José Lebre de Freitas - Código de Processo Civil Anotado, Vol. 1 (3a Ed., 2014 - Inc.)

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José Lebre de Freitas Isabel Alexandre CODIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO Volume 1.° Artigos 1.° a 361° 3." EDICAO Coimbra Editora 4 Liv, [= Da agde, das partes edo tribunal Art. 2." processuais, pois, se nao estiverem e a falta ou a irregularidade nfo tiver sido sanada, nos termos do art, 6-2, a deciséio a proferir serd de absolvigio da ins- tinein (ou de remessa do processo para outro tribunal), no sendo dada resposta \ pretensio (arts. 278, 576-2 ¢ 577) e produzindo-se mero caso julgado formal (art. 620), sem prejuizo ainda do regime do art, 278-3, pelo qual, em beneficio do feu, © principio do direit 4 decisio de mérito é reafirmado A afirmagao, logo no art. 2-1, do direito a apreciagdo da pretensao, mediante a tutela do dircito ou interesse legitimo, ¢ portanto do primado da decisio de mérito sobre a decisfio processual, visa assegurar a realizagao da fungdo jurisdicional, tal como ela é definida no art, 202-2 CR (cf. LEBRE DE Patras, Jniroduedo cit., a.° 1.3.4 ¢ 1.3.5), em contraponto a uma pratica ainda dominante nos nossos tribunai 4, © art. 6 da Convengao Europeia dos Dircitos do Homem e, apds a {iltin revistio constitucional, o art. 20-4 CR consagram o direito a obtengiio da decisio em prazo razoavel. E um corolario do entendimento do dircito de weosso A justi¢a como direito efetivo A jurisdigao, pois uma decisdo tardia pode equivaler A denegagiio de justiga (ef. art. 3-2 do EstMJ, no prisma do magistrado judicial), © preceito que comentamos transp5e-o para a lei ordindria. A juris- prudéneia do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem formada em torno do ireito A decisio em prazo razodvel (sobre o qual tem incidido a maioria das queixas a ele dirigidas) ¢ abundante ¢ elucidativa sobre a complexidade de que por vores se reveste a coneretizagio deste conceito indeterminado. Veja-se, (unto decisSes respeitantes ao Estado Portugués, Joaquim Pires be Lima, Consideragdes acereu do direito de justiga em prazo razocvel, ROA, 1990, IL, ps 671 © 985 veja-se também IRENEU CABRAL BaRRETO, A Convengdo Europeia dos Direitos do Homem, Coimbra, Kluwer / Coimbra Editora, 2010, ps. 180-187, © LOM De FREIIAS, Iniroduedo cit,, 1° 14. Nilo obstante a redagao do preceito, conforme com a aparente restrig¢ao do rl 20-4 CR, 0 prazo razoavel deve ser respeitado, nao apenas n jo decla- Paiva, mas também na agdo executiva (art, 6 da Convengio Europeia dos Direitos do Homem: “qualquer pessoa tem 0 a que & sua causa seja exa- minada (...) por um tribunal independente ¢ impareial”), A ele tei direito quer o tutor quer o neu Veron” 2 br fine da anotagiio ao art. 152 A correspondéncia entre o direito ¢ a agilo nilo prejudica a natureza plblica do dircito de agho, que nem ¢ una emuanagio do direito subjetive priv vado nem depende da sua existéncia, bastanda # constituigho do processo e@ ao iw alin ® Art, 3." Ti, 1 — Das dispesi¢des e dos principtos furdamentats 5 consequente direito a cmanagiio da sentenga a afirmagao, pelo autor, ao dedu- zir a pretensfo, de que tem um direito ou interesse legitimo (cf. LeBRE DE Freitas, /nirodugdo cit., n." 1.2.2, e, em especial, CASTRO MENDES, O direito de ago judicial, RFDL, 1959, ps. 235-236). A excegao a que o preceito se refere é a das obrigagdes naturais nao espontaneamente cumpridas (arts, 402 CC e 403 CC), que, porém, nao cons- tituem verdadeiras obrigacdes juridicas para quem entenda que a jurisdicidade implica necessariamente a coatividade. Com a expresso “a prevenir au reparar a violagao dele” (direito), intro- duzida na revisdo do CPC de 1961, quis-se, manifestamente, limitar o termo “reconhecer” as agdes declarativas de simples apreciagao e constitutivas e, autonomizando a finalidade da acao executiva (real 4a coerciva do direita), reservar o aditamento para as agdes declarativas de condenagao, como resulta de alguma aproximagiio terminclégica entre essa expressao ¢ a constante do art. 10-3-b, A mesma expressdo, em si pouco rigorosa, era utilizada num sen- tido mais amplo na Anteprojeto ¢ no Projeto da comissao Varela (art. 1-1), de onde foi capiada, abrangendo ai a fungaa da agio exeeutiva. ARTIGO 3° (Necessidade do pedido e da contradigAo) 1 — O tribunal nao pode resolver o conflito de interesses que a agi pressupde sem que a resolugdo lhe seja pedida por uma das partes e a outra scja devidamente chamada para deduzir oposigo. 2 — S6 nos casos exeecionais previstos na lei se podem tomar provi- déncias contra determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida. 3 — O juiz deve observar ec fazer eumprir, a0 longo de todo o processo, © principio do contraditério, nao Ihe sendo licito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questées de dircito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem, 4 — As excegées deduzidas no iiltimo ai parte contraria responder na audién ‘ola, no infelo da audiéneia final. iculado admissivel pode a prévia ou, nfio havendo lugar a 1, Os 1 16 2 deste artigo mantény a redagain qu anh td C sempre tiveram no 'C de 1961, por sun ver idéntion & dio CPC de 1939. Cotentira Heliiwin ® Livi Da pile, chs prarten @ cdo wribunat No primeire slo consagrados © Gnuy de impulse processual inieta vertente do principio do dispositive (a heterorresalugde do eonflito de interes: sey 86 pode ter lugar perante a iniciativa duma pretensa parte material), eo direito de defesa (necessidade do chamamento da contraparte para deduzir oposigio), O segundo admite que, por disposigao excecional, seja permitida a tomada de providéneias contra uma pessoa sem prévin audigfo dela 2, Trave mestra do dircito processual civil, 0 prinefpio do dispositive dosdobra rigorosamente, em dois; o principio do dispositive propriamente dite (Dispostionsmaxime), redutivel A ideia geral de disponibilidade da tutela jurisdicional, eo prineipio da controversia (Verhandhurgsmaxine), relative A fesponsubilidade pelo material faetico da causa (cf LEBRE DE FREITAS, datro- dugdo eit. 1." 116.1). A disponibilidade da tutela jurisdicional exprime-se, antes de mais, pela liberdade de decisdo sobre a instavragao do processo. Nao podendo o tribunal substituir-se nunca as partes na iniciativa deste, ao autor cabe dar inicio a Ingtiincia, mediante a propositura da agao; por seu lado, a reconvengdo pode eonsistir no pedido de resolucdo de outro conflito de interesses, que com o primero se relacione nos termos do art, 266 3, © chamamento do réu para se defender faz-se por ato de citagdo (art, 219-1), rodeado de especiais cautelas para garantir, tanto quanto possivel, 6 eletivo conhecimemto do processo contra ele instaurado. Esta garantia postula & obrigatéria comunicacao, ao réu, dos elementos essenciais enunciados no irl, 227, E impe também que o chamamento, ato receticio, se faga perante o réu ou, pelo menos, chegue A sua esfera de controle, embora neste casa constitu mera presunedio de conhecimento, coma tal ilidivel (art. 188-1-c). lista faculdade de ilisio nao é, porém, no nosso direito conferida ao réu citado editalmente, ao qual sé resta, no esquema da nossa lei ordindria, a invocagdo do justo impedimento (LeBRe DE FREITAS, Jntroduedo cit., n.° 1.2.3.2): no bulango dos interesses do autor ¢ do réu, consideragdes de eficdcia do direito ile ayio, ligados a ideia de que, na generalidade dos casos, o réu_ausente em parte incerta no merece especial tutela judiciiria, explicam a disparidade. 