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UNIDADE 2

Licenças

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender o que são licenças de software.

„„ Relacionar as diferenças fundamentais entre a licença


de produtos de código fechado e de código aberto.

„„ Reconhecer quais são as principais licenças de código


aberto e as diferenças entre elas.

„„ Compreender as implicações das licenças no uso de


produtos de código aberto nas empresas.

Seções de estudo
Seção 1 O software proprietário
Seção 2 O software gratuito
Seção 3 Implicações das licenças na empresa
Seção 4 Outras licenças

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Para introduzir esta unidade vamos detalhar um pouco a
necessidade de haver licenças para produtos de código aberto.

É importante dizer que os produtos de software de código aberto


são, em sua maioria, construídos com mão de obra gratuita. Os
desenvolvedores doam seu tempo e talento voluntariamente para
criar programas e torná-los disponíveis aos usuários, geralmente
sem custos para estes.

Isto levanta uma questão: E se alguém pegar este produto, der


outro nome a ele, disser que é de sua autoria e começar a vender
por aí?

Há uma resposta simples: com certeza estes desenvolvedores


poderão perder o interesse em produzir software de código
aberto, matando a produção comunitária.

É para isto que existem as licenças - para prevenir este


desvio.

Como o software é um produto intelectual, seu criador detém


os direitos sobre ele. Assim como um livro possui seu autor,
um dispositivo de hardware a sua patente, o software também
possui uma proteção autoral, facultando ao autor auferir ganhos
econômicos e controlar seu uso, restringindo sua modificação e
cópia. A licença de um software é um contrato entre o produtor
do software e seu usuário, especificando o que pode ser feito com
ele, ou seja, o que o proprietário de seus direitos permite que um
usuário faça com ele.

Existem licenças mais permissivas e licenças mais


restritivas. A licença mais permissiva é aquela que põe
o programa em domínio público. Isto quer dizer que
o trabalho não contém nenhuma restrição de uso, ou
seja, nenhuma pessoa detém exclusividade de seu
uso, seja mediante um ganho econômico, ou não.

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Software Livre

A forma mais fácil de liberar o uso de um software é deixá-lo


como domínio público. Neste caso, seu uso, modificação ou
incorporação a outros produtos são permitidos sem reservas. Isto,
no entanto, pode levar à estagnação do código, ou seja, caso o
usuário faça alguma modificação nele, como um aprimoramento,
este pode ser mantido em sigilo, e o código original e a
comunidade não se beneficiarão.

O ideal a ser alcançado com licenças compatíveis com a GPL


(como veremos mais adiante) é que as modificações feitas
no software de código aberto sejam compartilhadas com
outras pessoas, impedindo a apropriação do código sem uma
contrapartida à comunidade que o criou.

Já outros tipos de licença priorizam a liberdade total, e o ideal


passa a ser o máximo uso do que se criou. Usar uma abordagem
ou outra é questão de princípios pessoais, mas a escolha
pode afetar o uso por empresas de tecnologia da informação,
principalmente aquelas de desenvolvimento, como será visto
nesta unidade.

Para entender como funcionam as licenças de software de código


aberto é preciso entender, primeiramente, como funcionam as
licenças de software proprietário.

Vamos lá?

Seção 1 – O software proprietário


O software proprietário é, antes de tudo, aquele que tem como
função básica a geração de lucro para o(s) proprietário(s) da
empresa que o desenvolve. Quanto mais secreto for o seu meio de
produção, maior a vantagem competitiva da empresa.

A característica essencial para isto é que seu código fonte seja


protegido.

Unidade 2 39

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Você sabe o que é Código Fonte?

Código fonte são as linhas de código que, interpretadas ou


compiladas, dão origem ao programa executável ou código
binário. O código fonte é o programa, escrito em uma linguagem
de programação, como Pascal, C, C++, Java. No processo de
compilação clássico, para chegar até o código binário, ele passa
pelo processo de compilação, gerando um arquivo que deve se
juntar ao código a ser reutilizado, como, por exemplo, para abrir
janelas no ambiente gráfico, comunicar-se via rede.

