe2+ + 0,77
Ag+ + e­– → Ag + 0,80
Hg22+ + 2e­– → 2Hg + 0,80
O2 + 4H+ + 4e–­ → 2H2O + 1,23
Au3+ + 3e­– → Au + 1,50
230 UNIUBE

Os elementos, na parte inferior da tabela, são fortes agentes oxidantes,


enquanto os da parte superior, são fortes agentes redutores.

AGORA É A SUA VEZ

Com base nas semirreações, a seguir, monte a pilha que possui a maior
força eletromotriz.

I) Cu2+ + 2e–­→ Cu E0Red = + 0,34 V

II) Ni2+ + 2e–­→ Ni E0 = + 0,25 V

III) Cr2+ + 2e–­→ Cr E0Red = + 0,74 V

8.5.2 Potencial eletroquímico fora das condições padrão

Até agora, trabalhamos com células eletroquímicas que funcionam


em condições padrão. Porém, na realidade, na maioria das vezes,
trabalharmos com células eletroquímicas fora das condições padrão.

Durante o funcionamento de uma célula galvânica, os reagentes são


convertidos em produtos e, portanto, sua concentração vai diminuindo
no decorrer do processo. Walther Hermann Nernst, em seus estudos,
determinou uma relação para calcular o potencial de uma célula fora das
condições padrão.

A dependência do potencial da célula com a concentração está relacionada


com a variação da energia livre. Temos que:

∆G = ∆G° + R.T.lnQ

Na equação, R é a constante dos gases ideais, T a temperatura em graus


Kelvin e Q é o quociente de reação. Vimos, anteriormente, que:

∆G = – n.F.E

e, assim, temos que:


– n.F.E= – n.F.E° + R.T.lnQ
UNIUBE 231

E, desse modo, chegamos à equação de Nernst:


RT
E E0 −
= .lnQ
nF

A equação, geralmente, é expressa em termos de logaritmo na base 10.


Como, temos que: lnX = – 2,303 logX
2,303RT
Logo: E E0 −
= .logQ
nF

Substituindo, T = 298 K, R = 8,31451 J/K.mol e F = 9,6485309 x104 J/V.


mol, obtemos a seguinte relação válida para a temperatura indicada:
0, 059V
E E0 −
= .log Q a 25 oC
n

Vamos supor que uma célula eletroquímica esteja operando a 25 °C e


que as concentrações de Zn2+ e Cu2+ sejam, respectivamente, iguais
a 0,025 mol/L e 1,5 mol/L. A partir da equação de Nernst, podemos
determinar o potencial da pilha nessas condições.

Zn/Zn2+ (0,025 mol/L) // Cu2+ (1,5mol/L)/Cu

A partir da tabela de potencial padrão de redução, calcula-­se:

=E 0 ECu
0
2+
/ Cu
− E 0 Zn / Zn2+
0
E= = 1,10 V
0,34 − (−0, 76)

Com base no Eº e o número de elétrons transferidos (n = 2), calculamos


o potencial da pilha através da equação de Nernst.

0, 059 V
E E0 −
= log Q
n
0 0, 059V  Zn 2+ 
E E −
= log
n Cu 2+ 

=E 1,10V −
0, 059V
log
( 0, 025)
2 1,5
E =1,10V + 0, 05V =1,15V
232 UNIUBE

AGORA É A SUA VEZ

5) Calcule o potencial para a pilha formada por alumínio e níquel a 25 °C,


nas condições especificadas.

Al/Al3+(0,0012 mol/L)//Ni2+(0,8 mol/L)/Ni

8.6 Pilha de concentração

Até agora, estamos trabalhando com pilhas que possuem dois eletrodos
diferentes. No entanto, é sabido que uma diferença de concentração
gera uma diferença de potencial, mesmo que os eletrodos sejam iguais.

Considere a pilha representada no esquema a seguir:

Figura 3: Pilha de concentração, com eletrodos de cobre em solução


aquosa de sulfato cúprico (CuSO4) em diferentes concentrações.
Fonte: Sebastião Francisco da Cruz e Silvio César Silva.

Ânodo : Cu( s ) → Cu(2aq+ ) + 2e – Ered


0
–0,34V
=
Cátodo : Cu(2aq+ ) + 2e – → Cu( s ) Ered
0
+0,34V
=
UNIUBE 233

O potencial padrão da pilha é igual a zero:

=E 0 ECu
0
2+
/ Cu
− E 0Cu 2+ / Cu
0
E= = 0, 0V
0,34 − (+0,34)
Porém, a concentração nos dois compartimentos é diferente, uma
diferença de potencial é observada no voltímetro. O potencial observado
pode ser calculado por meio da equação de Nernst, considerando a
solução mais diluída como ânodo e a solução mais concentrada como
cátodo.
Ânodo : Cu( s ) → Cu(2aq+ ; diluída ) + 2e –
Cátodo : Cu(2aq+ ; concentrada ) + 2e – → Cu( s )
Global : Cu(2aq+ ; concentrada ) → Cu(2aq+ ; diluída )

0, 059V
E E0 −
= log Q
n
0, 059V Cu(2aq+ ; diluída ) 
E E0 −
= log  2+
n Cu( aq ; concentrada 

E= 0 −
0, 059V
log
( 0, 001)
2 (1, 0 )
E = 0, 0885V

A pilha gera uma diferença de potencial de 0,0885 V, mesmo os eletrodos


sendo iguais. Com o funcionamento da pilha, as concentrações vão se
igualar e o potencial cai a zero, porque o valor de Q se torna igual a 1.

8.6.1 Relação entre equilíbrio e potencial

O funcionamento da pilha não é perpétuo, ou seja, com o funcionamento


os reagentes são convertidos em produtos e ao final o potencial da pilha
se torna zero quando ela é descarregada. Se o potencial se torna zero, a
variação da energia livre de Gibbs (DG) também é igual a zero uma vez
que DG = – nFE e DG0 = – nFe0, ou seja, as reações estão em equilíbrio.
Portanto, quando a célula entra em equilíbrio, temos:
2,303RT
0 E0 −
= log K eq
nF
234 UNIUBE

A uma temperatura de 25 °C temos:

0, 059
0 E0 −
= log K eq
n
nE 0
log K eq =
0, 059

Propriedade matemática:

Se log x = y, portanto temos que x = 10 y

Assim temos que a constante de equilíbrio é dada por:

nE 0

K eq = 10 0,059

Para a reação entre zinco e cobre a constante de equilíbrio é igual a:


2 x1,10

K eq = 10 0,059

K eq = 1,94 x1037

Tabela 2: Relação entre a energia livre de Gibbs, constante de equilíbrio e o potencial

Energia livre Constante de Situação da reação


Potencial­padrão
de Gibbs equilíbrio nas condições­padrão

Espontânea no
∆G < 0 Keq > 1 E0 < 0
sentido direto
∆G = 0 Keq = 1 E0 = 0 Em equilíbrio
Não espontânea
∆G > 0 Keq < 1 E0 > 0
no sentido direto

8.7 Conclusão

Vimos, neste, capítulo as reações que ocorrem com transferência de


elétrons, oxirredução, com variação do número de oxidação (Nox). Em um
dispositivo eletroquímico apropriado, pilha, essa transferência de elétrons
representa a transformação, espontânea, da energia química em energia
UNIUBE 235

elétrica. Nessas reações eletroquímicas, o número de elétrons doados


pelo redutor (sofre oxidação) é igual ao número de elétrons recebidos
pelo oxidante (sofre redução). Baseado nesse equilíbrio de cargas e no
princípio da conservação de massa podemos fazer o balanceamento
das reações de oxirredução, tanto em meio ácido como em meio básico.
Outro fato importante é o potencial do eletrodo, que mede a tendência
de uma determinada espécie química em oxidar ou reduzir, variando em
função das condições do meio reacional (concentração).