4, A audiéncia prévia da pessoa contra quem tenha sido requerida uma providéncia sé pode ser dispensada quando a realizagdo do direito do requerente possa perigar por yia do conhecimento da pretensdo deduzida. Coimbra Kehtora® fo caso dos procedimentos cautela aria de posse (art, 378) ¢ de arresto (art, 393-1), bem como do procedimento eautelar, comum ou nominado, em que concretamente se verifique que a audi- gilo do requerido pode por em risco sério o fim ou a eficdcia da providéneia (arts, 366-1 ¢ 376-1). Pode também ser o caso da gio executiva, em que a penhora é, em cer # nominados de restituigio provi- tos casos, efetuada sem audiéneia prévia do executado, a quem s6 depois ¢ dado conhecimento da agio (arts, 855, n** 1 ¢ 3, e 727), Sempre que tal acontece, o direito de defesa 6 exercido a posteriori, apos a realizagdo da providéncia requerida (cf. arts. 366-6, 376-1, 856-1 ¢ 727-4), 5. Os n.“3 ¢ 4, ambos introduzidos no CPC de '961 pelo DL 329-A/95, uperfeigoados pelo DL 120/96 ¢ mantidos com idéntica redagao no CPC de 2013, consagram o principio do contraditério, o primeiro em geral e na vertente proibitiva da decis&o-surpresa ¢ o segundo no aspeto da alegagao dos factos da causa. Resultam estes preeeitas duma concegao moderna de principio do contra- ditério, mais ampla do que a do direito anterior 4 sua introdugo no nosso ordenamento. Nao se trata j4 apenas de, formulado um pedido ou tomada uma posigaio por uma parte, ser dada a contraparte a oportunidade de se pronunciar antes de qualquer decisao e de, oferecida uma prova por uma parte, ter a parte contraria o dircito de se pronunciar sobre a sua admissao ou de controlar a sua produgda. Este direito a fiscalizagdo reciproca das partes ao longo do processo é hoje entendido como corolirio duma concegao mais geral da contraditor’ dade, como garantia da participagiio efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litigio, em termos de, em plena igualdade, poderem influcnciar todos os elementos (factos, provas, questées de direito) qve se encontrem em liga- fo, direta ou indireta, com o objeto da causa ¢ em qualquer fase do processo aparegam como potencialmente relevantes para a decisia. 6. No plano da introdugéo dos factos principais da causa (ver o n.° 2 da anotagiio ao art. 5), exige-se a cancesséio a cada uma das partes do direito de contrariar, por impugnagao ou par excegaa, todos os factas alegados pela parte contraria a titulo de causa de pedir ou coma fundamerto de excegao. Par isso, quando a forma do processo nao consinta mais articulados, o direito de resposta fis excegdes deduzidas no Ultimo articulado é assegurado na audiéncia prévia ou, quando a ela nao haja lugar, na audiéneia final. Salvo em agio de valor nao superior a metade da algada da Relagiio (art. 597, als. a) e b)}, a necessidade de atuar esta vertente do principio do contraditério decermina a convocagao da Coimbra Editora® Liv 1 Da agte, das partes v do tribunal audiénela prévia para discussito das exeegdes dilatirias (arts, 591+1-b, 592+L-b a eontrario © 593-1 a contrario). Diversamente, tratando-se de excegdes porentérins, « sua discussio em audiéneia prévia deve, segundo os mesmos artigos, ter lugar mesmo quando jA tenham sido debatidas nos articulados, se 6 julz tencionar delas conhecer no despacho saneador, mas jf nfo assim quando © seu conhecimento s6 tenha lugar no final, Deduzida pelo réu, em contesta- glo em que nfo reeconvém, uma excegio perentoria e devendo o proce: Prosseguir, a resposta do autor, se nfo for para outro fim convocada a audién- ela prévia, 86 serd dada na audiéneia final. Podendo haver contraexcegdes, este regime pode sobrecarregar demasiado a audiéncia final — sem ofensa do principio do contraditério, mas também sem entendimento inteligente do prin- eipio da economia processual, LEBRE DE FREITAS j4 o havia eriticado, embora sem tanta razio como hoje, em Revisdo do processo civil, Revista da Ordem dos Advogados, 1995, II, p. 424, em comentario ao projeto de revisdo da CPC de 1961, Tambem perante os factos principais que sejam complementarmente intro- duaidos na causa nos termos do art. 5-2-b ¢ assegurado o direito de respasta da parte contréria Aquela a quem aproveitam. Quanto, por fim, aos factos principais que, excecionalmente, o juiz pode introduzir na causa (arts. 412 © 612), ambas as partes devem ser convidadas, antes da decisdo, a sobre eles @ sobre a prépria admissibilidade da iniciativa oficiosa — se pronunciarem (“questées (...) de facto (.,.) de conhecimento oficioso”). 7. No plano da proya, 0 princ{pio do contraditério cxige: a) que as partes Sejt, em igualdade, facultada a proposigao de todos os meios probatérios potencialmente relevantes para o apuramento da realidade dos factos (principais ou instrumentais) da causa; 6) que thes seja consentido fazé-lo até ao momento em que melhor possam decidir da sua conveniéncia, tidas em conta, poréin, as hecessidades de andamento do processo; ¢) que a produgao ou admissio da prova tenha lugar com audiéncia contraditéria de ambas as partes; d) que estas possam pronunciar-se sobre a apreciacao das provas produzidas por si, pelo adversirio ou pelo tribunal. A primeira derivacto deste direite & prova compadece-se com a limitag%o ruzodye! do niimero de testemunhas a ouvir por cada parte (art. 511, n2* | ¢ 2), sobretudo se o juiz puder permuitir que esse limite seja concretamente exeedido ‘om fungio das particularidades da causa (art, 511-4), Menos compat{vel cam © direito 4 prova era a limitag&o a um pequeno nimero das testemunhas a inquirir por cada facto, limitagaa essa que, estabelecida nos CPC de 1939 © 1961, desapareceu no CPC de 2013. Coimbra Art de Tit 1 Das disposigdes v stax prinelpios fundamenuais 9 ivagio do direilo A prova com as necessidades ento do processo faz-se, no CPC de 2013, estabelecendo para a pro- Poxigflo da prova documental ¢ testemunhal (esta s¢ se alguma inicialmente liver sido proposta) o limite de 20 dias antes da audigneia final (arts, 423-2. 416-1 © 598-2), embora o momento normal para a apresentagfio da prova soja 6 dos articulados. fim maior conformidade com o principio do contraditério. 6 dircito alemiio limita-se, com maleabilidade, a exigir que todos os mcios de prova a produzir em audiéncia sejam oferecidos ~~ possam scr pastos em causa pela parte contraria — a tempo, de acordo com as necessidades do processo, A terceira derivagao referida, desde ha muito consagrada no nosso direito positive, implica que, proposta uma prova preconstituda, 4 parte contraria seja ficultado, antes da admissdo, impugnar a sua admissibilidade e forga probaté- tia e que, estando cm causa uma prova constituenda, lhe seja facultado impug- nar a sua admissibilidade e intervir no ato da sua produgdo (art. 415). Mas implica também que as mesmas faculdades sejam reconhecidas a ambas as partes quando a iniciativa da prova seja oficiasa. Por fim, cubendo ao juiz apreciar a prova, as partzs tém o direita de, antes da apreciagao final, isto ¢, antes da deeisfio sobre a matéria de facto (hoje, integrada na sentenga final), se pronunciarem sobre os termos em que ela deve ta (art. 3-3). E-lhes assim facultado, uma vez produzidas todas as provas, discuti-las, pronunciando-se sobre a matéria de facto que consideram ¢ aquela que nfo consideram provada, em debates orais que tém lugar ainda na audién- cia (art. 604, n.