Figura. 2.1 - Código de fonte


Fonte: do autor (2008).

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Software Livre

Veja um exemplo de código fonte na linguagem de programação C:

#include <stdio.h>
main()
{
printf (“Alô mundo\n”);
}

Para que o software proprietário seja produzido, há todo


um investimento na mão de obra com analistas, projetistas,
programadores, computadores e instalações físicas. Além do
produto em si, são necessárias ações de marketing, tornando
o software atraente ao consumidor, tais como embalagem,
campanhas publicitárias etc. São importantes também a
manutenção, o treinamento e o suporte ao usuário. Assim, esta
cadeia de valor confere ao software proprietário o status de um
produto como outro qualquer.

O que é Cadeia de Valor?

É o conjunto de atividades dentro de uma empresa, as quais


acrescentam ou diminuem uma quantia ao valor final de um
produto.

Por seu lado, o usuário deve concordar com licenças que


protegem os direitos autorais, em que é proibida a cópia do
produto, bem como a utilização de qualquer de suas partes para
a construção de outro software. No momento da compra do
software, o usuário não se transforma em seu dono, mas adquire
o direito de utilizá-lo em certo número de máquinas, um número
de usuários indefinidamente ou por um tempo determinado.

O gerenciamento de licenças é uma tarefa importante! Saber


qual cópia instalada em determinada máquina é coberta por qual
licença pode salvar a empresa de multas.

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Como um efeito colateral, o software proprietário, a cada nova


versão oferecida pelo desenvolvedor, tende a forçar a renovação
do parque instalado de hardware. Como a eficiência não é
seu objetivo final (salvo em casos muito especiais), máquinas
com mais desempenho são necessárias para executar de forma
satisfatória cada nova versão. Isto é causado pela relação de
dependência que o software proprietário impõe ao usuário.

A recente criação da nova versão do MS Windows, o


Vista, ilustra bem este fenômeno: a maior parte das
máquinas no mercado não têm capacidade para rodar
esta nova versão e têm de ser substituídas. Há muitos
pedidos para que a Microsoft volte atrás e mantenha
o sistema XP por mais tempo ou mesmo em paralelo
com o Vista. Muitas empresas ainda não têm planos
de realizar a troca de suas máquinas.

Como as versões antigas deixam de ser suportadas pelo


desenvolvedor, o usuário se vê diante da necessidade de trocar para
versões mais novas, com o consequente gasto de dinheiro, tanto
na aquisição desta nova versão, quanto nas máquinas para rodá-
la. Geralmente, cada empresa tem sua política de manutenção
do software que vende, variando entre 5 a 10 anos para as
empresas maiores. Ou seja, não adianta você ou sua empresa
querer continuar usando aquele sistema operacional que dá conta
do recado: depois de um prazo, o fabricante deixará de enviar os
códigos de atualização para consertar defeitos ou falhas, o que
pode ocasionar quebras de segurança, como invasão de hackers.

Seção 2 – O software gratuito


O software de código aberto não é sinônimo de software
gratuito. Existem programas que são distribuídos de forma
gratuita, mas que não incluem o código fonte. Os exemplos mais
comuns são os freeware e shareware. O freeware tem seu código
executável distribuído gratuitamente e não contém restrições de
uso, mas pode ser uma versão menos completa de um produto

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Software Livre

comercial. O shareware geralmente funciona por um tempo,


mas requer um pagamento, na maioria das vezes simbólico, para
continuar funcionando ou eliminar propagandas que surgem no
meio de sua operação. Qualquer modificação ou aprimoramento
depende do autor e não há garantias de que será continuado, ou
seja, de que estará disponível em futuras versões.