As reações eletroquímicas podem se processar de forma espontânea


ou não espontânea. Um parâmetro físico-químico ou termodinâmico
indispensável para prever a espontaneidade dessas reações eletroquímicas
é a relação entre a energia livre de Gibbs (∆G), a constante de equilíbrio
(keq) e o potencial padrão (E°). Essa relação encontra-se detalhada na
Tabela 2 deste capítulo.

Referências

BROWN, T; LE MAY H.; Química: A ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson / Prentice
Hall, 2005.

ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de Química: questionando a vida moderna e o meio


ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
Capítulo
Eletroquímica Parte II
– Eletrólise: conceito
9
e aplicações

Cláudio Henrique Chadu Santos


Daniel Pasquini

Introdução
Tendo iniciado os nossos estudos sobre Eletroquímica, você pôde
compreender como a energia química é convertida em energia
elétrica através das reações de oxirredução. Você, já estudou
sobre as pilhas e seus componentes.

Neste capítulo, iremos dar continuidade ao estudo da eletroquímica,


abordando as reações de oxirredução não espontâneas (eletrólise)
e suas aplicações no dia a dia. E, para finalizar o estudo sobre
eletroquímica, iremos estudar dois tópicos especiais: células a
combustível e corrosão.

PARADA OBRIGATÓRIA

1) Procure rever os principais conceitos estudados, tais como:


reações de oxirredução; agente redutor e agente oxidante; cátodo e
ânodo; célula eletroquímica; espontaneidade de reações, e registre-
os no esquema abaixo.

Reagentes de oxirredução __________________________________


Agente redutor ___________________________________________
Agente oxidante __________________________________________
Cátodo e ânodo __________________________________________
Célula eletroquímica ______________________________________
Espontaneidade de reações ________________________________
238 UNIUBE

Objetivos
Ao final deste capítulo, você será capaz de:
• compreender o conceito de eletrólise;
• entender as diferenças entre uma célula galvânica e uma
célula eletrolítica;
• identificar, compreender e distinguir os diferentes processos
de eletrólise;
• estudar a lei de Faraday que rege a parte quantitativa dos
fenômenos ligados à eletrólise;
• conhecer as diversas aplicações da eletrólise no nosso
cotidiano;
• compreender o conceito de corrosão e como evitá-la;
• conhecer o funcionamento de uma célula a combustível.

Esquema
9.1 Eletrólise
9.2 Eletrólise ígnea
9.2.1 Eletrólise ígnea em solução aquosa
9.3 Lei de Faraday
9.4 Aplicações da eletrólise
9.5 Tópicos especiais em eletroquímica
9.5.1 Células a combustível
9.5.2 Aplicações da célula a combustível
9.6 Corrosão
9.6.1 Classificação quanto ao meio
9.6.2 Classificação quanto à natureza
9.6.3 Classificação quanto à morfologia
9.6.4 Velocidade da corrosão
9.6.5 Polarização e passivação
9.6.6 Eletrólitos e a corrosão
9.6.7 Prevenção contra a corrosão
9.7 Conclusão
UNIUBE 239

9.1 Eletrólise

A eletrólise é um processo eletroquímico, caracterizado pela ocorrência


de reações de oxirredução em uma solução condutora quando se
estabelece uma diferença de potencial elétrico entre dois (ou mais)
eletrodos mergulhados nessa solução. Vale lembrar que a denominação
solução eletrolítica, empregada para designar qualquer solução aquosa
condutora de eletricidade, deriva justamente desse processo. Mas antes
de aprofundarmos neste tipo de célula, vamos recordar um pouco sobre as
células galvânicas, vistas anteriormente. Vejamos o esquema de uma pilha:

Figura 1: Célula galvânica.


Fonte: Sebastião Francelino da Cruz e Silvio César Silva.

Vamos recordar alguns pontos importantes deste esquema?

• Pode-se notar que os eletrodos de zinco e cobre estão em recipientes


diferentes, mergulhados em soluções de sulfato de zinco e sulfato de
cobre I, respectivamente.
• Nota-se que o fluxo de elétrons vai do eletrodo de zinco (que chamamos
de ânodo) para o de cobre (que chamamos de cátodo).
• Em uma pilha o ânodo oxida (perde elétrons) e o cátodo reduz (ganha
elétrons).
• Para que ocorra esta transferência de elétrons, é necessária uma
ponte salina, que consiste numa solução concentrada de cloreto de
potássio (KCl) e que permite a troca de íons na solução.
240 UNIUBE

• E o mais importante, nas células galvânicas a transferência de elétrons


ocorre espontaneamente, ou seja, os elétrons fluem do ânodo para o
cátion, devido à diferença na energia potencial, que é maior no ânodo.
Portanto, nas células galvânicas, utilizam-se reações químicas a fim
de gerar eletricidade.

Assim, com essas considerações que acabamos de relembrar, podemos


agora voltar ao estudo da eletrólise.

O arranjo dos componentes na célula eletrolítica é diferente do da célula


galvânica. Os dois eletrodos usualmente estão no mesmo compartimento,
e há somente um tipo de eletrólito; as concentrações e as pressões são
normalmente distantes das condições padrão.

Como em uma célula galvânica a oxidação ocorre no ânodo e a redução


ocorre no cátodo, os elétrons passam por um fio externo do ânodo para o
cátodo, os cátions movem­se por meio do eletrólito na direção do cátodo,
e os ânions, na direção do ânodo. Mas, em vez da corrente espontânea
da célula galvânica, na eletrólise uma corrente deve ser fornecida por
uma fonte elétrica externa. Esta corrente movimenta os elétrons pelo fio
em uma direção predeterminada, forçando a oxidação em um eletrodo
e a redução no outro.

Portanto, em uma célula eletrolítica, a corrente é fornecida por uma fonte


externa e usada para forçar uma reação não espontânea. Vejamos o
esquema de uma eletrólise:

Figura 2: Célula eletrolítica.


