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Adolf Hitler (por vezes em português Adolfo Hitler; alemão: [ˈadɔlf ˈhɪtlɐ] ( escutar ⓘ); Braunau
am Inn, 20 de abril de 1889 – Berlim, 30 de abril de 1945)[1][2][3] foi um político alemão que
serviu como líder do Partido Nazista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei; NSDAP),
Chanceler do Reich (de 1933 a 1945) e Führer ("líder") da Alemanha Nazista de 1934 até
1945. Como ditador do Reich Alemão, ele foi o principal instigador da Segunda Guerra
Mundial na Europa e figura central do Holocausto.
Adolf Hitler
Hitler em 1938
Führer da Alemanha
Reichsstatthalter da Prússia
Dados pessoais
Assinatura
Serviço militar
Hitler nasceu na Áustria, então parte do Império Austro-Húngaro, e foi criado na cidade de
Linz. Mudou-se para a Alemanha em 1913 e serviu com distinção no exército alemão durante
a Primeira Guerra Mundial. Juntou-se ao Partido Alemão dos Trabalhadores, precursor do
Partido Nazista, em 1919, e tornou-se seu líder em 1921. Em 1923, organizou um golpe de
Estado em Munique para tentar tomar o poder. O fracassado golpe resultou na prisão de
Hitler. Enquanto preso, ele ditou seu primeiro trabalho literário, a sua autobiografia e
manifesto político, Mein Kampf ("Minha Luta"). Quando foi solto da cadeia, em 1924, Hitler
ganhou apoio popular pela Alemanha com sua forte oposição ao Tratado de Versalhes e
promoveu suas ideias de pangermanismo, antissemitismo e anticomunismo, com seu
carisma e forte propaganda. Ele frequentemente criticava os sistemas capitalista e
comunista como sendo partes de uma conspiração judia. Em 1933, o Partido Nazista tornou-
se o maior partido eleito no Reichstag, com seu líder, Adolf Hitler, sendo apontado Chanceler
da Alemanha no dia 30 de janeiro do mesmo ano. Após novas eleições, ganhas por sua
coalizão, o Parlamento aprovou a Lei habilitante de 1933, que começou o processo de
transformar a República de Weimar na Alemanha Nazista, uma ditadura de partido único
totalitária e autocrática de ideologia nacional socialista. Hitler pregava a eliminação dos
judeus da Alemanha e o estabelecimento de uma Nova Ordem para combater o que ele via
como "injustiças pós-Primeira Grande Guerra", numa Europa dominada pelos britânicos e
franceses.
Sob a liderança de Adolf Hitler, com uma ideologia racialmente motivada, o regime nazista
perpetrou um dos maiores genocídios da história da humanidade, matando pelo menos 6
milhões de judeus e milhares de outras pessoas que Hitler e seus seguidores consideravam
como Untermenschen ("sub-humanos") e socialmente "indesejáveis". Os nazistas também
foram responsáveis pela morte de mais de 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra.
Além disso, no total, 29 milhões de soldados e civis morreram como resultado do conflito na
Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O número de fatalidades neste conflito foi sem
precedentes e ainda é uma das guerras mais mortais da história.
Primeiros anos
Família
Seu pai, Alois Hitler Sr. (1837–1903), era filho ilegítimo de Maria Anna Schicklgruber.[4] Seu
registro de batismo não trazia o nome do seu pai, então Alois inicialmente assumiu o
sobrenome da mãe, Schicklgruber. Em 1842, Johann Georg Hiedler casou-se com Maria
Anna. Alois foi criado na família do irmão de Georg, Johann Nepomuk Hiedler.[5] Em 1876,
Alois foi legitimado e seu registro de batismo foi averbado por um padre para registrar
Johann Georg Hiedler como pai de Alois (registrado como "Georg Hitler").[6][7] Alois assumiu
então o sobrenome "Hitler",[7] também escrito e soletrado como Hiedler, Hüttler ou Huettler. O
sobrenome Hitler é provavelmente baseado em "aquele que vive em uma cabana" (alemão:
Hütte para "cabana").[8]
O oficial nazista Hans Frank sugeriu que a mãe de Alois era empregada doméstica na casa
de uma família judia em Graz, e que o filho de 19 anos desta família, Leopold Frankenberger,
seria o pai de Alois.[9] Mas nenhum Frankenberger foi registrado em Graz neste período e
nenhum documento comprova a existência de Leopold Frankenberger,[10] então a maioria
dos historiadores consideram que a ideia de que o avô de Hitler era judeu é falsa.[11][12]
Infância e educação
Adolf Hitler nasceu em 20 de abril de 1889 em Braunau am Inn, uma cidade da Áustria-
Hungria (hoje em dia localizada na Áustria), próximo à fronteira do Império Alemão.[13] Ele
era um dos seis filhos nascidos de Alois Hitler e Klara Pölzl (1860–1907). Três dos seus
irmãos — Gustav, Ida e Otto — morreram ainda na infância.[14] Quando Hitler tinha apenas
três anos, sua família se mudou para Passau, na Alemanha.[15] Lá ele adquiriu um dialeto
bávaro, que trouxe uma marca reconhecível a sua voz.[16][17][18] A família retornou para a
Áustria e se assentou em Leonding em 1894 e em junho de 1895 Alois se aposentou em
Hafeld, próximo de Lambach, onde ele passou a criar abelhas. Hitler estudou numa
Volksschule (escola pública) próximo a Fischlham.[19][20]
A mudança para Hafeld coincidiu com um aumento nos conflitos pai-filho causados pela
recusa de Hitler de se conformar à estrita disciplina de sua escola.[21] A ideia da fazenda de
abelhas de Alois Hitler em Hafeld terminou em fracasso e em 1897 a família se mudou para
Lambach. Aos oito anos de idade Hitler começou a ter aulas de canto e chegou a se
apresentar no coral de sua igreja. Neste período até considerou virar padre.[22] Em 1898
retornou novamente para Leonding. A morte do seu irmão mais novo, Edmund, devido ao
sarampo, em 1900, afetou muito Hitler. Ele mudou de uma pessoa confiável, extrovertida e
um aluno consciencioso para um rapaz taciturno e desapegado que batia de frente com seus
pais e professores.[23]
Alois havia feito sucesso na carreira como funcionário público da alfândega e queria que seu
filho seguisse seus passos.[24] Hitler escreveu mais tarde que seu pai o levou até o escritório
em que trabalhava, dizendo que este evento deu origem a um antagonismo irreconciliável
entre pai e filho, já que ambos tinham temperamento forte.[25][26][27] Ignorando a vontade do
filho de frequentar uma escola clássica e se tornar um artista, Alois enviou Hitler para um
Realschule (uma escola secundária) em Linz em setembro de 1900.[a][28] Hitler rebelou-se
contra esta decisão e no livro Mein Kampf afirmou que propositalmente foi mal na escola,
esperando que uma vez que seu pai visse o pouco progresso que fazia na escola técnica ele
o deixaria perseguir seu sonho numa escola artística.[29]
Como muitos austríacos alemães, Hitler começou a desenvolver ideias nacionalistas pan-
germânicas desde muito jovem.[30] Ele expressava apoio à Alemanha, desprezando a
decadente Monarquia de Habsburgo e seu império multiétnico.[31][32] Hitler e seus amigos
cumprimentavam-se com "Heil" e cantavam o "Deutschlandlied" em vez do hino imperial
austríaco.[33]
Desde 1905, Hitler passou a viver uma vida boêmia em Viena, financiada pela pensão de
órfão que recebia e do apoio proveniente de sua mãe. Ele teve vários trabalhos, incluindo o
de pintor, vendendo aquarelas de locais turísticos de Viena. A Academia de Belas-Artes o
rejeitou em 1907 e em 1908, afirmando que ele era "inapto para pintura".[37][38] O diretor da
academia sugeriu que Hitler estudasse arquitetura, que também era do seu interesse, mas
