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Desenvolvimento da aula

Breve biografia de René Descartes

René Descartes, filósofo e matemático, nasceu em La Haye, na Touraine, cerca de 300


quilômetros a sudoeste de Paris, em 31 de março de 1596. O pai, Joachim Descartes, advogado
e juiz, possuía terras e o título de escudeiro, primeiro grau de nobreza, e era Conselheiro no
Parlamento de Rennes, na vizinha província da Bretanha, que constitui o extremo noroeste da
França. De 1604 a 1614, estuda no colégio jesuíta de La Flèche.
Apesar de apreciado por seus professores, declara-se, no "Discurso do Método", dececionado
com o ensino que lhe foi ministrado: a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade
indiscutível ("Não encontramos aí nenhuma coisa sobre a qual não se dispute"). Só as
matemáticas demonstram o que afirmam: "As matemáticas agradavam-me sobretudo por
causa da certeza e da evidência de seus raciocínios". Mas as matemáticas são uma exceção,
uma vez que ainda não se tentou aplicar seu rigoroso método a outros domínios. Eis por que o
jovem Descartes, dececionado com a escola, parte à procura de novas fontes de conhecimento.
Após alguns meses de elegante lazer com sua família em Rennes, onde se ocupa com equitação
e esgrima, vamos encontrá-lo na Holanda engajado no exército do príncipe Maurício de
Nassau.
Em 1619, ei-lo a serviço do Duque de Baviera. Em seguida, Descartes prepara uma obra de
física, o Tratado do Mundo, a cuja publicação ele renuncia visto que em 1633 toma
conhecimento da condenação de Galileu. É certo que ele nada tem a temer da Inquisição.
Entre 1629 e 1649, vive na Holanda, país protestante. E em 1637, decide publicar três
pequenos resumos de sua obra científica: “A Dióptrica”, “Os Meteoros” e “A Geometria”. Esses
resumos, que quase não são lidos atualmente, são acompanhados por um prefácio e esse
prefácio foi que se tornou famoso: é o “Discurso do Método”. Ele faz ver que o seu método,
inspirado nas matemáticas, é capaz de provar rigorosamente a existência de Deus. Em 1641,
aparecem as “Meditações Metafísicas”, sua obra-prima, acompanhadas de respostas às
objeções. Em 1644, ele publica uma espécie de manual cartesiano. “Os Princípios de Filosofia”,
dedicado à princesa palatina Elisabeth, de quem ele é, em certo sentido, o diretor de
consciência e com quem troca importante correspondência. Em 1644, por ocasião da rápida
viagem a Paris, Descartes encontra o embaixador da França junto à corte sueca, Chanut, que o
põe em contato com a rainha Cristina.
Descartes, que sofre atrozmente com o frio, contrai uma pneumonia e se recusa a ingerir as
drogas dos charlatões e a sofrer sangrias sistemáticas, vindo a falecer em Estocolmo, Suécia, a
09 de fevereiro de 1650, aos 54 anos. Seu ataúde, alguns anos mais tarde, será transportado
para a França. Luís XIV proibirá os funerais solenes e o elogio público do defunto.

O MÉTODO CARTESIANO

«Por método entendo um conjunto de regras certas e fáceis tais que, aquele que as cumprir
corretamente, nunca tomará nada falso por verdadeiro; sem qualquer desperdício de esforço
mental e aumentando o seu conhecimento passo a passo, chegará ao verdadeiro conhecimento
ou entendimento de todas as coisas que não ultrapassam a sua capacidade». (R. D. E., 4).
- O método consiste num conjunto de regras.
- O método não é uma técnica que se aplica de tal modo que as capacidades naturais da mente
humana são irrelevantes.
- As regras são guias para empregar corretamente as capacidades naturais e operações da
mente. Se a mente não estivesse já em condições de operar, de efectuar as suas operações, ela
seria incapaz de compreender e utilizar as regras ou preceitos do método. Se assim não fosse
nenhuma técnica poderia curar a radical deficiência da mente.
- Entregue a si mesma, a razão é infalível. É afastada do caminho da verdade e da reflexão
racional por fatores tais como o preconceito, a paixão, a influência da educação, a impaciência
e pressa exagerada de obter resultados. Então a razão, por assim dizer, torna-se cega e não
emprega as suas operações naturais (intuição e dedução) corretamente. - O método visa, antes
de mais, afastar a razão destes fatores de erro, dando - -lhe regras de uso das suas
capacidades, disciplinando a sua atividade.
As regras do método
O método consiste em regras para utilizar bem as duas operações fundamentais da razão: a
intuição e a dedução. Consiste acima de tudo em pensar por ordem. O essencial é organizar o
nosso pensamento, evitar a confusão, e só pensando por ordem isso se consegue.
1ªRegra - Regra da evidência
A observância deste preceito implica o uso da dúvida (por esse motivo chamada metódica).
Quer dizer, devemos submeter à dúvida todas as opiniões recebidas de forma a descobrir o
que é indubitavelmente certo e o que pode assim construir o fundamento do edifício da
ciência. Verdadeiro é sinónimo de indubitável.
A evidência que é exigida é a evidência racional. Trata-se de exigir que todo o conhecimento
seja fundado na razão
2ª Regra - Regra da análise ou da divisão
Esta regra consiste em decompor os múltiplos dados do conhecimento nos seus elementos
mais simples. Aplica-se sobretudo às questões complexas e exige a sua decomposição nos seus
elementos mais simples e por isso também mais claros e evidentes (intuitivos).

