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PREFÁCIO DE

MAD AN KATAR IA
GRATIDÃO
Assim começa essa jornada



Sumário
Prefácio 15

O que estamos fazendo aqui? 17


Aviso Legal 19
Contraindicações do Yoga do Riso 21
Sobre a linguagem 23

PARTE 1 - A TEORIA POR TRÁS DA GARGALHADA 25


1. O yôgi que queria rir 27
2. Não foi amor à primeira vista 31
3. E o riso se fez Yoga 37
4. Rir sem motivo: como tudo começou 43
5. Em busca das gargalhadas perdidas 49
6. O que é Yoga do Riso? 5 pontos 55
Quadro resumo 63
7. Por que praticar Yoga do Riso? 65
Quadro resumo 72
8. O professor do riso que não ria 73
9. Banana Ana 79
10. Malik, a criança normal 87
11. Benefícios do riso 91
Benefícios gerais para a vida pessoal 95
Benefícios para a saúde 96
Benefícios para o trabalho 99
Benefícios para a vida social 103
Benefícios da resiliência 106
Quadro resumo 109
12. Riso (e poesia) à inglesa 111
13. Humor e Riso 123
Mau humor, boas risadas 123
Quem nasceu primeiro: a felicidade ou a alegria? 127
Condicionamento: imita as crianças e rirás como elas 131
Da mente ao corpo, do corpo à mente 133
14. 40 dias de riso 137
15. Os primos do riso 147
16. Casos Risonhos 155
Uma sessão chocante 155
Camila e o paraíso em Hell-cife 159
Ferdinando e a cura do câncer pela gargalhada 161
De médico e louco todo mundo tem um muito 163

FOTOS 167

PARTE 2 - RIR, NA PRÁTICA 185


Sessão de Yoga do Riso: rir em grupo 187
17. Antes de começar 189
18. A prática na prática: 4 passos 193
1. Palmas e aquecimentos 194
a Hoho-hahaha 195
b. Outros exercícios de aquecimentos 196
2. Respiração yôgi 197
3. Ativação do espírito infantil 200
a. “Muito bem, muito bem, yeeh!” 200
b. Outros exercícios de ativação do espírito infantil 201
c. Jogos, brincadeiras e dinâmicas de grupo 202
4. Exercícios do riso 204
19. Meditação do riso 211
1. Meditação do riso sentada 211
2. Meditação do riso deitada 215
Posições para a meditação do riso deitada 221
20. Encerramento 231
1. O relaxamento 232
2. Visualização pela paz mundial 233
3. Aterramento (enraizamento) 235
4. Feedback 237
5. Slogans 239
6. Informes e avisos 241
21. Conselhos 243
1. Não falar 243
2. Olhar nos olhos 244
3. Não forçar o volume da risada 245
4. Não procurar graça 245
5. Esqueça o julgamento dos outros 246
6. Escolha a felicidade 247
A prática individual: rir sozinho 249
22. Rir por si 251
23. Até a próxima! 259

PARTE 3 - ANEXOS 265


Anexo 1 - Modelo de Sessão Completa (Laughter Yoga Internacional) 267
Anexo 2 - Modelo de Sessão Completa (Ana Banana) 269
Anexo 3 - Modelo de Sessão Completa (Sandro Lobo) 272
Anexo 4 - 40 Exercícios do Riso Fundamentais 276
Anexo 5 - Lista de Outros Exercícios do Riso 287
Anexo 6 - Aquecimentos e Jogos 307
Anexo 7 - Relaxamento Guiado 328
Anexo 8 - Visualização pela Paz Mundial 330
Anexo 9 - Vamos manter contato? 332
Gratidão

Aos Líderes de Yoga do Riso Roberto e Laurinda, meus pais,


pela doação. É pelo que fazem por mim que posso ser quem
sou.

A Rodrigo e Taíssa, pelo prazer de lhes ser o caçula. A Duque e


Caia, pelo tempo que era deles e veio para este livro.

À família Kombi Cura, por me ter levado a outras estradas e por


cada encontro dessa caminhada.

A Ana Banana, minha madrinha, por abrir esse portal. E a


Malik, o mestrinho, por mostrar a criança que podemos ser.

A Lotte, por levar o Yoga do Riso a outro nível e me fazer pro-


fessor.

A Patrícia, coach e irmã, por ter trazido o sonho para o papel e


por esse amor incondicional. Daqui à lua.

AAStefan, poro ler


Gabriela, antes.
maior presente da minha vida, por me lembrar to-
dos os dias que o amor vai dominar o mundo. Eu sou porque nós
Asomos.
Garudinha, por ler sempre (e junto).
A Celeste, Rita, Ti Luis e toda família portuguesa, por serem
casa além-mar.

Ao primo Cláudio, por inspirar.

Aos nossos Clubes do Riso em Portugal e no Brasil, pela família


que somos.

A todas as pessoas que um dia saíram das suas casas para par-
ticipar de uma sessão do riso, pela coragem de se entregar ao
novo e dar uma chance à felicidade.

Aos alunos das formações certificadas, meus afilhados do riso,


pela confiança. Por terem vestido a camisa e abraçado essa
missão — a mais divertida que há!

A todos os colegas do riso, daqui ou de qualquer lugar. Um só


caminho pela paz no mundo inteiro. Pela cura do planeta!

A todo esse amor que está por aí, e toda beleza que eu pude
enxergar. A cada desafio um dia posto pra mim, e tudo que me
trouxe pra esse lugar.

E ao riso, é claro. Porque... hahaha!


A Davi
pela pessoa que preciso ser
para poder te carregar
Prefácio

Assim que conheci o trabalho do Sandro, percebi que o Brasil,


esse país com dimensões e desafios tão gigantes, tinha ganho
um expoente à altura. Com dedicação, verdade e muita paixão,
o jovem autor deste livro vem espalhando as técnicas do Yoga
do Riso do Norte ao Sul do país (e, de vez em quando, até
em Portugal), beneficiando milhares de pessoas.

Este livro é mais uma das suas extremamente prolíficas con-


tribuições. Ele traz os ensinamentos do Yoga do Riso no seu
formato original, somados a relatos da sua própria experiência
de professor e Embaixador do Riso internacional.

Na primeira parte, Sandro conta como chegou ao Yoga do


Riso e seus primeiros passos: de buscador espiritual que não
admitia chamar isso de “Yoga” até a sua primeira experiência
de “iluminação” através da risada. Em seguida, o livro traz a
história e os fundamentos teóricos e científicos por trás da me-
todologia do Yoga do Riso segundo os preceitos da Laughter
Yoga International, incluindo seus benefícios e as razões pelas
quais devemos praticar.

Na segunda parte, o livro traz o passo a passo completo das


técnicas do Yoga do Riso, seus princípios e formas de aplicação,
tanto para sessões em grupo quanto para a prática individual.

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A qualidade do texto é tão profunda que este livro serve de
manual para líderes certificados, mas a sua linguagem é tão
fluida e prazerosa que mesmo quem nunca teve contato com o
método poderá construir verdadeiras sessões de Yoga do Riso
com seus amigos e familiares. Por outro lado, se o seu objetivo
com este volume é trazer mais risadas para a sua vida pessoal,
esta também é uma ferramenta ideal.

Entre as técnicas ensinadas aqui estão: exercícios de respira-


ção, exercícios do riso, jogos, dinâmicas de grupo, brincadeiras,
aquecimentos, meditações e enraizamento, técnicas de relaxa-
mento e visualização positiva. O livro, na verdade, conduz os lei-
tores por uma caminhada de desenvolvimento pessoal profunda
e revolucionária e ensina como viver uma vida mais saudável,
feliz e realizada.

Este é realmente um livro que irá transformar a sua vida!


Tem minha bênção, minha gratidão e minha recomendação.

Boa leitura e boas risadas.

Com amor,

Dr. Madan Kataria


Fundador do movimento mundial do Yoga do Riso
Viva, ame e ria!

16
O que estamos
fazendo aqui?

Depois que passei a vivenciar o riso na prática e comecei a per-


ceber os incríveis benefícios que trazia para a minha vida, tive
imediatamente vontade de gritar para o mundo inteiro que as
pessoas rissem mais. Eu sabia que, assim como me estava aju-
dando, o hábito de exercitar a risada poderia auxiliar outras
pessoas a terem uma vida mais saudável, leve e feliz.
Por isso, declaradamente, admito: o meu maior objetivo com
este livro é ajudar você a rir mais. Eu poderia escrever um livro
de piadas, e certamente até conseguiria lhe sacar algumas risadas.
Mas e depois? Como essas risadas se sustentariam ao longo do
tempo? Pois é. Não são apenas risos fugazes que eu quero pro-
porcionar.
A intenção aqui é revelar como podemos rir independente de
motivos, ou seja, exercitar a gargalhada sempre que quisermos
e mesmo quando não estivermos nem um pouco a fim. O riso
aqui é tratado como uma ferramenta pessoal, sempre presente
e sempre disponível, através da qual todos nós podemos
en-contrar estados mais alegres e saudáveis em todas as
áreas das nossas vidas.
Nas próximas páginas, contarei algumas histórias da minha
jornada no caminho do Yoga do Riso, uma técnica simples e
fantástica que nos permite rir sem porquê, da maneira mais
eficiente e divertida possível, e adquirir todos os benefícios que o
riso pode nos proporcionar.

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Falarei dos mestres que encontrei pelo caminho e
compartilharei alguns dos principais ensinamentos que me
transmitiram. Também vou revelar alguns casos curiosos que
aconteceram nos últimos anos em que me dediquei a espalhar o
riso pelo Brasil e por Portugal.
Se você ler o livro inteirinho, entenderá o que é esse tal de
Yoga do Riso, como funciona, sua história, suas razões e
fundamentos, e também vai aprender alguns dos benefícios já
comprovados pela ciência que o riso nos traz. Vai tomar
conhecimento da teoria por trás da técnica e terá conteúdo
suficiente para espalhar a mensagem por aí afora, na prática.
Vou ensinar exatamente tudo que você precisa saber para pra-
ticar o riso na sua própria vida, como uma ferramenta pessoal
de autoconhecimento, cura e desenvolvimento para uma vida
mais saudável, feliz e bem-sucedida.
E, além de tudo isso, vou lhe oferecer todo o conteúdo
necessário para dinamizar suas próprias sessões do riso com
outras pessoas ou aplicar as técnicas da gargalhada nas
atividades que você já realiza. Deixo aqui quase tudo o que
ensino aos meus alunos da formação profissional, inclusive
modelos para estruturar uma sessão completa, com uma lista de
mais de cem exercícios do riso e dezenas de sugestões de
brincadeiras e dinâmicas de grupo. Se você já for profissional da
gargalhada, vai ter aqui um bom material de apoio. Se não o for,
terá tudo para começar a sua caminhada.
Isso sim era o que queria fazer: abrir os braços e oferecer tudo
aquilo que eu posso para que você e todos aqueles que tiverem
contato com este livro possam se beneficiar tanto ou mais do que
eu com essa maravilha que é o riso.
Se não se importar, eu gostaria de começar já.
Ficamos muito tempo sem rir. Chegou a hora de corrermos
atrás das gargalhadas que ficaram pelo caminho.

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Aviso legal
Este livro traz informações que primam pelo rigor e pela
qualidade, e foi escrito com muito cuidado acerca das fontes e
veracidade do conteúdo. Ainda assim, não intenciona substi-
tuir o diagnóstico e acompanhamento médico convencionais. As
práticas aqui retratadas devem ser adotadas sempre com prévia
orientação médica ou de um profissional de saúde habilitado.
São de responsabilidade do autor tanto o conteúdo escrito quanto
a fidedignidade das referências transcritas, mas é de inteira res-
ponsabilidade do leitor a utilização destas informações, para
fins lícitos ou ilícitos.
Salvo recomendação profissional ao contrário, a prática do
Yoga do Riso nunca é substituta da consulta médica, seja para
fins físicos ou mentais, muito embora possa ser uma poderosa
forma natural complementar de cura ou prevenção de doenças,
bem como de manutenção da boa saúde. Como qualquer outro
exercício aeróbico, porém, deve ser precedida de aconselha-
mento profissional adequado e até evitada em caso de condições
clínicas preexistentes.
Contraindicações do Yoga do Riso
Além de outras situações específicas a critério médico, a prática
convencional do Yoga do Riso é contraindicada para as pessoas
que sofrem com qualquer tipo de hérnia, doença cardíaca
com dor de angina, tosse persistente com falta de ar, pressão
arterial descontrolada, incontinência urinária, epilepsia,
hemorragias, hemorroidas em estado avançado ou
quaisquer tendências hemorrágicas graves em qualquer
parte do corpo, alta pressão ocular (glaucoma), gravidez de
risco com complicações, prolapso uterino, dor nas costas
severa, sintomas agudos incomuns de tosse, frio e febre.
Também se desaconselha a prática em casos de cirurgia
profunda feita até três meses antes.
Por outro lado, adaptada à condição específica de cada pa-
ciente, a técnica pode ser muito útil na reversão dos quadros aci-
ma ou colaborar para o bem-estar durante o período de
resguardo. No entanto, mesmo experimentando
significativas melhorias através do riso, todo paciente deve
primeiro procurar o conselho de seu médico ou profissional de
saúde habilitado antes de porventura reduzir ou suspender a
dose do seu tratamento convencional.
Sobre a linguagem
Este livro foi escrito em Portugal, por um brasileiro naturali-
zado português, e é destinado a pessoas dos dois países — e de
toda comunidade lusófona.
O amor equivalente que sinto pelos dois países e minha tra-
jetória dividida entre os dois lados do Atlântico refletem, ine-
vitavelmente, na linguagem que utilizei. Foi-me realmente
impossível seguir um só formato, pois as formas portuguesa
e brasileira de escrever e falar estão mesmo inseparavelmente
misturadas dentro de mim.
No texto, há o que cause estranheza para uns e para outros.
Peço desculpas.
E desejo que, independente das diferenças de língua, esteja-
mos todos e todas conectados pela essência por trás disso tudo:
o riso. Esse que não conhece fronteiras e, igual em todos os
idiomas, faz-se universal.
Parte 1
A teoria por trás
da gargalhada
1. O yôgi que queria rir

Um santo triste é um triste santo.


Dom Bosco

Cheguei ao Yoga do Riso por acidente. Assitia a um documen-


tário sobre o eminente professor de Yoga brasileiro, o Profes-
sor Hermógenes, de quem eu era um admirador ferrenho. Nes-
se filme, descobri que Hermógenes utilizava nas suas aulas e
palestras o que ele chamava de “Risoterapia”. Seja no meio das
aulas, nas introduções ou encerramentos dos eventos de que
participava ou mesmo dedicando uma palestra só para isso, o
fato é que aquele grande yôgi não dispensava o poder de uma
boa gargalhada onde quer que fosse, como uma verdadeira fer-
ramenta de cura através da alegria.
Naquele tempo, início de 2015, juntamente com os compa-
nheiros da Kombi Cura1, estava começando a organizar reti-ros
de autoconhecimento ` na alimentação saudável e em práticas
complementares da saúde, como oficinas de culinária, artes
manuais, música, dança e, principalmente, Yoga.
Como tinha formação em Yoga tradicional (SwáSthya Yôga —
Mestre DeRose), eu era o instrutor oficial das aulas nos retiros e
também liderava grande parte das outras dinâmicas em grupo.
1
Visite a Kombi Cura nas redes sociais (@kombicura).

27
yoga do riso

E, logo nos primeiros retiros da Kombi Cura, notei que eu


era o membro do grupo que fazia as pessoas rirem. Rafa era o
que as fazia chorar (e libertar emoções reprimidas), Bárbara
alimentava o pessoal (era a nossa deusa da cozinha), e Marcelo
cuidava da parte estrutural da coisa (nosso homem da base).
Sendo o instrutor de Yoga do grupo e também o responsá-
vel por fazer as pessoas rirem, era impossível não me fixar no
exemplo do mestre Hermógenes, também professor de Yoga e
também provocador de gargalhadas.
Sem pensar duas vezes, assim que terminei de assistir ao seu
documentário, corri para pesquisar sobre cursos de formação na
sua técnica de Risoterapia, pois também queria ter aquela ha-
bilidade de ajudar as pessoas através do riso. Por coincidência
— e para o meu desgosto — o mestre viria a falecer logo naquela
época, março de 2015, e já não seria possível fazer qualquer cur-
so com ele, pessoalmente. A sua equipe do Instituto Hermóge-
nes tampouco oferecia cursos de Risoterapia, embora seguissem
aplicando certas técnicas nos trabalhos que desempenhavam.
Na verdade, o mestre não chegou a estruturar um método es-
pecífico voltado para o riso. Simplesmente, aproveitava o seu
grande talento para entreter as pessoas, aliado a um carisma fora
de série e um dos corações mais puros de que já ouvi falar, para
subir ao palco e fazer as pessoas rirem. Contava piadas mesmo,
nada de especial. Piadas de bêbados, de freiras, essas coisas. E
o povo ia à loucura! Ah, o mestre... Só de lembrar, já o coração
enche de alegria. Bom, onde quer que esteja, há de estar levando
também seu amor e sua linda energia a quem puder alcançar.
Mas o fato é que não seria possível aprender a Risoterapia do
mestre Hermógenes.
Por outro lado, para a minha sorte, na mesma pesquisa que
fazia pela internet, dei de cara com um link para um site sobre
um tal de Yoga do Riso. “Yoga + riso. Perfeito!”, comemorei.

28
o yôgi que queria rir

O jovem instrutor de Yoga que queria associar gargalhadas a


suas aulas não podia ser mais contemplado. Aliás, podia: uma
escola de Portugal estaria a caminho do Brasil para realizar um
curso de formação de Líderes de Yoga do Riso logo no mês se-
guinte. E seria bem pertinho de onde eu estava! Glória!
Nesse ponto, eu já estava radiante de alegria. Todos nós da
Kombi Cura vivíamos um momento de muita conexão espiri-
tual, muita entrega ao trabalho de autoconhecimento. E aquilo
parecia mesmo um desses momentos de inspiração: eu acaba-
ra de desejar uma coisa, associar o Yoga com a risada, e eis
que me aparece uma técnica chamada Yoga do Riso, com uma
formação internacional vinda do outro lado do Atlântico para
pertinho de mim. Era de arrepiar!
Entrei em contato imediatamente com o pessoal da orga-
nização, a Escola do Riso de Portugal, e recebi a primeira má
notícia: o curso no Brasil tinha sido cancelado. Se eu quisesse,
naquele ano, teria que ir a Portugal fazer o próximo curso, que
aconteceria três meses depois. Depois de fazer esse curso, po-
rém, poderia repeti-lo quantas vezes quisesse, gratuitamente
ou por donativo livre, no Brasil ou em Portugal.
Mas, é como dizem: o que é para ser tem muita força. Lem-
brei que os meus pais planejavam visitar Portugal naquele ano,
como fazem de vez em quando, por sermos descendentes de lá
e termos vários familiares portugueses.
E então as coisas voltaram a se clarear no meu céu. Meus pais
me disseram que sim, que iriam a Portugal bem na altura do
tal curso, que achavam uma excelente ideia e que também que-
riam participar. E, ainda mais: que me ofereciam as passagens
para que eu fosse com eles! Pode uma coisa dessas? A maravi-
lha era tanta que eu não me podia conter. Sonhar é bom, mas
ver o sonho se realizando assim tão rápido e tão perfeitamente
até assusta. Mas, que é bom, é!

29
yoga do riso

E fomos, papai, mamãe e eu, fazer juntos o curso de formação


em Líder de Yoga do Riso com a internacionalmente conheci-
da Ana Banana, da Escola do Riso de Portugal. Quem poderia
imaginar? “Não sei, só sei que foi assim”! E foi justamente as-
sim que, por acidente, o Yoga do Riso começou a dar as caras
na minha vida.

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2. Não foi amor
à primeira vista
Felicidade não é algo pronto.
Vem de suas próprias ações.
14º Dalai Lama

Definitivamente, não posso dizer que entre mim e o riso o caso


foi de amor à primeira vista. Ao final desta minha primeira
formação, porém, não tinha achado aquilo grande coisa.
Explico-me.
Tudo começava com uma tradicional sessão de Yoga do Riso.
Éramos umas doze pessoas, além da professora e o seu compa-
nheiro, também instrutor daquele curso. Logo na chegada, achei
interessante o fato de eles me cumprimentarem com um abraço
cheio de gargalhada, no qual era possível sentir os nossos
peitos vibrando. Achei curioso, mas um bocado forçado. Do
que eles estavam rindo?
Outra coisa que me chamou atenção foi a tal sede da Escola
do Riso. Estávamos em Vila Nova de Poiares, uma freguesia
pequenina e eminentemente rural situada no conselho de Lou-
sã, que pertence ao distrito de Coimbra, em Portugal. Um lugar
isolado, muito bom para um fim de semana de retiro, mas bem
diferente do que eu concebia como “escola”.
No lugar de um prédio firme, portas e janelas de vidro, sa-
las de aulas, mesas e cadeiras, estávamos em um sítio enorme,

31
yoga do riso

a Quinta do Sol, cheio de áreas verdes com árvores de frutas,


trailers de acampamento e banheiro seco espalhados pelo ter-
reno e apenas uma pequena casa de alvenaria, com arquitetura
arredondada e feições de contos de fadas. A sessão seria den-
tro de uma espécie de tenda circular gigantesca (um domo),
com o chão macio forrado por carpete, vários equipamentos de
acrobacia circense, e toda rodeada de brinquedos, bolas, bici-
cletas, figurinos de teatro e acessórios engraçados.
Logo de cara, pensei preocupado: “para onde é que eu vim
trazer os meus pais?”
Não sabia, mas esse era o primeiro dos vários pensamen-
tos do mesmo tipo que iriam acabar atrapalhando muito a
minha formação naquele fim de semana. Por sorte, no entanto,
não tive muito tempo para continuar alimentando aquele ba-
rulho da mente. Depois de uns cumprimentos desajeitados, a
sessão ia começar.
Ao final da sessão — verdade seja dita — eu não tinha entendi-
do nada daquilo. A instrutora, Ana Banana, uma ex-palhaça de
sotaque misturado que há mais de dez anos havia trazido o Yoga
do Riso para Portugal, explicou-nos que a técnica se baseava em
rir sem motivo, e que mesmo que não nos apetecesse rir, deverí-
amos fingir o riso, que logo se transformaria em risada genuína.
O lema era “finge, finge até que atinge”. Tudo bem, poderia
até ser. Mas o fato é que, para mim, não fez sentido nenhum.
Passei a sessão inteira fazendo o som de “ha ha ha” sem achar
graça nenhuma. Senti sono, preguiça e por diversas vezes aque-
la coisa de forçar o riso me deixou até um pouco tonto, prova-
velmente por hiperventilação. Pensava sempre como meus pais
deveriam estar achando tudo aquilo uma coisa de loucos.
Foi uma hora — ou mais ou menos, não me lembro — de
umas brincadeiras esquisitas, seguidas de uns exercícios meio
infantis de imitar isso ou aquilo ao som de “ha ha ha”, ou sim-

32
não foi amor à primeira vista

plesmente de olhar uns para os outros e rir por vários minu-


tos. Eu estranhara tudo.
Surpreendentemente, no entanto, o pessoal tinha gostado
muito daquilo. Houve quem chorasse de rir, quem relatasse um
grande relaxamento e até mesmo os meus pais disseram ter apre-
ciado bastante a prática. Lembro-me de uma senhora mais ido-
sa que teve que fazer a sessão inteira sentada, pois entrou em
crise de riso logo no início e só conseguiu se levantar já no final.
Mesmo assim, aquilo tudo era muito estranho para mim, pro-
fessor de Yoga — com “Y” maiúsculo — que queria aprender
uma ferramenta para ajudar as pessoas a atingirem um estado
mais elevado de consciência e se deparava com um show de
“maluquices à portuguesa”.
Achava que aquilo até poderia ser interessante para os ricos
europeus se entreterem, mas não parecia um trabalho espiri-
tual sério. Para mim, naquela altura, aquilo nem deveria ser
chamado de Yoga. “Tomara que esse fim de semana não seja
uma grande furada”, torci desiludido.
Terminada a prática inicial, a formação iria começar. Os con-
vidados que estavam ali só para participar da sessão de abertu-
ra foram se retirando aos poucos e, no fim das contas, ficamos
apenas os alunos do curso. Éramos apenas sete — o que me fez
questionar ainda mais se aquela era uma formação de jeito.
E essas dúvidas ainda martelavam a minha cabeça quando
Ana colocou um pequeno filme para introduzir a formação. Era
um vídeo comemorativo dos vinte anos da Universidade In-
ternacional do Yoga do Riso, que mostrava pessoas do mundo
inteiro praticando a técnica nos mais diversos ambientes que
alguém pode imaginar.
O filme mostrava gente rindo em parques e praças públicas,
escolas, hospitais, asilos, hospícios, empresas, quartéis e com-
panhias de polícia, presídios, programas de TV, salões internacio-

33
yoga do riso

nais, entre outros. Pessoas de todos os continentes, ricos e pobres,


grupos pequenos e multidões, polícias e prisioneiros, médicos e
doentes, professores e alunos, patrões e empregados. Todo mun-
do, no mundo todo, rindo.
Quando o filme acabou, eu estava impressionado. Foi um verda-
deiro choque de realidade, e me mostrou que aquilo era algo muito
maior do que eu imaginava. Uma coisa gigante, na verdade — um
movimento mundial! — com um potencial de transformação glo-
bal.
Convencido, decidi adotar uma postura mais aberta durante a
formação e aproveitar ao máximo. Mesmo assim, infelizmente,
não consegui. Duas questões muito particulares me atrapalharam
naquele fim de semana.
Primeiro, a preocupação com os meus pais. Algumas vezes, eles
não compreendiam bem a lição e, na hora de fazer os exercícios,
diziam umas coisas completamente desconectadas, deixando-me
desconsertado. E eu me incomodava por eles e tentava ajudar,
querendo salvá-los do ridículo. Eu, fora do eixo, atento a eles e es-
quecido de cuidar do meu próprio curso.
O segundo ponto que me atrapalhou foi o fato de eu achar que,
por ser professor de Yoga tradicional, tinha que passar sempre
uma imagem firme, rígida, e austera. Era difícil me entregar aos
exercícios em que às vezes tinha que parecer meio bobo, e até ri-
dículo.
Imitar animais, fingir ou encenar situações da vida ao som de
“hahaha”, rir sem motivo, tudo isso era muito fora daquilo que eu
considerava adequado à postura de um representante da classe
yôgi. Aliás, vale a pena registrar que eu fui formado numa linhagem
de Yoga ortodoxa, bem tradicional e com bastante rigor em relação
à forma como nos apresentamos na sociedade e os ambientes que
frequentamos. Estar ali dentro de uma proposta tão “fora da caixa”
e ainda ouvir chamarem aquilo de “Yoga” era difícil para mim.

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não foi amor à primeira vista

Por essas duas razões, acabei tendo uma formação muito boa,
mas nada de especial. Dada a maestria dos professores e simplici-
dade da técnica, consegui, mesmo com as dificuldades, me tornar
apto a liderar sessões quando voltasse ao Brasil. Pensava comigo
que, depois de tanto investimento, teria que levar essa ferramenta
para os eventos que organizava com a Kombi Cura, mesmo não
tendo sentido nada muito especial com ela.
Para os meus pais, por outro lado, tinha sido um fim de semana
espetacular! Ao lado do filho caçula, numa programação comple-
tamente inusitada, cheia de aprendizados fantásticos, jogos e brin-
cadeiras, piqueniques no jardim e até banhos de rio, entre outras
maravilhas.
Quando terminamos o curso, meus pais eram só empolgação.
Comentavam e lembravam daqueles dias com uma alegria gigan-
tesca. Diziam que tudo tinha sido maravilhoso, que o espaço era
rústico, mas muito agradável, que os professores eram pessoas in-
críveis, que a comida era deliciosa, que tinham tomado banho de
rio e comido sentados na relva, como não faziam havia anos!
Eu, em silêncio, ouvia aquelas palavras absorto e via suas caras
de alegria, seus olhinhos brilhantes e os sorrisos prestes a saltar
para fora do rosto. E então comecei a perceber como fui estúpido
em ter passado o curso inteiro preocupado com eles e às vezes até
constrangido, enquanto eles aproveitavam um dos melhores fins
de semana dos últimos tempos.
“Grande bobagem a minha”, pensei.
E foi justamente nesse momento que tomei aquela que foi a me-
lhor decisão da minha recém-nascida carreira no Yoga do Riso.
Lembrando-me de que poderia repetir o curso quantas vezes
quisesse, decidi adiar a minha volta e ficar mais tempo em Portu-
gal para poder participar de mais um curso, no mês seguinte. Ah,
que grande ideia!

35
3. E o riso se fez Yoga

O riso é o estado mais elevado.


Maharishi Mahesh Yogi

A segunda formação haveria de ser diferente. Se tantas pesso-


as em todo o mundo estavam se beneficiando com o Yoga do
Riso, não era possível que eu não conseguisse sentir em mim os
efeitos mais profundos daquela prática. Dessa vez, a história
seria outra.
Para começar, cheguei à Quinta do Sol uma semana antes do
curso, como voluntário do sítio. Hospedei-me em um daque-
les trailers espalhados pelo terreno, disposto a viver com a
família do riso por uns dias, participar da sua rotina e respirar
a atmosfera do seu estilo de vida.
Logo no início da semana, acompanhei Ana Banana numa
sessão do riso para pacientes de um centro de tratamento de jo-
vens com dificuldades mentais. Ali, tive a primeira oportunidade
de ver o Yoga do Riso chegando para pessoas bem diferentes da-
quele perfil que tinha traçado preconceituosamente na cabeça —
ricos europeus em busca de entretenimento. Eu ainda não sabia,
mas aquela viria a ser uma sessão-chave na minha formação.
Ali, pude observar à frente dos meus olhos e sentir na pele a
força do método na vida de pessoas que vivem uma realidade

37
yoga do riso

tão particular. Enquanto a facilidade com que Ana conduzia


a sessão transmitia a ideia de ser apenas mais um dia do seu
trabalho, para mim aquele era um momento completamente má-
gico. Eu transbordava de excitação pela energia que se formava
em torno daquele grupo. Cada um à sua maneira — e em se tra-
tando daquele público as “maneiras” eram mesmo muito parti-
culares — os participantes demonstravam os efeitos da prática
através dos seus olhos, sorrisos e gestos. Foi lindo.
Ao final da sessão, os abraços e beijinhos que recebi, as pa-
lavras de agradecimento que me chegaram — mesmo tendo
sido mero assistente da professora — tudo foi me conduzindo a
um estado de satisfação monumental.
Ao mesmo tempo, fui tomado por uma sensação de que recebia
muito mais do que tinha dado. E foi justamente esse sentimento
que fez brotar em mim a noção do tamanho daquilo que estava
acontecendo na minha vida. Eu estava me tornando Líder de Yoga
do Riso, e isso não era pouca coisa. Apropriava-me de uma técnica
capaz de transformar a vida das pessoas. Uma ferramenta forte,
de proporções mundiais, que chegara até mim como um presente
e não podia ficar aqui parada: agora ia ter que passar adiante.
No dia seguinte, haveria encontro do Clube do Riso de Coimbra.
O clube do riso não é mais do que um grupo de pessoas que se
reúnem com certa frequência em certo lugar para praticar Yoga
do Riso.
Sempre gratuitos e sempre sob a responsabilidade de um lí-
der certificado, já são milhares de clubes espalhados por mais
de cem países ao redor do mundo, segundo a Laughter Yoga In-
ternational. Em Coimbra, o clube do riso funcionava às quin-
tas-feiras e era liderado tanto por Ana Banana quanto pelo seu
marido, Jörg. Naquela semana, a sessão era com ele.
Jörg é um sujeito muito interessante. Alemão, alto e loiro,
tem seus quarenta e poucos anos — quem sabe até mais? — mas

38
e o riso se fez yoga

ostenta um corpo físico muito bem definido. É forte, musculoso


e tem uma invejável elasticidade. É o professor de acrobacia
das crianças que frequentam a Quinta do Sol e também enten-
de de um monte de outras coisas, como marcenaria, carpinta-
ria etc. Mesmo assim, mantém uma impressionante sutileza no
trato com as pessoas, sempre doce e risonho.
Quando Jörg convidou a mim e aos outros voluntários para
participarmos da sessão do clube, não tive muita vontade logo
à partida. Mas, como tinha assumido um compromisso de ado-
tar uma postura diferente naquela segunda formação, aceitei o
convite. Outra vez, grande ideia!
Na minha cabeça, íamos chegar ali e dar de cara com um
enorme grupo de pessoas prontas para praticar a gargalhada.
Doce engano. Éramos seis pessoas e ponto final. Ainda bem.
Hoje, agradeço por aquele momento ter sido exatamente como
foi. De fato, aquela sessão foi o grande divisor de águas da minha
carreira com o Yoga do Riso, pois foi ali que, pela primeira vez,
senti na própria pele a dimensão dos seus efeitos e até onde
essa técnica nos poderia levar.
Para descrever, bastaria contar que, quando chegamos ao final e
o professor pediu para darmos o tradicional feedback, só me ape-
tecia permanecer calado, gozando do estado de plenitude em que
estava. Não queria que aquilo acabasse nunca — e já tinha sido
difícil retornar do relaxamento e adotar uma postura sentada.
Ainda de olhos fechados, fiquei em silêncio no círculo torcendo
para Jörg notar que eu ainda estava em estado de introspecção
e que não queria falar nada naquele momento. Nada feito.
Jörg sabia que, ao final da sessão, é preciso trazer os partici-
pantes de volta ao “mundo real”, sobretudo quando aprofundam
bastante no exercício de relaxamento. Por isso, insistiu que eu
falasse qualquer coisa, nem que fosse uma frase apenas que des-
crevesse como estava me sentindo.

39
yoga do riso

— Estou-me sentindo sentado ao lado de Deus — respondi,


com grande esforço.
A frase provocou um instante de silêncio pela sala até que to-
dos começaram a... Rir, é claro!
Preenchido dos melhores sentimentos, ri com os meus com-
panheiros de prática, indagando-me se eles ou o próprio Jörg
teriam consciência do quão profundo podemos chegar numa
prática de Yoga do Riso. Não sabia se alguém já tinha experi-
mentado o que me acontecera naquela sessão. Não consigo se-
quer descrever o que vivi, pois aquela experiência foi muito maior
do que as minhas palavras conseguem dizer.
Em linhas gerais, aconteceu o seguinte. Depois de aquecer-
mos bem o corpo e desbloquearmos a nossa gargalhada através
dos exercícios do riso, deitamos para fazer aquilo que chama-
mos de meditação do riso – basicamente rir sem motivo algum.
Deitado, barriga para cima, olhos fechados e o corpo completa-
mente relaxado no chão, comecei a fazer o “ha ha ha”, conforme
o instrutor pedia. Com o riso já desbloqueado, não demorou e
comecei a soltar gargalhadas monumentais, como nunca tinha
feito antes em toda vida.
No início, ainda estava de certa maneira atento aos risos
dos colegas em volta, e estávamos quase todos rindo em alto
volume. A cada vez que escutava uma risada engraçada à
minha volta, tinha mais vontade de rir. E aquilo se retroa-
limentava. Até que, em dado momento, o ambiente externo
foi perdendo importância, e passei a me concentrar no meu
próprio riso.
Quanto mais eu ria, tinha mais vontade de rir, e já não tinha
ideia de onde aquele riso se originava. Sentia que aquilo vinha
mesmo de dentro, de algum lugar na barriga, e saia da minha
boca em direção ao alto. Nesse ponto estendi os braços e senti
como se se formasse um canal por entre eles até o céu, por onde

40
e o riso se fez yoga

trafegava o riso para cima, num fluxo constante. Até aí, o riso era
um fluxo de mim para cima. Depois, aconteceu.
Sem mais questionamentos sobre a origem daquele riso, de
onde ele vinha ou para onde ele estava indo, comecei a en-
trar completamente naquele turbilhão que se formava até um
ponto em que o riso vibrava por todas as partes do meu cor-
po, como se cada célula festejasse em gargalhadas. Às tantas, já
não sabia o que era “eu” e o que era riso, até que, enfim, chegou
um momento em que éramos a mesma coisa: eu era só riso.
Naquele dia, eu ainda não sabia se outra pessoa também já
tinha chegado naquele estado ou vivido algo parecido com o Yoga
do Riso. Nem o seu próprio criador, há vinte anos atrás, na Ín-
dia, nem a tão experiente Ana Banana, nem o Jörg. Mas uma
coisa era certa: aquele método era muito maior do que eu pen-
sava, e tinha sido capaz de me levar até um lugar onde nem o
próprio Yoga tradicional conseguira antes. Pelo menos não as-
sim, tão rápido, sem esforço e de maneira tão divertida.
O tão almejado estado de samádhi, descrito como a meta fi-
nal do Yoga, o estado de plenitude, integração total, a autor-
realização, a iluminação, ou seja lá como digam, tinha chegado
para mim, ainda que por breves momentos, pela doce estrada
da gargalhada.
A partir dali, o Yoga do Riso passou a ter outra dimensão
na minha vida, e comecei a enxergar a magnitude que se escon-
de por trás desse método tão simplório que, à primeira vista,
pode até parecer uma simples brincadeira.
No fundo, trata-se mesmo de uma ferramenta de cura, de
transformação individual e coletiva, com verdadeiro potencial
para nos conduzir, enquanto pessoas e enquanto comunidade,
à paz através da gargalhada.

41
4. Rir sem motivo:
como tudo começou
Nenhuma tirania resiste a uma gargalhada
que circule três vezes em torno de si mesma.
Molière

Em geral, as pessoas não sabem que podem rir sem motivo.


Eu entendo, até porque também não sabia. Mas, se você parar
para pensar, essa noção é tão óbvia que chega até a ser engra-
çado nunca termos nos dado conta.
Ora, nós nos levantamos e andamos para um lado e para outro,
mesmo sem querer ir para lugar algum, só porque queremos me-
xer as pernas. Corremos vários quilômetros sem pressa algu-
ma, sem fugir de nada, só para nos exercitar. Carregamos peso,
pulamos, pedalamos, fazemos flexões e infinitos movimentos,
simplesmente porque queremos melhorar a forma física. Afinal, o
corpo é nosso e o exercitamos como quisermos, não é?
Pois então, me diz uma coisa: quem foi que disse que não po-
demos exercitar também a nossa risada?
Quando foi que passamos a rir apenas quando alguma coisa
engraçada acontece?
Quando alguém conta uma piada ou quando flagramos um
fato engraçado? Será que precisamos mesmo esperar alguém cair
de bicicleta bem na nossa frente para podermos rir? Será que de-
pendemos dos humoristas profissionais, ou de encontrar aquele

43
yoga do riso

amigo zombeteiro? Precisamos mesmo entregar o nosso riso à


sorte, ao acaso, aos outros? Ufa, ainda bem que não.
Em 1995, em Mumbai, na Índia, um médico de família cha-
mado Madan Kataria estava chateado pelo fato de a comunidade
médica não valorizar o riso dentro da terapêutica convencional.
Ele, que sempre foi brincalhão por natureza e tinha andado
em uns cursos de teatro na juventude, sabia que a risada, a brin-
cadeira e a ludicidade em geral eram extremamente benéficas
para a saúde humana, com enorme poder no combate e pre-
venção de doenças. O médico se chateava profundamente com o
fato de os colegas de profissão e o ambiente hospitalar terem
sempre um ar sóbrio, sério, quase templário, sem brecha para
a descontração e a espontaneidade, traços que marcavam a sua
personalidade desde a infância.
Naquele ano, ele resolveu escrever um artigo acadêmico
sobre o tema e reuniu uma gigantesca gama de estudos e ex-
perimentos científicos das mais diversas partes do mundo para
embasarem o seu trabalho. Entre os autores desses estudos,
estavam nomes conceituados da pesquisa científica, como alguns
vencedores de prêmios Nobel e o conhecidíssimo médico dos
Estados Unidos Dr. Patch Adams, cuja vida virou tema do fa-
moso filme que levou o próprio nome, estrelado pelo saudoso
Robin Williams.
Enquanto escrevia sobre o riso, Dr. Kataria ficou ainda mais
convencido dos benefícios da sua utilização dentro da medicina,
e começou a se incomodar ainda mais com o fato de todas aque-
las informações mais do que comprovadas estarem sendo sole-
nemente ignoradas pela medicina convencional. Apesar de já ser
notória a importância do riso no controle, combate e prevenção
de diversas doenças, incluindo em casos difíceis como depres-
são, diabetes, hipertensão, dores crônicas e até câncer, não havia
nos hospitais quem receitasse doses de gargalhadas aos pacien-

44
rir sem motivo: como tudo começou

tes. Seria visto como louco um médico que prescrevesse dez mi-
nutinhos de risada ao doente, por exemplo, ou um bom filme de
comédia, como parte do tratamento. Para ele, porém, loucura
mesmo era não aproveitar as maravilhas que o riso podia trazer.
Com tudo isso fervilhando na cabeça, no dia 13 de março da-
quele ano, Dr. Kataria se levantou às quatro horas da manhã e
não conseguiu mais dormir. Andando de um lado para o outro,
cheio de pensamentos acelerados, teve então o insight que
mudaria a sua e milhares de outras vidas ao redor do mundo
inteiro: criar um “clube do riso”.
Sendo um homem mesmo “fora da caixa”, antes mesmo de
desenvolver a ideia e formular um projeto concreto, o médico
resolveu arregaçar as mangas e colocar em prática aquilo que
estava farto de saber na teoria. Com a ajuda da esposa, a profes-
sora de Yoga Madhuri Kataria, foi até o parque público perto
da sua casa e começou a chamar as pessoas para fazerem parte
do seu novo clube. Às sete da manhã, depois de algum tempo
e de dezenas de pessoas abordadas, o primeiro clube do riso
do mundo estava formado por... cinco pessoas. Dr. Kataria, sua
esposa, e mais três corajosos2.1
Mesmo com pouca gente, a verdade é que o primeiro clube
do riso do mundo foi um sucesso.
Funcionava assim: os componentes formavam um círculo,
alguém ia para o meio, contava uma piada, e os outros riam.
Simples assim.
Nesse dia, a dinâmica durou de vinte a trinta minutos, ao final
dos quais estavam todos se sentindo muito melhor do que
quando começaram.
Vários curiosos que assistiram a tudo vieram depois da sessão
procurar saber mais e manifestaram inte-resse em participar.
2
Dentro do mundo do Yoga do Riso, dizem até que entre esses três indivíduos que alinha-
ram na ideia do Dr. Kataria dois já eram amigos antigos do médico.

45
yoga do riso

Sem pestanejar, Dr. Kataria prometeu que no dia seguinte e,


a partir de então, todos os dias àquela mesma hora, haveria
reunião do clube do riso por ali.
Ao final de uma semana, mais de cinquenta pessoas tinham se
reunido para dar umas boas risadas com o Dr. Madan Kataria.
A fórmula era sempre a mesma: um ia para o meio, contava
uma anedota, os outros em volta riam.
O sucesso era enorme, e o grupo foi crescendo cada vez mais.
As pessoas relatavam melhoras maravilhosas no seu dia após
as sessões do riso, com mais vigor, disposição e saúde em vários
aspectos das suas vidas. Um sucesso!
Até que...
Até que, na mesma velocidade em que o clube cresceu, a coisa
foi começando a declinar. O repertório de boas piadas foi se
acabando e muitas anedotas passaram a se tornar repetitivas.
Pior do que isso, foram emergindo piadas ofensivas, que mago-
avam algumas pessoas, o que fez com que o grupo começasse a
se rachar, e surgissem as primeiras reclamações. O número de
participantes começou a diminuir, e o cenário foi ficando cada
vez pior, até que alguns dos membros mais antigos vieram até o
Dr. Kataria dizer que aquilo estava se tornando desagradável e
que muitos já não queriam mais participar — era melhor parar
com essa história de clube do riso. Entristecido, o médico pediu
aos amigos apenas mais uma chance. Só mais um dia, mais um
encontro. Ele acharia uma solução.
Madan sabia que não tinha recebido aquele insight por acaso,
que o riso era mesmo poderoso e que aquilo haveria de funcio-
nar. Em casa, sentou-se diante da sua mesa coberta por pági-
nas e mais páginas de estudos sobre os benefícios do riso, em
busca de alguma forma de poder praticar o riso sem depender de
piadas. Foi quando finalmente se deu conta de uma informação
que se repetia em vários daqueles livros e artigos. Uma frasezinha,

46
rir sem motivo: como tudo começou

um detalhe que faria toda a diferença. A chave que virou comple-


tamente o jogo:

O nosso corpo não consegue diferenciar


entre o riso real e o riso simulado.

Eureca! Pela primeira vez, o médico prestou atenção naquela in-


formação, que se repetia em versos outros artigos e se consolida-
va cada vez mais entre os profissionais de saúde.
A questão é: mesmo sem vontade de rir, a pessoa pode sim-
plesmente fingir o riso e, assim, adquirir todos os seus benefícios,
pois o cérebro não diferencia entre risos genuínos ou fingidos.
Que maravilha!
Em vários estudos, havia sido comprovado que não só o riso,
mas todas as emoções expressas com o corpo, mesmo falsas,
também são geradas na mente. Era a teoria Motion Creates
Emotion (Ação Cria Emoção), que, ao contrário da ideia de rir
sem motivo, era muito bem aceita pela comunidade médica.
Ufa, que alívio. O clube do riso estava a salvo! Ora, por que não
praticar a risada como um exercício físico — uma ginástica da
gargalhada? Sem piada, sem anedota, sem alvos. Apenas simular
o riso por alguns minutos até impregnar a mente com a emoção
da alegria.
Na manhã seguinte, Madan Kataria reuniu o grupo e explicou
que fariam algo diferente, que não haveria piadas, que iriam
apenas fazer uns exercícios, umas brincadeiras a imitar o som
do riso.
É claro que alguns participantes resistiram à inovadora ideia,
mas mesmo assim a dinâmica logo começou a funcionar, e o riso
foi se espalhando rapidamente. Uns contagiando os outros, em
pouco tempo a maioria do grupo estava rindo como nunca, sem
parar, e cada vez mais alto. Uma maravilha!

47
yoga do riso

Alguns participantes ainda tinham dificuldade para rir sem um


motivo, é verdade. Os mais inibidos não conseguiam fingir o
riso com tanta naturalidade, e se sentiam desconfortáveis no
meio dos outros, mais descontraídos, que imitavam com facili-
dade o som da gargalhada.
Agora, o Dr. Kataria tinha um novo desafio: descobrir uma for-
ma de estimular os mais tímidos a entrarem na onda de simu-
lar o riso.
Foi por isso que ele resolveu criar uma espécie de prática or-
ganizada, um método, reunindo exercícios que tinha aprendido
no teatro, numa tentativa de trazer ludicidade e espírito infantil
para os membros do clube.
Aos poucos, as reuniões do grupo foram se tornando momen-
tos de enorme descontração, com brincadeiras e jogos, dinâmi-
cas, aquecimentos, palmas e cantos. As pessoas voltaram a se
atrair pela proposta e o grupo foi crescendo outra vez.
Nessa altura, começaram a aparecer o que Madan chamou de
“exercícios do riso”, nos quais os participantes representavam
um personagem ou uma situação da vida, sempre ao som de
“ha ha ha”.
Por fim, foi acrescentado o componente mais yôgi da prática.
Percebendo uma enorme afinidade entre o riso e os exercícios
respiratórios do Yoga tradicional (Pránayámas), o médico consultou
a sua esposa, Madhuri, que o influenciou a incluir a respi-
ração yôgi como um elemento da sua prática do riso. Era o
elemento que faltava. Agora sim, estava criado o Yoga do Riso.

48
5. Em busca das
gargalhadas perdidas
O riso é a vassoura que remove
as teias de aranha do coração.
Mort Walker

É verdade que, teoricamente, nós não precisávamos praticar Yoga


do Riso para rir. Deveria ser algo natural, não é mesmo? Da mes-
ma forma, supostamente não precisaríamos de academias de
ginásticas para exercitar o corpo físico. No mundo ideal, pro-
vavelmente não seriam necessárias aulas de Yoga para apren-
dermos a respirar, e as relações humanas seriam suficientes
para dispensar a necessidade de terapias psicológicas. Sim, é
verdade. Mas o fato é que, definitivamente, não estamos nesse
mundo ideal.
Para se ter uma ideia, dizem que as crianças pequenas riem
em média de trezentas a quatrocentas vezes por dia, enquanto os
adultos de dez a quinze. Mesmo que essa seja uma estatística
daquelas que todo mundo fala, mas ninguém nunca parou para
contar, o fato é que os miúdos riem mais do que nós, adultos. De
alguma forma, a nossa capacidade de rir naturalmente no dia a
dia vai se perdendo à medida em que vamos crescendo.
A questão aqui é não só saber para onde vão essas centenas de
gargalhadas perdidas, mas como podemos recuperá-las de
volta. A boa notícia é que temos as duas respostas.

49
yoga do riso

Para onde vão as gargalhadas perdidas?