Em resumo:

„„ freeware - binário com distribuição gratuita. Não


acompanha código-fonte. Exemplos: Internet Explorer,
Yahoo Messenger, Windows Live Messenger, Picasa,
Skype etc;

„„ shareware - binário com distribuição gratuita. Não


acompanha código fonte. Geralmente funciona por
um determinado tempo, apresenta anúncios ou tem
funcionalidade reduzida. Para continuar o uso ou retirar
os anúncios, é necessário registrar o produto. Exemplos:
Winzip, WinRar, McAfee VirusScan Plus.

Licenças de software de código aberto


O propósito do software de código aberto é fazer com que o
software seja o mais difundido possível, e as licenças existem
para incentivar isto. A licença que o produto carrega informa as
condições em que o código pode ser utilizado. Além disto, ele
explica os efeitos de sua incorporação em outro produto.

Existem dezenas de licenças para software de código aberto.


No entanto, elas seguem as diretrizes básicas de três principais,
as derivadas da BSD - ou permissivas, as que seguem o padrão
GPL e aquelas que seguem as diretrizes da Open Source Initiative,
que, na verdade, engloba as outras duas.

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Licença BSD
A licença BSD, praticamente nasceu com o sistema operacional
BSD. É a licença mais liberal existente, aproximando-se do
domínio público.

Esta licença permite que o código protegido por ela seja


incorporado a produtos comercias. São exemplos empresas como
a Microsoft, que incorpora vários componentes de rede do BSD,
e a Apple, que usa vários componentes do FreeBSD no seu
sistema operacional.

A única restrição imposta é que todo software incorporado deve


manter a indicação de que foi criado na universidade de Berkeley,
contendo os seguintes dizeres:

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Software Livre

Podemos constatar que as diretrizes são:

„„ toda a redistribuição do código fonte deve conter a nota


acima;

„„ toda a redistribuição em forma binária deve ser


acompanhada da nota acima em sua documentação ou
outros materiais que acompanham o produto;

„„ não podem ser usados nem o nome da universidade nem


de seus colaboradores em propaganda de promoção de
produtos contendo código sob esta licença, exceto em
caso de permissão escrita.

Licença GPL
A licença mais conhecida e importante no mundo do software
de código aberto é a GPL - General Public License. Ela foi
originalmente idealizada por Richard Stallman.

Esta licença requer que toda a distribuição de software torne


disponível o seu código fonte. Não existe a obrigatoriedade de
que o programa distribuído sob esta licença seja gratuito, mas é o
que acontece na maioria das vezes. Também existe um consenso
de que o custo de distribuição do código-fonte não deve ser maior
do que o executável em si, ou seja, caso o usuário deseje o código-
fonte, este estará disponível pelo mesmo preço ou por um valor
inferior ao executável.

A licença GPL possui uma cláusula denominada “viral”. A


cláusula viral especifica que todo software produzido utilizando
partes de código distribuído sob a licença GPL também tem de
ser distribuído sob esta licença, mesmo que o código esteja em
uma biblioteca e seja linkado de forma estática ou dinâmica. Isto
faz com que muitos desenvolvedores de software proprietário
pensem duas vezes antes de utilizar código GPL em seus
sistemas, uma vez que seu trabalho deverá retornar à comunidade
também como software livre sob a licença GPL.

Unidade 2 45

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Veja que qualquer um tem a liberdade de modificar


o código e mantê-lo para si; o que não é permitido é
distribuir um produto, seja de forma gratuita ou não, e
impedir que outros tenham acesso ao código fonte.

Em contrapartida, ao termo copyright, que resguarda todos os


direitos de cópia ao autor e proíbe sua distribuição e modificação
sem autorização, as licenças como a GPL são copyleft.

Trabalhos com copyleft, não só software , exigem que toda cópia,


modificação e inclusão do produto em outro sejam passadas
adiante com os mesmos direitos (trabalhos derivados). Esta é a
essência do termo “livre” - a liberação do trabalho, mas também
a proteção de que ele continue assim.