“ 3-2 ¢ 5), 8. No plano das questées de dircito, é expressemente proibida, desde a revisio do CPC de 1961, a decisio-surpresa, isto ¢, a decisio baseada em fundamento que nao tenha sido previamente considerade pelas partes, Esta vertente do principio tem fundamentalmen:e aplicagio As questées de conhecimento oficioso que as partes nao tenham suscitado, pois as que esiejam na disponibilidade exclusiva das partes, tal ccmo as que sejam afieio- Samente cognosc{veis mas na realidade tenham sido levantadas por uma das partes, sio naturalmente objeto de discussfia antes da decisio, sem que o facto de a parte que as nao tenha Jevantado nao tor exercido o direito de resposta (desde que este Ihe tenha sido facultade) implique falta de contraditoriedade. Antes de decidir com base em questiio (de direito material ou de direito pro- cessual) de conhecimento oficioso que as partes nac tenham considerado, 0 juiz deve convida-las a sobre ela se pronunciarem, seja qual for a fase do pro- cesso ci que tal ocorra (despacho-saneador, sentenga, instancia de recurso). Coitibea Pai fo ‘ ae res e do tribunal Tal implica, por¢ém, que as partes déem cumprimento aos arts. 552-1-d © 572-b, mediante a exposigdo des fundamentos de direito da ago (na petigao inieial) e da defesa (na contestagao), ou, no minimo, a indicagfio da norma juridica ou do principio geral de direito tido por aplica avel, podendo 0 juiz eonvidar a parte que nio o tenha feito a suprir a irregularidade praticada (ari. 590-3). A omissio do convite as partes para tomarem posigéo sobre a questio amente levantada gera nulidade, a apreciar nos termos gerais do art. 201, Para maior desenvolvimento: LEBRE DE FREITAS, Jatrodugdo cit. n.° 1.3.2.4, 9, A proibigio da decisio-surpresa constava jd do Anteprojeto da comis- silo Varela, de onde passou para o respetivo Projeto (art, 4-3): “As partes devem ser ouvidas sobre as préprias questées de que o juiz conhega oficiosamente, sulvo caso de manifesta desnecessidade”. Mas o principio era seguidamente oado em varias normas do Anteprojeto ¢ do Projeto (ef, sobre este iltimo, Libkt pe FReitas, em nome da Ordem dos Advogados, Parecer cit., ps. 768-769), © Projeto de Revisto propds-se consagrar esta yertente do principio do contraditério sem excegdes: “(...), ndo the sendo licito decidir questoes de direito (ou de facto), mesmo que de conhecimento oficioso, sem que pre- viuniente haja sido facultada as partes a passibilidade de sobre elas pronuneiarem”, Mas o DL 329-A/95 arrepiou caminho e, um tanto sibili- hamente, passou apenas a impedir o proferimento da decisio “sem que as partes tenham tido a possibilidade de, agindo com a géneia devida, sobre clas se pronunciarem”, Nao era dificil imaginar um raciocinio judi ile aeordo com o qual, se o juiz se apercebe de certa questdo oficiosa, tam- hém a4 partes, se tivessem sido diligentes, dela se podiam ter apercebido, com © que dificilmente poderia ocorrer uma decisao-surpresa, D1 180/96 suprimiu a expresso “agindo com a diligéncia devida” ¢ copiou io projeto da Comissao Varela a expressio “salyo easo de manifesta des- nevessidade”, Pode assim nfo ter lugar o conyite para discutir uma que de direilo quando as partes, embora nao a tenham invoeado expressamente nem referide © preceito legal aplicivel, implicitamente a tiveram em conta sem sombra de divida, designadamente por ter sido apresentada uma vere allo fiction, nfo contrariada, que manifestamente nio consentia outra quali- licagdo. Pode cle também nio ter lugar quando # questiio seja decidida favorayelmente 4 parte nio ouvida (© que sempre implica irrelevdneia da omissiio: art, 195-1) ou quando seja proferide despacho que convide uma das partes a sanar amu irrepularidade (art, }46e2) art, $904) ou ume insu Caner Liaitara® Art. 4" Tit, 1 — Das disposigdes e dos principias findameniais ul fiviéncia expositiva (art, 590- ; art. 639-3), No entanto, a pratica dos tr bunais tem sido muito restritiva e a interpretagaa da excegao tem sido feita em termos néo muito divergentes do sentido da redacio original do DL 329-A/95. Por isso, a expressda aparccia suprimida no Anteprojeto da Comissio. Reintroduziu-a o Projeto de Propasta de Lei, acrescentando, porém, que a desnecessidade teria de ser “devidamente fundamentada”, Este acrescenta foi suprimido na Assembleia da Repilblica, em face do parecer do CSM. Criticando a opgio final do legislador: Lepre pe FRerras, Sobre o nove Caddigo cit. ps. 30-31. Justificando-a (em visio mais restritiva desta vertente do principio do contraditério); RAMos De Faris — Luisa LOUREIRO, Primeiras notas cit., n° 3.2 da anotagao ao art. 3. ARTIGO 4. (igualdade das partes) O tribunal deve assegurar, ao longo de todo 0 precesso, um estatuto ualdade substancial das partes, designadamente no exereicio de facul- dades, no uso de meios de defesa e na aplicagio de cominagdes ou de sungdes processunis. 1, O principio do contradit6rio implica o tratamento das partes cm termos de igualdade e por isso se faz derivar do principio geral da igualdade das par- tes, que implica a paridade simétrica das suas posigdes perante o tribunal. Deste mesmo principio deriva também o da igualdade de armes, de que, pela primeira yer ha nossa lei processual, tratou o art, 3-A do CPC ¢e 1961, provenicnte da fevisiio de 1995-1996 ¢ reproduzido no artigo ora sob andlise ‘Trata-se de garantir a ambas as partes, ao longo do processo, a identidade de faculdades e meios de defesa e a sua sujeigao a Gnus 2 cominagdes idénticos. Como, porém, 6 da natureza do proprio processo alguira diversidade das posi- yes das partes (maior entre exequente ¢ executado, ras também em alguma medida entre autor e réu na agao declarativa), 4 ideia de identid: Wbsoluta de meios ¢ efeitos sub: de formal se a de um jogo de compensagdes gerador do equilibrio global do proceso, sempre que a desipualdade objeliva intrinseca He certas posipdes processuais leve a atribuir a uma parte meios ou a sujeité-la # efeitos nfo atribulveis d outra, © termo substaneial (“estatuto de igualdade substaneial das partes") efeera, porém, alguna ambiguidade: “Coie a Watiata iF Dior agi, leur prenetns bina AW 2, Vinha sendo assinalade hé ulpuns anos que o Codigo consagrava algu- mas desigualdades entre as partes, nomeadamente entre a representada pelo Ministério Pablico (Estado om primeira lugar) & a respetiva eontraparte, com Violugio do art, 6.da Convenglo Europeia dos Bireitos do Homem (ve) designadamente, LeBre be FRENTAS, Justica ¢ processa civil, BMJ, 350, ps, 17-20, Inconstitucionalidades cit,, ps, 38-39, ¢ A igualdade de armas no direlto pro- cessual civil portugués, O Direita, 1992, 1V, ps. 618-622 e 624-625). No Anteprojeto da comissiio Varela nada era alterado, mas, perante a eritica dirigida por Risuiko Menpes-LeBRe DE FREITAS (Parecer cit., ps. 622-624), o sucessivo Projeto ja incluia um art. 7, de acordo com o qual “as partes [deyiam] ser tratadas com igualdade, ainda que qualquer delas seja representada pelo Ministério Pablico, sem embargo das disposigdes especiais ditudas pela sua diferente posiguo no pracesso”, Nao obstante, continuava a propor-se a manutengao dos privilégios de que o Ministério Publico gozava, designadamente quanto ao prazo para contestar ¢ a isencfio das cominagdes decorrentes da revelia eda falta de impugnagao espeeificada, o que Leare DE Mieritas, em nome da Ordem dos Advogados, yoltou a crilicar (Parecer cit., ps. 769-770), No adjetivo substancial, introduzido pelo DL 180/96, nfo pode ver-se 4 Consagragao do papel assistencial do juiz, em termos que lhe imponham a prestagio de auxilio 4 parte dele carceida por via do deficiente exercicio dos seus direitos ¢ faculdades formais, fora dos casos em que uma lei especial o determine (assim, por exemplo, os arts. $90, n.* 2-b, 3 e 4, ¢ 591-1-c). De outro moda, pederia ser posta em risco a imparcialidade do tribunal. O adje- tivo visa, sim, t&o-sd significar que a igualdade das partes, sempre cireunscrita 4 igualdade de armas, tal como a Comissio Eurapeia e o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem a (ém entendido, deve, quando inatingivel em termos de igualdade formal absoluta, ser garantida no plano do equilibrio global do processo, nos termos atras referidos (LEBRE DE Freitas, Imirodugéio cit., ni” 13 (32). Outras sao as derivagdes do principio da cooperagao (art, 7), nic obe- decendo, designadamente, o convite judicial dos arts. 590, n.