Os bebês riem, todo mundo sabe disso. Mas alguns perguntaram


porquê. Daí, surgiram pesquisas dedicadas a explicar de onde vi-
nham as gargalhadas das crianças menores, inclusive as recém-
-nascidas. Surgiram as explicações científicas e as provas mate-
máticas. Mostraram que 95% dos bebês já riem nos primeiros
dois meses de vida e alguns até nas primeiras semanas. Que os
bebês meninos riem em média cinquenta vezes por dia, enquanto
as meninas quarenta. Explicaram que sorrisos e lágrimas são os
únicos meios de comunicação dos bebês no primeiro ano de vida,
e que enquanto o choro indica que eles querem mudar alguma
coisa, o riso significa que querem que continue tudo como está.
Está bem. Os bebês riem, está comprovado. Na verdade, to-
dos já sabíamos que as crianças riem de montão. A questão é:
riem de que?
Ora, se as primeiras linguagens que desenvolvemos são o riso e
o choro, rir e chorar vão ser a tônica da nossa comunicação por
uns bons tempos. Talvez por isso a meninada ria e chore tanto,
por qualquer coisa. Não é comum dizermos que tal menino cho-
ra por tudo? E que aquela menina ri de qualquer coisa? Pois é: é
a língua deles.
As crianças são capazes de rir de tudo. E riem antes mesmo
de entenderem do que se trata esse “tudo”. Em outras palavras,
antes mesmo de desenvolverem a sua racionalidade, ou seja, de
perceberem o sentido de humor de determinadas situações, as
crianças já riem. Enquanto o adulto precisa entender a piada para
rir, a criança já ri antes mesmo de entender qualquer coisa. Ora, se
até um bebê ri, então o riso definitivamente não é dependente
do humor. Neste caso, entre o humor e o riso, fica fácil perce-
ber quem nasceu primeiro.

50
em busca das gargalhadas perdidas

Podemos reparar, mesmo sem auxílio de qualquer estudo cien-


tífico, que o riso é da natureza humana. Vem conosco “de fá-
brica”, antes mesmo de nos ensinarem. Tal qual o choro, rir é
natural para nós. E logo que nascemos vamos expressando essa
nossa natureza livremente, junto com todas as outras coisas que
vêm conosco de berço, como a vontade de saltar, correr, gritar
e todas as outras “coisas de criança”. E assim seguimos ma-
nifestando nossa essência infantil até começarem a nos ensinar
certas coisas. Pouco a pouco, o mundo aqui fora, as pessoas, os
padrões, as regras vão lhes mostrando que não é em qualquer
hora ou lugar que podem brincar. Não é sempre que podem
gritar e saltar, e nem sempre é permitido rir.
Foi assim conosco. Lembra? Quantas vezes o nosso riso foi mo-
tivo de bronca da professora, da mãe, de quem quer que seja?
Quantas vezes ouvimos expressões como “para de rir, menino”,
“tá rindo do que?”, “fecha a boca!”3. 1
O riso, que nasceu conosco e era até natural no início, pouco
a pouco vai recebendo esses comandos de proibição e vai sendo
reprimido, até ser soterrado por várias camadas de condiciona-
mentos sociais.
Vamos crescendo e a frequência do riso vai diminuindo. Rir
se torna um evento isolado, aqui e ali, com hora certa, situações
adequadas, lugares propícios. Aqui pode, aqui não pode. O am-
biente de trabalho normalmente não é lugar de risadas. O hos-
pital, muito menos. Só um louco riria dentro da igreja e é preci-
so ter muita coragem para rir na cara do policial.
Assim, o riso vai ganhando um ar de deboche, de comédia. Se
o valentão acha que você está rindo dele, Deus o livre. O humor
é confundido com desrespeito, e quem brinca demais não pode
ser levado a sério. O mundo vai ficando sisudo, difícil e sobra
3
O que também costuma acontecer com o choro, diga-se de passagem (“para de
chorar, menino!”, “engole o choro!”, “homem que é homem não chora!”).

51
yoga do riso

pouco espaço para o lúdico, o natural, o espontâneo. As garga-


lhadas vão minguando... De quatrocentas, passam a trezentas,
duzentas, cem... hoje, quando muito, são dez ou quinze (e olhe
lá!).
Só para ter uma ideia, me responde uma coisa: e você, quan-
tas vezes acha que ri por dia? Qual foi a última vez que teve
uma crise de riso daquelas de chorar de rir?
Talvez com você também tenha sido assim, não é? Você tam-
bém ria mais quando era criança, certo? Mesmo quando os tem-
pos foram difíceis, era mais fácil encontrar um meio de espan-
tar o mau humor naquela época. A imaginação estava sempre
disponível, e se as coisas não iam bem, recriávamos o mundo
mais à nossa maneira. Não era assim? Pois bem. E o pior é que
já não somos só nós, os adultos. Algumas crianças, coitadas, já
estão entrando na onda. As que são introduzidas no sistema insti-
tucional de ensino, cada vez mais cedo vão sendo moldadas num
perfil de comportamento em que é preciso corresponder a de-
terminadas expectativas sociais. Às tantas, já não podem falar
alto — ou em altura nenhuma — nem mexer nas coisas, nem
saltar daqui para ali. Correr descalço, sujar a roupa e despente-
ar o cabelo, por exemplo, não são ações dignas de um menino
bem criado. Cheirar mal, nem pensar — “melhor não suar mui-
to”. Subir em árvore é perigoso, assim como escalar o muro ou
trepar de pé a pé no vão da porta.
O importante é aprender, dizem. Com o mercado cada vez
mais competitivo, os meninos vão para a escola o mais cedo
possível, de preferência em um colégio de tempo integral. A
criançada agora aprende logo duas ou três outras línguas, além
de informática, balé, teatro, música, dança, artes visuais, capoei-
ra, ginástica e por aí vai. Nos tempos livres, vão para as aulas
extras de judô, culinária ou natação. Nas férias, são mandadas
para os escoteiros, ou campos de férias. Nos tempos livres,

52
em busca das gargalhadas perdidas

os míseros que restam, enfiam-se nos computadores, tablets e


smartphones.
Assim, enchemos os pequeninos de compromissos e os vamos
“adultizando” tão depressa que daqui a pouco nem teremos
mais em quem nos inspirar para uma vida essencialmente
alegre. Estamos correndo o risco de perdermos a nossa refe-
rência, as nossas mestras.
Olhe para elas, as crianças. Como é que elas fazem? Pense nas
crianças mais pequeninas. Do que elas riem? Antes mesmo de
perceberem a piada, antes mesmo de desenvolverem o senso
de humor, já soltam gargalhadas pelo ar. Mas e então: riem por
qual motivo?
Ora, não consigo chegar a outra conclusão: se o riso é anterior
ao desenvolvimento da racionalidade, ao sentido de humor, à ca-
pacidade de entender as coisas, então não precisamos de nada
disso para rir.
E é justamente aqui que está a principal função do Yoga do
Riso: ensinar-nos que podemos simplesmente rir, sem qual-
quer razão, exatamente como as crianças fazem. Exatamente
como também fizemos um dia.
Chegamos então na segunda pergunta que fizemos há pouco:
como recuperar essas gargalhadas perdidas?
É sobre isso que vamos falar já nos próximos capítulos. Va-
mos juntos, aprender na teoria e na prática como o Yoga do
Riso pode trazer de volta o riso para a nossa vida, e com ele
todos os seus maravilhosos benefícios.
Tenho certeza de que vamos nos divertir nesta viagem.

53
6. O que é o Yoga do Riso?
5 pontos
Nunca vi alguém morer por excesso de gargalhadas,
mas sei de milhões que estão morrendo por falta delas.
Dr. Madan Kataria

Segundo o Dr. Madan Kataria, criador do método, o Yoga do


Riso se explica através de cinco características essenciais (5
pontos).

1. Yoga do Riso é um conceito único em que


qualquer um pode rir sem motivo,
sem depender de humor, piadas ou comédia.

Já falamos sobre isso no capítulo anterior, mas vale reforçar,


pois é esse o ponto principal. A razão de ser do Yoga do Riso,
aquilo que deu origem à prática tal como é feita atualmente é
justamente o fato de podermos rir independente de qualquer
fator externo.
Tendo a ciência comprovado que o nosso cérebro não faz dis-
tinção entre o riso simulado e o genuíno, produzindo os mes-
mos benefícios, percebemos que não dependemos do humor,
comédia, ou o que quer que seja para absorvermos todas as
maravilhas que o riso oferece para a nossa vida. Sim, podemos
simplesmente rir: ha ha ha...

55
yoga do riso

No entanto, como para a maioria das pessoas é muito difícil


rir assim “do nada”, o Yoga do Riso aparece como uma ferra-
menta essencial que, além de facilitar as coisas através de uma
metodologia própria, ainda associa a gargalhada a componen-
tes da filosofia milenar do Yoga, ampliando os benefícios do
praticante.
É claro que o humor, a comédia, a piada, as situações en-
graçadas à nossa volta, tudo isso tem um enorme valor para
as nossas vidas. Gratidão a tudo e a todos que nos fizeram e
nos fazem rir, descontrair, divertir. Quantas alegrias temos e
tivemos na nossa vida por causa do humor. Que saudade do
palhaço que nos fez rir na infância, que vontade de estar perto
daquele nosso amigo engraçado, que bom ter um filme novo de
comédia para assistir. Não é mesmo?
Até mesmo estudos que depois vieram a embasar o próprio
Yoga do Riso foram feitos à base do humor, como em experi-
mentos que usaram filmes de comédia para analisar os efeitos
do riso nas pessoas.
E muitas outras tantas maravilhas têm sido feitas com o hu-
mor, para além de simplesmente nos divertirem. Como exem-
plo, o monumental trabalho dos Doutores da Alegria, projeto
originário do emblemático Patch Adams que há décadas leva
esperança em forma de alegria a pacientes acamados em hos-
pitais por todo o mundo.

Por tudo isso e muito mais, é evidente que uma vida bem
humorada é mais saudável do que viver de mau humor. Culti-
var um estado de alegria cons-tante é mesmo um desafio para
todos nós, sobretudo nos tempos em que vivemos. E sabemos
que não é fácil.
No nosso dia a dia, atolados em atividades e com cada vez
menos tempo para cuidar de nós próprios, estamos tão cheios

56
o que é o yoga do riso?

de compromissos, preocupações e estresse que não é raro che-


garmos ao fim do dia sem termos dado nem uma gargalhada
sequer. São cada vez mais raros os eventos engraçados, as con-
versas descontraídas, as piadas e os risos verdadeiros. As pes-
soas exibem uma fisionomia cada vez mais séria, andam enfe-
zadas, com as testas franzidas e “de cara feia”. “A vida é difícil”,
dizem, “não é para brincadeira”.
Ao lado disso, as poucas anedotas e histórias engraçadas
que chegam até nós, hoje em dia, muitas vezes vêm carrega-
das de conteúdos pejorativos. Sempre têm um alvo, fazem
graça em detrimento de alguém ou alguma coisa. Piadas
de negros, mulheres, homossexuais, pobres, gordos, aleija-
dos, bêbados, políticos, advogados e por aí vai. Piadas que,
se por um lado fazem rir, por outro espalham e perpetuam
uma série de preconceitos que vão contaminando a nossa so-
ciedade. Acabam servindo para aumentar a distância entre
as pessoas, separar-nos em grupos, manter-nos em guerra.
Fazem-nos rir, é verdade. Mas têm certos efeitos colaterais
bem desagradáveis.

O Yoga do Riso, por outro lado, propõe uma dinâmica total-


mente independente do humor. Trata-se de uma técnica tão
simples e natural que todos, absolutamente todos os indivídu-
os podem participar, independente de qualquer capacitação,
condição física, cor da pele, capacidade mental, nacionalidade,
orientação sexual, profissão, o que for. Basta rir. E nesta capa-
cidade somos todos iguais.

2. Iniciamos o riso como um exercício em grupo,


com contato visual e brincadeiras infantis
e logo se transforma em riso real e contagioso.

57
yoga do riso

Na prática, o Yoga do Riso é uma ginástica da gargalhada.


Não usamos o humor, produzimos o riso como um exercício.
Através de dinâmicas de grupo, jogos e brincadeiras, aliadas
a exercícios do riso e elementos do Yoga tradicional, estimu-
lamos o riso simulando-o, até alcançarmos a risada genuína e
contagiarmo-nos uns aos outros.
Vários elementos da prática são inspirados nas crianças, que
são as mestras da ludicidade. Uma sessão de Yoga do Riso sem-
pre vai contar com palmas, cantos, gritos e movimentos corpo-
rais.
Manifestamos a alegria no corpo físico, para que daí a con-
quistemos também nos campos emocionais e espirituais. As-
sim, mesmo que ao início não sintamos qualquer vontade de
rir, vamos aos poucos destravando a gargalhada enquanto a
simulamos, e logo vamos descobrindo o nosso próprio riso in-
terior.
O melhor de tudo é que, mesmo enquanto simulamos o riso,
já estamos adquirindo todos os seus benefícios, já que o nosso
cérebro nem consegue distinguir entre o riso simulado e genu-
íno.

3. Chamamos de Yoga do Riso porque combina exercícios


do riso com elementos do Yoga.
Isso traz mais oxigênio para o corpo e para
o cérebro, o que faz com que o praticante
se sinta mais enérgico e saudável.

O Yoga do Riso é, basicamente, uma combinação de exercí-


cios do riso e brincadeiras, com elementos muito simples do
Yoga tradicional, sobretudo a respiração yôgi (Pránayáma).
Além de simular o riso e manifestar a alegria no corpo físico,
fazemos respiratórios singelos do Yoga ao longo da prática, o

58
o que é o yoga do riso?

que faz com que ampliemos ainda mais a oxigenação do corpo.


Os benefícios de um bom suprimento de oxigênio no organis-
mo são velhos conhecidos da ciência. Voltaremos a este ponto
mais para frente, no capítulo sobre os benefícios do Yoga do
Riso.
Além da respiração, o Yoga do Riso também aproveita do
Yoga as noções de meditação (Diána) e de relaxamento (Yôga-
nídra), que também são temas de capítulos do futuro, prometo.
Agora, quero aproveitar para revelar um segredo e contar, na
verdade, por que é que chamamos essa técnica de Yoga do Riso.
Normalmente, não falamos isso para qualquer pessoa, porque
às vezes não estão preparadas e podem entender tudo errado.
Como sei que não é o seu caso, fico à vontade.
Yoga é uma palavra em sânscrito (antiga língua da Índia) que
significa “União”. União de si consigo próprio, de si com Deus,
com o Todo, com o Cosmos ou com os outros seres, a depender
da linha de Yoga que se pratique e da orientação que ela tenha.
Em termos práticos, Yoga é definido como qualquer conjunto
de técnicas que te conduza a um estado superior de consciên-
cia.
Ou seja, Yoga é qualquer prática que possa te levar a ampliar
a sua consciência até atingir o que alguns chamam de ilumina-
ção (ou Samádhi, ou Nirvana, autorrealização, autointegração
etc). No fundo, embora algumas pessoas façam Yoga apenas
para respirar melhor, ou melhorar a postura ou o alongamento,
ou apenas para relaxar, a verdade é que se trata de um caminho
para algo muito maior.
E, da mesma forma, apesar de muitas pessoas procurarem o
Yoga do Riso apenas para se divertir, rir um bocadinho mais,
ou se entreter, o fato é que ele tem essa capacidade yôgi de
ir muito além e conduzir o praticante a este estado de maior
consciência. Não é fácil explicar exatamente o que seria esse

59
yoga do riso

estado, e é por isso que não falamos disso com qualquer pes-
soa. Mesmo os yôgis mais evoluídos jamais conseguiram ex-
pressar em palavras a experiência da iluminação, pois as pa-
lavras não são capazes de representar algo tão plural. Não se
trata de entender pela razão, mas a ser vivenciado na prática,
por cada um.
De qualquer modo, o importante é que a gente deixe aqui re-
gistrado: o Yoga do Riso, assim como os tantos outros ramos
tradicionais do Yoga, também é uma prática de autoconheci-
mento, de expansão da consciência, capaz de conduzir o pra-
ticante a estados melhores da própria existência. Tem até um
nome yôgi: Hasya Yoga, como é chamado na Índia. Você pode
chamá-lo assim, se quiser.

4. O conceito do Yoga do Riso é baseado no fato científico


de que o corpo não consegue diferenciar entre risos falsos
e reais. Ambos trazem os mesmos benefícios para a saúde,
independente de serem provocados ou simulados.

Acho que já falamos bastante sobre esse ponto, não foi? Va-
mos em frente.

5. Foi iniciado por um médico de família indiano cha-


mado Dr. Madan Kataria, apoiado por sua esposa, Ma-
dhuri Kataria, uma professora de Yoga, com apenas cinco
pessoas em um parque de Mumbai, em 1995. Hoje, já são
mais de 10.000 Clubes do Riso, espalhados por mais de
100 países.

Também já contei essa história, não vale a pena repetir. Mas


dá vontade de ressaltar só essa partezinha final, que marca a
rápida difusão do método.

60
o que é o yoga do riso?

O Yoga do Riso surgiu com cinco pessoas rindo no meio de


um parque, em Mumbai. Vinte e poucos anos depois, já está
espalhado pelo mundo todo em mais de cem países. É muita
gente rindo!
Quando Dr. Kataria criou o Yoga do Riso, ele tinha a intenção
de trazer mais risos para a vida das pessoas e ajudá-las a serem
mais saudáveis e felizes. Especificamente, queria convencer a
comunidade médica de que os benefícios do riso não poderiam
ser ignorados e que a gargalhada deveria ser utilizada na prá-
tica terapêutica.
Porém, com o passar do tempo, o médico percebeu que o riso
era capaz de ir além. Poderia transcender os benefícios indivi-
duais e alcançar um efeito global.
A lógica é muito simples. Se alguém faz uma prática de Yoga
do Riso e internaliza a capacidade de rir independente das
circunstâncias à sua volta, essa pessoa vai para casa com essa
sementinha dentro de si. A partir dali, vai ser um multiplica-
dor do riso com a sua família, seus colegas de trabalho e ami-
gos. Estes, por conseguinte, vão também multiplicar o riso
entre os seus, continuando a espalhar a semente mais e mais,
até que o mundo todo seja atingido pelo poder da gargalhada.
Em outras palavras, quanto mais gente praticar o riso, mais
ele vai ser espalhado, até chegar a todas as pessoas.
Com o mundo todo consciente do seu próprio riso e o prati-
cando regularmente, será natural que todos os estados nega-
tivos que se manifestam na ausência do riso percam força, até
se esvaírem. Nesse compasso, será natural alcançarmos o fim
da inveja, avareza, competição, cobiça, intolerância, raiva etc.
e caminharmos no sentido dos estados sociais mais positivos,
como a cooperação, a harmonia, a partilha, o cuidado, a amiza-
de, o carinho e o amor. Eis o sonho do Dr. Kataria: atingir a paz
mundial através do riso.

61
yoga do riso

Pensar que isso é possível é o nosso combustível. É o que nos


move. De pé, caminhamos nesse sentido. Éramos apenas cinco
no início. Agora já somos milhões. Estamos espalhados pelo
mundo todo. Já somos mais de dez mil grupos se reunindo
para praticar, distribuir e espalhar o riso. E seremos cada vez
mais. O movimento está crescendo e chegou até você. Tenho
certeza que não vai parar por aí.
Toda risada será considerada. Cada gargalhada tem o seu
valor. Vamos em frente, recuperar a alegria perdida e curar o
mundo pelo poder do riso.

62
Quadro-resumo

O QUE É O YOGA DO RISO — 5 Pontos


(por Laughter Yoga International)

1
Yoga do Riso é um conceito único em que qualquer um pode
rir sem motivo, sem depender de humor, piadas
ou comédia.

2
Fazemos o riso como um exercício no corpo físico,
com ludicidade, contato visual e brincadeiras infantis,
o que logo se transforma em riso real e contagioso.

O motivo pelo qual chamamos de Yoga do Riso é porque


combina exercícios do riso com respiratórios do Yoga.

3
Isso traz mais oxigênio para o corpo e para
o cérebro, fazendo com que o praticante
se sinta mais energizado e saudável.

Baseia-se no fato científico de que o corpo não consegue

4
diferenciar entre risos falsos e reais, desde que feitos com
vontade, ambos trazendo os mesmos benefícios para a
saúde, em todos os aspectos.

Foi iniciado por um médico de família indiano chamado Dr.


Madan Kataria, apoiado por sua esposa, Madhuri Kataria,
uma professora de Yoga, com apenas cinco pessoas em um

5
parque de Mumbai, em 1995.
Hoje, já são mais de 10.000 Clubes do Riso,
espalhados por mais de 100 países.

63
7. Por que praticar
Yoga do Riso?
Um dia sem rir é um dia desperdiçado.
Charlie Chaplin

Se o riso é nossa linguagem natural, então por que precisamos de


Yoga do Riso?
Sim, é verdade que o riso é manifestação natural da nossa essên-
cia, nossa linguagem mais primitiva. No mundo ideal, estaríamos
rindo a toda hora, mais ou menos como as crianças fazem antes de
irem se tornando adultas. Infelizmente, porém, não é essa a reali-
dade em que vivemos atualmente.
De fato, o que temos visto no nosso dia a dia é que o riso vem se
tornando cada vez mais escasso. Poucas são as caras alegres pelas
quais cruzamos quando caminhamos pelas ruas, ou no trânsito, no
trabalho, ou em qualquer lugar. Estamos fartos de sermos atendi-
dos em lojas e restaurantes por funcionários mau humorados, ou
da cara enfezada dos nossos patrões, ou dos policiais, professores,
mães e pais.
Quase que nos vamos acostumando com a seriedade do mundo,
começamos a pensar que tem que ser assim mesmo, que não tem
como mudar.
À medida que cresce, a sempre descontraída face da criança vai
dando lugar à fisionomia sisuda de quem tem cada vez mais com-
promissos, e cada vez mais cedo.

65
yoga do riso

Os adolescentes, cheios de necessidade de se afirmar no tran-


sitório mundo entre a infância e a vida adulta, quase que pen-
sam que rir é coisa de menino pequeno, e que o legal é ser sério
como os grandes. Riem praticamente só uns dos outros, das
limitações, dos defeitos, gozando com aqueles que não se en-
caixam nos padrões de sucesso que buscam alcançar. Vão cres-
cendo e iniciam a vida adulta com a ideia de que chegou a hora
de virar gente grande, de se preparar para o trabalho.
Aprendem que o trabalho não é lugar de brincadeira, que o
tempo de brincar ficou no passado. E vão ficando sérios, efi-
cientes, competentes. Adultos buscando o sucesso, na profissão
e na vida – o sonho de ser bem sucedido.
Rir, só de vez em quando. Quando alguém solta uma piada,
quando assistem filme de comédia, ou quando vão a um espe-
táculo de humor. Aqui e ali, umas risadas ainda sobrevivem no
mundo cinzento da vida adulta, apenas as que sobraram para
contar a história. A incrível história de quem, quando nasceu,
praticamente ria o tempo todo, independente de motivo e ago-
ra já nem sabe que pode rir quando quiser.
Talvez você se identifique com essa história, talvez não.
Quando falo sobre isso, e digo que estamos rindo cada vez me-
nos, há sempre algumas pessoas que me contestam. Dizem:
“Eu não! Eu dou risada o tempo todo, nem preciso dessa coisa
de Yoga do Riso”.
Sim, é verdade que existem aqueles que riem mais do que a
média. São eles, aliás, que puxam a média para cima, compen-
sando os que riem menos. Todos nós conhecemos (e alguns de
nós somos) aquele engraçado da turma, o colega piadista do tra-
balho, aquele que só não se tornou comediante por um evento do
destino. São os que têm um humor mais elevado, que são mais
divertidos, que alegram a galera. A esses, da mesma forma, reco-
mendo que pratiquem Yoga do Riso. E explico por quê.

66
por que praticar yoga do riso?

Dr. Madan Kataria considera que precisamos fazer Yoga do


Riso por três razões básicas.

1. Para obter benefícios do riso com provas


cientificamente comprovadas, precisamos rir
continuamente durante pelo menos 10 a 15 minutos. Como no
Yoga do Riso nós rimos como um exercício, podemos
prolongar o nosso riso enquanto queremos.

No nosso dia a dia, quando rimos, fazemo-lo por três a cinco


segundos por vez, em média. Esse é o tempo médio de cada
risada que soltamos normalmente quando ouvimos uma piada
ou acontece um fato engraçado.
Se você duvida de mim, pode experimentar. Inspire e solte o
ar dando uma gargalhada, como se alguém tivesse acabado de
contar uma piada engraçada e conte quanto tempo durou.
Pois é. Todos nós, mesmo os mais risonhos, riem em média
de três a cinco segundos a cada gargalhada que surge no coti-
diano. Ou seja, além de estarmos dando poucas risadas, ainda
rimos rápido demais.
Digo “rápido demais” porque os benefícios fisiológicos que
são atribuídos ao riso só são mesmo assimilados na sua tota-
lidade pelo nosso organismo quando rimos de dez a quinze
minutos seguidos, pelo menos. Ou seja, não adianta soltarmos
uma risadinha aqui e ali. Precisamos mesmo praticar o riso,
como um exercício, para poder fazê-lo por mais tempo e absor-
ver os seus benefícios.
Hoje em dia, precisamos mesmo destacar um tempo do dia
para exercitar o riso, como fazemos com o nosso corpo quando
fazemos ginástica.
Além do Yoga do Riso, outros métodos às vezes servem a
esse propósito, como assistir a um filme de comédia ou a um

67
yoga do riso

show de humor. O problema é que esses meios nunca garan-


tem o resultado, uma vez que há sempre o risco de não serem
tão engraçados a ponto de nos fazerem rir por tanto tempo.
Afinal de contas, digamos a verdade: em uma hora de filme
de comédia, quanto tempo você ri, de fato?
No Yoga do Riso, por outro lado, como fazemos uma espécie
de ginástica da gargalhada, podemos rir pelo tempo que qui-
sermos. Dez, quinze, vinte minutos, quanto for. Podemos rir
sem parar, ou fazer pausas de descanso, de respiração ou de
brincadeiras, não interessa.
O fato é que prolongamos o riso pelo tempo desejado, garan-
tindo a obtenção de todos os benefícios que ele nos pode trazer.
Até hoje, nenhum outro método conseguiu esse resultado.

2. Para colhermos os benefícios para a saúde,


o riso deve ser alto e profundo, vindo do diafragma.
Deve ser uma “risada de barriga”.

Além do tempo do riso, também importa muito a sua qua-


lidade. Ora, é claro que um risinho de canto de boca, quase
arrastado, não vai trazer os mesmos benefícios de uma gar-
galhada vinda da alma! A melhor risada, em termos de bene-
fícios, é aquela que sai livre, alta e profunda, vindo direto da
barriga.
O problema é que no nosso dia a dia não encontramos tan-
tos espaços em que podemos soltar essas boas risadas. Rir alto
pode não ser socialmente aceitável. Rir tem se tornado um ato
cada vez mais raro, tanto que uma gargalhada chama logo a
atenção de quem está perto, causando desconforto ao risonho.
Muitas vezes a pessoa até estampa um certo sentimento de
culpa pela risada, cobrindo a boca com as mãos, escondendo
os dentes como se tentasse abafar o riso.

68
por que praticar yoga do riso?

Numa sociedade tão cafona, rir virou quase um ato ofen-


sivo. Chegamos a olhar feio para quem ri em certos lugares.
Imagine, por exemplo, rir dentro de um hospital, na escola,
no trabalho, na igreja, num velório. Não pode, não é?
De tanto “não pode”, o mundo virou um ambiente onde o
riso é quase sempre mal visto, socialmente condenável. Coi-
tadas das crianças, que sem perceber a seriedade de certas
situações, riem-se inadvertidamente em lugares “impróprios”
e depois sofrem a reprimenda dos mais velhos. Tiramos o riso
de determinadas situações, considerando-o inapropriado.
Que pena, pois são justamente nelas que ele é mais necessá-
rio.
Mas então o que fazemos no Yoga do Riso para resolver
isso? Bom, nós criamos um ambiente onde o riso é não só
permitido como também estimulado (e muito!).
Um clube do riso ou uma sessão do riso é um ambiente
completamente dedicado à gargalhada, em que as pessoas são
livres para se divertir à vontade, soltar as suas risadas aprisio-
nadas, libertar as suas crianças interiores. Ali, pode-se rir da
forma que for, na altura que cada um quiser, sem a preocupa-
ção com o julgamento social.
Numa sessão de Yoga do Riso, estimula-se o riso alto e pro-
fundo, que vem de dentro e sai das mais diversas formas, li-
vremente. Também se incentivam os comportamentos mais
genuínos de cada um, seus movimentos corporais desimpe-
didos, seus sons e gestos naturalmente diferentes. É um am-
biente de liberdade para cada um poder ser quem é de verda-
de e se expressar livremente, independente do que os outros
vão pensar.

69
yoga do riso

3. O riso que normalmente aparece na nossa vida depende de


muitos motivos e condições.
Isso significa que estamos deixando o nosso
riso ao acaso, podendo acontecer que não seja possível rir em
determinados momentos do nosso dia a dia. No Yoga do Riso
não entregamos a risada ao acaso, rimos com comprometimen-
to. Esta é uma maneira garantida de obter os benefícios que o
riso nos traz.

O Yoga do Riso nos ensina que o riso pode ser incondicional,


ou seja, que podemos rir sem depender de nada além da nossa
própria vontade. Só depende de nós.
Depois que sabemos disso, ganhamos um presente enorme e
ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. É um presente,
porque passamos a ter em nossas mãos uma ferramenta fantás-
tica, o riso, e o poder de usá-la sempre que quisermos, mesmo (e
principalmente) quando as circunstâncias ao redor não estejam
muito bem. Por outro lado, a responsabilidade está na consciên-
cia de que nós próprios temos a capacidade de modificar a nossa
realidade através das nossas atitudes.
Quando algo mau nos acontece, normalmente não temos qual-
quer vontade de rir. Perder o emprego, ou um ente querido, ou
receber um diagnóstico de uma doença, por exemplo, são situ-
ações que normalmente nos deprimem profundamente. Nesses
momentos, é muito comum a tendência de responsabilizar os
acontecimentos externos pela forma como nos sentimos, ado-
tando uma postura de vítima. Dizemos que estamos tristes por
causa de alguma coisa, ou por que alguém nos fez algum mal.
Por outro lado, quando se é um praticante de riso, não temos
mais certas desculpas. Sabemos que o riso pode alterar o nosso
humor em poucos instantes e nos ajudar a recuperar a força para
superarmos a má fase. O praticante do riso sabe que tem consigo

70
por que praticar yoga do riso?

a ferramenta para se reerguer em todos os sentidos e encarar as


situações desafiadoras que a vida lhe apresenta. O riso é assim:
se não resolver por si, vai ajudar a encontrar a solução.
Por isso, deixamos de nos ver como vítimas da nossa realidade
e passamos a nos projetar como protagonista da própria vida,
assumindo a responsabilidade de encarar os altos e baixos e se-
guir adiante, seja como for.
É que o riso é nosso, está aqui e podemos usá-lo quando qui-
sermos. É um mecanismo de cura, com poder de melhorar inú-
meros aspectos da nossa vida. É triste entregá-lo à própria sorte,
à mercê de que nos contem uma piada, ou de que alguma coisa
engraçada aconteça por acaso no nosso dia a dia. É muito arris-
cado esperar que os outros ou que a vida nos faça rir. Corremos
o risco de passar dias inteiros sem uma risada sequer, entriste-
cendo o saudoso Charlie Chaplin, que dizia que um dia sem rir é
um dia desperdiçado.
Para garantir as doses diárias de riso que merecemos, bem
como todos os seus benefícios, não podemos entregar a nossa
gargalhada nas mãos dos outros. Ao contrário, podemos assumir
a responsabilidade pelo nosso próprio riso, e fazer dele um com-
promisso. Sim, podemos nos comprometer a rir. Eu me compro-
meti. Rio todos os dias, religiosamente, pelo menos dez minutos
por dia, sem parar. Está escrito na minha agenda, tenho alarme
no telefone. A vida é uma dádiva incrível, cada dia é um presente
maravilhoso. Não quero desperdiçar nem um sequer.
Hoje, rir é um hábito para mim. Além da minha prática diária,
o riso me surge naturalmente ao longo do dia. Mas as coisas nem
sempre foram assim. Mesmo depois de me tornar líder do riso,
houve um tempo em que eu ensinava as pessoas a rir, mas não
ria.
Vou contar essa história a seguir.

71
Quadro-resumo

POR QUE PRATICAR YOGA DO RISO? — 3


Razões
(por Laughter Yoga International)

Para obter benefícios do riso com provas cientificamente


comprovadas, precisamos rir continuamente durante pelo menos
10 a 15 minutos por dia. Como no Yoga do Riso nós rimos como

1
um exercício, podemos prolongar o nosso riso pelo tempo que
quisermos.

Para colhermos ao máximo os seus benefícios, o riso deve ser


alto e profundo, vindo do diafragma. Deve ser uma “risada
de barriga”, livre e desimpedida. No Yoga do Riso, temos um

2
ambiente completamente permissivo para soltarmos as nossas
gargalhadas na altura que quisermos.

O riso que normalmente aparece na nossa vida depende de


motivos e condições. Isso significa que estamos deixando o
nosso riso ao acaso, podendo acontecer que não seja possível
rir em determinados momentos do nosso dia a dia. No Yoga
do Riso não entregamos a risada ao acaso, e sim rimos com
comprometimento.

3
Esta é uma maneira garantida de obter os benefícios
que o riso nos traz.

72
8. O professor do riso
que não ria
Alguém se lembra de rir?
Robert Plant

Quando terminei a primeira formação em líder de Yoga do


Riso em Portugal, voltei para o Brasil disposto a espalhar a
técnica por onde quer que eu fosse. Era nômade, e vivia a bor-
do da Kombi Cura, um coletivo de pessoas que percorre o país
organizando eventos relacionados à saúde e o bem estar pelos
lugares por onde passa.
Naquela altura, meus companheiros ainda estavam incré-
dulos quanto à utilidade daquela nova ferramenta para as
atividades que desenvolvíamos. Eles também eram dos que
achavam estranho esse negócio de praticar o riso assim, sem
motivo.
Mesmo assim, aceitaram encaixar uma sessão de Yoga do
Riso numa oficina culinária que realizaríamos no mesmo fim
de semana em que cheguei de viagem — agora vejo quanto
eles confiavam em mim.
Aterrissei num sábado e, na manhã seguinte, tinha a sala
cheia de gente para a minha primeira sessão como líder do
riso. Ninguém conhecia a técnica e todo mundo queria confe-
rir aquela boa nova que havia chegado do além-mar.

73
yoga do riso

Entre erros e acertos, o que interessa é que, no fim das


contas, a sessão correu maravilhosamente bem. Desajeitado
e apreensivo, mesmo assim consegui transmitir a técnica e
dá-la a conhecer àquela gente. Eu ainda não sabia, mas o
método é tão bom, tão bom, que funciona até mesmo quan-
do o líder faz um monte de coisa errada. Ainda bem.
No fim, as pessoas saíram da sala tão radiantes, alegres
e bem dispostas que os meus companheiros de Kombi fi-
caram surpresos. Como tinham estado atarefados com os
preparativos do workshop, nenhum deles pôde estar comi-
go durante a sessão, e ficaram apenas com a impressão que
extraíram das caras e comentários das pessoas.
Eu, todo contente, sentia que aquela coisa de Yoga do Riso
tinha tudo para prosperar entre nós.
Depois daquele dia, os comentários sobre a nova técnica
que a Kombi Cura tinha trazido para a região estavam cir-
culando entre a comunidade local. Veio a próxima sessão
e mais de trinta pessoas riram conosco, em altíssimo volu-
me. Um estouro! Naquela mesma semana, outra sessão na
mesma cidade contou com mais de cinquenta pessoas: um
espetáculo. O tal do riso estava a todo gás!
Meus companheiros de trabalho perceberam logo que
aquilo fazia um bem enorme às pessoas e, ainda por cima,
ia com certeza ser bom para os negócios. A partir dali, toda
atividade da Kombi Cura passou a ter algo de Yoga do Riso.
Aos poucos, os outros componentes do grupo começaram a
se convencer da magnitude da prática e sentir o entusiasmo.
O Rafa, em especial, percebeu o poder que o Yoga do Riso
tinha e passou a fazer questão de estar em todas as sessões
que eu liderava. Rapidamente, tornou-se o praticante mais
assíduo de todos, provavelmente o maior frequentador de
sessões do riso de todo o Brasil.

74
o professor do riso que não ria

Em pouco tempo, começamos a perceber os efeitos daquilo


na sua vida. Mesmo fora das sessões, o seu riso estava sempre
destravado. Tornou-se um rapaz de riso frouxo, ria de qual-
quer coisa, a toda hora, em qualquer lugar. Ria alto, soltava
estridentes gargalhadas. Passou a ser ainda mais alegre do que
já o era e a estar sempre bem disposto. Muitas vezes, perguntá-
vamos por que estava rindo e ele, rindo ainda mais, respondia:
Yoga do Riso!
Pela primeira vez, a Kombi Cura tinha entre os seus mem-
bros alguém que praticasse o riso de verdade. Sim, pois apesar
de eu ser o líder de Yoga do Riso do grupo, era Rafa quem
realmente ria no dia a dia, sem motivo, só para exercitar. Eu,
por outro lado, passava dias e dias sem rir, apenas vestindo o
uniforme de professor da gargalhada nos dias em que tínha-
mos sessões programadas.
Era o Rafa quem puxava pelo riso do grupo, quem propunha
umas risadas fora de hora — a qualquer hora — quem levanta-
va o astral da casa. Volta e meia, do nada, perguntava: “vamos
rir?”, mesmo em situações completamente inusitadas.
Lembro-me bem de um dia em que voltávamos a pé do
mercado público de São Paulo, uns bons cinco quilômetros até
a casa, carregados de sacolas de compras pesadíssimas, por entre
ruas sinistras ao entardecer. No meio do desconforto, do medo
do perigo, do peso nas mãos, ele começa: “ha ha ha…” Eu, todo
incomodado, me perguntava como é que ele conseguia.
“Bora lá, Mamá! Yoga do Riso!”, insistia o Rafa.
Ah, aquelas gargalhadas! Rio só de lembrar. Rimos o resto do
caminho, ajudamos um motociclista necessitado no meio do
caminho e chegamos em casa sãos, salvos, e muito bem dispos-
tos. Santo Rafa. Santo Riso.
Mas confesso que esse dia foi exceção. Eu normalmente rejei-
tava os seus convites para rir sem motivo, assim, “do nada”. E as-

75
yoga do riso

sim se passaram meses. Eu ensinava o riso, mas não ria. Falava


dos benefícios da prática, mas não os perseguia. Apresentava-
-me como Líder de Yoga do Riso, mas não era uma referência
de pessoa risonha.
Sentia-me um impostor, alguém que prega o que não faz, que
promete o que não cumpre, que deixa uma distância entre o
que diz e o que vive. Rafa, ao contrário, quanto mais partici-
pava das minhas sessões, mais adotava o riso para a sua vida,
tornando-se mais e mais alegre, e sentindo cada vez mais os
benefícios do riso nos diversos aspectos da vida.
É verdade que eu atravessava um momento complicado de
saúde e também no campo afetivo, mas já sabemos que isso
não é desculpa para deixarmos de rir, não é? Aliás, hoje sabemos
que são justamente nesses momentos que mais precisamos do
riso. De qualquer modo, o fato é que eu era o professor, mas o
risonho mesmo era Rafa, o aluno.
Até que um dia ele se vira para mim e diz: “Quero liderar ses-
sões. Tu me ensinas a ser Líder de Yoga do Riso?”
Não demorou e o Rafa passou a liderar as sessões da Kombi
Cura. Depois de tantas práticas como aluno, tinha se torna-
do expert no assunto. Mais do que isso, tinha já meses de ex-
periência com o riso no dia a dia. Em pouco tempo, já tinha
se tornado um líder muito mais inspirado do que eu, e suas
sessões tinham certa magia que eu nunca conseguira colocar nas
minhas próprias. Ele não dominava tão perfeitamente as técni-
cas, é verdade, mas sobrava-lhe paixão, criatividade e intuição. As
pessoas se contagiavam pela verdade contida nas suas aulas.
Neste momento, o Yoga do Riso na Kombi Cura tinha atingido
um novo nível.
Não que eu fosse um mau líder, não é isso. Aliás, o Yoga do
Riso é um método tão fantástico que não tem essa de ser mau
ou bom. Aplique o método e as pessoas vão se beneficiar, não

76
o professor do riso que não ria

há outra hipótese. Mas o Rafa não era só alguém que executava


uma técnica, que ensinava o riso. Vivia-o. Eis a diferença.
A partir dali, eu passei a liderar apenas as sessões mais desa-
fiadoras, nas quais o Rafa se sentia mais inseguro, provavel-
mente por ainda não ter feito a formação certificada naquela
altura. Eu ia quando era para fazer Yoga do Riso nas praças pú-
blicas, nos hospitais, nos abrigos de idosos ou com os públicos
— digamos — especiais. Nas outras situações, ia ele. Eu era o
técnico, o que conseguiria fazer uma boa sessão acontecesse
o que acontecesse. Ele era o inspirado, sem muita forma, mas
cujas sessões simplesmente brilhavam.
Como o tinha na família, acomodei-me. O serviço do riso es-
tava sendo bem prestado pelo grupo, isso era o que importava.
Por outro lado, nunca tinha trazido o riso para a minha vivên-
cia individual, no dia a dia. Era como um professor que não
pratica o que ensina, um médico que não cuida da própria saú-
de, um nutricionista que se alimenta mal, um educador físico
que não se exercita. Pior do que isso, incomodava-me a cada
vez que as pessoas se surpreendiam quando lhes diziam que
eu era profissional do riso, já que nitidamente eu não era dos
mais risonhos. Quando menos percebi, tinha entrado naquela
máxima: quem não sabe fazer ensina.
Lembro-me de ter passado uma semana com os meus pais
e ao final minha mãe dizer: “Filho, nos últimos sete dias nin-
guém viu sequer um sorriso seu. Que professor do riso é esse?”
Mas isso mudou. Ironicamente, só aprendi a praticar tanto ou
mais do que ensinar o riso justamente quando fiz o curso de
Professor. É verdade. A vida me deu outra chance. Agora sim,
era hora de ser um bom aluno.

77
9. Banana Ana

O riso é a menor distância entre duas pessoas.


Victor Borge

Enquanto dava as aulas da formação, a toda hora seu filho Ma-


lik vinha correndo para o colo dela, falava-lhe ao ouvido, inter-
rompendo o que estava a dizer. Ana Banana, sempre tranqui-
la, respondia-o com infinita candura, mas também com certa
seriedade, despachava qualquer que fosse a demanda trazida
pelo miúdo e voltava ao que estava dizendo. Aquilo, para nós
alunos, era um bocado esquisito. Ficávamos nos perguntando
por que ela não punha um ponto final naquilo: por que não
ensinava limites ao filho? Ora, era um momento sério, uma for-
mação, tínhamos pago para estar ali e a interrupção frequente
atrapalhava o trabalho. Já começava a nos chatear.
Engraçado que só dois anos depois, já no Brasil, Ana e eu con-
versamos sobre isso. A mestra disse que é muito comum as pes-
soas se chatearem com ela por levar sempre consigo o seu filhote,
mesmo em ambientes notadamente sérios, como pavilhões de
congressos, seminários e empresas. Para ela, porém, o fato de se-
pararmos os ambientes entre próprios para adultos ou para crian-
ças é prejudicial ao desenvolvimento delas, e ainda gera uma série
de problemas para as pessoas, grandes ou pequenas. Ela me disse

79
yoga do riso

que acreditava que a criança não só pode como precisa estar em


ambientes ditos “adultos”, pois a interação com os mais velhos,
onde quer que seja, é fundamental para o seu crescimento. Uma
convivência em que se destacam espaços para uns e para outros,
separadamente, gera um distanciamento prejudicial para todo
mundo. Adultos e crianças perdem oportunidades de conviverem
entre si, e todas as maravilhas que surgem dessa interação.
Depois que ela me disse isso, imaginei-a dando aula numa
empresa, com roupa formal e diante de um grupo de engra-
vatados, e o pequeno Malik a correr de um lado para o outro,
interrompendo e chamando a atenção para si várias vezes.
Que grande confusão seria, é verdade. Mas, conhecendo o guri
como agora o conheço, penso também como seria um verda-
deiro presente para os tais empresários poder desfrutar da sua
companhia.
Imaginei também que resposta Ana daria se naqueles dias da
minha primeira formação os alunos a pedissem para que desse
um jeito nas interrupções do seu filho e mantivesse o foco na
explicação. Comecei a fantasiar o que ela diria. Acho que seria
algo mais ou menos assim:
“Estamos aqui para aprender sobre a alegria e viver ela na
prática. As crianças são as mestras neste assunto. São elas que
sabem exatamente o que fazer para ser felizes. Se, a qualquer
momento, sentirmos que o que estamos fazendo está sendo
atrapalhado por elas, então é porque o que estamos fazendo é
que está fora do eixo.
Para uma criança, por exemplo, não é nada natural estar sen-
tada por horas a fio ouvindo alguém falar.
Eu sei que as interrupções do Malik incomodam. Sobretudo
para nós, adultos, que nos acostumamos a levar as coisas a sé-
rio, ainda mais um curso, uma formação, algo pelo que investi-
mos nossos preciosos tempo e dinheiro.

80
banana ana

Já faz muito tempo que deixamos de brincar, não é mesmo?


