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Universidade Estadual do Ceará

Centro de Humanidade – CH
Departamento de História
Lab. De História do Ceará II
Prof.ª. Zilda Maria

FICHAMENTO BIBLIOGRÁFICO (CITAÇÕES) Data: 26/08/2017


Obra: História e Literatura: Algumas Considerações
BORGES, Valdeci Rezende. História e Literatura: Algumas Considerações. In: Revista de
Teoria da História. Ano 1, n 3. UFG. 2010.
“[...] a história como conhecimento é sempre uma representação do passado e que toda fonte
documental para produzir esse conhecimento também o é[...]” (p. 94)

“[...] a história cultural estuda, dentro de um contexto social, os ‘mecanismos de produção dos
objetos culturais’, entendidos em sentido amplo e não apenas obras, literárias ou não
reconhecidas ou obscuras, e autores canônicos. [...] ela enfoca os mecanismos de produção dos
objetos culturais, como suas intencionalidades, a dimensão estética, a questão da
intertextualidade [...]” (p.94-95)

“[...] o termo ‘apropriação’ é visto como ‘a maneira de usar os produtos culturais’ e de ‘re-
escritura’, que ocorre na diferença e nas transformações sofridas pelos textos quando adaptados
as necessidades e expectativas do leitor. ” (p.95)

“[...] há uma tríade a considerar na elaboração do conhecimento histórico, composta pela


escrita, o texto e a leitura. ” (p. 95)

“[...] as considerações de Le Goff (1990, p. 545), sobre o documento como monumento, ‘


produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que a detinham’, expressam
a necessidade de realização de uma reflexão, por parte do historiador, sobre as condições
históricas dessa produção, abarcando a figura do produtor, o lugar social de onde se produz,
como se produz, as intenções do produtor, as relações de poder que cercam e atravessam a
produção e o produto. ” (p. 95)
‘[...] todo tipo de texto possui uma linguagem específica, na qual foi produzido, própria de um
segmento particular de produção, e esta ocorre considerando dadas regras peculiares ao meio
intelectual de onde emerge, ao veículo em que será veiculada e ao público a quem se destina.
” (p. 96)

“[...] esse campo do conhecimento histórico, que, segundo Chartier, ‘ tem por principal objeto
identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade cultural
é construída, pensada, dada a ler. ’” (p. 96)

“Essa noção remete ao lugar de onde fala e em que se insere o autor, literato ou não, assim
como outros escritores que o cercam; lugar circunscrito e estruturado ao redor das posições que
esses produtores culturais ocupam na sociedade e no meio intelectual, no qual estabelecem
relações entre si e com outros campos que constituem a vida social; lugar marcado pelos jogos
de poder e vinculado com o campo político. ” (p. 97)

“Os tipos de textos, a língua que falamos e na qual escrevemos, a linguagem praticada
socialmente, que organizam a compreensão das experiências sociais, e a linguagem particular
de uma produção, seja literária ou de outros objetos simbólicos, os quais representam tais
experiências e formas de compreensão e interpretação dos seus significados, sentidos,
requerem ser problematizados. ” (p. 97)

“A esta questão, dos diálogos e dos cruzamentos que os textos e autores estabelecem
implicitamente com outros, que possibilitam ler em um os outros, a qual Ginzburg mostra-se
atento é tão característico da literatura, Kristeva (1988) denomina de intertextualidade. ” (p.
98)

“A literatura registra e expressa aspectos múltiplos do complexo, diversificado e conflituoso


campo social no qual se insere e sobre o qual se refere. Ela é constituída a partir do mundo
social e cultural e, também, constituinte deste; é testemunha efetuada pelo filtro de um olhar,
de uma percepção e leitura da realidade, sendo inscrição, instrumento e proposição de
caminhos, de projetos, de valores, de regras, de atitudes, de formas de sentir...” (p. 98)

“ Ela é uma reflexão sobre o que existe e projeção do que poderá vir a existir; registra e
interpreta o presente, reconstrói o passado e inventa o futuro por meio de uma narrativa pautada
no critério de ser verossímil, da estética clássica, ou nas notações da realidade para produzir
uma ilusão do real. ” (p. 99)