Existe ainda a licença Lesser General Public License


(LGPL). Esta licença libera, sob certas circunstâncias,
bibliotecas para uso em software proprietário ou com
licenças não compatíveis com GPL.

O sítio do projeto, <www.fsf.org>, contém a descrição e todos os


detalhes de uso destas licenças.

É necessário tomar cuidado com a tradução do termo “ free


software”, uma vez que “ free” em inglês pode significar grátis, ou
livre. A intenção no GPL é que free tenha o sentido de liberdade
- liberdade de estudar e modificar o código fonte. Não há na
licença a intenção de que o software seja gratuito.

Segundo o movimento Free Software (FREE SOFTWARE


FOUNDATION, 2007), o Software Livre se refere à liberdade
do usuário executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e
aperfeiçoar o software:

„„ a liberdade de executar o programa, para qualquer


propósito (liberdade número 0);

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Software Livre

„„ a liberdade de estudar como o programa funciona e


adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade número
1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta
liberdade;

„„ a liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa


ajudar seu próximo (liberdade número 2);

„„ a liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os seus


aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se
beneficie (liberdade número 3). Acesso ao código-fonte é
um pré-requisito para esta liberdade.

Open Source Initiative – OSI


Em 1998, Eric Raymond, Bruce Perens e outros sentiram a
necessidade de flexibilizar algumas restrições impostas pela
licença GPL, principalmente a cláusula viral, que exige que o
código fonte do produto que reutilize código GPL também tenha
de ser distribuído sob a licença GPL.

O efeito viral, se por um lado reforça o compartilhamento de


código entre os desenvolvedores, por outro restringe as empresas
de incentivarem seus programadores a participar de projetos de
software de código aberto que poderiam ser utilizados por estas.

A iniciativa OSI indica licenças que permitem o uso híbrido


de software proprietário e software de código aberto. Um
dos produtos mais notáveis que se desenvolveu graças a esta
flexibilização foi o próprio GNU/Linux. O GNU/Linux foi
originalmente concebido com uma interface de texto com o
usuário (comando de linha). Para que o sistema operacional
tivesse maior aceitação, era necessário que este fosse fácil de
usar como os sistemas operacionais proprietários concorrentes
da época, o que demandava a inclusão de um ambiente gráfico
de interação com o usuário, no padrão WIMP - Window, Icon,
Menu, Pointing device. Com a introdução da licença OSI, foi
possível utilizar o X Windows, ou X11, nas distribuições Linux,
popularizando o sistema.

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X-Windows
O sistema X-Windows foi criado pelo Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT) na década de
1980. Ele fornece um ambiente básico, onde estão
disponíveis comandos para a criação e movimentação
de janelas na tela, bem como a interação com o
mouse e o teclado. A aparência e outros aspectos da
interface, como barras, menus, ícones, são fornecidos
por uma camada superior, os gerenciadores de
janelas, como KDE e Gnome. Um dos pontos
interessantes do X Windows é a sua funcionalidade em
rede, em que um computador pode apresentar a tela
gráfica de outro, quando ambos estão conectados.
O X-Windows originou o X-Free, com a liberação do
sistema na modalidade código aberto.

A Iniciativa Código Aberto (OPEN SOURCE INITIATIVE,


2006) define o software Open Source como aquele que possui
uma licença com critérios que atendam à lista que segue.

1. Liberdade de redistribuição - A licença não deve


restringir nenhuma parte de vender ou oferecer o
software como um componente de uma distribuição de
software agregado contendo programas de várias fontes
diferentes. A licença não deve exigir um royalty ou outra
taxa para tal venda.