% 2-b, 3 ¢ 4, e 591-1-c a finalidade de garantir a igualdade das partes (nao poderia ter lugar se fossem igualmente deficientes os articulados de ambas), mas a de usscgurar, em cooperacio entre as partes ¢ o tribunal, a obtengdo duma sen- tenga de mérito adequada a realidade (ver, porém, EIRA DE SOUSA, Esiu- dos cit, p. 44), Outras sdo também as finalidades visadas pelos regimes lepais que visam superar fatores de insuficiéncia econdémica das partes, como € 0 caso do regime do apoio judicidrio (arts, 16 a 38 da Lei 34/2004, de 29 Art. 8 Tit Dem Dats digposigder ¢ dew prinedpios Aancame tax de julho, com as alieragdes da Lei 47/2007, de 28 de agosto; arts. 2a 9 da Portaria 10/2008, de 3 de janeiro, republicuda em anexe & Porturia 654/2010, de 11 de agosto, que a alterou; Portaria 1085-A/2004, de 31 de agosto, alte- radi pela Portaria 288/2005, de 21 de marge, ¢ pela Lei 47/2007, de 29 de julho) e da ponderagaio imposta pelo art, 1398 em sede de sangdes pecuni- firias clyeis: em causa esti a garantia dos direitos de agdo e de defes mediante a supressiio de entraves econdmicos (LEBRE DE FREIVAS, Jntroducdo it. n.° 11.2.4), e ndo a garantia da igualdade das partes, ainda que esta possa «liretamente reposta mediante esses mecanismos (ver, porém, ABRANTES GERALDES, Temas cit, I, p. 98). ARTIGO 5° (Onus de alogagio das partes © poderes de cognigio do tribunal) 1 — As partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir ¢ aqucles cm que se baseiam as excegécs invocadas. 2 — Além dos factos articulados pelas partes, sio ainda considerados pelo ju a) Os faectos instrumentais que resultem da instrugaie da causa; b) Os factos que sejam complemento ou coneretizagiio dos que as partes hajam alegado resultem da instruga da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se pronunciar; c) Os factos notérios e aqueles de que o tribunal t mento por virtude do exercicio das suas fungées. conheci- 3 — O juiz nao esta sujeito As alegagdes das partes no tocante A inda- gagdo, interpretagio ¢ aplicagio das regras de direiio. 1, Osn™ 1 e 2 equivalem quase inteiramente ao tal como resultou da revisiio de 1995-1996, co n.° 3 reproduc ipsis verbis a 1." parte do art, 664 do mesmo cédigo. Embora tenha deixado de mencionar na epigrafe o principio do disposi- tivo (epigrafe do anterior art. 264), substituido pela expresséo “onus de alega- glo das partes”, é dele que se trata, na vertente do principio da controvérsia (n.° 2 da anotagao ao art. 3), bem como do principio da legalidade do eon- fetido da decisio, Coimbra Kai i LN 1 Daw apie, dan parton & de wibunal M 2, O principio di controvérsia tradiese no lberdade de alegar os fhetos destinados a constituir findamento da deeisio, nt de acordar em diclox por asentes ©, em corta medida, na iniciativa da prova dos que forem controvertidos, 0 Seti aspeto principal consiste em que As partes cabe a formagio da materia de facto da causa, mediante a alegagho, nos articulados, dos factos principais, isto 6, dos que integram a causa de pedir, fundanda o pedido, ¢ daqueles en que se biel as excegbes perentérias. Sem prejulzo de os factos da causa poderem ser alepados por qualquer das partes, cada uma tem o onus da alegagio daque- Jos que tém um efeito que the & favoravel (alegagdio dos factos constitutivos do direito a cargo de quem se arroga t@-lo — art, $52+1-d —e dos factos impedi- tivos, modificativos ¢ extintivos a cargo da contraparte — art. 576-3), cuja inobservaincia dé lugar, consoante o caso, A improcedéncia da agho ou A impro- cedéneia da excegio, sem prejutzo ainda d individualizagaio da causa de pedir pelo autor (art, 581-4), implicando violagao do dnus da substanciagio, dar lugar 4 ineptidaio da petigao inivial (art_186-2-a), Independentemente da intenedo do legislador, a diferente redagaio dos n.* 1 ¢ 2 do artigo (proveniente do Anteprojeto da Comissio, com ligeira alteragao no hi” 2-b: “coneretizagao dos que” em ver de “coneretizagao de factos essenciais que”) nfio inculca entorse ao principio da controvérsia: as partes cabe alegar os fuctos principais (“essenciais”) da causa, isto ¢, todos aqueles sem os quais a tigi Ou 4 excegio nao pode proceder (n.° 1; atts. 62-b, 552-1-d, 572-c, 574-1); se os efetivamente alcgados ficarem aquém_do acervo desses factos, os que faliem para completar este acervo podem resultar da instrugao da causa ¢ inte- piirio a matéria de facto do processo se alguma das partes nele pretender ainda introduzi-los (n.°2-b; fre, n° 5), Concegiio diferente é a de ‘Telxera pe Sousa, Estudos cit., ps. 76-79, que ja na vigéncia da redagio do CPC de 1961 distinguia dentro dos factos principais, os essenciais ¢ os complementares, entendendo que 80 aos primeiros o preceito se referia. Lopes Do REGO, O prineipio dispositive © os poderes de controto do juiz no mamenio da sentenca, in Estudos em home- nagent ao Prof. Doutor José Lebre de Freitas, |, ps. 785-788, faz uma interpre- {agi présima dessa quanto aos factos complementares, que “desempenham claramente uma fungao secundaria ou acessoria” (embora os factos conerctiza- dores ja possam respeitar a toda a previséo normativa), No mesmo sentido, mas sem definir 0 facto complementar, vai Rita Logo Xavier, Os principios do processo nos “principios ortentadores" da Proposta da Comissda de Reforma da CPC, RMP / Cadermos, 11/2012, ps. 17, 19 e 20, entendendo os factos com- plementares libertos do principio da preclusdo ¢ oficiosamente inseriveis no provesso pelo juiz em qualquer momento, “sem ou mesmo contra a vontade da parte”, Ver, sobre a questio, LEBRE DE FREITAS, Sobre o novo céaigo cit., n.° 5. Coimbra Editora 1 t ~ Daw disposig + prdnepins furatarer 15 Ver também, coneordante, ANRANTES GrRALDIS, O nave processo declarativo p. 14, Ver ainda # coerente ¢ minuciosa andlise de RAMOS DE FARIA — Luisa LOuREIRO, Primeiras netas cil, 1." |e 2 da anotagiio ao art. 5, concordante com adefiniglo que aqui é dada de “facto essenelal” ¢ divergente quanto & necessidade de alguma das partes pretender introduzir no processo 0 facto essencial resultante da instrugio, com 6 argumento, entre outros, de que a prévia identificagao do objeto do litigio 596) é suficiente para o juizo de imputagao 4 parte de todos os faetos essenciais abrangidos por esse objeto, alegados ou nao (p. 39). 3, © juiz nao pode considerar, na decisdo, factos principais diversos dos flegados pelas partes (em aiticulado ou em resultado da instrugdo da causa) Por muito que suspeite da sua verificagio ou que deles tenha até conheeimento, 9 juiz nfo pode, em regra, deles servirese, A regra maniém-se quanto aos factos em que se fundam as excegdes dila- tirias: on. 1 nao distingue quando fala de exeegie ¢ 0 n.° 2 tfo-pouco o faz quando refere os factos a considerar na decisAo. Independentemente da dis- tingao, no plano do direito, entre a execgao de conhecimento oficioso ¢ aquela que s6 é invocavel pelas partes (arts, 578 ¢ 579), os factos em que uma e autra se baseiam estia sujeitos a alegagao das partes, explicita ov apenas implicita (u apresentago dum documento, por exemplo) xcecionados estéo os factos notérios e aqueles de que o tribunal tenha conhecimento por virtude do exercicio das suas fungGes (alinea c; ef. art. 412) O art, 264-2 do CPC de 1961 cra também expresso, mediante remissdo para 0 seu art, 665, em excetuar os factos constitutivos de simulagao ou fraude pro- ¢essual, Mantendo-se idéntica no nove eddigo a norma sobre o “uso anormal do processo” (art. 612), também neste ponto se deve entender que nada se quis alterar, Veja-se Lesre pe FRerras, Jnroduedo cit., n. 1.6.4.2 4, A regra funciona para os factos principais da causa, mas 0S factos instrumentais A natureza da prova em precesso civil impunha-o jd quando o CPC de 1961 (antes da revis&o) n&o era expresso em dizé-lo: para chegar 4 conclusdo sobre a realidade dos factos principais, o vibunal, exeeto, por vezes, na prova j para por inspecao, langa mao de regras da experiéncia que estabelecem a ligagio entre eles © os factos (probatérios) com os quais ¢ diretamente confrontada, jidos em conta factos (acessbrios) que permitem a aferigao concreta dessa ligagdo. Estes factos (probatérios e acessérios) so Factos instrumentais, que como tais nao tém de ser alegados pelas partes nem de ser incluidos na base Coin a Bditora® 16 Hiv t= Ba apie, dae parton ¢ ol tritinndt Ar AE insirutdria, podendo surgir no decorrer da instrugdo da causa, © julz tem, portanto, de os considerar, independentemente di alegagdo day partes, T assim quanto dis presungdes judicials (num sentido mais lato do que o do art. 351 CC: ef. Leake ob FREMtAS, Aitrodugdo eit, 1." 