“Chartier considera que a distinção entre história e ficção, hoje em dia, tem se mostrado
vacilante. Diferenciação que parece clara e resolvida, se aceitarmos que a primeira pretende
realizar uma representação adequada do real que foi e não é mais, e a segunda, em todas as
suas formas, ‘é um discurso que informa do real, mas não pretende abonar-se nele. ” (p. 99)

“[...] cabe à investigação histórica realizar uma historicização da especificidade da literatura,


reconhecer as fronteiras diversas, conforme as épocas e lugares, entre o que é literatura e o que
não é; atentar à variação dos critérios definidores da ‘literalidade’ em diferentes períodos;
desvelar os dispositivos que constituem os repertórios das obras canônicas; os traços deixados
nas próprias obras pela ‘economia da escritura’ na qual foram produzidas [...] ou as categorias
que construíram a ‘instituição literária’, como as noções de autor, de obra, de livro, de escritura,
de copyright etc.” (p. 100-101)

“[...] deve-se trabalhar sobr as variações entre as representações literárias e as realidades sociais
que elas representam, deslocando-as sobre o registro da ficção e da fábula. ‘Variações entre a
significação e a interpretação corretas, tais como se fixam a escritura, o comentário ou a
censura, e as apropriações plurais que sempre inventam, deslocam, subvertem. Variações,
enfim, entre as diversas formas de inscrição, de transmissão e de recepção das obras. ” (p.102)

“O historiador, ao lidar com esse tipo de documento específico, precisa estar atento a essas
dimensões da representação construída, observando como o literato alia as regras de escrituras,
as restrições, os critérios e as convenções, o estético e o criativo à elaboração de suas reflexões
sobre a realidade que o cerca e aquela que representa. ” (p. 102)

“As representações do mundo social, de uma realidade, tanto objetiva quanto subjetiva, de um
tempo e lugar, resultam do entrecruzamento de aspectos individuais e coletivos. O literato não
cria nada a partir do nada. Não se faz literatura sem contato com a sociedade, a cultura e a
história. ” (p. 103)

“[...] entre os testemunhos, narrativos ou não, e a realidade testemunhada, existe uma relação
que deve ser repetidamente analisada pelo historiador e, entre as narrativas ficcionais e as
históricas, há uma ‘contenda pela representação da realidade’, ‘um conflito feito de desafios,
empréstimos recíprocos, hibridismos’, o qual deve ser examinado. ” (p. 104)

“ [...] devemos centrar atenção no funcionamento da linguagem literária, na pluralidade e na


instabilidade do texto, na busca de recuperar os diferentes significados e as multiplicidades de
sentidos, pois não há um sentido fixo, congelado, estabelecido da obra. ” (p. 105)

“Deve-se analisar por que se estudam uns autores e outros não; por que há autores que são
frequentemente encenados e outros abandonados; por que, nas estratégias dos editores de
publicação, alguns textos são conservados e outros descartados. ” (p. 105)
“Recorrer a esse tipo de documento possibilita-nos acessar um imaginário social, pensado tanto
como qualquer coisa imaginada quanto como um conjunto de imagens variadas acerca da
existência em sociedade, colhendo informações, muitas vezes, não encontradas em outras
fontes ou perdidas por tantas, como aquelas referentes às formas de agir e comportar, de pensar
e sonhar, de sentir e relacionar etc. próprias de um tempo, de um lugar e de um grupo social.
(p. 106)

“O historiador da cultura, conforme Paris (1988, p.85), ao trabalhar com a documentação


literária, depara-se com a questão de que quase nunca é o primeiro leitor do documento, tendo
de abordá-lo com uma escala, um sistema de referências, uma história literária, que já
classificou, hierarquizou as escritas, as obras e os autores. ” (p. 107)

“[...] a literatura, seja ela expressa nos gêneros crônica, conto ou romance, apresenta-se como
uma configuração poética do real, que também agrega o imaginado, impondo-se como uma
categoria de fonte especil para a história cultural de uma sociedade. ” (p. 108)

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