2. Código Fonte - O programa deve incluir o código


fonte e deve permitir a distribuição tanto na forma de
código fonte como compilada. Quando alguma forma
de um produto não é distribuída com o código fonte,
deve existir um meio amplamente divulgado de obter
o código fonte sem nada mais do que um custo de
reprodução razoável, preferencialmente, baixado através
da internet, sem custo. O código fonte deve ser a forma
preferencial com a qual um programador modificaria o
programa. Código fonte deliberadamente ofuscado não
é permitido. Formas intermediárias como a saída de um
pré-processador ou tradutor não são permitidas.

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Software Livre

3. Trabalhos derivados - A licença deve permitir


modificações e trabalhos derivados, e deve permitir
sua distribuição sob os mesmos termos da licença do
software original.

4. Integridade do Código Fonte do autor - A licença


pode restringir o código fonte de ser distribuído em
forma modificada somente se permitir a distribuição de
“arquivos de patch” com o código fonte, com o propósito
de modificar o programa em tempo de compilação. A
licença deve explicitamente permitir a distribuição de
software construído a partir do código fonte modificado.
A licença pode requerer que trabalhos derivados tenham
um nome ou versão diferentes daqueles do software
original.

5. Não discriminação de pessoas ou grupos - A licença


não deve conter discriminação em relação a uma pessoa
ou grupo de pessoas.

6. Não discriminação do campo de uso - A licença não


deve restringir ninguém de fazer uso do programa em
um campo específico de trabalho. Por exemplo, ela não
pode restringir o programa de ser usado em uma empresa
ou de ser usado para pesquisa genética.

7. Distribuição da licença - Os direitos atribuídos


ao programa devem se aplicar a todos para quem o
programa for redistribuído, sem a necessidade da
aplicação de uma licença adicional por essas partes.

8. A licença não deve ser específica a um produto - Os


direitos atribuídos ao programa não podem depender
de ele ser parte de uma distribuição de software em
particular. Se o programa for extraído dessa distribuição
e usado ou distribuído dentro dos termos da licença,
todas as partes para as quais ele é distribuído devem
receber os mesmos direitos que são atribuídos ao
conjunto original.

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9. A licença não pode impor restrições a outro software


- A licença não pode impor restrições a outros softwares
que são distribuídos junto com o software licenciado.
Por exemplo, a licença não deve insistir que todos os
programas distribuídos na mesma mídia devam também
ser software open source.

10. A licença tem de ser neutra em termos de tecnologia


- Nenhuma cláusula da licença pode se referir a uma
tecnologia especifica ou estilo de interface.

O que são Arquivos de Patch?

Um patch é um conserto que, aplicado a um software, o


transforma em uma nova versão, corrigindo falhas ou deficiências.

No portal do projeto, <http://opensource.org>, é possível


verificar que existem mais de 20 licenças que preenchem estes
requisitos. Estas licenças, embora fujam dos ideais pregados
pela Free Software Foundation, dão maior segurança às empresas
proprietárias que investem em código aberto, que o usam
contribuem com ele de alguma forma. Praticamente todas as
grandes empresas do setor de TI, de uma forma ou de outra,
estão envolvidas com projetos em código aberto.

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Software Livre

Seção 3 – Implicações das licenças na empresa


Como foi visto, assim como no software proprietário, as licenças
de software de código aberto determinam o que pode, ou não, ser
feito com o código.

De um modo resumido, o software de código aberto pode ser usado:

„„ como um produto pronto, ou seja, na sua forma


executável, instalado em uma estação de trabalho ou
servidor;

„„ como um software modificado, em que partes são


acrescentadas ou reescritas;

„„ como um pedaço de código utilizado, modificado, ou


não, dentro de outro produto;

„„ com uma biblioteca, linkada de forma estática ou


dinâmica.

Ligação dinâmica e estática - código linkado


Em computação, uma biblioteca é uma coleção de códigos
reunidos em um arquivo, com o propósito de realizar tarefas
geralmente relacionadas, como por exemplo, para comunicação
em redes, manipulação gráfica, cálculos numéricos etc. O
conteúdo da biblioteca não está na forma de código fonte, mas
sim compilado.