3ªRegra - Regra da síntese, composição ou regra da ordem e da dedução


Esta regra visa assegurar a homogeneidade e continuidade do encadeamento das razões, de
modo a garantir que a Ciência seja um todo único de verdades dispostas e ligadas entre si
como série ordenada.
É regra complementar da anterior; trata-se agora de, partindo das proposições mais simples,
primeiras, captadas por intuição intelectual, nos elevarmos gradativamente ao conhecimento
de todas as outras. Noutros termos: dispor todas as nossas ideias numa ordem tal que cada
uma seja precedida de todas aquelas de que depende e que preceda todas aquelas que dela
dependem.

4ªRegra - Regra da enumeração


Este processo de enumeração e revisão é necessário para determinar tudo o que se liga a uma
dada questão para podermos chegar a uma perceção, por assim dizer, intuitiva das longas
cadeias de razões que desenvolvemos.
Descartes sabe que a dedução também é um processo necessário (que não basta a intuição),
uma vez que é impossível ter de todas as verdades de uma série de raciocínios a intuição
imediata. O processo de enumeração visará suprimir progressivamente essa deficiência de
modo a que a razão quase possa intuir a totalidade do seu saber.
Por exemplo: se diversas operações me levaram primeiramente ao conhecimento da relação
entre as grandezas A e B, depois entre B e C, em seguida entre C e D e, por fim, entre D e E,
nem por isso vejo qual é a que existe entre A e E e não posso fazer uma ideia precisa C.. )' a não
ser que me recorde de todas.
. Objetivo: reformar os princípios do conhecimento (criar novos métodos que se querem
científicos) – procura da verdade
. Como se chega a algo evidente e incondicional? Duvidando (a dúvida é o método
cartesiano)
. Descartes começa por ser um cético (atitude antidogmática): considera falso tudo o que for,
no mínimo, duvidoso (e obviamente o que for falso) e considera enganador aquilo que alguma
vez nos enganou (os sentidos).

