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E-FÓLIO A

UNIDADE CURRICULAR: ELITES E MOVIMENTOS SOCIAIS

CÓDIGO: 41024

DOCENTE: Professor Doutor João Caetano

NOME: Cláudia de Jesus Alves

N.º DE ESTUDANTE: 2003128

TURMA: 05

CURSO: LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

DATA DE ENTREGA: 04/04/2022

TRABALHO COMPOSTO POR: 1467 PALAVRAS

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Conforme referido na Infopédia, ao pesquisar o seu significado,“… elites são grupos de
pessoas que numa determinada sociedade se auto- atribuem proeminência ou a quem ela
é reconhecida.”. (Porto Editora – elite na Infopédia)
Muito embora essa noção esteja firme em diversas disciplinas de Ciências Sociais, está
também presente tanto em Sociologia Política, como em Politologia e Relações
Internacionais (Bessa,2002,p.11). As sociedades não param. Estão em constante
mudança, embora seja quase impossível prever como e quando tais mudanças irão
acontecer e quais as suas consequências. O que parece certo é que as elites sociais ,e a
sua influência, tem o poder de alterar o rumo dos acontecimentos, tanto positiva como
negativamente. O termo “elite” foi concebido pelo economista e sociólogo italiano
Vilfredo Pareto (1848-1923), considerado irreverente no seu tempo, por desafiar o senso
comum. Pareto acreditava que na sociedade existiam grupos de indivíduos que se
destacavam dos demais pela sua ampla qualificação em determinadas áreas. Assim sendo
e conforme referido em Bessa (2002) , existe uma elite nas mais diversas áreas, composta
por indivíduos excecionais, que alcançaram patamares superiores na sua carreira:
jogadores de futebol, professores, tenistas, militares entre outros. (Bessa,2002,p.16). Para
Pareto, a elite mais prestigiada e influente seria a elite política, composta por homens
detentores de poder político, que se esforçavam ao máximo tanto para conseguir esse
poder, como para o manter. Nessa luta constante de poder surge a criação de duas fações:
a elite governante , que concentra o verdadeiro poder, dele fazendo uso e a elite não
dominante , que aguarda ansiosamente uma oportunidade para governar , sendo que a
forma de a alcançar passará pela conquista da simpatia das massas e consequente
obtenção de votos em momentos eleitorais (Bessa,2002,p.17). Essa convicção sobre
grupos privilegiados, era partilhada por Gaetano Mosca (1858-1941), jurista e historiador
italiano. Porém Mosca designava esse grupo de classe política dirigente, em parte devido
à sua ideia de que a elite estava diretamente associada à classe social.
Bessa (2002) refere ainda outros pensadores e seus estudos sobre as elites. Entre eles
Robert Michels (1876-1936), cientista e sociólogo alemão que identifica a concentração
de poder em um reduzido número de pessoas, criando dois novos conceitos: organização
e oligarquia , demonstrando assim que mesmo em organizações políticas que
ambicionem a democracia , existirá uma tendência e uma tentativa de se eternizar no
poder; Wright Mills (1916-1962) sociólogo americano, fez a separação entre as noções
de elite e classe social , desenvolvendo investigações empíricas sobre elites. Através

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desses estudos, concluiu que se constituía uma elite nacional , com interesses comuns,
não só a nível financeiro, mas também interesses pessoais, cujo poder alternava, conforme
a ocasião, dando origem à expressão “elite do poder”; Raymond Aron (1905-1983),
sociólogo francês, admirador das ideias de Pareto, faz a separação de elites classificando-
as como totalitárias (dando como exemplo a ex-urss) e democráticas (restantes países
europeus e américa). Assim sendo apresenta dois tipos de elites: a elite dividida ,em que
a elite política é formada por grupos que se opõem, numa tentativa de superação do outro;
elite unificada, presente em sociedades totalitárias, cujo controlo do poder político é feito
por um único grupo.
Mas nem toda a elite é política. Bessa (2002) faz referência a três dimensões, sendo as
mesmas: contra-elite, elite social não política e graus de mobilidade. Refere ainda a
existência de outras elites, também elas agentes de mudanças e com uma grande
influencia sobre as massas. São elas: as elites tradicionais, cujo poder baseia-se em
crenças e religião; elites carismáticas, em que a qualidade marcante do chefe é
extremamente valorizada, pelo que o seu desaparecimento pode conduzir ao fim da elite;
elites simbólicas, caracterizadas por indivíduos que deixam a sua marca na sociedade,
estando inseridas nesse grupo os artistas, desportistas, pessoas ligadas ao mundo da moda;
elites ideológicas, onde estão inseridos os pensadores e jornalistas influentes, cujas ideias
podem influenciar as massas de forma positiva ou negativa. É ao grupo das elites
ideológicas, que pertence a jornalista portuguesa, Maria João Avillez , nascida a 4 de
Fevereiro de 1945, entrevistada pelo Jornal Expresso , tendo a mesma entrevista sido
publicada na sua edição de 23 de Janeiro de 2022. Na entrevista com o título “Deem-me
uma pessoa e eu faço uma grande viagem”, Maria João Avillez , demonstra porque é um
exemplo de elite jornalística, visto que teve o privilégio de se relacionar e entrevistar
algumas pessoas pertencentes à elite política, tanto nacional (ex. Álvaro Cunhal, Mário
Soares, Cavaco Silva), como internacional (ex. Felipe Gonzalez, Margareth Thatcher),
embora também tenha entrevistado pessoas ligadas à cultura (ex. Raul Solnado, Vargas
Llosa). A referida entrevista dá-nos a conhecer ainda o fato da jornalista pertencer a uma
família com raízes aristocráticas, cujos pais eram simpatizantes do Estado Novo.
Conforme referido pela própria no início da entrevista “Fui sempre a reacionária, mas
foi-me completamente indiferente” (Maria João Avillez in Expresso-23/01/2022) .
Contudo, o ser reacionária nunca interferiu com a sua ética profissional e sua capacidade
de se manter imparcial. A sua natureza curiosa leva-a ao mundo jornalístico aos 17 anos,
altura em que inicia uma colaboração em um programa da Radiotelevisão Portuguesa