ele não tinha as qualificações acadêmicas já que não tinha terminado a escola
secundária.[39] Em 21 de dezembro de 1907, sua mãe morreu de câncer de mama aos 47
anos. Hitler acabou ficando sem dinheiro e foi forçado a viver em abrigos para sem-tetos.[40]
No tempo que vivia lá, Viena era um viveiro de preconceito religioso e racismo.[41] O medo de
serem sobrepujados por imigrantes vindos do leste Europeu era grande e o prefeito populista
Karl Lueger explorava a retórica antissemita para fins políticos. O nacionalismo alemão
estava em alta no distrito de Mariahilf [en], onde Hitler vivia.[42] O nacionalista Georg Ritter
von Schönerer, que advogava o pangermanismo, antissemitismo, antieslavismo e
anticatolicismo, era uma grande influência para Hitler.[43] Ele lia jornais como o Deutsches
Volksblatt, que espalhava preconceito e cultivava o medo dos cristãos de serem inundados
pelo influxo de judeus do leste.[44] Hitler também lia jornais que pregavam o darwinismo
social e exploravam algumas das ideias dos filósofos Nietzsche, Le Bon e Schopenhauer.[45]
Era hostil ao que ele via como "Germanofobia Católica" e demonstrou admiração por
Martinho Lutero.[46]
Uma aguarela pintada por Adolf Hitler,
em 1914
Hitler recebeu a parte final da pensão do seu pai em maio de 1913 e se mudou para
Munique, no sul da Alemanha.[53] Historiadores acreditam que ele deixou Viena para fugir do
alistamento do exército austro-húngaro.[54] Hitler mais tarde afirmou que não queria servir no
exército austríaco devido à alta miscigenação das forças armadas.[53] Após ser julgado
inapto para o serviço — ele falhou em um exame físico em Salzburgo em 5 de fevereiro de
1914 — retornou para Munique.[55]
Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Hitler vivia em Munique e, embora fosse um
cidadão austríaco, ele se voluntariou no Exército da Baviera.[56] Um relatório feito pelas
autoridades bávaras em 1924 diz que Hitler serviu no exército local por erro (tecnicamente,
como austríaco, ele não podia servir no exército alemão).[56] Ele se juntou ao 16º Regimento
Reserva de Infantaria Bávara (1ª Companhia do Regimento),[57][56] servindo como
mensageiro na Frente Ocidental na França e na Bélgica,[58] passando quase metade de seu
tempo no quartel-general do regimento em Fournes-en-Weppes, bem atrás das linhas de
frente.[59][60][61] Ele esteve presente nas batalhas de Ypres, do Somme (onde foi ferido), de
Arras e em Passchendaele.[62] Ele foi condecorado por bravura, recebendo a Cruz de Ferro,
de segunda classe, ao fim de 1914.[62] Sob recomendação do oficial judeu Hugo Gutmann,
Hitler recebeu outra medalha, a Cruz de Ferro de primeira classe, em 4 de agosto de 1918,
uma condecoração raramente dada a um soldado de sua patente (Gefreiter).[63][64] Ele
também recebeu o Distintivo de Ferido em 18 de maio de 1918.[65] A folha de serviço de
Hitler, no geral, foi exemplar, mas nunca foi promovido além de Cabo, que era a patente mais
alta oferecida a um estrangeiro no exército alemão à época.[66]
Adolf Hitler como um soldado da
Primeira Grande Guerra (1914–1918).
Durante seu serviço no quartel-general, Hitler continuou seu trabalho como artista, fazendo
desenhos e ilustrações para o jornal do exército. Durante a batalha do Somme, em outubro
de 1916, ele foi ferido na coxa quando um disparo de artilharia caiu perto de sua posição.[67]
Hitler passou dois meses em um hospital em Beelitz, retornando ao seu regimento em 5 de
março de 1917.[68] Em 15 de outubro de 1918, ele foi cegado temporariamente por gás
mostarda durante um ataque e foi hospitalizado em Pasewalk.[69] Enquanto estava lá, Hitler
foi informado da derrota da Alemanha. Segundo ele próprio, ao receber esta notícia, sofreu
novamente por cegueira devido à tristeza.[70]
Hitler descreveu seu tempo na guerra como "a maior das experiências". Ele foi muito
elogiado por seus oficiais superiores devido à bravura que demonstrava.[71] A experiência em
combate reforçou seu patriotismo, fazendo dele um nacionalista apaixonado. Hitler ficou
chocado com a capitulação da Alemanha em novembro de 1918.[72] A amargura a respeito
do colapso do esforço de guerra moldou sua ideologia.[73] Como muitos outros nacionalistas
alemães e veteranos de guerra, ele acreditava no Dolchstoßlegende (a "teoria da punhalada
nas costas"), que consistia na ideia de que o exército alemão, "invicto no campo de batalha",
fora traído e apunhalado pelas costas pela liderança política civil e pelos marxistas, que mais
tarde foram chamados pelos nazistas de "criminosos de novembro".[74]
O Tratado de Versalhes de 1919 julgou que a Alemanha era a única responsável pela guerra e
portanto deveria ser severamente punida. O país perdeu várias partes do seu território e a
região estratégica da Renânia foi desmilitarizada. O tratado também impôs pesadas sanções
econômicas e exigiu que o país pagasse grandes reparações para as nações vencedoras.
Muitos alemães viram o tratado como uma humilhação injusta.[75] O rancor com o Tratado
de Versalhes, junto com a grave crise econômica, social e política do pós-guerra na
Alemanha seria explorado por Hitler para fins políticos.[76]
Após a primeira guerra mundial, Hitler retornou para Munique.[77] Sem uma educação formal
ou prospectos de carreira, ele decidiu permanecer no exército.[78] Em julho de 1919, ele foi
apontado como Verbindungsmann (agente de inteligência) da Aufklärungskommando
(Comando de Reconhecimento) do Reichswehr (o novo exército alemão), com o propósito de
influenciar outros soldados e se infiltrar no Partido Alemão dos Trabalhadores (DAP).
Enquanto monitorava as atividades do DAP, Hitler foi atraído pelo fundador do partido, Anton
Drexler, e sua retórica antissemita, nacionalista, anticapitalista e antimarxista.[79] Drexler
favorecia um governo forte e ativo, uma versão não judaica do socialismo (como ele
descrevia), e solidariedade entre os membros da sociedade. Impressionado com as
capacidades oratórias de Hitler, Drexler o convidou para se juntar ao DAP. Hitler aceitou a 12
de setembro de 1919,[80] tornando-se o membro nº 555 (o partido havia começado a
contagem de membros no número 500 para dar a impressão de ser maior do que realmente
era).[81]
Em junho de 1921, enquanto Hitler e Eckart estavam em uma viagem para angariar fundos
em Berlim, um motim irrompeu na sede do NSDAP em Munique. Membros do comitê
executivo queriam fundir a legenda com os rivais do Partido Socialista Alemão (DSP), que
também era de extrema-direita.[90] Hitler retornou para Munique em 11 de julho e, com raiva,
renunciou a sua filiação do partido. Os membros do comitê sabiam que a demissão da sua
principal figura pública e orador significaria o fim do partido.[91] Hitler anunciou que ele
retornaria à legenda na condição de que ele substituiria Drexler na liderança do partido e o
quartel-general deles permaneceria em Munique.[92] O comitê aceitou e ele formalmente
retornou ao NSDAP em 26 de julho como o membro nº 3 680. Hitler continuou a enfrentar
oposição dentro do próprio NSDAP: entre seus principais oponentes estava Hermann Esser,
que fora expulso do partido. Foram impressos mais de 3 000 panfletos criticando Hitler,
acusando-o de ser um traidor.[92][b] Nos dias seguintes, Hitler discursou em vários locais
(sempre lotados) e se defendeu, atacando Esser, sempre recebendo estrondosos aplausos.