11.9 (9), © A agdo declarative cit, 1.2 14.3.1), Mas, quanto As presungdes legais (também num sentido mais lato do que © do art. 350 CC), sendo a lei a impor a dedugio, scguent o regime dos factos principais (e nfo o dos fuctos instrumentais) aque- les que esttio na sua base, bem como os impeditivos da produydo do efeito probatorio dos primeiros, por fundarem excegdes dirigidas contra a admissibi- lidade ou a forga do meio de prova, isto ¢, excegSes probatérias (cf LEBRE DE Paerias, A falsicade ne? Tl (14) ¢ n° TIL8.6, © Invreducdo cit, n° 11.6 (S4-A)). §, De acordo com o n,° 2-b, devem ser consideradas na decisao os factos principais que, completando ou coneretizando os alegados pelas partes, se tornem patentes na instrugao da causa, ‘Trata-se duma inovagito profunda da revistio do CPC de 1961. Data do Anteprojeto da comissio Varela a idcia de romper com a rigida cincunserigdo da alegacio a fase dos articulados ¢ admitir no proceso civil faete ssenciais” cujo conhecimento resultasse da fase da instrugae. De acordo como art, 8-2 desse anteprajeto, poderiam “ser considerados na decisao ‘os factos essenciais que, embora nao articuladas, [tivessem] sido invocados na instrugio e discussao da causa, quando a parte por cles prejudicada os nao [tivesse| impugnado, devendo té-lo feito”, RUsEIRO MENDES-LEBRE DE FREITAS, em nome da Ordem dos Advogados, pus¢ram fortes reservas A redagio do preceito, porque imprecisa quanto a verificagdo da falta de impugnacao e porque propiciadora de modificagdes da cuusa de pedir e das excegées mal enquadraycis no csquema do nosso processo civil (Parecer cit. ps. 621-622), Sensivel a esta critica, o Projeto da comissio Varela, no seu art, 9-2, esclareccu algumas das dividas suscitadas, eireunsereveu o facto novo admis- sivel no Ambito da causa de pedir ou da excegdo (“factos essenciais a proce- déncia da pretensdo formulada pelo autor ou da excegaéo ou reconvengae deduzidas pelo réu”), introduziu o requisito do manifesto lapso da parte (“que 86 por manifesto lapso a parte interessada nao tenha alegado”) ¢, deixando cair © requisite da nao impugnagéo, passou a contentar-se com a observancia do prine{pio do contraditério (“desde que a parte contraria tenha sido efetivamente ltada a produced de contraprova ou de prova do contrario”). Coimbra TG ke Ari. 4" Tit 1 Daw disparighes ¢ dow prinolpion Mndanvwentais ic A nova rediglio do preceito apenas foi critienda a derrogagito, que poderia implticar, do principio do dispositive, defendendo-se que niio se deveria poder Considerar o facto senflo apds alegagio da parte, ainda que a eonvite do juiz (Like pe Frias, em nome da Ordem dos Advogados, Parecer cit., p. 753). ‘Tiveram-no em conta as Linhas orientadoras cit,, cujo ponto 1.4.3.b jWeconizava; “deverd consagrar-se o dever de 0 juiz considerar na decisio Mietos essenciais A procedéncia da pretensdo formulada pelo autor ou da exce- gilo ou reconvengio deduzidas pelo réu que, embora insuficiente ou incom- pletamente alegados pela parte interessada (complemento duma causa petendi complexa, concretizagdo de conceitos de direito, etc.), resultem da instrugao e discussiio da causa, desde que aquela manifeste intenedo de os aproveitar e a purty contrdria tenha sido facultada a produgdo, em prazo razodvel, de contra- Prova ou de prova do contrario”. No Projeto de Revisdo, o n.° 3 falava ainda de “factos (...) insuficiente- mente alegados”; mas, na sequéncia de critica formulada (LeBReE DE FREITAS, Revisdo cit., p. 430), visando um maior rigor terminolégico ¢ a aproximagio do lugar paralelo do art. $08-A-1-c, o DL 329-A/95 passou a referir “factos {...) que sejam ecomplemento ou concretizagdo de outros que a parte haja oporlunamente alegado”. Esta breve resenha dos antecedentes do preceite da CPC de 1961 nao deixa lugar a dividas quanto, por um lado, ao cardter complerentar — ou integrativo: art. 62-b — (duma causa de pedir ou duma exeegtio) que a facto novo deve fevestir e, por outro, a coincidéncia entre o Ambito de previsdo do preccito e © dos arts, 590-4 ¢ 591-1-c: trata-se sempre de casos em que a causa de pedir ‘Ou excecio esta individualizada, mediante alegagao factica suficiente para o efvito (diversa é © caso de ineptidao da petigda inicial por falta total de factos que integrem a causa de pedir: art. | 86-2-a), mas ndo completa, por nao terem sido alegados todos os factos necessérios A integragiio da previsio normativa. ‘Qualquer destes factos integradores da previstio da norma pode surgir em ato de instrugdo, sendo todos eles entre si permutaveis no papel de complementa- res: o facto complementar por nao ter sido inicialmente alegado, n&o tendo natureza diversa dos que as partes alegaram nos articulados. No CPC de 2013 deixou de se exigira ees de vontade da parte interessada, que, tal como da parte contra ficada para “se pronunciar”. Perante a nova redagdo, nilo é duyidose que qualquer das partes pode manifestar-se no sentido de integrar o facto na matéria da causa, o que melhor se coaduna com o principio do dispositivo, bem come com 6 exato alcance do anus da alegagio, do que entender ques6.o pode fazer a parte a quem o facto aproveita; seo fizer, nao a parte interessada, mas Editora® is Liv l Bacagio. daw partes’ do titwnat Art A # parte contraria, a admissdo da introdugio do ficto no processe pade ser acompanhaca pelo reconhecimento da sua realidade, caso em que ha eonfisstio, Uma divide, porém, suscita a nova redagio; se nenhuma das partes se mani- Testar nesse sentido, poderd mesmo assim o facto integrar a fundamentagio da decisiio? © CPC de 196! cra expresso em determinar que o juiz so podia findar a decisio nos factos alegados pelas partes (art. 264-2 ¢ 664), Nilo o diz © CPC de 2013, mas isso retira-se do enunciado do n.° | (inexistente antes da revisiio do CPC de 1961), E éo que impde o prinefpio do dispositivo, Ver Lene bE FReItAS, Jntroduedo cit. n.° 11.6 (338). A introdugiio de novo facto no processo, por uma ou outra parte, postula, @ menos que haja confissao, a possibilidade de contraprova pela parte contraria fiquela a que o facto aproveita, O uso desta faculdade de introduzir ne _processo factos oriundos da ins- (rugdo da causa pressupée que ela nao tenha precludido na fase da condensagiio, por a parte ter entao recusado a introdugdo desses mesmos factos na causa; nfo pode, nomeadamente, o juiz fazer duas vezes o mesmo convite a parte interes- sacle. 6, Os n.