Características da dúvida cartesiana


1º. Necessidade prévia da dúvida (no conhecimento).
2º. Necessidade de nada excluir da dúvida enquanto ela for radicalmente impossível.
3.º Necessidade de tratar provisoriamente como falsas as coisas de impregnadas na dúvida, o
que provoca a necessidade de as rejeitar inteiramente.
- Metódica: tomada como estratégia gnosiológica, numa tentativa de encontrar a verdade
(algo evidente)
- Provisória: se por acaso alcançar a verdade, deixa de ter essa dúvida (suspensão provisória
de conhecimentos, epoché).
- Universal: duvida de tudo (estende-se a todo o conhecimento, inclusive ao próprio Deus)
- Hiperbólica / Radical: a sua dúvida, no início, é levada ao extremo/exagero (excessiva).
“Devemos duvidar de tudo aquilo que se apresenta ao nosso espírito como apenas provável ou
verosímil, para sim verificarmos o que é manifestamente falso. Posso não encontrar algo de
verdadeiro, mas pelo menos não sou enganado.” (Descartes)
. Deste modo, a dúvida torna-se exagerada de modo a realçar o valor do conhecimento capaz
de a ultrapassar.
. Rejeita as próprias demonstrações matemáticas
. Surge, na época de Descartes, a ciência moderna.
Razões para duvidar, segundo Descartes
- Os sentidos são, por vezes, enganadores
- Indistinção entre o sonho e a realidade
- Não vemos (percecionamos) todos o mesmo
- Hipótese de um génio maligno
- Os homens cometem erros (a raciocinar)
“O argumento que vai abalar a confiança depositada nas noções e demonstrações
matemáticas baseia-se numa hipótese ou numa suposição: a de que Deus, que supostamente
me criou, criando ao mesmo tempo o meu entendimento, sendo um ser omnipotente, pode
fazer tudo, mesmo criar o meu entendimento, ao depositar nele as verdades matemáticas,
pode tê-lo criado “virado do avesso” sem disso me informar. Por outras palavras, logo à
partida, o meu entendimento pode estar radicalmente pervertido, tomando como verdadeiro
o que é falso e por falso o que é verdadeiro.
Enquanto a hipótese de Deus enganar não for rejeitada, não podemos ter a certeza de que as
mais elementares “verdades” matemáticas são realmente verdadeiras. Se isso vale para as
“verdades” mais elementares e simples, mais se aplica ainda às mais complexas.”
“Suporei então que existe, não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas
um certo mau génio, não menos manhoso e enganador que poderoso, que empregou todo o
seu engenho a enganar-me. Eu pensarei que o céu, o ar (…) e todas as coisas exteriores que
nós vemos não são senão ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender a minha
credulidade. Eu considerei-me a mim próprio como não tendo mãos, (…) como não tendo
nenhum dos sentidos, mas crendo falsamente ter todas essas coisas.
R. Descartes – “O Discurso do Método”
. Distingue-se da dúvida pirrónica, de Pirro, cujo âmbito não só é absoluto e universal como
considera previamente atingir-se a verdade.

Processos de conhecimento
1. Intuição: Luz natural da razão (“flash”)
2. Dedução: Depois da base intuitiva, deduz todo o sistema.
Modelo matemático – evidente, altamente racional e indubitável, tal como será aquilo que
ele encontrar.
No plano ontológico, Descartes começa por duvidar de tudo quanto existe, para ver se há
alguma verdade clara e distinta que se apresente ao espírito como evidência tal que não possa
ser negada (intuição). O método é racionalista porque a evidência de que Descartes parte não
é, de modo algum, sensível e empírica. Os sentidos enganam-nos, as suas indicações são
confusas e obscuras, só as ideias da razão são claras e distintas. O ato da razão que percebe
diretamente os primeiros princípios é a intuição. A dedução limita-se a veicular, ao longo das
belas cadeias da razão, a evidência intuitiva das naturezas simples. A dedução mais é do que
uma intuição continuada.

Itinerário intelectual de Descartes: DUVIDA ® CÓGITO ® DEUS ® MUNDO


O Cogito
® Primeira verdade indubitável
® Ponto de partida para toda a sua Filosofia, a partir da qual se deduziam todas as outras
verdades
® Hipótese alcançada por intuição (operação mental racional)
® Expressão final sintética e intuitiva do processo da dúvida
O cogito é uma espécie de luz natural da razão (intuição) que nos leva a descobrir verdades
inatas que servirão de ponto de partida a todo o conhecimento. É a captação evidente de uma
ideia.
® Se há dúvidas, há alguém que duvida;
® Se alguém duvida, alguém pensa (não pode duvidar de que é o sujeito da dúvida);
® Se pensa, tem consciência de si enquanto ser pensante;
® Há um princípio indubitável e evidente: o “eu pensante” é a primeira evidência racional;
Posso duvidar de tudo, mas ao duvidar de tudo, eu sou um ser que duvida. Eu existo enquanto
substância pensante (RES COGITANS).
Compreendi, por isso, que eu era uma substância cuja essência ou natureza é unicamente
pensar e que, para existir, não precisa de nenhum lugar nem depende de coisa alguma
material. – Existência do ser humano como ser pensante e não corporal.
® Primeiro princípio (verdade epistemológica) da Filosofia Cartesiana: “Penso, logo existo”,
Cogito, Ergo Sum (latim)
® Ainda não desfez a hipótese do génio maligno, nem provou a existência do mundo (nem da
sua existência enquanto ser material)
O “eu”, alma (substância imaterial e racional) e o Corpo (substância material)

Critério de verdade: ideias claras e distintas (sem a mínima possibilidade de dúvida)