Sua estratégia foi bem-sucedida e em uma reunião com a cúpula do partido, em 29 de julho,
foram concedidos a ele poderes absolutos dentro do Partido Nazista, substituindo Drexler,
numa votação de 533 a 1.[93]
Contudo, alguns visitantes que encontraram Hitler em privado notavam que sua aparência e
comportamento não eram nada impressionantes.[101][102]
Entre seguidores que o apoiaram desde o início incluem-se Rudolf Hess, o ex piloto Hermann
Göring e o capitão do exército Ernst Röhm. Hitler recrutou Röhm para organizar e comandar
o grupo paramilitar conhecido como Sturmabteilung (SA), que servia como braço armado do
partido, protegendo as reuniões e os líderes nazistas e também atacava oponentes políticos.
Uma influência importante sobre o pensar de Hitler aconteceu durante o período da Aufbau
Vereinigung,[103] um grupo conspiratório formado por "russos brancos" (como eram
chamados os monarquistas contrarrevolucionários do antigo Império Russo) exilados e
nacionais-socialistas no início. Este grupo, financiado por líderes industriais ricos, introduziu
a Hitler a ideia de uma conspiração judaica internacional, ligada ao movimento
bolchevique.[104]
Golpe da Cervejaria
Em 1923, Hitler se aproximou do general Erich Ludendorff, que também era veterano da
primeira guerra mundial, para tentar tomar o poder na Baviera através de um golpe
(conhecido como "Putsch da Cervejaria"). O Partido Nazista se inspirou no fascismo italiano
como modelo para sua aparência, estilo e até políticas. Hitler queria emular a "Marcha sobre
Roma" de Benito Mussolini, feita em 1922, dando seu próprio golpe em Munique, desafiando
o governo central em Berlim. Hitler e Ludendorff buscaram apoio do Staatskommissar
(comissário do estado) Gustav Ritter von Kahr, o de facto governador da Baviera. Contudo,
Kahr, junto com o chefe de polícia Hans Ritter von Seisser e o general do exército Otto von
Lossow, queriam tentar seu próprio golpe e instituir no país uma ditadura militar sob sua
liderança, sem a participação de Hitler.[105]
Enquanto estava preso em Landsberg, Hitler ditou boa parte do seu livro Mein Kampf ("Minha
Luta"; originalmente chamado de Quatro anos e meio de Lutas contra Mentiras, Estupidez e
Covardia) para o seu ajudante, Rudolf Hess.[115] O livro, dedicado ao membro da Sociedade
Thule e amigo Dietrich Eckart, era uma autobiografia e exposição de suas ideologias. O livro
detalhou os planos de Hitler para transformar a sociedade alemã em uma baseada na raça.
Algumas passagens do livro deixavam explícita a ideia de genocídio.[116] Publicado em dois
volumes, em 1925 e 1926, vendeu pelo menos 228 000 cópias entre 1925 e 1932. Um milhão
de cópias foram vendidas em 1933, o primeiro ano de Hitler no poder.[117]
Pouco antes de Hitler poder entrar com um pedido de condicional, o governo da Baviera
tentou extraditá-lo para a Áustria.[118] Contudo, o Chanceler da Áustria, Rudolf Ramek,
recusou o pedido, argumentando que o serviço no exército alemão tornara nula sua
cidadania austríaca.[119] Hitler renunciou a sua cidadania austríaca em 7 de abril de 1925.[119]
Ascensão ao poder
Governo Brüning
A Grande Depressão forneceu a Hitler uma ótima oportunidade política. Os alemães estavam
ambivalentes sobre a república parlamentarista, que enfrentava forte oposição de
extremistas de esquerda e direita. Já os partidos moderados não conseguiam competir com
os radicais. No referendo de 1929, o povo alemão votou, por grande maioria, repudiar o
pagamento de reparações de guerra estipulados no Tratado de Versalhes. A ideologia
nazista, neste período, ganhou muito apoio popular.[125] As eleições de setembro de 1930
resultaram na quebra da "grande coalizão", substituindo a administração do país por um
governo de minoria. O chanceler Heinrich Brüning, do Partido do Centro, governava a nação
por meio de decretos emergenciais do presidente Paul von Hindenburg. Governar por decreto
acabou pavimentando o caminho para uma forma de governo mais autoritária.[126] O Partido
Nazista saiu da obscuridade e conquistou 18,3% dos votos (ou 6 409 600 de pessoas) e 107
assentos no parlamento nas eleições de 1930, tornando-se a segunda maior bancada no
Reichstag.[127]
Apesar de Hitler ter renunciado a sua cidadania austríaca em 1925, demorou cerca de sete
anos para ele se tornar cidadão alemão. Isso significava que, na prática, ele era um apátrida
e não podia se candidatar a um cargo público e até podia ser deportado.[134] Em 25 de
fevereiro de 1932, o ministro do interior de Brunswick, Dietrich Klagges, que era membro do
Partido Nazista, nomeou Hitler como administrador da delegação do estado para o Reichsrat
em Berlim, fazendo de Hitler um cidadão de Brunswick,[135] e assim um alemão.[136]
Em 1932, agora como pleno cidadão alemão, Hitler concorreu contra Paul von Hindenburg
nas eleições presidenciais. A 27 de janeiro de 1932, ele fez um discurso no Clube Industrial
de Düsseldorf e lá conquistou apoio dos principais empresários industriais alemães.[137]
Hindenburg tinha apoio de vários partidos nacionalistas, monarquistas, católicos e
republicanos, e até mesmo dos Sociais Democratas. Hitler usou como slogan de campanha
a frase "Hitler über Deutschland" ("Hitler sobre a Alemanha"), uma referência às suas
ambições políticas e sua campanha, sendo que ele viajava muito de aeronave pelo país.[138]
Ele foi um dos primeiros políticos a usar viagens de avião para fins políticos e utilizava este
método rápido de viagem de forma eficiente.[139][140] Hitler terminou em segundo lugar nesta
eleição, ganhando cerca de 36% dos votos (ou 13 418 517 de pessoas). Apesar de ele ter
perdido o pleito para Hindenburg, esta eleição estabeleceu Hitler como uma figura forte na
política alemã.[141]
Hindenburg desprezava Hitler, mas foi ficando sem opções, com o governo no Parlamento à
beira do colapso, sem base política para se sustentar. Relutantemente, o presidente decidiu
concordar em indicar Hitler para o cargo de chanceler (chefe de governo) após duas
turbulentas eleições parlamentares — em julho e novembro de 1932 — que não tinham
conseguido formar um governo de maioria. Hitler liderou uma coalizão, que durou pouco
tempo, formada pelo Partido Nazista e os apoiadores de Alfred Hugenberg do Partido
Popular Nacional Alemão (DNVP). Em 30 de janeiro de 1933, um novo gabinete foi formado e
oficializado no escritório do presidente Hindenburg. O Partido Nazista ganhou três postos no
governo: Hitler passou a ser o chanceler, Wilhelm Frick o Ministro do Interior do país e
Hermann Göring o Ministro do Interior da Prússia.[144] Hitler queria estes postos ministeriais
pois ele almejava controlar por completo a polícia alemã.[145]
Além da campanha política, o Partido Nazista engajou em violência paramilitar nas ruas e
espalhou propaganda anticomunista antes das próximas eleições. No dia do pleito, a 6 de
março de 1933, os nazistas conquistaram 43,9% dos votos (ou 17 277 180 de pessoas) e se
tornaram o maior partido no Parlamento. Ainda assim, o partido de Hitler não tinha maioria
absoluta para formar um governo de maioria, necessitando fazer outra coalizão com o
DNVP.[152]
Em 21 de março de 1933, o novo Reichstag foi constituído com uma cerimônia feita na Igreja
Garrison em Potsdam. Este "Dia de Potsdam" deveria demonstrar a unidade entre o
movimento nazista e a velha elite prussiana e militar. Hitler utilizava um fraque e
humildemente e com toda a reverência cumprimentou o presidente Hindenburg.[153][154]
Para conquistar controle político total, apesar de não ter maioria absoluta no parlamento, o
governo de Hitler levou para votação no recém-eleito Reichstag o projeto de lei
Ermächtigungsgesetz (Lei habilitante de 1933). A lei, oficialmente chamada Gesetz zur
Behebung der Not von Volk und Reich ("Lei para Redimir a Angústia do Povo e do Reich"), deu
a Hitler e seu gabinete de governo o poder de passar leis sem o consentimento do
Parlamento por um período de quatro anos. Estas leis (com certas exceções) não eram
contempladas pela constituição.[155]
Já que iria afetar a constituição, a Lei Habilitante precisava da aprovação de dois terços do
parlamento para passar. Deixando nada ao acaso, os nazistas utilizaram provisões
aprovadas no Decreto do Incêndio do Reichstag para prender 81 deputados comunistas[156] e
impediram que muitos parlamentares de esquerda, como os Sociais Democratas,
participassem da votação.[157]
Tendo alcançado poder legislativo e executivo total, Hitler e seus aliados iniciaram o
processo de reprimir a oposição. O Partido Social Democrata foi banido e seus bens
apreendidos.[161] Enquanto várias lideranças de sindicatos estavam em Berlim para as
atividades do Dia de Maio, soldados das SA atacaram escritórios dos líderes de sindicatos
por todo o país. Em 2 de maio de 1933, todos os sindicatos foram dissolvidos e seus
presidentes foram presos. Muitos foram enviados para os recém-abertos campos de
concentração, onde os nazistas passaram a aprisionar os seus oponentes políticos.[162] A
Frente Alemã para o Trabalho, uma organização que visava representar todos os
trabalhadores, administradores e donos de companhias, foi criada refletindo o conceito
nazista de Volksgemeinschaft ("comunidade do povo").[163]
Em 1934, Hitler se tornou o Chefe de
Estado da Alemanha sob o título de
Führer und Reichskanzler ("Líder e
Chanceler do Reich").
