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- ...você já não tem muito tempo para ficar aqui, agora vá, há coisas
importantes que logo acontecerão com você.
Uma luz surgiu em meio a aquele breu, primeiro um pequeno ponto,
como uma estrela, mas começou a aumentar, envolvendo tudo ao redor.
Era só mais um sonho. Às vezes, logo antes de acordar, ou de
dormir, eles vinham, nunca eram iguais, mas algo sempre parecia se
repetir. O relógio marcava 03:54, o que não era comum, sendo que
normalmente Kalel acordava por volta das cinco.
O restante do dia estava sendo normal, até ele voltar do colégio.
Chegando perto do prédio onde morava, ouviu um estrondo
ensurdecedor, e viu seu mundo cair, junto com parte do lar onde sempre
viveu.
Logo, a explosão não parecia tão estranha quanto o que estava
acontecendo: tiros, flechas, concreto, metal e algum tipo de energia
luminosa eram disparados para todos os lados, pessoas andavam no ar,
teletransportavam, ficavam invisíveis, pareciam dobrar aquela estranha
luz a sua vontade, e usavam armas estranhas, algumas que ele
reconheceu de livros e jogos de fantasia medieval, para todo lado.
A área em frente ao prédio, estava irreconhecível, o poste estava
desaparecido, paredes desmoronando onde antes não havia nada,
poeira erguendo-se para todo lado, havia coisas queimando, gelo
espalhado em vários lugares, túneis escavados saindo de trás das
paredes… Ah o poste, estava dividido ao meio quase de uma ponta a
outra, com uma estranha lâmina, bem maior que as de filmes, fincada
onde acabava o corte, pendurado na parede externa do quinto andar, de
alguma forma.
Ficar só olhando aqueles estranhos se matarem com armas de
séculos atrás e o que só podia ser magia, seria tão útil quanto não estar
ali, então Kalel fez o óbvio: saiu correndo em direção ao prédio
semidestruído, no meio do campo de batalha, torcendo para não ser
notado em meio aquela confusão. Chegando perto, estava percebendo
ficar repentinamente com uma instabilidade no humor e tonteira, que
associou à confusão por sua casa estar destruída, mas além disso,
estava com dificuldades para mover o próprio corpo.
Subiu correndo as escadas até o terceiro andar, abriu a porta de seu
apartamento e entrou. O lugar estava cheio de fumaça, então Kalel se
abaixou e cobriu o nariz e a boca com a camiseta, agradecendo por sua
mãe ter insistido em que ele precisava aprender a sobreviver em um
incêndio e outras situações perigosas.
Não importava o quanto Kalel procurasse, o apartamento estava
vazio, então, ele esvaziou a mochila do colégio às pressas e enfiou lá
roupas, comida e tudo que achou que poderia precisar, na mochila, além
de algumas fotos e do canivete de seu pai, que desapareceu há três
anos.
O lugar mais seguro do prédio era o subsolo, se sua mãe não tivesse
conseguido escapar do prédio, deveria estar lá, então era pra onde
deveria ir.
O elevador claramente não era uma boa ideia, a energia havia caído
com a explosão, e a estrutura devia estar péssima, então dirigiu-se para
a direita, para as escadas de emergência.
No subsolo não havia sinal de vida, mas parecia não ter sido afetado
pela explosão. Enquanto procurava inutilmente por algum conhecido,
alguém abriu as portas que levavam até o subsolo, e entrou.
Como fez aquilo, não soube explicar, mas quando se virou em
direção a porta, instintivamente ergueu os braços e lançou uma onda de
energia luminosa que arremessou a garota dois metros para trás.
- Ai... Como... Como você fez isso?
A garota tinha olhos violetas brilhantes, diferentes de tudo que Kalel
já havia visto, e cabelos negros como a mais escura noite.
- Eu…
Ele foi interrompido por passos apressados descendo as
escadas e gritando ordens. Antes que pudesse dizer qualquer outra
coisa, a garota o segurou pelo braço e o puxou para um canto mais
escondido da sala. Quando a sala foi invadida, ela saltou do esconderijo,
os cabelos chicoteando, assim como o chicote que empunhava.
Os soldados usavam um uniforme estranho, com um sol branco
e dourado no peito, e uma lua vermelha, que parecia se derreter no
ombro direito. O primeiro foi surpreendido e caiu, sendo derrubado com o
chicote enrolado em seus pés, o segundo teve o chicote enrolado no
pescoço e também foi caiu, em meio à luta, outro som foi ouvido, o teto
do subsolo se abriu e mais três pessoas caíram pela abertura, dois com
espadas, e um com um martelo de guerra.
Em menos de dez segundos todos os soldados, com o sol e a
lua no uniforme, foram vencidos, e seus corpos estavam espalhados no
chão. O homem com o martelo de guerra se aproximou de Kalel e disse,
com uma voz áspera como uma lixa:
- Ei! Você aí atrás. Venha comigo. Agora.
- S-sim senhor.