E, para piorar, já nem vemos mais tantas crianças brincando
por aí afora. As crianças quase nem brincam de verdade, no
sentido real da palavra. O Malik, tão energético, tão brincalhão
e autêntico, já é uma exceção, não é? E uma mãe que inter-
rompe o que está fazendo para dar atenção ao filho, ou que faz
questão de o levar para o trabalho ao invés de deixar em casa
aos cuidados da babá também não é nada comum, pois não?
Mas sabem o que é que acontece de verdade? Desculpem,
agora vou tocar num ponto que dói mesmo dentro de nós. Es-
tejam prontos.
Ver o Malik agir assim, tão espontâneo, livre e subversivo,
como as crianças naturalmente são, incomoda-nos. Incomoda
também ver uma mãe que permite que isso aconteça, sem pôr
um ponto final. Mas não incomoda só porque atrapalha a nos-
sa aula. Isso é o mínimo. Incomoda porque revela inevitavel-
mente quão distantes nós estamos das nossas próprias crianças
interiores. Malik representa aquilo que nós deixamos de ser,
aquilo que nos impediram de continuar sendo.
Sujo, suado, rebelde, veloz, despenteado, desobediente, li-
vre... Livre demais, energético demais, feliz demais para o nos-
so gosto. Para quem tem filhos, é pior ainda. Pois uma criança
como ele, assim à moda antiga, representa, além do que nós
fomos impedidos de ser, também aquilo que nós hoje impedi-
mos que nossos filhos sejam. Nós, que hoje também não per-
mitimos que nossos filhos se arrisquem, caiam, machuquem,
pulem, corram descalços, vistam-se mal. Malik é o que nós já
não somos, e o que não deixamos que os outros sejam.
Aí a nossa mente o recrimina. E as suas mentes me recri-
minam. Inconscientemente, não querem permitir que ele seja
assim, uma “criança-criança”, nem que eu aceite que o seja.
Isso não tem nada a ver com a aula ser atrapalhada. É muito

81
yoga do riso

mais profundo. Isso tem a ver com o nosso medo de olhar para
a nossa própria criança aprisionada cá dentro, e a tristeza já
calejada de termos deixado se ser quem somos.”
Bom, não sei se ela falaria assim, com essas palavras. Mas
acho mesmo que é por essa linha que ela pensa.
Ana Banana é como um desses seres de luz que vêm ao mun-
do para apontar-nos a direção.
Depois de ter tido uma adolescência pouco convencional, fi-
lha de família circense, nômade, e de ter percorrido inúmeros
lugares trabalhando como palhaça – inclusive doutora da ale-
gria – foi acometida por uma depressão profunda.
Para já, diga-se que a depressão não é nada incomum entre os
palhaços, humoristas etc. Pois bem, aconteceu também a ela.
Certo dia, andando sozinha pelo terreno da sua quinta, pas-
sou mal e desfaleceu no chão, com o corpo completamente
imobilizado (a depressão produz efeitos incríveis quando atin-
ge certo grau de gravidade). Caída no chão, no meio do ter-
reno, sem conseguir se mexer e sem ter a quem pedir ajuda,
foi invadida pelos pensamentos mais sombrios, típicos de uma
situação como essa.
No meio daquele turbilhão de sensações e medos, eis que lhe
veio à mente a lembrança de uma tal técnica que falava sobre
rir sem motivo como uma ferramenta de cura, eficaz inclusive
contra a depressão. Era o Yoga do Riso, do qual ouvira falar,
mas, como palhaça, nunca dera grande atenção. Agora, numa
situação completamente peculiar, aquilo voltava à sua mente
não se sabe bem por que.
Não vendo muitas outras alternativas, resolveu dar uma
chance. E começou: “ha…”
E foi assim que, da depressão profunda, literalmente do chão,
essa que é para mim uma das criaturas mais fantásticas que

82
banana ana

já conheci se reergueu. Dali por diante, fez do riso a sua vida,


de verdade. Não como simples entretenimento, mas como um
mecanismo de cura das pessoas em prol de uma sociedade mais
feliz, e da paz no mundo. Virou uma das maiores referências do
riso no mundo, fundadora do movimento do Yoga do Riso em
Portugal, formadora de milhares de líderes em diversos países
e, para muitos, a madrinha da gargalhada.
Ana é frequentemente convidada para dar palestras, cursos,
retiros e aos mais diversos públicos, assim como entrevistas e
participações em programas de rádio e televisão, e já escreveu
enorme conteúdo sobre o riso, inclusive o seu livro Ria Agora,
com várias edições.
Mais do que isso, decidiu há vários anos dedicar-se ao servi-
ço voluntário. Costuma dizer: “eu não trabalho, sou voluntá-
ria”, numa piada transversa de quem sabe que quem serve com
amor não precisa trabalhar.
Ana é um ser enorme. Tem o corpo bem magrinho, é verda-
de, mas guarda uma força descomunal. É tão grande que eu
precisaria escrever um livro inteiro — e grosso — se quisesse
falar mesmo sobre ela. Por enquanto, vamos registrando esses
pequenos vislumbres do que ela pode ser. Aliás, de qualquer
maneira, ela está em cada página deste volume, pois é também
a minha própria madrinha da gargalhada.
Além do Yoga do Riso com todos os públicos, essa mestra
também se dedica às crianças. Por não querer enfiar o filho
Malik numa escola convencional, resolveu ela própria criar o
ambiente de educação do filho. Alinhou ao movimento homes-
chooling (educação doméstica) e fez da Quinta do Sol uma ver-
dadeira escola alternativa para as crianças da região.
Aos poucos, pessoas de várias partes do mundo passaram a
mudar-se para Vila Nova de Poiares para criarem os seus fi-

83
yoga do riso

lhos ali, em coletivo. Criaram, em comunidade, uma espécie


de educação compartilhada, em que cada adulto transmite o
que sabe, recheando os meninos com oportunidades de muitos
outros aprendizados para além das disciplinas tradicionais. Lá,
aprendem três ou quatro línguas, infinitas formas de arte, mar-
cenaria, carpintaria e outros ofícios, acrobacias, Yoga, teatro e
por aí vai.
Nesse cenário, Ana cria o pequeno Malik e ao mesmo tempo
se cria a si própria, aprendendo com os pequenos e aproveitan-
do a sua mestria. Assim, a cada ano que passa, torna-se mais
e mais criança, no melhor sentido que a palavra possa ter. En-
sina e aprende na mesma proporção, e depois vem nos passar
o sumo do que extraiu da experiência de educar livremente as
crianças e assim libertar a sua própria.
Quem puder conhecê-la, vai saber o que eu estou falando.
Estar com Ana Banana é sempre uma oportunidade única. Ela
é a reunião improvável da sabedoria com a ingenuidade, da
maestria com a humildade, da mulher com a menina. É tudo
numa coisa só.
Outro dia reencontrei Ana em Portugal, numa das suas in-
comparáveis sessões do riso. Tinha acabado de voltar da for-
mação de Professor em Londres e estava cheio de novidades
para lhe contar. Queria lhe falar sobre como o pessoal da In-
glaterra faz as coisas de maneira mais profissional, mais orga-
nizada, mais eficiente. Queria perguntar o que ela achava das
recentes atualizações do método, e saber como encaixar as no-
vas diretrizes que vinham lá da Universidade Internacional da
Índia naquilo que vínhamos fazendo por aqui.
Ela, com aquela voz sempre serena, vira-se para mim e fala:
— Sandro, sabe o que eu acho? Isso tudo que fazemos é sim-
plesmente sobre brincar. Tem a coisa de rir, é claro, e que é
fundamental no processo. Tem a estrutura, tem o método tem

84
banana ana

tudo isso e cada coisa com sua importância. Mas a gente só


precisa praticar o riso porque não brincamos mais. O mais im-
portante de tudo é a brincadeira. Precisamos do riso para des-
pertar a nossa criança, não é? E o que é que a criança faz? Pois
é, brinca.
Ana se preocupa em fazer as coisas certas. Ela segue o método
do Yoga do Riso de acordo com os princípios que o norteiam.
Mas ela está em um nível tão fino de conexão com a essência
dessa prática e com o seu criador, Dr. Kataria, que consegue
transitar por além do método. Tem uma forma própria de fazê-
-lo, resultado de décadas de experiência com o riso. Apesar de
não focar tanto como os ingleses na forma do método, jamais
se afastou do Yoga do Riso nem um centímetro sequer. Pelo
contrário, anda abraçada com o âmago disso tudo.
Depois daquela conversa, fui dar uma sessão num evento em
Portugal e me esforçava para aplicar a técnica mais atualizada,
da melhor maneira possível. Vinha com aquele primor da es-
trutura bem presente na cabeça.
No meio da prática, mirei os participantes, que se moviam
alegremente numa dinâmica muito animada. Naquele momen-
to, lembrei-me das palavras da madrinha e pensei: De fato,
essa história toda de Yoga do Riso no fundo é mesmo um gran-
de pretexto para nos permitirmos, enfim, brincar. Para sermos
e deixarmos que os outros sejam crianças.

85
10. Malik,
a criança normal
A Terra ri em flores.
Ralph Waldo Emerson

A primeira vez que passei uma semana inteira com Malik,


percebi logo que ele era um menino normal. Normal, desses
que sobem em árvores, brincam o dia todo, andam descalços,
sujam-se e não gostam de tomar banho toda hora. Tinha oito
anos e não frequentava escola.
Estar com ele foi um presente pra mim. Uma recarga de vi-
talidade, afeto, esperança, inventividade, espontaneidade, ale-
gria e um monte de outras maravilhas. O menino logo se tor-
nou um mestre. Era um aprendizado mais lindo do que outro,
e construímos ali a nossa amizade.
Minha abordagem infantilizada logo no início deu sinais de
que o papo ia ser diferente. Malik fez logo cara de “por que ele
tá falando desse jeito comigo?”. Não era um bebê grande, era
um adulto pequeno.

Como ele é criado de uma maneira bem diferente do que eu


estava acostumado a ver, alguns artifícios da minha geração
não funcionavam, e acompanhá-lo teria que ser uma experi-
ência honesta. Não dava para colocá-lo na frente da TV para

87
yoga do riso

ganhar tempo, ou fingir que um monstro malvado iria atacá-lo


caso não fizesse algo que eu queria. Como os pais não mentem
pra ele, fingir ou inventar coisas para fugir das minhas respon-
sabilidades não era uma opção. Ainda bem.
Estar com ele era gostoso e divertido. Nenhum dos dois preci-
sava fazer o que não queria. Eu não mandava nele, ele não man-
dava em mim. Eu não mentia pra ele, ele não mentia pra mim.
Tão natural quanto a natureza da relação pura da amizade.
Naquela semana, meu amigo subiu em coqueiros e árvores
da altura de prédios de 3 andares (ou mais). Pegou em tarta-
ruga marinha, siri, caranguejo, lesma e estrela do mar, peixes,
enguias e outros bichos que eu ainda nem conhecia. Correu,
pulou muros e escalou corrimões. Abriu cocos verdes com fa-
cão (ai, que aflição!), descascou frutas e preparou seus pró-
prios lanches, inventando receitas. Criou e recriou origamis
e esculturas com massa de modelar, desenhou mapas e criou
complexos jogos de caça ao tesouro. Conversou em português,
inglês e alemão, cantou, leu e escreveu (ainda bem devagar-
zinho). Enfrentou o perigo do mar, deslizou em suas ondas e
se enterrou na areia. Também construiu castelos com pontes e
túneis, sistema de captação e escoamento de água e dispositivo
de entrada e saída de pequenos animais.
Como dizem os antigos: pintou e bordou. Sem dúvida, uma
das criaturas mais fantásticas que já conheci. Um mestre mes-
mo. Não foi à escola. Usou o tempo para aprender e desenvol-
ver suas capacidades naturalmente.
Um dia, levei Malik para brincar com outras crianças da sua
idade e senti um verdadeiro desalento. Sabe quando a gente fica
sem chão? Sem perspectiva, sem esperança? Pois é. A diferença
entre meu amigo e as outras crianças era mesmo gritante.
Meninos pesados, lentos, cheios de medos e paranóias, des-
respeitosas e viciadas em açúcar, mimos e aparelhos eletrôni-

88
malik, a criança normal

cos. Incapazes de desempenhar atividades naturais da sua exis-


tência, como correr ou subir em árvores.
Pela primeira vez, tive pena de meu amigo. No meio de tantos
meninos, estava praticamente sozinho.
Mas, mesmo sendo o peixe fora do aquário, Malik não os des-
tratou. Brincou com as outras crianças por um tempo, até se
cansar. Não era tão divertido, pois ele era o “diferentão” e nin-
guém conseguia acompanhar o seu ritmo, nem físico nem cogni-
tivo. Mas tudo bem. Brincou até se cansar e me chamou pra casa.
— O que achou dos meninos, amigo? — perguntei.
— Legais. Um pouquinho “bitolados da cidade grande”. Mas
legais.
Um dos meninos gostou do meu amigo, e queria brincar com
ele no outro dia. Mas não podia. Não podia, e o motivo era: tinha
aula. Meu Deus! Não pode brincar porque tem aula? Mas o que
pode ser mais importante pra uma criança do que brincar? E o
que pode haver de tão importante dentro de uma sala de aula
que impeça uma criança de passar um diazinho a mais com o seu
amigo do outro continente?
Às tantas, a avó chama o menino e diz: “Filho, venha dormir.
Amanhã você tem aula. Seu amigo vai pra praia amanhã porque
está de férias. Não é, Malik?”
E no caminho de casa, meu amigo diz: “Sim eu estou de férias.
Eu tenho férias todos os dias”.
Malik, meu amigo, vive de férias. Faz o que gosta. Conhece
seus limites, respeita as pessoas (adultas e crianças), aprende,
se desenvolve e brinca. Vive de férias. Não é melhor do que nin-
guém. Só é aquilo que todas as crianças seriam se deixássemos
que elas fossem. Exatamente como as crianças normais. Lembra
delas?
Naquele dia, fiquei feliz por Malik. Por ele ter a oportunidade
de ser filho de Ana Banana. Por não ter sido obrigado a ir para

89
yoga do riso

a escola, por poder ser quem ele é. Fiquei feliz por mim, por
poder conhecê-lo e me lembrar do que eu também posso ser.
Por um momento, no entanto, fiquei triste pelas outras crian-
ças. Pelos meninos que não podem brincar. Que têm aula. Pe-
las crianças que não podem sair na rua, nem subir na árvore,
porque é perigoso. Pela energia toda aprisionada nas salas de
aula.
Fiquei triste por eles, os pais assustados que querem fazer o
melhor para os filhos e estão perdidos no meio desse furacão.
E por um momento fiquei triste por todos nós, pelo tanto que
deixamos de brincar e fomos nos distanciando da nossa pró-
pria criança.
Respirei fundo. Olhei para Malik, que me oferecia uns doces
naturais que tinha preparado para comermos enquanto assistí-
amos a um filme na nossa última noite juntos.
E finalmente sorri. Sorri, porque me lembrei que eu conheço
uma técnica simples e eficiente, que ajuda qualquer pessoa a
caminhar de volta e encontrar a sua criança no exato local onde
a deixou, para seguirem juntos a caminhada.
Belisquei o doce do mestre cuca mirim e me aconcheguei no
sofá ao seu lado. Antes de começar o filme, ainda tive tempo de
soltar uma grande gargalhada, que deixou o menino espanta-
do. Provavelmente pensou: “esse cara não é normal”.
Ainda bem.
Obrigado, Yoga do Riso.

90
11. Benefícios do riso

Chegará o dia em que não será piada


os médicos receitarem doses de riso
para o tratamento dos seus pacientes.
Dr. Kazuo Murakami

Sim, o Yoga do Riso tem tudo a ver com despertar a nossa criança
interior., é verdade. Mas não para por aí. É que a risada também é
um assunto sério, e já há muito tempo vem sendo alvo de estudos
e discussões em mesas bem adultas espalhadas pelo mundo.
São incontáveis os experimentos, artigos científicos e livros
dedicados à análise dos benefícios do riso para a saúde huma-
na, não só física, mas também emocional. É sobre isso que vou
falar agora.
Se você por acaso sentir que não precisa saber de nada disso
para experimentar o riso na prática, pode pular o capítulo e se-
guir adiante. Sério mesmo. Provavelmente tem um perfil psico-
lógico menos mental e mais prático. Siga em frente sem pena.
Se, por outro lado, acha que precisa de alguns argumentos
para encarar essa proposta de rir sem motivo, então fique aqui.
Vou partilhar consigo algumas informações que um dia tam-
bém me ajudaram a aceitar essa proposta.
Vamos lá.
Depois que passei a rir todos os dias, como um compromisso,
os benefícios da prática foram se tornando mais e mais eviden-

91
yoga do riso

tes. O que antes eu sabia na teoria, agora percebia na própria


pele. Ao final do primeiro desafio dos 40 dias de riso que re-
alizei, conseguia perceber nitidamente os efeitos nos diversos
aspectos da minha vida. E, com a certeza de que era o novo
hábito de rir todos os dias que me estava proporcionando aqui-
lo, passei a querer espalhar aquela informação por todo lado.
Minha vontade era gritar para todo mundo ouvir:

O que vocês estão fazendo que não estão rindo?

Como já vinha trabalhando com desenvolvimento pessoal,


saúde, bem estar e terapias alternativas, e tendo eu próprio
vivido um doloroso período de doença, sabia que as pessoas
estavam a todo o momento buscando ferramentas de cura para
suas vidas. Insatisfeitas com os métodos convencionais, pas-
sam a procurar por tratamentos alternativos, que se multipli-
cam numa escala impressionante. A cada dia, ouvimos falar de
uma nova terapia, ou de outra antiga que voltou à moda, ou que
recebeu uma versão atualizada.
Participando de uma Feira Internacional de Terapias Al-
ternativas, pude ter uma noção da quantidade de mecanis-
mos de cura que têm sido oferecidos pelo mundo afora. As
mais diversas ferramentas estão hoje à disposição: óleos,
cristais, pêndulos, imãs, reiki, dee sha, jorei, thetahealing,
ayurveda, yogaterapia, musicoterapia, arteterapia e por aí
vai. Massagens, águas alcalinas ou ionizadas, comida vege-
tariana, suplementos naturais, alimentação viva, dieta pale-
olítica, mesas radiônicas, limpezas intestinais e hepáticas.
Tarôs, búzios, passes, iridologia, leitura de aura, bênção do
guru e até um olhar capaz de curar. Olha, nem vou me atre-
ver a tentar listar tudo que há por aí. É mesmo uma infinida-
de de métodos. Cada um à sua maneira, todos com alguma

92
benefícios do riso

coisa para colaborar com a saúde e a felicidade das pessoas.


Que bom.
Mesmo assim, enquanto olhava para tudo isso, pensava: bas-
tava rir.
O riso é uma ferramenta simples, fácil e acessível, está den-
tro de todas as pessoas e pode ser acessado sempre que qui-
sermos. É completamente gratuito, não precisa de qualquer
equipamento externo e, salvo raros e levíssimos sintomas de
desintoxicação iniciais, não traz nenhum efeito colateral desa-
gradável.
Eu observava as pessoas sedentas por respostas, desespe-
radas pela tão sonhada cura, como eu mesmo estive tempos
atrás. Via como procuravam por todo lado e experimentavam
as mais diversas — e muitas vezes caríssimas — terapias, e pen-
sava comigo: bastava rir.
Pela primeira vez na vida, eu tinha uma frase que queria falar
no ouvido de todas as pessoas do mundo. Lembrei-me da mú-
sica do Tim Maia e pensei: “Ah, se o mundo inteiro me pudesse
ouvir...”. Honestamente, diria apenas uma coisa: ria!
Eu agora tinha a forte convicção de que rir cura. Por isso,
doía-me ver as pessoas doentes, correndo atrás da melhora e
sofrendo desnecessariamente enquanto o riso estava ali, guar-
dadinho dentro delas, disponível para trazê-las de volta ao seu
pleno potencial. Tal qual o Mestre Kataria há duas décadas, eu
também queria convencer todo mundo a rir!
Foi nesse ambiente emocional que pedi em silêncio, logo
após uma sessão do riso, por uma oportunidade de dar pales-
tras sobre os benefícios do riso. E como as coisas acontecem
quando estamos conectados com os nossos propósitos, naquela
mesma semana me convidaram para isso.
E como a palavra falada às vezes não é suficiente, decidi tam-
bém escrever um livro. Seja pelo meio que for, eu estava decidi-

93
yoga do riso

do a levar essa mensagem pelo mundo afora. Como um missio-


nário da alegria, tinha chegado a hora de espalhar a palavra da
gargalhada. Só não ia bater de porta em porta, porque sei que
isso chateia mais as pessoas do que qualquer coisa.
Há mais de vinte anos atrás, depois de ajudar mais de 100 mil
pessoas a rirem todas as manhãs na Índia sem que ninguém
lhe pedisse qualquer explicação, Dr. Kataria partiu para sua
primeira turnê pelo Ocidente. Assim que chegou nos Estados
Unidos e anunciou o Yoga do Riso, vieram logo lhe perguntar:
“você tem provas científicas?”
Nessa hora, para quem pratica o riso, a vontade é dizer às
pessoas: “Simplesmente riam! Experimentem, sintam em si
próprias.” Os benefícios do riso são evidentes, estão aí, basta
rir para ver.
Por outro lado, como a ideia de rir sem motivo pode parecer
um bocado esquisita para muita gente, algumas pessoas têm
dificuldade de alinhar nessa onda sem um motivo razoável,
sem uma explicação científica que prove os benefícios que o
riso nos traz.
Por isso, o Dr. Kataria faz questão de acenar para os bene-
fícios da prática com base em dados acadêmicos sérios, ex-
perimentos e estudos movidos por instituições renomadas e
cientistas reconhecidos. O mestre nos recomenda que falemos
sempre dos benefícios do riso, e que reforcemos às pessoas
aquilo que intuitivamente todos já sabem: rir faz bem.
Assim, em seu livro Laugh For No Reason, Kataria traz
uma coletânea de estudos científicos que comprovam os
benefícios do riso para os mais diversos aspetos da saúde
humana. Para facilitar a divulgação, o mestre os dividiu em
cinco áreas: pessoal, física, profissional, social e em prol da
resiliência.

94
benefícios do riso

1. Benefícios gerais para a vida pessoal

O riso é capaz de alterar o humor de uma pessoa em poucos


minutos, liberando endorfinas de suas células cerebrais. Com
um humor elevado, as belezas vão se descortinando à nossa
frente e tudo passa a correr melhor.
Kataria diz que dez minutinhos de riso pela manhã melho-
ram imediatamente o humor e seus efeitos vão repercutir ao
longo do dia, até a hora de deitar.

O pesquisador Charles Schaefer, da Universidade Fairleigh


Dickinson, de Nova Jersey4,1afirma que apenas um minuto de
riso forçado já combate o mau humor e ajuda no combate à
depressão, pois “uma vez que o cérebro sinaliza ao corpo para
rir, o corpo não se importa com o motivo e já vai liberando en-
dorfinas e aliviando o estresse como uma resposta fisiológica
natural ao ato físico de rir”.
Todo mundo sabe que há dias em que acordamos natural-
mente de bom humor e outros em que “Deus me livre”, não é
mesmo?
Pois bem. Quando acordamos bem dispostos, tudo parece
correr melhor. Já saímos de casa encarando o mundo com bons
olhos. O trânsito não nos consegue tirar do sério, e a chegada
ao trabalho é muito mais alegre. Cumprimentamos as pesso-
as com entusiasmo e trabalhamos melhor. Até parece que as
coisas se encaixam, que produzimos mais, que ficamos mais
satisfeitos.
Por outro lado, nos dias em que nos levantamos um tanto
“grrrrrr”, tudo parece conspirar para nossa chateação. O en-
4
FOLEY, Erin; MATHEIS, Robert; SCHAEFER, Charles. (2002). Effect of forced
laughter on mood. Psychological reports. 90. 184. 10.2466/PR0.90.1.184-184.

95
yoga do riso

garrafamento é o pior de todos, e as horas no trabalho parecem


não passar.
Agora imagine que você acorda de manhã e, antes de come-
çar o dia, senta-se confortavelmente e ri sem parar, por dez
minutos seguidos. Diga lá: consegue visualizar que o seu dia
inteiro vai ser diferente? É óbvio, não é?
E a razão é também muito simples: você construiu um me-
lhor humor. Ou seja, através da sua própria vontade, produziu
efeitos no seu organismo exatamente iguais aos que surgem
quando está naturalmente alegre. Neste caso, independente de
como tenha acordado, criou por si próprio um estado de bom
humor.
Ora, falemos a verdade: precisávamos mesmo de algum estu-
do científico que comprovasse isso?
Mas tudo bem, vamos a eles.

2. Benefícios para a saúde

Já em 1956, o medico Hans Selye registrou que “o riso auxilia


no equilíbrio interno do organismo, ao incentivar tanto a esti-
mulação quanto o relaxamento, devido à liberação de adrenali-
na e noradrenalina”5. 2
Esse médico estava estudando o estresse e descobriu que as
pessoas que eram submetidas a estímulos alegres e riam por
um determinado período de tempo produziam a um só tempo
uma descarga de adrenalina e noradrenalina, isto é, hormônios
relacionados à excitação e relaxamento, respectivamente.
Descobriu-se assim que o riso é capaz tanto de nos empurrar
para frente, aumentando a nossa disposição e nos carregando
de energia para exercer atividades vigorosas, quanto de nos
5
SELYE Hans, M.D. The Stress of Life. New York, McGraw-Hill Book Company, Inc.
1956.

96
benefícios do riso

conduzir a estados de relaxamento revigorantes, recarregan-


do nossas baterias. O resultado, portanto, é um balanço, um
equilíbrio saudável que ajuda a reduzir o estresse e fortalecer o
sistema imune.
Hans concluiu que o riso, por um lado, diminui o stress, a
tensão, a ansiedade, a depressão, doenças cardíacas, hiper-
tensão, doenças crônicas, diabetes e, por outro, eleva o bom
humor, a sensação de bem-estar, o estado de relaxamento, a
alegria, a tranquilidade, o sistema imunológico e a saúde de
forma geral. Em palavras minhas — e, portanto, cientificamen-
te irrelevantes — o riso nos livra do que é mau e nos preenche
do que é bom.
Agora, falando sério. O fato é que a prática do riso é capaz de
melhorar o nosso sistema imunológico — que é um dos grandes
desafios do nosso tempo — e nos tornar não só menos propícios
a doenças como também mais preparados para as combater,
caso já estejam por perto. Ou seja, o riso nos proporciona um
campo de força contra o mal e também um eficiente exército de
defesa, caso os invasores consigam entrar em nossa casa.
E ainda há mais.
Segundo o Dr. Norman Cousins, dez minutos de riso produ-
zem um efeito analgésico de até duas horas, porque o riso libera
Endorfinas e Encefalinas, que são opiáceos naturais que supri-
mem a dor. Ele explica que o riso é capaz de aliviar a dor gerada
pela artrite, artrose, espondilite, espondilite aquilosante etc6.3
Calma, vou explicar.
Cousins tinha essa doença, “espondilite aquilosante”, e mes-
mo conhecendo caminhos e atalhos na medicina convencional,
nunca tinha conseguido encontrar uma forma de diminuir o
próprio sofrimento causado pelas fortes dores que o incomoda-
6
COUSINS, Norman. Anatomy of an Illness (as Perceived by the Patient).
New England Journal of Medicine, 1976.

97
yoga do riso

vam por horas a fio. Até que resolveu testar em si mesmo uma
técnica irreverentemente inovadora: rir.
Maravilhado com o resultado, relatou que dez minutinhos de
riso eram capazes de aliviar-lhe as dores por até duas horas
seguidas, proporcionando um sossego que já não experimen-
tava havia anos. Depois disso, passou a se dedicar ao estudo
dos efeitos terapêuticos do riso, servindo de base para outros
tantos pesquisadores que lhe seguiram.
Neste mesmo sentido, um pessoal de renome na medicina
internacional se juntou para, em 1987, relatar os surpreen-
dentes efeitos do riso na redução do desconforto de pacien-
tes clínicos7.4Sabemos que quem está internado no hospital e
precisa superar não só a doença que o levou àquela condição,
mas também as dores, coceiras, assaduras e tantos outros incô-
modos físicos, psicológicos e emocionais da internação. Tendo
o riso como aliado, os pacientes que participaram do estudo
mostraram incrível diminuição do desconforto e consequente
melhora no quadro clínico que motivou a internação.
E há mais. Há muito mais.

O Dr. Lee S. Berk registrou que o riso é capaz de “atenuar a pro-


dução de alguns hormônios relacionados ao estresse e modificar
a atividade das células exterminadoras naturais (natural killer
cells), resultando em imunomodulação”8.5Ou seja, além de dimi-
nuir o estresse, o riso melhora o funcionamento das células res-
ponsáveis pela eliminação de outras células nocivas ao organis-
mo, ajudando o corpo a curar-se a si mesmo (imunomodulação).
No mesmo sentido, em 1996, um estudo de Berk e Tan re-
gistrou que após uma hora seguida assistindo a um filme de
7
COGAN, R., COGAN, D., WALTZ, W. et al. Journal of Behavioral Medicine, 1987.
8
BERK, Lee, S. TAN, B. NAPIER, and W. Evy. “Eustress of Mirthful Laughter
Modifies Natural Killer Cell Activity. Clinical Research 37 (1989)

98
benefícios do riso

comédia os pacientes tiveram significativo aumento da ativi-


dade no interferão-gama (IFN) que durou até o dia seguinte.
Esse tal de IFN também ativa as células exterminadoras natu-
rais, responsáveis pelo controle da imunidade e prevenção de
doenças9.6Aqui entra inclusive o potencial do riso como auxi-
liar (ou protagonista) na cura do câncer, por exemplo, já que
as células cancerígenas serão combatidas pelas “células mata-
doras naturais”.
E mais.
Labott107ainda concluiu que o riso melhora o funcionamento
das imunoglobulinas IgA e IgG, prevenindo diversas doenças
desde a simples constipação até bronquite, artrite reumatoide
e inclusive AIDS.
Está bem, chega.
Apesar de haver inúmeros outros benefícios para mencionar
e um monte de estudos para citar, acho que podemos parar por
aqui. Em outro volume, posso escrever um livro inteiro sobre
os benefícios do riso para a saúde. Mas agora temos que ir em
frente.
A essa altura, já estarei satisfeito se você tiver assimilado es-
sas duas coisinhas: o riso diminui o estresse e fortalece o siste-
ma imunológico.
Combinado? Vamos em frente.

3. Benefícios para o trabalho

Desde pequeno, aprendemos a importância do oxigênio para


a nossa saúde. Mas o fato é que nosso cérebro precisa de 25%
9
BERK, Lee, S. TAN, B. The Laughter - Immune Connection. American Asso-
ciation of Therapeutic Humor, 1996.
10
LABOTT, S. M.; AHLEMAN, B. A., WOLEVER, M. E.; MARTIN, R. B. The phy-
siological and psychological effects of the expression and inhibition of emotion.
Journal of Behavioral Medicine, 1990

99
yoga do riso

a mais de oxigênio do que normalmente conseguimos absorver


para funcionar a todo vapor. Como normalmente não respira-
mos de uma maneira ideal, fruto do ritmo cada vez mais frené-
tico, tenso e ansioso em que vivemos, estamos cada vez menos
oxigenados. Explico.
Respiramos de maneira cada vez mais rasa, sem aproveitar o
máximo do nosso potencial. Fazemos inspirações ofegantes e
expiramos com pressa. Isso resulta numa entrada limitada de
oxigênio no nosso organismo e, principalmente, numa pobre
eliminação do gás carbônico e demais resíduos da respiração.
Esses resíduos vão se acumulando na parte baixa dos pulmões.
Para piorar, nós normalmente só respiramos com a parte de
cima do tronco, o que faz com que aquele resíduo permaneça
ali em baixo. Com parte dos pulmões ocupada, resta-nos menos
espaço para acumular oxigênio, resultando em um suprimento
deficiente desse que é o combustível maior da nossa existência.
Dr. Kataria explica que os exercícios do riso podem aumentar
o suprimento líquido de oxigênio para o nosso corpo e também
para o cérebro, uma vez que rir é uma forma eficiente de absor-
ver oxigênio e liberar bastantes resíduos da respiração.
Quando rimos, conseguimos enfim soltar o ar em muito mais
tempo do que inspiramos, que é uma das principais metas dos
exercícios de respiração do Yoga, inclusive. E o riso aparece como
a forma mais divertida e fácil de fazê-lo, pois pegamos fôlego para
rir e soltamos o ar aos pouquinhos enquanto rimos, pelo tempo
que durar a risada. Ao soltar o ar em mais tempo do que inspira-
mos, conseguimos uma limpeza mais profunda dos nossos pul-
mões, ampliando o espaço para uma maior absorção de oxigênio.
Quer experimentar? Puxe o ar e solte uma boa gargalhada.
Com certeza, você vai rir em muito mais tempo do que o que
levou para inspirar e assim vai conseguir uma expiração bem
mais lenta, sem qualquer esforço. E ainda é divertido!

100
benefícios do riso

Sei que isso é um tanto quanto óbvio, mas mesmo assim hou-
ve quem estudasse sob bases científicas este fenômeno.
Em 1938, o Dr. Lloyd, já tinha publicado que “o riso é um
combinação de inalação profunda e exalação completa; ao rir-
mos, inspiramos com abundante ventilação e expiramos com
liberação profunda de CO2 e resíduos tóxicos”. Para Lloyd, “é
evidente o imenso benefício para a saúde em geral em espe-
cial para pacientes com doenças pulmonares, como bronquite,
asma etc.”118
Além disso, praticar o riso tem semelhanças com exercícios
aeróbicos. Desde a década de 1960, aliás, o médico W. Fry re-
gistrava em estudos comparativos entre o riso e a atividade fí-
sica aeróbica que “100 risos por dia são iguais a 10 minutos de
remo ou jogging”12.9
O próprio Dr. Norman Cousins costuma dizer que “o riso é
uma ginástica interna”.
Mas o que isso tem a ver com a nossa vida profissional?
É o seguinte. Um corpo devidamente oxigenado e, principal-
mente, um cérebro rico em suprimento desse maravilhoso gás
tende a trabalhar com muito mais eficiência. Assim, o indiví-
duo melhora o desempenho na atividade que realiza, qualquer
que seja ela.
Com mais oxigênio, conseguimos estar mais dispostos para o
serviço, focados e atentos ao que estamos fazendo, presentes e
concentrados em cada tarefa. Além disso, a prática do riso nos
faz sentir muito mais energizados e com capacidade de traba-
lhar mais do que antes, sentindo-nos menos cansados. Neste
11
LLOYD, Ernest L. The Respiratory Mechanism in Laughter. The Journal of
General Psychology, 1938
12
FRY, William F. “Laughter: Is It the Best Medicine?” Stanford MD 10.1 (1971). FRY,
William F. “The Respiritory Components of Mirthful Laughter.” Journal of Biological
Psychology 19.2 (1977). FRY, William F., and William M. Savin. “Mirthful Laughter
and Blood Pressure.” HUMOR: International Journal of Humor Research 1.1 (1988).

101
yoga do riso

ponto, é como um carro que tem o espaço de combustível am-


pliado e, mais abastecido, consegue rodar muito mais.
Na Índia e em outros tanto lugares, o Yoga do Riso tem sido
aplicado nas empresas com resultados impressionantes. Fun-
cionários mais bem dispostos, felizes e satisfeitos, melhores
ambientes de trabalho e relações mais fortalecidas entre cole-
gas de diversos setores e graus de hierarquia. Além disso, o riso
tem proporcionado maior produtividade, metas alcançadas,
mais criatividade, pioneirismo e ideias inovadoras. São esses
alguns dos efeitos do riso dentro do mundo business.
Na Dinamarca, em 2004, foi realizado um experimento com
o Yoga do Riso numa empresa em que aplicaram uma sessão
por dia durante um mês inteiro. Durante o processo, fizeram
a medição de uma série de componentes relacionados à saúde
dos funcionários além dos níveis de produtividade da empresa.
Com a ajuda de um aparelho específico (225 AIR-PAS Artifi-
cial Intelligence Respiratory-Psycho physiological Sistema de
Análise), também mediram o nível de consciência da respira-
ção entre eles. O resultado foi a redução drástica dos níveis de
estresse, aprimoramento dos níveis de oxigênio, alavancagem
da produção do grupo e, ainda, aumento notável da consciên-
cia da respiração. Ou seja, além de respirarem melhor, estavam
também mais conscientes dos mecanismos da respiração e ca-
pazes de controlá-los em seu próprio benefício.
Num estudo realizado como Yoga do Riso numa empresa da
Índia13,10registrou-se queda significativa da frequência cardía-
ca e tensão arterial dos funcionários, com redução dos níveis de
cortisol (hormônio associado ao estresse). Além disso, foi ve-
rificada diminuição das emoções negativas e do estresse, com
consequente aumento da frequência de emoções positivas e da
inteligência emocional (redução da alexithymia). Aliás, a inte-
13
Bangalore Study of Laughter Yoga in Companies (2006)

102
benefícios do riso

ligência emocional é tida atualmente como uma das principais


competências a serem desenvolvidas no mundo dos negócios.
Falando em mundo dos negócios, recentemente nos Estados
Unidos realizaram um estudo com o Yoga do Riso numa em-
presa em que era feita uma sessão de apenas quinze minutos
por dia, durante catorze dias, com os funcionários. O relatório
final afirma que os participantes demonstraram um aumento
significativo em diferentes aspetos da eficácia individual e co-
letiva, incluindo a autorregulação, o otimismo, a quantidade
de emoções positivas e a identificação social, mantendo esses
ganhos no decorrer dos meses de acompanhamento.
Segundo o estudo, o riso intencional é uma intervenção rea-
lista, sustentável e generalizável que aumenta a moral dos fun-
cionários, a resiliência e as crenças de eficácia pessoal14.11
Tanto se investe nas empresas em soluções para ampliar a
produtividade, melhorar o meio ambiente profissional, apri-
morar as capacidades individuais e construir o espírito de
equipe... Tantos estudos realizados, tantos profissionais envol-
vidos... Nós, por aqui, continuamos a afirmar: bastava rir.
De fato, o Yoga do Riso é uma solução viável, simples e ba-
rata, que pode produzir melhorias impressionantes no campo
das empresas. E, se pensarmos mesmo bem, nem é tão surpre-
endente assim. Ora, quem ri trabalha melhor. E quem ri em
conjunto, obviamente, também em conjunto produz (e vive)
melhor.

4. Benefícios para a vida social

Termina uma sessão de Yoga do Riso e as pessoas não que-


rem ir embora. Quase sempre é isso que acontece. Sabe por
quê? Porque depois daquilo que vivenciamos na sessão, é co-
14
Beckman, H., Regier, N. & Young, J. J Primary Prevent (2007)

103
yoga do riso

mum nos sentirmos em casa — em família. Isso se dá por vários


motivos. Vamos a alguns deles.
Em primeiro lugar, o clima fica bom quando rimos. Somos
atraídos por lugares em que haja pessoas bem dispostas e ri-
sonhas, e nos faz bem estar entre elas. O riso contagia e nor-
malmente gostamos de estar perto de pessoas alegres. Por ou-
tro lado, também costuma acontecer de sermos magnetizados
por pessoas mais deprimidas, quando também não estamos
bem. Numa sessão do riso, porém, como praticamos a risada
independente do nosso estado emocional, construímos uma
redoma de alegria que envolve todo o grupo. Assim, é natu-
ral que sejamos seduzidos pelo maravilhoso clima ali formado.
Por essa mesma razão, quem pratica o riso na vida diária nutre
em si próprio uma aura tão positiva que acaba atraindo quem
também está na mesma onda e, ainda, servindo de apoio para
quem precisa sair de estados mais negativos.
Além disso, quando rimos por vários minutos seguidos, ou
quando entramos em crise de riso, revelamos camadas da nos-
sa própria personalidade que normalmente omitimos dos ou-
tros. Num grupo que ri junto, as pessoas se revelam, jogam fora
aquilo que precisam libertar e também evidenciam as belezas
que guardam lá dentro. Uma pessoa que pratica diariamente o
riso tende a se tornar mais aberta ao contato social, sobretudo
por se tornar mais autoconfiante, mais honesta e consciente
sobre quem se é e, assim, perde o medo de se revelar. Medos
como o de falar em público, ou do que os outros vão pensar,
vão perdendo espaço e nos tornamos cada vez mais senhores
das nossas próprias vidas, sem nos preocupar com julgamentos
alheios.
Pessoas que riem cultivam o bom humor. Tornam-se natural-
mente iluminadores dos ambientes que frequentam. Em casa
ou no trabalho, são referências quando o assunto é a alegria e

104
benefícios do riso

inspiram os demais. Naturalmente, ao ganharem a coragem de


rir “só porque sim”, também passam a ser mais verdadeiras em
relação ao que sentem e a quem são, tornam-se transparentes
nas suas opiniões e honestas quando as coisas não vão assim
tão bem. Passam a ser melhores consigo próprias e, com isso,
mais aptas a desenvolverem boas relações familiares, profissio-
nais, amorosas ou de amizade.
A qualidade de vida depende da qualidade de nossos ami-
gos, e dos nossos relacionamentos. O riso é, por vários moti-
vos, um grande conector entre as pessoas. Circula na internet
um vídeo em que um senhor começa a rir dentro do metrô e,
poucos minutos depois, o vagão inteiro já está às gargalhadas,
contaminados pelo riso inicial. Nesse caso, a verdade é que
se trata de uma campanha publicitária e, portanto, tudo deve
ter sido ensaiado. Mesmo assim, o exemplo serve como uma
metáfora do que acontece quando você se torna um risonho
na prática. Ora, no fundo todo mundo quer ser feliz. Com a
prática do riso, em pouco tempo, você passa a atrair com a
sua alegria as pessoas e relações certas para a sua vida. Aliás,
vários praticantes ao redor do mundo têm reproduzido essa
ação dentro dos transportes públicos com enorme sucesso. É
uma excelente ideia para injetar algumas gargalhadas no co-
tidiano das pessoas.
Quando se é membro de clube do riso, ainda mais! Aí é que se
sente mais claramente como é formada uma verdadeira família:
a família do riso. Muitas são as histórias de membros que, nos
momentos mais difíceis, foram amparados pelos companheiros
de clube e se reergueram. Na Índia, um membro de um clube do

13
Bangalore Study of Laughter Yoga in Companies (2006)
14
Beckman, H., Regier, N. & Young, J. J Primary Prevent (2007)

105
yoga do riso

riso teve a sua loja de quase trinta anos completamente incen-


diada e viu-se sem meios de sustentar a família. Seus colegas do
riso se juntaram, arrecadaram dinheiro, reconstruíram o negó-
cio e o ajudaram a retomar a sua vida. Outros tantos casos como
este se repetem frequentemente, uma vez que os membros dos
clubes constroem entre si uma relação de apoio mútuo, baseada
na partilha e no cuidado, sempre se fortalecendo e auxiliando-se
mutuamente a se tornarem pessoas cada vez melhores.
Quer sentir a força do riso como conector social? Experi-
mente por um dia sorrir a todas as pessoas que cruzarem o seu
caminho. Provavelmente, receberá alguns olhares estranhos,
curiosos e até reprovadores pela frente. Mas, com certeza, o
número de sorrisos que receberá de volta será muito maior. E
você sentirá a abundância de alegria que está por aí à espera de
uma fagulha de riso que a venha reacender.
Dizem que o riso é a menor distância entre duas pessoas. Acho
que a frase vale pela poesia, mas também tem algo de verdadeiro
na prática. A cada sessão do riso, ou a cada gargalhada honesta que
compartilho, sinto-me mais próximo das pessoas à minha volta.
Sem dúvidas, rir dos outros é uma ótima forma de destruir relações.
Por outro lado, há magnetismo suficiente em rir com os outros.

5. Benefício da resiliência

Qualquer um pode rir quando os tempos são bons, quando


as coisas vão bem. O Yoga do Riso, por outro lado, ensina-nos
a rir incondicionalmente, independente do que se passa lá fora
ou aqui dentro, tornando possível rir mesmo em momentos di-
fíceis. A prática constante do riso fornece força na adversidade,
isto é, um mecanismo de enfrentamento para ajudar as pessoas
a manterem uma atitude mental positiva, independentemente
das circunstâncias que atravessem.

106
benefícios do riso

Quando se pratica o riso como um compromisso, ri-se sem-


pre, faça sol ou chuva, esteja-se de bom ou mau humor. Isso faz
com que nos empoderemos da capacidade de modificar a nos-
sa realidade através de atitudes que só dependem de nós pró-
prios. Assim, à medida que exercitamos tal habilidade, vamos
nos tornando capazes de encarar os altos e baixos da vida com
uma postura mais resiliente, com força para vencer os desafios
e humildade para aceitar o que não podemos modificar.
Para o Mestre Madan, esse poder de resiliência é o espírito
interior (inner spirit) do Yoga do Riso, configurando elemento
essencial desse conceito.
Praticantes de Yoga do Riso deixam de se portar como víti-
mas da vida e de se queixar de que tudo sempre lhes vai mal.
Passam a segurar o guidão da própria caminhada e a se verem
como responsáveis pelo que lhes acontece, podendo assim
enfim tratar de resolver tudo aquilo que está ao seu alcance.
Otimismo, força de vontade e disposição são ingredientes que
transbordam desse pessoal que, por essa razão, costuma ter
mais sucesso na vida, em todos os seus aspectos, tornando-se
grandes vencedores das suas próprias aventuras.
O riso, enfim, nos conduz do egoísmo ao altruísmo, do es-
tresse à tranquilidade, da raiva à tolerância, da preocupação
com o julgamento alheio à lide-rança pessoal, da vitimização
à responsabilidade. Alcançando tais qualidades, tornamo-nos
aquilo que queremos ser e também aquilo que as pessoas que-
rem ter por perto. A conexão é inevitável. Abandonamos o que
já não nos faz bem, os bons laços se fortalecem e as relações
certas passam a surgir.
É claro que tem muito mais. Estudos científicos, casos pes-
soais, histórias e exemplos acerca dos infinitos benefícios que
o riso traz para nossa vida. Não dá, mesmo, para colocar tudo
aqui — e nem é essa a intenção. A ideia é só trazer mais conte-

107
yoga do riso

údo para aqueles que precisam de argumentos para alinharem


na proposta de rir simplesmente, sem motivo. Faço isso por-
que também eu precisei um dia de provas científicas, relatos e
informações para entrar nesta onda. Se você também é assim
extremamente racional como eu, tem aqui um bocadinho de
razões comprovadas para rir. Quem sabe não se convence e en-
fim dá uma chance? Depois de trazer a risada para sua vida e
sentir na pele os seus benefícios, com certeza se juntará a mim
e terá vontade de gritar aos quatro cantos:

O que vocês estão fazendo que não estão rindo?

108
Quadro-resumo

BENEFÍCIOS DO RISO — 5 Grupos


(por Laughter Yoga International)

Benefícios para a vida pessoal


O Yoga do Riso pode mudar seu humor em poucos minutos,
liberando endorfinas de suas células cerebrais.
Esse processo produz uma sensação de bem estar e,
com o humor melhorado, tudo fica melhor.

1
Tais efeitos repercutem ao longo do dia,
tornando o praticante naturalmente mais alegre.

Benefícios para a saúde


O Yoga do Riso reduz o estresse e fortalece o sistema
imunológico. Com o sistema imunológico mais forte,
o praticante se torna mais protegido contra doenças que

2
queiram se aproximar e fortalecido para combater as que já
estejam por perto.

Benefícios para a vida profissional


Nosso cérebro precisa de 25% a mais de oxigênio para
um ótimo funcionamento. Os exercícios do riso podem
aumentar o suprimento líquido de oxigênio no nosso
corpo e cérebro, o que ajuda a melhorar a eficiência e

3
o desempenho na atividade que realiza, diminuindo o
cansaço.

109
Quadro-resumo

BENEFÍCIOS DO RISO — 5 Grupos


(por Laughter Yoga International)

Benefícios para a vida social


A qualidade de vida depende da qualidade de nossos amigos
e nossos relacionamentos. O riso é um grande conector de
pessoas e traz mais (e melhores) amigos para nossas vidas,

4
construindo relacionamentos verdadeiros, baseados no
cuidado e na partilha.

Benefícios para a resiliência


Qualquer um pode rir quando os tempos são bons,
mas o Yoga do Riso ensina a rir incondicionalmente,
mesmo quando os tempos são difíceis. A prática fornece
força na adversidade, um mecanismo de enfrentamento para

5
ajudar as pessoas a manterem uma atitude mental positiva,
independentemente das circunstâncias.

110
12. Riso (e poesia)
à inglesa
E todo aquele que percebe / que não precisa mais lutar
e que baixa as suas armas / ganha um mundo pra brincar.
O autor

Uma semana de muita gargalhada, aprendizado e poesia. As-


sim foi o meu curso de Professor de Yoga do Riso em Londres.
Era chegada a hora. Depois de dois anos fazendo diversas
ações com o riso pelo Brasil, e de ter trazido a Ana Banana para
formar novos líderes em terras tupiniquins, sentia que estava
pronto para me tornar eu próprio um formador de profissio-
nais do riso.
Dentro da linhagem do Yoga do Riso, primeiro você se torna
Líder, depois Professor e, enfim, Mestre. O líder pode dar ses-
sões, o professor pode também formar novos líderes e o mestre
pode formar novos professores.
Eu tinha passagem comprada para Portugal, e sabia que iria me
encontrar com a Ana, minha mestra do coração, mas ela não
poderia me dar o certificado de professor, pois embora seja
mesmo “a maior”, nunca quis tirar o curso de mestra.
Na altura, haveria uma formação de novos professores na In-
glaterra, dada por uma das mestras mais apreciadas pelo “guru-
zão” Madan Kataria: a doce e competentíssima Lotte Mikkelsen.
Ah, que desafio! Com um nível de inglês sofrível, será mesmo

111
yoga do riso

que eu conseguiria acompanhar um curso intensivo de cinco dias


na terra da rainha? De qualquer maneira, era uma chance de
testar se era verdade o que diziam sobre o riso ser a linguagem
universal. Fui.
A primeira coisa que me chamou a atenção quando conheci os
meus colegas de formação foi o fato de eles serem mais “colori-
dos” do que os outros ingleses que vi pelo caminho. Ao contrário
das roupas sempre tão pretas, brancas ou cinzentas, dos cabelos di-
reitinhos e do ar sisudo, meus companheiros de curso vestiam-
-se leves, com acessórios alegres, tinham uma atmosfera despo-
jada. Reparei nas calças de uma das colegas com desenho do
espaço sideral, no bigode de pontas arrebitadas do outro, e dos
piercings da mais jovial das senhoras de cabelo branco que já
conheci. Sim, estava do outro lado do oceano, na fria e cinzenta
Londres, mas seguramente tinha ao meu lado algumas das mais
alegres figuras daquele lugar. O riso atrai mesmo gente muito
especial!
Outra coisa que me surpreendeu foi a forma carinhosa — e
calorosa — com que me receberam. Ao contrário do que esperava,
as pessoas foram tão amáveis comigo que, em pouco tempo,
e mesmo com a dificuldade da língua, eu me sentia bastante
acolhido. Sempre ouvi dizer que os ingleses eram frios. Ali, per-
cebi que quem fala isso provavelmente nunca conheceu esse
pessoal. Sim, a família da gargalhada não vê diferenças de na-
cionalidade e sempre sabe acender a fogueira da felicidade, onde
quer que esteja.
No riso, somos mesmo todos iguais. Falamos a mesma lín-
gua.
Foi desse sentimento que veio o primeiro dos vários poemas que
surgiram naquela semana.