Ao fim de junho de 1934, vários partidos, não só de esquerda, passaram a ser dissolvidos.
Isto incluiu o antigo parceiro de coalizão dos Nazistas, o DNVP; com a ajuda dos
paramilitares da SA, Hitler forçou o seu líder, Alfred Hugenberg, a renunciar aos cargos
ministeriais em 29 de junho. Duas semanas depois, o Partido Nazista foi declarado o único
partido legal na Alemanha.[163][161] A ascensão da SA como uma força política e militar
causava ansiedade entre as elites militares, industriais e políticas na Alemanha. Em
resposta, Hitler decidiu expurgar a liderança da SA na chamada "Nacht der langen Messer" (a
"Noite das facas longas"), que aconteceu de 30 de junho a 2 de julho de 1934.[164] Hitler
mirou no seu velho amigo Ernst Röhm e em outros líderes da SA que, junto com outros
adversários políticos (como Gregor Strasser e Kurt von Schleicher), foram presos e
executados.[165] Enquanto várias nações e muitos alemães ficaram chocados com os
assassinatos, a maioria da população da Alemanha acreditava que estas ações eram
simplesmente Hitler restaurando a ordem no país.[166] O presidente Hindenburg, então
prestes a completar 87 anos de idade, ficou desorientado ao ser informado sobre o
massacre.[167]
Como chefe de estado, Hitler se tornou o comandante em chefe das forças armadas. O
tradicional juramento de lealdade feito pelos militares passou a ser um voto de lealdade
pessoal a Hitler.[171] Em 19 de agosto, a fusão da presidência e da chancelaria foi aprovada
por quase 90% da população mediante plebiscito.[172]
No começo de 1938, Hitler usou de chantagem para consolidar seu poder sobre os militares
instigando o Caso Blomberg-Fritsch. Hitler forçou seu ministro da guerra, o marechal Werner
von Blomberg, a renunciar usando um dossiê que dizia que a nova esposa de Blomberg já
tinha sido uma prostituta.[173][174] O comandante do exército, o coronel-general Werner von
Fritsch foi removido do seu cargo também após a Schutzstaffel (SS) produzir alegações de
que ele tinha tido uma relação homossexual no passado.[175] Na verdade, ambos estes
homens haviam caído em desgraça com Hitler quando eles se opuseram à ordem do Führer
para a Wehrmacht se preparar para uma guerra até 1938.[176] Hitler substituiu o ministério da
guerra pelo Oberkommando der Wehrmacht (OKW, ou "Alto Comando das Forças Armadas"),
sob a chefia do general Wilhelm Keitel. No mesmo dia, dezesseis generais foram demitidos
dos seus cargos e outros quarenta e quatro foram transferidos; todos estes homens eram
suspeitos de não serem tão pró-nazismo.[177] Em fevereiro de 1938, mais doze generais
foram afastados dos seus cargos.[178]
Hitler queria dar a sua ditadura toda a aparência de legalidade. Várias das leis que ele
passou eram protegidas pelo Decreto do Incêndio do Reichstag e assim respeitando o Artigo
48 da Constituição de Weimar. O Parlamento renovou a Lei de Habilitante mais duas vezes,
cada uma por um período de quatro anos.[179] Enquanto eleições para o Reichstag
continuaram (em 1933, 1936 e 1938), era apresentada aos eleitores uma lista com
candidatos nazistas e pró-nazistas, que levaram em cada eleição pelo menos 90% dos votos
válidos.[180] A votação não era secreta; os nazistas ameaçavam com duras represálias quem
votasse contra ou aqueles que pretendessem não votar.[181]
Ditador da Alemanha
Economia e cultura
O governo de Hitler patrocinou várias obras de arquitetura em imensa escala. Albert Speer,
instrumental em implementar a reinterpretação do Führer da cultura alemã, foi colocado na
liderança da proposta de renovação arquitetônica de Berlim.[187] Em 1936, Hitler participou
da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão na capital alemã.[188]
Em agosto de 1936, em resposta a um princípio de crise econômica devido aos gastos com
o rearmamento, Hitler ordenou que Göring implementasse o Vierjahresplan ("Plano de Quatro
Anos") para preparar a Alemanha para a guerra nos próximos quatro anos.[202] O plano previa
uma luta total entre os "Judeus-Bolchevistas" e o nazismo alemão, onde Hitler pretendia
prosseguir com o rearmamento do país, independentemente do custo econômico.[203]
Em uma reunião na Chancelaria do Reich com seus ministros de estado e chefes militares,
em novembro de 1936, Hitler voltou a falar de suas intenções de estabelecer o Lebensraum
para o povo alemão. Ele ordenou que preparações fossem feitas para uma guerra no leste,
para começar, no mais cedo, em 1938 ou, no mais tardar, em 1943.[205] Ele acreditava que a
queda no padrão de vida na Alemanha como resultado de uma crise econômica poderia
apenas ser parada por uma agressão militar para anexar a Áustria e ocupar a
Tchecoslováquia.[206][207] Hitler exigiu ações rápidas antes que a França e o Reino Unido
passassem à frente na corrida armamentista.[206] No começo de 1938, na sequência do
Caso Blomberg-Fritsch, Hitler tomou o controle total do aparato das políticas externa e
militar, apontando a si mesmo como Oberster Befehlshaber der Wehrmacht ("comandante
supremo das forças armadas").[202] De 1938 em diante, Hitler fazia uma política externa que,
em última análise, destinava-se à guerra.[208]
Áustria e Tchecoslováquia
Em 12 de março de 1938, Hitler anunciou a unificação da Áustria com a Alemanha Nazista (o
Anschluss).[211] A anexação austríaca foi rápida e sem percalços.[212] Ele então virou sua
atenção para a população etnicamente alemã na região dos Sudetos na
Tchecoslováquia.[213]
Entre 28 e 29 de março de 1938, Hitler teve várias reuniões secretas em Berlim com Konrad
Henlein do Sudetendeutsche Partei, o maior partido pan-germânico dos Sudetos. Os dois
concordaram que Henlein passaria a exigir do governo tchecoslovaco mais autonomia para
os alemães dos Sudetos, assim dando um motivo para intervenção militar alemã no país. Em
abril de 1938, Henlein disse para o ministro de relações exteriores da Hungria que "não
importa o que o governo tcheco ofereça, ele aumentaria as exigências […] ele queria sabotar
um entendimento de toda a forma porque essa era a única maneira de explodir a
Tchecoslováquia rapidamente".[214] Em privado, Hitler considerava a região dos sudetos
como não muito importante; seu principal objetivo era conquistar a Tchecoslováquia e tomar
o controle de sua forte indústria.[215]
Ainda em abril de 1938, Hitler ordenou que o quartel-general das forças armadas (o OKW)
preparasse um plano, o Fall Grün ("Caso Verde"), para a invasão da Tchecoslováquia.[216]
Como resultado de intensa pressão diplomática por parte dos franceses e britânicos, a 5 de
setembro, o presidente tchecoslovaco Edvard Beneš anunciou o "quarto plano" para
reorganização constitucional do seu país, cedendo às exigências de Henlein a respeito da