% 1 2 sé tratam do principio da controvérsia no aspeto funda- mental respeitante 4 formagao do material factico da causa. Outra vertente do principio da controvérsia esta refletida no art. 414 fimplicando um, ainda que mitigado, énus de iniciativa da prova). Do mesmo modo, estao fora do artigo em unotagfo as vertentes do principio do dispositive propriamente dito (dis- ponibilidade da tutela jurisdicional), de que cuidam outras disposigdes do codigo: art. 3-1 (liberdade de decisio sobre a instauraglo do processo}; art. 6-1 (Onus de impulso processual subsequente); art. 272-4 (suspensdo da insténcia por acordo); art, 285-2 (desisténcia da instancia), art. 290 (ato processual pelo qual se faz valer processualmente a confissiio do pedido, a desisténcia do pedido Ou a transagaa); art. 552-1, alineas d) e e) (confarmagao do objeto inicial do processo); art. 266 (ampliagao reconvencianal do objeto do processo); arts. 264 ¢ 265-2 (alteragdo ¢ ampliagio supervenientes do objeto do processo), art, $52-1-a (conformagia subjetiva inicial da insténcia); arts. 351-1 © 356-2 (substituigado da parte por habilitagdo); arts. 261-1, 311, 316, 321-1, 326-1, 333-1, 338 ¢ 786 (intervengao ou convocagio de terceiros para assumirem a posigdo de parte, principal ou acesséria). 7. Contrariamente ao que acontece no campo dos factos da eausa, 0 tri- bunal nao esta condicionado pelas alegagdes das partes no dominio da indaga- (lio, interpretagio c aplicagéc das normas juridicas, o que é uma decorréncia Cofmbra Eéitorn® A Tit 1 Daw disposigdes ¢ dos principion Manche ntain lo do prineipio constituclonal di legalidade do contenido da decisio ¢ usa exprimirse com o brocade latino fara sevit eurta, Decorre do art, 203 CR a sujcigho dos tribunais A lei, Juizo de constitucionalidade da norma ju a que lhes compete fazer (art. 204 CR). Tem, por isso, 0 juiz, na decisiio final, de “indicar, interpretar ¢ aplicar #4 formas juridicas correspondentes” aos factos previamente considerados provados (a sem prejuizo do logulmente protegidos dos cidadios”), sofre a excegiio decorrente da admissaio ilo julgamento de cquidade (arts, 4 CC e 39-1 LAV) e permite, em certas misso para o dircito estrangeiro (art. 41 CC), mas nao para outro quadro de principios de decisio (CASTRO Ménoes, Direito processual civil cit,, 1, p. 233 ¢ nota 3: “nfo 6 possivel a solicitag’io de julgamento por hormas de direito antigo, pela ética de certa religifio, etc.”), ste conhecimento oficioso da norma juridica tem como limite os efsos em que a lei substantiva torna dependente da vyontade do interessado fi invecagio dum direito ou duma excegio (ver o n.° 2 da anotagio ao Wirt, 579), bem como aqueles cm que a lei processual coloca na exclusiva disponibilidade da parte a invocagfo da falta dum pressuposto (art. 578), do vicio dum ato processual (art. 197) ou da extingia dos efeitos dum ato (of, art, 763-1, para a penhora), Trata-sce de casos cm que a declaragdo do Interessado constitui um elemento da previsto da norma, sem o qual o seu efeito nfio se produz. Por outro lado, o conhecimento oficioso da norma juridica esta dependente da introdugao na causa dos factos aos quais o tribunal a aplica, devendo sem- pre distinguir-se o plano dos faetos, em que vigora, mesmo em matéria de direito processual, o principio do dispositivo, e o plane do direito, em que a soberania pertence ao juiz, sem prejulzo ainda, no que ao dircito material se fefere, de o conhecimento oficiaso se circunserever no dominio definide pelo ‘objeto do processo, 8. EB controvertida na doutrina o problema de saber se, nfo obstante o prine{pio da legalidade do contetido da decisio, as partes podem disper sobre i solugio de questées juridicas prejudiciais (ver 9 n.* 2 da anotagio ao art, 92), Podem as partes, no ambito do direito disponivel, dispar das situagdes juridicas objeto da pretensiio, mediante a celcbragZo de negocios de aulo- composicao do litigio (ver a anotagfio ao art, 283). Poderfio também, dentro a a Editora® ENT Ba agde, dan partes e ibwenict Art &" do mesmo fimbito, dispor dow findamentos de direito material da decisto? Poderlo, por exemplo, as partes acordar em teren por anulado um contrat, no obstante nfo se verificurem os pressupostos de facto da anulabilidade, ou om terem por vilido um nepdeio juridico nulo por falta de forma impos lei? Poderd, ainda, 9 réu reconhever a direito de compropricdade do autor duma agi de preferéneia na compra da quota-parte dum bem mével ou, em ago de reivindicagtio, a divida do prego da compra e yenda duma coisa vendida com feserva de propriedade até ao pagamento integral do prego? Poderio as partes impor ao tribunal determinada interpretagaio dum negécio juridico, em exclusiva aplicagaio do art, 236-1 C Da admissibilidade dos negécios de autocomposigao do litigio nfo pode tirarse a admissibilidade da disposig&o da solugdio das questées juridicas pre- judiciais. A desisténcia do pedido, a confissda do pedido e a transagao cons- (iluem negécios juridicos de direito material ¢ por isso a sentenga que as homologa tem efieacia de caso julgade material. Mas 0 acordo ou 0 reco- nhecimento que verse sobre uma questiio juridica prejudicial, limitando-se a fixar um pressuposto da deeisao final, nao tem o mesmo alcanee de ato de direito substantivo nem, consequentemente, a mesma virtualidade de formagao de caso julgado material; a decisda das questdes prejudiciais ¢ abrangida pelo cuso julgado apenas enquanto fundamento da sentenca ¢ ndo cnquanto fun- diimento de outras pretensdes (ver o n.° 4 da anotagao ao art. 91). Castro Mrnprs fala, a propdsito, de caso julgado relative, em contraposigiio ao caso julpado absoluto, suscetivel de ser produzido pela prontincta do tribunal sobre 4 pretensdo que canstitui objeto do processo (Linzites objetivos cit., ps. 152-157). sti, pois, aberta a porta a uma resposta negativa 4 questo formulada. Nao ha, efetivamente, no nosso direito processual, ao contrario do que icontece no direito francés (arts. 12 ¢ 58 do novo CPC francés), disposigiio alguma de onde se retire a possibilidade de as partes disporem da solug&o de quest6es prejudiciais, pelo que o prine{pio jrra navit cura mantém nele plena efieieia, sem prejuizo da eficacia do ato de reconhecimento dum direito pre- judicial da parte contraria no mero plano dos factos —- como confissio (art, 352 CC) ou como presungao (art, 458 CC), consoante nele seja ou nao feita mengiio aos factos constitutivos desse dircito (VARELA-E RA-NORA, Manual cit., p. 357 (3) Jé no campo da arbitragem, em que as partes padem dispensar as érbitros de julgar segundo o direito constituido (art. 39-1 LAV), € defensavel a dispo- nibilidade pelas partes da relagao juridica prejudicial, tida em conta a origem negocial do poder jurisdicional dos arbitros. Coimbra Editora * = vied ne in pr Para desenvolvimento © referéneias doutrinais oda jurisprudénct vor Lenin pe VRniTAs, 4 eonfissdo cit, n° 20.2, bem como, mais resumida- inente, Jatroduedo eit, n° 1.5.2, ¢ ainda Algumas implicagdes da naturesa da vonvengdo de arbitragem, in Estidos cit., Ih, ps. 558562. ARTIGO 6," (Dover de pestito processual) 1 — Cumpre ao juiz, s em prejuizo do énus de impulso especialmente Imposto pela lei As partes, dirigir ativamente o processa e providenciar polo secu andamento célere, promovendo ofic: firing a0 normal prosseguimento da agdo, recusande o que for impertinente Hu meramente dilatério e, ouvidas as partes, adotande mecanismos de simplificagio ¢ agilizagio processual que garantam a justa composigio do Hitigio em prazo razoavel. 2 — O juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de Pressupostos processuais suscetiyeis de sanacao, determinando a realizagao dos atos necessirios A regularizagao da instincia ou, quando a sanacdo deponda de ato que deva scr praticado pelas partes, convidando estas a pratics-lo. 1, Este artigo corresponde, com aditamentos (diregao ativa do processo; fidogiio de mecanismos de simplificagao ¢ agilizagio processual) ¢ uma exten- ilo formal de previsto (“ato que deva ser praticado pelas partes", om vex de “ulguma modificagao subjetiva da instancia”), aos a. | ¢ 2 do art. 265 do CPC de 1961, tal como emergiram da revisiio de 1995-1996 (0 n." 3 tratava do prine{plo do inquisitério, atualmente no art, 411), Deve-se ao Anteprojeto da Comissio a ideia de importar do regime pro- Gossual civil de natureza experimental (DL 108/2006, de 8 de junho) 0 dever de pesto processual, que constituiria, no art. 265-B, um principio destacado do da adequagao formal (art, 265-A). Esta dicotomia (adequagao formal / / qostiio processual) mantinha-se ainda no Projecto da Proposta de Lei. Por scu Indo, a diregao formal do processo e o principio do inquisitério continuavam, lide a lado, tal como no revogado art. 265, a ter tratamento separado. A subor- dinagdio da diregao formal do provessa ao principio da gesto processual deve-se A Proposta de Lei, da qual proveio a redagao final do n° 1 (acolhendo sugestao mbr 2 Liv Pe Da agdo, daw parted © de tribunal APL OS" do Conselho Superior da Magistratura) ¢ que, com a diferenga dum tempo Verbal, manteve non.