(Printed with the demonstration version of Fade In)

CLARA?

Escrito por

Guilherme Guedes
Marcela de Souza
Yago Matheus
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INT. QUARTO - MANSÃO - NOITE

Lentamente, a porta do cômodo é aberta.

Entra CLARA, 35, negra e alta, usando um lindo vestido

preto, segurando em uma mão uma pequena bolsa.

Atrás de Clara entra ROGER, 40, um homem de cabelos pretos

usando terno.

Os dois estão usando máscaras de estilo veneziano sobre o

rosto. Do lado de fora do quarto vem o som de música
clássica e do burburinho de vozes. Estamos em uma festa.

Roger acende as luzes e caminha pelo cômodo enquanto Clara

fecha a porta atrás de si e a tranca. As luzes são
amareladas e têm brilho fraco. No piso do quarto: um tapete
vermelho.

CLARA
Não vamos perder tempo conversando...

Roger vai em direção a Clara, a abraça pela cintura. Os dois

cambaleiam um pouco juntos. Clara leva a mão às costas
discretamente para mudar de lugar um objeto pontudo por
baixo do vestido, em sua lombar. O objeto tem a silhueta de
uma faca.

Roger começa a empurrar Clara em direção à cama. Clara deixa

sua pequena bolsa cair no chão.

Clara empurra Roger, que cai deitado na cama com o rosto

para cima.

Roger começa a tirar sua máscara.

CLARA (cont'd)
Não.

ROGER
Você não quer ver meu rosto?

CLARA
Eu já sei como ele é.

Clara leva uma mão até o zíper de seu vestido e começa a

abaixá-lo. Suas unhas são compridas, pintadas de preto.

Quando ela chega ao fim do caminho do zíper, uma pequena

faca está presa entre o elástico de sua lingerie e sua pele.
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A ponta da faca, virada para cima, produziu uma pequena

marca vermelha em suas costas.

Com um rápido movimento, Clara pega a faca e golpeia Roger

na lateral de sua barriga.

Roger grita. Ele tenta levantar da cama mas Clara o empurra

para baixo. Sangue jorra sobre o lençol branco da cama.
Roger escorrega para fora da cama e cai de joelhos no chão.
Ele tomba para o lado, deitado.

Roger tenta manter seus olhos abertos, porém eles se fecham

involuntariamente. Ele está tonto, quase desmaiando com a
dor dilacerante da facada.

Clara guarda a faca de volta na parte de trás de seu

vestido, metade dela dentro de sua lingerie. Quando...

De repente, rápidas batidas na porta. Roger abre seus olhos

e grunhe ao tentar gritar.

VICTOR grita do corredor:

VICTOR (O.S.)
Clara?

Clara olha assustada para a porta, não responde.

VICTOR (O.S.) (cont'd)

Clara? Abre aqui pra mim, eu sei que
cê tá aí!

Roger grunhe novamente.

Clara faz para Roger um sinal ordenando silêncio. Ela então

caminha para próximo da porta.

CLARA
Oi? J-já vou!

VICTOR (O.S.)
(voz aveludada)
Que isso, Clara? Não tá reconhecendo
a minha voz? Abre aí, pra eu te dar
um beijo...

CLARA
Victor, eu... eu não posso falar
agora. A gente se encontra depois.

Roger desliza pelo chão, tentando encontrar uma saída do

cômodo. Ele se apoia em um dos pés da cama, que range.
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Clara olha para Roger assustada, e se vira rapidamente para

a porta.

VICTOR (O.S.)
Tem alguém aí? Cê sabe que eu não
gosto quando você não brinca só
comigo...

A maçaneta da porta se movimenta rapidamente. Victor está

tentando abrir a porta do outro lado. Clara anda a passos
rápidos até a porta, e coloca o peso do torso nela. Victor
engrossa a voz.

VICTOR (O.S.)(CONT.)
(seco)
Clara, cê tá escondendo alguém de
mim?

Clara está trêmula, ela empurra seu corpo mais ainda contra
a porta.

Roger pressiona sua ferida. Sangue está escorrendo de sua

barriga, caindo sobre o tapete. Os tons de vermelho do
sangue e do tecido do tapete se misturam.

Roger tenta levantar, apoiado à cama. Clara percebe a

movimentação de Roger. Ela segura a maçaneta com força.

CLARA
Eu... eu tô sozinha, eu juro, tô só
me arrumando. É que.. eu machuquei a
perna.

Clara usa uma de suas compridas unhas para fazer um arranhão

em parte de sua coxa que está para fora do vestido. Ela
segura um grunhido enquanto o arranhão avermelha e cria
pequenos pontinhos vermelhos de sangue.

CLARA (cont'd)
Te encontro lá embaixo em 15 minutos,
pode ser?

VICTOR (O.S.)
(ironicamente)
Machucou a perna, é? Abre aí então
pra eu te ajudar!

Victor roda a maçaneta com força, e a tranca começa a querer

ceder.