autonomia dos Sudetos.[217] Alemães tchecos simpatizantes dos nazistas passaram então
organizar protestos e ações contra o governo, enfrentando a polícia tcheca, forçando a
declaração de lei marcial nos Sudetos.[218][219]
Ao fim de 1938 e começo de 1939, para evitar uma crise econômica, devido aos altos gastos
do governo, Hitler anunciou cortes no orçamento de defesa.[229] No seu discurso de "Exportar
ou Morrer" de 30 de janeiro de 1939, ele anunciou seus planos de aumentar as exportações
da Alemanha e o comércio internacional para pagar pelas tão necessárias matérias-primas
(como minério de ferro) para completar a reconstrução das forças armadas. Ao fim da
década de 1930, a economia alemã voltou a crescer com força total e sua indústria se tornou
uma das mais poderosas do mundo, com a Alemanha retomando seu posto de grande
centro tecnológico e de inovação.[229]
Hitler estava preocupado que um ataque militar contra a Polônia poderia causar uma guerra
prematura contra o Reino Unido.[235][238] O ministro de relações exteriores da Alemanha e ex-
embaixador em Londres, Joachim von Ribbentrop, garantiu que nem a Grã-Bretanha ou a
França iriam honrar seus acordos para proteger a Polônia.[239][240] Assim, em 22 de agosto
de 1939, Hitler ordenou uma mobilização militar contra os poloneses.[241]
Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia pelo oeste, sob o pretexto de que
lhes havia sido negado acesso à Cidade Livre de Danzig e ao território do Corredor polonês,
regiões que pertenciam aos alemães antes do Tratado de Versalhes.[247] Em resposta, o
Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro, surpreendendo
Hitler. O ditador alemão teria então se irritado com Ribbentrop e se virou para ele e gritou "E
agora?"[248] Para sua sorte, os britânicos e franceses não agiram imediatamente, e em 17 de
setembro, tropas soviéticas invadiram a Polônia pelo leste.[249]
A Polônia foi conquistada em apenas um mês. O que se seguiu foi um período chamado de
"Guerra de Mentira", ou Sitzkrieg ("guerra sentada"). Hitler instruiu então que os dois
Gauleiters da Polônia, Albert Forster (do Reichsgau Danzig Westpreußen) e Arthur Greiser (do
Reichsgau Wartheland), iniciassem o processo de "germanização" dos territórios ocupados,
"sem querer saber" como isso seria alcançado.[250] Os alemães então começaram um brutal
processo de limpeza étnica contra a população polonesa, mirando especialmente na
população judaica local.[250] Greiser reclamou com Hitler que Forster estava aceitando
milhares de poloneses como "racialmente" alemães, ameaçando a "pureza racial" pregada
pelo nazismo. Hitler não se interessou em se envolver. Esse tipo de inação fazia parte de um
dos estilos de trabalhar do Führer: Hitler dava instruções vagas e esperava que seus
subordinados agissem em suas próprias políticas.[250]
Outra disputa começou com Heinrich Himmler e Greiser, que advogavam políticas de
limpeza racial, contra Hermann Göring e Hans Frank (Governador do Governo Geral da
Polônia ocupada), que queriam transformar o território polonês no "celeiro" do Reich,
utilizando mão de obra local escrava.[251] Em 12 de fevereiro de 1940, Hitler decidiu por
favorecer a visão de Göring e Frank, que terminou com as deportações em massa que não
eram boas para a economia.[251] A partir de maio de 1940, milhares de poloneses passaram
a ser usados como escravos para suprir a máquina de guerra da Alemanha.[251] Hitler elogiou
os planos de Himmler e iniciou uma política para lidar com os judeus na Polônia, dando
início ao Holocausto em território polonês.[251]
Em 27 de setembro de 1940, o Pacto Tripartite foi assinado em Berlim com Saburō Kurusu
do Império do Japão, Hitler e o ministro de relações exteriores italiano, Galeazzo Ciano.[260] O
acordo de cooperação se expandiu, abrangendo a Hungria, a Romênia e a Bulgária, formando
o Eixo. A tentativa de Hitler de integrar a União Soviética ao bloco antibritânico falhou em
novembro. Então, em busca de novas regiões para conquistar matérias-primas
(principalmente minério de ferro e petróleo), foi iniciado o planejamento de invasão do
território soviético.[261]
Holocausto
“ Se os financiadores judeus ”
internacionais de dentro e fora da
Europa forem bem-sucedidos em
mergulhar as nações mais uma
vez numa guerra mundial, então o
resultado não seria a
bolchevização da Europa, e, assim,
a vitória dos judeus, mas a
aniquilação da raça judia da
Europa![264]
— Discurso de Adolf Hitler no Reichstag,
em 30 de janeiro de 1939.
O genocídio foi ordenado por Hitler e organizado por Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich.
Os arquivos da Conferência de Wannsee, que aconteceu em 20 de janeiro de 1942 e foi
presidido por Heydrich, na presença de quinze oficiais de alta patente nazistas, mostram a
prova definitiva de que o genocídio em massa (o Holocausto) foi sistematicamente
planejado e premeditado. Em 22 de fevereiro, Hitler afirmou: "nós iremos reganhar nossa
saúde apenas eliminando os judeus".[270] Apesar de nunca ter havido uma ordem direta e
expressa de Hitler autorizando os assassinatos em massa[271] em seus discursos públicos,
ordens dos seus generais e diários oficiais nazistas demonstram que ele concebeu e
autorizou o extermínio dos judeus da Europa.[272][273] Ele autorizou as ações dos
Einsatzgruppen — esquadrões da morte da SS que atuavam principalmente na Polônia, nos
Bálcãs e na União Soviética[274] — e estava ciente de todas as suas atividades.[272][275] No
verão de 1942, Auschwitz foi expandido para atender a um maior número de deportados para
serem mortos ou escravizados.[276] Campos de concentração, pequenos e grandes,
começaram a aparecer pela Europa, com vários destes devotados primordialmente para o
extermínio. Apenas em Auschwitz-Birkenau morreram mais de um milhão de pessoas.[277]
Entre 1939 e 1945, a Schutzstaffel (SS), auxiliada por colaboradores dos países ocupados, foi
a principal responsável pelos mais de onze milhões de mortos no Holocausto,[278][266]
incluindo 5,5 a 6 milhões de judeus (ou quase dois terços da população judia da
Europa),[279][280] e 200 000 a 1 500 000 ciganos porajmos.[281][280] As mortes aconteceram
primordialmente em campos de concentração e de extermínio, nos guetos e em outras áreas
de execução em massa. Muitas vítimas do Holocausto morreram em câmaras de gás,
enquanto outros morreram de fome, doenças ou maus tratos enquanto faziam trabalhos
forçados.[282] Além da eliminação dos judeus, os nazistas planejavam também acabar com a
população (algo em torno de 30 milhões de pessoas) nos territórios ocupados através da
fome em um plano chamado Hungerplan ("Plano Fome"). Os suprimentos de comida dos
países eram desviados para alimentar o exército alemão ou para os civis na Alemanha.