Quando um programa é compilado, ele geralmente necessita


de código externo. Uma das formas é recorrer ao conteúdo de
bibliotecas. Para isto, depois de compilado, uma ferramenta,
denominada linker, tem a função de indicar o que deve ser
chamado e como: de forma estática, ou dinâmica. Na forma
estática, o código é carregado para dentro do programa
executável (binário). No caso da ligação dinâmica, o código só é
chamado quando o programa é executado.

Unidade 2 51

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Universidade do Sul de Santa Catarina

A figura a seguir explica o que é biblioteca e o processo de


linkagem.

Figura. 2.2- O processo de linkagem


Fonte: do autor (2008).

No primeiro caso, uso do produto pronto, todas as licenças


de software de código aberto permitem o uso do software
sem restrições, em quantas máquinas for necessário. Algumas
distribuições, como RedHat e SuSE, contêm restrições da
distribuição em si, mas estas estão mais ligadas aos serviços de
suporte e atualização. Outras, como a distribuição Xandros,
embora sejam baseadas em Linux, contêm componentes
proprietários, e por isto há limitações específicas e são pagas
licenças para o uso destas partes.

No caso de um produto ser modificado, se este é utilizado


dentro da empresa, dificilmente trará problemas. O ideal,
como muitas empresas fazem, é retornar para a comunidade
melhorias realizadas no código, que podem ser aplicadas de
maneira genérica. Por exemplo: no caso de um programador ter
melhorado um algoritmo para envio de dados em um programa

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Software Livre

de comunicação. Este tipo de colaboração é uma das formas


com as quais muitas empresas ajudam na criação de software de
código aberto. Mas, caso as modificações só sejam interessantes
para o uso interno, não fazendo parte de produtos que serão
distribuídos, não haverá consequências legais.

No entanto, caso a empresa utilize código livre para


comercialização, principalmente se este for incluído em um
produto, é necessário verificar a licença.

Por que isto acontece?

Se a licença contiver uma cláusula viral, é possível que todo o


código do produto que incorpora o código aberto tenha de ser
liberado para o público. Isto significa que, legalmente, qualquer
um pode requisitar o código fonte do produto e depois fazer
o que quiser com ele. Observe que a empresa pode vender o
produto, mas, ao ser requisitado o código fonte, o requerente
pode publicar gratuitamente esta fonte.

Até o momento, o autor deste trabalho não teve notícia


de que isto tenha sido feito no Brasil ou que alguém
ou alguma empresa tenha sido processada por uso
inadequado de código aberto. Mesmo nos Estados
Unidos, são raros os casos, em que isto acontece.

Se a empresa pretende redistribuir software de código livre dentro


de um produto que desenvolve, é importante que todos os envolvidos
na empresa saibam das implicações do uso de software de código
aberto. Empresas de ponta têm uma política sobre o uso e reuniões
periódicas para assegurar que todos estão seguindo esta política. A
política geralmente define um processo que deve ser seguido quando
código aberto é incorporado a um produto. São discutidos os
motivos pelos quais o software de código aberto é utilizado, que tipo
de licença ele carrega e quais os riscos da violação desta (GOLDEN,
2005, p. 48). Neste comitê, podem ter participação advogados
especializados, capazes de interpretar detalhes das licenças.

Unidade 2 53

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É possível que no Brasil, com o passar do tempo, venha a ser


importante conhecer as implicações legais do uso de software
de código aberto em função principalmente da exportação de
software. Existem várias licenças diferentes a que o uso do
produto pode estar condicionado.

Analise o estudo de caso apresentado a seguir.

Ainda são raras as ações em relação à violação de licenças de


software de código aberto. O Centro Legal da Liberdade de
software (Software Freedom Law Center – SFLC - <http://www.
softwarefreedom.org>) entrou, em setembro de 2007, com uma
queixa de quebra de direitos autorais em favor dos desenvolvedores
do BusyBox contra as empresas Xterasys Corporation e High-Gain
Antennas, LLC, por violação da licenças GPL.

