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Com o desenvolvimento tecnológico na indústria e a crise do modelo keynesiano-fordista,

que assegurava a alta empregabilidade e a proteção da classe trabalhadora por meio de sindicatos
fortalecidos e atuantes politicamente, houve o surgimento do desemprego estrutural, o qual difere
do desemprego conjuntural ao ser resultante não de crises pontuais de produção, mas de uma
alteração profunda no modelo de trabalho que torna alguns indivíduos, na prática, não empregáveis
dentro do sistema vigente. Esse novo modelo de produção, representado no toyotismo, valorizava o
emprego de uma equipe enxuta, reduzidos estoques, emprego de tecnologia e a terceirização da
produção.
A partir desse novo paradigma, vários trabalhadores já qualificados perderam os seus
empregos em face da procura pela otimização de recursos humanos, do mesmo modo, jovens viram-
se sem oportunidades de emprego. Dessa forma, esses setores da população viram-se obrigados a
voltarem-se para o mercado informal, com vínculos de curta duração, em tempo parcial e
desprotegidos pela legislação trabalhista.
Nesse sentido, essas características levaram os trabalhadores precarizados a serem
classificados por alguns autores, como Standing, como uma nova classe social, o precariado,
distinta do trabalhador assalariado e com proteções legais preponderante no período anterior à crise
dos anos 1970, o autor os caracteriza como estando em trabalhos altamente instáveis e com salários
muitos baixos, mas os divide em relação ao grau de instrução e comportamento político. No
entanto, outros sociólogos, em especial os brasileiros como Ruy Braga e Giovani Alves, ainda
identificam o precariado como pertencente ao proletariado tradicional, mas divergem em pontos
como a composição desse grupo, com Alves definindo o precariado como composto pela “camada
média do proletariado urbano constituída por jovens adultos altamente escolarizados com inserção
precária nas relações de trabalho e vida social”, admitindo esse segmento como fato historicamente
novo. Vale ressaltar uma diferença marcante entre o proletariado tradicional e o precariado: a
ausência de consciência de classe nesse último, já que os seus membros não se identificam como
pertencentes a uma nova classe e, assim, ela não se consolidou como classe-para-si, perdendo poder
político para reivindicar mudanças estruturais que a beneficiassem.
É possível relacionar os vínculos temporários e de curta duração que caracterizam o
precariado com a efemeridade das relações humanas na modernidade. O sociólogo Zygmunt
Bauman o faz mediante o conceito de modernidade líquida, o qual diz respeito ao período atual, em
que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, em oposição ao
momento anterior, o da modernidade sólida, em que as relações sociais eram rígidas e duradouras.
Na modernidade líquida, as relações interpessoais são superficiais e podem ser desfeitas a qualquer
momento, e o consumo torna-se relevante até mesmo para a construção da identidade do sujeito,
nessa ótica, o indivíduo é aquilo que consome. Ao passo que, na modernidade sólida, as relações
humanas eram valorizadas qualitativamente, em vez de quantitativamente, e as instituições
possuíam maior relevância. No contexto da modernidade líquida, o trabalho precarizado não se vê
amparado por instituições, como os sindicatos, os quais perderam grande parte da influência de que
desfrutavam no período keynesiano, e é esperado que o trabalhador deixe o seu emprego e dirija-se
para outro, em rápida sucessão, acumulando diversos ao longo da vida. Já o trabalho característico
da modernidade sólida é amparado e protegido pela legislação e pelas organizações trabalhistas, e
esperava-se que o trabalhador permanecesse em seu emprego por um grande período de tempo, já
que provavelmente possuía uma família para sustentar, e, desse modo, a instabilidade empregatícia
era mais arriscada e mal vista do que na atualidade.

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