“É tão evidente que o ser que duvida tem que pensar, que tenho que aceitar isso.”
A importância da Matemática
A Matemática era a disciplina que Descartes mais admirava. Considerava que só o
procedimento matemático poderia conferir certeza ao conhecimento. Partimos de verdades
universais e absolutas que são descobertas por intuição e deduzimos delas outras verdades
menos gerais.
A perfeição e a existência de Deus
Dúvida
Conhecimento
Substância pensante
Ser que duvida
não é perfeito
De onde vem?
Imperfeição
Perfeição
A noção da própria imperfeição provém da noção presente no ser de perfeição (sei o que é
perfeito)
De onde provém essa noção?
Do nada?
Não.
a) É tão absurdo dizer que o nada originou alguma coisa como dizer que um ser menos
perfeito criou algo mais perfeito [contradição]
De algo mais perfeito e superior – DEUS?
Sim
De mim próprio?
Não.
Se fosse ele próprio o criador, ter-se-ia criado perfeito.
Das coisas que nos rodeiam? Não.
… cógito
Dependem de mim (existem enquanto as perceciono)
Não são superiores a mim, nem mais perfeitas.
O “Eu”
- Eterno
- Omnisciente
- Imutável
- Omnipotente
® Preso no cogito (no pensamento), Descartes sente-se a si mesmo imperfeito, concluindo que
tem a noção de perfeição. Mas de onde provém essa ideia?
® Perspectiva racional (utilização da dedução / raciocínio categórico-demonstrativo), e não
provocada pela fé, emoção ou sentimento
O cogito é a garantia da evidência das coisas, mas Deus é o fundamento epistemológico que
garante a veracidade dos nossos conhecimentos.
® Duvidar é ser menos perfeito do que ser sabedor.
® A existência de Deus é necessária e eterna; não é apenas possível, como também
necessária, porque, para um ser perfeito existir, a existência necessária tem que ser atribuída
ao ser perfeito.
® Descobre nele próprio a ideia clara e distinta de um ser perfeito.
® Interroga-se sobre a origem dessa ideia:
- não pode ter vindo dos sentidos (são, por vezes, falsos e ilusórios);
- não pode ter vindo do nada (ilógico);
- não pode ter origem em nós mesmos, por sermos imperfeitos.
® Conclui, portanto, ser uma ideia inata, posta em nós por esse ser perfeito.
® Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse, pois a imperfeição implica existência.
® Deus existe (não é uma questão de fé – racionalismo).
® Temos ideias inatas (nascem connosco e são a marca de Deus).
® O que conhecemos do mundo são as suas características evidentes, claras, distintas e
racionais.
® Destruição da ideia (enquanto suposição) de um génio maligno (um Deus bom não nos ia
enganar/armadilhar).
® Deus, como não é enganador, garante que as ideias que captamos (sentidos) são
verdadeiras, apesar de não serem tal e qual como as percecionamos.
® DEUS é a primeira verdade metafísica, fonte, origem ou raiz do conhecimento. Garante a
objetividade, certeza e evidência dos conhecimentos racionais, assim como a sua validade
universal.
® Garante a correspondência permanente entre as nossas ideias e os objetos a que
correspondem, independentes de nós.
No percurso de Descartes chegamos, então, e para já, a duas certezas: o ser pensante (RES
COGITANS) e Deus (RES DIVINA), um ser perfeito.
E o mundo, existe? Podemos ter a certeza que não é um sonho nem uma simulação produzida
por um Deus maligno?
Sim, o mundo existe, pois um Deus perfeito não nos enganaria. Deus é, pois, a garantia de que
aquilo que conhecemos com razão corresponde a algo realmente existente. O conhecimento
tem, pois, de proceder da razão.
® Garante a existência continuada do mundo (RES EXTENSA), mesmo depois de não
pensarmos nele.
Origem do erro

O ser humano está sujeito a uma infinidade de erros, mas que não podem ser atribuídos a
Deus. Sendo o homem a mediação entre o Criador e o nada, é perfeitamente possível que ele
erre. A sua participação no nada, deixa-o exposto a uma infinidade de faltas, levando-o aos
erros. A carência ontológica, já preconizada por Agostinho, marca a existência humana. O
homem encontra-se diante de um dilema: é um nada em relação a Deus, ao mesmo tempo
em que é um tudo em relação ao nada. Entendendo-se dessa maneira, o erro é uma carência
que não provém de Deus, mas é uma incompletude do ser. O engano é uma privação de um
conhecimento que o homem deveria ter, mas não o possui.