O estranho grupo seguiu em direção à parede, que se abriu, da
mesma forma que o teto, e talvez, os túneis em frente ao prédio, e
depois, fechou-se. A escuridão não durou quase nada, antes de poder
pegar a lanterna, ou um fósforo, o cara do martelo ergueu a mão, e as
paredes tremeluziram, logo antes de se acenderem com uma luz
amarelada suave.
Kalel caminhava tentando absorver o que havia ocorrido: Seu
prédio sofreu algum tipo de ataque terrorista, sua mãe desapareceu,
essas pessoas estranhas que ele agora não tinha dúvidas sobre terem
poderes mágicos apareceram e agora estavam conduzindo ele para
algum lugar.
- Para onde estamos indo?
- Fique quieto e ande.
- Você já vai descobrir. - Disse a menina.
O túnel repentinamente se abriu em uma sala com um estranho
formato triangular. No centro, havia uma mesa, semelhante a um altar,
também com formato triangular, mas apontando a direção oposta à da
sala.
Cada parede possuía um símbolo diferente, cujo significado era
desconhecido à Kalel. Nos lados do altar, o símbolo das paredes
pareciam se unir, como se fossem um, mas nem mesmo um simples
traço manchava suas laterais. Na parte superior do altar, um mesmo
símbolo aparecia, num mesmo ângulo, independente do ponto de vista
que se tomasse.
Com o martelo balançando preso ao cinto, o homem avançou
em direção ao altar, pousou sua mão direita sobre ele, e uma poderosa
aura de energia saiu do altar. Com isso, a sala inteira começou a girar,
deixando somente seus ocupantes estáveis no lugar. Quando parou, ela
era circular, mas aparentava estar voltando ao formato original.
- Já viajou entre mundos, garoto?
- O que? Como assim "entre mundos"? Vamos sair do planeta?
- Pelo visto é tão burro quanto imaginei…
- A viagem entre mundos, é quando nós viajamos por meio de
outro mundo. Não outro planeta, pode ser pelo mundo físico,
como você conhece, pelo mundo mental, ou pelo mundo
espiritual. - Explicou, com os olhos violetas o encarando, antes
que a situação pudesse piorar.
- Calma aí, você está na dizendo que existe um mundo inteiro não
físico, e dá pra viajar por ele?
- Dois, não um. São dois mundos não físicos. E sim, estou
dizendo que existem coisas além do que é físico, e que é
possível viajar por esses mundos.
- Isso tá parecendo ficção pra mim, e nossos corpos ficam para
trás? Já que vamos sair do físico, e nossos corpos… bem, são
físicos. Seria tipo aquelas pessoas que falam de projeção astral?
- Não é ficção, nossos corpos não ficam para trás, e quanto à
projeção astral, sim e não. Sim, é parecido de certa forma, mas o
corpo não fica para trás, e podemos ir pelo mundo mental,
espiritual ou algum mundo entre esses, diferente da projeção
astral, que permitiria que você visitasse só esse último. Na
verdade não, podemos ir pelo mundo material, espiritual, mental,
um entre mental e o espiritual, entre o físico e o mental, ou entre
o físico e o espiritual.
- Não entendi muito bem, mas acho que se tentar entender mais
algo minha cabeça vai explodir.
A sala voltou à forma triangular, mas as paredes haviam
mudado. Parecia que ela havia girado 180º. depois de um breve tempo,
as paredes a suas costas começaram a se afastar, e se abrir para um
lugar escuro, onde não se via nada além deles mesmos. Parecia não
haver luz ou sombras, mas eles podiam se ver, e ver os outros com uma
facilidade impressionante.
Kalel sentiu a mesma sensação estranhamente familiar que ele
tinha nos estranhos sonhos que tinha, vez ou outra. O tempo pareceu
parar por um instante, no qual a mesma voz de seu último sonho, disse
em sua mente:
- Não temas, não posso dizer muito nesse momento, mas confie
nestes que salvaram-te.
- Kalel? O que aconteceu? Você estava olhando para o nada, com
uma expressão de que viu um espectro pela primeira vez.
- O que é um espectro? E como você sabe meu nome?
- Um espectro é um ser maligno, pertencente ao mundo mental, e
ao espiritual. Sei seu nome porque você não sabe esconder
seus pensamentos, e eu posso lê-los.
- Você estava lendo minha mente? Como? E por que fez isso?
Nem te dei permissão!
- Precisava me certificar que você não era aliado deles.
- Deles quem?
- Dos membros do Eclipse.
- Eclipse?
- Aqueles soldados que invadiram o subsolo, e devem ainda estar
lá, alguns pelo menos.
- Vocês dois, chega de conversa.
- Por que ele é tão rabugento? - Sussurrou o garoto. - E qual o
seu nome?
- Não sei muito sobre ele, só vim nessa missão porque queria ter
algo interessante pra fazer. Meu nome é Amber, Amber Taygeta.
A escuridão acabou de uma estranha forma, parecia o céu
noturno das mais belas pinturas possíveis de imaginar. Ao olhar para
trás, parecia que o percurso inteiro foi assim, a escuridão seria então
fruto de sua imaginação?
