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Marina segura comprimidos de MD.

Ela e Guilherme olham para


as pílulas

GUILHERME
Então, o que isso vai fazer?

MARINA
Você vai se sentir eufórico.

GUILHERME
Eufórico?

MARINA
É. Acho que não tem palavra melhor.

GUILHERME
Hum. Sei não...

MARINA
Como que você pode dizer não pra
euforia? Qual é o lado negativo de se
sentir eufórico?

GUILHERME
Talvez o lado negativo seja que na
verdade a realidade tá uma bosta
comparada com a euforia, então pra que
que eu ia querer perceber pra sempre
que a realidade é uma merda?

MARINA
Você tá com medo. Pode admitir.

GUILHERME
Eu não tô com medo. Por que você acha
que eu tô com medo?

MARINA
Cara, a sua vida inteira é baseada no
controle. Você fica aterrorizado se
perde o controle. Mesmo que seja por
uma única noite.

GUILHERME
Isso não é verdade.

MARINA
Prova, então.
2.

Marina levanta as pílulas em direção ao rapaz.

GUILHERME
Eu não preciso usar MD pra provar
isso.

MARINA
Qual outra forma de provar?

Relutante, Guilherme pega um dos comprimidos.

MARINA
Ok. Vou contar até três... Um—

GUILHERME
Espera!

MARINA
O quê foi?

GUILHERME
Você tá certa. Eu tenho medo de perder
o controle.

MARINA
Isso é bom. O primeiro passo é admitir
que você tem um problema.

Marina segura o comprimido e leva perto ao rosto.

MARINA
Um, dois—

GUILHERME
Espera! Perai.

MARINA
O que foi agora, Guilherme?

GUILHERME
Pra quê essa pressão toda?

MARINA
É só falar "não" se você acha que eu
tô te forçando.

GUILHERME
Você não me respondeu: pra quê a
pressão?
3.

MARINA
É que eu tô cansada de você! Eu não
aguento mais a sua mania de perfeição,
de deixar tudo certinho. Acho que eu
só quero te ver menos preso, menos
acanhado, menos você!

Depois de um tempo, Guilherme coloca os comprimidos no chão.

GUILHERME
Um, dois, três!

Guilherme pisoteia a droga.

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