Cidades foram arrasadas e terras descartadas ou ocupadas com colonos alemães.[283]
Juntos, o Hungerplan e o Generalplan Ost levaram, por consequência, à fome de mais de 80
milhões de pessoas na União Soviética.[284] Isso ajudou a cumprir os planos democídas e
terminaram na morte de quase 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra.[285]
Em 18 de dezembro de 1941, Himmler perguntou a Hitler, "O que fazer com os judeus da
Rússia?" e recebeu como resposta: "als Partisanen auszurotten" ("extermine-os como
partisans").[301] O historiador israelense Yehuda Bauer afirma que esta ordem é
provavelmente a coisa mais perto que os acadêmicos chegaram de encontrar uma ordem
específica de genocídio por parte do Führer durante o Holocausto.[301]
Após a invasão aliada da Sicília em meados de 1943, Mussolini foi removido do cargo de
primeiro-ministro da Itália, após receber um voto de desconfiança do Grande Conselho do
Fascismo, com apoio do rei Vítor Emanuel III. O marechal Pietro Badoglio assumiu o controle
do governo e logo começou a negociar a rendição do seu país para os Aliados. Enfurecido,
Hitler ordenou que a Wehrmacht invadisse a Itália, prologando os combates naquela
nação.[307] Enquanto isso, na frente leste, entre 1943 e 1944, os exércitos da União Soviética
empurravam as forças de Hitler para trás. Em 6 de junho de 1944, os Aliados ocidentais
abriram a tão esperada segunda frente, desembarcando no norte da França com uma grande
invasão anfíbia, a Operação Overlord.[308] Muitos oficiais do exército alemão concluíram
então que a derrota era inevitável e que continuar sob a liderança de Hitler levaria à
destruição completa da Alemanha.[309]
Entre 1939 e 1945, vários alemães tentaram assassinar Hitler, fracassando todas as
vezes.[310] A maioria aconteceu dentro da Alemanha e a resistência alemã ganhou mais força
com o passar do tempo, quando a derrota parecia mais iminente.[311] Em 1944 foi
organizado o atentado de 20 de julho, através da Operação Valquíria, planejado pelo coronel
Claus von Stauffenberg, que plantou uma bomba no quartel-general do Führer, a Toca do
Lobo (Wolfsschanze), em Rastenburg. Hitler sobreviveu com alguns poucos ferimentos. Mais
de 4 900 alemães foram mortos nas represálias nazistas.[312]
Derrota e morte
Ao fim de 1944, o exército vermelho e os Aliados Ocidentais (principalmente os Estados
Unidos, o Reino Unido e a França Livre) continuavam avançando a todo o vapor contra a
Alemanha. Paris havia sido libertada e o exército alemão havia quase que completamente
sido expulso da França, da Bélgica e Países Baixos. Na Itália, as forças nazifascistas
também recuavam para o norte, mas o principal perigo estava no leste, com Stalin tomando
os países da Europa oriental um a um. Assim, reconhecendo a força e determinação dos
soviéticos, Hitler decidiu que seria quebrando as linhas do inimigo no Ocidente que a maré
da guerra poderia mudar em favor dos alemães. Ele então começou a planejar um ataque
contra os americanos e ingleses.[313] Em 16 de dezembro, os nazistas lançaram a Ofensiva
das Ardenas para tentar desunir os Aliados e talvez convencê-los assim a parar de lutar.[314]
Apesar de sucessos iniciais, a batalha das Ardenas terminou em fracasso e as últimas
reservas de homens e máquinas da Alemanha foram perdidas.[315] No começo de 1945, a
situação dos alemães era precária. Aviões aliados bombardeavam o país dia e noite,
deixando várias cidades alemãs e seus principais centros industriais em ruínas. O exército
estava em frangalhos e pouco podia fazer a não ser recuar em todas as frentes de batalha.
Hitler falou então no rádio ao povo alemão: "Mesmo sendo grave a crise neste momento, ela
irá, apesar de tudo, ser domada por nossa vontade inalterável."[316] Hitler nutria esperanças
de que a morte do presidente americano Franklin D. Roosevelt pudesse resultar em paz no
Ocidente em 12 de abril de 1945, mas nada aconteceu e a determinação dos Aliados
permaneceu forte.[314][317] Agindo conforme sua visão de que os fracassos militares alemães
significavam abrir mão do seu direito de sobreviver como nação, Hitler ordenou a destruição
da infraestrutura industrial e tecnológica alemã, para que esta não caísse em mãos dos
Aliados.[318] O ministério dos armamentos, sob a liderança de Albert Speer, recebeu ordens
de adotar uma política de terra arrasada, mas tais instruções secretamente não foram
obedecidas.[318][319]
Em 20 de abril, no seu aniversário de 56 anos, Hitler saiu pela última vez do Führerbunker, em
Berlim, para a superfície. No meio do jardim arruinado da Chancelaria do Reich, enquanto as
bombas caíam, ele participou de uma cerimônia para entregar medalhas Cruz de Ferro para
crianças soldados da Juventude Hitlerista, que agora eram (junto com a Volkssturm) a
última linha de defesa alemã.[320] Em 21 de abril, as tropas do marechal Gueorgui Júkov
derrotaram as forças do general Gotthard Heinrici na batalha de Seelow e começaram a
atacar as cercanias de Berlim.[321] Em negação da situação precária, Hitler acreditava que o
destacamento Armeeabteilung Steiner, sob comando do general Felix Steiner, da Waffen SS,
poderia vir do norte e se juntar ao 9º Exército, do general Theodor Busse, para atacar os
russos em um movimento de pinça.[322]
Durante uma conferência com seus líderes militares em seu bunker, em 22 de abril de 1945,
Hitler perguntou se Steiner já tinha começado o seu ataque. Porém falaram a ele que a
ofensiva sequer tinha começado e que as tropas soviéticas já estavam marchando por
Berlim. Hitler pediu então para que todos, exceto Wilhelm Keitel, Alfred Jodl, Hans Krebs e
Wilhelm Burgdorf, deixassem a sala e então começou a gritar irritado.[323] Ele afirmou que as
lideranças das forças armadas eram incompetentes e traidoras e, pela primeira vez, declarou
que "tudo estava perdido".[294] Hitler anunciou que permaneceria em Berlim até o amargo
final e não seria capturado vivo, preferindo se suicidar.[324]
Perto da meia-noite de 29 de abril, Hitler se casou com a sua amante de longa data Eva
Braun em uma pequena cerimônia dentro do Führerbunker. Após um café da manhã com sua
nova esposa, Hitler ditou seu testamento político para sua secretária particular Traudl
Junge.[332][d] O evento foi testemunhado e os documentos assinados por Krebs, Burgdorf,
Goebbels e Martin Bormann.[333] Logo depois, na parte da tarde, Hitler foi informado da
execução de Mussolini, que havia sido preso e torturado antes de morrer, e depois teve seu
corpo pendurado em praça pública para ser cuspido pela população. Isso aumentou a
determinação de Hitler de se suicidar para evitar a captura e deu ordens específicas para que
seu cadáver fosse queimado e seus restos escondidos.[334]
Berlim se rendeu em 2 de maio. A Alemanha Nazista capitulou formalmente seis dias depois.
