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Webber Stelling 1
Orientador: Prof. Dr. Fernando Pedrão 2
Resumo
Este artigo tem como escopo realizar uma abordagem histórica sobre a indústria têxtil
na Bahia, enfocando sua importância para a economia estadual no século XIX e os
fatores que a levaram à decadência no século seguinte. Objetiva também discutir as
oportunidades de reativação do setor, ressaltando suas possibilidades de dinamizar a
economia estadual.
Abstract
This paper aims to do an historic approach at the textile industry of Bahia, analyzing its
importance to the economy of this state in the 19th century and the facts that cause his
decline in the following century. It also discusses the opportunities of textile sector
reactivating, considering the possibilities of local economic increase.
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Economista formado pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS e Especialista em Economia Baiana
pela Universidade Salvador – UNIFACS; trabalha na Desenbahia – Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A, e-
mail: webber@desenbahia.ba.gov.br .
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Livre-docente da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Professor do
Mestrado em Análise Regional da Universidade Salvador – UNIFACS.
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Introdução
Fontes sobre indústria têxtil na Bahia são muito escassas – em geral, pode-se
contar apenas com dados quantitativos esparsos em jornais, arquivos de fábricas e
órgãos públicos, bem como breves comentários em publicações sobre temas mais
amplos, como indústria têxtil nacional ou desenvolvimento econômico da Bahia.
Essa tese fo i a principal fonte utilizada na segunda seção deste artigo (A Velha
Indústria Têxtil), pois o comportamento da companhia e do setor têxtil revelou em que
medida os diversos condicionantes externos e internos foram favoráveis à
industrialização baiana nos períodos abordados.
Celso Furtado aponta a forte queda nos preços dos têxteis ingleses nos primeiros
decênios do século XIX como obstáculo à subsistência do artesanato têxtil então
existente. Segundo o mesmo autor, nos períodos compreendidos entre 1821/1830 e
1841/1850, enquanto os preços dos produtos importados permaneceram estáveis, houve
decréscimo de cerca de 40% nos preços de produtos de exportação brasileiros –
basicamente açúcar, fumo e algodão –, origem de constantes déficits na balança
comercial da jovem nação.
Cabe assinalar que os têxteis ingleses tiveram seus preços minorados por
redução de custos de produção através da incorporação de novas tecnologias; a queda
dos preços das “commodities” brasileiras deveu-se à concorrência de outras praças
coloniais, como as Antilhas, para onde haviam emigrado os judeus produtores de açúcar
expulsos do Brasil, então colônia portuguesa, no século anterior. Enquanto a Inglaterra
firmava-se como a grande potência econômico- militar do mundo, o Brasil perdia
progressivamente a competitividade de seus produtos de exportação.
Essa grande indústria funcionou durante trinta anos com alta ociosidade, devido
a problemas com o abastecimento de matérias-primas e na colocação de seus produtos
no mercado. Após ser incorporada pela “Valença Industrial”, em 1887, sua produção
integrou-se com a da Fábrica Nossa Senhora do Amparo no último quartel do século
XIX, comunicadas através de um complexo sistema de comportas – extremamente
avançado para a época – que possibilitava a transposição da segunda cachoeira do Rio
Una (contada a partir da foz).
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A mídia eletrônica “Dicionário Aurélio – Século XXI” apresenta, dentre outras, as seguintes acepções para vara:
“Antiga unidade de medida de comprimento, equivalente a cinco palmos, ou seja, 1,10metro. Porção de tecido com o
comprimento dessa medida”.
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Existiu também por essa época uma fábrica denominada “São Carlos do
Paraguassú”, de cuja existência, em 1857, faz-se referência em um ofício ao Presidente
da Província, este último datado de 1861.
Não foram esses eventos bastantes para sustentar o crescimento da econo mia
local. Sem condições climáticas e geológicas para aderir à onda cafeicultora, que
deslocou o centro da economia brasileira para o eixo Rio/São Paulo, a Bahia foi
perdendo sua proeminência no setor têxtil – enquanto em 1866, ainda sob os benéficos
efeitos da Guerra de Secessão sobre as exportações baianas, mais de 50 % do parque
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TABELA 1
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ESTIMADA DAS FÁBRICAS
BRASILEIRAS DE TECIDOS
1866, 1875, 1885
Maranhão 1 1
Pernambuco 1 1
Alagoas 1 1 1
Bahia 5 11 12
São Paulo 6 9
Minas Gerais 1 5 13
TOTAL 9 30 48
Fonte: Furtado, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1972.