® 2a redagio proposta no Anteprojeto da Comissio. A opgiio di Proposta de Lei é ldgiea: o desenvolvimento do conecito de yeslio processual implica acentuar os poderes judiciais de direg&o formal do proceso a vinculagda do juiz ao seu exercicio efetivo para melhor realiz woner a da Tungio processual, Disso intentou o legislador fazer uma marca eristica do nove cadigo, como se lé no prefmbulo da Proposta de Lei, Menos compreensivel é a supressdo, no n.° 1, do termo regular (“anda- nto regular e célere do processo™}, com que # Proposta de Lei quis, com improptiedade, acentuar o principio da adequagao formal 2. O principio do inquisitério, hd muito consagrado no campo da instru- silo do processo ¢ com enunciagao geral no art, 411 (idéntico ao n.* 3 do artigo 265 do CPC de 1961), aponta ja para uma concegdo do processe civil, diversa da primitiva coneeeao liberal, em que a investigagao da verdade é¢ da responsabilidade do juiz. Mas, para além desse campo, assim como do da discussio de direito (cf, art. 7-2), ao juiz cabe, em geral, a direcio formal do Proceso, NOs seus aspetos tecnicos ¢ de estrutura interna, Esta diregae implica a concessio de poderes tendentes a assegurar a regularidade da instincia ¢ 0 normal andamento do processo, sé excecionalmente cabendo As partes o 6nus de impulso processual subsequente, ligado a0 principio do dispositivo. A referéneia a que este s6 existe quando wma lei especial o imponha foi intro- duzida na revisiia do Cédigo para afastar a ideia, anteriormente difundida na pritica dos tribunais, de que o autor linha constantemente de impulsionar o desenvolvimento do processo (MANUEL DE ANDRADE, Nogées cit, p. 360; LEBRE bb FREIYAS, em nome da Ordem dos Advogados, Parecer cit,, p. 763), Para assegurar o andamento do processo, em condigdes de regularidade (conformidade com a regra legal ou com a sua adequagao pelo juiz} e de cele- ridade, o juiz deve, dentro dos limites da lei, promover todas as diligéneias que julgue necessarias ¢ indeferir os requerimentos das partes que nao corres- pondam a um interesse sério (scjam cimpertinentes») ou visem fins meramente dilatérios A referéncia ao poder-dever de agilizag&o do processo, proveniente do art, 2-c do D1. 108/2006, de 8 de junho, encerra alguma redundancia: vincando ndamentalmente a perspetiva simplificadora do poder de adequacio formal (ari. 547), pouco mais 6, além disso, do que um elemento de interpretagdo de outras normas (que especificamente concedam ao juiz poderes determinados de atuagao no sentido de tornar mais célere o processo) no sentido de estabe- lecerem deveres do juiz e nfo mers poderes discricionarios. E, pois, escassa APL Tit J Baar disporigder e dos prineipion fundamentais 23 W margem deixada para uma sua aplicagio direta ¢ auténoma; pode o juiz, Homeadamente, praticar ou ordenar a pritica conjunta de atos processuais fiudiGneins, alos isolados de produgio de prova, decisées) respeitantes a pro- HesKOX que pudesse apensar, nos termos do art, 267, mas que julgue mais #onveniente que corram autonomamente. A nutureza de dever da gestio processual implica a nulidade resultante dy omissfio do ato de gestio, pelo menos quando uma norma especial determine 1 Sum prética, nos termos gerais do art, 195-1 e sem possibilidade de recurso di decisdo que for proferida sobre a arguigao (art, 630-2). Fora do principio da gestio processual estado as atuacdes jurisdicionais ubrangidas pelo principio do inquisitério: embora instrumentalmente subordi- Hida, come todo o processo, 4 finalidade de obtengao da decisao de mérito, a festio processual permanece uma gestio formal (nfo assim em PAULO Ramos Hr FARIA, Regime processuai cit., ps. 36 e 49, ou em RAMOS DE FARtA — LUISA LouRtIRO, Primeiras noias cit. 1. 1.1 ¢ 2.6 da anotagio ao art, 6, a ps. 43, fem cin MARIANA FRANCA GOUvEIA, A a¢do especial de litigdneia de massas, in Novas exigéncias do processo civil — Organizapao, celeridade e eficdcia, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, p. 142). E nao ¢ admissivel que, em seu home, o juiz recuse, por exemplo, ouvir testemunhas por jé ter formado a sua vonvicgiio apés a producio de outro meio de prova (MaRiA Jos CaPéLo, diipicidade legal das formas de proceso: fin a vista?, in LJornadas de direito processuat civil / Olhares transmontanos, Valpagos, Camara Municipal de Valpagos, 2001, p. 123; cf. Lepre DE Freiras, Jatroducdo eit, n° 11,3 (12), A diregio formal do processo estd estreitamente ligada ao cumprimento de deveres de cooperagio do juiz para com as partes 2 destas para com aquele (ver a anotagao ao art. 7). A observincia do principio do contraditorio antes da decisio de adequa- gilo formal ou de outra decisao que simplifique au agilize o pracesso € acen- tuada (“ouvidas as partes”), em decorréncia do que ja consta do art. 3-3, mas apontando mais fortemente para a inadmissibilidade de excegoes. Sobre a gestao processual ver, em especial, RAMOS DE FARIA — LUISA LOUREIRO, ci., anotagao ao art. 6, MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Apontamenta sobre o principio da gestéo processual no nova Cédigo de Pracesso Civil, Cadernos de direito privado, 43, ps. 10-14, e ISABEL ALEXANDRE, O dever de gestdo processual do juiz na proposta de lei retativa ao nave Codigo de Pro- cesso Civil, in O nove processo civil, Lisboa, CEJ, 2013, ps, 85-110, esta interrogando-se, além do mais, sobre 6 que resta para a gestao processual depois de demarcados os campos da adequagao formal, do principio da o| sidade (n° 3 infra), do poder de diregdo do processo ¢ da proibigao da pratica de atos Cobra Editora™ u Art 6 indieis ¢ pouco mais encontrando, fora as disposigoes expecificas dispensas que cita, do que a possibilidade de aprepagdo de altos © processos. 3, A norma do n.2 foi introduzida na revisdo do Codigo, coma preceu- pagilo de contribuir para a realizagtio efetiva da fungi processual, mediante a emanagio da decisio de mérito, Ao juiz cabe providen , por iniciativa oficiosa se as partes nfo o requererem, 0 suprimento da falta de pressupostos processuais suseetiveis de sanagio, Antes da revisiio do CPC de 1961, a lei previa a sanagfo da falta de alguns presiupostos processuais, como a eapacidade c # legitimidade em caso de litiseonsoreio necessario. Com a tevisio, o que era excegaio, dependente duma lei que especialmente a previsse, tornou-se a regra c a falta, om geral, dum pressuposto processual deixou de conduzit aulomaticamente a absolvigao da instineia, que so tem lugar quando a sanagao for impossivel ou quando, depen- dendo ela da vontade da parte, esta se mantiver inativa. Ver Le8RE DE FREITAS, A agde declarativa cit., n° 11.2. Cabe na iniciativa oficiosa a determinagfio da realizagdo dos atos neces- sirios & sanagao, designadamente na fase da condensagao (art. 590-2- também o art, 726-4). Mas, no dominio do principio do dispositive, o juiz nao pode sobrepor-se A parte, pelo que Ihe cabe apenas convida-la a pritica do ato hecessirio A sanagao. Assim acontece, nomeadamente, quando esteja cm causa a conformagio subjetiva da instincia (ef. arts. 28-2, 34-2 ¢ 261). JA quanto a sua conformacao objetiva ver on.