Fonte: Sebastião Francelino da Cruz e Silvio César Silva.
UNIUBE 241

Podemos observar também alguns pontos que são características de


uma célula eletrolítica:

• os eletrodos estão na mesma solução aquosa de cloreto de sódio


ou fundido sem nenhuma barreira física.
• assim como na pilha, na eletrólise o ânodo sofre oxidação (perda
de elétrons) e o cátodo, redução (ganho de elétrons).
• mas podemos notar uma inversão dos polos dos eletrodos, o ânodo
possui carga positiva (+) e o cátodo carga negativa (–). Isso ocorre
porque a eletrólise consiste em um processo não espontâneo, ou
seja, de acordo com a figura anterior, podemos perceber que existe
nesta célula uma fonte de voltagem que fornece energia elétrica,
promovendo as reações de oxirredução.

A eletrólise é o processo de forçar uma reação a ocorrer na direção não


espontânea pelo uso de uma corrente elétrica.

Uma célula eletrolítica é uma célula eletroquímica na qual a eletrólise


ocorre.

O entendimento da eletrólise só é possível se conhecermos comportamento


de todas as substâncias envolvidas no processo, pois cada substância se
comporta de determinada maneira quando em solução e, em especial,
quando uma corrente elétrica atravessa essa solução.

EXPERIMENTANDO

Por exemplo, você saberia dizer por que a água deve ser acidulada para a
eletrólise, com algumas gotas de ácido sulfúrico ou nítrico, e não com ácido
clorídrico?

Vamos às condições do experimento, supondo que a cuba (recipiente)


contenha água pura. Como sabemos, a água pura não é condutora
de eletricidade, e, portanto, devemos adicionar a essa água alguma
substância de modo a obter uma solução condutora.

Vamos, então, acidular essa água (adicionar ácido), conforme as instruções.


242 UNIUBE

Ácidos, pela definição de Arrhenius, são substâncias que, em solução


aquosa, liberam apenas um tipo de cátion, o H+. Essa definição não
traduz exatamente o que ocorre na realidade, mas é suficiente para
escrevermos as equações simplificadas da eletrólise e, assim, desvendá-la.

Pois bem, quando um ácido entra em solução aquosa, sofre ionização,


liberando nessa solução cátions H+ e, com o “desmonte” da molécula,
liberam-se também ânions (os ânions que lhe dão nome, que diferem, é
claro, de um ácido para outro). Tomemos uma solução de ácido nítrico
(veja a Figura 3), por exemplo:

Figura 3: Célula eletrolítica.


Fonte: Sebastião Francelino da Cruz e Silvio César Silva.

Como se observa, o ânion nitrato (que dá nome ao ácido nítrico), com a


ionização, separa­se do cátion H+. Esses íons (cátions e ânions) possuem
grande mobilidade, e são eles os responsáveis pelo transporte de carga
elétrica através da solução quando a corrente começa a circular.

A água, por sua vez, também apresenta um comportamento um tanto


especial: está sempre se “descombinando” e se recombinando, de modo
que sempre há um pequeno número de moléculas, em qualquer amostra
de água, que se apresenta decomposta da seguinte maneira:

 H + + OH –
H 2O 
UNIUBE 243

Observemos, então, a Figura 3, supondo a fonte de baixa tensão (6 volts


de corrente contínua) já em funcionamento: os cátions (íons positivos)
são atraídos para o eletrodo negativo (cátodo), enquanto os ânions
provenientes do ácido (NO3–)­ e da própria água (OH–) são atraídos para
o eletrodo positivo (ânodo).

Vamos analisar o que acontece no eletrodo negativo. Carregado de


elétrons, por ação da fonte CC (corrente contínua), o cátodo começa a
transferir esses elétrons para os íons H+, que passam então para a forma
H0 (reação de redução). Nessa forma, porém, o elemento hidrogênio
não é quimicamente estável, e, assim, buscando a estabilidade química,
esses átomos começam a se combinar entre si, formando moléculas de
gás hidrogênio (H2). É fácil ver as bolhas de gás se formando junto ao
eletrodo – e se acumulando na parte mais alta do tubo de ensaio, já que
este se encontra emborcado sobre o eletrodo. A reação pode ser escrita,
de forma simplificada, da seguinte maneira:

2 H + + 2e – → H 2 ↑ (a seta indica liberação de gás hidrogênio)

O eletrodo positivo, simultaneamente, começa então a absorver os


elétrons “em excesso” dos ânions próximos, fechando, assim, o circuito
– enquanto os elétrons circulam nos condutores, são os íons que
transportam as cargas elétricas na solução, pois elétrons não sabem
“nadar”, levando-as aos eletrodos. Como se vê, a função da fonte CC é,
na prática, retirar elétrons dos ânions (oxidação) e entregá-los aos cátions
(redução). (Lembre-se: oxidar-se é perder elétrons).

Analisemos, agora, a reação ocorrida no ânodo. Para que possamos


entendê-la, faz-se necessário um esclarecimento: os ânions apresentam
uma ordem de prioridade para entregarem seus elétrons ao ânodo
(ordem de descarga) e, no caso, o ânion OH– (hidroxila) tem prioridade
sobre o NO3– (radical nitrato).

IMPORTANTE!

Em geral, temos: ânions oxigenados (por exemplo, NO3–) descarregando-se


depois da hidroxila, enquanto que ânions são oxigenados (por exemplo, Cl–)
descarregam-se antes da hidroxila.
244 UNIUBE

E é graças à prioridade da hidroxila sobre o radical nitrato (ânion


oxigenado), nas condições do experimento, que será possível a obtenção
do gás oxigênio (O2), no ânodo, segundo a seguinte reação (oxidação):

2OH – + 2e – → 1/ 2O2 ↑ + H 2O

Perceba que não faz diferença escrevermos Oo (elemento oxigênio) ou ½


O2 (gás oxigênio), pois o que se deseja, quando se escreve uma equação
química, é apenas exprimir proporcionalidade, significando, nesse caso,
que são necessários 2 mols de átomos do elemento oxigênio (Oo) para
formar 1 mol de moléculas de oxigênio gasoso O2; logo, são necessários
4 mols de íons hidroxila para a formação de 1 mol de moléculas de gás
oxigênio (para visualizar melhor essa proporcionalidade, basta multiplicar
ambos os membros da equação do ânodo por 2).

Além disso, cabe destacar que a formação do elemento oxigênio (Oo) é


uma etapa intermediária da formação do gás oxigênio (O2), e, por isso,
usualmente, é omitida quando escrevemos a reação do ânodo, na qual
são apresentados apenas os produtos finais.

PARADA PARA REFLEXÃO

De posse desse conhecimento, podemos então responder ao desafio


formulado na descrição do experimento: por que não seria adequado
utilizarmos o ácido clorídrico, em solução aquosa, para eletrolisar a água?

A resposta é simples: ao sofrer ionização, o ácido clorídrico (HCl) liberaria


na solução cátions H+ (o que está de acordo com o objetivo de obter gás
hidrogênio, no cátodo) mas, em contrapartida, liberaria também ânions
cloreto (Cl). Ora, sendo o cloreto um ânion não oxigenado, este se
descarregaria antes da hidroxila, e teríamos a formação de gás cloro (Cl2)
no ânodo. Esse processo seria útil se quiséssemos mesmo obter cloro
gasoso, mas fica claro que, acidulando-se a água com ácido clorídrico,
só seria possível eletrolisar (decompor) o ácido – e não a água, como se
deseja para o experimento proposto.
UNIUBE 245

AGORA É A SUA VEZ

2) Responda às questões apresentadas a seguir.

