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202109891
Jataí-GO
2022
ATIVIDADE: KANT E O UTILITARISMO
George deve aceitar o emprego e, no segundo, que Jim deve matar o índio. Mas o
utilitarismo não dá apenas estas respostas; se as situações forem essencialmente como as
descrevemos e não existirem outros fatores adicionais, encara essas respostas como obviamente
corretas, penso eu. Mas muitas pessoas perguntariam certamente se, no caso 1, isso poderia ser
a resposta correta; e, no caso 2, mesmo quem acabar por pensar que talvez a resposta seja essa,
poderá muito bem pensar se isso será óbvio. Não é apenas uma questão de saber se as respostas
são óbvias ou corretas. Trata-se também de saber que tipo de considerações contam para chegar
às respostas. Uma característica do utilitarismo é que deixa de fora um tipo de consideração que
para algumas pessoas faz a diferença relativamente ao que pensam sobre casos deste género: o
tipo de consideração que inclui a ideia de que, como podemos começar por dizer numa primeira
formulação simples, sou especialmente responsável pelo que eu faço, mas não pelo que as
outras pessoas fazem. Esta ideia está intimamente ligada ao valor da integridade. Suspeita-se
muitas vezes que o utilitarismo, pelo menos nas suas formas diretas, torna ininteligível o valor
da integridade.
O utilitarismo considera que a felicidade de todos deve ser o fim último da ação humana,
considerando pela racionalidade o conceito de utilidade que levaria todos a tal fim. Em não
sendo possível que atinjamos a felicidade plena absoluta, e muitas das vezes, pelo contrário,
nós nos encontramos em situações adversas como os casos apresentados acima, ou até
mesmo na extrema situação hipotética do “dilema do bonde”, nós frequentemente nos
deparamos com a necessidade de fazer escolhas difíceis, das quais, seguindo os princípios
utilitaristas nós deveríamos então optar pelo mal menor. Contudo a ideia de mal menor
instrumentaliza as relações humanas e acaba reduzindo o ser humano muitas vezes a um
meio de atingir um fim. De que maneira então tal princípio poderia levar o homem à
felicidade? Supondo que os índios sejam uma aldeia, e, portanto, uma família, conviveriam
bem sabendo que sobreviveram por que dois dos seus foram assassinados por um estranho,
que baseado neste critério fez tal escolha? Da mesma forma o químico, seria ele próprio
feliz, sabendo que contribui para a morte, ainda que de forma atenuada? E as próprias
pessoas que morrerem? Certamente não estarão elas mais felizes que ele. Daí se conclui que
o utilitarismo, apesar de ser uma filosofia subversiva, que busque uma vida confortável a
todos, que diferentemente do que pensam os leigos, não é uma filosofia da satisfação
individual, mas antes da felicidade geral, falha em dar conta de questões quais a vida
humana por exemplo está em jogo, justamente pelo fato de a ideia de instrumentalizar uma
vida em prol de outra pra que se evite seu fim trágico, considerando o mal menor é terrível
se levada às últimas consequências.
A resposta kantiana a estes dilemas pode vir pelo imperativo categórico, este aduz que ao
agirmos de modo que nossas ações podem se tornar uma lei universal sem grandes danos à
espécie se levado as última consequências chega a conclusão de que a vida não deve ser
tirada, nem a própria nem a do outro, menos ainda a mentira deve ser contada, ou a omissão
perante o necessitado deve ser praticada, em tudo podemos chegar a conclusão de que o ser
humano não deve ser objetivado como meio para nada, ao contrário, deve ser o fim. Mas ao
aplicarmos tal princípio aos cenários acima narrados, obtemos um resultado curioso, isto
porque todos terminarão de forma necessariamente trágica, no primeiro caso George
continuará em sua penúria, além de saber que pessoas vão ser mortas com mais eficiência
porque o colega que assumiu o cargo em seu lugar é mito mais zeloso e inescrupuloso que
ele, e no segundo caso, não somente todos os índios morrerão como também Jim pela
omissão, ao escolher não matar os índios. Mas a grande questão para Kant, como se percebe
é a de que a ação ética deve ser o dever pelo dever, o ser humano como fim, atingiríamos,
segundo ele, um grau de felicidade maior se na consideração dos imperativos categóricos
fizéssemos esta lei tornar-se universal. Inclusive, arrisco dizer que se todos agissem de tal
forma, as situações acima descritas jamais existiriam.