112
riso (e poesia) à inglesa

Na relva da Inglaterra,
com umidade e um pouco de frio
rodeado por ingleses,
que meu olho nunca viu

Eles.
Tão normais como só eles,
como eu
como eu seria se fosse um deles

Tudo tão Terra quanto só poderia ser;


e eu sentindo o que eu sinto sendo o que sempre sou

Tudo tão normal,


tão eu e tão nós,
tanto aqui como lá,
tudo um mesmo lugar

As diferenças eram iguais;


eu deitado,
tudo tão capaz de ser errado
e eu feliz por me entregar

113
yoga do riso

Deitado, com as costas na relva ainda um bocado úmida da


friagem noturna, ria ao lado dos colegas em uma das práticas
ao ar livre guiadas pela professora. Às tantas, o riso me foi con-
duzindo a um estado meditativo, de presença e conexão com
aquele momento, com aquele lugar e aquelas pessoas à minha
volta. Senti a terra fria e um pouco molhada debaixo do meu
corpo e olhei no alto as folhas que sobrevoavam corajosas o
céu por cima de nós. Senti o acolhimento da natureza, e como
a mesma terra onde agora me recostava ia se conectar, cedo ou
tarde, com a que pisara antes de ali chegar. Da Inglaterra ao
Brasil, ou em qualquer lugar, uma só terra enfim.
Ao meu lado, pessoas com cores e feições um pouco distin-
tas das minhas, mas nada demais. No fundo, a mesma coisa, as
mesmas pessoas, apenas com formas um pouco diferentes. Ali,
tão longe do local de onde vim, sentia-me perfeitamente acolhi-
do por tudo a minha volta. Estava entre os meus, entre irmãos —
outros “eus” — estava em casa. O frio, a umidade, as diferenças,
tudo que incomodava foi se dissipando. A partir de então, nem
o idioma nem qualquer outra coisa iria me atrapalhar naqueles
cinco dias de imersão no riso. Estava entregue, aceitei a realida-
de. Rendi-me ao riso e ao seu poder de conectar o mundo inteiro
numa só redoma de paz, igualmente distribuída.
Como bom aluno que queria ser, li todo o manual antes de
chegar a Hemel Hempstead, local da formação. Imaginava que
dessa forma estaria mais preparado para o curso e, quem sabe,
conseguiria entender melhor o que a professora falasse. Ainda
bem. Aliás, a partir de então, decidi sempre estudar o conteúdo
antes de ir para qualquer aula dali para frente. Aprende-se muito
mais! Hoje, recomendo sempre aos meus alunos da formação
que leiam o manual inteiro antes do curso começar.
Naquela semana, cinco dias de imersão intensa do riso, não
foi propriamente fácil acompanhar todas as aulas em inglês. A

114
riso (e poesia) à inglesa

cada intervalo, tinha que ir correndo para o quarto e ficar em


silêncio para descansar a mente. Nunca acompanhava os cole-
gas nos tea breaks e bate-papos entre as aulas. Mas, confesso,
também não foi assim o fim do mundo. Durante todo o curso, a
maior parte do tempo estivemos rindo, o que de fato é igual em
qualquer lugar. Lá para o terceiro dia, nem me lembrava mais
que o curso era em outra língua.
O que mais me impressionava, na verdade, não tinha nada a
ver com a língua, mas sim com a forma organizada e discipli-
nada que aquilo se dava.
Depois de ter sido formado por Ana Banana, a rainha do im-
proviso, do fluxo livre e da intuição, agora tinha à minha frente
uma dinamarquesa radicada em Londres, super organizada,
pontual e didática, que não perdoava um minutinho de atra-
so sequer. Lotte era fabulosa! Levou a minha noção de Yoga
do Riso para um patamar ainda mais alto. O profissionalismo
e a seriedade com que conduzia o trabalho fizeram dela uma
das maiores embaixadoras da gargalhada do mundo e, na In-
glaterra, nossa profissão é vista com ainda mais respeito. Ela
consegue organizar seminários enormes, formações cheias de
pessoas, trabalhos em empresas, associações e ONGs, e está
sempre nas televisões, jornais e revistas. Além disso, está co-
nectada com vários outros profissionais do riso espalhados
pelo mundo, sobretudo com o próprio Dr. Kataria, que inclu-
sive apareceu ao vivo para falar conosco por videoconferência
durante a formação.
Com Lotte, aprendi dentre outras coisas que é possível cons-
truir, materializar os nossos objetivos a partir de uma abor-
dagem responsável, dedicada e profissional, além da sempre
bem vinda inspiração, é claro. Com o poder de realização pro-
porcionado pela sua metodologia, assim que saí de Londres
pus em prática uma série de ideias que tinha há muito tempo,

115
yoga do riso

mas nunca saíam do papel. Fiz encontros online com os Líde-


res de Yoga do Riso do Brasil (webnários), gravei vídeo-aulas,
criei o Clube do Riso de Oeiras (Portugal), organizei a minha
primeira formação de novos Líderes de Yoga do Riso, reali-
zei várias ações do riso com crianças, pessoas com dificulda-
de intelectual, idosos, sessões voluntárias para ajudar os sem
abrigo e uma série de outras aventuras. Este livro, por sinal,
também foi um bocado impulsionado pela motivação colhida
naqueles dias.
De fato, foi importante ver o Yoga do Riso conduzido dessa
outra forma, com profissionalismo, bem apresentado, bem fa-
lado e bem pago. Não que precisemos alçá-lo a qualquer posi-
ção elitista, mas porque é maravilhoso vê-lo em lugar de desta-
que e importância, e dá uma gostosa esperança de que estamos
mesmo evoluindo para dar-lhe o protagonismo que merece ter
em prol de uma sociedade mais feliz e saudável, em todos os
sentidos.
No meio do curso, certo dia levantei o braço e me arrisquei
a fazer uma pergunta no meu inglês arranhado. Queria saber
como poderia começar a atender terapeuticamente pessoas atra-
vés do riso, ou seja, aplicar aquilo que o Dr. Kataria chama de
coaching do riso. Achava que Lotte me iria passar um método,
um passo a passo que pudesse seguir no atendimento individual
ou mecanismos de captar clientes. Doce engano. A resposta não
trouxe nada disso, mas veio para transformar a minha vida.
Com sua fala certeira e amável, a dinamarquesa asseverou que
eu não deveria atender individualmente as pessoas sem antes
ter experimentado em mim próprio o “laughter alone”, ou seja,
rir sozinho. Em termos práticos, disse que antes de fazermos
coaching do riso com os outros, precisávamos antes encarar
nós próprios o desafio dos quarenta dias de riso.
Segundo o Dr. Kataria, quando fazemos algo por quarenta

116
riso (e poesia) à inglesa

dias seguidos, aquilo se torna um hábito e passamos a fazê-lo


sem esforço pelo resto da vida.
Para se ter uma ideia, o mestre entrou no meio da nossa for-
mação, por videoconferência, e tinha vinte minutos para falar
conosco. Destes, dedicou quinze a rir sem parar e usou os ou-
tros cinco minutos para falar da importância de rirmos na nos-
sa vida pessoal, como um exercício diário. Revelou que já há
vários anos ele próprio ri por quarenta minutos todos os dias
ao acordar, hábito que acredita nunca mais abandonar.
Depois de ouvir tudo aquilo, estava lançado o desafio. Eu iria
rir todos os dias, no mínimo dez minutos por dia, por quarenta
dias seguidos. Se falhasse um dia, teria que voltar para o início.
Só assim eu seria apto a guiar pessoas pelo processo individual
do riso. A boa notícia foi que, além de mim, todos os meus co-
legas de formação alinharam na mesma onda.
O desafio dos quarenta dias de riso é tão importante para mim
que recebe neste livro um capítulo próprio. Aliás, cogitei escre-
ver um livro inteiro sobre ele — quem sabe ainda venha por aí?
Nem preciso dizer que, fazendo uma formação na metódica
Londres, com uma professora hiper capacitada, tendo estu-
dado todo o conteúdo antes e me dedicando ao máximo, aca-
bei me preparando muito bem para formar novos Líderes de
Yoga do Riso. Mas, na verdade, o que ainda quero partilhar
daquela experiência são essas duas lições abaixo, belezas que
recebi por inspiração do riso, e que se materializaram em for-
ma de poesia.

1. Rindo em face do mal

Na penúltima noite do curso, recebi do Brasil a notícia de


que uma pessoa próxima tinha sido assaltada e se envolvido
numa situação bastante violenta. Coisa pesada mesmo. Ainda

117
yoga do riso

atordoado por aquela notícia escabrosa, fui me juntar ao grupo


para mais uma sessão do riso.

Para mim, seria mesmo muito difícil entrar no clima da ri-


sada com pensamentos tão sombrios povoando minha cabe-
ça. Por outro lado, era tempo de testar a eficiência da técnica,
oportunidade de provar justamente os seus efeitos quando as
coisas não iam mesmo nada bem.
Cheguei à sessão um tanto quanto cético, é verdade. Porém,
no final, além de me sentir curado daquela negatividade toda,
ainda recebi um insight que me ajudou a encarar o tema da
violência com muito mais propriedade.
Daquela experiência, trouxe o poema a seguir, que resume
mais ou menos o aprendizado que dali levei, passando a orar,
vibrar e agir mais pela paz.

118
riso (e poesia) à inglesa

Só não deixe a violência tomar conta de você.


Ela é filha da maldade, nada bom vai lhe trazer.
Não queira ter para si a beleza da mulher,
não rapte o seu prazer, não force o que ela não quer.

Não deixe que a autoridade de ter lhe dado à luz


faça do seu filho refém da sua cruz.
Não empurre o mais idoso pra correr no seu bordão.
Observe sua fraqueza, nunca lhe levante a mão.

Nunca troque um objeto pela saúde de alguém.


Não revide ao desespero pra proteger o que se tem.
Não encare o animal como algo a lhe servir.
Ele é dono da riqueza, também quer poder sorrir.

Diminua a distância entre o que faz e o que diz,


abra logo o coração, deixe o outro ser feliz.
Existe um mundo tão tranquilo dentro do seu coração,
e o caminho para ele vem da paz entre os irmãos.

Todo mundo é o que é, cada um tem sua razão,


é deixar o outro em paz, pra cumprir sua missão.
A você cabe a tarefa de preservar essa flor,
que de frágil tem de bela, e só resiste no amor.

119
yoga do riso

2. Acenos de criança

Outra beleza que irrompeu nítida durante aquela semana


tem a ver com a nossa criança interior.
Estava ali no meio de pessoas de várias idades e com histó-
rias de vida um bocado diferentes da minha, com tradições dis-
tintas das que tive, filhos e filhas de terras tão distantes. Por outro
lado, contudo, tínhamos todos uma coisa em comum: dentro de
cada um, uma criança ainda ansiava por poder se mostrar, de-
clarar a sua importância e brincar livremente por aí.
Todos nós, em maior ou menor grau, fomos educados a guardar
bem escondidinha a nossa criança em determinadas situa-
ções. Fomos impulsionados a crescer, a trabalhar, a ser sérios,
e acreditar que ser adulto implicava soterrar o nosso espírito
infantil.
Ali, depois de cinco dias de gargalhadas e brincadeiras, nos-
sos pequenos seres abafados dentro de nós tinham recebido
uma carga de esperança e viam abertas as portas por onde pu-
dessem rolar cá para fora. A prática do espírito infantil, da
ludicidade, da espontaneidade, da liberdade e do riso tinham
removido algumas camadas e as crianças interiores começa-
vam a se reconhecer entre elas, dentro de nós.
Veio daí um outro poema, que receitei aos colegas em inglês,
fechando com chave de ouro aquela experiência.

120
riso (e poesia) à inglesa

crianças felizes
como crianças que são
dentro de peitos adultos
duros, como os adultos são

acenam para as outras


rebeldes, como nasceram pra ser
dizem: ei, eu estou aqui
e posso ver você

grossas como forem,


as cascas hão de quebrar
cada vez que uma criança
recusar se entregar

e todo aquele que percebe


que não precisa mais lutar
e que baixa as suas armas
ganha um mundo pra brincar

121
13. Humor e Riso

Afinal, para ser feliz, basta Ser.


O autor

Mau humor, boas risadas

Quando eu caí de bicicleta sobre a linha do bondinho elétrico


em Lisboa, primeiro me certifiquei de que estava vivo e que
não ia ser atropelado por nenhum veículo. Agradeci. Depois,
devagarzinho, fui verificando se as partes do corpo todas es-
tavam em seus lugares, e se eu conseguiria levantar. Agradeci.
Percebi que tinha machucado gravemente as mãos, mas sabia
que o corpo ainda quente iria conseguir se virar por algum tem-
po. Sentei na bicicleta e voltei a pedalar, do jeito que dava, por
alguns quilômetros até um ponto seguro onde poderia pedir
ajuda. Esse caminho, de mais ou menos uns quinze minutos,
foi todo feito à base de gargalhadas.
Eu estava no meio do meu primeiro desafio dos 40 dias de
riso e treinava justamente a capacidade de rir nas situações
mais improváveis, sobretudo quando as coisas iam mal. Ter so-
frido uma queda tão forte, num local razoavelmente perigoso,
estar todo ralado e com fortes dores em ambas as mãos era,
com certeza, uma circunstância pouco atrativa para o riso. Per-

123
yoga do riso

feita, portanto, para quem queria se tornar o maior risonho da


própria vida.
Quando vieram me socorrer, eu estava lá todo machucado,
sem conseguir mais pedalar nem carregar a bicicleta, mas com
um ar super alegre no rosto. Quem chegou para ajudar não
conseguiu resistir e entrou na onda também. Mesmo no hospi-
tal, nos divertimos que só!
Eu estava prestes a fazer uma viagem com a família para a
paradisíaca ilha da Madeira no dia seguinte e logo em seguida
iria iniciar a minha volta a Portugal de bicicleta. Já estava tudo
planejadinho. Bom, a vida nem sempre segue nossos planos,
não é? Às vezes escreve o seu próprio caminho: trinta dias com
a mão direita engessada e a esquerda também muito dolorida,
praticamente inutilizada. Acha que isso me deixou de bom hu-
mor? Claro que não. E o que eu fiz? Ri.
Com trinta dias de molho, desfiz os meus planos e fiquei im-
pedido de fazer as coisas de que mais gostava, como pedalar e
surfar. Tampouco poderia trabalhar com algumas das minhas
atividades principais, que são a culinária vegetariana e o Yoga.
Ainda bem! Com as mãos prejudicadas, só restou praticamente
uma coisa a fazer: rir.
Tendo acabado de retornar da minha formação de professor
de Yoga do Riso, nesses trinta dias me dediquei ao Riso como
nunca tinha feito antes. Iniciei o movimento online do Desafio
#40diasderiso, dei várias sessões do riso presenciais, voluntá-
rias e pagas — inclusive em grandes feiras — organizei eventos
e escrevi sobre o assunto (conseguia digitar com a pontinha dos
dedos). Também articulei a minha primeira formação de novos
líderes e participei de outros eventos relacionados. Eu tinha
chegado a Portugal havia apenas um mês, mas em poucos dias
a “malta” alternativa de Lisboa já me conhecia como o rapaz do
Yoga do Riso.

124
humor e riso

Passados os 30 dias, voltei ao hospital acreditando que iria


retirar o gesso. Para minha surpresa, recebi a notícia de que fi-
caria mais sessenta dias com o braço imobilizado. O que eu fiz?
Ri do mesmo jeito. Ora, havia um bocadinho de frustração, é
claro, mas diante das circunstâncias que me rodeavam naquele
momento, a melhor coisa que eu poderia fazer era mesmo acei-
tar. Paciência. Era melhor rir do que chorar.
Durante esses outros sessenta dias, ri em todos eles por pelo
menos dez minutos seguidos. Emendei um desafio de 40 dias
de riso no outro, e daí por diante nunca mais parei. Hoje, en-
quanto digito essas palavras com as duas mãos livres e soltas
pelo teclado, lembro-me daquele período tão difícil com uma
alegria maravilhosa.
As dificuldades se tornaram desafios, e eu me tornei mais
forte. O riso constante afastou a personalidade de vítima que
tentava se queixar de tudo, e fez com que me esforçasse para
assumir o guidão da minha própria vida. Com o que eu tinha,
fiz o que eu pude. De pé, com muita gratidão por tudo que me
acontecia, tive resiliência para viver aquele período da forma
mais presente possível. Eu ria e me conectava com a realidade,
a única que existia naquele momento, feliz e grato por tudo ao
meu redor, exatamente como era, e com postura firme para se-
guir cuidando dos meus propósitos de vida.
Foi assim que o riso me ajudou a encarar a queda, literalmen-
te, o mais “de pé” possível. Foram noventa dias de gesso mais
outros tantos em reabilitação. Dias maus? Nem por isso. Dias
maravilhosos, com muito trabalho, diversão, viagens, família,
amigos, atividades com idosos, crianças, doentes, palestras,
textos, filmes, livros... Tudo. E, sem dúvidas, os dias em que eu
mais ri na vida! Afinal, quando achamos que a vida não nos dá
motivos para rir, podemos simplesmente rir sem motivo, que
eles logo aparecem à nossa frente.

125
yoga do riso

Outro dia, enquanto escrevia este livro, recebi a notícia de


que a minha cadelinha Caia estava com o terceiro tumor can-
cerígeno em dois meses, “desacreditada” pelos veterinários. O
estado era muito grave. Fiquei triste, mas não consegui chorar
mais do que umas poucas lágrimas. Estava longe e por isso não
poderia ir logo ter com ela.
Passei um dia inteiro pensando nela, no que eu poderia fazer
para ajudar. Naquele dia, com a hipótese real de perder a mi-
nha cadelinha tão jovem, foi difícil encontrar razões para sor-
rir. Triste como há muito não me sentia, tentei me distrair um
pouco, fui ver vídeos de comédia na internet. Também me ar-
risquei a voltar ao trabalho, mas não consegui escrever sequer
uma linha que prestasse.
Sentei-me no chão e me pus a pensar em Caia. Sua vitalidade,
seu corpo tão musculoso, sua incrível velocidade, seus saltos
impressionantes, sua habilidade de pular muros altíssimos...
Quando dei por mim, tinha a coluna toda torta, corpo inclina-
do para frente, ar sombrio, a imagem perfeita de uma pessoa
deprimida.
Com um sopro de coragem, comecei a fazer aquilo que tinha
a meu alcance naquele momento para começar a virar aquele
jogo: ha... ha...
Não tinha vontade de rir, e estava obviamente de péssimo
humor, mas sabia como o riso me poderia ajudar. E continuei:
ha... ha... ha... Até que em poucos segundos já soltava uma gar-
galhada aqui e ali e logo me pus a gargalhar desenfreadamen-
te. Às tantas, a imagem de Caia vívida a correr pelo verdejante
jardim da casa dos meus pais me veio à mente e o riso foi se
transformando em choro.
Enfim, chorei. Chorei por não ter estado próximo dela nos últi-
mos anos em que vivi de forma nômade pelo mundo. Chorei por
não ter lhe proporcionado uma alimentação ideal, por ter-lhe

126
humor e riso

feito comer as paupérrimas e hipercontaminadas rações para


ani-mais. Chorei por culpa, por não ter sido o pai que eu queria
ser. Chorei por sua dor, seu desconforto, pelos medos que ela
poderia estar sentindo. Chorei por não saber como ajudar, por
não poder enfiar a mão por dentro do seu corpo e arrancar para
fora aquela doença. Chorei, chorei, finalmente chorei.
Lavado, limpo, estava outra vez aberto o canal e o riso voltou
a aflorar. Ri, ri como uma criança aliviada. Gargalhei gostosa-
mente, livremente. Depois de alguns minutos de risada em fluxo
contínuo, respirei renovado. Levantei-me e fui cuidar das coisas.
Pesquisei, fiz contatos com terapeutas alternativos e pessoas que
tinham experiências com curas de animais através de métodos
naturais. Motivado, fiz o que estava ao meu alcance naquela
hora, sem pesos, culpas ou ressentimentos, focado no presente
e ativo para o que desejava ver no futuro. Combinei com meus
pais o tratamento alternativo que daríamos a ela e a data em que
eu voltaria para ajudá-la presencialmente. Com tudo estabeleci-
do, sem mais o que fazer naquele momento, voltei ao trabalho
aqui no livro. Naquele dia, escrevi pelo menos dez boas páginas.

Quem nasceu primeiro: a felicidade ou a alegria?

Definitivamente, quando estamos de bom humor nos apetece


rir. Há mesmo momentos em que o riso vem fácil, tamanha é
a nossa satisfação, alegria, sensação de bem estar, o que for.
Neste sentido, o riso é a consequência de um estado positivo de
humor. Maravilha.
Por outro lado, porém, quando estamos em momentos ruins,
quando sofremos quedas na vida, ou quando a saúde — nossa
ou de alguém querido — não vai bem, rir é a última coisa que
queremos. De mau humor, não rimos. Simples assim.

127
yoga do riso

O caso é que essa relação de causa e consequência entre o


humor e o riso não precisa se dar apenas nesse sentido. Digo:
se por um lado você pode estar de bom humor e, por isso, rir,
por outro lado você também pode rir e, a partir daí, melhorar
o seu humor.
Com o Yoga do Riso, fazemos a expressão física do riso, com
o som do “ha ha ha” e atitudes corporais positivas e divertidas.
Agir como alguém alegre nos torna mais alegres. É a teoria do
motion creates emotion (ação cria emoção).
Atletas de alto rendimento costumam utilizar gritos e gestos
específicos para trazer força e disposição durante as provas.
Olhe para os lutadores profissionais, a forma como se prepa-
ram, como entram no ringue, como socam os próprios peitos e
dão tapinhas no próprio rosto. Dão a si mesmos doses de bra-
vura, força e coragem para encarar aquele desafio. E resulta!
É que o corpo e a mente estão em plena conexão. Ação gera
emoção e emoção gera ação. Pensamentos eróticos levam à ex-
citação dos órgãos sexuais e a estimulação das zonas erógenas
do corpo induz à excitação sexual na mente. O bom humor con-
duz ao riso e o riso também conduz à elevação do humor.
No Yoga do Riso, fingimos a risada, como os atores interpretam
seus personagens. O lema é “finge, finge, até que atinge” (fake
it until you make it). Ora, se é verdade que os atores acabam
ficando tristes de verdade, ou até doentes, depois de interpre-
tarem por certo tempo personagens maus, violentos e deprimi-
dos, também é verdade que podemos nos sentir alegres quando
representamos a alegria por um período.
Eu considero a alegria uma emoção, enquanto a felicidade
é um sentimento. Por isso, utilizo a palavra “alegria” para de-
signar um estado ligado a momentos e circunstâncias da vida,
enquanto a felicidade se refere a algo perene, que vive dentro
de nós e pode ou não ser acessado conscientemente.

128
humor e riso

Nesse sentido, alegria seria uma das formas da manifestação


da felicidade, o seu transbordar. Tem a ver com a satisfação de
necessidades, com picos de euforia, com acessos de positivida-
de. Se fosse representada num gráfico em linhas, teria varia-
ções curvilíneas para cima e para baixo. A felicidade, por seu
turno, seria uma linha calma e contínua.
Sendo a alegria ligada a fatos — passados, presentes ou futu-
ros — então é natural que ela venha e vá com o tempo (e-mo-
tion — em movimento), enquanto a felicidade está sempre lá
dentro, guardadinha. Quando conseguimos realizar um objeti-
vo, ficamos alegres por um momento, até que aquele gostinho
bom vai perdendo a graça e deixa de nos bastar. Daí, passa-
mos a desejar a próxima meta, com a promessa de que, quando
atingida, nos trará felicidade.
O problema é que a felicidade não depende de metas alcan-
çadas e, por isso, o que sentimos a cada conquista é na verdade
alegria, um estado que também vai passar, cedo ou tarde.
É verdade que quando estamos alegres enxergamos mais fa-
cilmente a felicidade dentro de nós. Mas, mesmo se a vida não
favorece a nossa alegria, mesmo sem conquistar um objetivo es-
pecífico, ainda podemos acessar a felicidade através dos nossos
próprios meios. Só depende de nós. Trata-se de um compromis-
so incondicional, isto é, de se dispor a ser feliz no momento pre-
sente, agora, independentemente dos problemas da vida.
A felicidade está sempre aí, disponível, e é facilmente des-
pertada quando adotamos atitudes alegres como rir, dançar,
cantar e brincar. Aquelas ações todas que fazemos quando es-
tamos alegres por algum motivo também nos deixam alegres
se forem fingidas. Assim, podemos sempre escolher sentir-nos
alegres, só porque sim, e com isso enxergar mais facilmente a
felicidade, que é o nosso estado natural. Ou seja, quem acha
que precisa atingir metas para ser feliz está enganado.

129
yoga do riso

Todos nós já somos felizes sempre, a diferença é que nem


sempre enxergamos isso. Normalmente, precisamos estar ale-
gres para conseguir. E é isso que nos confunde: passamos a
acreditar que a nossa felicidade é condicionada, depende de
motivos, sucessos, razões...
O Yoga do Riso ensina que essa corrida atrás da felicidade não
é necessária. Quer se sentir alegre? Aja como alguém alegre. Isso
lhe ajudará a enxergar a sua felicidade. E se você seguir prati-
cando o riso, como um treino, conseguirá perceber cada vez mais
frequentemente a felicidade que sempre esteve aí.
Quando você está alegre, experimenta mudanças fisiológicas
e bioquímicas automáticas, com geração de bons sentimentos e
uma sensação de bem-estar que mudam sua perspectiva em re-
lação à vida. Você passa a ver a beleza, a bondade, a abundân-
cia, a paz, todas as coisas boas que já estavam aí, mas que você
não conseguia ver antes. A prática do riso nos permite ser ale-
gres sempre que quisermos e, com as lentes da alegria à frente
dos olhos, enxergar a felicidade que já estava em nós. Dessa
forma, conduzimos a nossa vida com alegria, como a própria
felicidade faria, e ter ou não uma boa realidade à nossa volta
passam a ser apenas caras diferentes dos aprendizados que te-
mos ao longo da caminhada.
Sim, os problemas existem e são muito reais. Violência, in-
tolerância, preconceitos e guerras. Desigualdades, doenças,
desequilíbrios e sofrimentos… Está tudo aí, não há como ne-
gar, e nem é isso que se propõe. Por outro lado, adotar uma
postura bem disposta diante dessas realidades pode ser a chave
para finalmente conseguirmos olhar para elas, dando a exata
dimensão que merecem, e tratar de resolver da melhor forma
possível.
Com a clareza proporcionada pelo riso e com o coração cheio
da energia mais alegre que se pode ter, é bem provável que as

130
humor e riso

questões difíceis, mesmo as mais agudas, consigam ser encara-


das melhor do que antes, e que as melhores soluções passem a
surgir.

Condicionamento:
imita as crianças e rirás como elas

Nossos mestres da consciência da felicidade são as crianças.


Elas estão sempre alegres ou, mesmo que não, nunca perma-
necem muito tempo em estados depressivos. Rapidamente,
lembram-se de serem felizes e voltam ao seu estado natural.
Nós, do riso, acreditamos que as crianças ao nascerem estão
ainda muito mais conectadas com essa felicidade interior e, ao
passar dos anos, vão recebendo camadas de condicionamentos
que as afastam gradativamente dela. Por essa razão, dizemos
que o Yoga do Riso é mais sobre brincar do que propriamente
rir, uma vez que o que se busca é cultivar o espírito infantil.
Ora, quem brinca ri naturalmente.
Em seu livro “Rir — A melhor medicina”, Robert Holden diz
que:

[...] Toda criança nasce com abundante potencial criativo, de


riso, diversão, ludicidade, felicidade e amor. Qualquer restri-
ção em qualquer um destes elementos tem um efeito adverso
no seu desenvolvimento e qualquer pessoa que cresça em sin-
tonia com sua a criança interior encontrará saúde, harmonia e
felicidade. Portanto, em vez de crescer nos separando a nossa
criança, devemos crescer em conjunto com ela.15 1

15
Laughter : the best medicine : the healing powers of happiness, humour and
joy! Holden, Robert. 1993. Thorsons. Londres.

131
yoga do riso

Nas sessões do riso, estimulamo-nos a rir e brincar como


criança, com comportamentos lúdicos e engraçados, jogos e
brincadeiras. Isso nos ajuda superar as inibições e afrouxar o
riso. É comum, portanto, fazermos sons esquisitos, imitações
de animais, saltitarmos pela sala, cantarmos e dançarmos ale-
gremente. Nós, os profissionais do riso, estamos sempre lem-
brando aos nossos membros sobre a importância de sermos
como as crianças, pois esta é uma maneira fácil de acessarmos
a nossa felicidade dentro do coração.
A Programação Neurolinguística — PNL indica claramente
que ao repetir qualquer comportamento corporal ao longo de
um período de tempo, a mente começa a gerar uma resposta
padronizada e previsível. Depois de fazer a mesma coisa por
muito tempo, nosso corpo começa a reagir em consequência
daquilo sem sequer envolver o cérebro racional, sem precisar
pensar sobre aquilo. Isso é chamado de condicionamento.
Nosso mestre Madan Kataria explica que ao longo do tempo
os praticantes do riso se tornam condicionados a serem alegres
por meio da experiência repetitiva do riso.
Para ele, os exercícios do Yoga do Riso fazem com que o cére-
bro desenvolva novas conexões neuronais que produzem uma
espécie de “química feliz” no corpo, levando a mente a experi-
mentar a emoção da alegria — não importa a razão. A prática
frequente do riso, a repetição dos seus exercícios, faz com que o
corpo comece a reagir com alegria antes mesmo que o cérebro
consciente possa pensar a respeito. Enquanto se grita “yupiii!”,
ou se imita um macaco ao som de “ha ha ha”, o nosso corpo já
começa a produzir os efeitos da alegria, antes da mente se dar
conta.
Por isso uma sessão do riso parece mesmo uma loucura para
quem está de fora, observando. Por exemplo: em Portugal, o
nosso Clube do Riso Oeiras funciona no espaço Naniora Caça

132
humor e riso

Sonhos, uma sala de Yoga com paredes de vidro, localizada no


meio de um bairro residencial. Durante as nossas sessões, de-
zenas de pessoas passam em frente ao espaço a caminho de
suas casas e quase sempre nos lançam uma olhadela. Nós nos
divertimos a imaginar o que elas devem pensar ao nos verem
agir daquela forma tão estranha: comum entre as crianças, mas
enferrujada entre os adultos.

Da mente ao corpo, do corpo à mente

Antes de pensar, as crianças já riem. Rir, portanto, não pre-


cisa ser necessariamente apenas uma consequência do humor.
É claro que podemos rir como resultado de uma piada engra-
çada, um show de comédia ou um filme cômico, mas esse é só
um dos caminhos possíveis – o modelo do humor ou modelo
“mente-corpo”.
O problema desse modelo é que não garante a dose diária de
gargalhadas que precisamos, pois depende da sorte de ouvir-
mos uma boa piada ou presenciarmos algum fato engraçado.
No modelo mente-corpo, precisamos usar nossas habilida-
des cognitivas, compreender o senso do humor, aceitá-lo como
adequado ao seu conjunto de crenças e, só então, rir. É um ca-
minho longo e cheio de possíveis obstáculos, por onde o riso
vai da mente até o corpo (da compreensão da piada até o ato
físico de rir).
Este modelo é, portanto, condicionado, pois depende de mui-
tos fatores, e tem várias limitações, podendo falhar em quais-
quer delas. Por isso, não garante se, nem quanto, uma pessoa
vai rir. Sendo uma experiência que começa na mente, tem
ainda a desvantagem de diminuir com qualquer comprometi-
mento físico ou mental que reduza a cognição e funcionalidade
intelectual.

133
yoga do riso

Exemplos. Uma piada ruim gera pouco ou nenhum riso (falha


no aspecto qualidade). Uma piada mal contada também (falha
no aspecto qualidade do narrador). Uma pessoa de pele negra
dificilmente vai rir da piada racista (falha no aspecto identifi-
cação com o conjunto de crenças). Uma pessoa com dificuldade
intelectual (deficiente mental) pouco vai entender de uma ane-
dota complexa (falha de limitação de público alvo).
Por outro lado, no Yoga do Riso fazemos o caminho inver-
so, utilizando o “modelo infantil” do riso ou modelo “corpo-
-mente”.
Rimos com o corpo, agimos fisicamente como uma pessoa
alegre agiria e assim transportamos a alegria até a nossa men-
te. É, por isso, um modelo “corpo-mente”, no qual o riso é exer-
citado com barulhos e gestos, e os efeitos da alegria são auto-
maticamente gerados pelo corpo, inundando todo o nosso ser
com a “química feliz” produzida. Como fingimos o riso, não há
qualquer hipótese de alguém não rir.
Com ou sem vontade, todos fazemos o som de “ha ha ha”,
brincamos e entoamos palavras de alta vibração, até que natu-
ralmente a vontade de ser alegre aparece como consequência
de estarmos agindo alegremente. Tampouco há qualquer risco
de ouvirmos piadas ruins ou ofensivas, pois nem sequer utili-
zamos piadas.
O Líder de Yoga do Riso nunca tem medo de falhar, de não
ser engraçado, pois a sessão não é sobre o seu próprio talento,
nem é suposto que ele faça os outros rirem, ou que as pessoas
riam dele.
Além disso, qualquer pessoa, com qualquer condição física
ou mental pode participar. Crianças ou adultos, idosos, defi-
cientes físicos ou mentais, homens, mulheres, pretos, brancos,
amarelos, intelectuais ou analfabetos, tanto faz. Uma sessão do
riso não exige nenhuma qualidade específica, apenas exercita

134
humor e riso

aquela que todos nós temos: a de ser feliz. Quando me pergun-


tam sobre os requisitos para frequentar as minhas aulas, costu-
mo brincar: “nosso limite de idade é de zero aos duzentos anos.
Fora isso, recomendamos roupas confortáveis”.
Tudo isso porque, a partir do momento em que nos liberta-
mos da necessidade do humor para rirmos, tornamo-nos final-
mente empoderados da própria capacidade de nos tornarmos
alegres sempre que quisermos. Essa é uma capacidade univer-
sal!
No Yoga do Riso, comprometemo-nos e nos condicionamos à
alegria. Assim, independentemente da bagunça que possa estar
dentro de nós, ou do lado de fora, seguramos o guidão da nossa
vida e rumamos para o caminho da alegria.
Assim, facilitamos as coisas e a felicidade, essa maravilha que
repousa dentro de cada um de nós, pode enfim se mostrar niti-
damente aos nossos olhos. Para que enfim possamos gozar da
beleza que é ser feliz nessa jornada.

135
14. 40 dias de riso

Todo riso é uma prece.


Wanderly Frota

Minha vontade de atender pessoas individualmente através do


riso (coaching do riso) tinha me levado a encarar o desafio de
rir todos os dias, por pelo menos dez minutos, sem falhar ne-
nhum. Seguindo a orientação que a mestra Lotte Mikkelsen me
dera em Londres, propus-me a praticar individualmente a risa-
da, a fim de ter uma ideia dos efeitos do riso em minha própria
vida antes de guiar outras pessoas por esse caminho.
Lotte dizia que fazer a formação de líder ou mesmo de profes-
sor do riso não garante competência para um bom atendimen-
to individual, se o formando não sentir na pele o efeito de uma
prática regular do riso na própria vida. Seria — palavras dela —
uma espécie de hipocrisia transmitir aquilo que não se pratica.
Nosso mestre Madan Kataria, que pratica quarenta minutos
de riso sozinho por dia, recomenda o seguinte método para fa-
zer do riso um hábito: rir por no mínimo dez a quinze minutos
todos os dias, durante quarenta dias, sem falhar nenhum. Se
pular um dia, a qualquer altura, volta para o começo.
O mínimo de dez a quinze minutos tem a ver com o fato de o
nosso corpo precisar desse tempo de gargalhada diário para as-

137
yoga do riso

similar a plenitude dos benefícios do riso. E para potencializar


ainda mais os efeitos do treinamento, Madan sugere também
que se façam dez a quinze minutos de exercícios de respiração
antes de começar a rir.
Embora não fosse um requisito formal que o líder precise
cumprir para poder oferecer coaching do riso, achei que fazia
todo sentido. Primeiro, incorporar o riso à própria vida. De-
pois, passar aos demais.
Na altura, eu me lembrei de que Ana Banana também reco-
mendava uma prática diária do riso a ser feita continuamente
após a formação. Era o modelo que o Dr. Kataria pregava na
época. Dividia-se em quatro partes de quinze minutos: respira-
ção, posturas de Yoga (ou outros exercícios físicos leves), riso
e meditação.
Percebi que as informações se encaixavam perfeitamente e
por um momento lamentei não ter seguido esse método logo
após a minha primeira formação. Bom, o que passou passou.
Agora seria diferente.
Junto com os meus colegas de formação que fiz na Inglaterra,
fiz da sugestão do mestre um verdadeiro desafio. Após o curso,
iniciamos o caminho pelos quarenta dias de riso.
Para nos mantermos motivados, criamos um grupo online e
passamos a compartilhar entre nós fotos e vídeos todos os dias,
como registro do cumprimento da meta. No início, estávamos
super empolgados, como costuma ser após as formações. Pou-
co a pouco, porém, fomos perdendo o contato, cada um foi
seguindo o seu caminho e deixamos de nos informar sobre os
risos uns dos outros. Eles espalhados pela Inglaterra, França e
Finlândia, e eu em Portugal, continuamos rindo, mas sem com-
partilhar com os demais16. 1
16
Na segunda parte deste livro (Parte Prática), um capítulo inteiro se dedica a
explicar como praticar o riso sozinho, com técnicas e dicas para você encarar
esse desafio da maneira mais doce e alegre possível. Se quiser, pode até saltar logo
para lá e começar agora mesmo. Pode seguir a leitura do livro e o riso diário ao
mesmo tempo. Vai ser gostoso e você vai até aproveitar ainda mais as duas coisas.

138
40 dias de riso

Eu me sentava todos os dias de manhã, logo ao acordar e


fazia quinze minutos de respirações yôgi. Em seguida, ria por
mais quinze minutos. Simplesmente, entoava “ha ha ha” até
as gargalhadas surgirem. Às vezes era rápido, às vezes demo-
rava; umas eram risadas estridentes, outras mais baixinhas,
tudo variava a depender do dia. Fosse onde fosse, porém, eu
ria todos os dias assim que acordava, mesmo às vezes acor-
dando as pessoas que dormiam nos quartos ao lado, não im-
portava.
No décimo primeiro dia, porém, falhei. Acordei atrasado e
saí com pressa. Prometi que faria o treinamento do riso à noite,
quando voltasse. Você fez? Pois é, eu também não. Perdido um
dia, tinha que voltar para o começo.
Daí eu percebi como era importante ter um grupo de apoio.
Que enquanto eu tinha o compromisso de enviar a “prova” do
cumprimento diário para o meu grupo de colegas, eu me cobra-
va mais e me mantinha focado. Que tê-los ali sempre enviando
suas fotos e vídeos deixava o desafio sempre na minha memó-
ria, servia como lembretes o dia inteiro. Era bem mais fácil em
grupo.
Veio daí a ideia de criar o desafio virtual #40diasderiso. Na-
quele fim de semana, enviei mensagem a todos os Líderes de
Yoga do Riso que tínhamos formado (em conjunto com Ana
Banana) no Brasil e os convidei a fazer comigo aquilo que eu
batizei como Desafio #40diasderiso.
O pessoal adorou a ideia e a adesão foi massiva. Também,
pudera: a ideia era mesmo muito empolgante, vá lá! Na ver-
dade, todo mundo sabia da importância de trazer o riso como
uma prática diária para as nossas vidas pessoais e muitos, assim
como eu, tinham andado meio desligados da gargalhada nos úl-
timos tempos. O desafio era uma forma divertida de nos fazer
voltar a rir.

139
yoga do riso

Com mais de vinte pessoas participando junto comigo, reco-


mecei também a minha contagem. Para simplificar, abri mão
do exercício de respiração e foquei mesmo nos dez minutos de
risada. Tudo para conseguir cumprir o objetivo principal de
praticar o riso sozinho todos os dias.
O incentivo que o grupo gerava era fantástico! As pessoas
começaram a compartilhar vídeos engraçadíssimos das suas
práticas pelas redes sociais. Eu olhava o telefone celular e sem-
pre havia alguém rindo em algum lugar. Cada um à sua manei-
ra, tinha gente rindo ainda na cama, no carro, no trabalho, na
praia, em todo lado. Que alegria! O desafio tinha atravessado o
oceano, e o Brasil tinha aderido lindamente.
No décimo primeiro dia, porém, falhei de novo.
Mais uma vez, deixei a prática do riso para o fim do dia e...
Esqueci-me de rir. Quando acordei de manhã e percebi que não
tinha rido no dia anterior, fiquei em estado de choque. Não só
porque ia ter que voltar ao início, mas pela vergonha de ver os
meus “alunos” passando na minha frente. Logo eu, que lancei o
desafio, que tinha que dar o exemplo, que motivava as pessoas
a rir, tinha passado um dia inteiro sem praticar o riso. Dei uma
olhada na internet e estava todo mundo lá, com seus risos do
11º dia e eu sem. Não sabia onde enfiar a cabeça. Sentindo-me
mesmo muito mal, o que você acha que eu fiz? Pois é, eu ri.
Mandei a vergonha para longe, que ela nunca nos ajuda em coi-
sa alguma, aceitei e assumi que falhei, fiz um grande texto na
internet revelando isso e, humildemente, publiquei um vídeo
com uma fabulosa risada resiliente: dia 01.
Ah, como é curativa a verdade, a humildade, a aceitação. Eu
me sentia muito mais animado e fortalecido do que antes. Sim,
eu tinha desafiado todo mundo a fazer uma coisa e fui o primei-
ro a falhar. Sim, sim, senhor! Mas isso tinha me ensinado tanto
que eu só poderia mesmo agradecer.

140
40 dias de riso

Quanta gratidão por mais esse aprendizado: sim, nós pode-


mos falhar! Aliás, na vida, é suposto falhar! Faz parte mesmo.
Sem as falhas, não aprenderíamos nada nessa jornada. O pró-
prio desafio dos quarenta dias não é sobre conquistar o pódio,
atravessar rapidamente a linha de chegada. É sobre incorporar
o maravilhoso hábito de rir no nosso dia a dia. É sobre for-
talecer o nosso compromisso de sermos alegres sempre que
quisermos, e sermos felizes independentemente das situações
a nossa volta. Nesse caminho, falhas podem (e provavelmente
vão) acontecer. Glória! São essas quedas que ensinam algumas
boas lições, e é a forma como reagimos a elas — o que delas
extraímos — que ajudam a construir a pessoa que precisamos
ser para chegar onde queremos.
Mais forte, mais confiante, mais honesto comigo mesmo e
muito agradecido, recomecei o meu desafio. Onze dias atrás
dos meus colegas do Brasil, é verdade, mas muitos dias à frente
de quem eu era quando comecei. Ri todos os dias daí por dian-
te, e nunca mais parei.
Ri quando caí de bicicleta, quando engessei a mão, quando
estive gripado e quando perdi dinheiro. Ri quando minha cade-
la adoeceu, quando perdi minha passagem de avião e quando a
namorada me deu um chute na bunda. Ri em casa, de manhã,
à tarde, à noite e até de madrugada. Na rua, no trem, no metrô
e quando o carro quebrou no meio da estrada. Ri na praia, na
festa, na cachoeira, na montanha e no mar frio do inverno. Ri
em dupla, em grupo, em família e com pessoas desconhecidas.
Ri para agradecer o alimento, para pedir ajuda dos céus e como
forma de oração. Ri pulando corda, carregando peso, fazendo
abdominais, andando de bicicleta e fazendo Yoga. Ri no trân-
sito, plantando na roça, colhendo frutas, fazendo a feira. Ri, ri
e sigo rindo. Todos os dias, pelo menos por dez minutos, eu rio
sem parar. Prefiro fazer logo de manhã, é como gosto de come-

141
yoga do riso

çar o dia, mas às vezes também fica para o jantar. Já não tenho
medo de esquecer, o riso vem me lembrar.
Durante aqueles dias, uma amiga do Brasil que já ia pra lá
dos 35 dias do desafio me disse que deixaria de postar seus
vídeos na internet dali para frente, pois iria guardar os cinco
últimos dias só para ela. Disse que começava a sentir “uns efei-
tos muito especiais” com a prática e que queria desfrutar mais
intensamente daquilo, recolhida. Eu imaginava do que ela es-
tava falando, mas na humildade de quem vinha a onze dias de
distância, deixei-a viver a própria experiência em paz. Não lhe
perguntei mais nada a seguir, pois queria eu próprio perceber
em mim aqueles tais “efeitos especiais” do riso em estado avan-
çado, quando chegasse até eles.
Lá para o trigésimo e tal dia, comecei a ver com meus pró-
prios olhos. Sabe quando você vai para academia todos os dias
e não percebe logo os efeitos até que: pumba! Sem se dar conta,
está mais magra, ou mais forte, tem o braço musculoso ou apa-
receu um músculo que nunca se via? É tipo alguém que pratica
um instrumento musical há um tempo e, “do nada”, consegue
tocar aquela música que parecia tão impossível no início. São
efeitos de aprendizagens de longo prazo, cada vez mais raras
nos nossos atuais tempos fast-food. É tão sutil, vai crescendo
aos pouquinhos, não se percebe dia após dia, mas de repente se
revela com nitidez. Foi assim com o riso.
É claro que não tem um dia exato para os efeitos aparecerem,
nem existe uma lista de resultados esperados para todo mun-
do, mas o fato é que o progresso na prática vai construindo em
nós uma espécie de “patrimônio da gargalhada”. Os dias vão
passando e o riso vai se tornando cada vez mais presente, tipo
amigo íntimo: tá sempre ali. Aos poucos, vai se misturando na
nossa vida de um jeito que passa a ser componente da nossa
própria existência. Tornamo-nos risonhos. “Fulano tá sempre

142
40 dias de riso

rindo”, dizem-nos. E nós, contentes, gostamos dessa identifica-


ção. Rimos ainda mais, para fazer jus à imagem. “Sim, eu rio”,
assumimos. O que era um desafio, vai se tornando mesmo um
hábito, uma espécie de estilo de vida.
Internamente, “efeitos especiais” começam mesmo a aconte-
cer. As coisas à volta parecem ser mais belas, as sensações mais
doces. A saúde dá uma guinada e, quando algo de mal acontece,
a repercussão não é tão assustadora assim. Os efeitos negativos
das experiências ruins tornam-se ligeiros, passamos a remoer
menos o que passou e a nos preocupar menos com o que virá.
Encaramos as situações da vida com mais clareza, damos-lhes
a importância que realmente têm, nem mais nem menos. Apre-
ciamos mais, agradecemos pelo que parece bom, aceitamos e
também agradecemos por tudo que nos soa prejudicial. Enxer-
gamos a nossa própria responsabilidade pelo que nos acontece
e o papel de cada fato e cada pessoa na nossa vida. Sentimos
mais vontade de levantar da cama e viver os nossos objetivos
na prática, como se cada dia ganhasse ainda mais razão para
ser vivido. Tornamo-nos mais disponíveis para cuidar dos ou-
tros e de nós próprios, mais conscientes das nossas próprias
necessidades e do que podemos fazer pelos demais.
Admito, é incrível: um ato tão simples, simplesmente rir, e
tantas transformações que dele brotam.
É muito difícil explicar tudo que acontece quando avançamos
no desafio dos quarenta dias de riso, e por aí além. É daquelas
coisas que só vivendo para sentir. Para mim, de todos os bene-
fícios percebidos, o que eu mais prezo é a resiliência.
De fato, ter-me tornado capaz de encarar os altos e baixos da
vida com equanimidade, ou seja, sem me deixar enganar pelo
prazer, nem me abater pelo sofrimento, é para mim o maior de
todos os benefícios que essa prática me deu. Eu, que passava
dias e dias remoendo algo desagradável que me tivesse aconte-

143
yoga do riso

cido, pensando “se eu não tivesse feito isso”, “se fosse diferen-
te”, “se isso”, “se aquilo”, “se aquilo outro”... Hoje supero com
tanta rapidez os infortúnios, que me sobra tempo para levan-
tar, sacudir a poeira e tratar de resolver da melhor forma. Do
mesmo modo, tenho mais clareza e atenção para não me deixar
levar por aparentes deleites. Euforias que antes me levavam a
tomar decisões precipitadas, sem pensar, agora são vistas com
mais nitidez, com o tamanho que realmente têm, sem me enga-
nar pela promessa de prazer vazia.
Por outro lado, a prática contínua do riso me encheu de con-
fiança na riqueza do universo, na abundância de recursos mate-
riais e etéreos, na bondade das pessoas, na esperança da paz e na
infinita dimensão da felicidade. Com isso, venho me tornando
cada vez mais disponível para me entregar às experiências, para
receber o amor, a doçura e a beleza que a vida me traz e para
partilhar as minhas qualidades com aqueles que delas se possam
beneficiar. É como se finalmente eu tivesse passado a escutar a
Grande Música que é a vida e passasse a um só tempo tanto a me
jogar na sua dança quanto a fazer parte da orquestra que a toca.
Depois do primeiro desafio, criei um segundo. Fiz um cartaz
bem lindo e lancei nas redes sociais. Aderiram pessoas que eu nem
conheço, do Brasil, de Portugal e até de outros países. Um monte
de gargalhadas desconhecidas começou a aparecer na minha vida,
gente de todo tipo e de vários lugares começou a me enviar suas
risadas dizendo “eu estou fazendo o desafio”. Que alegria! Estava
criado assim oficialmente o Desafio #40diasderiso.
Agora, estamos sempre lançando novos e novos desafios. Eu,
particularmente, sigo rindo todos os dias. Às vezes mais, outras
menos, mas sempre por no mínimo dez minutos. Sinceramen-
te, não me custa nada e, considerando a transformação que
esse hábito me tem proporcionado, vale muito a pena o inves-
timento. Aliás, eu penso assim: se eu não tiver dez minutos no

144
40 dias de riso

dia para dar umas boas risadas, então nem dia eu tenho. Para
mim, portanto, é extremamente fácil guardar um tempo para
rir. Porém, o que tenho visto é que para a maioria das pessoas
não é. Muitos começam a caminhada, mas alguns se perdem no
meio, fraquejam na primeira falha, desanimam quando sentem
que ainda têm muita estrada pela frente.
Normalmente, o que faz as pessoas desistirem no meio do
caminho é justamente o desejo de chegar ao final sem perce-
ber que o que vale é o percurso em si. Entram numa onda de
competição, com os outros ou consigo próprias, e sentem-se
derrotadas por falharem uma ou algumas vezes.
Ignoram que a ideia do desafio nunca foi estabelecer um
ranking de pessoas que conseguem rir mais do que as outras,
uma disputa de quem chega mais longe. Trata-se apenas de
uma ferramenta para fazermos da alegria um ato diário, um
costume a ser levado por toda a vida. Depois de assimilado, o
riso passa a ser tão natural no nosso dia a dia que deixa de ser
um desafio e sentar dez minutinhos para dar umas risadas vira
um prazeroso hábito automático.
Quando terminei de dar o meu primeiro curso de Líder de
Yoga do Riso como formador, propus aos alunos que encaras-
sem o desafio. A maioria aderiu. Apenas uma delas, a Dani,
completou o processo de primeira, sem falhar nenhum diazi-
nho sequer. Naquela altura, houve quem desistisse no meio
do caminho e, até agora, não tenha voltado à contagem. Mas
também houve quem falhasse uma, duas, três e até mais vezes
e até hoje siga recomeçando do início. A Patrícia é uma dessas
pessoas. Até hoje, nunca conseguiu completar os quarenta dias
seguidos, mas já começou e parou tantas vezes que o riso é uma
rotina presente na grande maioria dos seus dias. Os benefícios
na sua vida são evidentes. Sobre a sua força de vontade e a ca-
pacidade de se reerguer e tentar de novo nem se fala!