• Em uma célula eletrolítica, a oxidação ocorre no cátodo ou no ânodo?


• O ânodo é o eletrodo positivo ou negativo?
• Em uma célula eletrolítica, os ânions migram para o ânodo ou para o
cátodo?
• Em uma célula eletrolítica, os elétrons fluem do ânodo para o cátodo,
ou do cátodo para o ânodo?

9.2 Eletrólise Ígnea

O termo ígnea vem do latim igneu: ardente. A eletrólise ígnea exige


eletrodos inertes que possuam elevado ponto de fusão. Geralmente,
são usados a platina ou o grafite.

A eletrólise do NaCl é um processo economicamente importante, valendo


lembrar que esta substância funde a uma temperatura de 800,7 ºC.

NaCl( sólido ) → NaCl(líquido )

Pela dissociação, temos:

NaCl → Na + + Cl –
Os íons Cl– se dirigem para o ânodo (polo positivo), perdem seus elétrons
e são transformados em gás cloro, Cl2.

2Cl – → CI 2 + 2e – (oxidação)

Os íons Na+ se dirigem para o cátodo (polo negativo), recebem um elétron


e são transformados em sódio metálico (Na0). A equação foi multiplicada
por 2 para igualar o número de elétrons na redução e na oxidação.

2 Na + + 2e – → 2 Na 0 (redução)
246 UNIUBE

A equação global da eletrólise é dada pela soma das reações de


dissociação do sal e das reações que ocorrem nos eletrodos.

2 NaCl → 2 Na + + 2Cl –
2Cl – → CI 2 + 2e – (oxidação)
2 Na + + 2e – → 2 Na 0 (redução)
Reação global : 2 NaCI → CI 2 + 2 Na 0

A eletrólise ígnea permite a obtenção do alumínio a partir da bauxita


(Al2O3). Em condições normais, a bauxita funde a 2050ºC. Com a
utilização da criolita (Na3AlF6) como fundente, esta temperatura cai para
1000ºC.
Al2O3 → 2 Al 3+ + 3O 2–

REGISTRANDO

A simbologia da química é muito importante para o entendimento de vários


processos que ocorrem em nosso cotidiano. Conforme você já percebeu em
nosso estudo de química orgânica, o órgão que regulamenta a nomenclatura
química, assim como a simbologia a ser adotada na linguagem química, é a
IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry). Muitas pessoas
imaginam que a IUPAC só se preocupa com a nomenclatura orgânica, o que
é errado, pois esse órgão gerencia a nomenclatura e simbologia da química
orgânica, química inorgânica, físico­química e química analítica.

Uma dúvida comum é: qual representação está correta? Fe3+ ou Fe+3?


Embora alguns autores de livros não se preocupem com essa pergunta,
a IUPAC exige a utilização da primeira representação, ou seja, Fe3+. A
terminologia +3 só é adequada quando vamos explicitar o Nox de uma
espécie por extenso. Observe os exemplos, a seguir:

Fe3+ → Nox = +3
Pb2+ → Nox = +2
Pb4+ → Nox = +4
Al3+ → Nox = +3
UNIUBE 247

No polo negativo:

4 Al 3+ + 12e – → 4 Al 0
No polo positivo:
6O 2– → 3O2 + 12e –
Equação global:

2 Al2O3 → 4 Al 3+ + 6O 2–
4 Al 3+ + 12e – → 4 Al 0
6O 2– → 3O2 + 12e –
2 Al2O3 → 4 Al 0 + 3O2

O gás oxigênio formado na oxidação reage com o carbono do eletrodo de


grafite produzindo CO2, e, devido a isso, o eletrodo vai sofrendo corrosão
durante o processo e tem de ser substituído sempre que necessário.

9.2.1 Eletrólise em solução aquosa

Uma substância qualquer pode gerar íons em solução aquosa. Nesse


caso, os íons que podem vir a sofrer eletrólise podem se originar
dessa substância ou da própria autoionização da água. Apesar de a
autoionização da água ocorrer em baixa extensão, ela oferece esta
possibilidade de um ou outro íon vir a se descarregar.

Apenas uma espécie de íon positivo ou negativo descarrega por vez.


Cada íon possui uma voltagem adequada para se descarregar. O par
cátion/ânion que apresentar menor voltagem para descarregar será o
que vai descarregar primeiro.

A autoionização da água fornece os íons H+ (H3O+) e O–, conforme as


seguintes equações:

H 2O → H + + OH –

ou ainda
H 2O → H 3O + OH –
248 UNIUBE

No caso dos cátions, metais pouco reativos descarregam primeiro, pois


possuem maior tendência a aceitar os elétrons de volta e se descarregar.
Metais altamente reativos como metais alcalinos e alcalino terrosos se
descarregam depois. A ordem de prioridade é a seguinte:

Aumenta a dificuldade de descarga


Au +3 Pt 2+ Hg 2+ Ag + Cu 2+ Ni +2Cd +2 Pb +2 Fe +2 Zn +2 Mn +2 H 3O + Al +3 Mg +2 Na + Ca +2 Ba +2 K + Li + Cs +

O H+ ou H3O+ se descarrega antes do alumínio, de metais alcalinos e


alcalinos terrosos. Mas perde em prioridade de descarga para os demais
cátions.

Quanto menor for a eletronegatividade do ânion para prender o elétron,


maior a facilidade de descarga do mesmo.

Aumenta a dificuldade de descarga


(ânions não oxigenados e HSO4– ) OH – (ânions oxigenados e F – )
O OH– se descarrega antes dos ânions oxigenados e do F–. Mas perde
em prioridade de descarga para os ânions não oxigenados e o HSO4–.
As reações com os íons resultantes da autoionização da água são
mostradas a seguir:

H + (redução no cátodo) 2 H + + 2e− → H 2

OH − (oxidação no ânodo) 2OH − → 1/ 2O2 + H 2O + 2e−

Ou seja, neste tipo de eletrólise, o meio aquoso é um complicador, pois


devemos considerar que a água pode ser oxidada, formando O2, ou
reduzida, formando H2, ao invés dos íons dos sais em questão.

A eletrólise do NaCl em solução aquosa é um exemplo em que participam


da eletrólise o cátion oriundo da autoionização da água e o ânion do sal.
Dissociação do NaCl 2 NaCl → 2 Na + + 2Cl −
Autoionização da água 2 H 2O → 2 H + + 2OH −

Ânodo 2Cl − → Cl2 + 2e−

Cátodo 2 H + + 2e− → H 2
Reação global 2 NaCl + 2 H 2O → 2 Na + + Cl2 + H 2 + 2OH −
UNIUBE 249

Nota-se pela reação global que a eletrólise do NaCl é método de


obtenção de H2, Cl2 e de soda cáustica (NaOH).

