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O Holocausto, também chamado de Shoá pelos israelenses, foi o genocídio perpetrado pela

Alemanha Nazista contra minorias tidas como inferiores, social e racialmente, pelo governo totalitá-
rio do país. Os judeus foram as maiores vítimas do massacre, com cerca de 6 milhões de mortos,
mas também houve o assassinato de outros grupos, como homossexuais, ciganos e dissidentes po-
líticos.
O Shoá pode ter suas causas traçadas desde a Idade Média, com o antissemitismo espalhado
pela Europa do período, mas ele se fortaleceu somente com a ascensão dos nacionalismos europeus
e do darwinismo social na segunda metade do século XIX, encontrando terreno fértil na Alemanha
pós-Primeira Guerra Mundial. Na época, dominava um sentimento de humilhação e de revanchismo
no imaginário do país, o qual afirmava que o país fora traído pelos judeus (Lenda da Punhalada pe-
las Costas), e que, dessa forma, era necessário um expurgo contra os chamados “inimigos” ou “trai-
dores da pátria”
O Nazismo foi um movimento político extremista que incorporou os ideais antissemitas des-
critos acima à sua ideologia totalizante e totalitária de Estado e à liderança carismática do führer,
Adolf Hitler, a palavra de ordem do Estado Nazista era: “um povo (o ariano), uma nação (superior a
todas as outras, a Alemanha) e um líder (Hitler)”. Sua ascensão ocorreu após a crise econômica de
1929, em uma Alemanha fortemente abalada por ela, com um desemprego que afetava 18% da
população economicamente ativa e com uma moeda em hiperinflação, Hitler mostrava-se como
uma alternativa que fortaleceria a economia e geraria empregos.
Desse modo, o ditador nazista tornou-se atraente não apenas para os alemães que de fato in-
corporaram a ideologia nazista, como também para os que estavam apenas “dispostos a dar uma
chance ao novo”. Nesse ponto, vale citar a obra da filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt
e o seu conceito de “banalidade do mal”, assim como retirar um precioso ensinamento que o autori -
tarismo do período proporciona, em retrospectiva. O termo foi usado pela autora no livro-reporta-
gem Eichmann em Jerusalém em oposição com o conceito kantiano de “mal radical”. Para Kant, o
mal radical, termo que vem do latim radix e significa raiz, aqui utilizado no sentido de mal enraiza-
do, é caracterizado pela liberdade que o homem possui em definir para si mesmo uma máxima mo-
ral arbitrária e circunstancial, sendo moral ao obedecê-la, nessa lente, o mal nunca é um fim em si,
ou seja, não existe a possibilidade do mal pelo mal, já que o homem apenas usou uma máxima dife -
rente daquela aceita pela lei moral naquela circunstância, ao mesmo tempo que nunca recusou a lei
como um todo, e como o sujeito usou de sua própria liberdade ao definir outra máxima, o sujeito
continua responsável por suas ações. Em contraponto, a experiência totalitária mostrou a existência
de um outro tipo de mal radical, agora no sentido, o qual foi utilizado por Arendt, de extremo, e que
era também banal, visto que era praticado de forma desvinculada a qualquer moral e caracterizado
por uma desconjunção entre o grande mal realizado e o ínfimo benefício que o ato trazia ao agente.
Essa desvinculação moral e inversão de valores, na qual o crime, no sentido ético, de assas-
sinato em massa era legalizado e praticado pelo Estado, produzia um efeito alienante sobre aqueles
que poderiam vir a ser contrários ao regime. Arendt toma o exemplo de Eichmann, um oficial
medíocre encarregado de executar a “Solução Final”, nome dado pelos nazistas para o extermínio
em massa, Eichmann, em seu julgamento, alegou que estaria somente cumprindo ordens e, pois,
isso o isentaria de qualquer responsabilidade pelo que aconteceu. Além disso, Eichmann
demonstrou ser uma pessoa preocupada unicamente com a própria carreira e que falava apenas em
“oficialês”, admitindo dificuldades de expressão, o que, para a filósofa, revelava a maneira como a
mente dele funcionava e a sua incapacidade de pensar de forma crítica, apenas agindo
mecanicamente de acordo com as ordens que lhe eram passadas pelos seus superiores.
Portanto, o Holocausto, assim como o nazismo e o totalitarismo, deixa como ensinamento
àquele que se detém para estudá-lo o alerta sobre a possibilidade de coagir milhões de pessoas
comuns a participarem, mesmo que indiretamente, de um regime genocida, por meio do
desincentivo à criticidade e da manipulação dos sentimentos da população. As experiências
totalitárias também nos mostram os perigos das ideologias extremas, as quais costumam vir após
crises politicas, econômicas ou sociais, geralmente acompanhadas de um líder carismático que
afirma vir de fora do meio político tradicional.

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