BusyBox é um conjunto de ferramentas padrão Unix usadas


em sistemas embutidos. Uma das condições da licença GPL é
exigir que aquele que empregue o código ou produto derivado
dele também forneça acesso ao código-fonte do programa.
As empresas acima não estavam distribuindo o código como
demandado pela licença. Antes de estas duas empresas serem
processadas, os mesmos desenvolvedores já haviam processado a
empresa Monsoon Multimedia pela mesma violação. Esta, em
uma primeira audiência, em outubro de 2007, concordou em
remediar a situação, compensando financeiramente os autores e
passando a disponibilizar o código.

Em 18 de dezembro de 2007, a Xterasys, uma das empresas


processadas, fabricante de pontos de rede sem fio, entre outros
dispositivos que empregam software embarcado, sediada na
Califórnia, EUA, entrou em acordo. Ela deverá notificar todos
os usuários de seus produtos que eles têm o direito de receber o
código fonte, o qual deverá estar disponível antes que a empresa
volte a distribuir produtos contendo o pacote BusyBox. O caso
contra a empresa High-Gain Antennas ainda está pendente e
outro processo foi iniciado contra a empresa Verizon. (EDDY
2007; BYFIELD, 2007).

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Software Livre

Seção 4 – Outras licenças


Além das licenças BSD e GPL, existem várias outras para código
aberto. Veja aquelas que são compatíveis com a GPL. Exemplos:

„„ Apache - compatível com GPL, mas proíbe o uso do


nome “Apache” no produto produzido;

„„ Sleepycat - compatível com GPL, usada para o banco de


dados desenvolvido na universidade Berkeley;

„„ Apache 2 - compatível com GPL.

E algumas incompatíveis, por uma razão ou outra, com GPL.


Exemplos:

„„ Apple Public;

„„ Sun Public License;

„„ Mozilla Public License (MPL).

No site da GNU Operating System há uma extensa listagem de


licenças com explicações dos motivos da sua compatibilidade, ou
não, com a referência GPL.

Por que usar a GPL como referência?

Em parte por ela ser uma das pioneiras e ter nascido com o
movimento software livre. Por outro lado, segundo o site Blackduk
<http://www.blackducksoftware.com>, a licença GPL é utilizada
em 59,22% dos programas de código aberto. Para se ter uma ideia
de sua popularidade, a segunda licença mais utilizada é LGPL,
com 11,36%; e a terceira, Artistic License, com 7,78%. A base de
conhecimento para levantar estes dados vem de mais de 3.500 sítios,
por volta de 1.000 vendedores de software, além de outras fontes.

Unidade 2 55

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Como foi visto nesta unidade, a produção e o uso de software de


código aberto têm de ser regulamentados por licenças, para que
ele não fique estagnado. As licenças GPL e LGPL são as mais
restritivas em relação ao que se pode fazer com o código aberto, e
funcionam como base para o movimento Software Livre.

A liberdade implica o usuário ter acesso ao código fonte para


estudá-lo e modificá-lo, mas impede que ele seja incluído em um
produto para ser distribuído, sem que a liberdade seja passada
adiante. Neste caso, junto com o produto, deve ser fornecido todo
o código fonte ou a indicação de como ele pode ser conseguido
sem esforços maiores e com baixo custo. Este é o fator “viral” e é
a base para a noção de copyleft.

Outras licenças são menos restritivas, como por exemplo, a


BSD. Neste caso, o código-fonte pode ser utilizado mesmo em
produtos para serem distribuídos, mas com a inclusão da nota
indicativa da licença em sua documentação.

As demais licenças seguem, de uma forma ou de outra, estas duas,


mas, na prática, a maioria dos softwares é coberta pela licença GPL.