Em alguns lugares, havia um solo com aparência de solo, não
aquele vazio sólido por onde estava andando. Um som pareceu ecoar
atrás deles, e um imenso touro, deveria ter dois metros e meio de altura,
ou então mais, abaixou a cabeça, e correu em direção a uma nuvem de
fumaça, que parecia mais sólida do que deveria, e se espalhando de uma
forma estranha. A nuvem se separou, um pedaço perfurado pelos
chifres, a fumaça atingida, murchou e se transformou em algo
semelhante a papel, que começou a evaporar para retornar ao normal, e
o restante, se enrolou no animal, e começou a esmagá-lo, era possível
sentir o que o animal sentia, como sentir a água corrente, algo tão natural
que mal se notava, mas impossível prever as ações da fumaça, ela
parecia agir de uma forma completamente diferente do esperado.
- Por que espíritos e consciências precisam brigar e se odiar
tanto? Não podem causar ferimentos uns aos outros, mas deve
ser irritante, até pra eles mesmos. Que bom que não tem golens
aqui.
- Não podem causar ferimentos? Então pra que toda essa
encenação?
- Não sei, o espírito começou e agora a consciência revidou.
- Já acabaram a conversa? Chegamos.
- Chegamos? Aonde?
- Para de perguntar moleque.
- Estamos em Manhattan agora.
- O que?! Isso é impossível, não andamos nem dez minutos!
- O espaço e o tempo não se movem igualmente em todos os
mundos.
- Tempo? Então… que horas seria agora?
- Calma, já vamos ver.
A mesma sala triangular surgiu, e as coisas se repetiram, mas
de trás pra frente. Eles saíram, e realmente, parecia mesmo ser
Manhattan, e o sol estava mais baixo do que antes, seriam 13h? Amber
estalou os dedos e apontou para um relógio.
- Como são 11h?! Saímos do prédio depois do meio-dia!
- É 11h sendo 11h. Óbvio, o que você esperava?
- Que chegamos aqui talvez duas horas depois de sairmos!
- Mas são 11h, e daí?
- E daí que nós voltamos no tempo!
- Não poderia ter passado um dia? E hoje ser o dia seguinte?
- Sim, mas mesmo assim é estranho!
- Tá, tá, já vi que não adianta discutir com você, então vamos
andando.
Depois do que Kalel não sabia se achava que foram horas ou segundos,
ele chegaram a um estranho edifício, que parecia existir ali, e não existir,
ninguém parecia nem ver ele, e quando passavam na frente dele, parecia
que o lugar simplesmente não existia, e a pessoa estava do outro lado.
- É aqui?
- Sim, Domínio de Nova York.
- Domínio ?
- Sim, temos Domínio s, Institutos, e Bases. Um Domínio é
responsável por uma cidade e redondezas, Institutos, por
estado, e as Bases, por país ou região do país. Alguns países
não possuem Base própria, por serem muito pequenos, então,
uma Base é responsável por esses países juntos.
- Hum. Os Domínio s são sempre assim? - Disse o garoto,
apontando a estranha construção na sua frente, tinha um jardim
muito diferente do comum, com plantas que se moviam
independentemente do vento, tinham as mais diversas cores,
como se não precisassem da clorofila, e pareciam emitir uma
certa calma. No caminho da entrada, a construção se parecia
com um templo grego, um prédio se erguia depois disso, pintado
de branco, e que terminava com uma estranha pirâmide, com um
cume dourado, brilhando ao topo, como uma coroa.
- Não necessariamente, mas todos são mais ou menos assim.
- É impressionante.
- Impressionante é a capacidade de vocês de não pararem de
falar, já levei vocês para cá, a missão terminou. Espero não
receber mais missões com pirralhos tagarelas.
Os três que caíram do teto, saíram um por um, deixando só Kalel
e Amber na entrada do Domínio .
- Então, primeiro as damas, creio? - Perguntou Amber, abrindo as
portas do Domínio .
Se por fora, o Domínio era impressionante, por dentro, a
estranha combinação de arquitetura, egípcia, romana e grega era
simplesmente fantástica. Parecia a mais bela igreja possível de se
imaginar, mas com características das construções gregas, como as
famosas colunas gregas, e diversas estátuas imponentes. As escadas
eram adornadas com hieróglifos, e os rodapés da mesma forma, algumas
paredes pareciam feitas, assim como as pirâmides, de vários blocos de
pedra, cortados e empilhados com tamanha precisão, que pareciam ser
quase um objeto único.
Ouviram-se passos nas escadas, e dali saiu um homem, de
olhos azuis claros, brilhantes como diamantes, parecendo quase
sobrenaturais, e cabelos negros como a noite, e uma mulher, com olhos
violetas e cabelos castanhos escuros.
- Mãe, pai, esse é Kalel Elder. Kalel, minha mãe, Aurora Taygeta,
e meu pai, Achille Taygeta.
O Domínio