Remontando uma ideia já presente no pensamento de Agostinho, Descartes também defende


que não se pode considerar uma única coisa como imperfeita sem antes se ter uma visão do
todo. Às vezes quando uma determinada obra de Deus analisada é à parte, ela pode parecer
imperfeita aos olhos de um indivíduo. Entretanto, pode fazer parte de um universo maior
aonde passa a ser compreendida. Daí segue-se que o homem considera um mal, um erro,
aquilo que é um bem, uma verdade.

Dando continuidade ao processo de busca da origem do erro desencadeado por Descartes,


este constata que o erro está ligado a duas causas: à faculdade do conhecer
(entendimento/intelecto) e ao livre-arbítrio (vontade). E é neste ponto em que ele consegue
descobrir a causa do erro.

Se a vontade é dada por Deus, não é correto afirmar que ela é em si mesma a causa dos erros
que os homens cometem. Ela é a faculdade que mais aproxima o homem de Deus e é o único
lugar em que o homem possui liberdade. No entanto, o que faz com que o indivíduo peque é a
perversão de sua vontade. Ao errar, o homem, por esta faculdade, escolhe o mal pelo bem, o
falso pelo verdadeiro. O erro é, assim, uma escolha mal feita da vontade, que se assente
sobre algo que não é claro e distinto.

Ao que se percebe a causa do erro em Descartes e Agostinho possui a mesma gênese: a


perversão da vontade. É no mal uso do livre-arbítrio que se encontra o erro. E que distancia
os dois pensadores é que o filósofo francês acredita que o erro está ligado à natureza humana.
Dessa forma, Descartes isenta o homem de qualquer culpa caso venha a pecar

Descartes entende que o melhor a fazer para que se evite o engano é se abster de formular
juízos sobre alguma coisa, quando não for possível concebê-la com clareza e distinção.
Quando o homem utiliza bem o seu entendimento, submetendo sua vontade a ele, age
corretamente. O entendimento precedendo a determinação da vontade é o caminho mais
acertado para afastar-se do erro.

A Crítica ao pensamento cartesisano


® Circularidade do pensamento cartesiano (o grande erro de Descartes foi cair na falácia do
círculo vicioso)
® Pensamento (beco sem saída; preso no cogito). Só provando a existência de Deus é que
prova a existência do mundo. Deus é provado pelo cogito (ideia clara e distinta; evidência) e o
cogito, bem como as outras ideias inatas, são resultado de Deus.
- Busca um conhecimento válido, universalmente lógico e necessário.
- Adota o modelo matemático.
- Duvida do conhecimento sensorial.
- Pressupõe a existência de ideias inatas (a priori) comuns a todos os Homens.
® Descartes acaba por adotar uma posição dogmática (crítica) – devemos utilizar bem as
faculdades da razão, de forma a chegarmos à verdade, pois os nossos raciocínios nunca são
tão evidentes (…), havendo sempre um fundamento de verdade, mesmo nos sonhos.
DAVID HUME E O EMPIRISMO CÉTICo

Breve Biografia de David Hume

David Hume nasceu na Escócia, em Edimburgo em 1711. Hume pertencia a uma família
abastada. Fez bons estudos no colégio de Edimburgo - um dos melhores da Escócia, em seguida
transformado em universidade -, cujo professor de "filosofia", isto é, de física e ciências
naturais, Stewart, era um cientista discípulo de Newton. O jovem Hume, que sonha tornar-se
homem de letras e filósofo célebre, rapidamente renuncia aos estudos jurídicos e comerciais,
passa alguns anos na França, notadamente em La Flèche, onde compõe, aos vinte e três anos,
seu Tratado da Natureza Humana, editado em Londres, em 1739. A obra, diz-nos o autor, "já
nasceu morta para a imprensa". Esse fracasso deu a Hume a ideia de escrever livros curtos,
brilhantes, acessíveis ao público mundano. Seus Ensaios Morais e Políticos (1742) conhecem
vivo sucesso. Hume se esforça por simplificar e vulgarizar a filosofia de seu tratado e publica
então os Ensaios Filosóficos sobre o Entendimento Humano (1748), cujo título definitivo surgirá
em edição seguinte (1758): Investigação (Inquiry) sobre o Entendimento Humano. A obra
obtém sucesso, mas não deixa de inquietar os cristãos, e Hume vê lhe recusarem uma cadeira
de filosofia na Universidade de Glasgow. Ele acabará por fazer uma bela carreira na diplomacia.
De 1763 a 1765 ele é secretário da Embaixada em Paris e festejado no mundo dos filósofos. Em
1766 ele hospeda Rosseau na Inglaterra, indispondo-se com ele em seguida. Em 1768, ele é
Secretário de Estado em Londres. Nesse meio tempo, publicou uma Investigação sobre os
Princípios Morais (1751), uma volumosa História da Inglaterra (1754-1759) e uma História
Natural da Religião (1757). Somente após sua morte (1776) é que foram publicados, em 1779,
seus Diálogos sobre a Religião Natural.