Na eletrólise do HCl, somente os íons do soluto participam da eletrólise.


Isto ocorre pelo fato de ambos os íons oriundos do soluto apresentarem
prioridade de descarga em relação aos íons gerados pela autoionização
da água.

Ionização do HCl 2 HCl → 2 H + + 2Cl −

Autoionização da água H 2O → H + + OH −
Ânodo 2Cl − → Cl2 + 2e−
Cátodo 2 H + + 2e− → H 2

Reação global 2 NaCl + 2 H 2O → 2 Na + + Cl2 + H 2 + 2OH −

O pH da solução se torna progressivamente mais alcalino, já que o HCl


é consumido na eletrólise.

Na eletrólise do Zn(NO3)2 em solução aquosa, participam da eletrólise o


ânion oriundo da autoionização da água e o cátion do sal.

Dissociação do Zn( NO3 ) 2 2Zn( NO3 ) 2 → 2Zn 2+ + 4 NO3−

Autoionização da água 4 H 2O → 4 H + + 4OH −

Ânodo 4OH − → 2 H 2O + O2 + 4e−

Cátodo 2 Zn 2+ + 4e − → 2 Zn 0

Reação global 2Zn( NO3 ) 2 + 2 H 2O → 4 H + + 4 NO3− + 2Zn0 + O2

O pH da solução diminui já que os íons H+ gerados pela autodissociação


da água não são consumidos na eletrólise.

Na eletrólise do Na2SO4 em solução aquosa, ambos os íons oriundos da


dissociação da água têm prioridade na eletrólise.
250 UNIUBE

Dissociação do NaCl Na2 So4 → 2 Na + + SO42−


Autoionização da água 2 H 2O → 2 H + + 2OH −
Ânodo 2OH − → 1/ 2O2 + H 2O + 2e−
Cátodo 2 H + + 2e− → H 2
Reação global Na2 SO4 + H 2O → H 2 + SO42− + 2 Na + + 1/ 2O2

Como as moléculas de água são consumidas na eletrólise, a solução vai


ficando progressivamente mais concentrada em sulfato de sódio.

SAIBA MAIS

As baterias de automóveis

As baterias em certo momento funcionam como uma célula galvânica,


utilizando uma reação química para gerar energia elétrica e quando
necessitam ser recarregadas, funcionam como uma célula eletrolítica, ou
seja, ocorre o processo inverso.

Um exemplo dessas células para carro é a bateria de chumbo, na qual


é constituída por seis pilhas ligadas em série, cada uma produzindo 2 V,
totalizando 12 V. O ânodo de cada célula é constituído de chumbo (Pb) e o
cátodo por dióxido de chumbo (PbO2) e ambos estão mergulhados em uma
solução de ácido sulfúrico.

Depois desta abordagem, pudemos perceber que existem outros tipos de


baterias, constituídas por outros metais, por exemplo, a bateria de níquel-
cádmio, ainda, as células de combustível que não são consideradas
baterias, mas também são fontes de grande energia, que falaremos com
detalhes mais a seguir.

9.3 Lei de Faraday

Michael Faraday (1791-1867) é um físico­químico inglês, responsável por


uma série de descobertas importantes, formulou duas leis que regem a parte
quantitativa dos fenômenos ligados à eletrólise. Faraday estabeleceu através
de vários testes realizados em laboratório, como calcular a quantidade de
produto formado por uma quantidade conhecida de eletricidade.
UNIUBE 251

Sabe-se que a quantidade de eletricidade ou carga fornecida (Q), que


passa pela célula de eletrólise, é determinada pela medida da corrente
(I), e do tempo (t), pelo qual a corrente flui, e é calculada através da
seguinte equação:
Q = I .t

Onde:

I = corrente (A);
t = tempo (s).

Temos que a constante de Faraday (F) é a quantidade de carga (Q) por


mol de elétrons (n), segundo a seguinte equação:

Q
F=
n

Rearranjando esta equação, temos:


Q = n.F

Substituindo esta equação na primeira equação, temos:


n.F = I .t

Finalmente, em um novo rearranjo da equação, temos:


I .t
n=
F

SINTETIZANDO...

Medindo a corrente e o tempo que a corrente flui, podemos determinar o


número de mols de elétrons fornecido. Combinando o número de mols de
elétrons fornecidos com a estequiometria da reação do eletrodo, podemos
deduzir a quantidade de produto obtido.

Observação: a constante de Faraday (F) é dada por F = 96.485 C.mol–1.

Vejamos o seguinte exemplo: Quantos gramas de prata (Ag) serão


depositados no cátodo de uma célula eletrolítica, se passarmos uma
corrente de 0,6 A durante 7 minutos?
252 UNIUBE

Sabendo que o produto da corrente, em ampères (A), e o tempo, em


segundos (s), é igual à carga em coulombs (C), temos que:

Q = I .t
Q = (0,6 A).(7 min)
Q = (0,6 A).(420 s )
Q = 252 A.s = 252C

O número de mols de elétrons (n) é obtido dividindo-se o valor acima pela


constante de Faraday (F):

252C
n=
96.485C.mol –1
n = 2, 612 x10 –3 mol

Sabemos que a massa molar da prata é 107,87 g.mol–1, e que a massa


(m) é dada pelo produto da multiplicação do número de mols (n) pela
massa molar (M), então temos:
m = n.M
m = ( 2, 62 x10−3 mol ) . (107,87 g .mol –1 )
m = 0, 283 g
Portanto, são depositadas 0,283g de prata no cátodo.

IMPORTANTE!

O número de mols de material oxidado ou reduzido na superfície de um


eletrodo depende apenas da estequiometria da reação.

Por exemplo, 1 mol de elétrons irá reduzir e depositar 1 mol de Ag+, ½ mol
de Cu2+, ou 1/3 mol de Al3+, como podemos ver nas seguintes equações :

Ag + + e− → Ag
Cu 2 + + 2e − → Cu 0

Al 3 + 3e − → Al 0
UNIUBE 253

AGORA É A SUA VEZ

3) Quantos gramas de cobre (Cu) serão depositados no cátodo de uma


célula eletrolítica, se passarmos uma corrente de 0,6 A durante 7 minutos?
Dados: massa molar do Cu = 63,55 g.mol–1; constante de Faraday F = 96.485
C.mol–1.

9.4 Aplicações da eletrólise


Até o momento, vimos a eletrólise com eletrodos inertes (inativos) que
são simples transmissores ou receptores de elétrons proporcionando
as reações redox. Para que possamos discutir as várias aplicações da
eletrólise, é importante dizermos que nos processos que estudaremos
abaixo, inicialmente é necessário entender o que são eletrodos ativos.

Simples! Os eletrodos ativos vão sofrendo alterações no decorrer do


processo, com perda de massa ou na sua composição química. Veja o
exemplo abaixo:

Figura 4: Célula eletrolítica com eletrodos ativos.


Fonte: Acervo do autor.