Ainda assim, apesar de tantos ciclos de queda e ascensão, o final do século XIX
revelava uma Bahia com industrialização ainda destacada dentro do contexto nacional,
porém em processo de contínua perda de importância a nível nacional: em 1890, a
proporção de fábricas na Bahia era a nona parte do total nacional. A indústria baiana,
segundo Góes Calmon, registrava a presença de 123 fábricas em atividade na Bahia em
1892, principalmente concentradas na agroindústria do açúcar e nas fábricas de tecidos,
estas predominantemente instaladas na capital e no Recôncavo – raízes da concentração
espacial verificada até a atualidade – e responsáveis pela criação de uma economia
urbano- industrial, em paralelo com o comércio e a exportação de produtos agrícolas.
Na Bahia, essa bolha especulativa fez surgir 32 companhias entre 1890 e 1891.
Em 1891 a bolha especulativa estourou: títulos de crédito perderam seu valor e
multiplicaram-se as falências, com o agravamento do processo inflacionário.
Por outro lado, como já foi mencionado, ao final do século XIX a economia
baiana exibia sinais de uma industrialização expressiva para o Brasil da época: havia
123 fábricas no Estado, sendo 12 de tecidos, todas em atividade. O período
compreendido entre o final do século XIX e a década de 1930 é considerado o auge da
indústria têxtil baiana. Houve uma concentração de empresas, exemplificada pelas
Companhia União Fabril da Bahia (resultante da fusão de cinco fábricas em 1891) e
Companhia Progresso Industrial da Bahia, que incorporou as fábricas Todos os Santos e
Nossa Senhora do Amparo em 1887. Data também desse período a criação da
Companhia Empório Industrial do Norte.
esforçavam-se para usufruir uma oportunidade real de melhorar suas condições de vida.
A fábrica, localizada em Boa Viagem, contava com 697 operários e 899 teares
em sua fundação. Foi uma das 29 companhias criadas na Bahia em 1891, em pleno
Encilhamento – a maioria dessas empresas não sobreviveu por muito tempo, exceto as
que operaram nos ramos de fiação e tecelagem de algodão. Nessa época a indústria
têxtil reunia quase a quarta parte dos capitais aplicados em novos empreendimentos; por
sua vez, o capital da Companhia Empório Industrial do Norte correspondia à quinta
parte do capital aplicado em seu setor. Após dois anos de funcionamento, a unidade era
responsável pela terça parte da mão-de-obra empregada, por quase dois terços dos teares
e quase a metade da produção da indústria têxtil baiana.
Essa empresa resistiu a diversas crises, exportando produtos para quase todos os
Estados brasileiros e também para o exterior, em épocas mais favoráveis; foi fechada
em 1973, em meio a diversas circunstâncias negativas.
Outra empresa dessa época foi a Companhia Valença Industrial (CVI), fundada
em 1899 e sucessora da “Empreza Valença Industrial”, citada anteriormente. Opera até
a atualidade no mercado nacional de tecidos de algodão, após diversas mudanças de
propriedade: hodiernamente pertence ao grupo cearense Têxtil União, dedicando-se à
fabricação de tecidos de brim, com produção de cerca de 1,3 milhão de metros/mês. É
uma das mais antigas fábricas de tecidos em operação no País e a única a funcionar na
Bahia.
Conclusões
Nos primórdios do século XIX, o “Porto da Bahia” era responsável por mais de
80% do comércio entre colônia e metrópole, com destaque para os tecidos como objeto
de importação. Apesar de sua importância para a economia colonial, ou justamente por
causa dela – vide a célebre frase de Eduardo Galeano, “a importância de não ser
importante”, referindo-se às diferenças de desenvolvimento das ex-colônias de
povoamento em relação às colônias de exploração, estas importantes para as economias
metropolitanas – a Bahia perdeu sua posição no cenário da industrialização brasileira ao
longo do último século, com o crescimento da monocultura do café, que deslocou o
centro da economia para o Vale do Paraíba – dizia se no final desse século “o Brasil é o
Vale”.
Bibliografia