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chamado "Programa Juvenil", a convite da escritora Yvette Centeno, sua professora.
Estava traçado o seu caminho pelo mundo da comunicação, caminho esse que a levaria a
jornais de prestígio como A Capital e o semanário Expresso.
Durante a entrevista, a jornalista fala com orgulho da sua relação de proximidade com os
políticos que entrevistou, embora essa relação sempre fosse baseada na independência,
como a própria refere: “independência sem atropelar a empatia e sem que a empatia
atropele a independência” (Maria João Avillez in Expresso-23/01/2022). Essa forma
objetiva de entrevistar políticos tanto de direita, como de esquerda, sem se preocupar com
ideias pré-concebidas a seu respeito, leva-a a uma vida profissional rica e cheia de
experiências gratificantes, tendo sido a 1ª jornalista a entrevistar Vasco Gonçalves, um 1º
ministro do pós-revolução 25 de Abril de 1974. Maria João Avillez exemplifica a
importância das relações entre a elite jornalística e a elite política em um país
democrático. De referir ainda o facto da jornalista, que mesmo sendo conservadora, era
bem recebida na sede do Partido Comunista Português, onde teria grandes conversas com
o dr. Álvaro Cunhal. Ou ainda o convite para jantar em sua casa, feito pela própria, a
políticos que se encontravam incompatibilizados, conforme referido na seguinte pergunta
do entrevistador: ”Em 1976 reuniu num jantar em sua casa Mário Soares e Sá Carneiro,
que andavam de candeias às avessas, e ainda Freitas do Amaral. Conte-nos como foi”.
Ao que a jornalista responde:
“Aí fiz uma aposta com alguém que me disse: “Tu achas que consegues
entrevistar toda a gente” — e eu de facto entrevistava toda a gente —
e pensei: agora vou fazer melhor. Convidei-os com as mulheres, e
também a direção do Expresso, o Francisco Pinto Balsemão e o
Marcelo Rebelo de Sousa, que aproveitaram para tirar notas a pensar
na edição seguinte do jornal”.(Maria João Avillez in Expresso-
23/01/2022).
A influencia dos jornalistas na vida política está presente durante quase toda a entrevista,
sendo marcante a parte em que fala sobre Victor Cunha Rego (também ele jornalista) ter
telefonado, a 1 de Maio de 1974, ao dr. Mário Soares, após o mesmo (Mário Soares) ter
saído do Estádio 1º de Maio de braço dado com Álvaro Cunhal, dizendo-lhe que “não
podia fazer isso.”.
Conforme referido por Bessa (2002) “a elite política deveria, no seu diagnóstico,
renovar-se periodicamente com sangue novo e as caras mudarem para benefício do
equilíbrio e da estabilidade” (Bessa,2002,p.19). Maria João Avillez sempre soube

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acompanhar essa renovação e mudança, tendo mesmo feito parte dela, não se limitando a
entrevistar “políticos profissionais”, mas sim pessoas que acreditavam e lutavam pelos
seus ideais.
Por essa razão, quando o entrevistador lhe pergunta : “Quando olha para o jornalismo
hoje, o que é que vê?”, a influente jornalista simplesmente responde:
“Não gosto do que vejo. Dizer que “no meu tempo” o jornalismo era
melhor é chorar sobre o leite derramado, coisa que não me está na
natureza. Mas a minha geração era mais consciente das
responsabilidades da mediação. O país lia jornais, o papel reinava, a
televisão só reinava assim-assim, as nefastas redes sociais ainda não
existiam nas subcaves anónimas onde hoje atacam, manipulam e
mentem. Tudo mudou — e nalguns casos ainda bem —, mas o
discernimento, o critério e a mediação são menos exigentes. Há
jornalismo justicialista, demasiado emotivo, populista. Mais
dependente da espuma do que da essência das coisas. E chega a ser
intrigante todos dizerem o mesmo, em todo o lado, ao mesmo tempo,
sem sombra de vontade de fazer “diferente”. Penso que se deveria
exigir mais responsabilidade, atenção e critério aos editores, são eles
o elo de ligação entre a direção e o jornalista. Muita coisa mudaria
para melhor se assim fosse.” (Maria João Avillez in Expresso-
23/01/2022)

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Bibliografia:

Bessa, A (2002) – Elites e movimentos sociais- Universidade aberta

Entrevista a Maria João Avillez pelo Jornal Expresso (2022) - Disponível no Tópico 1
da UC Elites e Movimentos Sociais

Na web:

Porto Editora – elite na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. consultado a 2022-
04-03. Disponível em https://www.infopedia.pt/$elite

Porto Editora – Maria João Avilez na Infopédia. Porto: Porto Editora. Consultado a
2022-04-03. Disponível em https://www.infopedia.pt/$maria-joao-avilez

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