A utilização de eletrólitos ativos é um processo útil na obtenção industrial


de vários elementos químicos. Por exemplo:
• Sódio: eletrólise ígnea de NaCl (fundido ou em solução aquosa).
• Alumínio: eletrólise ígnea de Al2O3 (bauxita).
• Cloro: eletrólise de NaCl (fundido ou em solução aquosa).
254 UNIUBE

Além dessas aplicações, a eletrólise é muito utilizada na galvanoplastia


e na anodização, dentre outras.

A galvanoplastia ou eletrodeposição é a deposição eletrolítica de um filme


de metal sobre um objeto. O objeto a ser recoberto (metal ou plástico
coberto por grafite) constitui o cátodo, e o eletrólito é uma solução aquosa
do sal da qual é retirado o metal a ser depositado. O metal é depositado no
cátodo pela redução dos íons na solução do eletrólito. Estes cátions são
fornecidos pelo sal adicionado ou pela oxidação do ânodo, que é feito do
metal de deposição. Como exemplos de eletrodeposição, podemos citar:

• Niquelação: recobrimento de um objeto com níquel;


• Cromação: recobrimento de um objeto com cromo.

Esses processos são de grande valia para o recobrimento de ferramentas


para o acabamento de carros e na construção civil, melhorando a aparência
dos metais recobertos. Mas, as maiores vantagens destes processos
residem no fato de que os metais adquirem uma maior resistência à oxidação
(corrosão) e às variações de temperaturas, aumentando também a dureza
superficial.

A anodização é uma forma de resguardar certos metais contra a


corrosão. É a formação de uma camada protetora superficial de um óxido
do próprio metal. Um processo de anodização bastante conhecido é o
caso do alumínio, pois nas panelas de alumínio por exemplo se forma
uma película protetora de Al2O3, evitando a sua corrosão, sob condições
normais.

Aqui finalizamos nosso estudo sobre eletrólise e os tópicos a seguir, serão


abordados para complementar e finalizar os estudos sobre eletroquímica.

9.5 Tópicos especiais em eletroquímica

9.5.1 Células a combustível

Uma aplicação da eletroquímica de grande importância são as células a


combustível. Este tipo de aplicação é muito importante do ponto de vista
ambiental e energético, pois é uma alternativa para a substituição dos
combustíveis fósseis.
UNIUBE 255

O esgotamento dos combustíveis fósseis e a degradação do meio ambiente


estão entre os principais problemas enfrentados pela sociedade moderna.

Estes problemas são relacionados porque uma das principais fontes


de poluição ambiental é o uso indiscriminado de combustíveis fósseis
para produzir energia. Em particular, o uso desses combustíveis em um
número cada vez maior de veículos que transitam nos grandes centros
urbanos é uma das maiores preocupações atuais, visto o grande número
de poluentes produzidos.

A energia química armazenada nos combustíveis é liberada através


da combustão. Nesse processo, o combustível reage com oxigênio,
produzindo água e dióxido de carbono e liberando parte da energia
armazenada nas ligações químicas.

A combustão direta ideal pode ser resumida:

Combustível + O2 → H2O + CO2 + energia (maior parte na forma de calor)

Infelizmente, os combustíveis possuem impurezas, muitas delas


compostas de enxofre que levaria à formação de SOx, e as altas
temperaturas atingidas no processo de combustão permitem a reação
do nitrogênio presente no ar, formando NOx. Além disso, nem sempre
a quantidade de oxigênio presente é suficiente para que ocorra a total
queima do combustível, gerando macropartículas de carbono. Todos
esses fatores geram uma considerável poluição.

Na combustão direta real, temos:

Combustível (contém enxofre – S) + ar (O2, N2) → H2O

• + CO2 (aumentando o efeito estufa)


• + SOx + NOx (causando a chuva ácida)
• + outros componentes poluentes (monóxido de carbono, hidrocarbonetos,
macropartículas de carbono, aldeídos etc.), causando problemas
respiratórios e cardíacos etc.
256 UNIUBE

Outro problema é a eficiência do aproveitamento da energia química


contida no combustível. A maior parte da energia liberada na combustão
direta, como a que ocorre na queima de combustível no motor dos
automóveis ou nas usinas termoelétricas, está na forma de calor. O
movimento do carro ou do gerador é o resultado da expansão que
este calor provoca nos gases, dentro dos motores, ou do vapor de
água na termoelétrica. Nos dois casos, apenas uma pequena parcela
(aproximadamente, 20%) da energia química pode ser aproveitada como
energia mecânica ou como energia elétrica. A maior parte da energia
é simplesmente liberada no meio ambiente na forma de calor, o que
também é uma forma de poluição.

Em resumo, os maiores problemas de produção de energia por meio de


combustão são:

• que o combustível fóssil não é renovável;


• que o aproveitamento da energia é pequeno (baixa eficiência);
• que a poluição ambiental é severa, promovendo problemas sérios
para a saúde e bens materiais.

Então, nas alternativas para produção de energia, devemos considerar:

• eficiência;
• poluição ambiental (que é mais importante).

A célula a combustível é uma alternativa em que a combustão é realizada


de maneira controlada, aumentando a eficiência do aproveitamento da
energia liberada e de modo a gerar menos poluente. A ideia é aproveitar
o deslocamento que os elétrons sofrem durante a combustão.

O princípio de funcionamento está esquematizado na Figura 5, a seguir,


utilizando como combustível o hidrogênio (H2). O hidrogênio entra em
contato com um metal e cede elétrons para este metal, produzindo H+.
Esse elétron circula por um circuito elétrico externo, onde sua energia
pode ser aproveitada, e retorna para a célula a combustível onde
novamente através de um metal, encontra-se com o oxigênio. Os dois
polos da célula são ligados por um eletrólito, ou seja, uma substância ou
solução que permite o movimento de íons.
UNIUBE 257

Através do eletrólito, íons como o oxigênio, que ganhou elétrons de um


lado, e o hidrogênio, que perdeu elétrons do outro, se ligam formando
água, que é o produto desta reação. Por esse processo, até 50% da
energia química pode ser transformada diretamente em energia elétrica.
Se outros combustíveis forem usados, outros produtos serão obtidos.

Figura 5: Célula a combustível.


Fonte: Daniel Pasquini.

A reação global do processo na célula a combustível utilizando hidrogênio é:

2 H 2( g ) + O2 → 2 H 2O + Energia

Uma parte da energia química ainda é transformada em calor e também


pode ser aproveitada, por exemplo, em sistemas para aquecimento de água.

Assim, a eficiência do aproveitamento da energia química pode chegar


a 80%.

Por que célula a combustível é uma boa alternativa? Os motivos são:

• possui elevada eficiência de conversão elétrica (50%);


• apresenta cogeração de energia (80%) (calor gerado pode ser
usado para aquecer água);
258 UNIUBE

• apresenta geração local, sem poluição química (porque produz


somente água) e sem poluição sonora;
• possui vida útil de 40.000 horas;
• apresenta custo ainda elevado porque é uma tecnologia nova e
não é produzida em grande escala.