145
yoga do riso

Seja como for, o fato é que depois de experimentar a prática


do riso individual por quarenta dias seguidos, uma, duas, vá-
rias vezes, e de seguir rindo sozinho todos os dias, além de ter
acompanhado o processo de várias pessoas neste mesmo cami-
nho, eu finalmente percebi como a mestra Lotte tinha razão.
Realmente, para poder auxiliar outras pessoas no caminho
da prática terapêutica do riso, eu primeiro teria que sentir na
pele a experiência. Hoje, tendo a risada como um verdadeiro
estilo de vida, tendo vivenciado a sua jornada e percebido os
seus “efeitos mágicos”, a alegria enfim transborda, e assim eu
posso finalmente partilhar com os demais as suas maravilhas.
Qualquer um pode, na verdade. Para isso, basta aceitar o de-
safio.
Mais recentemente, enquanto fazia uma participação online
durante um dos cursos que eu ministrava no Brasil, Dr. Kata-
ria acabou facilitando ainda mais o desafio. Segundo o mestre,
bastavam 5 a10 minutinhos de risada por dia para já ir criando
o hábito de rir na nossa própria vida.
Com o desafio mais brando, a adesão foi ainda maior. Hoje,
já somos centenas de pessoas rindo todos os dias e enchendo
as redes sociais (e o mundo inteiro) com nossas gargalhadas
habituais.
Ao final deste livro, colei uma lista de links úteis para que
você possa fazer parte dessa rede.

146
15. Os primos do riso

O riso mata a solidão.


Chevy Chase

Cláudio é um miúdo especial. Digo miúdo, pois é como cha-


mamos as crianças em Portugal, e ele é português. E chamo-o
criança, pois apesar de ter mais de trinta anos, uma condição
especial na cabeça do Cláudio faz com que ainda esteja desfru-
tando da infância. É filho do irmão do marido da prima por-
tuguesa da minha mãe. Esse é o caminho de parentesco mais
curto que podemos traçar entre nós. Ainda assim, quando eu
cheguei no seio da família portuguesa e ninguém sabia ao certo
como deveríamos nos tratar uns aos outros, Cláudio não teve
dúvida:
“E então? Como é que vai, primo!?”.
Talvez ele não tenha a dimensão disso, mas para mim foi de-
licioso ser recebido em terras tão distantes como um verdadei-
ro parente.
Ninguém sabe exatamente a espécie de condição especial que
Cláudio tem. Existe, de fato, qualquer nível de dificuldade inte-
lectual e ele definitivamente não é como a maioria das pessoas
da sua idade. Mesmo assim, salvo umas particularidades aqui e
ali, vive uma vida praticamente “normal”. Vai à escola todos os

147
yoga do riso

dias e duas vezes por semana participa de um grupo de líderes


de jovens, do qual é membro. Trabalha num café, onde recebe
algum dinheirinho, que normalmente é gasto com presentes
carinhosos para sua namorada. Sim, Cláudio tem namorada.
Para mim, é um gajo “cinco estrelas”, como dizem os portu-
gas. E, por gostar tanto dele, passei a levá--lo comigo para algu-
mas sessões de Yoga do Riso que começava a liderar em Lisboa.
E após testemunhar a sua impressionante desenvoltura nas
práticas, comecei a achar que pudesse ser boa ideia convidá-
-lo para a minha primeira formação de novos líderes em terras
lusitanas. Tia Matilde, sua mãe, relutou um pouco: “Será que
não vai te atrapalhar?”. Por outro lado, a tia Celeste (minha
mamãe portuguesa) e a nossa prima Rita (que também iria fa-
zer o curso), por outro lado, não tiveram dúvidas: “O Cláudio
na formação? Vai ser fixe!”
Pronto, estava resolvido: o primo iria se tornar o primeiro
Líder de Yoga do Riso do mundo com condição mental excep-
cional.
Todo contente, Cláudio foi um dos primeiros a chegar ao lo-
cal da formação. Veio logo me cumprimentando entusiasmado,
“Priiiiimo!”, e saudando os colegas, com a espontaneidade de
sempre. Em poucos minutos, instalou uma atmosfera familiar
na sala de prática, quebrando todos os possíveis gelos e deixan-
do todo mundo à vontade.
Aquela era a primeira formação que eu dava e, naturalmente,
estava um pouco inseguro. E o primo me chamar de “primo”
toda hora começou a me incomodar. Talvez fosse melhor im-
plantar um clima mais profissional — pensava eu. Às tantas,
meio encabulado, chamei-o de lado e lhe pedi para evitar me
chamar de “primo” durante os dois dias da formação.
A insegurança nos faz meio bobos, não é? A mesma expres-
são que tanto bem me fez quando cheguei a Portugal, agora me

148
os primos do riso

soava inadequada. Pobre de mim. Ainda não sabia que aquela


história de “primo” iria mudar completamente o rumo da mi-
nha carreira como professor do riso.
Havia três semanas, naquele mesmo espaço (Naniora Caça
Sonhos, em Queijas), eu tinha fundado o Clube do Riso de Oei-
ras, com a simples intenção de reunir as pessoas interessadas
na formação e já iniciar uma prévia do treinamento. Por isso,
quando chegamos no fim de semana do curso, a grande maioria
dos participantes já se conhecia, inclusive o primo, claro. Além
disso, estavam entre os formandos a prima Rita e a Patrícia,
duas das maiores amigas que tenho naquele país. Por isso, o
clima era naturalmente descontraído entre nós.
Por causa disso, era muito difícil para o Cláudio deixar de me
chamar de primo. Como fazê-lo entender que, por insegurança
minha, ele tinha que agir de uma forma completamente artifi-
cial, perante pessoas com quem já vinha convivendo há vários
dias? Não seria fácil. E não foi.
Começa a aula e o Cláudio, sempre que tem alguma dúvida,
levanta a mão e começa: “Primo… Ops! Desculpa. Professor...!”.
Ha ha ha! Era hilário. Saía pior a emenda do que o soneto.
E depois da terceira ou quarta vez, todo mundo já tinha per-
cebido a situação e a cada intervenção dessas caíamos todos na
gargalhada. Aquilo foi tão marcante que depois de um tempo
todos os colegas começaram a chamar o Cláudio de “primo” e
ele a todos retribuía da mesma forma. Eram todos seus primos
e primas, exceto eu, que era o “professor”. Pronto, estava dese-
nhada a comédia tragicômica! No fim das contas, rendi-me. No
dia seguinte, implorei: “Primo, por favor, volta a me chamar de
primo. Não quero ficar de fora da família!”.
Ah, que grande festa!
Cláudio concluiu o curso com louvor, como se diz. Do jeito
dele, o miúdo se virou muito bem e conseguiu acompanhar tudo

149
yoga do riso

com grande qualidade. Se por um lado lhe faltava qualquer com-


ponente intelectual, por outro lhe sobravam espontaneidade e
desini-bição, características tão ou mais importantes do que a
capacidade de decorar informações, eu diria. Uma coisa é certa:
para pôr a galera (ou melhor, a malta) a rir, o primo é o máximo!
No quesito espírito de equipe, nem se fala. Cláudio era a cola
que ligava o grupo. Era querido por todos, indistintamente. Era
mesmo “o cara”. Ou melhor: “a cara”. A cara do riso, da alegria
e da liberdade de ser quem se é, independente dos julgamentos.
Um jovem, corpo de homem, coração gigante, cabeça de mi-
údo. Alguém que se mantém conectado à sua criança interior,
que vive na prática, dia após dia, a essência da felicidade pe-
rene. Ora, não é justamente o que buscamos nesta filosofia do
riso? Sem saber, quando lhe ofereci a vaga para participar do
curso, eu estava convidando um mestre para nos ensinar a to-
dos o que é viver o espírito infantil no dia a dia.
O Cláudio batizou o grupo. Dei aos alunos um fim de semana
inteiro para decidirem o nome daquela turma. Em poucos mi-
nutos, porém, a decisão estava tomada — e por unanimidade:
os Primos do Riso!
A partir dali, “Clube do Riso Oeiras” passou a ser somente o
nome oficial. Na prática, somos mesmo é o Clube do Riso dos
Primos.
E tal qual acontece em todo o mundo, os Primos do Riso vira-
ram uma verdadeira família. Com os novos líderes já formados,
quase não precisei mais liderar sessões ali. A cada encontro,
um deles vai lá e toma a frente. Cada semana, uma novidade.
Os primos revolucionaram aquele lugar. Quem vem de fora é
quem mais se beneficia, pois a cada sessão experimenta uma
vivência completamente nova, viaja para algum espaço dife-
rente. Eu, do meu lado, só agradeço. Com os primos, aprendo
tanto ou mais do que ensino.

150
os primos do riso

Mesmo fora do clube, os primos permanecem conectados.


Volta e meia, convidam-se uns aos outros para seus próprios
eventos, ou para encontros informais. Apoiam-se nos seus pro-
jetos, dão suporte mútuo e torcem pela felicidade uns dos ou-
tros. Ah, e é claro que são eles que se motivam a continuarem
rindo sempre, a cumprirem o desafio dos quarenta dias de riso,
e a organizarem suas próprias sessões.
No meio do Yoga do Riso, ouço falar que apenas um peque-
no percentual dos novos formandos acabam liderando mesmo
uma sessão, na prática. Com os primos, essa média foi lá pra
cima e quase todo mundo já colocou a mão na massa. Inclusive
o primo, que se tornou o meu braço direito da gargalhada, o
praticante com mais horas de risada no currículo.
Aliás, toda a família passou a comentar a grande evolução do
miúdo, sua melhora na saúde e tudo o mais. O próprio médico
comentou sobre os bons resultados que o riso vinha lhe trazen-
do. Diziam que o primo sentiria muito a minha falta, quando eu
voltasse para o Brasil. Enganaram-se.
É que não foi só o primo que se desenvolveu com o riso. O
clube todo começou a crescer cada vez mais e, em pouco tempo,
as reuniões, que começaram com cinco ou seis pessoas, agora
tinham sempre a casa cheia. Em seis meses de clube, já tínha-
mos vivido tanta coisa que seria preciso um livro só para as
nossas histórias.
Aquele espaço se transformou na nossa casa. Aquelas pesso-
as, a nossa família; e aqueles encontros, nossos melhores dias.
Novos membros foram chegando para ficar e os visitantes vi-
nham cada vez de mais longe. Uma nova turma de formandos
somou-se aos primos, e agora tínhamos um batalhão de líderes
do riso. Pessoas doentes tinham ali a sua cura, enquanto outras
encontravam a atmosfera ideal para recarregar as baterias após
a semana atarefada que levavam. Para alguns, era uma viagem

151
yoga do riso

distante, para outros significava dormir muito tarde em plena


terça-feira ou mesmo encarar um trânsito descomunal. Mesmo
assim, estávamos todos lá!
Cada um tinha seu nome, sua idade e suas relações próprias.
Ali, porém, éramos todos primos.
Para mim, um sabor especial. Até então, nunca tinha funda-
do um clube do riso, só ouvido falar.
Sabia que o Yoga do Riso tinha nascido assim, com um clube
de apenas cinco pessoas. Por sincronicidade, o meu primeiro
clube também começou com cinco membros. Dr. Kataria diz
que os clubes são a essência disso tudo, que a técnica inteira
se baseia nesse modelo de encontros. Eu sabia disso desde o
princípio, mas nunca tinha visto acontecer, na prática. Depois
dos primos, isso mudou. Agora, a cada grupo que eu formo, fica
criado um novo clube. Assim, a semente vai se espalhando, e o
riso vai ganhando moradas por todo lado.
Foi no clube dos primos que eu pude primeiro experimentar
os efeitos da prática regular, feita em grupo, e o poder que o
riso tem na cura pessoal e coletiva ao mesmo tempo. Não foram
poucas as vezes que vivi momentos de enorme emoção naquela
casa. Ri, é claro. Mas também chorei, limpei, curei e libertei
tudo quanto pude, com a ajuda dos meus primos do riso. Fui ali
o mais “eu” que posso ser, livre de julgamentos, ao lado deles.
Em muitos encontros, às vezes parava no meio da prática e
olhava as pessoas à minha volta, com seus risos e expressões de
alegria. Mães, pais, namorados, amigos, irmãos, crianças, ido-
sos, adultos, altos, baixos, gordos e magros, brancos, pretos e
amarelos, brasileiros, portugueses, italianos etc. Cada um com
sua vida, sua história, suas dores e alegrias. Todos entregues
àquilo que nos une indistintamente. Revelados, virados do
avesso, com suas essências à mostra, deixavam-se ver por bai-
xo das máscaras e mostravam a beleza que guardamos dentro

152
os primos do riso

de nós. Nesses segundos de contemplação, eu conseguia admi-


rar o surgimento de um mundo novo, um novo tempo, em que
poderemos enfim viver a união entre todos nós. Vislumbres da
paz pela força da alegria, partindo das paredes acolhedoras do
Espaço Naniora, casa do nosso singelo clube, para alcançar o
mundo inteiro.
O clube do riso, a família que o riso uniu, é a amostra do que
podemos ser quando lembramos de quem somos por dentro. É
o universo dos sonhos, a eterna brincadeira de criança, a dança
divina da felicidade. A lembrança desse amor infinito, da leveza
bonita de sermos um só coração. Um amor de primo, daqueles
que se querem por perto, mesmo sem obrigação. Não porque
somos parentes, mas porque somos irmãos.
Em diferentes palavras, sempre foi mais ou menos isso que
me disseram sobre os clubes do riso. Eu não conhecia muitos,
não podia confirmar. Porém, posso falar do nosso clube de Oei-
ras, o meu primeiro. Ali, com as portas abertas, está a casa mais
alegre que já conheci. As pessoas mais felizes e saudáveis do
mundo: o Clube do Riso dos Primos.
Motivados por uma técnica simples e transformadora e ins-
pirados pela maestria de uma criança grande, o Primo Cláudio,
o Clube do Riso de Oeiras segue seu rumo, mesmo quando eu
não estou fisicamente lá. Quem quiser conhecer, pode chegar.
É um barquinho pequenino, mas nunca lhe falta lugar. É um
presente divino, um serviço para o mundo gozar. Para mim,
em especial, a felicidade é ainda maior. Mesmo do outro lado
do oceano e sem qualquer parentesco oficial, garanto: em Por-
tugal, não tenho só um, mas um monte de novos primos.
E é melhor nem tentar nos chamar por outro nome.

153
16. Casos risonhos

A risada nunca tem sotaque estrangeiro.


Paul Lowney

Uma sessão chocante

Imagine a praça pública de uma das mais turísticas cidades


do litoral brasileiro, em noite de pleno verão, no horário
de pico. Multiplique. Pois foi nesse cenário que o Rafa e eu
partimos para dar uma sessão de Yoga do Riso na pracinha
da Praia da Pipa, no Rio Grande no Norte, como parte da
programação da sua tradicional feira agroecológica. Não é
que estivesse cheia, estava cheíssima! Tinha gente do mun-
do todo, adulto, criança, idoso, cachorro, periquito, bêbado,
crente e papagaio.
Era a atração da noite na movimentada Pipa, toda a gente
estava ali. O espaço era razoavelmente grande, em forma circu-
lar, com as barraquinhas em volta e um palco assim no canto.
Rafa passou logo a bola para mim, pois sabia que o desafio ia
ser grande e ele, coitado, tinha acabado de sair da formação.
Sem titubear, peguei no microfone com toda propriedade, co-
luna direita, ar de quem sabe o que está fazendo e... Tomei um
grande choque elétrico!

155
yoga do riso

Pois é. O sistema de som estava com algum problema e o mi-


crofone dava imenso choque quando eu o segurava. Como
só eu tomava choque com aquele troço, usamos os poucos
minutinhos que tínhamos antes de começar para investigar
o que se passava. Conclusão: eu tomava choque porque es-
tava descalço e havia qualquer problema no aterramento do
aparelho.
Devidamente calçado, pude enfim começar a temida ses-
são. É claro que um grupo tão grande, num espaço aberto,
com pessoas tão diferentes não seria nada fácil de guiar, so-
bretudo numa prática desconhecida para a grande maioria.
O método estabelecido foi o seguinte: primeiro, fazer uma
grande roda para que soubéssemos quem estaria mesmo
participando e quem iria só olhar; segundo, colocar o Rafa
como demonstrador dos exercícios lá no meio do povo en-
quanto eu, de cima do palco, dava as coordenadas; terceiro,
rezar para os deuses do riso ajudarem!
Mas, logo no comecinho da atividade... “Ahhh!” — novo
choque elétrico.
Sem muito tempo para perceber o que estava acontecen-
do, segui com a minha fala até que... “Au!” — mais um!
O caso era o seguinte: mesmo calçado, eu continuava to-
mando choque toda vez que meu pé escapulia da sandália e
tocava o chão, ou quando eu simplesmente tocava em qual-
quer coisa que estivesse conectada ao solo.
E assim começamos o trabalho. Tudo ia bem até que o
dedão tocava no degrau da escada e… “Puf!” — choque! Eu
apoiava a mão na pilastra e… choque!
Tentando esconder do enorme público o drama que es-
tava vivendo ali em cima do palco, fazia de cada grito um
pretexto para a gargalhada, como se fosse tudo planejado.
Até que...

156
casos risonhos

Até que uma das “traquinas” — digo, crianças — que esta-


vam por ali veio falar alguma coisa comigo e, assim que me
tocou… “Ahhhh!”, choque nos dois!
“Ele dá choque”, espalhou-se a notícia.
Dali para frente, a meninada toda queria conferir o homem
que dava choque. Alguns com sucesso (se é que isso é uma coi-
sa boa), outros não — a depender de estarem ou não calçados —
os meninos vinham um por um tocar em mim para confirmar
a magia. Eu, pobre de mim, tentava contornar aquela pitoresca
situação e manter a atividade com as centenas de pessoas que,
um tanto desorientadas, riam ali embaixo, sem saber nada do
que se passava comigo.
Não satisfeitos em mostrar aos amiguinhos presentes, as
crianças iam correndo pela rua procurando outros colegas para
virem conhecer o “homem que dá choque”. Foram pelo menos
uns trinta choques que eu levei naquela noite, enquanto tenta-
va orientar a sessão já naturalmente tão desafiadora.
Contudo, por incrível que pareça, deu certo. Aliás, pode-se dizer
que marcamos aquelas pessoas. Nunca se tinha visto tanta gente
desconhecida com as mãos dadas entre si, olhando nos olhos, for-
mando o maior círculo de pessoas da história daquela praça.
Um dos exercícios foi a coisa mais linda: fizemos um círculo
grande de pessoas com as mãos dadas e então pedi que viras-
sem de costas e rissem em direção às pessoas que estavam do
lado de fora, nas barracas (comprando ou vendendo), na rua,
nas lojas ao redor, todo mundo. Um círculo de alegria foi for-
mado, um foco de amorosidade partia daquele ponto para o
resto da cidade. As pessoas de dentro contagiavam as de fora,
algumas das quais vinham fazer parte da roda e se tornavam
também multiplicadoras da gargalhada.
Por alguns instantes, boa parte da cidade estava enfim unida,
tanto os da terra quanto os alternativos, não importava o idio-

157
yoga do riso

ma de origem, nem a ideologia, a crença ou as preferências de


cada um. Por um momento, todo mundo estava ligado pela
mesma vibração da risada.
Seguiu-se a sessão inteira e eu, corajoso, resolvi propor um
relaxamento final deitado, mesmo de encontro aos ensinamen-
tos do mestre Kataria, que sugere não sentarmos, nem deitar-
mos, quando a sessão é dada em locais abertos para grandes
públicos. Pois é, transgredi. Mas no final as coisas até iriam dar
certo se não fossem as “traquinas”, digo, crianças.
Elas estavam mesmo impossíveis. E além de virem acionar
o dispositivo do choque que me atormentava enquanto eu
tentava conduzir um relaxamento (imagine só!), decidiram
simplesmente começar a se atirar de cima do palco sobre as
pessoas que estavam deitadas de olhos fechados para relaxar.
Show de horrores, literalmente. O pessoal deitado inocente-
mente para assimilar os benefícios do riso na paz da descon-
tração quando, de repente… chuva de crianças! Meu Deus,
que pesadelo! Abortei sutilmente o relaxamento, terminando
antes do planejado.
Finalizei a prática com aquela sensação de “o que poderia ser
pior”? Ao final, soltei imediatamente o microfone, que no início
tinha agarrado com tanta firmeza, e procurei me sentar para
colocar os pensamentos em ordem. Que sessão eletrizante!
Para a minha surpresa, no entanto, começaram a vir pessoas
para me cumprimentar, parabenizar e agradecer pela excelen-
te experiência. Algumas quiseram saber mais sobre o Yoga do
Riso, outras vieram dizer que aquela sessão tinha sido espe-
tacular. Veio até gente contar que conseguiu acessar estágios
bem profundos de consciência, que tinha sido uma experiência
espiritualmente intensa. Eu, comigo mesmo, pensava: “é sério
que isso tudo aconteceu enquanto eu tomava choques atrás de
choques?”

158
casos risonhos

Bom, ainda bem. Além de vários aprendizados sobre o que


não fazer, ainda tivemos uma sessão cheia de coisas boas para
tanta gente. Missão cumprida naquela que com certeza foi a
sessão de Yoga do Riso mais eletrizante de todos os tempos!

Camila e o paraíso em Hell-cife

Outro dia, aconteceu algo parecido. Era uma sessão para


trinta pessoas na ensolarada Recife, Pernambuco. No verão, os
moradores daquela cidade chamam-na ironicamente de Hell-
-cife17,1tamanho é o calor que arde por ali.
Muito bem. Estávamos nós por lá, em pleno janeiro, próximo
ao meio dia, para uma sessão de Yoga do Riso na sala de uma
grande casa, munidos apenas de dois ventiladorezinhos desses
que giram de um lado para o outro e mais nada. Começa a ses-
são e o povo não para de chegar. Trinta, trinta e cinco, quarenta
e tantas pessoas dentro da sala. Mal dava para caminhar por
ali.
Um caos, literalmente.
Eu, líder iniciante, mas esperto, explicava detalhadamente o
que íamos fazer, frisando sempre que o importante era rir nas
adversidades, mesmo quando as condições não eram assim tão
confortáveis. À medida que falava, chegava mais alguém atra-
sado, sem saber nada da prática. Terminava de explicar nova-
mente, chegava mais um. Enquanto isso, os que estavam desde
o início iam perdendo a paciência, derretendo no calor recifen-
se — o relógio andando em direção ao meio-dia.
Nesse clima, fizemos a prática como deu, não posso mentir.
De longe, era a minha pior sessão como Líder de Yoga do Riso.
17
Hell significa inferno em inglês.

159
yoga do riso

Estava frustrado por não conseguir impor um ritmo ao grupo,


por não ter conseguido me divertir junto com ele, por não ter
tido boas ideias para as dinâmicas e por não ter encontrado
uma forma de deitar todo mundo confortavelmente no chão
para o relaxamento. O calor insuportável, a falta de colcho-
netes para que todos pudessem se recostar no solo, a visível
confusão daqueles que chegaram atrasados, a minha própria
inexperiência, tudo colaborava para aquela trágica experiência.
Ao final, estava arrasado. Sentia-me o pior de todos os líderes
do riso. Até que...
Até que, no momento do feed back, pedi para as pessoas
compartilharem com o grupo uma palavra que expressasse a
experiência que tiveram. Uma palavrinha só. Mais do que isso
não dava, pois éramos muitos, estava mesmo muito quente e
a proximidade da hora do almoço já nos ia impacientando a
todos.
Em círculo, cada um foi dizendo a sua palavra, muitas das
quais revelavam que afinal a sessão não tinha sido assim tão
má quanto eu julgava. “Alegria”, “amor”, “gratidão”, “tranqui-
lidade”, “paz”, dentre outras, as palavras vinham-me aliviar o
peito, enchendo-me de esperança e aumentando ainda mais a
confiança no método.
“Esse Yoga do Riso, até quando é ruim, é bom”, pensava.
Chegou então a vez de uma moça falar, a Camila, e ela diz
que prefere não dizer nada, pois o que gostaria de compartilhar
não cabia em uma palavra só. Curiosos, abrimos uma exceção
— não custava nada. Queríamos ouvir o que era assim tão pro-
fundo que ela tinha sentido.
— Sabe aquele seu relato sobre uma das suas primeiras prá-
ticas, em que no fim você se sentiu sentado ao lado de Deus? —
Perguntou-me Camila, com um semblante iluminado. — Pois é
assim que eu me sinto agora. Já fiz um monte de outras práticas

160
casos risonhos

de desenvolvimento pessoal, mas jamais me senti tão plena-


mente integrada como estou agora. Estou realizada. Gratidão.
Com o coração repleto, fechei os olhos e agradeci. Que pri-
vilégio é poder partilhar com outras pessoas as maravilhas do
riso. Essa técnica que, mesmo tão singela, consegue atingir
tão profundamente as pessoas, até em condições bem difíceis.
Dali, segui a minha jornada como semeador da gargalhada ain-
da mais fortalecido, com a confiança plena de que o Yoga do
Riso, de fato, consegue vencer mesmo as barreiras mais infer-
nais e proporcionar resultados incríveis.

Ferdinando e a cura do câncer pela gargalhada

Em toda sessão eu digo a mesma coisa:

“O Yoga do Riso tem uma série de benefícios, sendo inclusi-


ve utilizado atualmente como auxiliar no combate ao câncer.
Pessoas que inicialmente precisariam fazer tantas sessões de
quimioterapia têm feito muito menos, ou até dispensado o tra-
tamento, quando adotam o riso como medicina”.

Tinha ouvido isso durante a minha primeira formação e


achei o máximo! Pensava assim: se uma coisa é capaz de curar
o câncer, então ela é mesmo muito potente! E se o riso vinha
sendo usado como coadjuvante ou até principal no tratamento
dessa grave doença, então é mesmo uma ferramenta e tanta
para a nossa saúde.
Mas, para dizer a verdade, eu nunca tinha ido investigar as
origens de tal afirmação. Se a Ana Banana disse, então era lei.
Não precisava averiguar as fontes científicas, bastava acreditar.
E assim eu fui propagando essa mensagem por absolutamen-
te todos os grupos que me receberam para praticar o riso. Al-

161
yoga do riso

gumas vezes, porém, sobretudo quando havia médicos ou pro-


fissionais da saúde entre os participantes, sentia alguma aflição
quando terminava de fazer tal afirmação, torcendo para que
ninguém me perguntasse mais a fundo sobre o assunto, nem
me pedisse mais informações a respeito. Nessas horas, prome-
tia a mim mesmo que depois da sessão iria correndo pesquisar
mais e me equipar com melhores argumentos sobre aquela his-
tória. No entanto, nunca o fiz. Segui gritando aos quatro cantos
que o riso ajudava na cura do câncer sem saber exatamente de
onde vinha essa informação e, ao mesmo tempo, torcendo para
que não me questionassem muito a respeito. Até que...
Até que fui dar uma sessão em Portugal organizada pela Pa-
trícia, que hoje além de ser uma das minhas maiores amigas
é também formada em Yoga do Riso. Patrícia não tinha con-
seguido chegar a tempo para a primeira sessão que liderei em
Lisboa e, inconformada, resolveu ela própria organizar um
evento inteiro para poder experimentar. Dedicada, arranjou
não só um espaço maravilhoso, como também reuniu um enor-
me grupo de interessados e me entregou tudo pronto: era só
chegar e fazer o povo rir.
Nesse clima, não poderia ser diferente. Tivemos uma sessão
linda, com direito até à presença dos meus pais e da minha pri-
ma portuguesa Rita.
Naquela prática, mais uma vez assegurei com firmeza que
entre os incontáveis benefícios do riso para a nossa saúde
encontra-se também o seu potencial de reverter doenças gra-
ves como até o cancro (como dizemos “câncer” em Portugal),
e que pessoas com recomendação de certo número de sessões
de quimioterapia estavam fazendo muito menos, ou até nenhu-
ma, quando associavam o riso ao tratamento. Mais uma vez,
ninguém me questionou a respeito e segui com a prática nor-
malmente.

162
casos risonhos

No final da sessão, porém, veio a surpresa com a qual eu não


contava. Um dos participantes, o Ferdinando, veio falar comi-
go e contar que tinha gostado muito da prática, que já a co-
nhecia através de “não sei quem” e que, havia um tempo atrás,
tinha praticado Yoga do Riso diariamente por um determinado
período da sua vida. Surpreso (já que não somos muitos os que
praticam todos os dias), quis saber um pouco mais sobre a sua
história, e o Ferdinando enfim me contou.
Tinha sido diagnosticado com um tipo de câncer e decidiu
não aderir ao procedimento quimioterápico. No lugar, optou
por um tratamento alternativo que incluía, como uma das prin-
cipais ferramentas, sessões diárias de Yoga do Riso com a ajuda
de uma profissional. Feliz e aliviado, revelou que é eternamen-
te grato a essa técnica e que não tem qualquer dúvida de que
foi a partir do riso que conseguiu contornar aquele diagnóstico
tão pessimista. Com um sorriso para lá de brilhante, disse que
afinal considera dever sua vida à gargalhada.
Depois daquele dia, continuei alguns meses sem pesquisar
sobre a eficácia do riso para a cura do câncer. Só quando fui
convidado para dar uma palestra sobre os benefícios do riso em
Lisboa passei a falar com propriedade acadêmica sobre o assun-
to. Mesmo assim, nunca deixei de espalhar por todo lado que
o Yoga do Riso, esse método tão fantástico, ajuda até a curar o
câncer. E quem duvidasse que fosse perguntar ao Ferdinando, o
jovem português que se curou de cancro dando risada.

De médico e louco todo mundo tem um muito

Em Natal, no Rio Grande do Norte, fomos convidados para dar


uma sessão de Yoga do Riso para um público muito especial:
enfermeiros, pacientes e artistas voluntários do hospital psi-
quiátrico do estado.

163
yoga do riso

Chegamos com a colorida Kombi Cura e fomos conhecer o


nosso grupo de trabalho daquele dia. Havia pessoas de farda
branca, estilo avental, que rapidamente identificamos como
“os enfermeiros”. A outra parte das pessoas, porém, não era
assim tão facilmente rotulável. Havia quem trajasse fantasias
coloridas, quem estivesse maquiado e quem vestisse roupas
“normais”. Uns mais jovens e outros mais velhos, a maioria
podia muito bem ser tanto do grupo dos pacientes quanto dos
artistas. Sem muito tempo para distinguir quem era quem, tí-
nhamos que começar logo a brincadeira.
Estavam todos alegres e ansiosos pela nossa chegada. Ti-
nham nos anunciado há uns dias, e todo mundo queria conhe-
cer aquela história de terapia do riso, ou como quer que aquilo
se chamasse.
Eu sabia que o ideal em situações como aquela era sempre
chegar um tempo antes, conversar com as pessoas responsá-
veis pelos pacientes, informá-las de como funciona a ativida-
de e tomar conhecimento das particularidades de cada um dos
pacientes. Naquele dia, porém, nada disso foi possível. Come-
-çamos logo com uma grande roda no jardim do hospital, um
espaço até agradável à beira daquele prédio sisudo. O jeito foi
ir-nos conhecendo enquanto ríamos.
Honestamente, não me lembro de ter recebido tantos
abraços em outra sessão do riso como recebi naquele dia.
Foi assim que os pacientes do hospício foram se revelando
para mim. Eram, de longe, os mais afetuosos do grupo, não
tinham vergonha de pedir e dar carinho e distribuíam sorrisos
com a mais humana das naturalidades. Dar as mãos, olhar
nos olhos, rir, brincar e trocar abraços eram ações para lá de
normais entre aqueles considerados loucos. Por outro lado,
os dois outros grupos se batiam atrapalhados, procurando se
encaixar naquela cena.

164
casos risonhos

Os artistas, que estavam ali para inspirar caminhos alterna-


tivos de cura, começaram a sessão muito bem dispostos, pu-
xando pelos demais, incentivando-os a rir o quanto pudessem.
Mas, como sempre acontece com quem está acostumado a ser
divertido, mas não a se divertir, logo foram perdendo o gás e,
assim que os pacientes entraram na onda — e rapidamente a
elevaram a um nível muito mais alto do que o “normal” — fo-
ram se intimidando. Nem mesmo os artistas conseguiam ser
tão descolados quanto os pacientes. Mesmo eles, tão acostuma-
dos com os palcos, não conseguiam se entregar tanto quanto
aqueles, pois ainda tinham suas (normais) inibições.
Os enfermeiros, coitados, habituados à dura tarefa de servi-
rem como modelos da normalidade, de serem a referência de
comportamento para os pacientes, mal conseguiam esboçar
um risinho de canto de boca. Estavam duros, presos naquela
armadura de pessoa sã, e não conseguiam de jeito nenhum se
entregar à multifacetada prática do riso diante dos seus pacien-
tes. Eu via os internos de um lado, rindo alto, livres e soltos,
e quanto os seus cuidadores sofriam por dentro, amarrados
pelo duro encargo que lhes incumbia, sem conseguir expressar
qualquer sinal de espontaneidade. Ali, provavelmente eram os
mais carentes de todos.
A sessão começou com um monte de gente, e correu muito bem.
Divertidíssima! Mas no final éramos apenas uns poucos. Todos
loucos. Em mantas estendidas no gramado, deitamos para o rela-
xamento final. Como não tínhamos músicas, saquei o violão que
um dos artistas trazia consigo, e improvisei umas notas inspira-
doras. Olhei para o pessoal deitado e reparei como o grupo tinha
diminuído. Praticamente todos os “normais” foram aos poucos
escapando, cada um com sua justificativa, pois era torturante de-
mais continuar ali. Os poucos que sobraram rezavam para que
aquilo acabasse, mal fechavam os olhos para relaxar.

165
yoga do riso

Aquela sessão não tinha sido mesmo nada normal, de fato.


Os pacientes do hospital a conduziram para um outro nível,
no qual era preciso mesmo muita liberdade para conseguir se
alinhar. Liberdade que nós, mesmo os mais habituados a uma
vida alternativa, dificilmente conseguimos. Naquele dia, nem
mesmo os artistas puderam com eles.
Após a sessão, dei por mim a pensar um bocado sobre a lou-
cura. Em como ela tem um quê de liberdade que, em certa me-
dida, faz-nos tanta falta.
Tive pena dos enfermeiros, em como precisam se mostrar tão
quadrados para poder garantir um mínimo de normalidade en-
tre os doentes. Adoecem-se eles próprios, pois é difícil ter que
parecer por tanto tempo o que não se é de verdade.
Os artistas, esses anjos, estavam ali aprendendo com os in-
ternos tanto ou mais do que ensinando. Que beleza que foi ver a
arte penetrando as paredes grossas da medicina. Tenho certeza
que o mestre Patch Adams se alegraria em ver aquele trabalho.
Nós, do riso, também saímos dali com aquela sensação de
que recebemos muito mais do que oferecemos. E a nossa pró-
pria risada foi a outro patamar. Gratidão àqueles mestres.
É claro que eu não tenho qualquer condição para discorrer
sobre a loucura, a racionalidade, a sanidade mental etc. Mas,
pelo menos uma coisa aquela sessão me mostrou: quando o
assunto é libertar a verdade que guardamos dentro de nós, os
loucos é que parecem ser os grandes especialistas.

166
Fotos
Workshop do riso com a Kombi Cura (um dos meus primeiros)

O primeiro clube do riso do mundo, com apenas 5 pessoas.


Embaixo, os mestres Madan e Madhuri Kataria

169
yoga do riso

O primeiro encontro do Clube do Riso, Oeiras.


Também com 5 pessoas

A mestra Ana Banana

170
yoga do riso

O pequeno Malik em uma de nossas brincadeiras na praia


(o boné é da Escola do Riso de Portugal)

O espaço Naniora Caça Sonhos, a minha primeira casa do


riso, em Oeiras

171
yoga do riso

Encontro dos Primos do Riso

O líder de Yoga do Riso mais inspirado de Portugal, o Primo Cláudio;


na frente, eu

172
yoga do riso

Yoga do Riso com crianças

Com crianças mais experientes

173
yoga do riso

Clube do Riso Online (com a presença do Dr. Madan Kataria)

174
yoga do riso

Aquecendo as risadas com os bombeiros

Elevando a autoestima de mulheres com câncer

175
yoga do riso

Riso no hospital psiquiátrico

Yoga do Riso Solidário com o Clube do Riso de Recife

176
yoga do riso

Novos líderes certificados para espalhar a alegria

Respiração do riso na praia

177
yoga do riso

Yoga do Riso nos jardins da Torre de Belém

Círculo da Gargalhada

178
yoga do riso

As emissoras de TV adoram o Yoga do Riso

O banho da gargalhada

179
yoga do riso

Riso do fio mental

Rindo com a cabeça na barriga de outra pessoa

180
yoga do riso

Sessão de Yoga do Riso na Feira Alternativa de Lisboa

Turma do Riso em Curitiba

181
yoga do riso

Dia Mundial do Riso no Brasil

Zíper do riso

182
yoga do riso

Círculo de risadas pela paz mundial

183
Parte 2
Rir, na prática
Sessão de
Yoga do Riso:
rir em grupo
17. Antes de começar

Quando você ri, você muda;


quando você muda, o mundo inteiro muda.
Madan Kataria

Mas o que é que acontece numa sessão de Yoga do Riso? Como


é que se exercita o riso na prática? Bom, chegou a hora de tirar
as teias de aranha dos cantos da boca e finalmente soltar a gar-
galhada que está aí dentro, doidinha para pular cá para fora.
Quando eu fiz a minha primeira sessão, liderada pela maravi-
lhosa Ana Banana, não consegui perceber claramente a estru-
tura por trás da vivência. Ana fazia tudo com uma fluidez tão
natural que era mesmo difícil distinguir cada técnica aplicada.
E essa é a ideia.
Diferente do Yoga tradicional, o nosso método não se baseia
na disciplina, nem segue formatos rígidos. Ainda assim, existe
uma orientação encadeada de técnicas a serem aplicadas numa
sessão do riso, e podemos tranquilamente determinar um ou
algum jeitinho específico de se fazer cada coisa.
Neste livro, além de fornecer todos os componentes de uma
sessão completa de acordo com o mais recente encaminhamen-
to da Universidade Internacional do Yoga do Riso, trago ainda
os roteiros com o passo a passo da prática, tanto o do Dr. Ka-
taria quanto a versão da Ana Banana. Também trago um mo-

189
yoga do riso

delo de sessão prontinho, elaborado por mim, com sugetões de


exercícios e brincadeiras que eu costumo utilizar nas minhas
próprias aulas.
Ou seja, você tem aqui todas as ferramentas necessárias para
liderar suas próprias sessões e colocar um grupo inteiro para
rir, como um profissional. Se não for essa a sua intenção, po-
derá também organizar reuniões informais do riso com os seus
amigos ou familiares, ou simplesmente utilizar as técnicas pon-
tualmente de vez em quando, trazendo mais alegria para onde
quer que esteja. Além disso, sempre que quiser, poderá ainda
incluir os recursos do Yoga do Riso nas atividades que já rea-
liza.
Seja como for, terá tudo para trazer mais alegria para si e
para as pessoas à sua volta.
E você já está mesmo quase lá. Só que antes precisamos des-
travar uma chavinha. Para ajudar, tenho que falar dos jovens
vaidosos. Por que? Veja.
Fazer uma prática do riso nem sempre é tão fácil. Para nos
entregarmos à brincadeira, precisamos nos desprender de uma
série de amarras que bloqueiam a livre expressão da nossa per-
sonalidade. Neste sentido, rir acaba sendo um ato de coragem
e, para cada pessoa, esse processo leva o seu tempo.
Ora, se vamos cantar, dançar, pular, imitar bichos, gritar,
gargalhar sem motivo e fazer um monte de peripécias, precisa-
mos estar dispostos a agir, naquele período de tempo, de uma
maneira muito diferente do que costumamos fazer no dia a dia.
Na nossa prática, cada um a seu ritmo, todos vamos usando o
riso para virar essa chave.
Para facilitar o processo, criamos um ambiente propício e
seguro, livre de julgamentos, onde é mais fácil deixar de lado
a vergonha, o medo de parecer bobo ou infantil, ou mesmo o
receio de borrar a maquiagem, despentear o cabelo ou descer

190
antes de começar

do salto alto. Mesmo assim, para alguns, a dificuldade é bem


grande.
Depois de anos de trabalho com o riso, descobri qual grupo
de pessoas tem mais dificuldade para se atirar de cabeça na
prática do riso (e, justamente por isso, tanto precisam dela): os
adolescentes vaidosos.
É óbvio que existem exceções, e que essa não é uma regra
universal. Mas o fato é que os adolescentes combinam em si
elementos que dificultam a prática do riso: a necessidade de se
afirmar como adultos e uma pesada cobrança por se encaixar
em determinado grupo.
Não é culpa deles, veja bem. Chegam a essa fase e encon-
tram esses desafios já postos. Por um lado, não querem mais
que os identifiquem como crianças, por outro, precisam bata-
lhar para serem aprovados pelos colegas. É uma zona difícil
da vida.
Quando esses jovens chegam à sessão e percebem que a pro-
posta é se desenrolar nas mais diversas maluquices infantis,
apavoram-se. Não estão nada acostumados a uma coisa dessas
— muito pelo contrário. Normalmente, já estão se esforçando
há um tempo para aparentarem justamente o oposto: querem
ser levados a sério.
Felizmente, a própria prática do riso nos ajuda a todos a nos
libertarmos desse tipo de amarras, principalmente a vergonha.
Com ela, aprendemos que se importar com o que os outros
pensam de nós é a mais tola das prisões. Sabemos que cada
um enxerga o mundo de acordo com o seu próprio olhar, sua
história, seu conjunto de crenças e suas experiências pessoais.
Percebemos que quando nos sujeitamos à visão dos outros,
entregamos nossa vida ao sempre confuso e nunca uniforme
pensamento alheio. Ora, se as pessoas vacilam no que pensam
sobre si mesmas, imagine sobre o que pensam sobre nós? Con-

191
yoga do riso

cluímos que o melhor mesmo é sermos o senhor da nossa pró-


pria vida, e caminharmos com os próprios pés.
Neste sentido, tenho acompanhado inúmeras histórias de
pessoas, homens, mulheres, jovens e adultos que abandona-
ram o grilhão da vaidade, do ego e da aparência, e fizeram do
riso a chave para se libertar das suas próprias prisões.
Já são muitos os praticantes que passaram a ser mais segu-
ros, firmes e bem sucedidos nas suas atividades — ou que deci-
diram se dedicar firmemente ao riso — e hoje espalham livre-
mente suas alegrias por aí.
Tudo isso para dizer que, sendo você um jovem vaidoso ou
não, todos nós temos nossas camadas de barreiras em relação
ao riso. Cada um sabe – ou às vezes ainda nem tem consciência
– os seus limites, até onde quer ir e o que é ou não bom para si.
Por isso, o ritmo é único para cada pessoa.
A prática do Yoga do Riso tem a enorme vantagem de não
depender do humor, sendo acessível a qualquer pessoa. Por ou-
tro lado, mesmo sendo um processo relativamente rápido para
a maioria, embarcar nessa viagem é sempre uma experiência
diferente para cada um.
Por isso, amigo leitor ou querida leitora, sugiro que nunca
entre nessa de fazer comparações, de se preocupar com o que
os outros vão pensar ou de se cobrar além do que pode dar.
Encare a prática do riso — e tudo na sua vida — como uma
experiência gostosa, leve e agradável, dentro do seu ritmo, com
firmeza para evoluir e cuidado para sempre se respeitar.
Combinado? Então vamos lá!

192
18. A prática na prática
4 passos
Eu rio para encontrar aquele que serei
daqui a algumas gargalhadas.
O autor

Para ser considerada uma prática completa de Yoga do Riso, a


sessão precisa ter uma apresentação inicial, a parte prática (a
sessão do riso em si) e a finalização. No fim do livro, um anexo
traz o esquema completo da sessão, portanto não se preocupe
com isso agora.
A sessão começa com a devida apresentação do Líder e as
informações introdutórias, das quais falamos em capítulos an-
teriores (5 pontos, 3 razões, 5 benefícios). Depois, passamos à
prática.
Dr. Kataria gosta ainda de dividir essa fase prática em duas.
Primeiro, os quatro passos essenciais (four steps). Depois, a
meditação do riso.
A meditação do riso é o tema do próximo capítulo. Agora,
vamos aos quatro passos, que são:

1. Palmas e aquecimento
2. Respiração yôgi
3. Brincadeiras e jogos infantis
4. Exercícios do riso

193
yoga do riso

1. Palmas e aquecimento

As palmas são elementos fundamentais de uma prática de


Yoga do Riso. Através delas, elevamos a vibração do ambien-
te e aumentamos o nosso próprio astral. Não é à toa que elas
estão presentes em todo tipo de celebração, nas mais diver-
sas comunidades humanas ao redor do mundo. Também não
é por acaso que as crianças vivem batendo palmas, desde
bebês. É também um sinal de aprovação e de enaltecimento
das qualidades e triunfos pessoais.
Na nossa prática do riso, batemos palmas com as mãos
bem abertas para que se toquem por completo uma na outra
e possam ser ativados os milhares de pontos de acupuntura
presentes naquela região18.1Esses pontos de energia, quan-
do ativados, desencadeiam uma série de efeitos reflexos nos
canais energéticos espalhados pelo corpo, e fazem com que
sejam desobstruídos e alargados os meridianos por onde a
energia do riso vai fluir.
Mas, mesmo com toda essa parte quase mística, a princi-
pal função de batermos sempre palmas nas sessões do riso
é simplesmente resgatar o espírito infantil. Em outras pa-
lavras, é mais para fazer barulho mesmo! Batemos palmas
com vigor e entusiasmo, como as crianças fazem, e seguindo
ritmos específicos, para aumentar cada vez mais a vibração
do grupo.
Podemos usar as palmas de vários modos, seja no meio dos
exercícios e brincadeiras ou só para celebrar durante a práti-
ca, mas existe um pequeno exercício que é característico do
Yoga do Riso: o “Hoho-hahaha”.

18
Quem está habituado à linguagem yôgi sabe que as mãos guardam uma quan-
tidade enorme de pontos de energia chamados chakras.

194
a prática na prática: 4 passos

a. “Hoho-hahaha”

Por todo o mundo, o “Hoho-hahaha” se tornou o nosso sím-


bolo, estando presente em todos os eventos e até estampado
nas camisetas e logomarcas das principais companhias e pro-
fissionais que trabalham com essa técnica.
E como o fazemos?
Batemos as palmas com as mãos bem abertas e contato com-
pleto de dedo a dedo e palma a palma, com um ritmo específico
e sincronizado: 1-2, 1-2-3 (um, dois — um, dois, três). Dois para
um lado, três para o outro. Com o grupo já sintonizado, adicio-
namos uma vocalização: “ho-ho”, “ha-ha-ha”, repetidas vezes,
a critério do líder da sessão.
Por fim, adicionamos movimentos corporais, ampliando os
efeitos benéficos do exercício e aquecendo ainda mais o corpo.
Enquanto batemos as palmas, levamos as mãos para o alto e
para baixo, balançando também o tronco, as pernas e pés. Cada
um pode fazer o movimento que quiser e variar como preferir
durante a prática, mas normalmente fazemos “ho-ho” batendo
as palmas de um lado do corpo e “ha-ha-ha” batendo do outro
lado. Entretanto, pode-se bater com as mãos em outras partes
do corpo, como pernas e peito, dar leves tapinhas no rosto ou na
cabeça e até pequenos golpes no bumbum — aumentando o ní-
vel de irreverência. É especialmente benéfico fazer variações que
também incluam ainda mais movimentos corporais aleatórios e
interação entre participantes, batendo nas mãos, ombros, costas
etc uns dos outros (respeitando-se as partes íntimas, é claro).
Este simples exercício já é um poderoso aquecimento e fun-
ciona também como quebra-gelo inicial, estabelecendo um cli-
ma mais descontraído no grupo e estimulando a vontade de rir.
O “Hoho-hahaha” é ensinado logo no início da prática, mas
depois continua sendo acionado entre os diversos exercícios

195
yoga do riso

do riso (dos quais falaremos mais adiante), marcando os in-


tervalos entre eles. É também através do “Hoho-hahaha” que o
líder da sessão chama a atenção para si, encerrando o exercício
que estiver em andamento e sincronizando o grupo — o que é
sempre útil, mas especialmente fundamental nas sessões com
muita gente.
Na prática, nada mais é do que bater palmas ao som de “Ho-
ho-hahaha”, com ritmo e movimentos divertidos, enquanto
nos olhamos, sorrimos e interagimos uns com os outros.

b. Outros exercícios de aquecimentos

O “Hoho-hahaha” já tem o poder de aumentar o fluxo san-


guíneo e esquentar o grupo antes de começarem os exercícios
do riso. Mesmo assim, outras formas de aquecimento podem
ser propostas no início da prática — ou a qualquer momento,
a depender da temperatura do ambiente e do ânimo do grupo.
Embora o riso também seja um aquecedor natural, exercí-
cios com movimentos vigorosos são especialmente úteis para
soltar o corpo, libertar inibições e desbloquear a gargalhada no
campo físico. No inverno ou nas regiões mais frias, por exem-
plo, costumamos incluir outros aquecimentos além do “Hoho-
-hahaha”, como forma de manter o grupo sempre quentinho e
o riso sempre solto. Por outro lado, nas épocas e cidades mais
quentes, ou quando há participantes com limitações motoras,
convém moderar nos exercícios agitados para que nem o calor
excessivo, nem o excesso de movimentos, atrapalhe o anda-
mento da sessão. Nesses casos, o “Hoho-hahaha” já costuma
trazer calor suficiente.
No fim deste livro, um anexo é dedicado exclusivamente a jo-
gos, dinâmicas e brincadeiras, algumas das quais podem tam-
bém ser usadas como aquecimento.