O Dia da Vitória finalizou a guerra na Europa. Documentos nos arquivos soviéticos liberados
após a dissolução da União Soviética afirmam que os restos mortais de Hitler, Braun, Joseph
e Magda Goebbels (e os seus filhos), do general Hans Krebs e de Blondi (a cadela de Hitler)
foram repetidamente enterrados e exumados.[341] Em 4 de abril de 1970, um time de agentes
da KGB usou mapas detalhados para exumar cinco caixas com ossos de uma fábrica da
SMERSH em Magdeburgo. Os restos encontrados nestas caixas foram queimados,
esmagados e dispersos, e depois jogados no rio Biederitz, um afluente do Elba.[342] De
acordo com o historiador Kershaw, os corpos de Hitler e Braun foram completamente
queimados quando o exército vermelho chegou e apenas uma parte da mandíbula com a
arcada dentária que poderia ter identificado o cadáver de Hitler sobrou.[343]
Estilo de liderança
Estilo de liderança
Hitler governava o Partido Nazista de forma autocrática ao afirmar sua Führerprinzip
("Princípio do Líder"). O princípio se baseava em lealdade absoluta dos subordinados aos
seus superiores; ele via a estrutura do governo como uma pirâmide, com o próprio Hitler — o
"Líder infalível" — no ápice. As posições dentro do partido não eram preenchidas mediante
eleições mas sim as pessoas eram indicadas pelos superiores, que exigiam obediência
completa à vontade do líder.[344] O estilo de liderança de Hitler era dar ordens contraditórias
aos seus subordinados e colocá-los em uma posição em que seus deveres e
responsabilidades se entrelaçavam uns com os outros, para ter "o mais forte completar o
trabalho".[345] Deste jeito, gerava desconfiança, competição e luta interna entre seus
subordinados para consolidar e maximizar o seu poder. O gabinete do líder nunca se
encontrou até 1938 e ele desencorajava seus ministros de se encontrarem de forma
independente.[346][347] Hitler tipicamente quase nunca dava ordens por escrito, preferindo se
expressar verbalmente ou passava os comandos através dos seus associados mais
próximos, como Martin Bormann.[348] Ele instruía Bormann com seus papéis, nomeações e
finanças pessoais; Bormann usava sua posição para controlar o fluxo de informações e o
acesso a Hitler.[349]
Hitler dominou o esforço de guerra do seu país durante a Segunda Guerra Mundial em uma
extensão muito superior à dos outros líderes durante o conflito. Ele assumiu o posto de líder
supremo das forças armadas em 1938 e subsequentemente foi responsável por muito da
estratégia militar da Alemanha na guerra. Sua decisão de lançar uma série de campanhas
militares rápidas contra a Noruega, a França, os Países Baixos e a Bélgica em 1940, contra a
recomendação dos seus líderes militares, provou-se muito bem-sucedida, apesar de seus
esforços militares e diplomáticos para derrotar o Reino Unido terem acabado por falhar.[350]
Hitler se envolvia cada vez mais no esforço de guerra, apontando a si mesmo como o
comandante em chefe do exército em dezembro de 1941; deste ponto em diante ele tomou
controle da estratégia para sobrepujar a União Soviética, enquanto seus comandantes
militares na frente ocidental tinham um grau maior de autonomia.[351] A liderança de Hitler se
tornou cada vez mais desconexa com a realidade uma vez que a maré da guerra começou a
se voltar contra a Alemanha, com a estratégia defensiva sendo prejudicada por seu processo
lento de tomar decisões e frequentes diretivas para manter posições indefensáveis. Mesmo
assim, ele continuava a acreditar que sua liderança levaria à vitória.[350] Nos meses finais da
guerra, Hitler se recusou a considerar negociações de paz, afirmando que a destruição
completa da Alemanha seria um resultado mais preferível que a rendição.[352] Os militares
praticamente nunca desafiavam a dominância de Hitler sobre o esforço de guerra e os
oficiais de patente mais graduada frequentemente expressavam apoio e confiança em sua
liderança.[353]
Legado
O suicídio de Hitler é ligado por muitos contemporâneos como "um feitiço sendo
quebrado".[354][355] O apoio popular a Hitler havia colapsado no período próximo a sua morte
e pouquíssimos alemães lamentaram seu falecimento; Kershaw afirma que a maioria dos
civis e militares estavam ocupados demais se ajustando ao colapso do país ou fugindo da
luta para demonstrar qualquer interesse no destino do führer ("líder").[356] De acordo com o
historiador John Toland, o Nazismo "estourou feito uma bolha" sem seu líder.[357]
As ações de Hitler e a ideologia nazista são quase que universalmente retratadas como
gravemente imorais;[358] de acordo com Kershaw, "nunca na história tanta ruína, imoralidade
e maldade foi tão associada ao nome de um homem".[359] O programa político de Hitler
trouxe uma guerra mundial, deixou para trás devastação e pobreza pela Europa. A própria
Alemanha sofreu muito e foi assolada pela destruição, caracterizada pelo termo Stunde Null
("Hora Zero").[360] As políticas do líder nazista infligiram à humanidade sofrimento em uma
escala jamais vista;[361] de acordo com R.J. Rummel, o regime nazista democida matou mais
de 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra.[278] Além disso, 29 milhões de soldados e
civis também morreram como resultado das ações militares durante o teatro de operações
europeu da Segunda Guerra Mundial.[278] O número de civis mortos durante a segunda
grande guerra foi sem precedentes na história do conflito humano e causou grande
devastação no mundo.[362] Historiadores, filósofos e políticos usam, normalmente, o termo
"mal" para descrever o regime nazista.[363]
O historiador Friedrich Meinecke descreveu Hitler como "um dos grandes exemplos do poder
singular e incalculável da personalidade na vida histórica".[364] O historiador inglês Hugh
Trevor-Roper o via como "um dos 'simplificadores terríveis' da história, o mais sistemático, o
mais histórico, o mais filosófico e ainda assim o mais grosseiro, cruel e menos magnânimo
dos conquistadores que o mundo já conheceu".[365] Já o acadêmico John M. Roberts acha
que a derrota de Hitler marcou o fim da história europeia dominada pela Alemanha.[366] No
seu lugar surgiu a Guerra Fria, uma grande deflagração entre o Bloco Ocidental, dominado
pelos Estados Unidos e por nações da OTAN, e o Bloco do Leste, dominado pela União
Soviética.[367] O historiador Sebastian Haffner afirma que sem Hitler e o deslocamento dos
judeus, o moderno Estado de Israel não teria existido. Sem o líder nazista, a descolonização
das esferas de influência europeia pelo mundo teria acontecido bem mais tarde do que
foi.[368] Além disso, Haffner alega que Hitler teve um maior impacto do que qualquer outra
figura histórica comparável, que causou grande impacto pelo mundo e drásticas mudanças
no cenário geopolítico em um curto espaço de tempo.[369]
Neonazismo e neutralidade
A principal exceção nesta perspectiva de Hitler é a dos movimentos neonazistas, que
utilizam versões atualizadas da ideologia nazista para atacar minorias e promover a
segregação racial e a supremacia branca, por vezes chegando ao ponto da promoção do
separatismo racial.[370] Estes grupos têm visão favorável de Hitler, relembrado no símbolo
14/88 elaborado por David Lane, e cujo segundo número se refere à saudação Heil Hitler.[371]
Por outro lado, muitos países europeus, incluindo a Alemanha, criminalizaram as ideologias
nazistas e o negacionismo do holocausto.[372]
Vida pessoal
Hitler queria passar a imagem de um homem celibatário que não tinha vida doméstica,
dedicando-se inteiramente a sua missão política e a sua nação.[134][375] Ele conheceu sua
principal amante, Eva Braun, em 1929,[376] e se casou com ela em abril de 1945.[377] Em
setembro de 1931, sua meia-sobrinha, Geli Raubal, cometeu suicídio com a arma do próprio
Hitler no apartamento dele em Munique. Entre as razões que levaram Geli ao suicídio seria
um suposto interesse romântico de Hitler nela e sua morte seria resultado de uma obsessão
dele por ela.[378] Paula Hitler, a irmã do Führer e seu último parente vivo de sua família
imediata, faleceu em 1960.[379]
Visões religiosas
Hitler nasceu de uma mãe que era católica praticante e um pai anticlerical; após deixar sua