9.5.2 Aplicações da célula a combustível

• Veículos espaciais: local onde as pessoas possuem pequeno


espaço, necessitam de energia elétrica e não podem ter poluição.
A água produzida pela célula também é utilizada para consumo
dos tripulantes.
• Agências de cartão de crédito: na falta de energia elétrica para os
computadores causaria grande prejuízo, portanto, nesse caso, a
célula a combustível é utilizada como estratégia de segurança.
• Hospitais: energia elétrica é de extrema importância, sendo que a
falta desta causaria sérios problemas. A água e o calor produzidos
pela célula podem ser utilizados em suas lavanderias.
• Residências: como uma forma alternativa de produção de energia,
independente de meios de distribuição. O calor produzido também
poderia ser utilizado no aquecimento de água (chuveiro, cozinha e
lavanderia).
• Veículos: que seriam movidos a motores elétricos, contribuindo, de
maneira significativa, para a redução do consumo e da poluição.

9.6 Corrosão

A corrosão é um fenômeno químico que possibilita a abordagem de


vários conceitos químicos, bem como sua correlação com aspectos
tecnológicos, sociais e ambientais. Os problemas relacionados à
corrosão; entretanto, são frequentes atingindo as indústrias químicas,
petrolíferas, petroquímicas, navais, de construções civis, automobilísticas,
os meios de transportes e os meios de comunicação, a odontologia, a
medicina e obras de arte como monumentos e esculturas.
UNIUBE 259

O processo corrosivo pode ter consequências de ordem econômica


como é o caso da corrosão de tubulações residenciais, por exemplo, que
levará a gastos com manutenção ou substituição dos materiais corroídos.
Poderá, ainda, ocasionar graves acidentes com consequências sérias,
tanto para a preservação da natureza, quanto do homem, como no
caso da perfuração de tubulações de condução de gases combustíveis,
podendo causar incêndios ou contaminação, queda de pontes e viadutos.
Pode-se verificar, portanto, que a corrosão é importante tanto do ponto de
vista tecnológico como do ponto de vista social. O estudo da corrosão é
multidisciplinar, envolvendo noções de química, eletricidade e metalurgia,
e a relação entre estas.

O estudo da corrosão metálica justifica-se devido à diversidade de


aplicações de materiais metálicos no mundo moderno e dos impactos
econômicos e sociais que a corrosão provoca.

A corrosão pode incidir sobre diversos tipos de materiais, sejam metálicos


como os aços ou as ligas de cobre, por exemplo, ou não metálicos, como
plásticos, cerâmicas ou concreto. A ênfase aqui descrita será sobre a
corrosão dos materiais metálicos. Esta corrosão é denominada corrosão
metálica.

Para um estudo mais aprofundado, podemos classificar a corrosão


quanto ao meio, natureza e quanto à morfologia.

9.6.1 Classificação quanto ao meio

Existem alguns meios que favorecem a ocorrência dos processos corrosivos,


devido à umidade do ar, gases industriais, sais minerais dissolvidos,
bactérias, resíduos industriais e muitos outros. São classificados como:

• atmosfera
• solos
• águas naturais
• água do mar.
260 UNIUBE

9.6.2 Classificação quanto à natureza

• Corrosão química

É o caso mais simples e envolve a oxidação do metal por um agente


químico por exemplo, alumínio na presença de ácido sulfúrico, não
havendo envolvimento de íons, ou seja, transferência de elétrons.

Al(s) + H 2SO 4 → Al2 ( SO 4 )3 + H 2

• Corrosão Eletroquímica

Já sabemos o que significa a palavra eletroquímica, então fica fácil


concluirmos que este tipo de corrosão tem relação com transferências
de elétrons através de eletrólitos em meios aquosos, por exemplo, na
água do mar, em solos e na atmosfera. São processos espontâneos e
mais frequentes na natureza.

• Corrosão Microbiológica

Ocorre sobre a influência de micro-organismos, tais como fungos,


bactérias, alguns tipos de algas, entre outros.

9.6.3 Classificação quanto à morfologia

• Corrosão Uniforme

Ocorre de forma homogênea em toda a superfície do metal.

• Corrosão em Placas

Ocorre somente em algumas regiões da superfície do metal.

• Corrosão Puntiforme (Pite) ou em frestas

É um tipo de corrosão localizada, manifestando pequenas perfurações


na superfície do metal, difundindo-se para o interior e, em alguns casos,
pode chegar a transpassar o metal.
UNIUBE 261

• Corrosão Alveolar

É um tipo de corrosão que ocorre em pequenas cavidades (alvéolos),


cuja profundidade é menor que seu diâmetro.

• Corrosão Intergranular e Intragranular

Este tipo de corrosão ocorre entre e no interior dos cristais dos metais,
fazendo com que as propriedades mecânicas do material sejam
seriamente afetadas quando postas em exigência.

• Corrosão Grafítica

Ocorre em temperatura ambiente no ferro fundido, na qual é oxidado,


sobrando somente a grafite praticamente intacta.

• Corrosão por Dezincificação

Este tipo de corrosão ocorre em latões, ligas de cobre-zinco de cor


amarelada. A oxidação acontece primeiramente atacando o zinco,
restando o cobre de cor avermelhada, cor característica deste metal.

9.6.4 Velocidade da corrosão

Para se calcular a velocidade ou taxa de corrosão, deve-se levar em


consideração a perda de massa do material em função do tempo por
unidade de área.
i
V=
F.S

onde:
V = Velocidade da corrosão

i = intensidade da corrente elétrica em Ampere (A)

F = Constante de Faraday (C = 96.500 Coulombs)

S = Área anôdica
262 UNIUBE

Como podemos observar na equação, a velocidade de oxidação de um


metal é inversamente proporcional à intensidade da corrosão do próprio
metal. Mas, de acordo com todo o conhecimento adquirido até aqui
sobre os fenômenos que envolvem a transferência de elétrons (células
galvânicas e eletrolíticas), chega-se à conclusão de que a velocidade
está relacionada com vários fatores, o próprio meio, o pH, a temperatura,
polarização e passivação que ocorrem durante o processo.

9.6.5 Polarização e passivação

Vimos nos conceitos iniciais sobre eletroquímica o que significa ddp


(diferença de potencial) e que podemos calculá-la através dos potenciais
padrão dos eletrodos. Pois bem, essa diferença de potencial influenciará
diretamente a corrosão, ou seja, quanto maior a ddp entre os eletrodos,
maior será a força que provocará a corrosão. Este fenômeno está
associado ao potencial padrão do ânodo e do cátodo, tornando-os menos
eletropositivo e eletronegativo, respectivamente. Mas a polarização sofre
variações devido a vários fatores, reações paralelas que conduzem à
formação de “capas” protetoras, à diminuição de uma espécie iônica e
até à saturação da solução, e isso influencia na velocidade da corrosão,
tanto no sentido de aceleração, quanto no de diminuição, controlando os
grandes problemas que a oxidação (ferrugem) provoca na sociedade.