196
a prática na prática: 4 passos

2. Respiração yôgi

A respiração (pránayáma) é o componente yôgi mais utili-


zado na nossa prática do riso. Intercalamos exercícios de res-
piração profunda após um ou alguns exercícios do riso, como
forma de potencializar a eliminação das toxinas dos pulmões,
aumentar o suprimento de oxigênio no corpo e no cérebro e
trazer vitalidade ao organismo.
O respiratório típico que costumamos fazer é o seguinte. De
pé, numa posição firme e descontraída, inspiramos elevando
os braços para cima, retendo por poucos instantes o ar nos pul-
mões e em seguida soltamos o ar enquanto baixamos os braços.
Neste exercício, o mais importante de tudo é inspirar pro-
fundo e esvaziar completamente os pulmões. Por isso, apenas
quem quiser (e tiver com uma coluna bem direitinha) pode
flexionar o tronco para frente na expiração, aproximando as
mãos do solo. Tal movimento pode ser dispensado, no entanto,
sobretudo quando puder causar desconforto a quaisquer dos
participantes. Eu, particularmente, prefiro sempre adotar a va-
riação mais leve e acessível, com três passos simples:

1. Inspirar elevando bem os braços e enchendo bastante


os pulmões;
2. Reter um pouquinho o ar nos pulmões;
3. Expirar baixando os braços lateralmente (sem flexionar
o tronco) e soltando o ar ao som displicente e melodioso
de “ha ha ha”;

Se o grupo inteiro está disposto a intensificar o exercício, é


possível acrescentar, além da flexão pra frente, alguns movi-
mentos de balançar os braços soltos para baixo, massageando
o diafragma e esvaziando ainda mais os pulmões. Fazer peque-

197
yoga do riso

nas retenções sem ar antes da próxima inalação também é uma


opção, mas demanda o máximo cuidado e atenção à condição
dos praticantes. A ideia é fazer inspirações profundas e tentar
sempre exalar mais lentamente do que o tempo da inalação,
para esvaziar completamente seus pulmões.

Uma variação muito divertida é reter a respiração por mais


tempo com os braços no ar e, a seguir, com os pulmões cheios
de ar, explodir em uma farta gargalhada.
Não há necessidade de fazer a respiração após todo e qual-
quer exercício do riso, mas é preciso reconhecer que ela serve
como uma pausa de descanso após um ou uma série de exercí-
cios do riso. Normalmente, fazemos o respiratório sempre que
o exercício exige movimentos mais agitados, ou após uma sé-
rie de dois ou três exercícios mais leves. Costumamos também
repetir cada respiração duas vezes, pelo menos. De qualquer
modo, porém, é o líder da sessão quem deve perceber a frequ-
ência e intensidade a ser adotada, dependendo da prática e da
energia do grupo.
Outros exercícios de respiração podem ser adotados numa
vivência de Yoga do Riso, a critério do líder da sessão, desde
que sejam simples o suficiente para serem acessíveis a todos os
participantes, sem exceção. Respiratórios sofisticados do Yoga
não são necessários, salvo se for a proposta do trabalho ou se se
tratar de um grupo em que todos conseguem executá-los fácil
e automaticamente, sem desviar a atenção do foco principal: o
riso.
Por exemplo, nas minhas sessões com crianças e idosos —
e às vezes com adultos — costumo usar o seguinte respirató-
rio: peço que inspirem profundamente como se cheirassem o
perfume de uma flor imaginária que seguram na mão direita e
expirem
espirem como se soprassem uma vela na mão esquerda. É lú-

198
a prática na prática: 4 passos

dico, é simples, ativa a imaginação e funciona muito bem para


oxigenar o organismo, sem atrapalhar as risadas.
Rir e respirar. Duas maravilhas combinadas para o nosso
benefício. Quer experimentar? Vamos lá! Inspire profundo, le-
vantando os braços. Segure um pouquinho o ar nos pulmões.
Quando quiser, solte o ar fazendo um suave “hahaha” e baixan-
do novamente os braços. Repita algumas vezes e aproveite os
efeitos.

199
yoga do riso

3. Ativação do espírito infantil

Um dos objetivos do Yoga do Riso é cultivar o nosso espírito


infantil, a nossa ludicidade. E para trazer ainda mais o espírito
das crianças para dentro da prática, fazemos outros exercícios
baseados em palmas e vocalizações enérgicas, como os gritos
de alegria que a meninada costuma soltar por aí. O exercício
de ativação da criança interior que mais utilizamos é o “Muito
bem, muito bem, yeeh!”.

a. “Muito bem, muito bem, yeeh!”

Consiste simplesmente em flexionar um pouco as pernas e


bater palmas duas vezes lá embaixo, dizendo “Muito bem!”,
“Muito bem!” e depois lançar os braços vigorosamente para
cima e para trás, abrindo bem o peito e gritando “yeeh!”.
Assim:

— “Muito bem!”
(aplauso)
— “Muito bem!”
(aplauso)
— “Yeeh!”
(braços se erguem com vigor, em forma de “Y”, com os pole-
gares para trás e ar infantil e exuberante no rosto)
Esse exercício normalmente é repetido pelo menos duas ve-
zes a cada execução e também é usado para “cortar” um exer-
cício do riso, tal qual o “Hoho-hahaha”. Normalmente, preferi-
mos usar o “Muito bem, muito bem, yeeh” quando o exercício
está sendo executado em círculo, pois isso facilita que o grupo
comece na mesma hora e faça as palmas e gritos em sincronia.

200
a prática na prática: 4 passos

Por outro lado, quando estamos espalhados em formação ca-


ótica (já que a prática do riso é feita com muitos movimentos
pelo espaço), costuma ser preferível cortar o exercício com o
“Hoho-hahaha”, que é repetido várias vezes até que o grupo se
sintonize novamente.
É sempre uma escolha do líder da sessão decidir quando e
quantas vezes vai repetir o “Muito bem, muito bem, yeeh”, mas
muitas vezes também acontece de surgir espontaneamente no
grupo, por iniciativa de qualquer um dos participantes.
Com frequência, usamos esse movimento de ativação do es-
pírito infantil para celebrar pequenas ou grandes vitórias dos
membros da sessão ou do clube do riso, festejando com entu-
siasmo e elevando a autoestima.

b. Outros exercícios de ativação do espírito infantil

O “Muito bem, muito bem, yeeh” é um exercício clássico do


Yoga do Riso, uma espécie de marca registrada, mas não é a
única forma de ativar a nossa ludicidade.
No nosso Clube do Riso em Oeiras, por exemplo, o primo
Cláudio sempre inclui um exerciciozinho chamado“Yupiii”,
que também é muito poderoso e traz a criança interior cá pra
fora bem rapidinho. Consiste basicamente em gritar algumas
vezes “Yupiii!”, com muita energia, enquanto saltamos do solo
com os braços para cima em sinal de celebração.
Outro exemplo. A nossa querida Nicole, também do Clube
dos Primos, acabou misturando os dois exercícios e criou o
“Yupi, yupi, yeeh!”, inovando as nossas práticas.
Mais pra frente, outros tantos exercícios foram surgindo, e a
criatividade (ou vontade de ativar o espírito infantil) dos prati-
cantes de Yoga do Riso nunca acaba. Em Aracaju, no Brasil, a
Aline lançou uma versão bem nordestina: “Muito bem! Muito

201
yoga do riso

bem! Sêu Menino!”, levando todo mundo às gargalhadas.


Muitas vezes, utilizo exercícios baseados na Programação
Neurolinguística (PNL), para ativar mais e mais a energia dos
participantes. Por exemplo: imitar o Hulk tensionando os bra-
ços à frente e gritando gruuuaaaaaarrrrr. Esse movimento já
ajuda a aumentar os níveis de testosterona e com isso o poder
vital do grupo — além de ser bem divertido.
Esses pequenos exercícios elevam a vibração da prática e es-
timulam fortemente o grupo a libertar o lado lúdico de cada
um, contribuindo para uma maior entrega e consequente po-
tencialização dos benefícios.
Se quiser, invente o seu. Bata palmas, solte o corpo, erga os
braços e entoe os gritos e palavras de afirmação que quiser.
Com certeza, isso melhorará o aproveitamento de toda a prá-
tica.

c. Jogos, brincadeiras e dinâmicas de grupo

Ah, tem uma coisa importante. Lá no final do livro, há um


anexo que trouxe de presente para você. É uma lista de jogos,
dinâmicas de grupo e brincadeiras que devem ser usadas em
conjunto com as técnicas do riso, para aumentar ainda mais a
diversão e potencializar os efeitos da sessão.
Não são exercícios criados pelo Yoga do Riso, são brinca-
deiras e jogos que tomamos emprestados para incrementar a
nossa prática. Você pode utilizar os que quiser, mesmo outros
que não estão nessa lista, incluindo brincadeiras tradicionais e
jogos que se lembra dos seus tempos de criança. Não tendo co-
notação política ou religiosa, e sendo acessível ao grupo todo,
tá liberado!
Cuidado apenas para não colocar um jogo que exija muita
desenvoltura corporal logo no início da prática — quando o

202
a prática na prática: 4 passos

pessoal ainda está se aquecendo, ou uma dinâmica que exija


muito raciocínio já pro final — quando a idéia é já estarmos
menos presos ao raciocínio e mais entregues ao fluxo do corpo
físico e emoções.
Eu costumo utilizar sempre um jogo de quebra-gelos no
início da sessão, o que também me socorro enquanto espero
pelas pessoas atrasadas. Além disso, incluo mais uma ou duas
brincadeiras no meio. No início, jogos levemente competitivos
e “mentais” funcionam muito bem, e “falam” a língua que as
pessoas estão acostumadas a utilizar no dia a dia. Já durante a
prática, quando o grupo está mais aberto para soltar o corpo,
proponho jogos com dança, mímica, e até interpretações lúdi-
cas extravagantes. Aqui entra muito da sensibilidade de quem
conduz a prática para perceber qual a medida que o grupo pre-
cisa em cada momento.
Planeje com carinho a sua sessão, escolha o seu kit de jogos e
brincadeiras e se prepare para incluí-los entre as suas séries de
exercícios do riso. Aliás, já falamos tanto deles que está na hora
de finalmente conhecê-los. Vamos lá!

203
yoga do riso

4. Exercícios do riso

Os exercícios do riso são a espinha dorsal de uma sessão de


Yoga do Riso. É através deles que exercitamos, de fato, a nos-
sa risada, isto é, que colocamos os nossos “músculos do riso”
para trabalhar. É como se fossem uma ginástica da gargalhada,
com a diferença de que não cansam, não doem, não se tornam
cansativo com o tempo e, principalmente, nunca deixam de
ser divertidos! Servem principalmente para reduzir inibições
e transformar o riso simulado em real. Eu chamo os exercícios
do riso de “motores da risada”.
Diferente dos jogos, dinâmicas de grupo e brincadeiras, Con-
sistem, basicamente, em representarmos uma situação da vida
ou imitarmos alguma coisa, ao som de “ha ha ha...”.
Normalmente, fazemos os exercícios andando aleatoriamen-
te pelo espaço da prática e olhando nos olhos uns dos outros,
pois o riso contagia. Iniciamos todos juntos, a comando do lí-
der da sessão, e finalizamos quando começamos a ouvir o “Ho-
ho-hahaha” ou o “Muito bem, muito bem, yeeh”, que servem
como sinais do término do exercício do riso.
Por exemplo: como seria o exercício do Riso da Saudação?
No ocidente, consiste em andarmos pelo espaço da prática
cumprimentando uns aos outros com um aperto de mão, olhan-
do nos olhos e fazendo o som de “ha ha ha...”. Simples assim.
Outra variação deste mesmo exercício é o Riso Namastê, que
se faz saudando uns aos outros com as palmas das mãos unidas
à frente do peito e ao som de “ha ha ha..”. Ainda no campo da
saudação, temos por exemplo o Riso do Abraço, o Riso do High
Five (“Toca aqui” ou “Dá cá mais cinco) e o Riso do Abraço das
Amigas que Não se Vêm há Muito Tempo. Sempre no mesmo
esquema: andamos pelo espaço olhando nos olhos das pessoas
e executando o exercício ao som de “ha ha ha…”.

204
a prática na prática: 4 passos

O Dr. Kataria criou uma lista com os exercícios que se mos-


traram mais eficientes durante a sua jornada do riso por tantos
países, ao longo da história. São os 40 Exercícios Fundamen-
tais, que estão no final deste livro, num anexo que traz a lista
completa para você poder utilizar nas suas práticas.
E se tais exercícios consistem apenas em representar algo ao
som de “ha ha ha...”, a verdade é que qualquer situação da vida,
qualquer elemento do dia a dia, qualquer coisa, enfim, pode
inspirar um exercício do riso. E assim é que é.
Por isso, o líder nunca se preocupa em faltar exercícios do riso
durante a prática. Se não tiver preparado bem a sessão ou se for
acometido de um “branco”, pode simplesmente olhar para um
objeto, lembrar de uma situação qualquer, ou pedir sugestões
ao grupo e, a partir daí, criar um exercício novo. A única coisa
que precisa ter em mente é que, seja qual for o exercício, jamais
deve ter uma conotação política ou religiosa, ou ser ofensivo a
qualquer grupo de pessoas. É também muito importante que
seja simples, fácil e acessível a todas as pessoas do grupo, sem
complexidades.
Por exemplo. Na minha primeira formação, a Ana Banana
me pediu para demonstrar o “riso da motocicleta”. Eu, todo
empolgado, fiz uma grande encenação que ia desde polir a
moto e colocar o capacete até efetivamente cair na estrada, in-
cluindo chaves que caíam no chão e um monte de presepada.
Quando terminei, Ana me parabenizou pela qualidade artística
da minha performance, mas criticou a exagerada complexida-
de da atuação, que não era adequada para um exercício do riso.
Por que será?
Ora, não é todo mundo que tem grandes habilidades ou está
com disposição para uma grande atuação teatral. Se o exercí-
cio for muito elaborado, certamente vai haver quem não con-
siga acompanhar com a tranquilidade e leveza desejadas, ou

205
yoga do riso

mesmo quem não o entenda de todo. Pode ser também que o


grupo se concentre tanto em “fazer certo” que deixe de apro-
veitar para simplesmente rir. Por isso tudo, não se esqueça: o
exercício deve ser o mais simples possível, pra que qualquer
um possa fazer, com zero preocupações.
Eu aprendi a lição. Hoje, o “riso da motocicleta” para mim
é só sentar na moto e: vrum, vrum! Ou melhor, “ha ha ha…”.
Outro exemplo. O Rafa sempre gostou de fazer as suas ses-
sões com bastante energia. Quando começou a liderar, porém,
não se apercebia que alguns participantes, principalmente as
pessoas mais idosas, às vezes não conseguiam acompanhar os
exercícios mais vigorosos e começavam a “boiar” na sessão.
Isso gerava uma desconexão entre elas e os demais participan-
tes e, pior ainda, fomentava um sentimento de inferioridade
por não conseguirem fazer aquilo que todos os demais estavam
fazendo sem grande esforço.
Por isso que o líder da sessão deve estar completamente livre
para ativar a sua criatividade e mandar ver nas ideias inova-
doras, desde que cuide para que seus exercícios sejam sempre
acessíveis a todas as pessoas da sessão. Se, por exemplo, um
único participante não puder fazê-lo, não o proponha. O seu
referencial é sempre a pessoa com a maior limitação. Caso, por
exemplo, uma só pessoa não possa se levantar, convém fazer a
sessão inteira sentada (a não ser que para a própria pessoa seja
muito constrangedor sentir-se responsável por eventual “mu-
dança de planos” de todo o grupo).
Não se preocupe. O líder dedicado consegue integrar todo o
grupo, por mais heterogêneo que seja, e produzir um clima de
unidade que envolva todos os participantes. Se, porém, você
não se sentir preparado para lidar com determinada situação,
o melhor caminho é sempre a honestidade, que pode, inclusi-
ve, fazer-lhe desistir de encarar certos desafios. Se você come

206
a prática na prática: 4 passos

as unhas e sente verdadeiro temos ao pensar em levar esses


conhecimentos para algum grupo, talvez seja o caso de consi-
derar vir a um curso de formação certificada de Líderes de Yoga
do Riso, no qual aprenderá todas as ferramentas para levar o
Yoga do Riso para qualquer público, da criança ao idoso, onde
quer que seja.
É sempre muito importante reforçar que os exercícios do riso
nunca devem ter uma conotação política ou religiosa, nem re-
velar qualquer perfil ideológico que possa constranger os par-
ticipantes da sessão. Há muita coisa na vida que é comum a
todos nós e que pode ser usada na nossa prática sem magoar
ninguém, portanto não precisamos utilizar temas polêmicos,
sensíveis ou controversos, sobretudo quando não se conhece o
perfil do grupo. Lembre-se de que o Yoga do Riso busca a paz
mundial, a harmonia entre todas as pessoas através do riso.
Não deve ser jamais utilizado como bandeira partidária, nem
panfleto religioso, muito menos para menosprezar pessoas ou
grupos, ou criar desavenças.
Escolha um tema ou simplesmente selecione alguns exercí-
cios, pense em alguns jogos e brincadeiras e vá para a sessão
com todo entusiasmo que puder encontrar dentro de si. Tenha
sempre a certeza de que carregará consigo ferramentas para
fortalecer a felicidade dentro das pessoas que lhe acompanha-
rão, jamais o desamor.
No final deste livro, inclui um anexo com uma lista enorme
de sugestões de exercícios do riso, todos divertidos e alinha-
dos com os princípios do Yoga do Riso. Fique à vontade para
utilizá-los nas suas práticas.
Dr. Kataria gosta de classificar os exercícios do riso entre exer-
cícios do riso yôgis, exercícios do riso lúdicos e exercícios do riso
baseados em valores. Os primeiros, como o nome já diz, são ba-
seados em posturas do Yoga, como o sempre popular Riso do

207
yoga do riso

Leão. Os exercícios do riso lúdicos têm um perfil mais “brincan-


te” e geralmente incluem técnicas simples de atuação do teatro
para imaginar uma situação ou representar um papel, como o
Riso da Sopa Quente, por exemplo. E há também aqueles que
são baseados em valores e servem para programar sentimentos
positivos na nossa mente, incutindo novos padrões de reação
automática a certas situações, como o Riso da Fatura, no qual
a gente ri gostosamente enquanto olha para a extensa fatura do
cartão de crédito nas nossas mãos e mostra aos demais.
Eu sugiro que você sempre planeje a sessão antes de começar,
nem que seja por uns minutinhos já no próprio local da prática.
Eu gosto sempre de pensar em um tema, assim fica mais fácil
para selecionar os exercícios que vou querer usar, ou mesmo
para inventar na hora ou pedir sugestões aos participantes.
É imprescindível que o líder da sessão diga o nome do exer-
cício e o demonstre antes de pedir que o grupo comece a fazê-
-lo. Também é importante que marque com clareza o seu início
e final, para que todos comecem ao mesmo tempo e também
retornem juntos. Para dar o start, basta um simples “1, 2, 3
e já!”, por exemplo. A finalização, por sua vez, é feita com o
“Hoho-hahaha”, o “Muito bem, muito bem, yeeh”, ou outro
grito-código que você estabelecer com o grupo.
Assim, a execução completa do exercício do riso contém:

1. Dizer o nome e demonstrar


2. Dar o start
3. Fazer em conjunto
4. Finalizar com “Hoho-hahaha” ou “Muito bem, muito
bem, yeeh” e respiração

Para uma sessão completa de mais ou menos uma hora, Dr.


Kataria recomenda que se façam de dez a 15 exercícios (inter-

208
a prática na prática: 4 passos

calados com respirações, jogos e brincadeiras), num total de


mais ou menos quinze minutos. A depender do tempo de dura-
ção da sua prática, perfil do grupo, proposta da sessão e até do
local, essa quantidade deve ser adequada a cada caso, para uma
experiência sempre enriquecedora, leve e divertida.
Ressalto que, embora sejam muito divertidos e quase sem-
pre já despertem uma imensidão de gargalhadas genuínas,
os exercícios do riso têm a simples função de desbloquear
a risada, retirando as camadas de sedimentos que pusemos
(ou puseram) por cima dela. Por isso, mesmo sem vontade
de rir, fazemo-los sempre ao som de “ha ha ha...” (ou outro
tipo de risada), fingindo o riso. Assim, cumprimos o lema:
“finge, finge, até que atinge”. Explique bem aos participan-
tes que nós fazemos o riso como um exercício físico, e que
não é preciso achar engraçado. Basta abrir a boca e dizer “ha
ha ha…”.
Ah, preste atenção. Não é preciso forçar o volume do riso,
gritar ou estressar a garganta para rir. Lembre-se: “menos
esforço, mais diversão”. Ria sempre num limite confortável,
expressando sua energia, mas protegendo suas cordas vo-
cais. De preferência, solte a sua gargalhada sempre a partir
do diafragma (riso da barriga), e abrindo muito a boca.
Se, a qualquer momento, sentir qualquer mal estar, sim-
plesmente suspenda o exercício e descanse. Vai passar. Du-
rante a prática e depois dela, beba bastante água, pois o riso
libera muitas toxinas. Bebendo água, auxiliamos o caminho
que essas toxinas fazem até sairem do nosso corpo e evita-
mos os efeitos desagradáveis da sua re-metabolização.
Siga essas dicas que — eu prometo — o riso correrá fluido e
suave pelo seu corpo, enchendo-lhe de benefícios e amplian-
do cada vez mais a sua sensação de saúde, paz e felicidade,
sem jamais lhe prejudicar.

209
yoga do riso

Depois de algumas séries de exercícios do riso intercala-


dos com respiratórios, gritos de ativação do espírito infantil e
brincadeiras divertidas, estaremos prontos para a próxima fase
— a mais profunda de todas —, que é a meditação do riso. Ana
Banana comentava que a sessão inteira é construída para che-
gar nessa parte, que é quando as pessoas vão, finalmente, ape-
nas rir. Depois de desbloquear os canais através de exercícios
poderosos, é chegada a hora de a gargalhada se libertar de vez!

210
19. Meditação do riso

Estou sentado ao lado de Deus.


meu feedback após uma meditação do riso

A ideia de escrever este livro veio em uma meditação do riso.


Outras tantas pessoas relatam um sem número de insights que
receberam durante ou logo após essa prática. É na meditação
do riso que finalmente nos entregamos ao fluxo livre do riso, ao
rir sem pensar, do nada, e nos deixamos levar pela corrente da
gargalhada.
Em termos de riso, é o momento mais importante da prática.
Ana Banana costuma dizer que passamos a sessão inteira nos
preparando para aqui chegar. É aqui que temos a maior ocor-
rência de crises de riso, catarses e gargalhadas estridentes. Por
tudo isso, é sempre importante que cuidemos do tempo duran-
te a prática para termos o suficiente nesta fase, sem pressa. Há
duas formas de meditação do riso: sentada e deitada.

1. Meditação do riso sentada

A meditação sentada é muito útil como transição entre os


exercícios do riso e a meditação deitada, mas também é mui-

211
yoga do riso

tas vezes usada como a única meditação da prática, sobretudo


quando o espaço ou qualquer outra circunstância torna des-
confortável que as pessoas se deitem no chão. Sessões com ido-
sos, ou em praças públicas, ou dentro das empresas costumam
ser inadequadas para exercícios deitados.
Para executar a meditação do riso sentada, adotamos uma
postura confortável, e procuramos estar muito próximos uns
dos outros, em círculo ou desordenados, com os olhos aber-
tos e contato visual. Aqui, o comando do líder é muito simples:
sentar bem juntinhos, posição confortável, olhos nos olhos e
simplesmente rir.
Nesta fase, ainda aproveitamos as influências uns dos outros
para estimular a risada, e podemos até utilizar alguns exercí-
cios, caso ainda queiramos potencializar o riso. Por isso, digo
que pode ser uma postura transitória entre os exercícios do riso
e a meditação.
A maior dificuldade do Líder de Yoga do Riso nunca é fazer
as pessoas rirem, mas sim pararem de rir ao final da sessão.
O normal mesmo é descambarem-se as gargalhadas na me-
ditação do riso e os praticantes já não quererem mais parar.
Mesmo assim, apesar de ser muito raro (muito mesmo), pode
acontecer de chegarmos à fase da meditação sentada sem que
o riso exploda naturalmente. Nesta situação, não há motivos
para pânico nem frustrações: está tudo certo.
Alguns exercícios próprios para estimular o riso na posição
sentada podem ser utilizados. Exemplos: o “riso de calcutá (ho
ho ha ha)”; o “riso crescente”, “riso da galinha”, e o “riso alooo-
ha”. Outras técnicas muito úteis são: fazer algumas respira-
ções profundas; observar o silêncio; e fazer o “riso das vogais”
(hahaha... hehehe... hihihi... hohoho... huhuhu...).
Naquela que foi a primeira sessão a me levar a um estado
realmente profundo com o riso e me fazer sentir “sentado ao

212
meditação do riso

lado de Deus”, o meu professor se valeu deste último exercício


no início da meditação sentada. Veja, não há por que se pre-
ocupar. Cada sessão é única e tudo pode mesmo acontecer.
Mantenha sempre a calma e confie no método. Acredite: ain-
da que tudo corra mal ou diferente do planejado, tudo sairá
bem.
Algumas posturas sentadas em duplas ou em grupo são es-
pecialmente estimulantes à gargalhada e podem ser utilizadas
para aumentar ainda mais a diversão e a quantidade de risos
durante a sessão. São elas a formação “embrional”, o “barco a
remo” e a primeira fase da formação “zíper”, todas descritas no
final deste capítulo.
Seja em círculo ou sentados muito juntinhos, com ou sem recur-
sos para aumentar o riso ou em alguma formação especial, o fato
é que a meditação do riso sentada é, em essência, simplesmente
sentar e rir. É aqui que começamos a praticar o riso sem motivo e
é quando o líder estimula mais os praticantes a exercitarem o “ha
ha ha” mesmo se não tiverem achando graça alguma.
Caso, mesmo depois de todos os esforços do líder da sessão,
as pessoas passarem todo o tempo da meditação sem vontade
de rir, não tem problema. Podem fazer o “ha ha ha” sem von-
tade nenhuma, até o final — fingir o riso — que estarão adqui-
rindo os seus benefícios do mesmo jeito. Cada um tem o seu
momento e está num passo da própria jornada. Se naquele mo-
mento é aquilo que se tem, ótimo. Na próxima, continuamos o
trabalho e vamos conseguindo mais e mais gargalhadas com o
passar do tempo.
Falando em tempo, o Dr. Kataria recomenda que deixemos
idealmente quinze minutos para a meditação do riso em geral
ou pelo menos dez, que é o mínimo. Assim, caso pretenda fazer
as duas modalidades (sentada e deitada), cuide para que tenha
pelo menos cinco minutos quando chegar na última.

213
yoga do riso

Eu, sempre que dá, costumo fazer as duas formas de medita-


ção do riso, começando pela sentada e depois passando para a
deitada, reservando sempre mais tempo para essa última, que
para mim é mesmo a fase mais intensa de toda a prática.
Falando nisso, vamos a ela?

214
meditação do riso

2. Meditação do riso deitada

Chegado o momento da meditação do riso deitada, com os


canais já bem mais desbloqueados e as pessoas todas mais bem
dispostas, o líder da sessão pode simplesmente pedir que se
deitem em qualquer lugar no chão (“formação caótica”) e riam.
Assim de fácil.
Mas o Yoga do Riso ainda tem uma série de outras posturas
deitadas fantásticas, que se encaixam melhor ou pior, a depen-
der de cada situação, e sempre contribuem para potencializar
a experiência. Temos a formação em “zigue-zague”, a “estrela”,
a formação “caótica com cabeça na barriga”, e o “círculo com
cabeça na barriga”. Veja no final deste capítulo como é que se
organiza cada uma delas.
Seja qual for a posição escolhida, a meditação do riso deita-
da sempre termina com as pessoas deitadas com a cabeça no
chão e olhos fechados. Devem-se reservar alguns minutos para
que cada um possa vivenciar o seu próprio riso interior, sem
influências externas, sem interferências das pessoas ao redor.
Assim, se durante a prática nós utilizamos o contato físico e vi-
sual para potencializar o riso, agora o que queremos é que cada
um encontre-se consigo próprio, independente dos demais. É o
momento do trabalho pessoal, cada um por si, no ritmo e volu-
me que lhe for conveniente.
É de suma importância que haja este momento. Há inúmeras
pessoas que passam a sessão inteira meio “mais ou menos”, e
que durante a meditação deitada desata a gargalhar tudo aqui-
lo que está aprisionado lá dentro.
Neste ponto, é muito útil que as portas e janelas do espaço
sejam fechadas (se for possível) e que as luzes sejam apagadas.
A ideia aqui é criar um ambiente completamente livre de jul-
gamentos, permitindo que as pessoas sintam-se numa espécie

215
yoga do riso

de mar de gargalhadas em que não se sabe quem é quem. Esse


“anonimato” facilita o processo das pessoas mais tímidas, que
finalmente se sentem livres para colocarem para fora tudo que
precisam expressar.
É também na meditação do riso deitada que surgem as maio-
res crises de riso (e às vezes de choro), as catarses e os insights
mais fortes. Não se assuste com o volume a que pode chegar o
som das gargalhadas todas nesta hora. Com o corpo estendido
em posição confortável e os canais mais abertos, o fluxo do riso
corre solto, e o barulho pode ser mesmo bem alto. Já perdi a
conta de quantas reclamações recebemos dos vizinhos por con-
ta disso. Pois é. Em termos de barulho, os grupos de Yoga do
Riso não são muito bons vizinhos. Se não cuidarmos, podemos
ter problemas.
O que sempre fazemos é alertar de antemão sobre essa ques-
tão logo no momento do acerto com o espaço que vai sediar a
prática. Informar os anfitriões de que vamos fazer muito baru-
lho, de tal hora a tal hora, e perguntar sobre o relacionamento
com os vizinhos. Estamos ali sempre para proporcionar uma
boa experiência para os participantes da sessão, mas não que-
remos fazer isso às custas do sossego dos demais. Lembre-se
de que o Yoga do Riso é pela paz entre todas as pessoas e não
apenas para aqueles que vêm à prática. Por isso, é importante
que seja sustentável no que se refere ao respeito e harmonia
com a vizinhança.
De qualquer modo, estabelecido o espaço ideal e com a per-
missão para rir o quanto quisermos, a ideia é sermos livres
para dar as risadas todas que quiserem sair cá para fora.
Aliás, na meditação deitada, é muito importante que o líder
observe se as pessoas estão todas deitadas confortavelmente.
É ele quem deve propor os ajustes necessários para que o gru-
po inteiro se sinta à vontade, livre de incômodos e preocupa-

216
meditação do riso

ções. Daí, podem simplesmente rir. Também é bastante útil


que o líder disponha os participantes pela sala de maneira a
equilibrar o volume do riso. Fazemos isso colocando os mais
risonhos perto dos mais contidos, para que os primeiros esti-
mulem os demais (laughter busters) e a gargalhada não fique
toda concentrada em um só lugar. Também podemos separar
as pessoas que já se conhecem a muito tempo, como familiares,
amigos e casais, para que cada um possa vivenciar sua experi-
ência individualmente, livre da influência dos seus conhecidos.
O líder dá o comando para a parte final da meditação deitada
de uma maneira muito simples. Basta dizer: “deitados, posição
confortável, cabeça no chão e olhos fechados, agora vamos sim-
plesmente rir”.

Convém lembrar nessa hora que podemos fingir o riso, “ha


ha ha...”, mesmo que não nos apeteça rir (“finge, finge, até que
atinge”).
Em suma, a meditação do riso deitada se baseia na busca pelo
riso interior, com cada um “na sua” e olhos fechados. Se for
utilizada uma formação que exija interação, ficamos um perío-
do com os olhos abertos e em contato, mas sempre dedicamos
uma parte do tempo a uma formação solitária, sem inte-ração.
Nesta última parte, as luzes são apagadas e os olhos se fecham.
A ideia é criar o ambiente mais íntimo possível, para que cada
um se sinta completamente a vontade, como deitado no seu
próprio quarto de casa.
Para encerrar a meditação e iniciar a fase seguinte, o relaxa-
mento, muitas vezes basta um simples comando do líder, ou
o acionamento de uma música apropriada. Contudo, não raro
acontece de as pessoas não quererem parar de rir, e entrarem
numa espécie de “deboche” contínuo, rindo a seguir a cada
orientação do líder ou mesmo por qualquer razão externa.

217
yoga do riso

A fim de contornar esta “anarquia do riso”, temos algumas


técnicas muito eficazes, que devem ser usadas nesta ordem
sucessiva, passando para a próxima apenas se a primeira não
resultar: 1) fazer som de cobra com a boca (como quem pede
silêncio); 2) acalmar os mais empolgados pousando levemente
a mão sobre peito e aplicando movimentos sutis; 3) falar bem
baixinho ao pé do ouvido “tudo bem, tudo bem, faz muito bem
em rir, mas precisamos ir ao próximo passo”.
Evite sempre entrar em conflito com os participantes. Lem-
bre-se de que eles foram ali justamente para rir e alguns deles
estão libertando tensões e emoções reprimidas há muito tem-
po. Tendo finalmente atingido um ponto em que finalmente
conseguem se expressar com liberdade, soa muito frustrante
para algumas pessoas terem que “voltar” para o estado normal.
Por isso mesmo é que é muito importante ter um controle do
tempo durante a prática e poder dedicar um intervalo generoso
para a meditação do riso, deixando todo mundo satisfeito antes
de finalizar. Lembre-se de que essa é a fase mais libertadora da
sessão e muita gente só consegue se entregar de verdade nessa
hora. Se puder, reserve até mais de quinze minutos para esse
momento.
Depois de dar o comando, ao líder basta ficar observando a
turma e rindo com ela. Deve permanecer sempre alerta, cui-
dando do bem estar do grupo e atento a possíveis intercorrên-
cias. Normalmente, nada de mal vai acontecer, mas é preciso
estar vigilante. Vai que alguém entra na sala e acende a luz,
por exemplo, ou que algum dos participantes atende o telefone
celular. De qualquer maneira, evite deitar-se com o grupo e se
entregar à meditação, ou distrair-se com qualquer coisa. Nesse
momento, o seu papel não é esse. Se quiser rir (e provavelmen-
te vai querer), faça-o sentado ou de pé, enquanto observa o seu
grupo.

218
meditação do riso

Se chegou até esse ponto, então já conseguiu sentir a força


dessa técnica. Já viu que realmente funciona e percebeu o seu
poder. Se tiver começado bem, provavelmente a prática vai se
desenvolver com qualidade. E depois de tudo que aconteceu, é
chegada a hora de cuidar para que se tenha também um grande
final.
Chegamos ao relaxamento, o primeiro dos últimos passos de
uma sessão completa de Yoga do Riso.

219
Posições para
a meditação
do riso deitada
FORMAÇÃO CAÓTICA

A maneira mais simples


de organizar as pessoas para
a meditação do riso deitada.
Funciona especialmente bem
para grupos grandes.

Comando:
“Deitem-se livremente no solo e riam”.

222
FORMAÇÃO ESTRELA

A mais fotogênica das posturas deitadas.


Nela, os participantes formam uma estrela,
deitados em círculo, com as cabeças
unidas no centro.
Se o grupo é grande, pode ser dividido
em várias estrelas com 5 a 8 pessoas cada.

Comando:
“Sentem-se formando um círculo
bem apertado. Virem-se de costas
para o centro, mantendo a perfeição do círculo. Deitem-se
cuidadosamente para trás, tocando levemente as cabeças no
centro do círculo”.

223
FORMAÇÃO REMAR O BARCO

É aconselhável para grupos que se conhecem bem, para


permitir esta proximidade.

Comando:
“Sentem-se em fila indiana,
com pernas abertas
e encaixados uns nos outros.
Sob orientação do Líder,
imitem o movimento de remar,
com as mãos para frente e para trás,
ao som de “ho-ha, ho-ha, ho-ha…”,
até deitarem-se todos para trás
(a comando do líder)”.

224
FORMAÇÃO ZIGUE-ZAGUE

Comando:
“Sentem-se em fila indiana, com pernas abertas e encaixa-
dos uns nos outros. A primeira pessoa
passa as pernas unidas para a direita, enquanto
a segunda leva as pernas para o lado esquerdo e por aí vai...
A última pessoa se deita e a
penúltima encosta a cabeça na sua barriga,
e assim por diante até todos terem a cabeça
deitada numa barriga (menos o último,
que recebe uma almofada)”.

225
FORMAÇÃO CAÓTICA COM CABEÇA NA BARRIGA

Funciona muito bem com grupos


muito grandes e especialmente
quando o espaço é limitado.

Comando:
“Cada cabeça procura uma barriga,
cada barriga se oferece
a pelo menos uma cabeça”.

226
FORMAÇÃO CÍRCULO COM CABEÇA NA BARRIGA

Mínimo de 3 a 10 pessoas.

Comando:
“Sentem-se formando um círculo
bem apertado e depois virem-se
de costas para o centro,
mantendo a perfeição do círculo.
Levem todos as pernas unidas
para um mesmo lado e
deitem-se para trás,
com a cabeça na barriga
da pessoa a seguir”.

227
FORMAÇÃO FECHO ECLER (ZÍPER)

Comando:

“Sentem-se em duas filas bem juntinhas,


com cada pessoa bem próxima de quem está aos seus lados
e recostada “costa com costa”
na pessoa da fila de trás. Depois, inclinem todos as suas
cabeças para um mesmo lado (direito
ou esquerdo) e para trás, até que cada cabeça
se deite no ombro da pessoa de trás.
Pode permanecer um tempo rindo nesta posição (meditação
do riso sentada).
Por fim, cada um escorrega para frente
até que todos fiquem deitados no chão,
ainda com a cabeça na pessoa de trás
(agora na região da clavícula).”

228
FORMAÇÃO EMBRIONAL

Comando:

“Sentem-se em duplas, um ao lado do outro, bem próximos,


com os joelhos dobrados
e ancas alinhadas. Inclinem-se um para o outro
e abracem-se até estarem quase deitados.
Cada um se recosta sobre as coxas
do outro e ambos se amparam mutuamente”.

229
20. Encerramento

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,


essa coisa é o que somos.
José Saramago

Tão importante quanto um bom começo é um bom final. Muitas


vezes, o líder iniciante se preocupa tanto em ajudar as pessoas
a rir durante a prática que se esquece de guardar um tempo ra-
zoável para encerramento. Mas após a sessão de gargalhadas o
nosso método guarda ainda algumas etapas fundamentais para
que a experiência com o riso seja maravilhosa do início ao fim.
O encerramento de uma sessão completa de Yoga do Riso
sempre tem:
1. Relaxamento
2. Visualização coletiva pela paz mundial
3. Aterramento
4. Feedback
5. Espaço para informes
Há ainda um último componente que aos poucos tem sido
retirado do modelo de prática básico, mas que eu ainda gosto
muito de fazer: os slogans.

Calma, não é assim tão complicado. Tirando o relaxamento,


que deve durar pelo menos uns cinco minutos, todas as outras

231
yoga do riso

fases são bem simples e rápidas, e podem ser feitas em um ou


dois minutinhos cada uma.
Vamos por partes.

1. O relaxamento

O riso tem em si uma capacidade ambivalente: tanto é ca-


paz de nos empurrar para frente e nos encher de energia ativa,
quanto de nos fazer atingir os mais profundos estados de rela-
xamento.
Salvo em situações muito excepcionais, todas as sessões de
Yoga do Riso terminam com um exercício de descontração, no
qual o praticante vai não só descansar da atividade que desen-
volveu durante a prática como também — e principalmente —
assimilar os seus benefícios.
É no relaxamento que o praticante enfim se apodera dos efei-
tos benéficos do riso, que são absorvidos pelo organismo e pas-
sam a fazer parte do seu patrimônio pessoal.
Nesta fase, são muito frequentes os insights, inspirações,
ideias inovadoras e resoluções. Não raro, a solução para um
problema que nos vinha atormentando há muito tempo apa-
rece cristalina à nossa frente durante o relaxamento, quando
também temos mais clareza para enxergar as circunstâncias da
nossa vida com as dimensões que realmente têm.

O líder de Yoga do Riso não precisa ser um expert em exercí-


cios de relaxamento, embora esta habilidade seja enormemen-
te útil. Muitas vezes, basta um simples período de silêncio, ou
uma música instrumental suave, para que seja proporcionado
às pessoas um momento de descontração suficiente.
Os mais experimentados no Yoga tradicional, ou os mais estu-
diosos, podem aplicar exercícios de descontração yôgis (yôga-

232
encerramento

nídra), enriquecendo a prática. Pode-se também utilizar gra-


vações de relaxamentos guiados, música instrumental ao vivo,
ou quaisquer outras ferramentas adequadas à indução do rela-
xamento. O que é totalmente desaconselhável, por outro lado,
é a utilização de orações, preces ou qualquer recurso de cunho
religioso.
No final deste livro, há um apêndice com um guia simplifica-
do para o relaxamento guiado sugerido pelo professor Madan
Kataria. Caso se sinta confiante, pode utilizá-lo tranquilamente
nas suas sessões. Também pode sempre gravar o exercício com
a sua própria voz e depois utilizar como relaxamento guiado.

2. Visualização pela paz mundial

O Yoga do Riso é uma técnica riquíssima em benefícios indi-


viduais para quem a pratica. No entanto, desde a sua concep-
ção, tem a missão maior de promover a paz de todas as pessoas
através do riso.
A lógica é aquela: a pessoa faz uma prática e aprende que
pode rir sem motivo. Vai para casa e faz as pessoas da família
rirem. Depois ri com os vizinhos, os parentes, os amigos, os
colegas do trabalho e por aí vai. Estes, por sua vez, espalham
o riso entre os seus, multiplicando a ideia do riso mais e mais.
Até que o bairro todo, a cidade, o estado o país, o continente...
o mundo inteiro é contagiado pela onda da gargalhada.
Esse é o sonho que inspirou o Dr. Kataria a sistematizar este
método. Esse é o nosso sonho: atingir a paz mundial através do
riso. Apesar de parecer irreal para algumas pessoas, para nós
é plenamente possível! O primeiro Clube do Riso teve somente
cinco pessoas. Hoje, o Yoga do Riso está em mais de cem países
e é praticado regularmente em mais de dez mil clubes. Estamos
mesmo crescendo e a tendência é só aumentar. Cada vez mais

233
yoga do riso

ouvimos falar sobre os benefícios do riso e ganhamos consci-


ência das suas maravilhas. Novos líderes surgem a cada dia, o
método se espalha e se profissionaliza sempre mais. Conside-
ramos, sim, que é possível levar essa energia ao mundo inteiro.
É para isso que estamos aqui.
Uma das formas de compartilharmos os benefícios que ad-
quirimos durante a prática e levá-los àqueles que não puderam
estar presentes é a “visualização pela paz mundial”. Nela, o lí-
der da sessão guia os praticantes em uma mentalização coleti-
va, na qual todos vão visualizar juntos um cenário que contri-
bua para a paz em todo o mundo.
Uma técnica muito simples é sugerir que visualizem as pes-
soas, conhecidas e desconhecidas, com um sorriso honesto no
rosto. Eu costumo fazer isso de forma encadeada, pedindo que
primeiro imaginem as pessoas mais próximas, familiares e
amigos, com um sorriso no rosto. E depois as pessoas do bair-
ro, da cidade e por aí vai. Até mentalizarem o mundo inteiro a
rir.
O melhor momento para esta visualização costuma ser logo
após o relaxamento, antes mesmo de as pessoas retornarem ao
estado “normal”. É sempre útil o recurso a uma música inspira-
dora, que pode até servir de guia do exercício, caso tenha uma
letra apropriada.
Aqui também vale o lembrete de que são indevidas as indu-
ções de caráter político ou religioso. Os modelos de visualiza-
ção, porém, são livres, podendo ser aplicados vários estilos, a
depender do grupo e do líder da sessão. Pode-se focar um dia
nas crianças, outro nos familiares e por aí vai. Se a sessão for
temática, a visualização pode também seguir a mesma linha.
Nem sempre é preciso terminar a visualização com o mundo
inteiro rindo ao mesmo tempo. Lembre-se de que o riso de uma
só pessoa já é um passo para a paz mundial. E nem mesmo é

234
encerramento

preciso que este exercício fale sobre o riso. Pode ser qualquer
outra mentalização coletiva, desde que contribua, como quer
que seja, com a paz.
Por exemplo. Uma vez fiz uma sessão voluntária para arreca-
dar recursos para os moradores de rua de Lisboa. Naquele dia,
encerrei com uma visualização em benefício dos nossos irmãos
e irmãs que vivem esta dura realidade e enfrentam diariamente
o desafio de não terem um teto para morar.
Em outro momento, quando desenvolvi um trabalho espe-
cífico de resgate da criança interior, escolhi visualizações que
proporcionassem esse contato com a nossa essência infantil.
Outro dia, numa sessão em que abordei o tema do perdão,
aproveitei a visualização para potencializar a nossa capacidade
de perdoar, os outros e nós próprios, através do riso.
Outro exemplo: por ter uma visão harmoniosa sobre os seres
do nosso planeta, muitas vezes gosto de incluir os animais e as
outras formas de vida da Terra na visualização coletiva, pois
acredito não ser possível estarmos em paz quando a natureza
— nossos irmãos bichos e plantas — está sendo constantemen-
te violentada. No entanto, como esse tema pode ser delicado
para algumas pessoas, evito expressões que possam gerar qual-
quer rotulagem ou separação de grupos, como “ambientalista”,
“ecologista”, “veganismo” etc.
Quer dizer, sinta-se livre para desenvolver este exercício como
quiser, mantendo sempre o desígnio honesto de colaborar para
que daquele grupo seja irradiada uma potente energia em benefí-
cio da paz entre todos nós, nunca promovendo desentendimentos.

3. Aterramento (enraizamento)

Eu não posso garantir que seja verdade, mas dentro do meio


do Yoga do Riso contam-se histórias de pessoas que saíram de

235
yoga do riso

sessões do riso e, de tão afetadas pela prática, iam conduzin-


do seus veículos feito loucas e até entravam em casas que não
eram as suas, confusas.
Verdade ou não, o fato é que o riso tem o poder de nos elevar
de tal forma que, ao final de uma sessão de gargalhadas, é co-
mum nos sentirmos um bocadinho “altos” demais. Muitas pes-
soas, inclusive, relatam que alguns efeitos da risada contínua,
como o estado de profundo relaxamento, a sensação de leveza
e o bem estar, são semelhantes aos de certos entorpecentes.
De qualquer forma, é certo que o ambiente criado dentro de
uma prática do riso normalmente é muito diferente daquele
que as pessoas costumam enfrentar no dia a dia. Ainda que
não seja suficiente para se bater o carro ou confundir a porta
da própria casa, é verdade que pode ser muito impactante sair
de uma sessão diretamente para encarar o mundo lá fora. Al-
gumas pessoas, sobretudo as mais sensíveis, podem mesmo se
afetar com esse choque de realidade.
Por causa disso, foi incorporado o componente aterramento
dentro da nossa prática, o qual tem justamente a finalidade de
trazer as pessoas de volta para o “mundo real” após a viagem
do riso.
Na prática, bastam uns minutinhos de música com uma batida
percussiva firme e uma dança com passadas fortes, estilo tribal,
para que os participantes se sintam reconectados à terra.
O enraizamento pode ser feito mesmo com as pessoas ainda
deitadas, logo a seguir ao relaxamento ou à visualização pela
paz. Neste caso, fazemos o exercício chamado Humming, que
consiste em entoar algumas vezes o som de “hmmmm” com os
olhos fechados e os lábios se tocando suavemente.
Se preferir aterrar as pessoas apenas no fim da prática, pode
utilizar outras técnicas, como a sempre preferida do Dr. Kata-
ria: Dança Ho ho — ha ha.

