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O Direito Das Sucessões em Portugal
O Direito Das Sucessões em Portugal
ALBERTO DE SÁ E MELLO *
Resumo: Um dos quatro (hoje cinco) ramos do Direito Civil, o Direito das Suces-
sões, traduz a resposta da ordem jurídica à consagração constitucional do direito à
propriedade privada. Sendo concebível uma propriedade privada sem o direito da
sua transmissão por morte (o Estado poderia, em teoria, tributar o património here-
ditário até à exaustão deste), não é este o modelo Português. Pode assim enunciar-
se o princípio vigente: toda a propriedade adquirida e licitamente mantida em vida
pode ser objecto de sucessão por morte. Tal deve ser entendido, em sentido restrito,
como a consagração do direito de não impedir a sucessão patrimonial mortis causa.
O Direito das Sucessões, um dos quatro ramos do Direito Civil comum (a que, hoje,
se acrescenta pacificamente o Direito de Autor), é normalmente o que surge tratado
em quarto lugar -, quer na sistemática do Código Civil, quer no estudo que lhe dedi-
cam as Faculdades de Direito em Portugal. Consagram-se-lhe os artigos 2024º a
2334º do Código Civil português (C. Civil), agrupado em quatro Títulos (Da suces-
são em geral, Da sucessão legítima, Da sucessão legitimária, Da sucessão testamen-
tária).
Saliente-se, porém, que, como adiante expomos, o direito de "transmissão" por mor-
te da propriedade privada deve ser entendido - como salientam Vital Moreira/Gomes
Canotilho (ob. cit.), bem como Jorge Miranda/Rui Medeiros (ob. cit.) - "no sentido
restrito de direito de não ser impedido de a transmitir", visto que esta liberdade pode
ser limitada por via legal (como é, por exemplo, o caso da inoficiosidade das dispo-
sições que ofendam a legítima, como veremos adiante).
Em primeiro lugar, é verificável que o Estado faz incidir impostos sobre o patrimó-
nio hereditário. Extinto o imposto sucessório, nasce a obrigação tributária em sede
de imposto de selo com a abertura da sucessão. Embora considerada exagerada,
sobretudo por quem tem de pagar os impostos..., não é tal carga fiscal de molde a
anular a sucessão privada - nem podia sê-lo face à tutela da propriedade privada, nos
precisos termos citados do disposto no art. 62º CRP.
devolução dos bens, parecendo alhear-se do que ocorre, por exemplo, em caso de
repúdio da sucessão; d) deixa dúvidas para os casos em que fala de transmissão que
opera por causa da morte, como na transmissão das obrigações dos promitentes aos
seus sucessores (art. 412º C. Civil) ou na atribuição do direito à indemnização por
morte aos familiares da vítima (art. 496º/2 C. Civil); e e) não esclarece sobre a
sucessão em direitos pessoais como os direitos de personalidade, o direito pessoal de
autor ou os direitos de investigação e de impugnação da maternidade e paternidade.
Parece, porém, claro que a lei se afasta da concepção do fenómeno sucessório como
uma comum transmissão de situações jurídicas patrimoniais, fugindo nomeadamente
à definição constante do Anteprojecto de Código de Galvão Telles: "Quando alguém
falece, todos os seus direitos e obrigações, que não sejam intransmissíveis por morte,
se transferem a uma ou mais pessoas,..."). A esta, contrapôs Pires de Lima a seguinte
redacção: "dá-se sucessão quando uma ou mais pessoas vivas são chamadas à titula-
ridade das relações jurídico-patrimoniais de uma pessoa morta". É patente que, de
acordo com a primeira noção, se marca o carácter derivado da aquisição
("...transferem-se direitos e obrigações"), enquanto pela segunda se acentua que
"pessoas... são chamadas à titularidade das relações patrimoniais de pessoa morta".
Poderá então referir-se a sucessão como uma aquisição derivada translativa de direi-
tos, ou dever-se-á considerar, na tradição do direito romano, que o sucessor (o her-
deiro, pelo menos) ingressa verdadeiramente na posição jurídica do de cujus, com
isso sendo investido na titularidade das situações jurídicas que este deixa por morte?
On est héritier parce qu’on est transmissaire des droits et des obligations du
défunt, on n'est pas transmissaire des droits et des obligations du défunt
parce qu'on est héritier. La qualité d'héritier n'est pas immanente, elle est le
résultat d'une succession de faits qui commencent para la désignation comme
successible et convergent à la dévolution des biens aux héritiers qui accep-
tent.
A Herança
Delimitação negativa
As situações passivas
As situações pessoais
A designação
Os factos designativos
Primeira noção de testamento
O autor do testamento
Incapacidades testamentárias
O DIREITO DAS SUCESSÕES NO DIREITO PORTUGUÊS 95
Regime
Testamento público
Testamento cerrado
Parte II - A sucessão
Secção IV - Acrescer
A figura genérica do acrescer
Acrescer de legatários e herdeiros da mesma espécie entre si
Acrescer entre herdeiros de espécies diferentes
Acrescer entre legatários e herdeiros
A contraposição
O herdeiro como sucessor pessoal
Herdeiro e acrescer
Noção
Sucessíveis legítimos
Preferência de classe
Preferência de grau
Divisão por cabeça
Primeira classe sucessória. Sucessão dos descendentes
Situação do cônjuge. Protecção não sucessória
Sucessão de cônjuge e descendentes
Sucessão do cônjuge e ascendentes
Sucessão dos irmãos e seus descendentes
O DIREITO DAS SUCESSÕES NO DIREITO PORTUGUÊS 97
A legítima e os legitimários
As quotas da legítima
Cálculo da legítima
Legado em substituição da legítima
Cautela sociniana
As disposições inoficiosas
A redução de liberdades inoficiosas
A contraposição objectivo-subjectivo
Conclusão sobre a estrutura do fenómeno sucessório
Generalidades
Herança e legado
Situações atraídas pela herança
Tutela do sucessor
Petição da herança
Posição do legatário
O cabeça-de-casal
O inventário
A limitação de responsabilidade
A situação do passivo hereditário
Já na vigência do Código Civil de 1966, antes e após a reforma estrutural que decor-
reu em 1977, fruto das normas constitucionais de 1976, merecem saliência mais uma
vez Galvão Telles: "Direito das Sucessões - noções fundamentais" (...), F. Pereira
Coelho: "Direito das Sucessões" (...), J. Oliveira Ascensão: "Direito Civil - Suces-
sões" (...) e R. Capelo de Sousa: "Lições de Direito das Sucessões" (2012/2013).
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