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EXPEDIENTE
Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
CONSELHO CONSULTIVO:
Alberto Silva Franco, Marco Antonio Rodrigues Nahum, Maria Thereza Rocha de
Assis Moura, Sérgio Mazina Martins e Sérgio Salomão Shecaira
Revista Liberdades - nº 9 - janeiro/abril de 2012 I Publicação Oficial do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
história 2
“O DIA DO MASSACRE,
NA CASA DE DETENSÃO,
PAVILHÃO 09” (SIC) 120
Sexta-Feira, dia 02 de outubro de 1992, duas horas da tarde, pavilhão nove da Casa de
Detensão, onde tudo começou. Hoje já faz dez dias, que aconteceu o massacre. Mas, ainda é
muito forte em minha memoria, as marcas de terror vividas naquele dia.
Tudo começou com uma briga violenta e, sangrenta entre dois presos que, se
confrontavam a golpes de facas. Isto se deu às duas horas no segundo andar, na sexta-feira. Um
dos presos, muito ferido à golpes de faca, não aguentou e enfraqueceu. Os seus companheiros
não satisfeito com o resultado da briga, resolveram se vingar e, começaram tudo. Foi uma
briga muito feia entre os presos, não todos, talvez um grupo de vinte presos. Os funcionários
do pavilhão nove, tentaram se interferir na briga, à fim de controlar a situação, mas agindo
de forma errada. Eles queriam controlar a situação, à base de canadas de ferro, batendo em
todos, até naqueles que não tinham nada haver com o tumulto. Foi onde tudo deu inicio, os
presos revoltados por apanharem, resolveram bater em alguns funcionários, que assustados e,
extremamente amedrontados, sairam correndo, para fóra do pavilhão nove, gritando rebelião.
O pavilhão ficou totalmente abandonado pelos funcionários. O pavilhão ficou apenas com
os presos.
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história 2
Mais ou menos umas 15 hrs do mesmo dia, já sabíamos que o pavilhão seria invadido
pelo batalhão de choque. Todos resolvemos nos desarmar. Jogando fora, pelas janelas
(ventanas) as facas e, pedaços de madeira. Não havia de forma alguma arma de fogo, apenas
facas e, pedaços de madeira. Não existia também butijão de gás, isto porque nossos fogões,
são brazeiros elétricos.
Eram mais ou menos umas 15:30 hrs, quando o batalhão de choque, chegou ao pátio.
Todos nós já estavamos rendidos, esperando os PMs subirem nos andares do pavilhão. Mas,
não sabiamos que estavamos esperando a morte.
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história 2
eles deram ordem para os primeiros presos, levantarem e, andarem rápido. Eles iam subir
o pavilhão. Pensei que o terror já havia acabado mas, infelizmente não. As três primeiras
filas de presos que subiram foram recebidas a mordidas de cães, tiros e facadas. Todos foram
mortos. Haviam muitos feridos que aguardavam socorros numa fila separada, enquanto todos
subiam o pavilhão. Chegou a minha hora de subir, só podia andar olhando para o chão e vi
as marcas da devastação. Haviam muitos corpos amontoados no chão. Me colocaram numa
sela pequena com mais trinta presos, não dava nem prá respirar. Aonde eu me encontrava,
dava para ver o pátio e, foi quando eu vi todos os companheiros no pátio, aqueles feridos
que, aguardavam socorros, serem levados para dentro da escolinha e serem metralhados, eles
gritavam muito, mas não por muito tempo, porque foram mortos. Fique abismado com que
tinha visto. Já parecia madrugada quando vi, presos carregarem cadáveres e, logo após serem
mortos. Não via a hora de tudo aquilo acabar. Ficamos contando os cadaveres que, passavam
carregados pelo pátio e, a conta já ultrapassava duas centenas. O dia chegou, amanheceu,
não havia mais PMs, começamos a andar nas galerias e, vimos que as marcas da destruição
era bem, maior do que imaginavamos. As galerias, pareciam rios de sangue, com mais de um
palmo de altura, muito sangue misturado com agua. Haviam xadrezes lotados de cadaveres,
o poço do elevador, cheio de cadaver.
Muitos feridos à bala, facada, paulada, andavam na galeria procurando pelos seus 122
companheiros que, muitos não eram encontrados.
Neste dia perdi um amigo que, era pai de três filhos e, já estava no direito de semi-
aberto. Os PMs mandaram, ele e mais dois companheiros do, 331-I, porem a cabeça na
privada e, atiram, matando os três ao mesmo tempo.
Josanias Ferreira de Lima, faleceu na rebelião, à tiros. Rua: 06 nº 206 – Sto Amaro –
Capão Redondo – SP CEP 05871 – Cristiane Regina da Cruz, sobrinha de Josanias.
M.A.S.
Detentos do Nove
Revista Liberdades - nº 9 - janeiro/abril de 2012 I Publicação Oficial do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
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