A passivação nada mais é que a modificação do potencial de um eletrodo


para minimizar os efeitos da corrosão, pois forma uma espécie de película
protetora no metal que se deseja preservar.

Por exemplo, se o metal alumínio for colocado em uma solução de ácido


nítrico diluído, sofrerá ataque rapidamente. Porém, se levarmos este
metal em ácido nítrico concentrado, fracamente será atacado. Retirando-
se então o alumínio e o voltando ao ácido diluído, este não sofrerá mais
o ataque, pois formou-se uma camada protetora (óxido de alumínio),
deixando o metal no estado passivo.
UNIUBE 263

9.6.6 Eletrólitos e a corrosão

Nosso interesse nesta unidade de estudo são os processos de corrosão


eletroquímica. Os processos de corrosão eletroquímica são mais
frequentes na natureza e se caracterizam basicamente por:

• ocorrerem, necessariamente, na presença de água no estado líquido;


• temperaturas abaixo do ponto de orvalho da água, sendo a grande
maioria na temperatura ambiente;
• formação de uma pilha ou célula de corrosão, com a circulação de
elétrons na superfície metálica.

Em face da necessidade de o eletrólito conter água líquida, a corrosão


eletroquímica é também denominada corrosão em meio aquoso.

Portanto, em processo de corrosão eletroquímica, devemos considerar


a seguinte semirreação:
2H 2O+2e− → H 2 + 2OH − ( E 0 = −0,83V )

Este potencial padrão é para uma concentração de OH de 1mol/L, que


corresponde a pH = 14, uma solução fortemente básica. Entretanto, pela
equação de Nernst, a pH = 7 o potencial padrão é de – 0,41V. Qualquer
metal com potencial padrão mais negativo que – 0,41V pode reduzir
a água a pH = 7: isto é, a esse pH quase todos os metais podem ser
oxidados pela água.

Vejamos o exemplo, a seguir:

Fe 2+ + 2e − → Fe0 ( E 0 = −0,44V )
264 UNIUBE

Como o potencial padrão do ferro é de – 0,44V, o ferro tem somente uma


pequena tendência a ser oxidado pela água a pH = 7. Por essa razão, o
ferro pode ser usado em encanamentos de sistemas de abastecimento
de água e pode ser guardado em água livre de oxigênio sem enferrujar.

Porém, quando o ferro é exposto ao ar úmido, com a presença de ambos,


oxigênio e água, devemos considerar a seguinte semirreação:

O2 + 4 H + + 4e− → 2 H 2O ( E 0 = +1, 23V )

O potencial desta semirreação a pH = 7 é de +0,82V, que fica muito acima


do valor para o ferro. Assim, o ferro pode reduzir o oxigênio em solução
aquosa a pH = 7. Em outras palavras, oxigênio e água juntos podem
oxidar o ferro a Fe3+. Eles podem também, na sequência, trabalhar juntos
para oxidar o ferro(II) a ferro(III), devido a seguinte reação:

Fe3 + e − → Fe 2+ ( E 0 = +0,77V )

9.6.7 Prevenção contra a corrosão

Há várias maneiras de se inibir ou prevenir corrosão. O modo mais óbvio


de fazê­lo é cobrindo a superfície do metal com um material polimérico, tal
como uma tinta, que seja impermeável ao oxigênio e à umidade.

Outros métodos que trazem grande proteção são a galvanização com


zinco ou por métodos de proteção catódica.

Proteção catódica é um processo de controle da corrosão para superfícies


metálicas ou submersas cujo princípio básico consiste em transformar
a superfície a proteger em “cátodo” de uma célula de corrosão,
especialmente concebida para esse fim. Para obtenção da proteção
catódica de uma estrutura, existem dois processos (galvânica ou por
corrente impressa), que se fundamentam no mesmo princípio: obtenção
da proteção pela injeção de corrente na estrutura através do meio em
que ela se encontra.
UNIUBE 265

9.7 Conclusão

Vimos, neste capítulo, que a eletrólise é uma reação de oxirredução


não espontânea que retrata a conversão de energia elétrica em energia
química. As reações eletrolíticas podem ser classificadas quanto ao
meio reacional em eletrólise ígnea (fusão das substâncias a serem
eletrolisadas) e eletrólise aquosa (dissociação dos eletrólitos em meio
aquoso). No caso da eletrólise aquosa, há uma competição pela descarga
nos eletrodos (cátodo e ânodo) entre os íons oriundos da substância
a ser eletrolisada com os íons oriundos da ionização da água. Sendo
assim, é indispensável conhecer a prioridade de descarga a partir dos
potenciais padrão dos íons que constituem o meio eletrolítico.

Vale ressaltar, que segundo que as leis de Michael Faraday, a massa


da substância eletrolisada é diretamente proporcional a intensidade de
corrente que atravessa a cuba eletrolítica. Sendo assim, as reações
eletrolíticas são controladas por diversos parâmetros, tais como:
temperatura, pH, intensidade de corrente entre outros. As reações
eletrolíticas são muito aplicadas em nosso cotidiano, como a eletrólise
da água do mar para a produção de hidróxido de sódio (NaOH), gás cloro
(Cl2) e gás hidrogênio (H2); além das aplicações no controle do processo
corrosivo envolvendo o revestimento de estruturas metálicas (niquelação,
cromação, douração, entre outros).

Um item que merece atenção especial no estudo dos processos


eletroquímicos se refere às reações de corrosão, uma vez que o processo
corrosivo pode ter consequências de ordem econômica, como é o caso
da corrosão de tubulações residenciais, por exemplo, que levarão a
gastos com manutenção ou substituição dos materiais corroídos. Poderá,
ainda, ocasionar graves acidentes com consequências sérias, tanto
para a preservação da natureza, quanto do homem, como no caso da
perfuração de tubulações de condução de gases combustíveis podendo
causar incêndios ou contaminação, queda de pontes e viadutos. Sendo
assim, é indispensável ter um bom conhecimento a respeito das reações
corrosivas e dos fatores correlacionados à corrosão para controlar a
oxidação que ocorre espontaneamente nos materiais, a fim de atenuar os
severos prejuízos que essa reação eletroquímica propicia para o homem.
266 UNIUBE

Referências
BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN JÚNIOR, Bruce E. Eletroquímica.
In: _____. Química, a ciência central. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005. Cap. 20, p. 721-754

ENGENHARIA SACOR. O conceito de corrosão. Siderotécnica, 1999.

GENTIL, V. Corrosão. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2003.

HELENE, P.R.L. Corrosão ema armaduras para concreto armado: prevenção


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Sul, 2007. 101p.

MINIZZI, F.N. Corrosão em armaduras para concreto armado. São Paulo:


Editora PINI, 1986.

SOUZA, E. T., SOUZA, C. A., MAINIER, F. B., GUIMARÃES, P. I. C, MERÇON,


F. Corrosões de metais por produtos de limpeza. Química Nova Escola. v. 26,
nov. de 2007.
Anotações
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