casa, Hitler praticamente nunca mais frequentou missas ou recebeu
sacramentos.[380][381][382] Albert Speer afirmou que Hitler fez pronunciamentos duros contra a
Igreja para seus associados políticos e apesar de não ter abandonado a fé, nunca ligou muito
para ela.[383] Hitler dizia que se os fiéis abandonassem a igreja eles iriam se virar ao
misticismo, o que ele considerava um retrocesso.[383] De acordo com Speer, o Führer
acreditava que a religião japonesa ou o islamismo seriam religiões melhores para os
alemães do que o cristianismo, com sua "mansidão e flacidez".[384]
Hitler via a igreja como uma importante influência política conservadora na sociedade,[388] e
adotou uma estratégia para lidar com ela que "se encaixava com seus propósitos políticos
imediatos".[385] Em público, Hitler exaltava a herança cristã alemã e sua cultura, professando
sua crença no "Jesus Ariano", que havia lutado contra os judeus.[389] Muitas de suas
retóricas pró-cristãs não eram as mesmas que ele fazia em privado, descrevendo o
cristianismo como o "absurdo"[390] e fundado em mentiras.[391]
De acordo com um relatório da Agência de Serviços Secretos dos Estados Unidos, intitulado
"The Nazi Master Plan" ("O Plano mestre Nazista"), Hitler planejava destruir a influência da
igreja cristã dentro do Reich.[392][393] Seu plano final seria a eliminação total do
cristianismo.[394] De acordo com Bullock, Hitler iria executar tal plano após a conclusão da
guerra na Europa.[395]
Speer escreveu que Hitler também tinha visões negativas a respeito das tendências ao
misticismo de Heinrich Himmler e Alfred Rosenberg. O führer não gostava da tentativa de
Himmler de tentar mitificar a SS. Hitler era mais pragmático e suas ambições centravam em
preocupações mais práticas.[396][397]
Pessoas próximas a Hitler afirmavam que ele era teísta. Frequentemente, ele mencionava
que a "Providência" o protegia e dizia estar em uma missão divina na terra para eliminar os
judeus e reerguer o povo alemão.[398]
Saúde
Pesquisadores sugerem que Hitler sofria de vários males, incluindo síndrome do cólon
irritável, lesões na pele, arritmia cardíaca, aterosclerose,[399] doença de Parkinson,[306][400]
sífilis,[400] arterite de células gigantes com arterite temporal[401] e acufeno.[402] Em um
relatório feito para a Agência de Serviços Estratégicos em 1943, Walter C. Langer da
Universidade Harvard descreveu Hitler como um "neurótico psicopata".[403] Em seu livro de
1977, The Psychopathic God: Adolf Hitler, o historiador Robert G. L. Waite afirma que o Führer
sofria de transtorno de personalidade limítrofe.[404] Já os historiadores Henrik Eberle e Hans-
Joachim Neumann consideravam que Hitler sofria mesmo de várias doenças, incluindo a de
Parkinson, mas que ele não tinha delírios patológicos e esteve sempre ciente, e portanto
responsável, das decisões que tomava.[405][294] Teorias a respeito da saúde pessoal do
ditador alemão são difíceis de provar e dar muito peso a estas suposições pode tirar um
pouco das responsabilidades das consequências dos atos perpetrados pela Alemanha
Nazista.[406] Kershaw acredita que é necessário ter uma visão mais ampla da história da
Alemanha, examinando que forças sociais levaram à ditadura nazista e suas políticas, ao
invés de procurar explicações limitadas para o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial
baseadas apenas em uma única pessoa.[407]
Hitler seguia uma dieta vegetariana.[408] Em eventos sociais ele às vezes dava relatos
gráficos sobre o assassinato de animais para fazer com que seus convidados evitassem
comer carne nos jantares.[409] Bormann mandou construir uma estufa em Berghof (próxima
de Berchtesgaden) para garantir um suprimento contínuo de frutas e vegetais frescos para
Hitler durante a guerra.[410] Hitler publicamente evitava álcool. Ele às vezes bebia cerveja e
vinho em privado, mas abriu mão destas bebidas quando começou a ganhar peso em
1943.[411] Ele não fumava durante boa parte da sua vida adulta, mas na sua juventude
chegava a fumar de 25 a 40 cigarros por dia. Ele largou o fumo argumentando que o hábito
era um "desperdício de dinheiro".[412] Ele encorajava seus associados mais próximos a parar
de fumar também oferecendo a eles relógios de ouro como estímulo.[413] Hitler utilizava
anfetamina ocasionalmente em 1937 e se tornou viciado nisso em 1942.[414] Speer ligou o
aumento do comportamento errático e sua inflexibilidade (como sua recusa em ordenar
retiradas militares) ao uso da anfetamina.[415]
Durante a guerra, mais de 90 medicamentos foram prescritos para Hitler pelo seu médico
pessoal, Theodor Morell. Ele tomava pílulas todos os dias para problemas crônicos de
estômago e outros problemas de saúde.[416] Consumia regularmente metanfetamina,
barbitúrico, opiáceo e cocaína, bem como brometo de potássio, atropa belladona[417][418] e
hormonas.[419] Com o decorrer do tempo, Hitler tornou-se completamente dependente das
drogas.[420][421] Ele tinha uma perfuração no tímpano como resultado da explosão do
atentado de 20 de julho de 1944. Neste atentado, cerca de 200 estilhaços de madeira foram
removidos de sua perna.[422] Imagens de Hitler feitas perto do fim da guerra mostravam
tremores agudos em sua mão esquerda e seu caminhar era embaralhado. Isso começou
logo antes da guerra, mas se acentuou durante ela.[416] Ernst-Günther Schenck e vários
outros médicos que encontraram Hitler em suas últimas semanas de vida o diagnosticaram
com doença de Parkinson.[423]
Culto à personalidade
Sob seu governo, Hitler foi objeto de um extenso culto de personalidade. Seus retratos foram
pendurados em locais públicos em toda a Alemanha e a saudação Heil Hitler ("salve Hitler")
tornou-se obrigatória mesmo entre civis.[424] Este culto era intrinsecamente ligado ao modelo
ditatorial adotado pela Alemanha, com doutrinadores nazistas justificando-o com base no
chamado princípio da liderança (em alemão: Führerprinzip), segundo o qual toda a
autoridade era investida em Hitler, que estava necessariamente certo e deveria ser
inquestionavelmente obedecido tanto pela hierarquia nazista como pelo povo alemão, em
lealdade deontológica e cega.[425]
Para assegurar a máxima difusão de seus ideais, foi instituído logo após a tomada do poder
pelos nazistas em 1933 um Ministério da Propaganda, que até 1945 manteve total controle
sobre as produções culturais no país. Presidido por Josef Goebbels, o Ministério teve Hitler
como um dos principais focos de propaganda, glorificando-o como um líder heroico e
infalível e contribuindo fortemente para seu culto de personalidade.[426] Hitler apareceu ele
mesmo em muitos dos filmes, atuando de forma cuidadosamente coreografada. As
Reuniões de Nuremberg eram um dos principais eventos para promoção da imagem de
Hitler, e foram elas mesmas matéria do filme Der Sieg des Glaubens.[427] O uso de
propaganda hitlerista era tão intenso que chegou mesmo a mudar o sentido da palavra em
idiomas como o inglês, atribuindo-lhe uma conotação política negativa.[428]
Filmes de propaganda
Hitler explorava filmes documentários e vários outras peças de propaganda de forma
extensa na parte do seu culto de personalidade. Ele participou de vários filmes de
propaganda durante sua carreira política, como Der Sieg des Glaubens (que ganhou medalha
de ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 1935) e Triumph des Willens,
ambos dirigidos pela lendária Leni Riefenstahl. Estes filmes incluem:[429][427]
Ver também
Bigode de Hitler
Anophthalmus hitleri
Testamento político de Adolf Hitler
Reductio ad Hitlerum
Notas
a. O instituto de sucessão de
Realschule em Linz é o Linz
Fadingerstraße.
b. Hitler também ganhou um acordo
por difamação contra o jornal
socialista Münchener Post, que
havia questionado seu estilo de vida
e renda. Kershaw 2008, p. 99.
c. Para mais informações do assunto,
ver McMillan 2012.
d. MI5, Hitler's Last Days: "O
testamento de Hitler e seu
casamento" no website da MI5,
usando fontes disponíveis para
Trevor-Roper (um agente da MI5
durante a Segunda Grande Guerra e
historiador/autor de The Last Days
of Hitler), dados do casamento após
Hitler ditar seu testamento.
Referências
Bibliografia
Online
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