236
encerramento

Fazemos assim: dizemos “ho ho” e empurramos o ar com as


mãos para frente. Dizemos “ha ha” e empurramos com as mãos
para baixo, dobrando os joelhos levemente a cada sílaba. “Ho
ho”, mãos empurram para frente; “ha ha”, mãos empurram
para baixo e pernas se flexionam. E por aí vai...
Particularmente, gosto de fazer o enraizamento bem no final
da sessão, como última fase da prática, e prefiro uma simples
dança com pisadas firmes. Normalmente, ponho uma música
bem conhecida, como a Waka waka, da Shakira, e peço que as
pessoas dancem livremente, batendo os pés no chão com força.
Assim, além de aterradas, as pessoas ainda terminam a sessão
com a energia lá em cima, e a descontração final é a última lem-
brança que levam para casa.
Um exercício que o Rafa adora fazer é o que ele chama de Dan-
ça do esquisito. Consiste em dançar de maneira completamente
livre e aleatória. Quando mais estranho melhor! E se começar a
aparecer qualquer lógica nos seus movimentos, você está fazen-
do isso errado. Essa é uma sugestão maravilhosa, que além de
oferecer muita diversão ainda desbloqueia a nossa criatividade.
Só não podemos nos esquecer de pedir para as pessoas pisarem
firmemente o solo durante a dança, pois sem isso pode acontecer
de elas se “elevarem” ainda mais do que antes.
Seja com o Humming, com a Dança Ho ho — ha ha, a Dança
do Esquisito, uma dança tribal, ou outro meio qualquer, o que
importa é encerrar a prática com as pessoas bem aterradas,
para que mesmo que tenham a cabeça nas estrelas, voltem para
suas rotinas com os pés firmes do chão.

4. Feedback

Não se trata apenas de uma sessão de comentários, nem um


livro de reclamações. Como o próprio nome já diz, o feedback

237
yoga do riso

tem tudo a ver com retroalimentar (feed = alimentar; back =


de volta).
Nesta fase da prática, as pessoas têm finalmente um espa-
ço para colocar em palavras aquilo que vivenciaram durante a
sessão. No nosso mundo atual, muitas vezes o que precisamos
é colocar para fora coisas que já não podemos mais guardar
dentro de nós. Ao final de uma sessão do riso, pode acontecer
de alguns participantes quererem compartilhar com os demais
aquilo que experimentaram. Por isso, temos neste momento o
nosso espaço de partilha mútua.
Infelizmente, poucas vezes temos tempo suficiente para ou-
vir tudo que todos os praticantes têm a dizer. Por isso, o líder
está sempre atento ao relógio e administra esta fase da melhor
maneira possível. Quando temos pouca gente, podemos permi-
tir que cada um fale um pouquinho mais, mas se a sessão está
cheia, costumamos pedir que cada um diga apenas uma palavra
ou uma curta frase. E nas sessões que contam com grupos muito
grandes, ou mesmo multidões, costumamos pedir que apenas
alguns participantes se manifestem, normalmente os que mais
quiserem. Às vezes fazemos uma espécie de jogo, em que algum
objeto simboliza o microfone e só quem o tem em mãos pode fa-
lar, até passar adiante, por um número determinado de pessoas.
É no feedback que o líder da sessão pode verificar claramente
o efeito da prática em cada um dos participantes. Muitas ve-
zes, acontece de o nosso ego perfeccionista estar pensando que
não fomos muito bem e os relatos dos participantes testemu-
nharem em sentido contrário. Várias foram as sessões em que
achei que tinha feito um mau trabalho e no final ouvi palavras
tão maravilhosas que me encheram de entusiasmo e energia
para seguir em frente.
Normalmente, os relatos nesta fase são sempre positivos,
dada a incrível eficiência que essa técnica carrega e os efeitos

238
encerramento

tão maravilhosos que produz nas pessoas que a experimen-


tam. Mesmo assim, para um feedback ainda mais produtivo, o
líder pode pedir que as pessoas citem aspectos da prática dos
quais não tenham gostado tanto. Assim, pode se “alimentar”
de informações úteis para aperfeiçoar o seu trabalho e conti-
nuar melhorando cada vez mais as suas práticas. Neste ponto,
convém registrar que a melhor forma de receber esse tipo de
feedback é em silêncio, sem responder absolutamente nada.
É importante deixar as pessoas livres para se expressarem e
apenas ouvir, filtrando para assimilar apenas o que lhe fizer
sentido.
Às vezes é um pouquinho desconfortável, mas como líder
da sessão atento ao horário, pode ser necessário interromper
as falas daqueles praticantes mais “empolgados”. Paciência. É
preciso seguir em frente. Seja sempre carinhoso e honesto, e
provavelmente nunca terá problemas com isso.

5. Slogans

Na minha formação de Professor de Yoga do Riso, que contou


com dezenas de sessões durante cinco dias intensos, percebi
que a mestra Lotte nunca fazia aquilo que Ana Banana chama-
va de slogans. Desde a minha primeira formação em Portugal
e durante todas as práticas que liderei, sempre finalizei as ses-
sões com este pequeno exercício. Por isso, mesmo depois de
ouvir que as pessoas estão parando de fazê-lo na Inglaterra e
em outros lugares do mundo, sigo repetindo este que para mim
é um dos componentes mais vibrantes da prática.
Fazemos assim:
Todos juntos, colocamos uma ou as duas mãos no centro do
círculo, umas sobre as outras, formando uma única pilha de
mãos sobrepostas. Então o líder entoa com vigor alguns “gritos

239
yoga do riso

de paz” (nunca de guerra), aos quais as pessoas respondem ele-


vando os braços ao alto com força.
Desse jeito:

Líder: somos as pessoas mais felizes do mundo!


Yeeh! (braços ao alto)
Líder: somos as pessoas mais saudáveis do mundo!
Yeeh! (braços ao alto)
Líder: somos o Clube do Riso __ (Nome do grupo)19!1
Yeeh! (braços ao alto)

Nas minhas práticas, costumo pedir que as pessoas também


colaborem sugerindo seus próprios gritos, enaltecendo outros
aspectos positivos e emanando boas vibrações para todos nós.
Nunca esqueço, porém, de lembrar que as mensagens não de-
vem conter um teor político ou religioso, evitando assim qual-
quer constrangimento.
É sempre uma alegria reverberar aquilo que de melhor as
pessoas têm para oferecer ao universo. Por isso, eu sempre vi-
bro com os slogans propostos pelos participantes, muitos dos
quais enaltecem os nossos sentimentos mais positivos ao som
de “viva o amor”, “viva a amizade”, dentre outros. Também é
sempre divertido rir com as ideias inovadoras que surgem da
espontaneidade criativa dos participantes e com os gritos mais
esdrúxulos, que surpreendem a todos e geram ainda mais gar-
galhadas.
Por tudo isso, ainda faço sim os slogans ao final das sessões.
Se você também quiser fazê-los, tem o meu apoio. Eu recomen-
do!

19
Ou: fizemos Yoga do Riso no espaço_______ (nome do local da prática)!

240
encerramento

6. Informes e avisos

Junto com os feedbacks ou ao fim da prática, costumamos


abrir um espaço para os avisos finais, informes etc. Aprovei-
tamos este momento para divulgar os próximos eventos e pro-
mover o Yoga do Riso. Mas também franqueamos a palavra
para que os participantes e também os anfitriões do espaço
que recebeu a sessão possam divulgar seus próprios trabalhos,
principalmente aqueles relacionados com a nossa prática.
Quando não há mais avisos a serem compartilhados, uma
simples e honesta expressão de gratidão pode ser a melhor ma-
neira de fechar enfim a sua sessão de Yoga do Riso.

241
21. Conselhos

O que a felicidade faria?

Minha avó dizia: “Se conselho fosse bom, você vendia”. Mesmo as-
sim, vou dar alguns aqui de graça, só porque quero que a sua
prática do riso seja a mais fantástica possível. São orientações
muito simples, que você pode adotar nos seus próprios treina-
mentos e também passar para as pessoas durante as suas práti-
cas em grupo, caso também venha a liderar sessões.
São quatro os conselhos básicos que costumo dar antes de
começar as minhas sessões em grupo. Depois, tem outras su-
gestõezinhas de amigo, que podem fazer sentido para você. Va-
mos a eles.

1. Não falar

Enquanto praticamos Yoga do Riso, o ideal é não pronunciar


palavra alguma, salvo se fizer parte de algum exercício especí-
fico. É que buscamos uma experiência para além da mente, e a
fala nos atrela ao nosso lado racional.
Ora, enquanto uma pessoa fala, não consegue rir. Quer ver
um exemplo? Tente cantar uma música muito conhecida e

243
yoga do riso

rir ao mesmo tempo. Mesmo sabendo bem a letra, você pro-


vavelmente não irá conseguir. Muito simples: ou você canta,
ou você ri. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
O máximo que podemos fazer — e até costumamos aplicar nas
nossas sessões do riso — é cantarolar a melodia de determina-
da música usando apenas o som de “ha ha ha”.
Lembre-se: a fala leva à mente, a mente não se cala e o riso
perde o seu espaço.

2. Olhar nos olhos

Quando estamos praticando o riso em grupo, é fundamental


que olhemos nos olhos uns dos outros. É que o riso contagia e o
contato visual faz com que a sua energia seja compartilhada entre
todos, gerando uma só vibração e formando uma redoma de ale-
gria que envolve o ambiente.
É claro, porém, que não precisamos invadir o espaço indi-
vidual de cada um com o nosso olhar. No Yoga do Riso, lan-
çamos aos outros o melhor olhar que podemos, sempre com
ternura, carinho e boa energia. Jamais entregamos olhares julga-
dores, inibidores, competitivos ou mal intencionados. Parti-
lhando olhares complacentes, estimulamos e apoiamos uns aos
outros, fortalecendo o nosso espírito de equipe e auxiliando-
-nos mutuamente no nosso próprio desenvolvimento.
Quando praticamos sozinhos, a melhor forma de olharmos
para nós próprios é com os olhos fechados. Voltados para dentro,
conseguimos enxergar aquilo que normalmente não vemos, por
estarmos sempre prestando atenção no que está do lado de
fora. A prática se torna mais intensa à medida que nos apro-
fundamos mais e mais no nosso universo particular, investi-
gando as raízes mais primitivas das nossas emoções e trazendo
para a superfície os traços às vezes guardados no inconsciente.

244
conselhos

É também com os olhos fechados que evitamos as distrações e


mantemos o foco no nosso trabalho, potencializando seus re-
sultados.

3. Não forçar o volume da risada

Veja, eu disse que o Yoga do Riso se baseia em praticar o riso


forçado, sem motivo, independente das circunstâncias. Mas eu
nunca disse que você precisa estourar a sua garganta para rir o
mais alto que puder. Bom, se der vontade, vá em frente: solte
a voz. Mas se não for o caso, relaxe. Ria sempre no tom que lhe
apetecer, simulando o riso quando não tiver vontade, mas nunca
forçando o seu volume.
Não se trata de uma competição de gargalhadas, não é para ver
quem ri mais alto. Não queremos que machuque as suas cordas
vocais, nem os ouvidos de quem está em volta. Falando sério,
não force a garganta. Encontre um volume confortável e prati-
que sempre de acordo com o seu próprio ritmo, estimulando-se
a evoluir sempre, mas nunca dando mais do que pode suportar.

4. Não procurar graça

O quarto conselho é talvez o mais importante de todos: não


procurar graça.
A nossa técnica, embora sirva para melhorá-lo, não depen-
de nada do humor. O maior erro cometido pelos iniciantes na
prática do Yoga do Riso é procurar graça suficiente que lhes faça
rir durante a sessão. Eu sei que os exercícios do riso, os jogos, as
brincadeiras e às vezes até os exercícios de aquecimento muitas
vezes são engraçados e muito divertidos. E não há nada de mal
nisso. Porém, temos que entender que não dependemos dessa
graça para rir.

245
yoga do riso

Nós praticamos o riso como um exercício, mesmo sem ne-


nhuma vontade, simulando a risada até encontrarmos em
nós próprios o riso incondicional, que não depende de piada
nenhuma. O maior contributo do Yoga do Riso para a huma-
nidade é justamente mostrar que não precisamos de abso-
lutamente nada para rir. Nesse sentido, podemos dizer que
não procuramos graça para rir, pois rimos “de graça”.
Agora vou dar uns conselhos extras, que muitas vezes não
cabem numa sessão do riso, mas que aqui têm espaço sufi-
ciente para aparecerem.

5. Esqueça o julgamento dos outros

O que as pessoas pensam não tem nada a ver com você,


não te diz respeito e você não tem nenhuma capacidade de
mudar.
Ora, cada um tem a sua própria visão do mundo, forma-
da por seu conjunto de valores, crenças, suas tradições,
preconceitos e história de vida. Pessoas diferentes olham
para a mesma coisa e veem coisas completamente distintas.
Preocupar-se com o que os outros pensam é uma armadilha
eficaz para arruinar a sua vida e agir de acordo com os con-
ceitos dos outros é entregar-lhes o comando do seu destino.
Essa pode ser a maior prisão em que nos podemos meter.
Minha sugestão é: toda vez que estiver praticando o riso
(ou o que quer que esteja fazendo) e os pensamentos julga-
dores — próprios ou alheios — aparecerem, dê uma garga-
lhada ainda maior. Essa é uma boa forma de mandar para
longe essa paranoia que nos atormenta diariamente e tenta
nos impedir de seguir o nosso próprio caminho, realizar os
nossos objetivos e cumprir os propósitos das nossas vidas.
Às vezes dá vergonha, eu sei. E sabe em que a vergonha te
ajuda na vida? Pois é: em nada.

246
conselhos

Quer surfar na onda dos outros? Vá em frente. Mas só quan-


do for uma onda que te faça mesmo bem, que esteja alinhada
com a sua própria caminhada, que contribua para a sua autor-
realização, a revelação de quem você é de verdade. Faça como
numa sessão do riso, em que nos deixamos levar pela risada
alheia só até o ponto em que encontramos o nosso próprio riso
e seguimos em frente a nossa própria jornada.
Assim é que é. As pessoas estão aí para caminhar conosco,
seja como for, mas cada um há-de fazer o próprio caminho.
Desejo que o seu seja exatamente aquilo que tiver que ser. E
que seja doce e alegre o mais possível. Que você extraia de cada
experiência, boa ou má, exatamente o que precisa para seguir a
sua própria jornada, seja lá qual for o seu caminho.
Não se preocupe com o que eles pensam. Nem com o que
eu penso. Você, mais do que ninguém, é quem sabe dos seus
próprios passos.

Para fechar (prometo!), digo só mais uma coisa.

6. Escolha a felicidade

Se, de tudo que você viu ao longo deste livro, nada lhe fizer sen-
tido, se você continuar sem vontade nenhuma de praticar essas
técnicas ou sequer se vir aderindo a essas ideias, guarde pelo
menos essa partezinha final: à sua maneira, do seu jeito, como
quer que você queira ou consiga, escolha sempre o caminho da
felicidade.

Eu sei que parece coisa de gente esotérica, mística e holística.


Mas eu vou te dar uma ferramenta prática para pôr isso em mar-
cha na sua vida real. Depois que passei a adotar essa técnica na
minha vida, tenho me impressionado com a quantidade de vezes

247
yoga do riso

em que consegui virar a chave e resolver situações de maneiras


antes inimagináveis.
A técnica é a seguinte: a qualquer momento, sempre que tiver
qualquer dúvida de como agir perante o que quer que seja, ou
quando estiver diante de uma situação difícil, cuja saída não é
fácil de encontrar, pergunte a si próprio:

Nesta situação, o que a felicidade faria?

248
A prática
individual:
rir sozinho
22. Rir por si

Risadas são férias instantâneas.


Milton Berle

Rir em grupo é uma delícia, quanto mais gente melhor. O riso


contagia e a vibração do pessoal todo reunido para praticar a
alegria é sempre estimulante. Faz bem, sim, senhor. Mas a ver-
dade é que a vida nem sempre é coletiva. Cada um de nós tem
os seus próprios momentos.
Sabe aquele tempinho do dia que dedicamos a nós pró-
prios? Que cuidamos de nós, que recarregamos nossas bate-
rias? Pois é, o riso pode ser o seu novo companheiro nesse
autocuidado.
Eu acredito que se todas as pessoas começassem o dia fazen-
do aquilo que mais lhes dá prazer, teríamos um mundo muito
melhor. Para mim, por exemplo, não existe hipótese de o dia
ser ruim se ele começar com uma boa sessão de surfe com os
amigos. No entanto, como o ideal nem sempre é possível — no
meu caso, por exemplo, nem sempre há ondas — existem ou-
tras tantas coisas que podemos fazer para começarmos bem a
nossa rotina diária.
Há quem faça uns alongamentos, quem prepare o café da
manhã preferido, quem converse com o espelho, quem medite

251
yoga do riso

ou faça Yoga, quem vá para a academia... Há muitas opções,


nós sabemos.
Da minha parte, eu hoje quero propor o seguinte: e se você
encaixar uns minutinhos de risada na sua rotina? Sim, é sério.
Dar umas gargalhadas a sós, na posição que quiser, sentada ou
deitada, no seu quarto ou em qualquer lugar.
Eu sei que vai parecer esquisito, que talvez você não dê muita
bola, ou que até acredite em mim, mas não se atreva a tentar.
Por isso eu não vou apenas sugerir, vou mostrar como fazer, e
como é tão simples que quando você perceber já vai estar cho-
rando de tanto gargalhar.
A capacidade de rir sozinho, sem qualquer motivo, é o sumo
do Yoga do Riso. É o néctar que derrama desta técnica formi-
dável. É aqui que colocamos em prática os ensinamentos todos,
que provamos a força da risada, que bebemos da fonte das suas
maravilhas. Cada um por si, dentro da intimidade das suas pró-
prias vidas, praticando o riso individual e reverberando para o
mundo a energia de cura que a alegria traz.
Quando o nosso querido Madan Kataria começou a viajar
pelo mundo para disseminar a técnica que criou, entrou num
ritmo de viagem tão intenso que começou a se ver estressado.
Os encontros com os companheiros de clube do riso começa-
ram a fazer falta e ele teve saudades de rir. Foi nesse período
que resolveu experimentar a prática do Yoga do Riso sozinho,
por conta própria, e gostou do resultado. Aos poucos, come-
çava a sentir efeitos similares aos de quando ria em grupo, e
passou praticar regularmente por alguns minutos, criando um
hábito. Foi aí que surgiu o conceito de “rir por si”.
Ao mesmo tempo, como ao redor do mundo os encontros dos
clubes do riso costumavam acontecer apenas uma vez por se-
mana — ou de quinze em quinze dias — os praticantes mais
assíduos aproveitaram a nova ideia do riso individual para pre-

252
rir por si

encher os outros dias da semana com as tão desejadas risadas.


Rir por si não é sobre assistir a uma comédia, ou rir de alguma
coisa. Tampouco é sobre fazer troça de si mesmo e rir de si
próprio. Aqui, a ideia ainda é rir sem qualquer motivo, como
um exercício, praticando o riso por conta própria, como uma
ginástica pessoal da gargalhada.
Para o Dr. Kataria, dois fatores são fundamentais para quem
quer começar a rir por si: ter vontade e não julgar o próprio
riso.
A disposição para a prática é o que vai definir o seu potencial.
Não é necessário ter vontade de rir, no sentido do humor, ape-
nas querer exercitar o riso, ou seja, ter aquele gostinho de parar
um momento para fazer algo benéfico a si próprio.
Também é essencial que não entre em zonas de julgamento,
não caia nas armadilhas do ego crítico que fica buzinando coi-
sas maldosas no nosso ouvido. Lembre-se sempre de que não
tem nada a ver com buscar motivos para rir, nem rir de ver-
dade. Trata-se de um treinamento como qualquer outro, mas
neste caso com todos os benefícios cientificamente comprova-
dos da gargalhada. Neste caminho, é muito útil substituir os
pensamentos ruins por outros mais motivadores. Também é
de grande ajuda adicionar sentimentos positivos enquanto ri,
e dizer a si mesmo palavras de autoestima, bem como celebrar
com alegria ao final de cada prática.
Uma forma interessante de começar a prática individual do
riso e adicioná-la à sua rotina é encarar o Desafio dos 40 Dias
de Riso, que consiste em rir todos os dias durante pelo menos
dez minutos seguidos, por quarenta dias. Um capítulo inteiro
deste volume foi dedicado a esse processo. Se você passou por
ele direto, agora é uma boa hora para lá voltar e conferir.
De qualquer maneira, em forma de desafio ou não, você pode
adicionar a prática do riso à sua vida como achar melhor. Con-

253
yoga do riso

tudo, algumas dicas serão sempre úteis para que a sua jornada
seja ainda mais suave, eficiente e divertida.
Primeiro, ter em mente que você é um ser único. Não existe
uma forma correta para rir. O principal de tudo nem é o riso
em si, mas a brincadeira, a ludicidade e o espírito infantil que é
acessado durante a prática. Com o tempo, você perceberá que
cada dia é diferente, e o volume da risada varia a cada práti-
ca. Não se preocupe, aprecie cada momento. E se não há uma
forma exata para rir, fique à vontade para fazer como quiser.
Acredite: a sua maneira está certa.

Por outro lado, se quiser seguir direitinho as diretrizes ideais


enviadas pelo mestre Kataria, então faça assim: escolha roupas
confortáveis, sente-se numa postura ereta e descontraída e pri-
meiro faça um ou alguns exercícios de respiração por pelo me-
nos dez a quinze minutos. Depois, pelo mesmo tempo, pratique
o riso com a boca e o peito bem abertos, vindo lá do abdômen.
Como já admiti aqui, para mim foi mais fácil estabelecer uma
meta inicial de apenas dez minutos de riso, que é o mínimo
para que o nosso organismo absorva por completo os seus be-
nefícios. E como pratico Yoga tradicional regularmente, tam-
bém dispensei os exercícios de respiração. Não é o ideal, eu sei,
mas para mim facilitou o processo. Foi assim que conclui vá-
rias vezes o desafio dos quarenta dias e adotei definitivamente
o hábito de rir na minha vida.
Outra coisa que ajuda muito é fazer uns exercícios de aque-
cimentos antes de começar a rir por si. Muitas vezes, sobre-
tudo logo cedinho pela manhã, não temos muito fôlego para
rir. Nesses casos, é muito útil dar uma ativada no corpo físico
para desbloquear a gargalhada. Você pode utilizar os próprios
exercícios do Yoga do Riso, como o “hoho-hahaha” e o “muito
bem, muito bem, yeeh”, ou também o “yupiii” — o preferido do

254
rir por si

primo Cláudio. Qualquer aquecimento, porém, é válido, e você


pode experimentar os que lhe fizerem melhor.
Eu gosto de mexer bem o corpo antes de rir (e durante as
risadas também). Pular corda fictícia, correr sem sair do lugar
e saltar o polichinelo são alguns dos meus exercícios preferidos
para afrouxar a gargalhada. Também costumo aquecer a voz,
fazendo sons engraçados com a boa e contraindo os músculos
do rosto com caretas aleatórias. Quando faço isso em frente ao
espelho, consigo umas risadas extras.
Na sua prática, use os métodos que forem mais úteis e diver-
tidos para si, dentro daquilo que sabe. Os amigos do teatro e
da música costumam usar técnicas de aquecimento vocal. Os
atletas fazem seus aquecimentos específicos. Os professores
podem fingir que estão diante da turma e fazer gestos próprios,
e por aí vai.
De qualquer modo, é importante lembrar que a prática de
“rir por si” não tem nenhuma necessidade de humor e, se por
um lado esses artifícios ajudam a desbloquear a risada, por ou-
tro a falta de graça não lhe deve impedir de rir. Lembre-se do
lema: “finge, finge, até que atinge”.
Durante o seu treinamento, porém, o que você pode sempre
fazer é aproveitar os exercícios do riso para estimular a sua ri-
sada. São vários os que podem ser aplicados no Yoga do Riso
sozinho, como o “riso do leão”, o “riso de um metro”, o “riso
aloooha”, o “riso do telefone”, entre outros. Sempre que quiser,
separe uns exercícios para lhe auxiliar durante a prática, prin-
cipalmente nos dias em que estiver mais difícil soltar a risada
sem vontade.
Depois de um tempo de prática, aprendi a me respeitar. Há
dias em que o volume do riso está mais baixo, é verdade. Mas
eu deixei de me preocupar com isso. Pelo contrário, comecei
a vivenciar esses momentos com a mesma alegria e gratidão

255
yoga do riso

com que encaro os dias mais eufóricos. Assim, passei a expe-


rimentar duas possibilidades igualmente benéficas: ou me sin-
to realizado pelo riso do tamanho que ele está ou esse mesmo
contentamento começa a me conduzir a gargalhadas cada vez
mais volumosas.
Por isso, a sugestão é que você não se atenha inicialmente
ao volume do riso. Durante dez minutos ou mais de prática, é
natural que a intensidade varie constantemente. Não se preo-
cupe. Siga seu treinamento, do jeito que for, e tente apreciar
cada fase do percurso.
Agora, atenção. Quando eu digo que a prática de rir por si se
dá por dez ou mais minutos seguidos, não quero dizer que você
deva desatinar a rir sem parar nem um instante sequer. Bom,
se essa for a sua vontade, maravilha. Mas saiba que está livre
para fazer pequenas pausas e, principalmente, parar um pou-
quinho para respirar. Aliás, uma técnica muito eficiente para
potencializar a risada é fazer algumas inspirações bem profun-
das, reter com o ar nos pulmões por alguns segundos e depois
explodir em gargalhadas, soltando o ar.
Também não é preciso estar sentado o tempo todo. Ora, o
Yoga do Riso é muito mais sobre o caos do que sobre a discipli-
na. Portanto, a qualquer momento da prática, deite e role pelo
chão. Levante, dê saltos, faça o que o corpo quiser. Deixe o riso
ser o guia, apontar-lhe o caminho. Deixe a criança reviver, não
reprima o seu carinho.

Na vida tão automatizada que temos levado hoje em dia,


qualquer rotina diária de autocuidados já é uma contribuição
enorme para nos trazer estados mais saudáveis. Dedicar um
tempinho ao riso, por sua vez, vai lhe dar benefícios tão fantás-
ticos que será muito natural que você não queira mais parar. O
riso feito de manhã vai mudar as cores do seu dia e seus efeitos

256
rir por si

positivos serão notados até a hora de deitar. Mesmo assim, a


prática pode ser feita a qualquer hora, com os mesmos bene-
fícios, sempre contribuindo para que você e todos a sua volta
sejam afetados pela “química feliz” da risada.
Você também pode rir no dia a dia, mesmo enquanto faz ou-
tras coisas. Pode rir enquanto anda, ou conduz o seu carro, ou
mesmo dentro dos transportes públicos. Sempre que tiver ver-
gonha, pode colocar o telefone no ouvido e fingir que está tendo
uma conversa engraçada. O telefone no ouvido é a chave que
dá permissão para rirmos em quase todos os lugares. Em casa,
pode rir no banho, no quarto ou em qualquer lado. Pode rir
enquanto faz as tarefas domésticas, ou cantarolar as músicas
preferidas ao som de “ha ha ha”.
No entanto, preciso admitir que nada substitui a prática con-
centrada do riso, isto é, aquela em que reservamos um período
de tempo apenas para rir e mais nada. Eu já tentei, por exem-
plo, rir enquanto leio um livro, vejo televisão ou organizo a mi-
nha mesa de trabalho. É melhor do que nada, claro, mas nem
se compara com o treinamento focado exclusivamente no riso.
Recentemente, comecei a adotar também um novo método
para estimular a minha própria risada e ainda espalhar por aí.
Simplesmente, pego no telefone e ligo para algum líder do riso
conhecido, ou um praticante assíduo qualquer. Assim que a
pessoa atende, pergunto se tem dez minutos disponíveis. Se a
resposta for positiva, então começo a rir e não paro mais. Do
outro lado, a pessoa logo entra no jogo e assim nós seguimos
até o fim dos dez minutos (ou mais). Chegada a hora, simples-
mente desejo tudo de bom e desligo a chamada. Uma ligação
inteira dedicada ao riso. Literalmente, uma “chamada da gar-
galhada”.
Nem sempre consigo rir sempre pela manhã. Vários foram
os dias em que ri no trânsito, na rua, no trem ou no metrô. O

257
yoga do riso

pessoal dos bairros por onde morei já me conhecia como “o


rapaz que vive rindo”. Também ri enquanto andava de bicicleta
e pulava corda, e mesmo tocando violão. Como disse no capí-
tulo sobre o desafio #40diasderiso, eu rio a qualquer hora e
em qualquer lugar, fazendo o que for. Deixei o mundo inteiro
me ver como uma pessoa que ri bastante. Dessa forma, mesmo
que alguém me considere meio maluco ou que o ambiente não
seja tão adequado, ainda assim eu tenho o principal, que é a
permissão para rir sempre que quiser.
Ah, só para registrar: eu costumo rir antes dos meus princi-
pais trabalhos, como forma de me preparar. É muito útil, por
exemplo, para afastar inibições antes de uma palestra ou para
inspirar antes de uma sessão do riso. Também é fundamen-
tal para me preparar para as aulas da formação, para chegar
diante da turma com a vibração da gargalhada bem presente
em mim. Ah, eu também tenho rido antes de me sentar para
escrever este livro e muitas vezes ainda solto também umas
gargalhadas durante o processo da escrita. Agora mesmo, vou
dar uma risada. Ah, que delícia!
E você, tá a fim de rir? Pois então vamos em frente. Pode
ser agora mesmo. Onde quer que esteja, comece a soltar a sua
risada. Ha... Ha... Ha... Se houver gente olhando, não tem pro-
blema. Abra bem a capa deste livro de modo que todos possam
ler do que se trata. O título desde volume também é uma chave
que te permite rir em qualquer lugar. Vamos lá, coragem. For-
ça nessa barriga! Vamos colocar para fora toda gargalhada que
quiser se libertar!

258
23. Até a próxima!

Seu corpo não pode se curar sem brincar.


Sua mente não pode se curar sem rir.
Sua alma não pode se curar sem alegria.
Catherine Fenwick

Nem tudo são flores nessa vida — todos nós já percebemos isso.
Nem o riso vai lhe trazer imediatamente tudo o que você preci-
sa, eu garanto. As coisas nem sempre são fáceis, os resultados
às vezes não são automáticos, e nem tudo acontece como pla-
nejamos.
O certo é que algumas vezes, pela razão que for, nós sofre-
mos.
Quando somos enganados por uma pessoa querida, quando
sofremos um prejuízo financeiro ou quando perdemos um ente
estimado, por exemplo, é natural que nos sintamos mal. Se
perdemos o emprego, sofremos um acidente, ou se aquela pes-
soa que tanto amamos decide terminar a relação, normalmente
lamentamos. Esses são alguns dos infinitos motivos que mui-
tas vezes nos abalam e nos enchem de tristeza, mesmo quando
acreditamos já estarmos calejados pelas coisas da vida. Sofrer
de vez em quando é mesmo inevitável. Ainda bem.
Olhe para trás. Lembre-se daquele momento difícil pelo qual
passou, daquilo que lhe trouxe dor, que lhe fez chorar. Eu sei,
às vezes não é fácil fazer isso. Normalmente, evitamos encarar

259
yoga do riso

certas passagens menos alegres da nossa vida. Mas, se puder,


faça isso. Escolha qualquer desses momentos e olhe bem para
ele. Agora me diga: quantos aprendizados colheu dali?
Aprender é a nossa natureza. Não aprender é que é impossí-
vel. Se viveu uma experiência, qualquer que seja ela, tirou dali
algum ensinamento. Quando sofremos, especialmente, apren-
demos ainda mais.
É preciso sofrer para aprender? Não, necessariamente.
Aprendemos sempre, com a dor ou com a alegria. Mas, de fato,
existe certo poder extra de crescimento dentro dos momentos
mais difíceis. Quem já passou por algo do tipo, sabe do que
estou falando. Tornamo-nos mais fortes, olhamos para o mun-
do com mais clareza, amaduremos. É como se fosse um curso
intensivo naquela determinada matéria.
Sem experimentar o sofrimento, o que saberíamos da felici-
dade? Sem o desamor, como conheceríamos o amar? Sem vi-
venciar a doença, quanto valorizaríamos a saúde?
O Yoga do Riso, definitivamente, não vai resolver de imedia-
to todos os problemas da sua vida. Eu sei que o meu entusias-
mo por esta técnica faz com que eu fale dela como a salvação
contra todo o mal. E, no fundo, é! Mas, honestamente, é claro
que não é tão simples assim.
De fato, o riso não vai lhe dar tudo o que precisa, nem curar
todas as mazelas assim, num instante. Por outro lado, uma coi-
sa é certa: o que a risada não resolver por si própria, vai auxiliar
para que a solução chegue. Vai clarear as coisas e ajudar-lhe a
ver o caminho. E mesmo não curando tudo de logo, cedo ou
tarde a resposta vai aparecer, a convite do estado de alegria
constante que a prática do riso trará.
Ou seja: o riso não cura tudo e não resolve tudo imediata-
mente. Mas ajuda sempre, atrai as soluções adequadas e nos
encaminha para a solução, no seu tempo.

260
até a próxima!

Eu, por exemplo, tenho utilizado o riso em todos os momen-


tos da minha vida. Quando minha cachorrinha teve o diag-
nóstico de câncer, foi rindo que eu consegui vivenciar a dor,
me reerguer, sair do lamento e partir para a ação. Foi assim
também quando me acidentei e parti a mão, ficando quase seis
meses sem suas funções. O riso foi quem me ajudou a ver além
das adversidades e aproveitar todas as maravilhas que ainda
estavam aqui. Quando vivenciei uma desilusão amorosa, o riso
esteve aqui para me ajudar a mergulhar no mais profundo das
emoções, restaurar as feridas e seguir adiante. E por aí vai…
A gargalhada resolve tudo sozinha? Claro que não. Mas ela
é um ótimo passo para enfrentarmos os altos e baixos da vida
com uma atitude mais positiva. É ela quem convoca todas as
falanges da cura, quem atrai os aliados do nosso progresso e
nos encaminha para a resolução dos problemas mais cascudos.
O riso está aqui dentro de nós, sempre a postos, sempre gra-
tuito, sempre disponível para nos socorrer, quando quer que
seja. Mesmo nas situações mais difíceis — quando menos nos
apetece rir — ele se mantém pronto para o que der e vier.
Eu não tenho qualquer razão para “vender” o riso. Não estou
aqui para lhe convencer a comprar um produto ou a pagar por
uma resposta qualquer. Há vários anos, tenho me dedicado a
auxiliar as pessoas a terem vidas mais sanas, felizes e harmo-
niosas. Tenho muita coisa para dizer, aprendi muito para en-
sinar. Mesmo assim, se eu só pudesse dizer uma única coisa,
diria: simplesmente, ria.
Essa é uma oferta gratuita. Aliás, não é oferta, porque não
estou lhe dando nada. É só um lembrete, para lhe recordar de
que uma poderosa ferramenta de cura está guardadinha dentro
de você. Não é preciso comprar nada, nem se matricular em
curso nenhum. Não é preciso equipamento específico, nem um
espaço adequado. Nada. Você não precisa de nada que já não
tenha consigo.

261
yoga do riso

Este é meu último alento, minhas últimas palavras para lhe


convencer a acionar esse potencial de alegria, paz e amor que
dorme dentro de si. Com muita honestidade eu admito: quero
que você ria mais.
No entanto, se chegou até aqui e ainda não se sentiu tocada(o)
pela ideia de praticar o riso sem motivo, não tem problema.
Acredito que a semente foi plantada. Em algum momento da
sua vida, vai se lembrar de alguma coisa que viu aqui — é a
plantinha crescendo. Quem sabe, a risada não aparece num
momento desafiador e te ergue de volta para o seu estado mais
brilhante. Ou quem sabe a gargalhada não aparece mais solta
num momento de alegria. De uma forma ou de outra, sei que
algo já mudou. Em você, ao terminar de ler. Em mim, por ter
tido esse contato consigo.
Agora, um pedido. Se terminou de ler este volume e não pre-
tende utilizá-lo para consultas, preparação de aulas etc., quero
que me faça um favor. Pegue nele e ofereça a quem achar que
pode dele se beneficiar. Pense em qualquer pessoa para quem
este livro possa ser útil e lhe dê de presente. Assim, você tam-
bém estará servindo ao propósito de espalhar a gargalhada por
aí, e contribuindo para atingirmos o nosso maior objetivo, que
é a paz mundial através do riso. Tenho a certeza de que o bene-
fício proporcionado por esse gesto será tão grande que voltará
até você, como uma retroalimentação de alegria e amor.
Por outro lado, se pretende seguir a estrada mais alegre do
mundo — a estrada do riso — então continuamos por aqui. Se
quer trazer a risada para a sua vida, como um hábito, mante-
nha este manual sempre por perto. Pratique o riso diariamen-
te, aceite o desafio dos quarenta dias, siga as orientações e crie
suas próprias alternativas. E se quiser ser um semeador da gar-
galhada, um (a) verdadeiro (a) Líder de Yoga do Riso, pode já
começar quando quiser. Use este livro como um guia, um ma-

262
até a próxima!

terial de estudo cons-tante, e se atire com tudo nesta jornada.


Qualquer coisa que precisar, conte comigo. Serei feliz em poder
ajudar no que puder.
De uma forma ou de outra, estamos juntos nesta. Desejo,
com o coração cheio de amor, que nos encontremos mais vezes
pelo caminho, e possamos compartilhar outras alegrias.
Por ora, fica a minha imensa gratidão pelo tempo que passa-
mos aqui, pela sua confiança e abertura, e por ter se disponibi-
lizado a ouvir o que eu queria tanto lhe falar.
Torço que, de qualquer forma, tenha sido tão bom — ou me-
lhor — para si como foi para mim, e que nesse “até breve” eu lhe
deixe um pouquinho mais alegre do que quando lhe encontrei.
Não tenha dúvida: do lado de cá, sou uma pessoa melhor por-
que cruzei consigo.
Até a próxima!

263
Parte 3
Anexos
Anexo 1
MODELO DE SESSÃO COMPLETA
(Laughter Yoga International)

1 Apresentação do Líder

5 Pontos
• Conceito único (rir sem motivo)...
• Iniciamos o riso a partir de exercícios...
• Chamamos de Yoga do Riso porque...

2
• Baseia-se no fato científico...
• Foi criado em 1995...

3 Razões
• Estender o riso de 3a 5 seg. para 10 a 15 min...

3
• Riso alto, profundo, do coração, usando o diafragma...
• Incondicional (não abandonado à sorte)...

Benefícios
• Pessoal — aumenta o humor em minutos...
• Saúde — diminui o stress e aumenta o sistema imune...
• Profissional — mais oxigénio no corpo e cérebro...
• Resiliência — ajuda a encarar os altos e baixos...
• Social — conecta as pessoas e cria relações de partilha

4
e cuidado...

267
4 Passos
• Apresenta o “hoho-hahaha”
• Apresenta o respiratório
• Apresenta o espírito infantil (“muito bem, muito bem, yeeh”)
• Apresenta os exercícios do riso

5
+/- 12 Exercícios (intercalados com respiração, “hoho-hahaha”,
“muito bem, muito bem, yeeh”, brincadeiras e jogos)

Meditação do Riso

6
• Sentada e/ou deitada (mínimo 10 min, de acordo com o
tempo disponível)

7
Relaxamento
• Yoga Nidra, silêncio, música...

8 Visualização pela paz mundial

9 Enraizamento (também pode ser feito no final)

10 Feedback

11 Slogans

12
Avisos e despedidas
+ Enraizamento (se não tiver sido feito)

268
Anexo 2
MODELO DE SESSÃO COMPLETA
(Joanne Helms — Ana Banana)

1 Apresentação do Líder

O que é Yoga do Riso

2
“O Yoga do Riso é uma mistura de exercícios lúdicos do Riso
e técnicas de respiração de yoga”.

História de Yoga do Riso


“O Yoga do Riso foi criado pelo Dr. Madan Kataria, um
médico indiano, em 1995 com o objectivo de disponibilizar

3
os benefícios do riso e de realizar paz mundial através do
Riso.

Benefícios
Por exemplo: “O Riso reduz o stress, porque é um relaxante
físico e também mental. Rir produz endorfinas, hormônios

4
responsáveis para o nosso bem-estar. O Riso é um analgésico
natural.”

Respiração
“Inspire pelo nariz enquanto levantamos e esticamos os
braços para cima. Segure a respiração... E expire enquanto

5
vamos com as mãos ao chão, com muito cuidado.” Repetir
várias vezes, também durante a sessão.

269
Aquecimento / Jogos / Chanting

6
Divirtam-se com um jogo de quebra gelos, dinâmica de
grupo, alongamentos ou chanting.

Hoho-hahahah — palmas
• Dar palmas em ritmo 1-2, 1-2-3.
• Junte um som: ho-ho, há-há-há
• Junte um movimento: ho-ho para baixo no centro,

7
há-há-há para cima alternando uma vez a direito,
outra vez a esquerdo

Conselhos

8
• “Importante ter contacto visual com os outros”
• O Riso simulado já é benéfico: “Finge, finge até que atinge!”

Exercícios do riso (duração ideal 30 minutos)

9
(A volta de 12 exercícios, intercalado com uma canção, um jogo e/ou
uma dança...)

10 Meditação do riso sentada (duração ideal 10-15 minutos)

270
11 Meditação do riso deitada (duração ideal 10-15 minutos)

Relaxamento

12
Pode ser simplesmente com música relaxante ou um relaxamento
guiado

13 Visualização de Paz Mundial

14 Feedback (Pergunte ao grupo como se sente)

15 Slogans (Para encerrar a sessão)

16
Enraizamento
Dançar com o som de ho-ho há-há-há ou dança tribal

271
Anexo 3
MODELO DE SESSÃO COMPLETA
(Sandro Lobo)

Quebra-Gelos das apresentações


“O Yoga em círculo, cada um diz o seu nome seguido
de “hahaha”, depois a profissão e o lugar de onde

1
vem, sempre seguidos de “hahaha”. Todos em volta
acompanham o “hahaha”.

Apresentação do Yoga do Riso


• 5 pontos

2
• 3 razões
• Benefícios

Aquecimento
“Sob o comando do líder, as pessoas abanam cada parte do
corpo com vigor, dos pés à cabeça, e em seguida o corpo

3
inteiro, movendo-se freneticamente enquanto soltam
barulhos aleatórios pela boca.

Hoho-hahaha

4
Líder explica as palmas, o ritmo, a vocalização e sugere
variações.

Respiração

5
Inspira elevando os braços e expira baixando, soltando o ar
pela boca (2 vezes).

272
6
“Muito bem, muito bem, yeê”
Líder demonstra e depois as pessoas o seguem 2 vezes.

Conselhos
• Contato visual

7
• Não procurar graça (“finge, finge até que atinge”)
• Não forçar a garganta.

Exercícios (Bloco 1 — Introdução)


• Riso do cumprimento

8
• Riso do abraço
• Riso do abraço no amigo que não vê há muito tempo.

9
Brincadeira
Banho da gargalhada.

Exercícios (Bloco 2 — Temático “Ao acordar”)


• Riso do fio mental

10
• Creme do riso
• Riso da vitamina (batido)

273
Brincadeira 2
Ataque ao rabo (bumbum) — em duplas, mãos direitas unidas, os

11
oponentes tentam se golpear com palmadas no bumbum, enquanto
também procuram se esquivar.

Exercícios (Bloco 3 — Preparação para Meditação)


• Em círculo, olhar para os outros e rir
• Riso das emoções
• Riso da tristeza, da raiva, do medo, da alegria...
• Riso em silêncio

12
• Riso do coração (muito barulhento)
• Riso do balanço (3 vezes) — a última já se prepara para sentar

Meditação do Riso Sentada

13
• Sentadas bem juntinhas, as pessoas se olham e riem sem motivo
por cerca de 3 minutos.

Meditação do Riso Deitada


• Formação caótica com a cabeça na barriga (3 min.)

14
• Formação caótica sem contato. Olhos fechados e luz apagada (4
min.)

15
Relaxamento
Música ambiental (barulho de chuva ou do mar: 5 min.)

274
Visualização pela Paz Mundial

16
Mentalizar pessoas com sorriso honesto e genuíno no rosto (máx.
2 min.)

Feedback

17
Ainda sob o efeito do relaxamento, cada um diz uma palavra do que
sentiu.

18 Avisos

Slogans
“Somos as pessoas mais felizes do mundo!

19
Somos as pessoas mais saudáveis do mundo!
Somos o Clube do Riso/Grupo ___________!”

Enraizamento

20
Música percussiva e dança do esquisito com pisadas
firmes.

275
Anexo 4
40 EXERCÍCIOS DO RISO FUNDAMENTAIS
(Laughter Yoga Internacional)

Riso de Namaste
Circule pela sala com as palmas das mãos unidas, e cumprimente as
pessoas ao estilo indiano (Namaste), ao som de “hahaha”.
Variação: Riso do cumprimento ocidental. O grupo circula
cumprimentando uns dos outros com um aperto de mão,
contato visual e muito “hahaha”.

Riso do Batido/ Vitamina/ Milkshake


Imagine que segura nas mãos dois copos, e consoante as instru-
ções do líder ponha o leite de um copo para o outro ao mesmo
tempo em que se canta: Ahhh, ahhh, ahhh…, depois todas as
pessoas riem ao beber esse batido.
(repita 3 vezes)

Riso do Telemóvel
Imagina que tens um telemóvel e ri das piadas do seu amigo ima-
ginário ao telefone, interage com os outros enquanto ris. Tam-
bém pode ser feito individualmente, quando estamos na rua e
nos apetece rir.

276
Riso da Factura de Visa/ Telefone/ Luz/ etc
Vamos agora abrir a carta com a factura de… (fazendo o mesmo
em gestos em simultâneo com o grupo inteiro), olhamos para um
montante ridículo a pagar e rimos. Circule pelo grupo e partilhe
a sua factura com muitas gargalhadas.

Simplesmente Rir
Circulando pelo grupo rimos, fazendo contacto de olhos com os
outros membros do grupo.

Riso do Argumento
Ria apontando o dedo a diferentes membros como se estivesse
a argumentar, movendo-se pelo grupo. Pode ser feito formando
dois grupos, um em frente ao outro.

Riso de um Metro
Estique um braço e mova o outro por cima desse alongando
o ombro (como se estivesse a mandar uma flecha segurando
num arco). Mova o braço para fazer 3 lançamentos e cante ao
mesmo tempo: aiii… aiii… aiii… de repente abra-se alongando
ambos os braços e com a cabeça um pouco para trás, os partici-
pantes riem. (repita 3 vezes)

Riso do Coração
Os pés estão separados pelos ombros. Espalhe os braços até o
céu, incline a cabeça para trás e solte uma grande risada que
sacode todo o seu coração.

277
Riso do Balanço (Baloiço)
Faça um círculo de pessoas com as mãos dadas e mova-se em di-
recção ao centro com o som de uma gargalhada Aaaahahaha….
Volte a abrir o círculo e na próxima escolha outra vogal para
rir até fazer vários encontros no centro Eehehehe… Iiiihihihi…
Oooohohoho… Uuuuhuhuhu…

Riso do Leão
Ponha a língua de fora, olhos bem abertos e as mãos como as
garras de um leão… e comece a rir com um riso que vem da
barriga, movendo-se pelo grupo. Este exercício é óptimo para os
músculos da cara, do pescoço e para relaxar corpo e mente.

Riso da Apreciação/ Gratidão


Olhe para as pessoas, aprecie-as e ria-te, fazendo gestos de
apreciação e aprovação.

Riso do Perdão/ Desculpas


Imediatamente depois do riso do argumento agarre nas pon-
tas das orelhas e ria enquanto abana a cabeça (estilo india-
no) ou levante as suas palmas das mãos e ria ao mesmo tempo,
como se estivesse a pedir desculpas.

Rir de nós próprios


É o melhor riso que podemos fazer. Apontamos para nós pró-
prios e rimos. Assumimos assim que somos plenamente res-
ponsáveis pela nossa diversão.

278
Riso do Choque Elétrico
Tocamos com um dedo o dedo do outro participante e fingimos
um “choque”.

Riso do Piri-Piri/ Sopa Quente


Hihihi como se estivéssemos a queimar a garganta por
ter ingerido alguma coisa quente ou picante. Huhuhuh.
Hahahahahahaha.

Riso Aloha (A-lo-haaa!)


Levante os braços, erga o queixo e comece a dizer “Ahhhlooo”
numa crescente e então termine soltando um alto “Haaaaaaa”,
rindo com entusiasmo e se atirando para frente (de pé ou de joe-
lhos com almofadas à frente).

Creme do Riso
Aperte o tubo da creme e aplique em si mesmo ou aos outros
a rir.

Rir do Pássaro
Estenda os braços como um pássaro, bata suas “asas”, decole,
derive e voe em todas as direções diferentes.
Variação: “Riso da Galinha”: dobre os cotovelos para simular
as asas de uma galinha, abaixe e se mova como galinhas ao som
de hahaha.

Riso do “sem um tostão”


Exibimos os bolsos vazios enquanto rimos.

279
Riso do Fio Mental
Limpamos o cérebro usando um fio mental (em vez do fio den-
tal), que entra e sai pelas orelhas. Com gestos grandes e muitas
gargalhadas hihihihhi. Também podemos ajudar os outros a
limpar os seus cérebros.

Riso do Jackpot
Entramos em euforia total a rir porque ganhamos a loteria.

Riso de Calcutá
Com as mãos na frente, exclamamos “Ho, Ho” empurrando
fortemente para baixo com cada expiração, e a seguir exclama-
mos “Há, Há” empurrando fortemente para a frente com cada
expiração. O objectivo é exalar bastante, a partir do diafragma.
O Riso de Calcutá é um bom exercício para enraizar. É útil para
preparar o corpo e o diafragma para a meditação do riso e tam-
bém pode ser usado para ajudar na preparação de situações
estressantes.

Riso do Choro
Vamos descer a chorar dobrando os joelhos e subir a rir.

Riso Crescente
Começamos a rir suavemente e depois vamos subindo o volume,
sempre em contacto com todos os membros do grupo, até se
chegar a um riso intenso.
Variação 1: depois os membros passam para um riso do coração e
gradualmente começam a rir cada vez mais baixo até pararem.
Variação 2: em silencio.