Embora em nosso país ainda não seja corrente a preocupação


com o que pode acarretar a violação das licenças de software de
código aberto, nos Estados Unidos e na Europa já começam a
aparecer processos contra empresas que utilizam código aberto
sem as necessárias salvaguardas.

Mas, como no Brasil a exportação de software tem aumentado,


é possível que, no futuro, seja importante o profissional de TI
saber como proceder e procurar auxílio legal para estabelecer uma
política de uso de software de código aberto em sua empresa.

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Software Livre

Atividades de autoavaliação

1.) Uma empresa desenvolve um dispositivo para medição de temperatura.


No sistema operacional embarcado, desenvolvido para ele, foi utilizada
uma biblioteca do projeto GNU. Junto com o aparelho, há um manual
sem nenhuma indicação da procedência do software utilizado. Que risco
corre esta empresa em relação ao software utilizado?

2.) Um grupo de programadores desenvolveu um programa e criou uma


licença própria para regulamentar seu uso. Entre as cláusulas da licença,
uma refere-se à proibição de seu uso em aparelhos que possam ser
utilizados em usinas nucleares, já que um dos desenvolvedores do
grupo participa de um grupo ativista contra qualquer tipo de poluição
ambiental. Depois de pronto este software, os desenvolvedores
submeteram sua licença para que ela fosse incluída na lista de licenças
aprovadas pela OSI. Qual deve ter sido o resultado?

Unidade 2 57

software_livre.indb 57 28/06/11 10:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

3.) Uma empresa vende um sintonizador de TV para antena parabólica


com um software embarcado que apresenta um menu na tela da
televisão, migrando boa parte das funções presentes do controle
remoto para a tela. Como esta empresa é forte em eletrônica, não
interessa a ela manter o software proprietário, uma vez que isto
demandaria custos muito grandes. Para atrair a ajuda de outros
fabricantes, ela pretende iniciar um projeto para desenvolver o software
na modalidade código aberto. Por outro lado, ela não deseja que outros
fabricantes modifiquem o software e o incluam em seus produtos, sem
que as inovações não sejam incorporadas ao projeto original. Qual tipo
de licença seria adequado a esta estratégia?

58

software_livre.indb 58 28/06/11 10:58


Software Livre

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos relativos ao conteúdo


tratado nesta unidade, veja as sugestões de leitura na sequência.

O endereço <http://www.fsf.org/licensing/essays/free-sw.html>
contém a definição oficial sobre software livre. Este é o endereço
da Free Software Foundation ou Fundação do Software Livre.

Em <http://www.fsf.org/licensing/licenses>, é possível encontrar


várias outras licenças para efeito de comparação. Elas estão
classificadas como compatíveis, ou não, em relação a GPL e
LGPL.

Existe uma fundação irmã da Free Software Foundation para a


América Latina, denominada Fundação Software Livre América
Latina. Seu endereço é <http://www.fsfla.org/?q=pt>. Esta
fundação tem por objetivo juntar-se a uma rede de fundações
regionais que “trabalhem articuladas, sustentando e fortalecendo
a filosofia, o marco jurídico e os ideais do Software Livre, de
acordo com a definição da FSF”.

A página <http://www.opensource.org> é o sítio oficial da Open


Source Initiative - Iniciativa do Código Aberto.

Na página <http://www.opensource.org/licenses/alphabetical/>,
é possível ver uma listagem de todas as licenças compatíveis
OSI. Note como as licenças Software Livre (GPL e derivadas)
são também consideradas de Código Aberto, mas nem todas as
licenças listada pela OSI são compatíveis com GPL.

Em <http://www.oreilly.com/catalog/opensources/book/kirkmck.
html>, está disponível um capítulo do livro Open Sources: Voices
from the Open Source Revolution de McKusick (1999). Nele é
possível ler um histórico das versões do sistema operacional BSD.

Unidade 2 59

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