Leia mais: http://www.mundodosfilosofos.com.br/hume.htm#ixzz2PX9QMvxe

A perspetiva da origem conhecimento de D. Hume

D. Hume rejeita, como Locke o inatismo cartesiano. As ideias são o resultado de uma reflexão
das impressões (sensações) recebidas das experiências sensíveis. A imaginação permite-nos
associar ideias simples entre si para formar ideias complexas. 
Exemplo de ideias simples decorrentes das impressões: vermelho, tomates, macio.
Exemplo da formação de ideias complexas a partir de ideias simples: os tomates são vermelhos
e macios.
 
Qualquer ideia tem assim origem em impressões sensoriais. As impressões não nos dão a
realidade, mas são a própria realidade. Por isso podemos dizer que as mesmas são verdadeiras
ou falsas. As ideias só são verdadeiras se procederam de impressões. Neste sentido, todas
aquelas que não correspondam a impressões sensíveis são falsas ou meras ficções, como é o
caso das ideias de "substância espírito", "causalidade", pois não correspondem a algo que
exista.
 
 
 
Tipos de Conhecimento segundo Hume:

          Distingue dois tipos de conhecimento:


1. Conhecimento resultante das relações entre ideias. Nesta categoria inclui a aritmética, a
álgebra e geometria. Estamos perante raciocínios demonstrativos, cujas conclusões são
independentes da realidade e se apresentam como necessárias.  
 
2. Conhecimento resultante da relação entre factos. Estes raciocínios são indutivos, logo
apenas prováveis. Correspondem em geral a relações de causa-efeito.  

A Questão da Causalidade segundo Hume


 
Introduz um dado novo nas teses empiristas quando afirma que a identidade entre a ordem
das coisas e a ordem das ideias resulta de hábitos mentais ou na crença que existe uma ligação
necessária entre os fenómenos. A ligação causal entre os fenómenos não é algo que possa ser
observado. O que observamos é uma sucessão cronológica de fenómenos, em que uns são
anteriores a outros. 
 
Esta sucessão leva-nos a concluir que o acontecimento A foi causado pelo acontecimento B,
mas o que efetivamente observamos foi que o primeiro se seguiu ao segundo. Não
observamos a relação causal entre os fenómenos. A ligação que estabelecemos, segundo
Hume, resulta de um hábito.
 
Acreditamos que a natureza é regida por leis invariáveis de causa-efeito, mas tal não passa de
uma ilusão. Embora no passado uma dada sucessão de acontecimentos se possa ter verificado,
nada nos garante que no futuro tal venha a acontecer. Apesar disso continuamos a afirmá-lo
como se fosse uma certeza absoluta. O nosso conhecimento está alicerçado em crenças. Os
fundamentos da ciência são deste modo de natureza psicológica.
Esta crítica ao conceito da causalidade irá ter profundas repercussões em filósofos posteriores,
como I.Kant (1724-1804).

Hume acaba por cair numa posição cética sobre o conhecimento.


 
1. Estamos limitados pela experiência, e por consequência tudo aquilo que não possa ser
observado, não existe. O conhecimento da natureza deve fundar-se exclusivamente em
impressões que dela temos. Desta premissa decorre o seu ceticismo: o homem não pode
conhecer ou saber nada do universo. Só conhece as suas próprias impressões ou ideias e as
relações que estabelece entre elas por hábito. Tudo o que o homem sabe, por discurso
racional, acerca do universo deve-se única e exclusivamente à crença, que é um sentimento
não racional. A razão está limitada no seu poder.    
 
2.Questiona o princípio da causalidade em que se baseiam as ciências da natureza, pois não
passa de uma crença.
 
3.Questiona também os fundamentos lógicos da indução, ao afirmar que pelo facto de algo
ter acontecido muitas vezes no passado, não significa que venha a acontecer no futuro. O
futuro não existe e como tal não é do domínio do conhecimento. 

 
 O debate histórico entre racionalistas e empiristas, em final do século XVIII, conduziu ao
criticismo que procurou superar as limitações de ambas as correntes filosóficas.

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