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JONATHAN JEFFERSON DA SILVA qualificado nos autos, está sendo

processado com incurso nos crimes descritos nos artigos 331 e 329, parágrafo 1º do


Código Penal Brasileiro, vez que no dia 29 de março de 2019, por volta das 15h02m,
teria desacato funcionário público no exercício da função ou em razão dela, bem como
teria se oposto à execução de ato legal, mediante violência e ameaça a funcionário
competente para a execução do ato.
A denúncia (fls. 38) foi recebida 05 de março de 2020 (fls. 63).  
O acusado foi citado e apresentou Resposta à Acusação (fls. 57-62).  
Ao longo da instrução, foram ouvidas duas testemunhas e a vítima (fls. 63-
mídia). O acusado não compareceu à Audiência de Instrução e Julgamento.
Em alegações finais, o Ministério Público requereu a condenação do réu nos
mesmos termos da denúncia. Em contrapartida, o Defensor insistiu na absolvição
por não haver evidências suficientes de imperícia, imprudência ou negligência do
acusado (fls. 147-148).  
É o breve relatório.  
FUNDAMENTO E DECIDO.

A materialidade dos delitos está caracterizada com base no Boletim de


Ocorrência de fls. 1 a 5, bem como nas provas orais produzidas no curso do processo.

Resta saber se é possível atribuir a autoria dos crimes ao acusado. Vejamos o


que foi possível colher da Audiência de Instrução e Julgamento.

Gustavo Ladislau Stelmach, Policial Militar, vítima, relata que foi apoiar uma
viatura, e que chegou primeiro que a viatura realmente chamada. Tentou realizar
abordagem e deu voz de parada, e que teria, em seguida, recebido um soco. Não se
recorda qual era a ocorrência, lembra-se apenas que estava agressivo com a mãe dele.
Recorda-se que de fato o acusado estava muito agressivo, mas não confirmou a
percepção do uso de drogas. Não conhecia o acusado de outra ocorrência. Relata que
recebeu ameaças e xingamentos do acusado. Relata que o acusado estava sob aparente
efeito de drogas.

Vanessa Prado Almeida dos Santos, Policial Militar, relata que a viatura do Sr.
Stelmach chegou primeiro que as outras viaturas, e que de fato algumas viaturas foram
encaminhadas para o local. Relata que o acusado estava muito agressivo e agrediu o
policial militar. Relatou ter presenciado a agressão. E também relata que presenciou o
proferimento de sentenças. Relata que a agressividade do acusado parecia denotar uso
de drogas. Relata que, quando chegou, estava em vias de fato com o agredido.

Thiago Veríssimo de Camillis, testemunha e policial militar, confirmou que se


recorda dos fatos da denúncia, e que foi sua viatura que recebeu a ocorrência. Relata
que a viatura do policial militar Stelmach foi ao local para apoiá-lo, no entanto, teria
chegado antes, vez que estava mais perto. Relata que quando chegou ao local dos fatos,
o acusado e o agredido estavam em vias de fato, e que então o indivíduo foi
imobilizado. Então o acusado foi levado ao pronto-socorro.

Assim, as provas permitem concluir pela autoria do crime de resistência,


tipificado no artigo 329 do Código Penal, sem dúvidas. De fato, todas as testemunhas
relataram de modo uniforme que, no atendimento da ocorrência policial de
desinteligência, o policial militar Gustavo Stelmach tentou abordar o acusado e que ele
teria resistido às ordens policiais pelo desferimento de socos, por xingamentos e por
ameaças. O comportamento do acusado se subsume perfeitamente ao tipo penal, que
prevê:

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante


violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:

 Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

Em outras palavras, quando abordado pelo policial militar, o acusado teria


desferido um soco e iniciado o desferimento de um conjunto de ameaças, resistindo às
ordens policiais de parada e de prisão. Inquestionável, portanto, que seja autor do crime
de resistência.

Tampouco deve restar dúvida a respeito da autoria do crime de desacato.


Também houve uniformidade nos relatos das duas testemunhas e do Sr. Gustavo
Stelmach de que o acusado proferiu diversas palavras de baixo calão e diversas ameaças
contra ele, como já estava inclusive descrito no Boletim de Ocorrência, não havendo,
inclusive, nenhuma divergência entre o relatado na fase policial e aquilo que se colheu
oralmente na Audiência de Instrução. A coesão dos relatos em todas as fases do
processo faz com que não haja nenhuma dúvida possível a respeito da palavra dos
policiais. O crime de desacato se caracteriza pelo proferimento de palavras que
demonstrem desrespeito ao funcionário público em razão de sua função. Assim:

Realizam o tipo penal do crime de desacato expressões de


cunho desrespeitoso e de desprestígio à função pública
exercida pelos policiais militares, agentes do Estado que,
em cumprimento de dever, atenderam chamada sobre
ameaça e realizaram abordagem padrão em possível
suspeito de estar em situação de praticar violência
doméstica (TJ-DFT, Processo: 20151010087252APJ,
Rel. Des. Asiel Henrique de Sousa, DJe 12/08/2016).

A possível embriaguez do acusado no momento dos fatos, por álcool ou


qualquer outra substância química, não o escusa de sua responsabilidade, vez que (a)
essa embriaguez foi voluntária; e (b) sequer há concretude, nas provas colhidas, de que
de fato estivesse agindo sob efeito de drogas, de modo que se torna impossível analisar
o ocorrido levando em consideração a hipotética embriaguez. Nesse sentido, o
entendimento das Cortes:
Os estados de embriaguez e de drogadição não
impedem a caracterização do crime, salvo se
decorrentes de caso fortuito ou força maior, o que não
restou evidenciado nos autos. Condenação mantida
(TJRS, RCr 1002686715, Rel.ª Des.ª Laís Ethel Corrêa
Pias, DJERS 20/8/2010).

Assim, de rigor a condenação em ambos os delitos imputados. Há que se


reconhecer que todos os eventos se deram num mesmo intervalo de tempo, de modo
sucessivo
Passo à dosimetria da pena, de modo trifásico, nos termos do artigo 68 do
Código Penal Brasileiro.

a) Quanto ao crime de resistência, previsto no artigo 329 do CP, na análise


das circunstâncias judiciais, percebe-se que o autor é portador de maus
antecedentes, vez que portador de condenações penais transitadas em
julgado anteriormente ao período de cinco anos da data do fato,
caracterizador de reincidência técnica. Assim, estabeleço a pena-base
para o crime de resistência em 2 meses e 10 dias de detenção (aumento
de 1/6 sobre o mínimo legal). Não vislumbro circunstâncias agravantes
ou atenuantes. Tampouco concorrem causas de aumento ou diminuição.
b) Quanto ao crime de desacato, previsto no artigo 331 do CP, na análise
de circunstâncias judiciais, também considero os maus antecedentes do
acusado, devido a suas condenações anteriores transitadas em julgado, e
estabeleço a pena-base em 7 (sete) meses de detenção, 1/6 acima do
mínimo legal previsto no artigo 331. Não vislumbro circunstâncias
agravantes ou atenuantes. Tampouco concorrem causas de aumento ou
diminuição de pena.
Procedendo à somatória das penas, o réu deverá cumprir 9 meses e 10 dias de
detenção.

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