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Para os pensadores medievais, o fundamento do direito vigente na ordem jurídica, neste caso
o natural, ultrapassava os governantes temporais de cada momento.
Para este efeito, contribui S. Tomás de Aquino (1225 – 1274), provavelmente o melhor
pensador à época. Este destrinçou diferentes noções que visavam descrever a normatividade
própria da vida humana. Desta forma, temos, quatro grandes conceitos: lei eterna, lei natural,
direito natural e lei humana.
Primeiramente, a lei eterna corresponderia à própria razão de Deus enquanto ela governa e
ordena todas as coisas.
Segundamente, a lei natural seria a participação da lei eterna, que é própria da criatura
racional, revelando-se na capacidade de distinguir o bem do mal e na consciência da obrigação
de fazer o bem.
Em terceiro lugar, o direito natural seria o conjunto de coisas que devem ser dadas a quem
tem um título sobre elas, segundo aquilo que é determinado pela natureza humana. Segundo,
Gaius este direito seria em tudo muito semelhante à aceção romano-clássica.
Em quarto lugar, a lei humana seria inferior à lei natural e constituía uma certa determinação
da razão, dirigida ao bem comum, ditada por aquele que tem a seu cargo a comunidade; era,
portanto, derivada da lei natural, fosse por conclusão ou determinação.
Deste modo, no pensamento medieval, uma norma humana, positiva, que fosse contrária à lei
natural não possuía valor, independentemente de ser escrita ou costumeira.
A par da renovação do direito natural deu-se o renascimento do direito romano, devido a um
interesse teórico e pratico pelas coletâneas do corpus iuris civilis – repare-se, no entanto, que
a presença das tropas bizantinas na zona peninsular sul, foi insuficiente para que o corpus
produzisse influências jurídicas substanciais.
Todavia, não se pode falar num verdadeiro renascimento do direito romano uma vez que o
Direito Romano vulgar estava presente e mesmo o próprio Direito Romano justinianeu não
deixou de ser conhecido, estudado e aplicado até à transição da Alta Idade Média para a Baixa
Idade Média, simplesmente e sobretudo a partir do século XI, os juristas voltaram a estudá-lo e
a utilizá-lo com uma profundidade que não se verificou nos séculos anteriores, profundidade
tal que esteve na base da evolução conducente à ciência jurídica moderna. Note-se que a já
aludida subsistência do Direito Romano vulgar é que tornou possível este renascimento, ao
permitir o reencontro com as estruturas do Direito Romano clássico.
Cortes medievais
A escola racionalista contaria a Escola espanhola de direito natural e reconduz este último a
um código minucioso de normas formuladas através da dedução racional, erradicando a ideia
de direito natural como preceito do direito positivo.
Desta forma, ao separar o Direito natural do Direito positivo, como um corpo autónomo, a
Escola racionalista do Direito natural facilita a rejeição daquele, que está nas origens do
positivismo.
Os nomes fundamentais desta corrente do pensamento jurídico são Hugo Grócio (1583/1645),
Pufendorf, Thomasius e Wolff (na Alemanha); também são jusracionalistas Hobbes e Locke
(em Inglaterra) e Rousseau (em França), todos autores situados entre o século XVII e o século
XVIII.
A lei da boa razão (17 de agosto de 1769) contribuiu para as mudanças relativas ao sistema de
fontes de Direito, a reta razão racionalista é o novo dogma supremo das atividades
interpretativa e integradora das normas jurídicas.
Desta forma, os objetivos da lei da boa razão são impedir irregularidades em matéria de
assentos e de fontes primárias do ordenamento jurídico, fixar normas precisas sobre a
validade do costume e determinar os elementos a que a interpretação podia recorrer no
preenchimento de lacunas.
Aplicam-se, portanto quatro grandes soluções: (i) os estilos da corte só são válidos se
aprovados por assentos da Casa da Suplicação, (ii) a autoridade é exclusivamente dos assentos
da Casa da Suplicação, tribunal supremo do reino pelos que os assentos dos Tribunais da
Relação só alcançam valor normativo com a sua confirmação; a par e passo, os assentos,
entretanto, serão considerados inconstitucionais, em 1996, por serem atos de órgãos de
Estado com força obrigatória e geral, não previstos na Constituição, (iii) o costume tem que ser
conforme à boa razão, não pode contrariar a lei e tem que ter mais de 100 anos de existência,
(iv) a subsidiariedade está sujeita à boa razão e ao direito natural e das gentes, nos termos da
lei da boa razão, num âmbito prático, que está definido nos estatutos da universidade,
estatutos esses que mandam aplicar supletivamente o usus modernus pandectarum;
paralelamente, a aplicação do Direito canónico é relegada para os tribunais eclesiásticos e,
quanto à Glosa de Acúrsio, a Opinião de Bártolo e a opinião dos doutores, estes têm a sua
aplicação proibida.