CLARA
É sério, Victor, eu tô ocupada.
Prometo que não tem ninguém aqui,
espera aí que eu já saio.
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Victor bufa e encosta a cabeça com pressão na porta, fazendo

com que Clara pule de susto, e cubra as mãos com a boca.
Roger grunhe. Victor bate a mão na maçaneta.

VICTOR (O.S.)
Clara, eu tô falando sério. Se tiver
alguem dentro desse quarto..

CLARA
Pronto, terminei. Vou sair.

Clara cola rapidamente seu ouvido na porta enquanto gira a

tranca devagar, tentando ouvir os sons que vêm de fora.
Passos em círculos ecoam pelo corredor, a respiração de
Victor é audível. Ela se vira para Roger e vê este sem
forças, com os olhos fechados.

Clara gira a maçaneta da porta. Ela coloca a cabeça para

fora do cômodo e encara Victor, que se vira do corredor e
anda até ela, olhando em direção ao cômodo semiaberto.

INT. CORREDOR - MANSÃO - NOITE

Victor, 35, branco e corpulento, para de frente à porta,

encostado nesta, seus braços cruzados, utilizando o peso do
corpo para forçar a abertura do cômodo. Ele usa um terno
black tie, a máscara preta em estilo veneziano no rosto.

Clara sai do quarto e faz força para fechar a porta atrás de

si. Ela coloca a perna machucada para frente, mostrando o
arranhão a Victor.

CLARA
Viu? Eu falei que era só um
machucado.

A expressão de Victor muda, e ele agora apenas franze um

pouco a testa, parecendo levemente confuso. Clara pega
Victor pelo pescoço para um beijo, e Victor relaxa a
expressão facial. Ele pega na cintura da mulher e a prende
na parede, inclinando seu corpo contra o dela.

VICTOR
(sussurrando)
Pensei que não ia sair nunca.
Tá escondendo um tesouro aí?

CLARA
N-não, bobo.

VICTOR
Vamo entrar então.
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Victor avança com a mão em direção à maçaneta da porta.

Clara entra em seu caminho, impedindo-o. Victor encara
Clara.

VICTOR (cont'd)
Você não acha que eu já esperei
demais aqui fora?

CLARA
Aqui não, o quarto tá bagunçado.
Vamos lá embaixo.

Victor aperta com força o quadril de Clara. A máscara

veneziana exibe apenas os olhos pretos do homem.

VICTOR
(seriamente)
Clara, que que tem aí que cê não quer
que eu veja?

INT. QUARTO - MANSÃO - NOITE

Roger começa a se levantar, tenta chamar por ajuda mas sua

voz não sai. Ele estanca o sangramento na lateral de sua
barriga com uma mão. Ele se levanta e anda cambaleando até
uma janela aberta. Olha para fora: é uma queda de cerca de
quatro metros até o gramado lá embaixo. Ele arregala os
olhos.

INT. CORREDOR - MANSÃO - NOITE

VICTOR
Anda, Clara, responde. Que que tem
nesse quarto, um corpo?

Clara arregala os olhos, mas solta um pequeno riso nervoso.

CLARA
Eu não sei o que você quer que eu
fale. Não tem nada aqui, eu só queria
experimentar outros lugares hoje...

O olhar de Clara percorre o corredor.

VICTOR
Outros lugares?

Depois de um pouco de silêncio, Victor recua um pouco de

costas em direção ao corredor, como se desistisse de entrar
no cômodo, o que faz com que Clara saia de frente da porta.
Quando Clara começa a andar em direção ao corredor, Victor a
empurra para trás e abre a porta com agilidade.
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INT. QUARTO - MANSÃO - NOITE

Victor para na porta do quarto, e a luz do corredor que

passa por sua silhueta revela o corpo quase morto de Roger,
que está apoiado na janela, com o torso do lado de fora.
Victor encara em choque.

Clara está paralisada, com os olhos arregalados e a

respiração ofegante. Após um segundo quieto, Victor grita.

VICTOR
QUE PORRA É ESSA CLARA?

Victor anda em direção a Roger.

CLARA
Victor, calma!

VICTOR
CALMA, CLARA? CARALHO! OLHA ISSO
AQUI! FOI VOCÊ QUE FEZ ISSO?

Victor olha desesperado para Clara, enquanto tenta manusear

o corpo de Roger e se suja com o sangue que escorre da
barriga do ferido. Clara dá uma última olhada frenética para
o corredor, entra no quarto e fecha a porta atrás de si,
girando a tranca.

A expressão de Clara muda rapidamente. Ela se recompõe, seu

corpo entra em posição de ataque.

CLARA
(ofegante)
Porra, Victor. Isso podia ter sido
tão mais fácil.

Clara endireita a postura e abre o zíper de seu vestido, que

desliza sem esforço. Ela pega a faca ensanguentada em sua
lombar e avança para cima de Victor. Com apenas um
movimento, Clara joga o peso de seu corpo em Victor e corta
a garganta do homem. Victor cai para trás, morto.