280
Riso do Abraço
Encontramos os membros do grupo e abraçamo-nos a rir.

Centro do Riso
Apontar o dedo para a cabeça, procurar, encontrar e indicar o
centro do riso no cérebro (pode estar em qualquer lugar: tem-
plo, coroa, cume occipital ou na parte de trás).

Riso Silencioso
Ria com a boca aberta e a partir da barriga, olhando nos olhos uns
dos outros, fazendo expressões faciais cómicas (caretas), mas
sem produzir som algum.

Riso da Timidez ou Riso Envergonhado


Interagimos e tapamos a cara, olhamos para os outros desta-
pando — rindo — e voltando a tapar como se tivéssemos ver-
gonha.

Riso do Elevador
O grupo fica de pé bem juntinho, como num elevador de-
masiado cheio e ri.
Variação 1: O elevador balança e rimos.
Variação 2: A cada andar para cima a porta se abre e rimos ain-
da mais (ou menos, se estiver a descer).

Orquestra do Riso
Cada participante finge de tocar um instrumento a rir. Um
maestro dirige.

281
Riso da Motocicleta
Andar como se estivesse a conduzir uma motocicleta a rir.
Variação 1: Mota que demora a funcionar: Tente ligar a mota al-
gumas vezes pisando no local adequado e acelerando com a
mão (haha... hahaha...) até que ela funciona e você sai pilotan-
do e rindo ahahahaha.
Variação 2: Riso do Barco a Motor: ligue o motor do barco pu-
xando a corda haha.. hahaha... e quando ele funcionar saia pela
sala guiando o barco e rindo hahahahaha

Riso Criativo
Uma por vez, cada pessoa faz sons, caretas e gestos livres, es-
pontâneos, criativos e divertidos por um minuto (ou outro tem-
po adequado), enquanto os outros observam e reagem a rir de
forma divertida.

282
RISOS TEMÁTICOS
(o líder conta uma história, e os participantes atuam a rir)

Risos do Aeroporto
Aeroporto
1. você está atrasado, corra com bolsas.
2. Obter cartão de embarque.
3. Dê adeus às malas, que vão desaparecendo na correia trans-
portadora.
4. Entre no avião.

Dentro do Vôo
Comissários de bordo demonstram os procedimentos de se-
gurança:
1. Mostrar saídas de emergência (na frente, atrás, para os lados).
2. Como operar o cinto de segurança.
3. Retirar e pôr a máscara de oxigênio (colocar a própria más-
cara e só em seguida colocar a do outro).
4. Como inflar o colete salva-vidas (soprando nele e rindo). 5.
Pergunte (e oferecer) instruções na chegada ao destino (tudo
em Gibberish).
6. Mostrar fotos que você tirou na viagem (perceber que você
deixou a tampa da lente fechada e estão todas em branco); dei-
te-as fora, você é livre!!!

Risos das Tarefas Domésticas


Lavar pratos; passar o aspirador de pó; limpar janelas;
passar a ferro e dobrar a roupa; etc.

283
Risos da Reanimação da Vítima
1. um grupo de risonhos encontra uma pessoa inconsciente; 2.
em Gibberish, discutem por alguns momentos sobre chamar ou
não a ajuda de emergência.
3. Decidem que “tudo que precisam fazer é compartilhar a
energia do riso”.
4. Todos colocam suas mãos sobre a pessoa, emitindo a ener-
gia do riso (e rindo);
5. a pessoa “inconsciente” recupera lentamente a consciência.
6. Todos celebram juntos.

Risos da Festa
Use vários exercícios anteriores:
1. conheça os festeiros (saudação/cumprimento e Namaste); 2.
“Ops, deixei algo em casa” (então faça o riso do telefone móvel);
3. Serviram comida muito apimentada (riso da sopa quente).
4. Fazer grupos de dois e três e rir uns com os outros sob efeito de
bebidas imaginárias.
5. Ter conversas muito engraçadas e cheias de piadas (inteira-
mente em Gibberish).

284
EXERCÍCIOS DO RISO NO CHÃO
(posições de meditação do riso deitada)

Riso com a Cabeça na Barriga


Deite-se de costas, corpos em ângulo reto (com a cabeça na bar-
riga do outro e a cabeça de outra pessoa na sua barriga). Deixe
o riso sair!

Riso Olho de Boi (também conhecido como “Riso do


Girassol”)
Deite-se com as costas no chão e a cabeça voltada para o centro
do círculo e os pés para a periferia (parecendo as pétalas de uma
flor, ou um alvo). Faça meditação do riso (rir sem motivo).

Riso Centopeia
Deitar em uma linha no chão, todos de costas. A primeira
pessoa tem a cabeça para o centro e os pés para a direita; a
próxima coloca a cabeça ao lado da primeira pessoa (sua cabeça
em direção ao centro), mas com os pés à esquerda. (Sua cabeça
está bem ao lado da próxima pessoa, enquanto seu corpo se es-
tende na direção oposta ao seu próprio corpo).

285
Variantes / brincadeiras
1. Pedale com as pernas no ar, como ao andar de bicicleta. 2.
Levante as mãos, segure/toque as mãos dos outros.
3. Segure os joelhos bem perto do peito.
4. Braços acima, pedale no ar e agite os braços/mexa os dedos das
mãos estendidas.
5. Sente-se de costas, cotovelos entrelaçados.
6. Sente-se de costas com costas, cruze os braços à frente, pe-
gando as mãos das pessoas dos lados (ou atrás de você) — com
as mãos invertidas (ou seja, a mão direita vai segurar a mão da
pessoa à esquerda e vice versa).

Variação Zíper (fecho ecler)


O grupo se senta em duas filas no chão, costas contra costas, de
maneira que cada um tem um parceiro para encostar e que to-
dos os corpos se tocam na fila. Nesta posição podemos dar uma
massagem de costas um ao outro. Agora inclinam todas as suas
cabeças ao seu lado direito e depois para traz para que a cabeça
deite no ombro da outra pessoa que está atrás. Cada um começa
a escorregar para frente até que todos fiquem deitados no chão
cada um com a cabeça no ombro de outra pessoa. Em vez de ser
feito em filas pode ser feito em pares (Ana Banana).

Riso do Remo
O grupo se senta no chão em fila indiana com pernas abertas
e imita o movimento de remar com os sons Aêêê... Aêêê... de
2 a 4 vezes (ou “Ho, Há, Ho, Há, Ho, Há…”). Depois, sob o
comando do Líder deitam-se para trás para descansar sobre o
corpo da pessoa que está atrás [É aconselhável para grupos que
se conhecem bem para permitir esta proximidade.
Grupos com menor intimidade podem fazer com as pernas cru-
zadas, embora não seja anatomicamente tão confortável]

286
Anexo 5
LISTA DE OUTROS EXERCÍCIOS DO RISO
(Laughter Yoga Internacional)

Riso do Avião
Abra os braços lateralmente como um avião e voe pela sala a rir.

Riso do Aeroporto
1. Imagine que você está atrasado para o aeroporto e corra a ri
com bolsas pesadas;
2. Finja ser o hospedeiro do voo passando as instruções de se-
gurança a rir (apontando portas de saída, colocando cinto de
segurança, demonstrando como se põe a máscara de oxigênio,
o colete salva-vidas, etc)

Riso do Cumprimento Alienígena


Coloque suas mãos na cabeça como antenas e se mova dizendo
“AAAHHHEEEEE!!” como uma saudação alienígena entre os
participantes.

Riso do Exército
Marche como soldado e saúde os outros a rir.

287
Riso Formigas na Cueca
Corra pela sala a gritar e rir como se suas calças estivessem cheias
de formigas!

Riso do Aeroporto
1. Imagine que você está atrasado para o aeroporto e corra a ri
com bolsas pesadas;
2. Finja ser o hospedeiro do voo passando as instruções de se-
gurança a rir (apontando portas de saída, colocando cinto de
segurança, demonstrando como se põe a máscara de oxigênio,
o colete salva-vidas, etc)

Riso do Cumprimento Alienígena


Coloque suas mãos na cabeça como antenas e se mova dizendo
“AAAHHHEEEEE!!” como uma saudação alienígena entre os
participantes.

Riso do Exército
Marche como soldado e saúde os outros a rir.

Riso do Balão
Use balões reais e bata-os, chute-os, arremesse-os e atire-os.
Toda vez que alguém faz contato com o balão, deve rir abun-
dantemente. Este é mesmo um treino físico de verdade e pode
mantê-lo a rir por um tempo.

Riso do Estoura-Balões
Use faça de conta que todos os participantes têm balões
amarrados aos tornozelos. A brincadeira é tentar estourar os
balões dos outros e rir.

288
Riso do Grito Bárbaro
Um de cada vez ou todo o grupo junto anda até o meio do círcu-
lo, planta firmemente dos pés com as pernas afastadas, estende
os braços para cima e solta um grande e longo grito bárbaro,
indo em seguida para o outro lado.

Riso do Concurso de Beleza


Organize o grupo disposto como se fossem os finalistas de um
concurso de beleza e chame o nome de cada pessoa (ou peça
para cada um chamar seu próprio nome) e deixe-os reagir e
agir como se fossem os vencedores.

Riso do Salto
Salte aleatoriamente pelo espaço e ria com os demais.

Riso do Boliche (Bowling)


Lance uma bola de boliche imaginária e comemore com muita
gargalhada se você conseguir um strike. Experimente que todos
façam ao mesmo tempo, em uníssono, para um maior impacto.

Riso do “Bunny Hop”


Fique em uma linha com os braços nos ombros da pessoa na
frente de você e ria o bunny hop. Ha ha ha!

Riso do Carro de Bate-Bate


Coloque seus braços na frente e suas mãos com as palmas para
frente como para-choques. Corra aleatoriamente e entre em
contato com as mãos de outras pessoas. A cada choque, uma
gargalhada!

289
Riso do “Chama a Mim”
Levante a mão e agite insistentemente, fazendo sons graciosos do
riso, para ser chamado pelo professor. Peça a uma pessoa para
que seja a(o) professora(o) e chamar os outros, que celebram
muito (a rir) quando são escolhidos.

Risos do Carro
Imagine que esses cenários estão acontecendo com o carro en-
quanto ri:
1. ligar o carro com quatro arranques na barriga
2. dirigir a rir e acenar para as outras pessoas
3. o carro deixa de funcionar e você discute em Gibberish com ele
4. verifique a varinha de medição de óleo, perceba que ela não
tem fim, e ria disso
5. bombeie o pneu com riso
6. dirija para longe rindo feliz

Riso da Celebração
Todos se aconchegam em um pequeno círculo, então o líder conta
um segredo e todos celebram a rir de forma selvagem. Peça a
outros voluntários para compartilhar um segredo. Pode ser feito
em Gibberish.

Riso do Beliscão
Andamos pela sala a rimos enquanto beliscamos as bochechas uns
dos outros.

Riso de Olho Fechado


Feche os olhos e caminhe lentamente com os braços à frente e ria
sempre que encostar em alguém. Ambos riem e tentam desven-
dar quem são.

290
Riso do Cocktail
Imagine segurar um copo de cocktail e ria para as outras
pessoas de forma pedante e pretensiosa, olhando por cima dos
ombros à procura de alguém melhor para rir consigo.

Riso da Conga
Faça a “linha conga”, colocando as mãos nos ombros da pessoa na
sua frente. Dançar com a sintonia conga, cantando sempre com
o som de “ha”. Certifique-se de chutar as suas pernas para fora
no final de cada passo.

Riso da Troca de Humor (Crack Up Laugher)


Caminhe por aí e olhe alguém nos olhos com um rosto sério e
revoltado. Em seguida, olhe pra outra pessoa e mude completa-
mente o seu semblante, passando para um riso muito feliz. Siga
alternando entre um rosto muito chateado e outro muito feliz
enquanto troca o olhar de pessoa a pessoa.

Riso Chorão
Faça um som de grito exagerado enquanto se inclina para a
frente, depois fique de pé enquanto ri (demonstrando assim
como chorar e rir são semelhantes e ambos parte da vida).

Riso do Cocô de Cão


Caminhe pela sala e pise em cocôs de cão imaginários rindo
abundantemente com a surpresa e fingindo limpar os sapatos.

291
Riso do Xixi de Cão
Este é apenas para os aventureiros! Aproxime-se das pessoas à
volta e, fingindo ser um cão, levante sua perna como se estives-
se fazendo xixi nos outros e ria sobre isso.

Riso do Aperto de Mão Duplo


Cumprimentem-se uns aos outros com grande entusiasmo,
segurando ambas as mãos, agitando para cima e para baixo e
rindo!

Riso do Pato
Imite um pato, fazendo som de “quack-quack” e rindo.

Riso do Eco
Divida o grupo em dois. Peça ao primeiro grupo para soltar uma
grande risada de um lado e o segundo grupo irá fazer eco disso.

Riso Malvado
Faça a sua melhor personificação da risada de um persona-
gem maligno. Quanto mais alto melhor.

Riso Falso
Faça uma risada realmente falsa. Seja desagradável.

Cair de Rir
Ria tão forte que você cai e rola no chão a rir.

292
Riso do Centro do Riso (no abdômen)
Encontre o lugar em seu abdômen de onde sua risada vem e
segure aí enquanto ri. Veja se você pode rir ainda mais profun-
damente agora que você encontrou seu centro.

Rir da Guerra de Comida


Simule uma guerra de comida, atirando tortas e guloseimas uns
nos outros a rir. Também pode ser feito na versão torta na cara,
em duplas ou aleatoriamente pela sala.

Riso da Lua Cheia


Uive para a lua cheia até estourar de rir. Variação: simule a che-
gada do homem à lua, andando sem a força da gravidade a rir.

Riso da Anedota em Gibbertish


Peça para cada pessoa contar só a parte final de uma anedota em
Gibberish. Quando eles terminam de contar, todos explodem
em gargalhadas como se fosse a melhor piada que já ouviram.

Riso ‘Bora lá equipe!


Reúna o grupo em um amontoado como uma equipe de es-
portes. O líder coloca a mão no centro e todos colocam mão por
cima. O líder diz “1-2-3 e...”, então todos levantam a mão com
vigor e riem alto.

293
Meio Riso
Ria com apenas metade da boca aberta. Experimente a direita, de-
pois a esquerda.

Cheiro de Cafuné (festinhas na cabeça)


Corra alegremente pela sala brincando com os cabelos uns dos
outros, dando um gentil cafuné e rindo.

Riso da Batata Quente


Sente-se em um círculo e passe uma batata quente invisível o
mais rápido possível, rindo quando a batata está em sua posse.

Riso da Areia Quente


Saltite como se estivesse andando sobre a areia muito quente e
ria.

Riso do Abraço
Corra e abrace os outros a rir (também conhecido como “Riso
de Coração a Coração”). Você pode sentir o riso do outro en-
quanto se abraçam, se estiverem rindo bastante. Funciona bem
no final da sessão.

Riso do Humming
Com a boca fechada, ria com ruídos e faça gestos tolos.

294
Riso “Eu te amo”
Faça o sinal de um coração com as mãos e ande pela sala a dizer
“eu te amo” e rir de frente para as pessoas.

Riso do Cubo de Gelo


Finja que coloca cubos de gelo nas partes de trás uns dos outros
e ria. Seja brincalhão, ria e grite.

Riso do Cone de Sorvete


Imagine lamber um cone de sorvete que está se derretendo.
Lamba o sorvete que está no cone e também a parte que está
derretendo pelo seu braço, enquanto ri. Talvez até os partici-
pantes atirem seus sorvetes uns nos outros.

Riso da Inalação
Ria durante a inalação. Isso provoca um som realmente diver-
tido e ressonante.

Riso do Ipod
Coloque fones de ouvido imaginários e dance ao som da músi-
ca em sua própria cabeça, cantando (pode ser em Gibberish) e
rindo.

Riso “Jack-in-the-box”
Agache-se e finja acabar a “corda”. Então cante a melodia de
“Pop Goes the Weasel”. Brote repentinamente na parte do
“pop” e ria como um jack-in-the-box selvagem!

295
Riso do Jackpot
Celebre, ria e aja como se acabasse de ganhar o jackpot.

Riso da Gelatina
Mexa-se e ria como se fosse uma gelatina.

Riso de Pular Corda


Imagine que está pulando corda e ria a cada salto. Você também
pode colocar uma pessoa de cada lado a girar a corda en-
quanto os outros saltam e riem entre elas.

Só Rir
Vá em frente e ria!

Riso Canguru
Salte como um canguru a rir.

Riso do Karatê
Finja quebrar um tijolo com a mão, depois com a cabeça, rindo
quando acerta o tijolo.

Riso do Kick Boxing


Finja que está fazendo kick boxing e ria com cada chute ou soco
(certifique-se de chutar apenas o ar, sem ninguém por perto).

296
Riso de Joelhos
Finja que perdeu o controle dos seus joelhos, mas tenta aparentar
estar absolutamente normal. Sorria, acene e caminhe de manei-
ra completamente louca, mantendo uma fisionomia de que nada
está acontecendo de errado.

Riso dos Sapatos Amarrados


Caminhe com passos muito pequenos como se estivesse a expe-
rimentar um par de sapatos numa loja, mas eles têm um fio que
prende um ao outro. Ria de quão bobo você parece.

Riso da Morte
Pare e considere a sua própria morte por um momento — e o
fato de que é inevitável. Então exploda em riso, pois isso não
lhe dá preocupações. Este exercício não é mórbido, pelo con-
trário: é libertador.

Riso por Nenhuma Razão


Caminhe pela sala rindo, encolhendo os ombros e colocando as
mãos como se para dizer: “Não tenho absolutamente nenhu-
ma ideia de por que estou rindo!”

Bola de Riso
Brinque com uma bola imaginária, em pares ou em grupo. A
brincadeira consiste em arremessar a invisível bola do riso de
um para o outro. Quem está segurando a bola ri. Também é
possível driblar, enganar e deixar a bola cair, tudo ao som de
“hahaha”. Em certas circunstâncias, funciona bem utilizar uma
bola real (uma bola macia é a melhor).

297
Bênção do Riso
A pessoa a ser abençoada fica em uma cadeira e o resto do gru-
po fica em um semicírculo ao redor dele/dela. Um por vez, cada
pessoa diz uma afirmação sobre a pessoa na cadeira — mas com
gibberish em vez de palavras reais. Depois que todos tiverem a
chance de dizer a sua afirmação, colocam todas as mãos sobre
a pessoa — na cabeça, ombros, braços, joelhos — e riem para
abençoá-los com amor e energia do riso. O líder começa e termi-
na a benção (cerca de 10 segundos).

Riso do Lava-Jato (Car-Wash)


Peça ao grupo que se posicione em duas linhas paralelas, rindo
com as mãos em movimento de maneiras criativas, como se
fossem “pincéis”, esponjas e mecanismos de lavagem de car-
ros. Então a pessoa no final percorre o corredor “lava-jato” até
chegar ao final da linha e se tornarem um “pincel” novamente.
Certifique-se de que todos tenham a possibilidade de passar
pelo corredor da lavagem.

Riso do Coral (“as risadetes”)


As pessoas ficam em uma linha com os braços sobre os ombros
umas das outras como se fossem a linha de um coral. Levantar o
joelho direito com uma risada e então chutar com outra risada.
Repetir com a perna esquerda e assim por diante. Denominem-se
as “risadetes”

Creme do Riso
Espalhe o creme imaginário de riso por toda parte do seu corpo
(e até das outras pessoas) e ria.

298
Explosão do Riso
Fique de pé e assobie como se uma “bomba de risada” esti-
vesse vindo em sua direção e então jogue os braços para cima e
exploda com um super-riso de uma só vez.

Riso do Pulo do Gato


Dê saltos felinos e ria.

Riso do Salto à Distância


Forme com o grupo uma linha de um lado da sala, deixando bas-
tante espaço livre à frente das pessoas. Elas avançam com um
som de “oooh” até saltarem com uma grande risada. Para um
desafio maior, as pessoas podem formar 2 linhas frente a fren-
te e correrem em direção umas às outras até saltarem e rirem,
tendo o cuidado de não se colidirem. Outra opção é deixar to-
dos correrem e saltarem aleatoriamente pelo espaço!

Orquestra do Riso
Peça a uma pessoa para ser o maestro e reger a “orquestra” do
riso com gestos tolos e exagerados. A “orquestra” acompanha
com risos ao som e gestos de vários instrumentos.

Festa do Riso
Primeiro, prepare a festa enquanto ri: encha balões, prepare o
bolo, embrulhe os presentes etc. Então, experimente a festa do
riso: cante os parabéns ao som de “hahaha”, finja que toma uns
drinques a rir, que brinda com os outros a rir, que simplesmen-
te conversa a rir alegremente, e rapidamente se mistura para
rir com os outros sem nenhuma razão, etc.

299
Pílulas do Riso
Tome pílulas do riso imaginárias e ria. Experimente as pílulas
dos outros. Você pode tentar a variedade homeopática, para
começar, ou também a “tarja preta”, para uma grande dose de
riso.

Snacks de Risos
Segure uma bandeja cheia de petiscos de riso invisíveis. Coma
alguns e ria e também ofereça aos demais, provando também
os deles.

Riso do Anjo da Neve


Deite-se no chão e finja que faz um anjo na neve movendo os
braços e as pernas e rindo uns dos outros (isso é ótimo para a
glândula da tireoide).

Riso do Imã
Finja que existe um ímã gigante que atrai o grupo inteiro pro
outro lado do espaço. Tentem resistir a rir, mas todos acaba-
rão sendo puxados para o outro lado. Brinque como se o imã te
puxasse por certas partes do corpo — cabeça, pé, braço, parte
traseira, etc.

Riso dos Monstros


Ria como um ou mais desses famosos monstros:
1. Cookie Monster — coma cookies de forma selvagem e ria
2. Dracula — mostre os dentes e coloque a capa pelo rosto, rindo
3. Frankenstein — coloque os braços à frente e passeie fazendo
grunhidos de riso
4. Godzilla — faça grandes passos e ria como um gigante

300
Onda do Riso
Forme um círculo e faça “a onda”, rindo enquanto seus braços
levantam em forma de onda.

Riso do Cortador de Grama


Imagine que você está empurrando um cortador de grama mo-
vido a motor do riso. Divirta-se também ao ligar o cortador, rindo
enquanto puxa o cabo de tração.

Riso do Limão Azedo


Finja que está segurando um limão; dê mordidas e ria contor-
cendo o rosto por causa do azedume.

Riso da Liberdade
Imagine que você tem uma crise de risos, mas está na biblioteca,
então tente manter o volume do riso muito baixinho e vá saindo
devagarzinho até se afastar e poder rir livremente.

Riso do(a) Cantor(a) de Ópera


Imagine ser um famoso cantor de ópera e cante com “ha ha ha”
exagerado.

Riso da Dor
Procure dores ao redor do seu corpo. Segure cada ponto, gema,
faça caras e diga “auh!” Então, deixe o som da dor virar gar-
galhadas.

Risos do Pincel
Pintem-se uns aos outros com pinceis do riso invisíveis. Ria so-
mente quando seu pincel tocar alguém.

301
Riso da Manteiga de Amendoim
Imagine que sua língua está presa ao céu da boca por causa da
manteiga de amendoim e ria por isso!

Riso do Fantasma
Imagine que um fantasma está fazendo cócegas em você. Con-
torça-se, ria e tente se afastar do seu fantasma invisível.

Riso do Cocô de Pombo


Olhe para o céu e finja que um pombo de repente solta um cocô
diretamente nos seus olhos. Aja surpreendido, tente limpar e
ria. Então, olhe para cima e outro cocô de pombo cai no seu
olho!

Riso do Político
Corra em torno e aperte tantas mãos quantas puder rapida-
mente, com um sorriso de plástico e ria.

Riso Real
Finjam ser da família real e caminhem entre duas filas de
grandes aplausos e risos, acenando como a rainha ou o rei e
retribuindo os risos.

Riso da Corrida de Revezamento


Disponha algumas cadeiras em uma linha e comece uma corri-
da de revezamento, na qual os membros de cada equipe tenham
que entrar e sair das cadeiras enquanto riem. Lembre-os de que
a competição entre equipes é simulada e que o ponto principal é
a diversão e os risos alegres.

302
Risos do Robô
Faça movimentos de robôs abruptos e ria com um som mecâ-
nico, tipo um robô.

Riso da Montanha Russa


O grupo se senta no chão (ou fica de pé) em uma linha dupla
como uma montanha-russa e finge que está subindo. Então to-
dos levantam os braços e dizem “ooooh”, gritando e rindo como
se fosse descer uma ladeira absurdamente íngreme. Se o grupo
está sentado no chão, deita-se para traz quando desce. Se esti-
ver de pé, corre pelo espaço simulando a trajetória da montanha
russa, subindo e descendo com velocidades variáveis.

Riso do Papai Moel


Diga “ho ho ho” e aja como o Papai Noel.

Riso Grave
Ria como uma pessoa muito séria.

Riso Câmara Lenta


ria em câmera lenta com gestos grandiosos. Você também pode
combinar o Riso Silencioso com o Riso Câmera Lenta.

Riso do Espirro
Em vez de estourar em um espirro, exploda em gargalhadas:
“ah ah ah... ha ha ha!”

303
Riso de Marionetes
O grupo finge que tem bonecos de meia engraçados nas mãos e
riem uns das marionetes dos outros (podem ser usados fantoches
de meias reais se houver).

Riso do Homem-Aranha
Imagine que você é o Spiderman. Atire teias da gargalhada das
suas mãos que vão alcançar os outros e formar a sua teia do
riso.

Riso do Precipício
Forme uma linha com o grupo e finja que vocês estão à beira de
um penhasco alto. Balance vigorosamente os braços para evitar
a queda.
Variação: segurem-se uns nos outros para se equilibrarem ou
formem uma linha de mãos dadas para puxar os que já estão
caindo.

Riso da Ovação
Ovacionem-se entre si histericamente e com gargalhadas estri-
dentes.

Riso de Estetoscópio
Imagine colocar um estetoscópio em alguém e ouvir a risada
dentro dele. Ria como se você ouvisse claramente o riso lá den-
tro.

304
Riso do Alívio do Estresse
Uma as palmas das mãos e imagine que todos os seus pro-
blemas, preocupações, ansiedades e tensões estão presas den-
tro delas. Liberte-os abrindo e fechando as mãos rapidamen-
te. Uma explosão de risos surgirá com cada abertura. Mova-se
para liberar seus problemas até que eles sejam todos risos, então
abra as mãos e agite todo estresse restante, liberando-o.

Riso do Metrô
O grupo tem o braço erguido como se todos estivessem pen-
durados nos ferros do metrô lotado. Com o balanço do vagão,
choquem-se levemente uns com os outros e riam.

Riso do Swing (Aparelho de parques de diversões)


Os participantes formam um círculo e correm em direção ao
centro, levantando os braços para cima com um som de “oooh”
até explodirem em risos no centro, com os braços totalmente
estendidos para cima. Então voltam para trás com o som de
“oooh” de volta às posições originais. (Também conhecido
como Riso do Tocar o Céu).

Riso sem mostrar os dentes


Esconda os dentes, abra os lábios o máximo que puder e ria
sem mostrar os dentes.

305
Riso do brilho mágico
Imagine que você tenha uma bolsa cheia de pó brilhante má-
gico que faz as pessoas rirem. Distribuam o pó mágico do riso
entre si e riam.

Riso do Levantamento de Peso


Imagine que você é um levantador de peso campeão. Agarre no
peso imaginário e levante-o, grunhindo de extremo esforço
a cada fase do movimento até conseguir levantar bem no alto o
peso, rindo muito alto!

Riso da Boca Larga


Abre a boca lateralmente a boca o máximo possível e ria
olhando para as outras pessoas.

Abrir e Fechar o Riso


Com um gesto da mão, ponha a risada no rosto e ria. Em se-
guida, recolha o riso com a mão e permaneça muito sério. Siga
colocando e retirando o riso enquanto anda pela sala e olha
para os demais.

306
Anexo 6
AQUECIMENTOS E JOGOS

Aquecimentos são fundamentais para iniciar uma atividade


que envolve tanto movimento como o Yoga do Riso. Assim
também os exercícios de quebra gelos, jogos e as dinâmicas de
grupo são importantes para construir um ambiente de descon-
tração infantil e ajudar a soltar mais e mais gargalhadas.

AQUECIMENTOS

Abanar cada parte do corpo e em seguida o corpo todo de uma


vez

Dançar como em festa de carnaval

Dança do esquisito: dançar com movimentos completamente ale-


atórios, livres de julgamentos

Danças de roda

Saltar a corda imaginária

Praticar qualquer desporto imaginário: bicicleta, jogging, etc

307
QUEBRA GELOS, JOGOS E DINÂMICAS

Zip Zap Cabum

Em círculo. Uma pessoa começa com uma palma e o som de


“ZIP”, se quiser passar para a pessoa da esquerda ou uma palma
e “ZAP”, se quiser passar par a direita. E por aí vai. ZIP para a
esquerda, ZAP para a direita. A qualquer momento, a pessoa
da vez pode apontar com as duas mãos para uma pessoa de
qualquer parte do círculo e dizer CABUM! Então todos têm que
mudar de posição, exceto quem “recebeu” o CABUM, que fica no
mesmo lugar. O jogo recomeça a partir desta pessoa. Quem erra
vai para o centro do círculo até o jogo acabar. O jogo termina
com um ou um grupo de vencedores, a depender da quantidade
de pessoas.

308
Jogo do Canal 7

Em círculo. Com os braços cruzados e as mãos nos ombros


(cada mão no ombro oposto). Uma pessoa começa tocando no
ombro do lado que pretende passar a vez e conta “um”. Om-
bro direito, passa para a pessoa da direita; ombro esquerdo, passa
para a pessoa da esquerda... O jogo segue com a contagem um,
dois, três... Quando chega no número sete, a pessoa tem que fa-
zer um quadrado com as mãos à frente do rosto como uma tela
de televisão. O jogo segue na ordem em que estava e a próxima
pessoa continua, recomeçando do zero. Quem erra vai para o
centro do círculo até o jogo acabar. O jogo termina com um ou
um grupo de vencedores, a depender da quantidade de pessoas.

Variação (faixa preta!): se o grupo é experiente no jogo, pode-se conti-


nuar após o sete com a contagem seguindo oito, nove... e fazendo a tela
da tevê sempre nos múltiplos de sete ou nos números que acabam em
sete (14, 17, 21, 27, 28...).

309
Bang!

Uma pessoa vai para o meio do círculo, gira o corpo com uma
“arma” apontada para frente e escolhe um algo e atira ao som
de BANG!. A pessoa que recebeu o tiro deve se abaixar e as duas
pessoas que estão ao seu lado disparam entre si, BANG! Erra
aquele que não se abaixar quando recebe o primeiro BANG e
também o que não disparar (ou demorar muito mais do que o
outro) na outra pessoa do lado de quem se abaixou. Quando res-
tam apenas duas pessoas, faz-se um “duelo texano”. Costas com
costas, dão passos lentos à frente ao som de frutas ditadas pela
última pessoa eliminada: “banana”, “beterraba”, “maçã”... até
quando diz BANG! e os finalistas têm que disparar o BANG!
Quem dispara primeiro ganha!

310
Passar a formiguinha

Os participantes devem formar um círculo — o facilitador ex-


plica para o grupo que devem passar a formiga ao seu compa-
nheiro de forma bem suave, sem machucá-la ou matá-la. Deve-
rão colocar a formiga imaginária em qualquer parte do corpo
do seu colega e este por sua vez deve passá-la para a pessoa que
está ao seu lado (um a um) até que todos do círculo tenham
recebido a formiga e ela retorne à pessoa que começou.
Depois disso, o facilitador dará a seguinte ordem: que um a um
deverá BEIJAR o lugar onde colocou a formiga no seu colega...
Esse é um momento de descontração, de muitas risadas e até
mesmo de constrangimentos porque muitos colocam a formi-
guinha no lugar mais esquisito possível, e agora terão que beijar
o local. É uma atividade muito divertida, porque vão ter que beijar
mesmo.

Variação: Ao invés de passar a formiga imaginária, o grupo poderá


adotar um mascote, que pode ser um ursinho de pelúcia, uma boneca
etc. Os participantes do grupo serão orientados a pensarem em uma
pessoa e fazer com o mascote aquilo que gostariam de fazer com a
pessoa, no final aquilo que fizeram com o mascote deverá ser feito com
o colega do lado.

311
Jogos com Gibberish

Gibberish é uma linguagem de sons sem significado. As crianças


falam Gibberish ao aprenderem a falar e durante brincadeiras
em geral. Nós às vezes usa-mos Gibberish como um exercício de
aquecimento para ajudar a descontrair as pessoas e reduzir ini-
bições e timidez. Diferentes emoções podem ser expressas em
Gibberish, incluindo felicidade, raiva, tristeza, romance e muito
mais. É um exercício divertido e ajuda a cultivar o espírito infan-
til. Gibberish pode ser rápido ou em velocidade de conversação
normal e geralmente envolve um foco no tom e nos movimentos
da mão e do corpo para transmitir o significado. Gibberish si-
lencioso também é divertido e pode ser mais fácil para alguns.

Para falar bem o Gibebrish, é importante dar ênfase e exagero nas


expressões faciais, gestos, movimentos corporais e barulhos, ao
longo do discurso.

312
EXEMPLOS DE JOGOS EM GIBBERISH

Expressar uma emoção


Representar uma emoção ou sentimento em Gibberish.

Língua dos bebés


Peça para o grupo falar como se fossem recém-nascidos e ten-
tar explicar algo complexo.

Língua estrangeira
Peça para o grupo interpretar um estrangeiro de um país de
língua completamente diferente.

Piada
Cada um conta a parte final de uma anedota em Gibberish com em-
polgação, enquanto os demais estouram em gargalhada como
se tivesse sido uma piada muito engraçada.

Telefone sem fio


Numa fila, alguém conta um segredo em Gibberish no ouvido da
primeira pessoa, que passa de ouvido em ouvido até chegar ao
final. A última pessoa revela o segredo (ou o que restou dele).

Discurso
Faça um discurso de formatura, ou de outra ocasião especial em
Gibberish.

313
Silêncio
Peça para pensarem em Gibberish.

Situações
Indique situações da vida e peça que interpretem em Gibberish.

Conversa (última palavra)


Em duplas, as pessoas conversam em Gibberish. Cada fala co-
meça repetindo a última expressão utilizada pelo companheiro
de conversa.

Tradução
Indique (ou peça que sugiram) situações da vida e, em dupla,
uma pessoa representa em Gibberish enquanto outra vai tra-
duzindo.

Língua dos animais


Forme diálogos ou interprete situações da vida, mas apenas fa-
lando a língua de animais.

314
Salada de Fruta (Dança das Cadeiras)

Sentados em círculo, em cadeiras ou almofadas (tem que haver


um número exato de lugares). Todos os lugares são ocupados.
O líder, que está em pé e não tem lugar, divide o grupo por
frutas. Então ele conta uma historinha: “fui na feira e comprei
banana”. Neste momento, todas as pessoas que são “bananas”
devem mudar rapidamente de lugar e, nesta oportunidade, o
líder tenta ocupar um dos lugares. Quem ficar sem lugar vai à
feira... Também se pode comprar mais de uma fruta (ou até to-
das!) de uma vez.

Variação: as cadeiras ficam dispostas num pequeno círculo ao meio,


viradas para fora. Há uma cadeira a menos do que o número de pes-
soas. Toca-se uma música, e todos dançamcirculando em volta das
cadeiras. O líder para a música abruptamente e todos têm que sentar.
Quem não encontra lugar sai. Tira-se uma cadeira. Segue-se até a úl-
tima cadeira.

315
Passar risada na roda

Como se segurassem a gargalhada nas mãos, as pessoas a vão


passando no círculo.

Telefone sem fio corporal

Como o tradicional telefone sem fio, mas agora a mensagem a


ser passada é uma expressão corporal. Todas as pessoas ficam
de costas, exceto quem irá iniciar. Essa pessoa toca nas costas da
primeira pessoa da fila para virá-la para frente e faz a sua “men-
sagem” em forma de expressão corporal (pode ser um conjunto
de gestos qualquer). A pessoa que recebeu a mensagem toca
a pessoa seguinte e reproduz a mensagem... Vamos ver qual a
mensagem que chega ao final da fila!

316
Vaca amarela/ Adoleta

Com as mãos dadas, palmas voltadas para cima. Mãos direitas so-
bre as esquerdas. Enquanto cantam a música, vão passando
na roda batendo com a mão direita na mão da pessoa da esquerda
e passando de mão em mão. Na última sílaba da música, a pes-
soa que vai receber a palmada deve tentar escapar, tirando a
mão antes do outro bater.

Sugestões de músicas

1 2
A-do-le-tá A vaca amarela
Le peti peti polá cagou na panela,
Le café com chocolá quem falar primeiro
E também com guaraná come toda bosta dela
A-do-le-tá
Puxa o rabo da panela
Quem saiu foi ela
Puxa o rabo do tatu
Quando quem saiu foi tu

317
Percussão corporal

Divide-se o grupo entre instrumentos sonoros com o próprio


corpo. Alguns batem palmas em determinados ritmos, outros
batem com as mãos nas pernas, outros com os pés no chão. Al-
guns fazem sons percussivos com a boca, ou usam as bochechas
como tambores... Cada um com o seu instrumento, formam
uma orquestra de percussão corporal.

Coral de Frutas/ “Ba-na-na”!

Como um coral de música, um grupo entoa “ba-na-na” em um


ritmo, enquanto outra parte canta “maçããããã” (em outro rit-
mo), e outra canta outra fruta, e por aí vai. O líder pode alterar
entre os grupos no meio da “música”, silenciar momentanea-
mente alguns cantores, promover uns momentos de solo etc.

318
Tic-Toc (Passar objecto na roda)

Em círculo. O líder passa para a esquerda um objeto qualquer e


diz: “Isto é um tic.”
Antes de receber, a pessoa do lado pergunta:
“um que?”
E o líder confirma, entregando finalmente o objeto: “um tic”
Segue-se assim. Em dado momento, o líder passa também um
objeto para a direita dizendo: “isto é um toc” (segue-se o mes-
mo diálogo maluco). E dois objetos circulam na roda ao mesmo
tempo.

Luta “Ataque ao bumbum”

Em duplas. Com as mãos direitas firmemente uni-das, devem


tentar dar uma palmada com a mão esquerda no rabo do opo-
nente e, ao mesmo tempo, tentar desviar o próprio rabo do seu
ataque.

319
Trenzinho (Troca!)

Grupos de 3 ou 4. Formam uma fila com as mãos nos ombros


de quem vai à frente. A primeira pessoa é o maquinista, a última é
o cobrador (pica). As do meio são os passageiros. Desfilam pela
sala ao som da música, como se fossem um comboio. O líder
para a música abruptamente e dá um dos comandos:

Troca o maquinista
Quem é maquinista tem que trocar de comboio

Troca o cobrador
Quem é cobrador tem que trocar de comboio

Trocam os passageiros
Quem é passageiro tem que trocar de comboio

Troca toda a gente


Todos devem trocar de comboio

320
Luta “Caça-dedos”

Em duplas. Unem-se os dedos das mãos à exceção dos polega-


res, que ficam livres por cima. O jogo consiste em tentar domi-
nar o polegar do oponente, sem mover mais qualquer parte do
corpo.

Luta “Palmadas na mão”

Em duplas. Unem-se as mãos. Cada um tem uma palma para


baixo e outra para cima. A mão que está por baixo tenta atacar
com um tapinha a mão do oponente (que está por cima). A mão
que está por cima tenta fugir do ataque.

Variação. Um tem as duas mãos por baixo e só ataca, enquanto o outro tem
as mãos por cima e só tenta escapar. Depois trocam.

321
Banho da gargalhada

Em trios. Um pessoa fica no meio. Duas ficam em volta, volta-


das para a primeira. Quem está no meio, vai receber o banho
da gargalhada, que será dado pelas pessoas que estão em volta.
Estas, deverão ser ao mesmo tempo a água do duche, os produ-
tos de higiene e as mãos que esfregam o corpo. Tudo ao som de
gargalhadas. Ao comando do líder, trocam de posições.

Pé com pé (partes do corpo)

As pessoas dançam alegremente pela sala, ao som de uma mú-


sica animada. O líder para de repente a música e dá um co-
mando, por exemplo: “3 pés!”. E as pessoas devem se reunir
em grupos com três pés unidos. Segue-se com o líder parando de
repente a música e dando comandos para se reunirem por partes
do corpo. Sugestões: “4 rabos”, “2 barrigas”, “5 cabeças”...

322
Só perguntas

Em duplas. Estabelecer um diálogo em que só podem fazer


perguntas. Se alguém erra, a dupla dá um “high five” e reco-
meçam.

Músicas da gargalhada

O líder pede para o grupo se reunir como uma banda de música.


Cada um vai tocar um instrumento diferente, no ritmo do
gênero musical que o líder determinar, mas o som é sempre de
hahaha... Por exemplo: “5 pessoas numa banda de rock”; “uma
dupla de música pimba”; “4 pessoas num grupo de fado”; “10
pessoas numa orquestra de música clássica”...

323
10 coisas em comum

O líder pede para as pessoas se reunirem em duplas, trios ou gru-


pos e listarem 10 coisas de que todos gostam.

Discussão das frutas (você é um rabanete!)

Em duplas. De frente umas para as outras, as pessoas vão trocar in-


sultos, mas apenas com nomes de vegetais (frutas, legumes...).
A pessoa ofendida primeiro nega o insulto e em seguida contra
ataca. Exemplo: “você é uma batata doce!” “Eu não sou uma
batata doce, você que é um aspargo!” “Eu não sou um aspargo,
você que é um morango!”

Variação: discussão com Gibberish.


O mesmo processo, mas ao invés do nome do vegetal, diz-se qualquer
coisa em Gibberish. Lembre-se sempre de negar o primeiro insulto
e depois contra atacar com um novo insulto. Exemplo: “você é uma
hulistuete!” “Eu não sou hulistuete, você que é um tutreguresclu!” “Eu
não sou um tutreguresclu, você que é um juihaderefo!”

324
Para quem foi o beijinho?

O líder vira-se de costas para o grupo e diz “estava cheio de sau-


dades e mandei um mandei um beijinho”, virando-se de frente
e soltando um beijinho em direção ao grupo. Pergunta: “para
quem foi o beijinho?” As pessoas têm que adivinhar para quem
foi o beijinho, de acordo com a lógica estabelecida pelo líder. O
líder previamente estabelece a lógica. Exemplos:
1. o beijinho foi para a primeira pessoa que falar
2. o beijinho foi a primeira pessoa que rir
3. o beijinho foi para quem olhar para o lado...

Depois de alguém corresponder à lógica do líder (e ser a pessoa


para quem foi o beijinho), o líder pode contar para quem foi
o beijinho e fazer mais uma vez. Até alguém perceber a lógica.

325
Pontos de vista

(descrever objecto de acordo com pontos de vista)

O líder mostra uma fotografia, ou um objeto qualquer e pede para


as pessoas descreverem aquilo como se elas fossem:

Uma criança de 3 anos

Um cachorro

Um extraterrestre

Um personagem de desenho animado

326
Cada um guia numa dança

O líder escolhe alguém para ser o guia da próxima dança (ou


a pessoa se voluntaria). O líder põe uma música e a pessoa es-
colhida vai fazer a coreografia que quiser, enquanto os outros a
acompanham. Depois troca-se a música e a pessoa que vai ser
a guia.

Mãos entrelaçadas a meio

O líder pede para que as pessoas unam as mãos no meio do cír-


culo. Cada mão deve segurar uma unida mão de outra pessoa.
Todos os braços ficam entrelaçados. O desafio é tentar desa-
marrar o “nó” sem soltarem as mãos.

Dica: se o grupo for muito grande, podem ser divididos em dois ou


mais grupos menores.

327
Anexo 7
RELAXAMENTO GUIADO (YOGA NIDRA)
(Laughter Yoga University)

ESTÁGIOS DO YOGA NIDRA

Entrada: Relaxamento inicial, respiração abundante.

Escaneamento Corporal (Body Scan): Varredura da consciência


pelo corpo. Proporcionar uma postura de observador conscien-
te do próprio corpo.

Consciência da respiração: Tomada de consciência da energia vi-


tal através da respiração: prána.

Percepção do Sentido: Consciência de sensações ou emoções, às


vezes expressas através dos opostos (pesado/leve, alegria/tris-
teza, contração/expansão).

Visualização/mentalização: Pode ser uma série de imagens não


relacionadas ou uma jornada linear.

Retorno: retorno guiado se movendo de volta, passo a passo.

328
Amostra de comando para o escaneamento
corporal do Yoga Nidra:

“Enquanto a minha voz percorre diferentes partes do seu cor-


po, relaxe os músculos, um a um, com uma mente alerta e cons-
ciente, libertando todas as tensões em cada parte do corpo.
Observe seus sentimentos em cada parte do seu corpo e tente se
absorver em sua própria experiência de relaxamento profundo.
Para começar, faça algumas respirações longas e profundas.
Inspire... Exale...
Expiração é relaxamento. Enquanto expira, relaxe todos os
músculos do corpo e sinta todas as suas tensões derretendo do
seu corpo e sendo absorvida pelo chão…
Confortavelmente, conscientize-se do relaxamento em seu cor-
po... Você está perfeitamente saudável cheio de energia…
Veja-se como uma pessoa cheia de alegria e felicidade… Você
está livre de toda a sua dor e sofrimento… Seu corpo está livre
de todas as doenças e enfermidades que você teve no passado…
Este exercício, Yoga Nidra, está lhe ajudando a relaxar completa-
mente… Ao final, você vai acordar fresco, cheio de energia e
completamente rejuvenescido.”

329
Anexo 8
VISUALIZAÇÃO PELA PAZ MUNDIAL
(Sandro Lobo)

ORIENTAÇÃO INICIAL
(música inspiradora (não-política e não-religiosa)
e tom de voz ameno.)

Comando do líder:

“Neste momento, com a intenção de partilhar todos os bene-


fícios que adquirimos durante a prática com aqueles que não
puderam estar presentes, vamos fazer uma visualização cole-
tiva, em forma de mentalização, como um contributo pela paz
mundial.

Ainda com os olhos fechados, faça com que todas as pessoas


cuja imagem venha à sua mente recebam um sorriso honesto e
genuíno no rosto.

Começando pelos mais novos, visualize as crianças da sua fa-


mília, da vizinhança e também as desconhecidas, todas alegres
e felizes, brincando descontraídas, com um lindo sorriso no
rosto. Visualize também as crianças de outros tempos, seus
amigos de infância e até mesmo você, quando criança, todos
sorrindo contentes.

330
Faça o mesmo para os jovens e adolescentes. Todos eles, co-
nhecidos ou desconhecidos, ganham um sorriso verdadeiro no
rosto assim que aparecem na sua mente.

Assim também com os adultos. Os familiares, os colegas de tra-


balho ou estudo, os amigos, os vizinhos e também os desconhe-
cidos. Patrões, empregados, pobres e ricos, doentes ou sadios.
Todos, sem exceção, neste momento riem genuinamente assim
que aparecem na sua mente.

As pessoas do seu bairro, da sua cidade, do seu país… Pessoas de


outros países, outras culturas, com cores e maneiras diferen-
tes, todas elas com o mesmo sorriso farto, honesto e verda-
deiro no rosto.

Pouco a pouco, a visualização se expande. Até que é possível


ver o mundo inteiro, todas as pessoas, rindo ao mesmo tempo,
em uma só corrente de paz e alegria, em pura harmonia, que
toma conta do planeta inteiro.

Neste momento, todas as armas são descartadas, e já não há


qualquer violência no mundo. Toda a natureza é também en-
volvida pela redoma de felicidade que cobre a Terra, e plan-
tas e animais se juntam às pessoas, formando um só corpo de
amor, no qual cada indivíduo é uma gotinha de alegria no mar
de felicidade que cobre o Universo.”

331
Anexo 9
VAMOS MANTER CONTATO?

Quer tirar dúvidas, pedir orientações, fazer comentários, apon-


tar incorreções que encontrou neste livro ou me contar em que
este livro enriqueceu a sua vida? Entre em contato e eu serei
muito alegre em conversar com você.

Você também poderá me contratar como seu coach do riso pes-


soal ou se inscrever para um curso de formação certificada.

E, se quiser participar dos nossos grupos virtuais, acessar o clu-


be do riso online gratuito ou encontrar Yoga do Riso perto da
sua casa, acesse esses links aqui. Eles serão suas portas de en-
trada para a família do riso no Brasil, em Portugal e no mundo
inteiro!

Site oficial do autor:

www.yogadoriso.org

Instagram:

@yogadoriso

E-mail:
contato@yogadoriso.org
sandro@yogadoriso.org

Site oficial da Laughter Yoga University:

www.laughteryoga.org

332
Espero você, sua mensagem e, principalmente, suas gargalha-
das. Se todo riso é uma prece, será sempre um prazer estar nes-
sa oração contigo.

Até já!

333
© 2019, Sandro Lobo

Título: Yoga do Riso
Capa: Sandro Lobo

Foto de perfil: Yuska Ferreira

ISBN 9789895227877

Impressão: psi7 - Printing Solutions & Internet 7 S.A. 

+55 (11) 2928-4900 | 3995-5665 | 3539-1677

Rua Secundino Domingues, 300 - São Paulo 

www.psi7.com.br | www.book7.com.br

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