° 5 da anotagio ao art. 186. © TC considerou, no ac. 179/07 (MARto ToRRES), DR, II Série, de 3.5.07, que nao € inconstitucional a interpretagado do n.° 2 no sentido de nio haver lugar & corregfo oficinsa nem ao convite a parte para corrigir a petig&o inicial duma agao movida contra um Grgdo administrative ¢ nfo contra a pessoa cole- tiva pliblica, A decisio sobre a constitucionalidade esta certa, tida em conta a norma do art. 279-2; mas é ilegal a decis&o do tribunal de nfo aplicar o n.° 2, mediante convite 4 parte, num caso em que esta, por exemplo, demande uma Camara Municipal em vez do respetivo municipio (ver o n.° 8 da anotagdo ao 12), Veja-se, no regime dos tribunais administrativos, o art. 10-4 CPTA, Ver, no ac. do STJ de 2.5.02 (NEVES RIBEIRO), wwwidgsi.pt, proc. 02B1172, lm caso exemplar de inobservancia, pelas instancias, do dever de sanagao da falta do pressuposto da personalidade judicidria, preterido por uma interpreta- gio formalista e ultrapassada das normas de processo civil, © auter moveu a agdo contra a Camara Municipal de Sintra ¢ no contra o Municipio de Sintra ré foi absolvida da insténcia! A n&o se entender que bastava a corresio Art = rit 8 principio funde Ofieiona da petipio inielal, havin que suseitar a sua corrego pelo autor, pros- soguindo © processo. 4, Nii agio executiva o juiz nfo tem a diregao formal do processo O agente de execugiio tem ai um conjunto de tarefas que engloba a promogao is diligéncias exceutivas e permite afirmar que lhe zabe a diregao formal da oxeeuglo, Ver Leoke pe PReMAS, A aedo exeewive cit., n2 1.6. 5. Vor, sobre o principio da adequagao formal, a anotagao ao art. 547 e, sobre # pecorribilidade das decisées de adequagao formal, o n.° 6 da anotagaio fo art 630, ARTIGO 7° (Princ da cooperagio) 1 — Na condugiie e intervengao no processo, devem os magistrados, os miandatirios judiciais ¢ as proprias partes cooperar entre si, concorrendo fara se obter, com brevidade ¢ eficacia, a justa composigao do litigio. 2 — © juiz pode, em qualquer altura de processo, ouvir as partes, s0UN representantes ou mandatarios judiciais, convidando-os a fornecer os exclarecimentos sobre a matéria de facto ou de cireito que se afigurem pertinentes ¢ dando-se conhecimento a outra parte dos resultados da dili- géncia, 3 —As pessoas referidas no nimcro anterior so obrigadas a compa- recer sempre que para isso forem notificadas ¢ a prestar os csclarecimen- tos que Ihes forem pedidos, sem prejuizo do dispesta ne n.° 3 do artigo 417." 4 — Sempre que alguma das partes alegue justifieadamente dificul- dade séria em obter documento ou informagdo que condicione o cficaz exereicio de faculdade ou o cumprimento de énus ou dever processual, deve o juiz, sempre que possivel, providenciar pela remocado do obstaculo, L. Sob a epigrafe “dever de colaboragdo das partes”, o art. 265 do CPC de 1961 apenas determinava, até 4 revistio de 1995-1996, o que se vé constar s das partes para com o tribunal, com vista 4 justa composigaa do litigio. De ambito mais vasto, 0 dever de eoope- Fagaio para a descoberta da verdade, consagrade em sede de instrugda, cabia, nfo apenas As partes, mas também a terceiros; mas, quanto as primeiras, era don 3. Tratava-se de acentuar dew 0 Liv | — Da agdo, das partes ¢ do tribunal TITULO IL DAS ESPRCIES DE ACOES Neste titulo, sem equivalente no CPC de 1961, 0 novo cddigo autonomi- Zou um artigo que o cddigo revogado inseria no capitulo das “Disposigdes fundamentais”, mas cuja matéria se distingue do enunciado dos principios processuais, A classificactio das agées articula-se com a diversificagio dos fins 4 que a sequéncia processual se dirige, consoante o tipo de pedido que o autor formula ao tribunal, ARTIGO 10.° (Espécies de agdes, consoante o seu fim) 1 — As agdes sio declarativas ou exccutivas. 2 — As ages declarativas podem ser de simples apreeiagio, de con- denagiio ou constitutivas. 3 — As agdes referidas no nimero anterior tém por fim: a) As de simples apreeiacao, obter unicamente a declaragio da existéncia ou inexisténcia de um direito ou de um facto; hb) As de condenagio, exigir a prestagiio de uma coisa ou de um facto, pressuponde ou prevendo a violagao de um direitos c) As constitutivas, autorizar uma mudanga na ordem juridi existente, 4d — Dizem-se «agdes executivas» aquelas em que o credor requer as providénelas adequadas A realizagao coativa de uma obrigagio que the é devida 5 — ‘Toda a exccugio tem por base um titulo, pelo qual se determinam © fim © 08 limites da agao executiva, 6 — O fim da execugiio, para o efeito do processe consistir no pagamento de quantia certa, na entrega de prestagiio de um facto, quer positive quer n plicdvel, pode sa ceria ou na ivo. 1, Este artigo retine as disposigdes do art 4 (ne 1a 4) e do art 45 (n $ © 6) do CPC de 196}, que reproduz, modificando, porém, por deliberagie da Assemblei di Republica, a definigho de agho exceutiva (providénciay ade- Coven Malton ® Art, 10° Tit, It — Das espéete s de agdes 31 quadas 4 realiza¢fo coativa de uma obrigagiio que Ihe é devida” — ver o art. 817 CC —, em vez de “providéncias adequadas A reparagao efetiva do direito vio- lado”). 2. On? | contém a sina divisio das agGes, cnunciando seguidamente os n.* 2 © 3 as especies da agdo declarativa e dando 0 n.° 4 a defini¢ao da agao executiva, cujas espécies o n.° 6 enuncia, em fungao, como diz o n.° §, do titulo executivo. Nao fazia assim o CPC de 1939, que classificava as agGes em 5 espécies de simples apreciagao, de condenacao, conservatorias, constitutivas e executi- vas, Coincidiam com as atuais as definigdes de agao de simples apreciagao ¢ constitutivas. Da agfio executiva era dito ser a que tivha por fim dar “realiza- gilo cfetiva ao direito declarado™, o que, tomade literalmente, implicaria como cu pressuposto necessirio a sentenga de condenagiio. As ages conscrvatérias tinham por fim “acautelar um prejuizo que se reecia”, 0 que levava a distinguir, enire elas, as que, visando a obtengao duma providéneia cautelar, eram prepa- ratorias de oulra agao (hoje, art. 2-2 i fine) ¢ as que tinham carater auténoma, como era o caso da aco possesséria de prevengao (hoje, art. 1276 CC), dos embargos de terceiro com fungao preventiva (hoje, art. 350) e da aeao de pre- vengio contra o dano (hoje, por ex., arts. 1347-1 CC, 1350 CC € 1352-1 CC) (ALBERTO Dos Reis, Comentirio, 1, p. 21), Nas agdes de condenagao, final- mente, exigia-se, fowt courf, a prestagdo de uma coisa ou de um facto, a que, tida cm conta a categoria da agao conservatéria (autonoma), era entendido como pressupondo sempre a violagao de um dircito (ALBERTO DOS REIS, idem, p. 20). A atual classificagado ¢ mais rigorosa. As agSes que visam a declaragio de direitos, pré-existentes ou a consti- tuir, ou de factos juridicos, opéem-se aquelas que, nfo cuidando ja de os deelarar, t¢m por fim a reparagdo material dos direitos violados. Nas pri ineiras tem Jugar a formulagio conereta da norma juridica, através do meca- Nismo da subsungao do facto ao direito; nas segundas trata-se tdio-s6 da atuag%o pritica da norina, mediante o desencadear do mecanismo da garantia. Por isso, 86 naquelas se produz o caso julgado material (art, 2-1), Na agiio de simples apreeiagio (“de simples declarago”, na terminologia proposta nos arts. 15-2 do Anteprojeto ¢ 17-2 do Projeto da comissao Varela) eneontramos a finalidade de declaragiio no scu estado mais pura: o autor pede Ho tribunal que declare a existéncia ou inexisténcia dum direito (declare que SOU proprictirio ou que o réu nite é proprietirio; declare que sou filho do réu ou que o réu nilo é meu filho) ou dum fete juridico (declare que celebrei com Cobmtnn Blea

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